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TEORIA DA CONSTITUIÇÃO DEFINIÇÃO 1 CONCEPÇÕES MODERNAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO 2 OBJETO 3 DISTINÇÃO ENTRE PARTE ORGÂNICA E A PARTE DOGMÁTICA 4 ELEMENTOS 4 NATUREZA JURÍDICA DO PREÂMBULO 5 CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ou TIPOLOGIA 5 QUANTO AO CONTEÚDO 5 QUANTO À FORMA 5 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO 5 QUANTO À ORIGEM 5 QUANTO À EXTENSÃO 6 QUANTO À IDEOLOGIA 6 QUANTO À FUNÇÃO - J.J.CANOTILHO 6 QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO 6 QUANTO AO SISTEMA 6 QUANTO À ESSÊNCIA CRITÉRIO ONTOLÓGICO-KARL LOEWENSTEIN 6 QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO -JORGE MIRANDA 7 CLASSIFICAÇÃO DE RAUL MACHADO HORTA 7 QUANTO À ATIVIDADE LEGISLATIVA 7 CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA 7 QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO - ANDRÉ RAMOS TAVARES 7 SEGUNDO JORGE MIRANDA 8 CONSTITUIÇÃO BALANÇO OU REGISTRO 8 CONSTITUIÇÃO EM BRANCO 8 QUANTO À RIGIDEZ OU ESTABILIDADE 8 CONSTITUIÇÃO DÚCTIL ou SUAVE 8 CONSTITUIÇÃO UNITEXTUAL ou ORGÂNICA 8 CONSTITUIÇÃO SUBCONSTITUCIONAL 9 CONSTITUIÇÃO PROCESSUAL, INSTRUMENTAL ou FORMAL 9 CONSTITUIÇÃO CHAPA BRANCA 9 CONSTITUIÇÃO UBÍQUA 9 CONSTITUIÇÃO LIBERAL-PATRIMONIALISTA 9 CONSTITUIÇÃO PRINCIPIOLÓGICA E JUDICIALISTA 9 CONSTITUIÇÃO ORAL 10 CONSTITUIÇÃO INSTRUMENTAL 10 TRANSCONSTITUCIONALISMO 10 CONSTITUIÇÃO.COM (“crowdsourcing”) 10 CLASSIFICAÇÃO DA CF/88 10 DEFINIÇÃO Constituição não é conceito unívoco, constituição é conceito equívoco. Não tem apenas um sentido, mas tem pelo menos 3 sentidos (sociológico, político e jurídico). SENTIDO SOCIOLÓGICO - Ferdinand Lassalle Constituição como folha em branco e como fator real de poder. Conforme aponta Bernardo Gonçalves: Sendo assim, uma investigação sobre qual seja a “Constituição” real e efetiva de um Estado e de uma sociedade transborda e ultrapassa os limites da ciência jurídica, sendo, na realidade, um problema dos sociólogos e dos cientistas políticos, que seriam mais aptos a identificar, na dinâmica social, os verdadeiros centros de poder e de decisão presentes nessa sociedade e os interesses aos quais esse poder serve1. Para Lassale, coexistem em um Estado duas Constituições: uma real, efetiva, correspondente à soma dos fatores reais de poder que regem este país; e outra, escrita, que consistiria apenas numa “folha de papel”. Este conceito pertence à Sociologia Jurídica. SENTIDO POLÍTICO - Carl Schmitt 1 FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador. 2017. Pg.73 1 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 1 Schmitt voltou a ser estudado hoje em dia em alguns pontos. Segundo ele, deveria haver uma separação entre Estado e Sociedade. A constituição seria a decisão política que fundamentaria o fato de o Estado existir. Para ele, a Constituição seria a decisão política fundamental do titular do poder constituinte, que é o povo (visão decisionista), ou seja, somente se refere estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática, etc. Ele diferencia a Constituição das Leis constitucionais que seriam os demais dispositivos inseridos no texto do documento constitucional, mas não contêm matéria de decisão política fundamental. Diferenciava Constituição de lei constitucional. Constituição: decisão política fundamental. Lei constitucional: pode ou não representar a Constituição, não dizendo respeito à decisão política fundamental. A Constituição seria fruto da vontade do povo, titular do poder constituinte ; por isso mesmo é que essa teoria é considerada DECISIONISTA ou VOLUNTARISTA. Este conceito pertence à Ciência Política. SENTIDO JURÍDICO - Hans Kelsen Este sentido é próprio do Direito Constitucional. Em Kelsen havia a separação entre norma fundamental hipotética e lei fundamental do Estado. A primeira, pertence à filosofia (fundamentação da Constituição). A Constituição é a lei fundamental do Estado. A Constituição ocupa o ápice da pirâmide da hierarquia das normas. Ela é o fundamento comum de validade das normas que o Estado vier a produzir. Sentido lógico-jurídico: fundamento transcendental de sua validade. Norma hipotética fundamental. Sentido jurídico-positivo: serve de fundamento para as demais normas. A Constituição é o pressuposto de validade de todas as leis ATENÇÃO: Mesmo entendendo a Constituição com sentido jurídico, é possível ainda distinguir em FORMAL e MATERIAL. Lembre-se que norma formalmente constitucional é qualquer norma que está constando do texto da Constituição. Por outro lado, norma materialmente constitucional é aquela que trata de tema próprio de constituição (Direitos Fundamentais, Organização do Estado, Poderes etc.). Diante disso, nasce uma distinção entre a Constituição formal (reunião de normas formalmente constitucionais) e a Constituição material (Reunião de normas materialmente constitucionais – não tem manifestação física, é uma construção hipotética). A Constituição material não se limita a um diploma. CONCEPÇÕES MODERNAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO2 FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO - Konrad Hesse Critica e rebate a concepção tratada por Ferdinand Lassalle. A Constituição possui uma força normativa capaz de modificar a realidade, obrigando as pessoas. Nem sempre cederia frente aos fatores reais de poder, pois obriga. Tanto pode a Constituição escrita sucumbir, quanto prevalecer, modificando a sociedade. O STF tem utilizado bastante esse princípio da força normativa da Constituição em suas decisões. CONSTITUCIONALIZAÇÃO SIMBÓLICA - Marcelo Neves. Cita o autor que a norma é mero símbolo. O legislador não a teria criado para ser concretizada. Nenhum Estado Ditatorial elimina da Constituição os direitos fundamentais, apenas os ignora. Ex: salário-mínimo que "assegura" vários direitos. CONSTITUIÇÃO ABERTA - Peter Häberle e Carlos Alberto Siqueira Castro. Leva em consideração que a Constituição tem objeto dinâmico e aberto, para que se adapte às novas expectativas e necessidades do cidadão. Se for aberta, admite emendas formais (EC) e informais (mutações constitucionais), está repleta de conceitos jurídicos indeterminados. Ex: art. 5º, XI, CF - no conceito de 2 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1516539/a-constituicao -e-seus-sentidos-sociologico-politico-e-juridico 2 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 2 "casa" está incluso a casa e o escritório onde exerce atividade profissional. A idéia dele é que nós devemos urgentemente recusar a idéia de que a interpretação deve ser monopolizada exclusivamente pelos juristas. Para que a Constituição se concretize e necessário que todos os cidadãos se envolvam num processo de interpretação e aplicação da constituição. O titular o poder constituinte é a sociedade, por isso ela deve se envolver no processo hermenêutico de materialização da constituição. Essa idéia abre espaço para que os cidadãos participem cada vez mais nessa interpretação. CONCEPÇÃO CULTURAL Remete ao conceito de Constituição total, que é a que possui todos os aspectos vistos anteriormente. De acordo com esta concepção, a Constituição é fruto da cultura existente dentro de determinado contexto histórico, em uma determinada sociedade, e ao mesmo tempo, é condicionante dessa mesma cultura, pois o direito é fruto da atividade humana. José Afonso da Silva é um dos autores que defendem essa concepção. Meirelles Teixeira a partir dessa concepção cultural cria o conceito de Constituição Total, segundo o qual: "Constituição é um conjunto de normas jurídicas fundamentais, condicionadas pela cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político" (expressão retirada do livro do professor Dirley da Cunha Júnior na página 85, o qual retirou do livro de J. H. Meirelles Teixeira página 78). BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE Nasce da doutrina de LOUIS FAVOREU Bloco de constitucionalidade nada mais é do que a constituição material aplicada a controle de constitucionalidade. O parâmetro do controle ultrapassa a própria constituiçãoformal e alcança outras normas (que podem ser legais ou até mesmo internacionais, desde que as matérias venham ser próprias de Constituição). Assim, seria possível controle de constitucionalidade em face do Código Civil quando alude ao direito ao nome. Em relação ao tema, vamos fazer algumas considerações: 1 Bloco no Direito Comparado: Em todo o mundo há tendência a esse modelo de controle de constitucionalidade. MARK TUSHNET fala do alargamento da parametricidade constitucional. Ou seja, uma ampliação dos parâmetros de controle de constitucionalidade para além da constituição formal. 