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Fundamentos Históricos e 
teórico-metodológicos do Serviço 
Social – Dimensão Histórica 
 
Aula 2 
Profa. Jussara Marques de Medeiros 
 
 
 
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Conversa Inicial 
Olá, pessoal! 
Na aula anterior, acompanhamos a trajetória histórica do Serviço Social 
sob a influência europeia e as primeiras escolas e pioneiras. Nesta aula, vamos 
seguir nosso percurso, compreendendo o processo de consolidação do 
capitalismo e a gênese do Serviço Social na América Latina. 
Faça uma relação com o contexto histórico anterior, pois ele tem uma 
grande influência! 
Vamos lá? 
Acesse o material on-line! 
 
 
Contextualizando 
Para começar, na América Latina (excetuando o Brasil, claro) utiliza-se o 
termo “trabalhador social”. Em sala de aula, muitas vezes os alunos 
questionam o termo “assistente social” e sua relação com ser “assistente” de 
alguém ou sua relação com o “assistencialismo”, considerado hoje um termo 
pejorativo pela falta de condições objetivas de mudanças dessas práticas. Na 
atualidade, os assistentes sociais discutem muito a Política da Assistência 
Social, outro termo que se reúne ao nosso glossário e causa confusão de 
conceitos. 
Filantropia é a ajuda ao outro. Enquanto prática social, nasceu no interior 
da sociedade civil. Foi historicamente referendada pela Igreja Católica, que 
alicerçou as condutas morais de seus seguidores na caridade e amor ao próximo 
(SPOSATI, 2006). Junto com o termo filantropia temos caridade, que seria 
ajudar o próximo, sem qualquer tipo de recompensa. 
 
 
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Agora, pesquise os termos assistencialismo, assistente social e 
assistência social e faça uma relação com a História do Serviço Social. Assista 
ao vídeo a seguir para fundamentar seu ponto de vista. 
https://www.youtube.com/watch?v=GkhPeLr163c 
Responda à seguinte pergunta: 
Historicamente, qual a relação desses termos com os antecedentes 
históricos da profissão? 
Acesse a videoaula disponível no material on-line! 
 
 
Pesquise 
 
Debate dos antecedentes Históricos na América Latina 
 Aqui vamos realizar uma reflexão histórica do Serviço Social na América 
Latina, sob a perspectiva de autores que estudam o tema. 
Iniciemos com Ezequiel Ander-Egg, que é um destacado pedagogo, 
sociólogo, ensaísta e epistemólogo argentino. Nascido em 6 de abril de 1930 em 
Bernardo Larroude, província de La Pampa, possui ênfase na investigação e 
criação de técnicas de desenvolvimento social. 
Ander-Egg (1995) inicia a trajetória histórica do Serviço Social apontando 
as formas de ajuda. Esse autor menciona três formas de ajuda e assistência aos 
necessitados, que poderiam ser: 
 A ajuda pública fornecida pelas ordens religiosas e hospitais, que 
aparecem simultaneamente com os primeiros mosteiros e a ajuda 
e proteção sos senhores feudais; 
https://www.youtube.com/watch?v=GkhPeLr163c
 
