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Tópicos em Ciências Sociais: Questões Contemporâneas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Natalia Mendonça Conti Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Capitalismo e o Mundo do Trabalho • O Trabalho e a Vida Econômica; • Mas Afinal, o que é Trabalho? • O Trabalho nos Distintos Modos de Produção; • A Consolidação do Capital e o Impacto no Mundo do Trabalho; • Divisão do Trabalho; • Taylorismo e Fordismo; • Mulheres e Trabalho; • Desemprego; • Precarização do Trabalho. • Entender o mundo do trabalho e seus fenômenos mutáveis; • Analisar as transformações do mundo do trabalho decorrente das dinâmicas do modo de produção capitalista; • Debater as transformações do mundo do trabalho e seus impactos na vida dos trabalha- dores, trabalhadoras e na organização social. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Capitalismo e o Mundo do Trabalho Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho O Trabalho e a Vida Econômica Assim como em diversos aspectos da Sociedade, o trabalho e a vida econômica conheceram diversas transformações aceleradas pelos distintos modos de produ- ção, sobretudo com o advento do Capitalismo. Entretanto, trabalho e rentabilidade econômica nem sempre foram sinônimos. O que abordaremos a seguir são as inúmeras transformações do trabalho ao longo do tempo: o seu sentido ontológico, o trabalho escravo, a divisão do trabalho, as mulheres e o Mercado de Trabalho, o desemprego, a precarização do trabalho e o declínio da importância do trabalho, cujas análises são baseadas em estudos realizados por especialistas sobre esses temas. Mas Afinal, o que é Trabalho? Uma das práticas que marcam o ser humano ao longo da sua história, assim como o seu reconhecimento e a existência na Sociedade é o trabalho. Ao analisarmos o trabalho pela perspectiva dos pensadores Karl Marx e Friedrich Engels, compreendemos que ele faz parte da “essência” formativa do ser: Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião – por tudo o que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de subsistência (Lebensmittel), passo esse que é requerido pela sua organização corpórea. Ao produzirem os seus meios de subsistência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material. (MARX; ENGELS, 2009, p. 24) É por meio do trabalho que o ser humano consegue interagir com a natureza e modificá-la artificialmente, possibilitando, assim, sua sobrevivência. Essa produção necessária para seu viver é um processo em constante evolução, que gera a formação do indivíduo, caracterizando-se como um processo histórico, de caráter educativo. É por meio da perpetuação dos ensinamentos, do processo de reprodução dos conhecimentos adquiridos e das trocas de relações, que solidificamos nossa exis- tência na Sociedade. Nesse contexto, o trabalho se constitui como o cerne da exis- tência humana. Partindo da ótica marxista de análise e compreensão do mundo, a grande diferença entre os humanos e animais é dada pelo trabalho, a forma em que o ser humano modifica a natureza para poder subsistir e sobreviver. Porém, essa 8 9 operação de sobrevivência é marcada pela idealização, racionalização e análise, antes de executar e pôr em prática a função desejada. O trabalho está baseado em uma determinada espécie de objetivação, não so- mente pelo que produz, mas também pelos processos que levam a essa criação. Como a repetição, o acúmulo de experiências cotidianas, gerando um movimento, um desenvolvimento (MARTINS, 2019). Contudo, com o passar dos anos, com o desenvolvimento dos modos de produ- ção vigentes na Sociedade, o trabalho que ora se apresentava como instrumento de sobrevivência do ser humano transformou-se nos principais meios de dominação. O Trabalho nos Distintos Modos de Produção Com o passar dos anos e as organizações coletivas das comunidades humanas, a evolução de uma Sociedade primitiva na qual a subsistência era a base da sobre- vivência se transformou em uma Sociedade de trocas e valoração desse trabalho. O ser humano passou a exercer seu poder transformador sobre a natureza, mas também nas relações uns com os outros. A emersão da propriedade