2 Bloco no Direito brasileiro: Há quem mencione o Art. 5º, §3º da CF na forma que lhe deu a EC 45/04. Aqui temos a ideia de EQUIVALÊNCIA entre o tratado e a emenda, da mesma forma que o bloco não é a constituição, mas é equivalente à constituição em tema de controle. O STF já chegou a citar o bloco, mas nunca o aplicou. Isso pelo fato de que o bloco de constitucionalidade está mais relacionado às constituições sintéticas e não as analíticas (como é o caso brasileiro). Assim, no Brasil temos em nossa constituição diversas regras. Além disso, temos também os princípios constitucionais que são grandes parâmetros de constitucionalidade. OBJETO O objeto tem por propósito indicar o que é propriamente matéria de Constituição (materialmente constitucional). Assim, se a matéria estiver nestes pontos, será materialmente constitucional. 1 DIVISÃO DO PODER POLÍTICO a O poder político é uno e indivisível. Assim O QUE SE DIVIDE É A FORMA DE EXERCÍCIO e não a sua essência; b A tripartição de poderes não é a única forma pela qual o exercício do poder político pode ser exercido: Em federações, temos aqui também a forma de divisão territorial (em forma vertical) e outra forma de divisão funcional (horizontal). 3 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 3 Aqui devemos lembrar das lições do Direito Administrativo quando firma as diferenças entre órgãos e entidades, pois quando há a divisão territorial temos a divisão de poder político entre entidades (Título III da nossa CF – União, Estados, DF e Municípios). No âmbito funcional, temos a divisão entre órgãos (Título IV da nossa CF – Poderes). 2 DIREITOS, GARANTIAS E REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS a Traz objetivos do Estado com a ideia de intervenção do Estado na ordem econômica e social. Nossa constituição não é liberal, mas social. b Distinção entre Direito, Garantia e Remédio: A ideia de “proteção” é o ponto de contado entre eles. O que distingue é o tempo. Assim, primeiro a ordem jurídica afirma que o Direito existe. Depois, visando efetivar o direito, disponibiliza uma garantia. Enfim, visando efetivar a garantia, prescreve um remédio. Assim, “a todo direito corresponde uma garantia que o assegura e a toda garantia corresponde um remédio que a torna eficaz”. Como exemplo: Direito de ir, vir e ficar. Para que fosse assegurado esse direito, a CF disponibilizou garantias a exemplo da formalidade da prisão provisória. Não sendo respeitada essa garantia caberá o remédio do Habeas Corpus. Assim, a Constituição deve tratar desses dois eixos. DISTINÇÃO ENTRE PARTE ORGÂNICA E A PARTE DOGMÁTICA a Orgânica: Aquela que organza o Estado; e b Dogmática: Aquela que trata do dogma da dignidade da pessoa humana (Direitos, garantias e remédios constitucionais). No Brasil, inclina-se, no séc. XXI, ao esvaziamento da parte orgânica em detrimento da parte dogmática. Isso tem demonstração na ciência jurídica e no Direito positivo. Como exemplo, cada vez é mais raro encontrar obras novas sobre Estado e sua organização. No Direito positivo também é visível isso, tendo em vista que na atual Constituição a ordem de abordagem dos temas foi invertida, ou seja, primeiro se fala dos Direitos e depois do Estado. Assim, não é mais o Estado o ator principal, mas os Direitos limitam a atuação deste. A partir disso, surge uma rediscussão sobre os elementos da Constituição. ELEMENTOS3 1 ORGÂNICO É o mesmo que a parte orgânica já apontada (Títulos III e IV). 2 LIMITATIVO Está compreendido na parte dogmática. A principal limitação ao Estado é justamente ideia consagrada nos Direitos, Garantias e Remédios (Título II). 3 SÓCIOIDEOLÓGICO Diz respeito à parte de intervenção do Estado da ordem econômica e social (lembre-se que decorre da parte dogmática). Estampadas nos Títulos VII e VIII. 4 ESTABILIZAÇÃO CONSTITUCIONAL Esse elemento trata de qualquer norma da CF sobre solução de conflitos constitucionais (envolvendo diretamente a constituição ou ainda de forma indireta), que estabilizam a ordem constitucional. Como exemplo: Controle de Constitucionalidade e a Intervenção Federal. 5 FORMAL DE APLICABILIDADE: Tudo que o texto traga sobre forma de aplicação da Constituição. São exemplos: o preâmbulo e o ADCT (segundo o próprio JOSÉ AFONSO). O que regula a forma do corpo permanente é o que vem antes dele (preâmbulo) e o que vem depois dele (ADCT). 3 JOSÉ AFONSO DA SILVA. Curso de Direito Constitucional positivo. 4 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 4 ELEMENTOS DAS CONSTITUIÇÕES ORGÂNICO Estrutura do estado LIMITATIVOS Direitos fundamentais – limitam atuação estatal SÓCIOIDEOLÓGICO Equilíbrio entre ideias liberais e sociais ao longo da CF. DE ESTABILIZAÇÃO Asseguram solução de conflitos institucionais e protegem a integridade da Constituição e do Estado FORMAIS DE APLICABILIDADE Interpretação e aplicação da Constituição NATUREZA JURÍDICA DO PREÂMBULO TESE DA IRRELEVÂNCIA JURÍDICA O preâmbulo situa-se no DOMÍNIO DA POLÍTICA, sem relevância jurídica (STF). ATENÇÃO: apesar de o preâmbulo não possuir força normativa, ele traz as intenções, o sentido, a origem, as justificativas, os objetivos, os valores e os ideais de uma Constituição, servindo de vetor interpretativo. Trata-se, assim, de um referencial interpretativo-valorativo da Constituição. Efeitos de não pertencer à CF: - Não se aceita modificação do preâmbulo por emenda (pois esta altera a Constituição); - Não pode ser parâmetro de controle de Constitucionalidade. TESE DA PLENA EFICÁCIA O preâmbulo tem a mesma eficácia jurídica das normas constitucionais, sendo, porém, apresentado de forma não articulada. TESE DA RELEVÂNCIA JURÍDICA INDIRETA Ponto intermediário entre as duas, já que, muito embora participe "das características jurídicas da Constituição'', não deve ser confundido com o articulado CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ou TIPOLOGIA QUANTO AO CONTEÚDO Constituição material: possui apenas conteúdo constitucional. Constituição formal: além de possuir matéria constitucional, possui outros assuntos. Não importa o seu conteúdo, mas a forma por meio da qual foi aprovada. QUANTO À FORMA Constituição escrita: é um documento formal, solene. OBS: Todas as Constituições brasileiras foram escritas. Constituição não-escrita (costumeira, consuetudinária ou histórica): fruto dos costumes da sociedade. Temos 4 exemplos de constituições não escritas: Reino Unido; Arábia saudita; Israel; e Nova Zelândia QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO Constituição dogmática: fruto de um trabalho legislativo específico. Reflete os dogmas de um momento específico da história. OBS: Todas as Constituições brasileiras foram dogmáticas. Constituição histórica: fruto de uma lenta evolução histórica. QUANTO À ORIGEM Constituição promulgada (democrática ou popular): feita pelos representantes do povo. Brasil: CF-1891, CF-1934, CF-1946 e CF-1988. Constituição outorgada (ou carta constitucional): impostas ao povo pelo governante. Brasil: CF-1824 (Dom Pedro I), 5 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 5 CF-1937 (Getúlio Vargas), CF-1967 (regime militar). Constituição cesarista (plebiscitária ou bonapartista): feita pelo governante e submetida a apreciação do povo mediante referendo. Constituição pactuada (contratual ou dualista): fruto do acordo entre duas forças políticas de um país. Ex: Constituição Francesa de 1791. QUANTO À EXTENSÃO Constituição sintética (breve, sumária, sucinta, resumida,concisa): trata apenas dos temas principais. Ex: Constituição dos EUA. Constituição analítica (longa, volumosa, inchada, ampla, extensa, prolixa, desenvolvida, larga): entra em detalhes de certas instituições. Ex: CF-1988. QUANTO À IDEOLOGIA Constituição ortodoxa (ou monista): fixa uma única ideologia estatal. Ex: Constituição chinesa, Constituição da ex-URSS. Constituição eclética (ou compromissória): permite a combinação de ideologias diversas. QUANTO À FUNÇÃO - J.J.CANOTILHO Constituição garantia (negativa ou abstencionista): limita-se a fixar os direitos e garantias fundamentais. É uma carta declaratória de direitos. Constituição dirigente (ou programática): além de prever os direitos e garantias fundamentais, fixa metas estatais. Ex: art. 196, CF; art. 205, CF; art. 7º, CF; art. 4º, parágrafo único, CF. QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO Constituição unitária (codificada, reduzida ou orgânica): formada por um único documento. Constituição variada (legal, inorgânica ou esparsa): formada por mais de um documento. Art. 5º, § 3º, CF: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. ATENÇÃO: A CF/88 nasce como uma Constituição unitária, mas vem passando por um processo de descodificação. QUANTO AO SISTEMA Constituição principiológica: possui mais princípios do que regras. Paulo Bonavides entende que é o caso da CF/1988. Constituição preceitual: possui mais regras do que princípios. QUANTO À ESSÊNCIA CRITÉRIO ONTOLÓGICO-KARL LOEWENSTEIN4 Constituição semântica: é a Constituição cujas normas foram elaboradas para a legitimação de práticas autoritárias de poder; geralmente decorrem da usurpação do Poder Constituinte do povo. Ex: CF-1937, CF-1967. Constituição nominal (ou nominalista): quando não há uma concordância, absoluta, entre as normas constitucionais e as exigências 4 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revist a_artigos_leitura&artigo_id=7593 6 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 6 do