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seguridade social 6

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POLÍTICA DE SEGURIDADE SOCIAL 
– SAÚDE 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rafael Muzi 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
É por meio do planejamento das ações que os assistentes sociais e as equipes 
de saúde se preparam para o trabalho. Nesse texto abordam-se elementos do 
planejamento do Serviço Social na área da saúde como um instrumento que permite a 
organização dos processos de trabalho na ação profissional. 
TEMA 1 – O PLANEJAMENTO NA AÇÃO PROFISSIONAL E O CAMPO DA SAÚDE 
O planejamento é um instrumento que pode ser utilizado com direções diversas. 
Por essa razão, assume uma dimensão política e pode se tornar tanto uma ferramenta 
democrática, respondendo aos interesses das maiorias, quanto uma técnica usada a 
serviço de grupos dominantes nos diferentes espaços do exercício do poder. 
 Na área da saúde, o planejamento é utilizado de inúmeras maneiras em 
diferentes espaços e dimensões, tanto nas esferas gerenciais como no âmbito técnico-
assistencial. Diversos enfoques são possíveis ao abordar o tema e, para os objetivos 
dessa análise, compreende-se o planejamento como uma técnica inerente à prática 
profissional do assistente social (Nogueira; Mioto, 2009). 
 O planejamento das ações profissionais na saúde remete necessariamente ao 
pressuposto de um processo de trabalho coletivo, com múltiplos fatores e 
determinações, localizado na lógica da prestação de serviços, portanto, com 
características próprias de planejar. No entanto, mesmo sendo o trabalho em saúde 
uma ação coletiva, no âmbito específico da profissão há a necessidade de uma direção 
lógica no desenvolvimento das atividades, para contribuir com o processo coletivo e 
simultaneamente identificar seu espaço sócio-ocupacional (Nogueira; Mioto, 2009). 
O planejamento vinculado à ação profissional possibilita o exercício contínuo da 
reflexão sobre os conceitos de eficiência, efetividade e eficácia no trabalho realizado. 
Todavia, possivelmente a contribuição de maior relevância da prática do planejamento 
é possibilitar a articulação entre as dimensões do fazer profissional. 
A formação profissional fornece instrumentos de captação do movimento da 
realidade social, mas é ao projetar suas ações que o profissional se transforma em 
recurso vivo, contribuindo “com os usuários na busca por transformações das suas 
condições de vida, de trabalho e [...] de saúde” (Vasconcelos, 2009, p. 258). 
 
 
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TEMA 2 – ELEMENTOS ESSENCIAIS NO PLANEJAMENTO EM SAÚDE 
O processo de planejamento se efetiva pelo uso de instrumentos técnico-
metodológicos de consolidação das decisões: os planos, os programas e os projetos. 
Essas ações apresentam níveis diferenciados de decisão, de maior ou menor grau. 
Como instrumentos de gestão, essas ações deverão propor respostas diante das 
necessidades sociais de saúde em determinada realidade, articulando possibilidades 
entre a instituição e os setores envolvidos com base em um abrangente processo de 
negociações em diferentes níveis, com o maior número possível de atores. 
O planejamento como processo visa compreender certa realidade e compor 
opções estratégicas que, com base em sua implementação, devem produzir 
transformações reais, alterações que serão absorvidas e darão flexibilidade ao 
processo. O plano em sua totalidade deve passar por revisões sistemáticas, exigindo 
um sistema de monitoramento, controle/acompanhamento e avaliação (Nogueira; 
Mioto, 2009). 
No campo da saúde, o plano é o instrumento que apresenta as intenções mais 
amplas, que contém as diretrizes gerais da proposta de mudança. Nesse momento se 
definem princípios e diretrizes que orientam a política de saúde. 
O programa tem a função de delimitar o plano em termos de tempo, espaço e 
natureza do objeto. Na área da saúde se relacionam principalmente com atividades 
voltadas aos agravos à saúde. Ao assistente social cabe identificar o que está 
associado ao “social” nesses programas, promovendo mediações entre o programa 
institucional e profissional (Nogueira; Mioto, 2009). 
O projeto concretiza as ações e decisões dos objetivos estabelecidos nos planos 
e programas. Portanto, o projeto concretiza o planejamento. O projeto também detalha 
as atividades a serem realizadas para atingir objetivos, define responsabilidades e 
metas. As metas detalham os objetivos em termos estratégicos, táticos e de ação. O 
projeto é o instrumento mais utilizado pelos assistentes sociais em sua prática. 
Na área da saúde, o projeto possibilita a realização de processos avaliativos 
para verificar transformações “em termos de expansão da rede, incorporação dos 
aspectos sociais, qualificação do atendimento e melhoria dos indicadores sanitários” 
(Nogueira; Mioto, 2009, p. 30). 
 