 
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 A ajuda mútua prestada pelas corporações, entre os membros que 
as integravam; 
 A esmola como caráter individual, prestada a quem dela precisava 
como um dever religioso e meio de salvação. 
Ander-Egg afirmou que o Serviço Social deve ser entendido como um 
basicamente um reflexo do Serviço Social europeu, afirmação que foi refutada 
por Castro (2008). Outra crítica de Castro é que as referências de Ander-Egg 
não recorrem a uma compreensão das classes e suas contradições (CASTRO, 
2008). Assim, Ander-Egg aponta a ajuda como antecedente histórico do Serviço 
Social e não problematiza as lutas de classes. Castro (2008) afirma: 
A formação dos Estados burgueses, as modalidades que a exploração 
da força de trabalho adquire, as formas particulares de resistência e 
organização das classes operárias, as camadas médias, etc., têm seus 
traços pertinentes determinados pela maneira como, ao longo do 
tempo, aquela lógica comum opera na Europa e na América Latina 
(CASTRO, 2008, p. 34). 
A fundação das primeiras Escolas de Serviço Social na América Latina foi 
realizada em 1925, no Chile; em 1936 no Brasil e em 1937 no Peru. Castro afirma 
que o processo de abertura de escolas não equivale ao início da profissão, mas 
revela momentos específicos de um processo de maturação que culmina quando 
a profissão começa a se colocar de uma forma mais sistemática (CASTRO, 
2008, p. 35). 
 Assim, pensando no Chile, a priori, pela criação da primeira escola, os 
antecedentes históricos datam da década de 1920, que, para Castro (2008) seria 
uma etapa histórica decisiva nos seguintes aspectos: 
 Emergência de novas classes sociais sob o estímulo de relações 
de produção embasadas na exploração da força de trabalho 
assalariada. 
 Dinamismo do precoce processo de industrialização e na 
penetração dos capitais norte-americanos e como parte de uma 
estratégia geral de substituição da hegemonia inglesa e da 
 
 
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integração das economias latino-americanas ao mercado 
capitalista. 
Dessa forma, a organização e protesto das classes operárias, com a 
influência das ideias socialistas da revolução Russa de 1917 exigiram que o 
Estado articulasse ações para responder à demanda da classe trabalhadora. O 
autor destaca que o emprego das mais diferentes formas de repressão sempre 
se combinou com as concessões à classe operária. 
A produção chilena de cobre cresce intensamente a partir da Primeira 
Guerra Mundial e “o significado econômico que a exportação de cobre tinha para 
o país impunha uma dinâmica fluida às negociações entre o Estado, as grandes 
companhias norte-americanas e o proletariado mineiro do Chile” (CASTRO, 
2008, p. 36). Esse processo de industrialização teve como consequências o 
empobrecimento e o crescimento urbano e foi propício para a emergência de 
agentes para trabalhar com esses fenômenos: os assistentes sociais. 
Porém, nesse contexto, chileno, o fundador da Escola de Serviço Social 
foi um médico, Alejandro Del Río, entendendo-se que, na época, o Serviço Social 
era considerado uma subprofissão da Medicina. O Dr. Alejandro Del Río não foi 
uma individualidade separada do contexto de sua época. 
Castro (2008) afirma que à época de fundação da escola, médicos, 
sacerdotes, advogados e mesmo alguns tipos de engenheiros desempenhavam 
papéis profissionais de grande significado social e muitas ações próprias do 
Estado tinham seus agentes nos advogados e médicos. 
Ander-Egg (1995) afirma que no momento em que a saúde passa a ser 
considerada não apenas como um problema físico-biológico incorpora-se um 
profissional capaz de atender às dimensões sociais desses problemas. Porém, 
esses profissionais recebem um papel secundário, são chamados de visitadores 
sociais e são chamados de “braços estendidos e olhos alongados” dos médicos 
para atingir a residência dos pacientes. 
 
 
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 Os trabalhadores e assistentes sociais eram tidos como “ajudantes” 
capazes de controlar o correto cumprimento do tratamento prescritivo, de instruir 
sobre normas de higiene, de possuir algumas destrezas de medicina menor 
(aplicar injeções, fazer lavagens estomacais etc.), de saber ensinar a preparar 
mamadeiras, cuidar e mudar as fraldas dos bebês etc. (ANDER-EGG, 1995, p. 
28). 
Veja o vídeo a seguir, que fala sobre a História do Serviço Social na 
América Latina. Em seguida, vamos discutir suas influências, além da questão 
social. 
https://www.youtube.com/watch?v=XDREkM3cyY0 
Finalizemos este tema assistindo à videoaula, disponível no material on-
line! 
 