processo político, estas não se adaptando àquelas, isto é, se a dinâmica do processo político não se adaptar às normas da Constituição, esta será nominal. É Constituição sem valor jurídico cujas normas, na maior parte, são ineficazes. Constituição normativa: são aquelas, que possuem valor jurídico, cujas normas dominam o processo político, logrando submetê-lo à observação e adaptação de seus termos; é aquela, na qual, há uma adequação entre o texto e a realidade social, o seu texto traduz os anseios de justiça dos cidadãos, sendo condutor dos processos de poder. ATENÇÃO Pedro Lenza afirma que a Constituição brasileira está caminhando da Constituição nominal para a normativa. Contudo, a posição majoritária é de que a constituição brasileira é normativa. QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO -JORGE MIRANDA Constituição heterônoma (ou heteroconstituição): feita em um país para vigorar em outro país. Constituição autônoma (homoconstituição ou autoconstituição): feita em um país para nele vigorar. É a regra geral. Ex: Constituição brasileira. CLASSIFICAÇÃO DE RAUL MACHADO HORTA Constituição expansiva: além de ampliar temas já tratados, trata de novos temas. Ex: CF-1988. Constituição plástica: permite sua ampliação por meio de leis infraconstitucionais (segundo a lei, nos termos da lei, etc.). Ex: CF-1988. QUANTO À ATIVIDADE LEGISLATIVA Constituição-lei: a constituição é tratada como uma lei qualquer. Dá ampla liberdade ao legislador ordinário. Constituição-fundamento (constituição total ou ubiquidade constitucional): a constituição tenta disciplinar detalhes da vida social. Dá uma pequena liberdade ao legislador ordinário. Constituição-moldura (Canotilho: Constituição-quadro): como a moldura de um quadro, a constituição fixa os limites de atuação do legislador ordinário. CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA É a constituição cujo simbolismo é maior que seus efeitos práticos. Para Marcelo Neves, a CF/88 é simbólica por ter um elevado número de normas programáticas e dispositivos de alto grau de abstração. Marcelo Neves afirma que a constitucionalização simbólica tem como objetivos confirmar determinados valores sociais, desejando-se apenas uma vitória legislativa e fortalecer a confiança do cidadão no governo ou no Estado, por meio da legislação álibi, por meio da qual se esvaziam pressões políticas e apresentam o Estado como sensível a expectativas dos cidadãos, porém sem efetividade. Por fim, teria como terceiro objetivo adiar a solução de conflitos sociais, por meio de compromissos dilatórios, postergando-se a verdadeira decisão para o futuro. QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO - ANDRÉ RAMOS TAVARES Constituição liberal: possui apenas direitos individuais ou de 1a dimensão (ex: vida, liberdade, propriedade). O Estado tem o dever principal de não fazer. Ex: CF-1824, CF-1891. Constituição social: além de direitos individuais, prevê direitos sociais ou de 2a 7 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 7 dimensão (ex: saúde, educação, moradia, alimentação). O Estado tem o dever principal de fazer. Ex: CF-1934, CF-1946, CF-1967, CF-1988. Quando se deu a mudança da Constituição Liberal para a Constituição Social? A passagem do padrão liberal para o social ocorreu a partir da Constituição do MÉXICO (1917). Posteriormente tivemos a Constituição de Weimar (Alemanha – 1919), a da Espanha e a do Brasil (1934). SEGUNDO JORGE MIRANDA Constituição provisória (ou pré-constituição): possui duração reduzida, até que seja elaborada a constituição definitiva. Constituição definitiva: possui prazo indeterminado de duração. Ex: CF-1988. CONSTITUIÇÃO BALANÇO OU REGISTRO Periodicamente elabora-se uma constituição, fazendo uma análise do avanço social ocorrido nos anos anteriores. CONSTITUIÇÃO EM BRANCO Não prevê regras e limites para o exercício do poder constituinte derivado reformador. QUANTO À RIGIDEZ OU ESTABILIDADE Constituição imutável (permanente, granítica ou intocável): não pode ser alterada, pretendendo-se eterna e fundando-se na crença de que não haveria órgão competente para proceder à sua reforma. Pode estar relacionada a fundamentos religiosos. Ex: a CF-1824 foi imutável nos primeiros 4 anos (limitação temporal). Constituição rígida: possui um processo de alteração mais rigoroso que o destinado às outras leis. Ex: CF-1988. Constituição flexível: possui o mesmo processo de alteração que o destinado às outras leis. Os países de constituição flexível não possuem o controle de constitucionalidade. Constituição transitoriamente flexível: é a Constituição flexível por algum período, findo o qual se torna uma Constituição rígida. Constituição semirrígida (ou semiflexível): parte dela é rígida e parte é flexível. Constituição fixa (ou silenciosa): é aquela que nada prevê sobre sua mudança formal, sendo alterável somente pelo próprio poder originário. Constituição super-rígida: é a Constituição rígida que possui um núcleo imutável. ATENÇÃO O conceito de constituição “super rígida” (não admitiria qualquer mudança) está defasado. Temos dois motivos: Razão Teórica: Contraria a ideia de Direito. O Direito é uma ciência social e se adequa à nova realidade social. Não se pode impor a vontade de uma geração sobre a outra. Razão Prática: Não há nenhum caso prático no mundo que possua essa forma de Constituição. CONSTITUIÇÃO DÚCTIL ou SUAVE Idealizada pelo jurista italiano Gustavo Zagrebelsky (constituzione mite). É aquela que não define ou impõe uma forma de vida, mas assegura condições possíveis para o exercício dos mais variados projetos de vida. Reflete o pluralismo ideológico, moral, político e econômico existente na sociedade. CONSTITUIÇÃO UNITEXTUAL ou ORGÂNICA Rechaça a ideia de existência de um bloco de constitucionalidade, visto que a Constituição seria disposta em uma estrutura documental única. 8 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 8 CONSTITUIÇÃOSUBCONSTITUCIONAL Constituição subconstitucional admite a constitucionalização de temas excessivos e o alçamento de detalhes e interesses momentâneos ao patamar constitucional. Para Uadi Lammêgo Bulos, citando Hild Krüger, as constituições só devem trazer aquilo que interessa à sociedade como um todo, sem detalhamentos inúteis. Esse excesso de temas forma as constituições substitucionais, que são normas que, mesmo elevadas formalmente ao patamar constitucional, não o são, porque encontram-se limitadas nos seus objetivos. CONSTITUIÇÃO PROCESSUAL, INSTRUMENTAL ou FORMAL É um "instrumento de governo definidor de competências, regulador de processos e estabelecedor de limites à acção política" (Canotilho). Seu objetivo é definir competências, para limitar a ação dos Poderes Públicos, além de representar apenas um instrumento pelo qual se eliminam conflitos sociais. CONSTITUIÇÃO CHAPA BRANCA5 O intuito principal da Constituição é tutelar interesses e até mesmo privilégios tradicionalmente reconhecidos aos integrantes e dirigentes do setor público. A Constituição é fundamentalmente um conjunto normativo “destinado a assegurar posições de poder a corporações e organismos estatais ou paraestatais. É a visão da Constituição “chapa-branca”, no sentido de uma “Lei Maior da organização administrativa”. Apesar da retórica relacionada aos direitos fundamentais e das normas liberais e sociais, o núcleo duro do texto preserva interesses corporativos do setor público e estabelece formas de distribuição e de apropriação dos recursos públicos entre vários grupos. 5 http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/1 0959/Resiliencia_constitucional.pdf?sequence=3&isAllowed= y Leitura socialmente pessimista da Constituição que insiste na continuidade da visão estatalista-patrimonialista da Constituição e na centralidade do Poder Executivo em detrimento tanto da promessa democrática como da tutela judicial dos direitos individuais. CONSTITUIÇÃO UBÍQUA6 Onipresença das normas e valores constitucionais no ordenamento jurídico. Parte-se da constatação de que os conflitos forenses e a doutrina jurídica foram impregnados pelo direito constitucional. A referência a normas e valores constitucionais é um elemento onipresente no direito brasileiro pós-1988. Essa “panconstitucionalização” deve-se ao caráter detalhista da Constituição, que incorporou uma infinidade de valores substanciais, princípios abstratos e normas concretas em seu programa normativo. CONSTITUIÇÃO LIBERAL-PATRIMONIALISTA7 Objetiva preponderantemente garantir os direitos individuais, preservando fortes garantias ao direito de propriedade e procurando limitar a intervenção estatal na economia. CONSTITUIÇÃO PRINCIPIOLÓGICA E JUDICIALISTA 8 Leitura da Constituição de 1988 com base nas seguintes características: 1) importância crucial dos direitos fundamentais, incluindo os sociais, sendo a Constituição de 1988 um texto denso exigente, limitando a liberdade do legislador e impondo sua implementação; 8 http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/1 0959/Resiliencia_constitucional.pdf?sequence=3&isAllowed= y 7 