privada, pertencente a apenas um grupo, gerou a divisão dos grupos humanos em classes, promovendo a exploração, a partir de uma lógica fragmentada e não mais comunal, a soberania de uma classe dominante em detrimento de outra classe, oprimida, escravizada, lutando para resistir, mesmo com tamanha dificuldade. Abaixo veja alguns modos de produção: • Modo de produção primitivo, também chamado de comunismo primitivo: no qual não existia propriedade privada. Os seres humanos trabalhavam em prol da sua subsistência e da sua Comunidade, sem subjugar o outro; • Modo de produção escravista: com a emersão da propriedade privada, a Hu- manidade foi dividida em classes. De um lado, estava uma parcela mínima dos seres humanos, que controlavam as terras e tinha o domínio dos outros seres. Esses, os dominados, eram divididos entre os homens livres, que produziam para o autoconsumo e a troca do excedente, e os homens escravizados, que produziam para o autoconsumo e a troca do excedente. Cabe salientar que distintos modos de produção podem coexistir em uma mesma época. 9 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho A Consolidação do Capital e o Impacto no Mundo do Trabalho Desde o século XVI, com a expansão das navegações e a reconfiguração geo- política dada pelas colônias europeias na América, na Ásia e na África, o trabalho vem se adaptando à hegemonia do Sistema Econômico Capitalista. Na fase pré-colonial, o trabalho coletivo já era o pilar da produção de Socieda- des tribais. Porém, com a expansão comercial e o surgimento de uma ambiciosa burguesia, o trabalho, durante a colonização, deu-se por meio da mão de obra de indivíduos escravizados. Na América Latina, por exemplo, as principais formas de trabalho existentes durante o período colonial desenvolveram-se entre os séculos XVI e XIX. Os povos originários foram assassinados, escravizados, juntamente com a popu- lação negra do Continente africano, paratrabalhar na extração de metais preciosos como o ouro e a prata, assim como na produção e na colheita de especiarias e produtos agrícolas. Controlado pelo comércio burguês europeu, o tráfico humano configurou-se como um grande negócio. Segundo Ricardo Antunes: Foi desse intercâmbio mercantil que surgiu o escravismo colonial, mo- dalidade de trabalho que se desenvolveu tanto nos territórios dominados pelos colonizadores portugueses quanto nas áreas controladas pelos es- panhóis – como o Caribe -, voltadas prioritariamente para a produção agrícola (a plantation) e o engenho produtor de açúcar, comercializado no mercado europeu. (ANTUNES, 2011, p. 18) No final do século XVIII, na Europa, e início do século XIX, com a Revolução Industrial, o mundo do trabalho passaria por profundas transformações. Desde então, as relações sociais, políticas e o sistema econômico se remode- laram à luz da Sociedade capitalista, liberal e industrializada, que influenciaria o mundo todo, com a proibição do tráfico de escravos no século XIX, o genocídio dos povos originários da América e, posteriormente, o fim da escravidão da população negra, deixando inúmeros indivíduos em situação de abandono, miséria e sem po- líticas públicas que integrassem essa população na estrutura da Sociedade. Inicia-se, assim, um processo migratório de trabalhadores europeus, com mão de obra assalariada, com incentivos para compras de terras e com melhores con- dições de trabalho nos países que surgiam independentes de seus colonizadores. 10 11 Figura 1 – Engenho de cana, ilustração de Henry Koster Fonte: Wikimedia Commons As ex-colônias, desde então, passam a buscar meios de produção para alavancar suas economias, passando da monocultura de produtos como o café, no exemplo brasileiro, para o processo de industrialização que se tornará urgente, principal- mente, nas primeiras décadas do século XX. O século XX inicia-se tumultuado. Em 1914, eclode a Primeira Guerra Mundial, motivada pela competitividade de emergentes potências capitalistas europeias e os EUA. Três anos depois, em 1917, a Rússia realiza a Revolução Socialista, transfor- mando-se na URSS. A Primeira Grande Guerra finda em 1918, deixando um rastro de milhares de mortos. Logo, os países caminham