 
Influência da Igreja Católica e as Encíclicas Papais 
Neste item, vamos problematizar qual o papel que a Igreja Católica 
enquanto instância de hegemonia de determinadaclasse social, apresentou na 
gênese da profissão na América Latina. 
Vimos que as exigências históricas de acumulação capitalista instauram 
a sua lógica, reproduzindo as relações sociais de produção e reprodução do 
capital, com suas incidências no campo ideológico. 
Para Castro (2008) O Serviço Social é protagonista de uma prática 
diferenciada da assistência pública e da caridade tradicional, conectando-se aos 
objetivos políticos sociais da Igreja e das frações de classe vinculadas a ela. 
Neste item, vamos destacar a relação próxima do Serviço Social com o 
cotidiano. No nosso dia a dia, mesmo sem pensar sobre isso, reproduzimos 
https://www.youtube.com/watch?v=XDREkM3cyY0
 
 
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conceitos morais que incorporamos nas diversas instituições em que vivemos: 
família, educação, religião. Essa convivência e vinculação na sociedade nos 
orientam para valores para os quais não nos damos conta. Porém as Instituições 
são políticas e vinculam determinadas ideologias. Assim, essa discussão do 
Serviço Social e Igreja, independente de nossa religião, devem considerar o viés 
histórico e político da Igreja Católica e sua influência na profissão. 
Então, vamos pensar nessa frase de Karl Marx: “A religião é o suspiro da 
criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como 
também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo”. 
Marx se refere à religião como ópio do povo, considerando a sua influência 
desta para o processo de alienação do povo. Para Montaño e Durigueto: 
Alienação é um elemento que passa a caracterizar a vida cotidiana, 
portanto, a consciência ali desenvolvida. É o processo mediante o qual 
sujeito e objeto se separam, se tornam alheios, estranhos (MONTAÑO 
E DURIGUETTO, 2010, p. 102). 
Assim, os elementos que colaboraram para o surgimento do Serviço 
Social de acordo com Castro (2008) têm origem na Ação Católica, cujo objetivo 
é a recristianização da Igreja Católica por meio de um projeto de reforma social. 
São núcleos de leigos, orientados por uma visão “humanista e antiliberal, 
lançam-se a uma vigorosa ação dirigida para penetrar em todas as áreas e 
instituições sociais, criando mecanismos de intervenção em amplos segmentos 
da sociedade” (CASTRO, 2008, p. 47). 
O suporte para a ação eram as Encíclicas Papais e o principal foco seria 
lutar contra a agitação social de raiz anarco-comunista e o materialismo liberal. 
Assim, duas Encíclicas tiveram um papel importante enquanto inspiração 
ideológica: a Rerum Novarum, divulgada por Leão XIII, a 15 de maio de 1891 e 
o Quadragesimo Anno, divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931. 
Em relação a encíclica Rerum Novarum, vamos destacar os principais 
itens que influenciam o Serviço Social, de acordo com Castro: 
 
 
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A encíclica divide-se em duas partes: “A solução proposta para o 
socialismo” e “A solução proposta pela Igreja”. 
Desde o começo, a encíclica reconhece a questão operária, a exploração 
dos trabalhadores e a desigualdade social. Porém, para atuação com a questão 
social, seria necessária a Igreja em função da relação com sua causa e o bem 
comum. Salienta as formas de exploração do trabalho assalariado e a 
acumulação capitalista, por isso se coloca contra o liberalismo. Ao mesmo 
tempo, porém, combate o socialismo e apresenta a defesa pela propriedade 
privada, vista como um direito natural que procede da generosidade divina. A 
desigualdade, no contexto da encíclica, é natural e necessária: 
Seja, portanto, primeiro princípio e base de tudo: não há outra 
alternativa senão a de acomodar-se à condição humana; na sociedade 
civil não pode haver igualdade – há altos e baixos. Nem todos são 
iguais em talento, inteligência, saúde e força; e à necessária 
desigualdade na fortuna, que é claramente conveniente à utilidade, 
quer dos particulares, quer da comunidade (Encíclica Rerum Novarum, 
citado por CASTRO, 2008, p. 55). 
 De acordo com a citação, há uma naturalização das desigualdades, 
enquanto condição do indivíduo, não das contradições sociais. Assim, não se 
trata de questionar os conflitos sociais, mas criar uma relação harmônica entre 
as classes, que só pode acontecer no momento em que se acata a religião cristã. 
Então, a igreja faz recomendações humanizadoras aos ricos para ajudar 
os pobres e a estes cabe acatar suas condições e contribuir para a conciliação 
de classes, se negando a participar de movimentos e militando contra eles. 
A Igreja também defende que o Estado deve defender o bem-estar dos 
operários: 
Recomendava-se a criação de associações e outras entidades 
semelhantes que permitissem atender às necessidades tanto do 
operário e sua família, como da sua viúva e órfãos. Da mesma forma, 
socorrer acidentados, enfermos etc. Sugeria-se também a formação, 
por parte dos operários católicos, de suas próprias associações, assim 
como o estímulo a outras obras sociais (CASTRO, 2008, p. 59). 
 
