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Prisão Civil do Devedor de Alimentos

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS CAMPUS ARCOS – MG
Pós-graduação em Direito Processual do IEC PUC Minas. Processo Civil – Procedimento de Execução
Michele Borges da Silva
SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais
Prisão civil do devedor de alimentos deve ser a última alternativa 
 
Arcos
2018
Michele Borges da Silva
	
SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais
Prisão civil do devedor de alimentos deve ser a última alternativa
 
Resenha apresentada ao curso de Pós- graduação em Direito Processual do IEC PUC Minas Sarlet, Ingo Wolfgang. Direitos
Fundamentais. Prisão civil do devedor de
alimentos deve ser a última alternativa
 
Professora: Pauliana Maria Dias 
Área de concentração: Processo Civil – Procedimento de Execução
 
 
 
 Arcos
 2018 
SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais 
Prisão civil do devedor de alimentos deve ser a última alternativa
 Por Michele Borges da Silva.[footnoteRef:1] [1: Graduada em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC - Campus Arcos. Email:cheleborges@gmail.com.] 
Ingo Wolfgang Sarlet é professor titular da Faculdade de Direito e dos programas de mestrado e doutorado em Direito e em Ciências Criminais da PUC-RS. Desembargador no RS e professor da Escola Superior da Magistratura do RS (Ajuris).
 O artigo de Sarlet (2016) é importante porque fornece um marco interdisciplinar discursivo. O autor analisa a problemática Prisão civil do devedor de alimentos deve ser a última alternativa em abordagem teórica sobre inovações do novo código de processo civil. 
 A base de toda a argumentação de Sarlet prisão civil do devedor de alimentos deverá ser a última alternativa, quando aplicada, não poderá implicar condições tão ou mesmo mais gravosas aos presos por dívida alimentar do que àquelas impostas aos presos comuns, também devem ser preservados em relação a condições desumanas e degradantes de cumprimento da pena.
Segundo a concepção de Sarlet, a prisão civil do devedor de alimentos prevista no sistema internacional de proteção dos direitos humanos para a prisão por dívidas, ademais de ter sido estabelecida, juntamente com a prisão do depositário infiel. 
Para tanto, o autor pauta o referido dispositivo legal da Constituição Federal de 1988, destaca o dispositivo constitucional que expressamente prevê essa prisão (art. 5º, inciso LXVII): 
Art. 5º (...) LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
 Frisa, ainda, a própria possibilidade da prisão civil constituir fundamento da restrição de direito do devedor, é ela uma garantia fundamental. Partindo da interpretação pelos juízes e tribunais, a depender do caso. 
Interessante é o destaque conferido pelo autor, quanto ao regime prisional, o problema volta a ter papel de destaque mediante a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015).
 O autor ainda discute a prisão constitui meio processual para compelir o devedor a saldar sua dívida alimentar, o Código de Processo Civil de 1973, no seu artigo 733, parágrafo 1º, previa que o juiz decretaria a prisão pelo prazo de 1 a 3 meses no caso de o devedor não pagar nem se escusar. 
 Em seguida, Ingo Sarlet retoma a abordagem sobre o conteúdo de que a prisão deveria ser cumprida em regime fechado (entendimento consagrado pela jurisprudência dominante) e que, de acordo com a Súmula 309 do STJ,
Entretanto, Sarlet cinge a atuação nem todos os magistrados e tribunais davam acolhida ao entendimento no que diz com o regime fechado, optando por impor o recolhimento ao estabelecimento prisional no período da noite e aos finais de semana.
 O autor destaca (o Tribunal de Justiça do RS sufragava em sua ampla maioria tal entendimento), ao mesmo tempo evitando o contato direto dos presos por dívida alimentar com presos comuns em regime fechado e, assegurando-lhes a possibilidade de auferir recursos para seu próprio sustento e para cumprir com suas obrigações alimentares. 
 Assim, autor analisa a que o STJ admitia o regime de prisão domiciliar em casos de grave enfermidade ou idade avançada. Por essa razão, o autor aborda tal alternativa — designadamente a do trabalho durante o período diurno e prisão em regime fechado apenas em caso de reiterado e injustificado inadimplemento.
Carlos Roberto Gonçalves (2015) assegura que não é possível seu cumprimento sob a benesse do regime domiciliar porque a regra é o regime fechado.