para uma reestruturação, que ocasionou um aumento na produção em larga escala, nos estímulos ao consumo no Mercado in- terno e a competitividade no Mercado de exportação. Toda essa alta e acelerada produção e o descompassado ritmo de consumo cul- minaram na histórica crise da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Desde então, com o trabalho assalariado, as relações sociais se darão dicotomi- camente entre burgueses e proletários no território dos grandes centros urbanos que começam a proliferar em torno das fábricas. • Burguês: dono da fábrica, dos meios de produção, não divide o trabalho, só manda e ao final fica com a maior parte da riqueza produzida; • Proletário: quem dá sua força de trabalho, vende-a por dinheiro, mas ganha muito menos do que produz. 11 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho Burgueses Organização da Sociedade Capitalista Proletariado Figura 2 – Organização da Sociedade Capitalista Divisão do Trabalho As Sociedades pré-modernas se organizavam para trabalhar em função de suas necessidades de sobrevivência. Nas zonas rurais, a AGRICULTURA, trabalho da maioria das pessoas que habi- tavam o campo, dependia de todos os membros da família, realizando as funções para garantir o seu sustento. Nas cidades pré-modernas, os ofícios eram herdados pelas gerações seguintes e não ultrapassavam mais de 20 tipos de ocupação. Desde o oficio de ferreiro até os trabalhos domésticos, imaginemos que a forma singela de sustento de muitas famí- lias era proveniente de ocupações, em que as pessoas se especializavam durante muito tempo, até adquirirem o domínio perfeito da técnica do “saber fazer”. Normalmente, o trabalhador executava todas as fases do Processo de Produção, do princípio ao fim. No entanto, com o avanço da Indústria moderna, as relações de trabalho e da ocupação dos espaços se modificaram. Só uma pequena parcela permaneceu no campo e o próprio cultivo da terra se tornou industrializado. Nas cidades, muitos ofícios tradicionais desapareceram, sendo substituídos por especialistas que operam parcialmente, dependendo do trabalho de outras pessoas para chegar ao resultado final. Aqui, queremos chamar a atenção para o fato de o trabalho, antes realizado por um profundo conhecedor do assunto, quando substituído pelos modernos meios de produção, perder tal conhecimento, que passa a ser dominado de forma fragmen- tada por um grupo de pessoas que formam uma Equipe de Trabalho. 12 13 É importante ressaltar que o local de produção também inspirou mudanças. Se antes se trabalhava no núcleo de uma família, envolvendo praticamente todos os membros no recinto de um lar, aos poucos, o trabalhador, sobretudo do gênero masculino, foi distanciando-se de casa para trabalhar para as indústrias, ou seja, as novas formas de produção alavancaram profundas mudanças estruturais na própria organização social, desde o núcleo familiar. As pessoas que foram procurar emprego nas fábricas seriam treinadas para exe- cutar uma tarefa específica em troca de um salário. O desempenho do trabalhador passa a ser, então, controlado pelos dirigentes das fábricas, a fim de melhorar a produtividade e discipliná-lo. No sistema moderno de trabalho, segundo recenseamento britânico, registraram- -se mais de 20.000 tipos de ocupações distintas, verificando-se o enorme contraste entre a divisão do trabalho nas Sociedades tradicionais e nas Sociedades modernas. Se as Sociedades tradicionais eram autossuficientes, as Sociedades modernas são caracterizadas pela interdependência econômica. Isso quer dizer que as Sociedades tradicionais eram capacitadas para produzir seus próprios alimentos, vestuário e demais bens essenciais, enquanto a maioria das pessoas nas Sociedades modernas não produz os alimentos de que precisa, nem as habitações em que vive ou os bens materiais que consome. Tabela 1 – Nova Síntese Sociedades Pré-Modernas O trabalho é caracterizado pelo envolvimento coletivo de todos, com o objetivo de satisfazer as necessidades básicas para a sobrevivência. Novas técnicas são apreendidas, nas quais o trabalhador se torna profundo conhecedor e domina o seu processo de trabalho, porém elas não são utilizadas como