 
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Na encíclica Quadragesimo Anno, em relação ao Serviço Social, fundou-
se em Milão (Itália), na I Conferência Internacional a União Católica Internacional 
de Serviço Social (UCISS) que compreendia duas seções: o Grupo de Escolas 
de Serviço Social e as Associações de Auxiliares Sociais, o que estimulou a 
criação de escolas de Serviço Social e seu viés cristão (CASTRO, 2008, p. 59). 
Castro (2008) afirma que o Serviço Social europeu e latino-americano é, 
em parte, resultado da Igreja, mas “ator e autor da gênese do novo pensamento 
social cristão” (CASTRO, 2008, p. 62). 
Ao lado dos elementos doutrinários da igreja, destaca-se que a Encíclica 
Quadragesimo Anno recuperou os aspectos técnicos para a eficiência do 
trabalho assistencial. Na América Latina, especificamente, a Igreja estimulou a 
formação de Centros de formação superior para melhoria das condições do 
trabalho tradicionalmente voluntário (CASTRO, 2008). 
Veja este resumo da UFRGS, sobre o Serviço Social e as Encíclicas 
papais feito pelos estudantes. Para estudar, você pode destacar os tópicos 
principais da influência das encíclicas no Serviço Social e fazer seu próprio 
resumo! 
https://estudantesdeservicosocial.files.wordpress.com/2012/09/enciclica-
papal.pdf 
Finalizemos este tema assistindo à videoaula, disponível no material on-
line! 
 
 
As primeiras Escolas de Serviço Social da América Latina 
https://estudantesdeservicosocial.files.wordpress.com/2012/09/enciclica-papal.pdf
https://estudantesdeservicosocial.files.wordpress.com/2012/09/enciclica-papal.pdf
 
 
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 Neste tema serão apresentadas, de maneira breve, as primeiras escolas 
de Serviço Social no Chile e quais foram as influências para que essa criação se 
materializasse. 
O fator principal para criação da profissionalização do Serviço Social para 
Castro (2008) é institucionalizar as reivindicações operárias ou dar resposta à 
questão social. Para o autor, a escola fundada por Alejandro Del Río teve uma 
origem mais ligada à ação do Estado, pois a Junta de Beneficência de Santiago 
enviou Del Río à Bélgica para conhecer os Centros de Formação Acadêmica 
(veremos na formação das primeiras escolas no Brasil também a influência 
belga). 
René Sand, também um dos pioneiros do Serviço Social visita o Chile e 
tem uma grande influência na criação da escola. Esta escola é criada para formar 
profissionais com o papel de complementar o trabalho do médico. 
 A partir de 1929 foi organizada a escola Elvira Matte de Chuchaga, com 
influência da Igreja Católica. Para Castro (2008) é uma tentativa da Igreja de 
utilizar o trabalho intelectual para recuperar seu papel de condutora moral da 
sociedade. Há um amplo espaço para o trabalho com a questão social. Castro 
(2008) coloca os objetivos da escola retiradosde documento para analisar: 
A formação de visitadoras sociais católicas, que desenvolvessem as 
suas atividades à base de uma verdadeira caridade cristã; visitadoras 
que não só cuidem do aspecto material dos seus assistidos, mas que 
se dediquem com amor também a tratar de suas almas (...). Baseando-
se nesses princípios, a Escola concebe o Serviço Social mais do que 
como uma simples profissão – concebe-o como vocação, para a qual 
são tão necessários os conhecimentos técnicos como o amor. 
Portanto, o fim colimado pela Escola é conseguir formar visitadoras 
que, onde forem, levem a paz, transmitam alegria, ofereçam segurança 
e confiança, abrindo seu coração a todos os que necessitam de ajuda 
e de orientação. Tais visitadoras hão de ser as mais alegres, tolerantes 
e compreensivas, as mais inteligentes e as mais amáveis de todas as 
mulheres que se entreguem a este trabalho. Hão de ser sadias de alma 
e corpo, já que deverão comunicar esta saúde e esta força aos que 
nunca as tiveram ou aos que dela se veem privados pelas vicissitudes 
da vida (CASTRO, 2008, p. 74. Trecho retirado da Escola de Serviço 
Social Elvira Matte Chuchaga). 
 