 
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TEMA 3 – PROCESSO DE PLANEJAMENTO E A DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS 
No processo de planejamento, a construção de um plano tem origem na 
caracterização de dada situação da realidade, destacando-se pontos críticos em que a 
ação profissional será direcionada. Na esfera da saúde “a própria leitura já é 
condicionada pela concepção de saúde e consequente modelo de atenção” (Nogueira 
& Mioto, 2009, p. 292). 
Essa construção deve também articular as políticas de saúde aos recursos e à 
rede de serviços disponíveis, identificando itens como a dificuldade de acesso e 
capacidade de atenção. Deve de igual modo relacionar-se com padrões de referência 
(índices comparativos) que auxiliam na identificação das alternativas e prioridades. “O 
uso de índices de saúde já construídos auxilia a caracterização das necessidades em 
saúde, incidindo também sobre a demanda não atendida” (Nogueira & Mioto, 2009, p. 
293). 
No que diz respeito à coleta de dados, podem ser utilizadas fontes diversas, 
desde aquelas que já apresentam dados estatísticos sistematizados e atualizados, 
disponíveis em bancos de dados informatizados, assim como as informações da 
população, pois se complementam entre si. 
A interpretação dessas informações, “realizada em conjunto com os 
interessados, possibilita a construção gradativa de consensos [...] contribuindo para 
uma articulação que se manterá em todos os momentos sequentes à ação profissional 
(Nogueira; Mioto, 2009, p. 294). 
O conhecimento profundo da realidade estudada possibilita o diagnóstico da 
situação e, por sua vez, o estabelecimento dos objetivos. A definição do objetivo visa 
antecipar qual será o resultado ou produto obtido. 
Estabelecer objetivos prevê negociações, administração de conflitos, construção 
de consensos, conciliação de interesses e pactuações de médio e longo alcance. 
Decorrem de análise criteriosa de possibilidades e necessidades reais. Para Nogueira 
e Mioto (2009, p. 295) “não se deve incluir em um objetivo mais do que um resultado 
esperado, o que iria dificultar a avaliação posterior. Devem ser expressos como a 
descrição de um resultado pretendido e tendo relação interna com a justificativa”. 
 
 
 
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TEMA 4 – MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO NO PLANEJAMENTO EM SAÚDE 
 O controle e o monitoramento “acompanham o planejamento com base em sua 
implementação, tanto na área da saúde como em qualquer campo disciplinar que o 
utilize” (Nogueira; Mioto, 2009, p. 295). 
O monitoramento é o exame contínuo da execução de uma atividade. A 
avaliação contém necessariamente um elemento valorativo, uma análise sobre o 
planejamento antes ou depois de executado. Vários tipos de avaliação podem ser 
utilizados: avaliação de processos ou de impacto, avaliação interna ou externa, técnica 
ou participativa (Nogueira; Mioto, 2009). 
A avaliação é uma etapa de fundamental importância no planejamento, por 
vários aspectos, dos quais se destacam fatores relacionados à economia (de tempo, 
recursos, trabalho); de prestação de contas sobre resultados, eficácia e custos, junto 
aos usuários, financiadoras e a sociedade como um todo. Outro aspecto está 
relacionado às exigências de instrumentosde controle por parte das agências 
financiadoras sobre a qualidade e o impacto das ações. 
A avaliação confere segurança à instituição executora do projeto e garante 
confiabilidade do público e da sociedade em que está inserida. Para os profissionais, 
garante a visibilidade e o impacto das ações no contexto em questão. 
A avaliação contém três características processuais: é contínua e permanente; 
inclui os atores envolvidos na análise dos resultados e favorece o exercício da ação 
reflexiva aos integrantes, membros da equipe gestora ou usuários. 
Para o assistente social, a avaliação e o controle devem estar ligados aos 
objetivos que se pretendem alcançar. Três focos podem ser identificados inicialmente: 
a avaliação da instituição em si, com o objetivo de analisar as respostas e a influência 
da organização; a avaliação sobre os serviços prestados aos seus usuários e a 
avaliação do próprio desempenho. Esse último enfoque aponta “duas dimensões 
significativas: de um lado contribui para o aperfeiçoamento profissional individual e de 
outro para o da categoria, na medida em que o relato da experiência pode ser 
partilhado e apreciado pelos demais profissionais” (Nogueira; Mioto, 2009, p. 300). 
 