estratégias de dominação, e sim, para o bem comum. Sociedades Modernas São caracterizadas pela fragmentação do grupo, em que o objetivo do trabalho está no recebimento de um salário. O trabalho é realizado para produzir e gerar lucro para poucos indivíduos, em detrimento da força de trabalho de outros muitos. O trabalhador é especialista em um tipo de trabalho e desconhece o todo, pois depende do trabalho dos demais para se chegar a um resultado final, sem receber uma remuneração justa. Taylorismo e Fordismo Adam Smith, um dos fundadores da Economia moderna, em sua obra A riqueza das nações, apresenta uma descrição da divisão do trabalho numa fábrica de alfinetes. O autor analisa o cotidiano dos trabalhadores e compara que: sozinho, o traba- lhador produzia no máximo 20 alfinetes por dia, já com as tarefas divididas com ou- tros dez, efetuando trabalhos especializados, produziam juntos até 48.000 alfinetes ao dia, comprovando, dessa forma, segundo sua Teoria, que a divisão do trabalho aumentou a produção 240 vezes mais com o trabalho em conjunto em detrimento do trabalho solitário. 13 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho Mais tarde, Frederick W. Taylor, engenheiro norte-americano, aplicou a matemá- tica de Smith aliada ao controle do tempo de produção. No Sistema de organização do trabalho formulado por Taylor, o trabalhador realizava, através de movimentos repetitivos e cronometrados, seu Processo de Tra- balho de forma técnica, sem reflexão, e mecânica, com a finalidade de maximizaro tempo de trabalho em benefício da produção fabril. Entretanto, esses avanços na produção não eram refletidos nos salários e nas condições dignas de trabalho. Ainda que passasse a maior parte do tempo dentro de uma Fábrica, o soldo de um operário mal dava para alimentar a família e o rit- mo intenso das jornadas de trabalho em ambientes não adequados gerava danos irreversíveis a saúde física e mental dos trabalhadores. Já Henry Ford, proprietário de uma Empresa de automotores, revolucionou o Mercado capitalista no pós-guerra, quando adotou em sua fábrica uma forma de produção em massa baseada na criação de uma linha de produção, visando ao consumo da população, em que o trabalhador era responsável por uma única ação específica no desenvolvimento de um produto final, realizando trabalhos altamente desgastantes e repetitivos. Exemplo: A implantação das esteiras rolantes que levam parte do produto a ser fabricado até os funcionários. Esse modelo gerou baixo custo na linha de produção, barateando o produto, que tinha qualidade inferior, aumentando o consumo e gerando lucros para o empresário. Vejamos, no quadro a seguir, as principais características dos métodos de orga- nização do trabalho: Tabela 2 Taylorismo • Atingir a máxima eficiência no processo produtivo com maior economia de tempo; • Sistematizar e padronizar o trabalho, definindo precisamente cada uma das etapas da produção a ser realizada no tempo cronometrado para elas. Fordismo • Fabricar uma linha de montagem por meio do trabalho específico; • Produção em larga escala para atender um mercado de consumo de massa. O Fordismo e o Taylorismo adaptaram o trabalho humano ao da máquina, trans- formando o homem em uma engrenagem a mais, que completa a linha de montagem. Essa visão do ser humano como parte de uma máquina gerou ao trabalhador gra- ves problemas de saúde, por desempenhar, durante muito tempo, a mesma tarefa. A permanência do operário na Fábrica foi substituída pela rotatividade frequente. O modelo de Henry Ford foi fundamental para a instalação de Unidades de Pro- dução em diversas partes do mundo, em que a fabricação de mercadorias baseadas na Linha de Montagem em etapas não exigia, em princípio, qualificação de boa parte da mão de obra. 14 15 O advento da produtividade, com a racionalização do trabalho proveniente do Fordismo e do Taylorismo, revelou-se surpreendente, satisfazendo os anseios e as necessidades das Empresas capitalistas de aumentarem também os lucros, ainda mais advinda de um grande período de crise do capital, com o fim da Primeira Grande Guerra. Nota-se que o Capitalismo está em constante modificação, reestruturando-se para não perder