 
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Ao ler este trecho, devemos pensar, que tipo de Escola e que tipo de 
profissão se pensava. Castro (2008) destaca o componente de entrega 
incondicional além da profissão no trecho “mais que uma simples profissão”. 
Mas há um caráter de formação, que implica em uma profissão que vai além das 
medidas paliativas, com uma visitadora social que deve ter várias virtudes. Uma 
das questões enfatizadas nessa época são os princípios cristãos e as mulheres 
que têm essa formação são de origem burguesa, com uma visão de família 
advinda desses valores. 
Castro (2008) afirma que, quanto à mulher, resgata-se seu direito ao 
trabalho, visto que nos países latino-americanos a condição primordial da mulher 
deveria ser a de esposa e mãe. Mas além dessa visão, é necessário pensar 
como a “tolerância”, “amabilidade”, “paciência” são características hoje 
delegadas ao feminino, à visão de mulher e mãe. Essa visão determina esse 
número maior de mulheres que hoje assumem determinadas áreas. Por 
exemplo, na Enfermagem, Serviço Social, Pedagogia. 
Em relação a essa questão, Cisne (2012) afirma que estas profissões têm 
sofrido um processo de feminização e têm criado um leque de carreira permitida 
às mulheres desde o século 19. Assim, as mulheres se adequavam a profissões 
que pudessem adequá-las aos seus tradicionais papéis de mães e donas de 
casa. 
Iamamoto e Carvalho (1983) mostram o seguinte perfil esperado das 
profissionais: 
...ser uma pessoa da mais íntegra formação moral, que a um sólido 
preparo técnico alie o desinteresse pessoal, uma grande capacidade 
de devotamento e sentimento de amor ao próximo; deve ser realmente 
solicitado pela situação penosa de seus irmãos, pelas injustiças 
sociais, pela ignorância, pela miséria e a esta solicitação deve 
corresponder às qualidades pessoais de inteligência e vontade. Deve 
ser dotado de outras tantas qualidades inatas, cuja enumeração é 
bastante longa: devotamento, critério, senso prático, desprendimento, 
modéstia, simplicidade, comunicabilidade, bom humor, calma, 
sociabilidade, trato fácil e espontâneo, saber conquistar a simpatia, 
saber influenciar e convencer, etc. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1983, 
p. 227). 
 
 
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Iamamoto e Carvalho (1983) pontuam que para recrutar este profissional, 
além de cursos de língua, datilografia e outros de cultura geral, eram 
investigadas as condições dos meios materiais e sociais. Cisne (2010) vê este 
processo como resultante de uma sociedade patriarcal que institui 
hierarquicamente o que é papel de homens e mulheres. 
A Igreja Católica contribui para essa dominação histórica patriarcal. De 
acordo com Cisne (2010): 
A Igreja Católica contribui historicamente com essa ideologia patriarcal 
de dominação sobre o gênero feminino ao configurar o modelo de uma 
boa mulher: as moldadas como moças boazinhas, caridosas e 
assistencialistas sob o modelo de Maria, mãe de Jesus. Tal modelo 
institui o referencial, a ser seguido com fidelidade pelas cristãs, de uma 
mulher santa, assexuada, de mãe exemplar abnegada, com espírito de 
sacrifício e pureza (CISNE, 2010, p. 50). 
Castro (2008) discute algumas características da escola Elvira Matte de 
Chuchaga, na forma de sua criação. São estas: 
 A Escola é um projeto destinado à organização dos leigos, 
apresentando uma formação profissional para a assistência social 
de acordo com os ditames da religião católica. 
 Da relação com a Igreja há uma característica “continental” que o 
autor define como inserção e contato profissional em outros países. 
O autor pontua que na Escola, a partir do reconhecimento do papel 
mediador do Estado para normatizar as relações de capital e trabalho, pensa-se 
que as visitadoras sociais, devido a sua proximidade com os problemas sociais, 
começam a sugerir leis e regulamentos. Um exemplo foi a solicitação que as 
estudantes, em 1935, estudassem o salário dos trabalhadores para efetuar 
mudanças. Em 1931, com a criação do Comitê Central de Ajuda aos 
Desempregados, as visitadoras sociais criam várias ações, dentre elas o 
cadastramento de desempregados e ordenamento de sopas. 
Em relação à falta de habitação para os trabalhadores, muitas vezes elas 
procuravam casas e essa atividade foi denominada de Serviço Social de 
 