 Nesse sentido, o novo CPC, no seu artigo 528, parágrafo 4º, prevê que a prisão do devedor de alimentos deverá ser cumprida em regime fechado, mas ressalva que o preso deverá ficar separado dos presos comuns. Além disso, a exemplo do regime do CPC anterior, o novo CPC (artigo 528, parágrafos 5º e 7º) prevê que o cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas, ademais de estabelecer que apenas o débito relativo às três prestações anteriores ao ajuizamento da ação e às que se vencerem no decurso do processo autorizam o decreto prisional.
Além disso, deve ser observado que os cinquenta por cento dos rendimentos líquidos devem englobar as prestações vincendas e as vencidas. Isso significa que o limite deve ser resultado da soma dos dois tipos de dívidas. nos termos do artigo 529, parágrafo 3º, do novo CPC, o juiz poderá determinar o desconto de até 50% dos vencimentos líquidos do devedor, de modo a viabilizar um desconto adicional (por conta da execução de alimentos) ao desconto regular judicialmente determinado na ação de alimentos.
O autor desdobra o tema enfatizando, vale colacionar matéria publicada no Informativo do IBDFam (Instituto Brasileiro de Direito de Família), em 9 de novembro, destacando-se manifestação do professor Paulo Lôbo, advogado e diretor da entidade, questionando o instituto da prisão em si, como vetusto e não adequado ao patamar civilizatório, devendo o mesmo ser apenas em casos excepcionais e de reiterado descumprimento.
 Em destaque, Sarlet define a aplicação dos direitos fundamentais, na esfera da divida alimentar existem aspectos que reclamam um adequado equacionamento, no sentido de que sejam respeitados os critérios que balizam o controle de constitucionalidade das restrições a direitos fundamentais.
Em balanço, o autor ressalva que mesmo tendo a prisão civil do devedor de alimentos expresso respaldo constitucional, a lei regulamentadora e a decisão judicial que a aplica não poderão desbordar de determinados critérios, pois a imposição da prisão não poderá resultar em violação de direitos fundamentais do devedor de alimentos, ademais de guardar sintonia com os critérios da proporcionalidade.
Ingo Sarlet defende ainda, alguns pontos merecem ser destacados. Em primeiro lugar, em observância ao subcritério da necessidade, poder-se-á considerar como alternativa prioritária que a prisão do devedor de alimentos somente deverá ser decretada apenas depois de esgotados outros meios de coerção, como, por exemplo, o protesto da decisão judicial.
Com destaque para o protesto judicial, que se não representa uma verdadeira inovação no ordenamento jurídico
	A respeito da realização da penhora on line, Maria Berenice Dias (2015) explica que a mesma é realizada através do sistema Bacen Jud, ou seja, para realizar a penhora de dinheiro, o juiz irá, através de meio eletrônico, oficiar o Banco Central para saber se o executado possui ativos em seu nome. Sobre o procedimento da expropriação de bens do devedor, Maria Berenice Dias (2015, p. 638, grifo do autor) afirma que:
Na execução podeo credor indicar os bens a serem penhorados (CPC 652 §2º). Ao despachar a inicial, o juiz fixa, de plano, honorários advocatícios (CPC 652-A). Oréu é citado para em três dias efetuar o pagamento da dívida (CPC 652). Procedendo ao pagamento nesse prazo, a verba honorária é reduzida pela metade (CPC 652-Aparágrafo único). Não efetuado o pagamento, o oficial de justiça procede à penhora e à avaliação dos bens. A preferência é sempre penhorar dinheiro (CPC 655). (BERENICE DIAS, 2015, p. 638)
Podemos interpretar o protesto pode acarretar sérias consequências para o devedor de alimentos, dificultando toda e qualquer relação creditícia, tornando mais célere a cobrança da prestação alimentícia. Note-se que tal alternativa (protesto judicial) é de ser privilegiada ainda que o artigo 528, parágrafo 1º, do novo CPC disponha que o Juiz determinará o protesto e decretará a prisão.
 Em caso de reiteração da inadimplência injustificada, no caso de ser inviável acomodar os presos por dívida alimentar dos presos comuns há de ser aplicado o regime da prisão domiciliar, que, de resto, já deve ser assegurado aos presos comuns quando inexistir estabelecimento prisional.
Maria Berenice Dias (2015) informa que não existe um regime prisional específico para a prisão civil do devedor de alimentos, podendo o entendimento variar de Tribunal para Tribunal, entre o regime fechado, aberto, semiaberto e até mesmo a prisão domiciliar em casos específicos, como em razão da idade, ou em razão à delicada condição de saúde do alimentante
Portanto, opera-se a conexão do tema abordado alternativas eficazes para mitigar os efeitos da prisão por dívida alimentar, sem deixar de atender as necessidades dos credores de alimentos. A prisão em si não garante o cumprimento da execução e, a prisão civil apenas agrava a situação, estando preso, não poderá levantar fundos para o pagamento da dívida. 