 
 
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TEMA 5 – INDICADORES E RESULTADOS NA SAÚDE 
Nos processos avaliativos, o indicador é a unidade que permite medir o alcance 
de um objetivo ou de uma meta. Traduz objetivamente os resultados da ação 
executada, vinculado ao objetivo e à meta. Cada um dos objetivos deve conter poucos 
e significativos indicadores. 
Um indicador adequado deve ser compreensível, abrangente e de fácil 
aplicação; deve permitir uma única interpretação e ser compatível com o processo de 
coleta de dados. Precisa ser assertivo e oferecer subsídios para decisões futuras. 
A divulgação dos resultados obtidos é outro ponto fundamental, pois é o 
instrumento que assegura 
confiabilidade na instituição e o apoio popular ao que vem sendo desenvolvido. 
Diversos instrumentos vêm sendo usados [...], desde reuniões com 
participação de segmentos organizados da sociedade civil até publicações, 
como boletins e informativos periódicos. O debate sistemático dos resultados 
das avaliações favorece o controle social e contribui para a reprogramação das 
ações e serviços de saúde. (Nogueira & Mioto, 2009, p. 301) 
NA PRÁTICA 
Na área da saúde, o resultado do planejamento tem que objetivar mais do que a 
produção de um documento para consulta. Para Vasconcelos (2009, p. 258) o 
planejamento “é instrumento de luta, de negociação, de registro da prática” que 
organiza demandas dos usuários e constrói ações que possam interferir nos 
determinantes sociais do processo saúde/doença”. Na prática, para planejar, o 
profissional realiza levantamentos, estudos e pesquisas sobre a questão social, faz a 
“[...] análise e crítica dos dados com a produção teórica acumulada sobre suas 
diferentes expressões para compreender a realidade trabalhada, contribuindo para a 
identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde” 
(Vasconcelos, 2009, p. 258). 
Cabe aos assistentes sociais planejar e realizar ações assistenciais que 
contribuam para a promoção da saúde, a prevenção de doenças, danos, agravos e 
riscos, reforçando o desenvolvimento da consciência sanitária e do controle social. 
 
 
 
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FINALIZANDO 
O planejamento das ações no campo da saúde remete à construção de um 
processo de trabalho que é coletivo e interdisciplinar. Inserido nessa realidade, conclui-
se que o planejamento é uma prática inerente à ação do Assistente Social e, 
sobretudo, um instrumento de luta. Diante disso, planejar a ação profissional é buscar a 
reflexão continuada sobre o trabalho desenvolvido e promover a articulação entre as 
dimensões que constituem o fazer profissional: a perspectiva ético-política, teórico-
metodológica e técnico-operativa. 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
NOGUEIRA, V. M. R.; MIOTO, R. C. T. Sistematização, planejamento e avaliação das 
ações dos assistentes sociais no campo da saúde. In: MOTA, A. E.; BRAVO, M. I. S.; 
UCHÔA, R.; NOGUEIRA, V.; MARSIGLIA, R. M. G.; UCHÔA, R.; GOMES, L.; 
TEIXEIRA, M. (Org.). Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. 4. ed. 
São Paulo: Cortez, 2009. 
VASCONCELOS, A. M. Serviço social e práticas democráticas na saúde. In: MOTA, 
A. E.; BRAVO, M. I. S.; UCHÔA, R.; NOGUEIRA, V.; MARSIGLIA, R. M. G.; UCHÔA, 
R.; GOMES, L.; TEIXEIRA, M. (Org.). Serviço social e saúde: formação e trabalho 
profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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