 
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Emergência. Uma das principais atuações do Serviço Social foi a Saúde, 
crescendo também a atuação das empresas. 
No Peru, a Escola de Serviço Social foi criada em 1937, assim como no 
Brasil, em São Paulo, como veremos no próximo tema. 
Finalizemos este tema assistindo à videoaula, disponível no material on-
line! 
 
 
Pan-americanismo “monroísta” e sua influência para o trabalho 
social na América Latina 
 Neste tema, vamos compreender inicialmente qual o conceito de Pan-
americanismo e de monroísta, para fazer uma relação com o Serviço Social. 
O Pan-americanismo busca fortalecer as relações e associações nos 
Estados da América, buscando a independência política e econômica dos países 
europeus. O historiador Cléryston Medeiros afirma que o Pan-americanismo 
deve ser entendido como um grande movimento de solidariedade a nível 
continental, com os objetivos de promover a paz no continente americano, 
preservar a independência dos Estados e estimular seu inter-relacionamento. 
O historiador organiza em duas formas distintas: 
O bolivarismo provém de Simon Bolívar, que por diversas vezes tentou 
reunir os Estados Americanos, o que só ocorreu em 1826 no Congresso do 
Panamá, a primeira manifestação do pan-americanismo. 
O monroísmo fundamenta-se no predomínio dos Estados Unidos nos 
demais Estados Americanos. Para o historiador Cléryston Medeiros, “o 
monroísmo na verdade nada mais é que uma expressão da política nacional 
norte-americana como forma de defesa de seus próprios interesses”. 
 
 
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Castro (2008) comenta que, a princípio, não há o predomínio norte 
americano sobre o continente, mas com a emenda Platt que foi um dispositivo 
inserido na carta constitucional de Cuba, autorizando os EUA a intervir no país 
quando os interesses de ambos fossem ameaçados, o país impõe uma política 
expansionista. Para Castro (2008): “A larga história das intervenções norte-
americanas nas repúblicas da América Central e do Caribe, bem como do resto 
do continente até hoje acumula incidentes” (CASTRO, 2008, p. 133). 
Em 1890, foi criado pelos EUA o Escritório Comercial das Repúblicas 
Americanas e em 1910, a partir deste escritório foi criada a União Pan Americana 
(UPA). Os Estados Unidos se fortalecem a partir da Segunda Guerra mundial e 
começama organizar o seu domínio, sendo criada a Organização dos Estados 
Americanos (OEA) sendo que se desenvolvem vínculos e compromissos dos 
Estados Americanos com os EUA, que aprofunda sua intervenção nos demais 
países. A OEA vai influenciar na formação dos assistentes sociais latino 
americanos. 
...a OEA desenvolveu diretamente a sua influência na formação e na 
prática dos assistentes sociais latino-americanos, viabilizando 
ideológica, política e economicamente a proposta norte-americana do 
desenvolvimento de comunidade como técnica e como campo de 
intervenção profissional (CASTRO, 2008, p. 134). 
A Organização dos Estados Americanos cria o Centro Inter Americano de 
Habitação (CINVA) fundado em 1952 em Bogotá e “influencia na formação dos 
assistentes sociais na habitação, no desenvolvimento de comunidade, no 
planejamento e na prática profissional integrada em equipes multidisciplinares” 
(CASTRO, 2008, p. 134). 
No encerramento deste tema, vamos refletir que o Movimento Histórico 
que se realizou para pensar na América Latina enquanto países que tinham que 
se fortalecer a partir de suas relações também se encontra na cultura. Os 
Movimentos de Resistência da história e da cultura desses países se concretiza 
na sua arte, na sua música. Assim, vamos conhecer a música Canción con todos, 
 