http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/1 0959/Resiliencia_constitucional.pdf?sequence=3&isAllowed= y 6 http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/1 0959/Resiliencia_constitucional.pdf?sequence=3&isAllowed= y 9 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 9 2) centralidade dos princípios constitucionais que se multiplicam e adquirem relevância prática e aplicabilidade imediata, desde que sejam adotados métodos de interpretação abertos, evolutivos e desvinculados da textualidade das regras, em particular a ponderação de princípios e/ou valores; 3) importância do Poder Judiciário que se torna protagonista da Constituição de 1988, em razão da ampliação e da intensificação do controle de constitucionalidade e da incumbência de implementar o projeto constitucional mediante aplicação de métodos “abertos” de interpretação. CONSTITUIÇÃO ORAL É “aquela em que o chefe supremo de um povo reclama, de viva voz, o conjunto de normas que deverão reger a vida em comunidade” (BULOS, 2014, p. 108). CONSTITUIÇÃO INSTRUMENTAL Para Uadi Lammêgo Bulos, “é aquela em que suas normas equivalem a leis processuais. Seu objetivo é definir competências, para limitar a ação dos Poderes Públicos” (BULOS, 2014, p. 108). TRANSCONSTITUCIONALISMO É fenômeno pelo qual diversas ordens jurídicas de um mesmo Estado, ou de Estados diferentes, se entrelaçam para resolver problemas constitucionais” (BULOS, 2014, p. 90). CONSTITUIÇÃO.COM (“crowdsourcing”) “É aquela cujo projeto conta a opinião maciça dos usuários da internet, que, por meio de sites de relacionamentos, externam seu pensamento a respeito dos temas a serem constitucionalizados. Foi a Islândia que, pioneiramente, no ano de 2011, fez uma ‘constituição.com’ (crowdsourcing)” (BULOS, 2014, p. 112). CLASSIFICAÇÃO DA CF/88 CF/889 ■ quanto à origem: promulgada ■ quanto à forma: escrita (instrumental) ■ quanto à extensão: analítica (ampla, extensa, larga, prolixa, longa, desenvolvida, volumosa, inchada) ■ quanto ao conteúdo: formal ■ quanto ao modo de elaboração: dogmática (sistemática) ■ quanto à alterabilidade: rígida ■ quanto à sistemática (Pinto Ferreira): reduzida (unitária) ■ quanto à dogmática (Paulino Jacques): eclética (destaque para o caráter compromissório do texto de 1988); ■ quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico — essência — Karl Loewenstein): normativa (pretende ser) ■ quanto ao sistema: principiológica ■ quanto à função: Constituição definitiva ou de duração indefinida para o futuro ■ quanto à origem de sua decretação: autônoma (“autoconstituição” ou “homoconstituição”) ■ Manoel Gonçalves Ferreira Filho: garantia e dirigente; ■ André Ramos Tavares (conteúdo ideológico das Constituições): sociais (dirigentes); ■ Raul Machado Horta: expansiva. 9 LENZA (2020), pag. 103/104 10 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 10 11 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 11 NORMAS CONSTITUCIONAIS INTRODUÇÃO – CONCEITOS INICIAIS RELEVANTES 1 VIGÊNCIA 1 VALIDADE 2 EFICÁCIA 3 APLICABILIDADE 3 EFETIVIDADE 3 CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 4 EFICÁCIA PLENA 4 EFICÁCIA CONTIDA 4 EFICÁCIA LIMITADA 5 PRINCÍPIO INSTITUTIVO OU ORGANIZATÓRIO 5 PRINCÍPIO PROGRAMÁTICO 5 PONTOS IMPORTANTES SOBRE NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO 8 DIREITO PRÉ-CONSTITUCIONAL INCONSTITUCIONAL FACE À CONSTITUIÇÃO PRETÉRITA 9 EFEITOS DA ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO 9 INTRODUÇÃO – CONCEITOS INICIAIS RELEVANTES VIGÊNCIA Conforme KELSEN, é o mesmo que EXISTÊNCIA. Qual o termo INICIAL da vigência? A partir de quando temos a conversão do projeto em lei? Como veremos no estudo do processo legislativo, temos o seguinte esquema do processo legislativo ordinário (lembrando que temos processo legislativo especial): O Art. 66, §1º da CF dispõe o seguinte: § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de QUINZE DIAS ÚTEIS, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. Como se vê, o dispositivo fala em projeto no intervalo entre a VOTAÇÃO e a SANÇÃO/VETO. Todavia, vejamos o §7º: § 7º Se a LEI não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. ATENÇÃO NORMA CONSTITUCIONAL IMPERFEITA: Temos aqui um caso de norma constitucional imperfeita (conforme ensino de PONTES DE MIRANDA), pois não contempla uma solução para um caso que poderia acontecer e que não existe nenhum outro lugar para se buscar solução. Perceba que a norma trata do intervalo entre a SANÇÃO ou rejeição do Veto e a promulgação. Assim,o termo 1 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 12 inicial da vigência da norma da lei é da SANÇÃO ou da DERRUBADA DO VETO. VALIDADE COMPATIBILIDADE com uma norma que lhe seja superior. ATENÇÃO Validade é sinônimo de LEGALIDADE e de CONSTITUCIONALIDADE, a depender de qual norma superior leva-se em consideração. Assim, se uma Lei X for compatível com a Constituição, será válida, ou seja, constitucional. Todavia, se um decreto for compatível com a lei a que deve obediência, será válido, ou seja, legal. Assim, CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE É CONTROLE DE VALIDADE!! Qual a distinção técnica entre REVOGAÇÃO e DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE? Revogação: É a supressão da VIGÊNCIA; somente ocorre revogação por meio de outra norma jurídica (de igual ou superior estatura). Declaração de Inconstitucionalidade: Atinge a norma no seu âmbito de VALIDADE. A norma continua em vigor, mas não é válida. Afeta-se a eficácia em decorrência dos efeitos práticos. REVOGAÇÃO DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDA DE VIGÊNCIA da norma VALIDADE da norma A explicação lógica - Art. 2º da CF: Não poderia o Poder Judiciário, que não tem legitimidade popular do voto, tirar a vigência de ato normativo que foi elaborado por outros poderes que possuem essa legitimidade. Isso decorre do chamado “déficit democrático do poder judiciário”. Efeito prático: É POSSÍVEL REVOGAÇÃO DE NORMA DECLARADA INCONSTITUCIONAL, visto que para que haja revogação basta que haja vigência. EFICÁCIA Aptidão da norma jurídica para produção de efeitos que lhe são próprios. “Vacatio”: intervalo de tempo durante o qual a norma tem vigência, presume-se válida (pois validade não tem prazo), mas ineficaz por enquanto. Após a vacatio, a norma continua a ter vigência, validade e passa a ter eficácia. ATENÇÃO O termo inicial de eficácia é, no mínimo, a publicação, se não houver a vacatio. Se houver vacatio, será ao final dela. Via de regra, as leis terão eficácia após decorrido o período estabelecido na própria lei promulgada, ou seja, toda lei entra em vigência com a sua publicação, salvo quando previsto período da vacatio legis.1 APLICABILIDADE A aplicabilidade é a qualidade da norma que pode ser aplicada a casos concretos (qualidade da eficácia). Trata-se de um conceito umbilicalmente ligado à SUBSUNÇÃO. Assim, é impossível afirmar ou negar aplicabilidade sem um caso concreto, pois necessária a operação da subsunção da norma ao caso concreto. Portanto, é possível termos norma com eficácia e com aplicabilidade, e norma com eficácia, mas sem aplicabilidade. EFETIVIDADE “Efetividade, em sentido amplo, significa capacidade que uma norma jurídica tem para produzir seus efeitos. A efetividade pode ser dividida em efetividade jurídica e efetividade social. A EFETIVIDADE JURÍDICA ocorre quando a norma jurídica tem nos limites objetivos todos os seus elementos: hipótese, 1 https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6968/Vigencia -da-Lei-e-contagem-do-prazo 2 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 13 disposição, sanção, podendo assim produzir efeitos desde logo no mundo dos fatos, seja quando é respeitada ou quando é violada, ensejando a aplicação de uma sanção. Já a EFETIVIDADE SOCIAL de uma norma ocorre quando a mesma é respeitada por parte da sociedade, existindo assim um reconhecimento do Direito por parte desta e um amplo cumprimento dos preceitos normativos. Luís Roberto Barroso, em breve síntese, afirma que “a efetividade significa, portanto, a realização do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social.” (Barroso, 1993, p. 79). 2 ATENÇÃO Trata-se de uma qualidade da eficácia. Não é um conceito autônomo ao ponto de estar ao lado da vigência, validade e eficácia. Em KELSEN já havia uma distinção entre eficácia jurídica (aquela que chamamos atualmente de eficácia) e eficácia social (qualidade da norma que seria EFETIVAMENTE CUMPRIDA pelo meio social). Há normas que o meio social cumpre e outras que não. Importa-se o conceito de KELSEN e o chama de “efetividade”. Assim, a eficácia é JURÍDICA enquanto a efetividade é SOCIOLÓGICA. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS No Brasil, o primeiro a classificar as normas constitucionais com base em sua eficácia e aplicabilidade foi Ruy Barbosa. Com base na doutrina americana, as normas constitucionais poderiam ser: Autoexecutáveis normas constitucionais completas, capazes de irradiar todos os seus efeitos desde a entrada em vigor da Constituição. Não-autoexecutáveis, normas indicadores de princípios, aquelas que necessitariam de 2 https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/602/r 147-01.PDF?sequence=4&isAllowed=y alguma atuação legislativa para a plena produção dos seus efeitos. José afonso da silva EFICÁCIA PLENA É aquela cuja aplicabilidade não depende da produção de norma legal. Ou seja, não depende de interposição legislativa. Desde o seu nascimento, ou seja, desde a sua entrada em vigor, produz os seus efeitos, sem que para isso seja necessária a intervenção do legislador ordinário. Será aplicada a casos concretos, a despeito da produção de norma legal e a partir da sua produção. Possui 3 atributos: a Aplicabilidade Direta: aplica-se diretamente ao caso concreto. b Aplicabilidade Integral: não aceita contenção de sua eficácia por força de norma legal. c Aplicabilidade Imediata: não aguarda nada para ser aplicada. Ou seja, aplica-se a partir de sua produção. Exemplos: Art. 1º, §único; Art. 2º EFICÁCIA CONTIDA É aquela cuja aplicabilidade não depende da produção de norma legal. Ou seja, não depende de interposição legislativa. Será aplicada a casos concretos, a despeito da produção de norma legal e a partir da sua produção. ATENÇÃO CONTENÇÃO DE EFICÁCIA: afastar a aplicação da norma constitucional de alguns casos por força de norma legislativa. Não temos aqui uma obrigação de norma a ser produzida para lhe dar aplicabilidade, mas a norma somente PODE ser produzida para afastar a norma constitucional de determinados casos. Possui 3 atributos: 3 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 14 a Aplicabilidade Direta: aplica-se diretamente ao caso concreto. b Aplicabilidade Imediata: não aguarda nada para ser aplicada. Ou seja, se aplica a partir de sua produção. c Aplicabilidade Não Integral: podem ser restringidas. Não tem aplicabilidade integral tendo em vista a contenção de eficácia. Exemplos: Art. 5º, XIII (trabalho, ofício e profissão – livres); Art. 93, IX (sigilo de justiça). ATENÇÃO A restrição das normas de eficácia contida pode acontecer de três formas: 1) por meio do legislador infraconstitucional (art. 5º, XIII e art. 95, parágrafo único, IV); 2) por outras normas constitucionais (arts. 136 a 141: vigência de estado de sítio e estado de defesa); 3) através de conceitos jurídicos indeterminados, como bons costumes, utilidade pública etc. (art. 5º, XXIV e XXV). EFICÁCIA LIMITADA Não conseguem produzir de imediato todos os seus efeitos. Será necessária uma força integrativa a ser exercida ou pelo legislador infraconstitucional ou por outro órgão a quem a norma atribua tal incumbência. Possuem, assim, APLICABILIDADE INDIRETA, MEDIATA e REDUZIDA. Subespécies: PRINCÍPIO INSTITUTIVO OU ORGANIZATÓRIO São normas por meio das quais o constituinte originário traça as linhas mestras de uma determinada instituição, delimitando sua estrutura e atribuições, as quais, contudo, só serão detalhadas por meio de lei. Essas normas podem ser impositivas ou facultativas. IMPOSITIVAS são aquelas normas que determinam que o legislador crie a mencionada norma integrativa. Ex.: art. 20, § 2º, art. 32, § 4º (“Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar.”) FACULTATIVAS ou PERMISSIVAS são normas que não impõem ao legislador o dever de editar normas integrativas,mas apenas criam a possibilidade de elas serem elaboradas. Ex.: art. 22, parágrafo único (“Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.”) PRINCÍPIO PROGRAMÁTICO São normas nas quais o constituinte não regulou diretamente as matérias nelas traçadas, limitando-se a estabelecer diretrizes (programas) a serem implementados pelos poderes instituídos, visando à realização dos fins do Estado. Disciplinam interesses econômico-sociais de que são exemplos a realização da justiça social, a valorização do trabalho, o combate ao analfabetismo etc. As normas programáticas não têm como destinatários os indivíduos, mas sim os órgãos estatais, no sentido de que eles devem concretizar os programas nelas traçados. São normas que caracterizam uma constituição como sendo dirigente. Não produzem todos os seus efeitos no momento da promulgação da Constituição. Contudo, isso não significa que tais normas sejam desprovidas de eficácia jurídica até o momento em que os programas nelas definidos sejam implementados. Embora não produzam seus plenos efeitos de imediato, elas possuem o que se chama de EFICÁCIA NEGATIVA (eficácia meio), que se desdobra em eficácia paralisante e eficácia impeditiva. EFICÁCIA PARALISANTE: é a propriedade jurídica que as normas programáticas têm de revogar as disposições legais contrárias aos seus comandos, ou seja, as normas infraconstitucionais anteriores não serão recepcionadas se com ela incompatíveis. 4 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 15 EFICÁCIA IMPEDITIVA: a norma programática tem o condão de impedir que sejam editadas normas contrárias ao seu espírito, é dizer: as normas programáticas servem de parâmetro para o controle de constitucionalidade. A norma programática serve, ainda, como diretriz interpretativa da Constituição, vez que o intérprete não pode desprezar seu comando quando da interpretação do texto constitucional. Exemplo: Art. 201 (previdência social – Regime Geral) regulado pelas leis 8.212 e 8.213. CRÍTICA: Se tivermos uma norma de eficácia limitada; Que consubstancia direito fundamental; Caso não haja interposição legislativa, negaremos exercício do direito fundamental enquanto a norma legal não é implementada. Assim, temos a titularidade do direito, mas esbarra na impossibilidade de seu exercício. OMISSÃO INCONSTITUCIONAL OU INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO Definição: Omissão inconstitucional é a inconstitucionalidade que decorre de comportamento omissivo, negativo do Estado, que não produz a norma quando a Constituição obriga a sua elaboração (dever de legislar). Pressuposto (condição material): somente há omissão inconstitucional se classificarmos a norma como de eficácia limitada, visto que a fundamentação é o DEVER DE LEGISLAR, ou seja, não é visível nas normas plenas e contidas. Requisitos (condições formais): Inércia de qualquer poder do Estado: Especialmente o legislativo, mas não apenas. Intervalo de tempo razoável: Aguarda-se o prazo razoável e, se ainda quedar-se inerte, impõe-se. Podemos falar em omissão constitucional por ação? Sim, chama-se inconstitucionalidade por omissão relativa ou parcial. Aqui, há norma legal que concede certo benefício, mas apenas a uma parte de uma classe, o que gera violação à isonomia. Existe a norma, houve ação legislativa, mas viola-se a igualdade. Qual a distinção entre inconstitucionalidade por omissão e lacuna? Lacuna é automática. Não aguarda tempo nenhum; a omissão deve aguardar intervalo de tempo, findo o qual se poderá falar em vício. Lacuna é suprida pelo intérprete (LINDB, Art. 2º); omissão inconstitucional é suprida pelo judiciário por meio Mandado de Injunção ou Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO). PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL (EFEITO CLIQUET)3 As previsões constitucionais que cuidam de direitos fundamentais – ou ao menos parte delas – precisam de regulamentação infraconstitucional para serem concretizadas. Isto é: os efeitos que pretendem produzir são especificados por meio da legislação ordinária. Além disso, dois dos efeitos gerais pretendidos por tais comandos constitucionais são: (i) a aplicação imediata e/ou a efetividade dos direitos fundamentais; e (ii) a progressiva ampliação de tais direitos fundamentais. Assim, o que a eficácia vedativa do retrocesso propõe se possa exigir do Judiciário é a invalidade da revogação dos enunciados que, regulamentando o comando constitucional, ensejaram a aplicação e a fruição dos direitos fundamentais ou ainda os ampliaram, toda vez que tal revogação não seja acompanhada de uma política substitutiva. Isto é: a invalidade, por inconstitucionalidade, ocorrerá quando se revogam as disposições infraconstitucionais descritas deixando um vazio em seu lugar. A ideia é que a revogação de um 3 https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/135/edicao-1 /eficacia-das-normas-constitucionais 5 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 16 direito, já incorporado como efeito próprio da norma constitucional, a esvazia e viola, tratando-se, portanto, de uma ação inconstitucional ATENÇÃO Em condições de recrudescimento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), não é constitucionalmente aceitável qualquer retrocesso nas políticas públicas de saúde, como a que resulta em decréscimo no número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) habilitados (custeados) pela União. STF. Plenário. ACO 3473 MC-Ref/DF, ACO 3474 TP-Ref/SP, ACO 3475 TP-Ref/DF, ACO 3478 MC-Ref/PI e ACO 3483 TP-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 7/4/2021 (Info 1012).4 Classificação de Maria Helena Diniz Classifica as normas constitucionais levando em consideração a produção de efeitos concretos dessas normas e a sua intangibilidade. NORMAS CONSTITUCIONAIS COM EFICÁCIA ABSOLUTA (supereficazes): matérias protegidas pelas cláusulas pétreas (art. 60, § 4º), uma vez que não poderão ser contrariadas nem mesmo por emenda à constituição. NORMAS COM EFICÁCIA PLENA: são aquelas plenamente eficazes desde a promulgação da Constituição. Diferenciam-se das normas com eficácia absoluta pelo fato de poderem ser alteradas por meio de emenda à constituição NORMAS COM EFICÁCIA RELATIVA RESTRINGÍVEL: correspondem às normas de eficácia contida, na classificação de José Afonso da Silva. Caracterizam-se por serem plenamente executáveis desde a sua promulgação, mas guardarem a possibilidade de terem seu âmbito de aplicabilidade reduzido. Michel Temer prefere chamá-las de normas de eficácia redutível. 