sua força e poder. Vemos esse reflexo na Indústria moderna, que se alimenta de uma constante trans- formação, caracterizada pelo intenso desenvolvimento tecnológico, como o uso da ci- ência na invenção e desenvolvimento de máquinas para atingir maior produtividade. Com o desenvolvimento tecnológico em todas as áreas do conhecimento, a Eco- nomia de Empresas Multinacionais e de países centrais, como EUA, Inglaterra, França, Alemanha e Japão alavancaram. Enquanto as grandes Empresas cresciam como nunca, o trabalho foi sendo au- tomatizado, ou seja, as máquinas foram, aos poucos, substituindo a mão de obra humana, acarretando desigualdades sociais, desemprego, enfraquecimento das Or- ganizações Sindicais, greves e lutas trabalhistas que perduraram por todo o século XX, arrastando-se para o século XXI. Mulheres e Trabalho Durante um período histórico, como sinalizado anteriormente, as mulheres e os homens desempenhavam trabalhos para a garantia de sua sobrevivência e em prol dos demais, não ocorrendo divisão entre o trabalho realizado na residência e fora dela. Com o desenvolvimento industrial e a modernização econômica, houve uma separação da vida no lar e no trabalho, ocasionado pelo fato de as empresas con- tratarem, preferencialmente, trabalhadores individuais e não famílias. Ocorreu, também, uma separação por gênero, na qual os homens saiam de casa para buscar o sustento da família e as mulheres ficavam em casa, garantindo a manutenção das atividades domésticas. No início da Revolução Industrial, a maioria dos trabalhadores era do sexo mas- culino; porém, a participação das mulheres aumentou de forma contínua, de acor- do com as demandas do capital. A princípio, executando nas fábricas de tecelagem trabalhos especializados que exigiam “habilidades femininas”, como: dedos finos, permitindo manusear melhor do que os homens as maquinarias da Indústria Têxtil. As mulheres, assim como as crianças, trabalhavam, muitas vezes, até 14 horas por dia, a um salário muito inferior do que recebiam os homens. 15 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho Dia internacional da Mulher: Uma homenagem às mulheres que, em 8 de março de 1857, trabalhavam nas fábricas de tecido, em Nova Iorque (Estados Unidos) e se organizaram fazendo uma manifestação para melhoras as CONDIÇÕES DE TRABALHO, que eram muito precárias. A manifestação foi reprimida pela polícia e as mulheres fugiram para dentro de uma fábrica para se proteger. Esta fábrica foi fechada e incendiada com as trabalhadoras no interior, levando à morte de 130 mulheres carbonizadas (queimadas). Ex pl or Durante a Primeira Guerra Mundial, o número de mulheres no Mercado de Tra- balho aumentou vertiginosamente, pois, sem a mão de obra masculina, que fora para o campo de batalha, as mulheres ocuparam os postos de trabalho nas Fábri- cas de praticamente todos os Setores. Com o fim da Guerra, os homens voltaram a ocupar novamente esses empre- gos, mas esse padrão estabelecido de postos de trabalho ocupados pelo gênero masculino é rompido, e a mulher, gradativamente, foi sendo absorvida como mão de obra pela indústria. Nos anos em que ocorreram a Segunda Guerra Mundial, as mulheres represen- tavam 29% da força de trabalho na Grã-Bretanha. Além da necessidade da mão de obra feminina em momentos de Guerra, como citamos acima, houve também mudanças na natureza das tarefas tradicionalmente associadas às mulheres, mediante a luta delas, que levaram ao enfraquecimento da desigualdade entre os gêneros na Atividade Econômica. Outro fator que influenciou a consolidação do trabalho feminino na Economia produtiva foi o declínio da taxa de fecundidade – a opção por ter um número menor de filhos está diretamente atrelada à ascensão da mulher no Mercado de Trabalho, assim como o aumento do custo de vida e a necessidade de agregar a renda familiar. Todos esses fatores estão ancorados pela luta e pela resistência da mulher na So- ciedade, por equidade de direitos, a inserção delas no Mercado de Trabalho, com o desejo de satisfação própria e coletiva, que teve seu processo de unificação a partir dos anos 1960 e 1970 e permanecem na atualidade. Por mais que a ascensão ao Mercado de