 
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composta em 1969, na Argentina. É considerada uma das principais canções 
populares da América Latina. 
Ouça a música, procure por sua tradução e faça uma reflexão sobre o 
significado dessa música, de uma maneira geral. 
https://www.youtube.com/watch?v=xEIsqUJCHHQ 
Finalizemos este tema assistindo à videoaula, disponível no material on-
line! 
 
Trocando Ideias 
Várias vezes, ao longo da nossa história, ouvimos dizer que o profissional 
do Serviço Social pratica “assistência social” no início da profissão. Muitos hoje 
ainda se referem ao profissional de Serviço Social como o profissional da 
“Assistência Social”. Como você deve ter visto no início, Assistência Social é 
uma política hoje executada por profissionais de várias áreas. Existe uma 
proximidade com o assistente social porque ele milita pela a criação dessa 
política. 
Pergunte para três pessoas do seu convívio o que eles entendem por 
“Assistência Social”. Em seguida, relate no fórum disponível no AVA e discuta 
com seus colegas sobre as respostas e a forma como as pessoas veem a 
Assistência Social. 
 
 
Na Prática 
https://www.youtube.com/watch?v=xEIsqUJCHHQ
 
 
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Assista ao vídeo a seguir, que mostra a atuação do assistente social em 
uma prática fictícia (vídeo de novela Senhora do Destino, onde havia um casal 
de lésbicas que decidem adotar uma criança): 
https://www.youtube.com/watch?v=HCz32Hv110Q 
Devido à visão que vem sido veiculada nas novelas da assistente social 
conservadora, preconceituosa e com práticas autoritárias, o Conselho Federal 
de Serviço Social (CFESS) se manifestou em sua página: 
http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/995 
Analisando o vídeo e o que foi lido durante a aula, faça uma comparação 
do assistente social que havia no início da profissão e o assistente social de 
atualmente. Pesquise sobre a função do assistente social, seus princípios e 
compare-os com os do início da profissão. 
Em seguida, baseado na sua pesquisa, você deve refletir sobre que 
atitude da assistente social da novela seria coerente com os princípios da 
profissão e com a função do assistente social na sociedade. 
 
 
Síntese 
Nesta aula, discutimos sobre a gênese do Serviço Social na América 
Latina, iniciando por seus antecedentes históricos, problematizando a história a 
partir da visão de ajuda e mostrando a importância do profissional para um 
atendimento qualificado da questão social. 
Em seguida, pontuamos a influência da Igreja Católica e das Encíclicas 
Papais, mostrando a importância da Igreja Católica para a internacionalização 
https://www.youtube.com/watch?v=HCz32Hv110Q
http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/995
 
 
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da profissão e para a criação das primeiras Escolas. A influência da Igreja 
Católica também influenciou a formação ideológica do perfil desse profissional, 
assim como a classe social da qual é oriundo busca uma generalização do 
pensamento social cristão. 
Além da Igreja Católica, discutimos a influência norte-americana na 
América Latina e sua incorporação no Serviço Social, pontuando as principais 
ideias das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina. 
Para recapitular o conteúdo desta aula, assista ao vídeo do professor Max, 
disponível no material on-line! 
 
 
Referências bibliográficas 
ANDER-EGG, E. Introdução ao trabalho social. Vozes, 1995. 
CASTRO, M. M. História do Serviço Social na América Latina. 9. Ed. São 
Paulo: Cortez, 2008. 
CISNE, M. Gênero, divisão sexual do trabalho e serviço social. Editora 
Outras Expressões, 2012. 
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