4 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2021/04/inf o-1012-stf.pdf NORMAS COM EFICÁCIA RELATIVA COMPLEMENTÁVEL OU DEPENDENTE DE COMPLEMENTAÇÃO LEGISLATIVA: não têm aptidão para produzir todos os seus efeitos desde o momento de sua promulgação, necessitando da edição de normas integrativas. Todavia, possuem a chamada eficácia negativa. Corresponde às normas de eficácia limitada de José Afonso da Silva. PONTOS IMPORTANTES SOBRE NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO RECEPÇÃO: ocorre quando uma nova constituição é aprovada e aceita ou recebe, em seus dispositivos, a normalização infraconstitucional, ou até mesmo a constitucional, anterior. A nova ordem constitucional sempre recebe a ordem normativa infraconstitucional que lhe é compatível. O que ocorre quando uma Constituição é promulgada e, nessa data, existe uma lei em período de “vacatio legis”? A doutrina considera que a lei vacante não será recepcionada pela nova ordem constitucional. Isso porque a recepção somente se aplica às normas que estejam em vigor no momento da promulgação da Constituição. Como a lei ainda não está em vigor, por estar em seu período de “vacatio legis”, ela não será recepcionada.5 Repristinação: É um fenômeno legislativo no qual há a entrada novamente em vigor de uma norma efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. Deve ser expressa dada a dicção do artigo 2º, § 3º da LICC. EFEITO REPRISTINATÓRIO/ REPRISTINAÇÃO OBLÍQUA OU INDIRETA: É a reentrada em vigor de norma aparentementerevogada, ocorrendo quando uma norma que a revogou é declarada inconstitucional. Segundo o STF: “A declaração de inconstitucionalidade "in abstracto", considerado o efeito repristinatório que lhe é inerente (RTJ 120/64 - RTJ 194/504-505 - ADI 5 https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/617353611/aplic acao-das-normas-constitucionais-no-tempo 6 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 17 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 2.867/ES, v.g.), importa em restauração das normas estatais revogadas pelo diploma objeto do processo de controle normativo abstrato. É que a lei declarada inconstitucional, por incidir em absoluta desvalia jurídica (RTJ 146/461-462), não pode gerar quaisquer efeitos no plano do direito, nem mesmo o de provocar a própria revogação dos diplomas normativos a ela anteriores. Lei inconstitucional, porque inválida (RTJ 102/671), sequer possui eficácia derrogatória. A decisão do Supremo Tribunal Federal que declara, em sede de fiscalização abstrata, a inconstitucionalidade de determinado diploma normativo tem o condão de provocar a repristinação dos atos estatais anteriores que foram revogados pela lei proclamada inconstitucional. (...) STF. Plenário. ADI 3148”.6 EFEITO REPRISTINATÓRIO INDESEJADO: trata-se da impossibilidade de declaração de inconstitucionalidade da norma impugnada em controle abstrato quando a norma por ela revogada padece do mesmo vício de inconstitucionalidade e não foi objeto da ação direta. Ou seja, temos uma Lei “A” que foi revogada por uma Lei “B” inconstitucional. Ao reconhecer essa inconstitucionalidade da Lei “B”, temos, em regra, o efeito repristinatório para voltar a aplicar a Lei “A”, já que a Lei “B” foi declarada inconstitucional. Ocorre que a Lei " A" também padece do mesmo vício de inconstitucionalidade. Logo, nesse caro teríamos um efeito repristinatório indesejado, porque não se concebe o retorno em vigor da Lei "A", por também ser inconstitucional.7 Segundo Marcelo Novelino, “quando a lei revogada também for eivada do vício de inconstitucionalidade, faz-se necessária a formulação de pedidos sucessivos de declaração de inconstitucionalidade, tanto do diploma ab-rogatório quanto das normas por ele revogadas. Caso a norma anterior não seja impugnada, 7 https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/378 97/o-efeito-repristinatorio-indesejado-e-a-evolucao-da-juri sprudencia-do-supremo-tribunal-federal 6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/ detalhes/2e6d9c6052e99fcdfa61d9b9da273ca2> a ADI não será conhecida." (Manual de Direito Constitucional. 9ª ed., São Paulo: Método, 2014, p. 476).8 ATENÇÃO O STF, na ADI 3239, decidiu que “Não obsta a cognição da ação direta a falta de impugnação de ato jurídico revogado pela norma tida como inconstitucional, supostamente padecente do mesmo vício, que se teria por repristinada. Cabe à Corte, ao delimitar a eficácia da sua decisão, se o caso, excluir dos efeitos da decisão declaratória eventual efeito repristinatório quando constatada incompatibilidade com a ordem constitucional”. Portanto, mesmo que o autor da ADI não impugne também o ato normativo anterior revogado, o STF poderá, na decisão, afirmar que não haverá efeito repristinatório.9 DIREITO PRÉ-CONSTITUCIONAL INCONSTITUCIONAL FACE À CONSTITUIÇÃO PRETÉRITA O exame de constitucionalidade de uma lei somente será possível face à Constituição sob a égide da qual ela foi editada. Assim, uma lei editada sob a égide da Constituição de 1967 não poderá ter sua constitucionalidade examinada frente à Constituição de 1988; a constitucionalidade dessa lei somente poderá ser aferida frente à Constituição de 1967, que lhe é contemporânea. Nessa ótica, uma lei editada em 1980 poderá ser considerada inconstitucional perante a Constituição de 1967, mas materialmente compatível com a Constituição de 1988. A Constituição de 1988 poderá, então, recepcioná-la? Não. A lei de 1980 já nasceu inválida porque incompatível com a Constituição da época. Assim, não poderá ser recepcionada pela nova Constituição; com 9 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/ detalhes/2e6d9c6052e99fcdfa61d9b9da273ca2 8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/ detalhes/2e6d9c6052e99fcdfa61d9b9da273ca2>. 7 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 18 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 efeito, um dos requisitos essenciais para que uma norma seja recepcionada é que ela seja válida perante a Constituição de sua época (Constituição pretérita).10 EFEITOS DA ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO11 1. A Constituição anterior é integralmente revogada; DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO: é a "queda de hierarquia" da norma constitucional que passa de formalmente constitucional para apenas materialmente constitucional, eis que veiculada por ato normativo infraconstitucional. O que era Constituição passa a fazer parte de leis ordinárias, por exemplo. As normas constantes da Constituição anterior, caso sejam compatíveis com a nova Constituição, seriam por ela recepcionadas, mas na qualidade de normas infraconstitucionais. Como o Poder Constituinte Originário é ilimitado, nada impede que no texto da nova Constituição seja prevista a desconstitucionalização, desde que haja previsão expressa nesse sentido. É importante ressaltar que a Constituição de 1988 não adotou a desconstitucionalização, nem de forma genérica, nem quanto a qualquer dispositivo específico da Constituição passada.12 2. As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição pretérita que forem materialmente compatíveis com a nova Constituição são por ela recepcionadas. 3. As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição pretérita que forem 12 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/102763/o-que-e-desco nstitucionalizacao-ariane-fucci-wady 11 https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/617353611/aplic acao-das-normas-constitucionais-no-tempo 10 https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/617353611/aplic acao-das-normas-constitucionais-no-tempo materialmente incompatíveis com a nova Constituição são por ela revogadas. 