Trabalho seja cada vez mais visível, as mulheres ainda continuam ganhando menos do que os homens, mesmo ocupando os mesmos postos e tendo mais qualificação e experiência. E raramente chegam a cargo de chefia em uma Empresa. Atrelado a esse dado, vemos a mulher desempenhando uma dupla jornada de trabalho, uma fora do lar e outra dentro de casa. Estudos realizados pela ONU Mulheres apontam que o trabalho doméstico não remunerado realizado majoritariamente pelas mulheres, que inclui: lavar, cozinhar, arrumar a casa e cuidar de crianças, entre outras coisas, representam de 10% a 39% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países. 16 17 Trabalho doméstico não remunerado representa até 39% do PIB dos países, diz ONU Mulhe- res. Disponível em: http://bit.ly/2wcuitpEx pl or Figura 3 – Número médio de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos, pela população de 16 anos ou mais, segundo sexo. Brasil, 2009 Fonte: Adaptado de Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça - 4ª edição Figura 4 – Pobreza, distribuição e desigualdade de renda Fonte: Adaptado de Retrato das Desigualdadesde Gênero e Raça - 4ª edição 17 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho Desemprego Até os anos trinta do século XX, o pleno emprego era parte do cenário das So- ciedades industrializadas ou em vias de industrialização. Aos poucos, as inovações tecnológicas foram substituindo o trabalhador pela máquina, ou seja, a automação do trabalho retirou do Mercado, e ainda o faz, mi- lhares de postos de trabalho. Desemprego cresce no Brasil e atinge 13,1 milhões de pessoas. Disponível em: http://bit.ly/2wcprsb Ex pl or Essa substituição realizada pelos donos do capital constitui-se na máxima do Sis- tema Capitalista, na busca pelas melhores alternativas para aumentar seus lucros e reduzir seus custos, formado um Mercado de reserva de trabalhadores sem empre- gos, para contratá-los a baixo custo e condições precárias de trabalho. Entretanto, a crise de 1929, que abalou as estruturas da vida social e econômica, fez com que o desemprego se configurasse um grande problema até mesmo para os donos dos meios de produção, pois a população restringiu a compra dos bens de consumo. A partir de então, com aval e com a pressão dos grandes empresários, o Estado cada vez mais começou a intervir nos processos da criação de novos postos de trabalho. Segundo Giddens: O compromisso com o pleno emprego tornou-se parte da política gover- namental praticamente em todas as sociedades ocidentais. Até os anos 70, estas políticas pareciam ter sucesso, e o crescimento econômico foi mais ou menos continuo. Durante os anos 70 e 80, os índices de desemprego dis- pararam em muitos países, e o Keynesianismo foi abandonado, em grande parte, como meio de regulação econômica. (GIDDENS, 2004, p. 410) O Neoliberalismo, implementado pelos governos Reagan nos EUA e de Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, dimensionou a Economia à luz do livre Mercado e das diretrizes dadas pelas grandes Empresas aos rumos da Economia. Do final dos anos 1980 e durante os anos 1990, o Neoliberalismo trouxe uma Política de Privatização de Empresas, redução de Direitos Trabalhistas e dos postos de trabalho, além da defasagem salarial. 18 19 Há uma série de estudos sobre os efeitos emocionais ocasionados pelo desem- prego. Os indivíduos vivem um sentimento de choque, baixa estima, depressão e desvalorização social. O desempregado se sente humilhado nessa condição e, portanto, Sociedades que apresentam índices elevados de desemprego alavancam uma desestruturação social. Precarização do Trabalho A precarização do trabalho não é um fenômeno novo. No entanto, vem aconte- cendo em maior velocidade, principalmente, a partir dos anos 1980, e vem atingin- do número maior de trabalhadores à medida que as Empresas foram se organizan- do de acordo com as demandas do Mercado. O modo de produção capitalista se reestruturou a partir da Era da Informação, com o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação, gerando, assim, uma nova forma de produzir trabalho. A desvalorização da força de trabalho, com a substituição do trabalhador pelas máquinas e robôs