Sem dúvida, pode implicar na causação de danos graves e irreversíveis o valor da pensão alimentícia é fixado pelo juiz, ou seja, é preciso levar em conta a necessidade daquele que pleiteia os alimentos e a possibilidade de pagar daquele que os deve.
De acordo com os ensinamentos de Maria Berenice Dias (2013), caso o binômio necessidade - possibilidade seja alterado, é possível a propositura de uma ação revisional de alimentos, caso contrário, se o valor da pensão alimentícia não for reajustado à nova realidade, haverá um descrédito ao princípio da proporcionalidade.
De fato em situação de comprovado desemprego do alimentante, há que prever políticas públicas de assistência social supletiva, ademais humanamente mais compatível com a dignidade da pessoa humana tanto de credores quanto dos devedores. 
É importante falar em prisão civil de avós idosos, devem ser equilibradas no caso concreto. O papel do juiz no caso concreto será, o de evitar a prisão e buscar a imposição de meios coercitivos alternativos a prisão civil em regime fechado, pode reproduzir injustiça e causar ainda mais danos às pessoas envolvidas no caso concreto.
 O autor tem por objetivo discutir alternativas, com o intuito alternativas que importante comentar que autor Marcos Paulo (2017) diz a respeito:
Como alternativa à prisão, pode-se impor aos devedores de alimentos desprovidos de patrimônio a prestação de serviços à comunidade, a suspensão ou restrição de direitos, a retenção da Carteira Nacional de Habilitação, do CPF e do passaporte, assim como a inibição do exercício de certos direitos ou atividades pessoais ou profissionais. Apontam-se ainda as seguintes alternativas a serem executadas como prima ratio, dependendo obviamente do caso concreto (situação empregatícia do devedor, por exemplo): as previsões legais como desconto em folha, desconto de rendimentos de aluguéis, a penhora de bens, o arresto ou sequestro de bens e quantias depositadas em conta corrente bancária, além da proibição da abertura de contas bancárias, de prestar concurso público, a suspensão dos direitos políticos, o sequestro de dinheiro em conta corrente, de FGTS, enfim, atacar o patrimônio, e não o corpo do devedor, tudo como alternativa ao cárcere. (PAULO, 2017, p.124)
 	A decretação da prisão é uma medida extrema e radical que só deve ser utilizada quando frustrada os demais meios executórios.
Numa análise final, o autor frisa que, é mais um dos tantos desafios postos ao legislador, aos atores do sistema judiciário e ao meio acadêmico, evitando-se posições de caráter intolerante e mesmo fundamentalista, típicos de uma infrutífera lógica do tudo ou nada.
Este artigo muito relevante, influenciando novos estudos sobre tema sobre prisão civil, tanto em nível de graduação como pós-graduação lato sensu e stricto sensu, intuito do autor foi trazer meios alternativos à prisão civil .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOARES FERREIRA, Flávia Elaine. A prisão civil do devedor de alimentos: em busca da efetividade da medida que pretende servir como coercitiva ao adimplemento da obrigação alimentar. Disponível em: https://www.google.com.br/#q=a+pris%C3%A3o+civil+do+devedor+de+alimentos+fl%C3%A1via+elaina. Acesso em: 05 feveriro. 2018.
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SARLET, Ingo Wolfgang. Prisão civil do devedor de alimentos deve ser a última alternativa. Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-nov-18/di-reitos-fundamentais-prisao-civil-devedor-alimentos-ul-tima-alternativa> Acesso em 05 fev. 2018.
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Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: execução / Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga, Rafael Alexandria de Oliveira - 7. ed. rev., ampl. e atual. -Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.
NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil – novo CPC – Lei 13.105/2015. São Paulo, ed. Thomson Reuters Revista dos Tribunais, 2015: pgs. 583-584. TARTUCE, Fernanda. Processos Judiciais e Administrativos em direito de família. In: Tratado de Direito das Famílias. Org.: Rodrigo da Cunha Pereira. Belo Horizonte: IBDFAM, 2015, p. 962
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil: Tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
Pinto, Marcos José. A prisão civil do devedor de alimentos [recurso eletrônico] : constitucionalidade e eficácia / Marcos José Pinto. – Dados eletrônicos (1 arquivo : 1.86 megabytes). – Brasília : Escola Superior do Ministério Público da União, 2017.
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