8 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 19 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL1 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 1 MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS x REFORMAS CONSTITUCIONAIS 1 MECANISMOS DE MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL: 2 DISTINÇÃO ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS 2 DERROTABILIDADE (defeasibility) 4 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO 6 MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO (Ernest Forsthoff) 6 MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO OU MÉTODO DA TÓPICA (Theodor Viehweg) 6 MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR (Konrad Hesse) 7 MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL (Rudolf Smend) 7 MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE (Friedrich Müller) OU CONCRETISTA (Paulo Bonavides) 7 MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL (Peter Häberle) 7 MÉTODO CONCRETISTA DA CONSTITUIÇÃO ABERTA (Peter Häberle) 7 LEITURA MORAL DA CONSTITUIÇÃO (Ronald Dworkin) 7 PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 7 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO 7 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS E DOS ATOS DO PODER PÚBLICO 8 PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 8 PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO 9 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADEOU RAZOABILIDADE 10 PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE OU PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA OU DA INTERPRETAÇÃO EFETIVA 10 PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA 10 PRINCÍPIO DA JUSTEZA OU DA CONFORMIDADE (EXATIDÃO OU CORREÇÃO) FUNCIONAL 10 1 Lenza, Pedro Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020. pags. 125-150 PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO 11 LIMITES DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 11 DECISÕES INTERPRETATIVAS EM SENTIDO ESTRITO 11 DECISÕES MANIPULADORAS (MANIPULATIVAS OU NORMATIVAS) 11 PAPEL DO JUIZ NA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 12 RONALD DWORKIN E A TEORIA DA INTEGRIDADE 12 A METÁFORA DO ROMANCE NA CADEIA 13 A CRÍTICA DE JEREMY WALDRON AO JUDICIAL REVIEW 13 VERDADE E CONSENSO - LENIO STRECK 13 TEORIA DA DECISÃO JUDICIAL 14 MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS x REFORMAS CONSTITUCIONAIS Segundo Lenza, as Constituições devem ser interpretadas, a fim de se buscar o real significado dos termos constitucionais e, a partir disso, verificar a validade das normas do ordenamento jurídico (Kelsen). A interpretação deverá levar em consideração todo o sistema. Em caso de antinomia de normas, deve-se buscar a solução do aparente conflito por meio de uma interpretação sistemática, orientada pelos princípios constitucionais. Colocadas essas premissas, o sentido da Constituição interpretada pode mostrar-se inadequado. Nessas circunstâncias, dentro dos limites colocados pelo Constituinte originário, poderão ser observadas alterações tanto do ponto de vista formal (reforma constitucional) como do informal (mutações constitucionais). REFORMA CONSTITUCIONAL: modificação do texto constitucional, mediante mecanismos definidos pelo poder constituinte originário (emendas), alterando, suprimindo ou acrescentando artigos ao texto original. 1 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 20 Mutações constitucionais: não são alterações materialmente perceptíveis, mas sim alterações no significado e sentido interpretativo de um texto constitucional. Exteriorizam o caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas, por meio de processos informais. Informais, segundo Lenza, no sentido de não serem previstos dentre aquelas mudanças formalmente estabelecidas no texto constitucional. Tema relacionado com o Poder Constituinte Difuso2: é o que realiza o papel de criação e transformação das normas constitucionais sem modificação formal do texto delineado na Constituição Federal. MECANISMOS DE MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL3: INTERPRETAÇÃO (JUDICIAL E ADMINISTRATIVA): por meio de interpretação, judicial ou administrativa, poderá haver a superação de um entendimento até então consolidado, assumindo o exegeta um relevante papel de criação do direito. Nesse sentido, mormente no tocante à interpretação judicial, assume o Poder Judiciário a nobre função de adequar o Direito às novas necessidades sociais resultantes das alterações dos paradigmas que formavam o arcabouço fático-realístico do organismo social. ATUAÇÃO DO LEGISLADOR: verifica-se a mutação constitucional por atuação do legislador quando, por ato normativo primário, procura-se alterar o sentido já dado a alguma norma constitucional. Logo, nada impede que o Poder legislativo edite um ato normativo primário contrário a um entendimento, por exemplo, do Supremo 3 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional, 2ª Edição, p. 126-127 e http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/46355/mutacao -constitucional#_ftnref16 2 BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito constitucional. 4. ed.Salvador: JusPodivm, 2014. t. I. (Coleção Sinopses para Concurso) Tribunal Federal – STF, em uma verdadeira reação legislativa, com Ativismo Congressual, já que o legislativo não fica vinculado, em sua função típica de legislar, aos efeitos das decisões prolatadas pelo STF, ainda que decorrentes de controle abstrato de constitucionalidade POR VIA DE COSTUMES CONSTITUCIONAIS: o autor aduz não ser pacífica a existência de costumes em países de Constituição escrita e rígida. Porém, admite que certas práticas reiteradas ensejem mudanças no sentido interpretativo da Constituição. Exemplos: possibilidade de o Chefe do Poder Executivo negar a aplicação de lei que de modo fundamentado considere inconstitucional; voto de liderança no Parlamento, sem a submissão da matéria ao Plenário; evolução da interpretação em relação aos poderes da CPI, passando o STF a admitir a quebra de sigilo bancário e fiscal. Naturalmente, a mutação e a nova interpretação não poderão afrontar os princípios estruturantes da Constituição, sob pena de serem inconstitucionais. Nesse contexto, como bem esclarece Barroso, os princípios constitucionais fundamentais, os quais contêm as decisões políticas estruturais do Estado (ex: forma de Estado, forma de governo, etc.), compõem o núcleo imodificável do sistema e servem como limite às mutações constitucionais, pois sua superação exige um novo momento constituinte originário. DISTINÇÃO ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS Ambos são espécies de normas e, como referenciais para o intérprete, não guardam entre si hierarquia, especialmente diante da ideia de unidade da Constituição. Segundo Humberto Ávila: a interpretação e a aplicação de princípios e regras se dá com base nos postulados normativos inespecíficos, quais sejam, a ponderação (atribuindo-se pesos), a 2 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 21 concordância prática e a proibição de excesso (garantindo a manutenção de um mínimo de eficácia dos direitos fundamentais), e específicos, destacando-se o postulado da igualdade, o da razoabilidade e o da proporcionalidade. Segundo Canotilho: a) Grau de abstração: os princípios são normas com um grau de abstração relativamente elevado, enquanto as regras possuem uma abstração relativamente reduzida. b) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador, do juiz), enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta. c) Caráter de fundamentalidade no sistema das fontes de direito: os princípios são normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex: princípios constitucionais) ou à sua importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex: princípio do Estado de Direito). d) “Proximidade" da ideia de direito: os princípios são standards juridicamente vinculantes radicados nas exigências de “justiça” (DWORKIN) ou na “ideia de direito” (LARENZ), enquanto as regras podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional. e) Natureza normogenética: os princípios são fundamentos de regras, isto é, são normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética fundamentante. Segundo Barroso: identifica uma distinção qualitativa ou estrutural entre regras e princípios. Para ele, a Constituição passa a ser encarada como um sistema aberto de princípios e regras, permeável a valores jurídicos suprapositivos, no qual as ideias de justiça e de realização dos direitos fundamentais desempenham um papel central. Segundo Dworkin a) Regras: relatos descritivos de condutas a partir dos quais, mediante subsunção, havendo enquadramento do fato à previsão abstrata, chega-se à conclusão. Diante do conflito entre regras, apenas uma prevalece dentro da ideia do tudo ou nada (all or nothing). A regra somente deixará de incidir sobre a hipótese de fato que contempla se for inválida, se houver outra mais específica ou se não estiver em vigor (critério hierárquico, da especialidade ou cronológico). b) Princípios: a previsão dos relatos se dá de maneira mais abstrata, sem se determinar a conduta correta, já que cada caso concreto deverá ser analisado para que o intérprete dê o exato peso entre os eventuais princípios em choque (colisão). Assim, a aplicação dos princípios não seráno esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representadas por outras normas ou por situações de fato. Destaca-se, assim, a técnica da ponderação e do balanceamento, sendo, portanto, os princípios valorativos ou finalísticos. Segundo Alexy: caracteriza os princípios como mandamentos ou mandados de otimização. a) Regras: são normas que são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas. Se uma regra vale, então, deve se fazer exatamente aquilo que ela exige, nem mais, nem menos. Regras contêm, portanto, determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível. Isso significa que a distinção entre regras e princípios é uma distinção qualitativa, e não uma distinção de grau. Toda norma é ou uma regra ou um princípio. 