tornando-se cada vez mais latente, atrelada a uma descaracteri- zação do mundo do trabalho como consequência do ajustamento estrutural à Crise Econômico-Financeira Global (decorrentes da Economia de transição baseada na Indústria, para uma Economia fundamentada nos serviços) gerou grande número de pessoas sem emprego e péssimas condições de trabalho, somada às flexibilizações das Leis Trabalhistas em prol dos patrões e não do trabalhador, com perda de direi- tos, o alto um nível de precarização do trabalho atingiu marcos nunca antes vistos. Segundo Anthony Giddens, hoje a precarização do trabalho gera um sentimento de receio e incerteza a respeito da estabilidade no emprego e do futuro da sua posi- ção e do seu papel no local de trabalho (2004, p. 413), ocasionando o adoecimento desses trabalhadores. Outras características dessa reorganização social do trabalho que estão atreladas a precarização, são os altos níveis de privatizações e fusões de Empresas, o au- mento da competitividade no interior das equipes (trabalhadores com qualificações em postos que não refletem sua formação, diversos vínculos de trabalho em uma mesma empresa), a caracterização do trabalhador autônomo como “seu próprio patrão” levando a uma falsa segurança de estabilidade e controle na cadeia econô- mica da Sociedade. Em Pinheiros, a empresa iFood construiu um espaço de descanso e convivência para entrega- dores, disponível em: http://bit.ly/3d78Irc Ex pl or 19 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho Urberização do trabalho. Disponível em: http://bit.ly/33jWJ51 Ex pl or Importante! O trabalho é um dos temas centrais dos estudos em Ciências Sociais. Esta Unidade apre- sentou o percurso do trabalho desde a escravidão, durante o período de colonização, até a automação e as inovações tecnológicas dos dias atuais. Verificamos que o trabalho assalariado teve impulso no início do século XX com a indus- trialização e, aos poucos, incorporou a mulher ao Mercado de Trabalho, principalmente, pelas necessidades de mão de obra durante as Guerras; porém, sua inserção no Mercado de trabalho não garantiu, até a atualidade, a igualdade de gênero nos postos de traba- lho, e nem salarialmente. Além disso, a industrialização, a modernização e a economia Liberal Capitalista exigiram a produção para o Mercado de massa com os métodos taylorista e fordista. Logo, o tra- balhador assalariado seria substituído pela automação. Assim, o Neoliberalismo, com a privatização das Empresas, estímulo à competitividade, terceirização do trabalho e enfraquecimento das Leis Trabalhistas, reestruturaria o Siste- ma Organizacional das Corporações e o desemprego se agiganta como um fantasma que assombra os países do mundo todo no presente século. Em Síntese 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Filmes Tempos Modernos (Modern Times) Duração: 1h 27min / Romance, Comédia dramática. Direção: Charles Chaplin. Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não tem mãe e o pai delas está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem consegue escapar. Você Não Estava Aqui Duração: 1h 40min / Drama. Direção: Ken Loach. Em Você Não Estava Aqui, após a crise financeira de 2008, Ricky e sua família se encontram em situação financeira precária. Ele decide adquirir uma pequena van, na intenção de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter a profissão de cuidadora. No entanto, o trabalho informal não taz a recompensa prometida, e aos poucos os membros da família passam a ser jogados uns contra os outros. Leitura Trabalho Doméstico Não Remunerado representa até 39% do PIB dos Países, diz ONU Mulheres http://bit.ly/2wcuitp A Urberização do Trabalho http://bit.ly/33jWJ51 21 UNIDADE Capitalismo e o Mundo do Trabalho Referências MARTINS, F. N. As linguagens da arte no processo formativo dos agentes comunitários em saúde do Sistema Único de Saúde. Dissertação em Educação Profissional em Saúde. 98f.Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Poli- técnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2019. MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Expressão Popular, 2009. 22
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