3 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 22 b) Princípios: normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são, por conseguinte, mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras colidentes. REGRAS4 PRINCÍPIOS Dimensão da validade, especificidade e vigência. Dimensão da importância, peso e valor. Conflito entre regras: uma das regras em conflito ou será afastada pelo princípio da especialidade, ou será declarada inválida - cláusula de exceção, que também pode ser entendida como "declaração parcial de invalidade". Colisão entre princípios: não haverá declaração de invalidade de qualquer dos princípios em colisão. Diante das condições do caso concreto, um princípio prevalecerá sobre o outro. Tudo ou nada. Ponderação, balanceamento, sopesamento entre princípios colidentes. Mandamentos ou mandados de definição. Mandamentos ou mandados de otimização. DERROTABILIDADE (defeasibility)5 A derrotabilidade (“defeseability”) consiste na superação da lei, de forma justificada e casuística, diante de um caso ímpar que reclama uma análise que encontra resposta fora do texto legal para se buscar o valor da justiça. 5 LENZA (2020), pág. 130. 4 LENZA (2020), pág. 129. Humberto Ávila observa que as regras não devem ser obedecidas somente por serem regras e serem editadas por uma autoridade. Elas devem ser obedecidas, de um lado, porque sua obediência é moralmente boa e, de outro, porque produzem efeitos relativos a valores prestigiados pelo próprio ordenamento jurídico, como segurança, paz e igualdade. Ao contrário do que a atual exaltação dos princípios poderia fazer pensar, as regras não são normas de segunda categoria. Bem ao contrário, elas desempenham uma função importantíssima de solução previsível, eficiente e geralmente equânime de solução de conflitos sociais. Apesar dessa constatação, muitos autores começam a reconhecer a derrotabilidade (defeasibility) das regras, superando o modelo "tudo ou nada" de Dworkin. A ideia de derrotabilidade (Ávila se refere a ela como superabilidade), historicamente, vem sendo atribuída a Hart, na seguinte passagem: "quando o estudante aprende que na lei inglesa existem condições positivas exigidas para a existência de um contrato válido, ele ainda tem que aprender o que pode derrotar a reivindicação de que há um contrato válido, mesmo quando todas essas condições são satisfeitas", daí por que "o estudante tem ainda que aprender o que pode seguir as palavras 'a menos que', as quais devem acompanhar a indicação dessas condições". Ávila6, reconhecendo que as regras não são superáveis com facilidade, propõe algumas condições necessárias, destacando-se: a) Requisitos materiais (ou de conteúdo): a superação da regra pelo caso individual não pode prejudicar a concretização dos valores inerentes à regra. Explica o autor que há casos em que a decisão individualizada, ainda que incompatível com a hipótese da regra geral, não prejudica nem a promoção da finalidade subjacente à regra, nem a segurança jurídica que suporta as regras, em virtude da pouca probabilidade de reaparecimento frequente de situação similar, por dificuldade de ocorrência ou comprovação. b) Requisitos procedimentais (ou de forma): a superação de uma regra deve ter: - Justificativa condizente: deve haver a demonstração de incompatibilidade entre a 6 H. Ávila, Teoria dos princípios, p. 123-181. 4 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 23 hipótese da regra e sua finalidade subjacente, e, ainda, a demonstração de que o afastamento da regra não provocará expressiva insegurança jurídica. - Fundamentação condizente: a fundamentação deve ser escrita, juridicamente fundamentada e logicamente estruturada. - Comprovação condizente: não sendo necessárias, notórias nem presumidas, a ausência do aumento excessivo das controvérsias, da incerteza e da arbitrariedade e a inexistência de problemas de coordenação, altos custos de deliberação e graves problemas de conhecimento devem ser comprovadas por meios de provas adequados, como documentos, perícias ou estatísticas. A mera alegação não pode ser suficiente para superar uma regra. O STF, no ARE 954858, analisou a derrotabilidade de regra imunizante de jurisdição em relação a atos de império praticados por Estado soberano, por conta de graves delitos ocorridos em confronto à proteção internacional da pessoa natural , nos termos do art. 4º, II e V, do Texto Constitucional: 1. Controvérsia inédita no âmbito desta Suprema Corte, estando em questão a derrotabilidade de regra imunizante de jurisdição em relação a atos de império praticados por Estado soberano, por conta de graves delitos ocorridos em confronto à proteção internacional da pessoa natural , nos termos do art. 4º, II e V, do Texto Constitucional. 2. A imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro no direito brasileiro é regida pelo direito costumeiro. A jurisprudência do STF reconhece a divisão em atos de gestão e atos de império, sendo os primeiros passíveis de cognoscibilidade pelo Poder Judiciário e, mantida, sempre, a imunidade executória, à luz da Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas (Dec. 56.435/1965). Precedentes. 3. O artigo 6, “b”, do Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, reconhece como “crimes de guerra” as violações das leis e costumes de guerra, entre as quais, o assassinato de civis, inclusive aqueles em alto-mar. Violação ao direito humano à vida, incluído no artigo 6, do Pacto sobre Direitos Civis e Políticos. Assim, os atos praticados em períodos de guerra contra civis em território nacional, ainda que sejam atos de império, são ilícitos e ilegítimos. 4. O caráter absoluto da regra de imunidade da jurisdição estatal é questão persistente na ordem do dia do direito internacional, havendo notícias de diplomas no direito comparado e de cortes nacionais que afastaram ou mitigaram a imunidade em casos de atos militares ilícitos. 5. A Corte Internacional de Justiça, por sua vez, no julgamento do caso das imunidades jurisdicionais do Estado (Alemanha Vs. Itália), manteve a doutrina clássica, reafirmando sua natureza absoluta quando se trata de atos jure imperii. Decisão, no 5 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 24 entanto, sem eficácia erga omnes e vinculante, conforme dispõe o artigo 59, do Estatuto da própria Corte, e distinta por assentar-se na reparação global. 6. Nos casos em que há violação à direitos humanos, ao negar às vítimas e seus familiares a possibilidade de responsabilização do agressor, a imunidade estatal obsta o acesso à justiça, direito com guarida no art. 5º, XXXV, da CRFB; nos arts. 8 e 10, da Declaração Universal; e no art. 1, do Pacto sobre Direitos Civis e Políticos. 7. Diante da prescrição constitucional que confere prevalência aos direitos humanos como princípio que rege o Estado brasileiro nas suas relações internacionais (art. 4º, II), devem prevalecer os direitos humanos - à vida, à verdade e ao acessoà justiça -, afastada a imunidade de jurisdição no caso. 8. Possibilidade de relativização da imunidade de jurisdição estatal em caso de atos ilícitos praticados no território do foro em violação à direitos humanos. 9. Fixação de tese jurídica ao Tema 944 da sistemática da repercussão geral: “Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos humanos não gozam de imunidade de jurisdição.” 10. Recurso extraordinário com agravo a que se dá provimento. (ARE 954858, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 23/08/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-191 DIVULG 23-09-2021 PUBLIC 24-09-2021) MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO (Ernest Forsthoff) A Constituição deve ser encarada como uma lei e, assim, todos os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser utilizados na tarefa interpretativa. Utiliza critérios de Savigny. O papel do intérprete resume-se a descobrir o verdadeiro significado da norma, o seu sentido e, assim, atribui-se grande importância ao texto da norma. Crítica: a utilização isolada do método hermenêutico clássico revela-se insuficiente para uma interpretação adequada, sobretudo diante de casos difíceis (hard cases). MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO OU MÉTODO DA TÓPICA (Theodor Viehweg) Trata-se de uma teoria de argumentação jurídica em torno do problema. Parte-se de um problema concreto para a norma, atribuindo-se à interpretação um caráter prático na busca da solução dos problemas concretizados. A Constituição é, assim, um sistema aberto de regras e princípios. Crítica: ausência de uma investigação jurisprudencial séria e profunda; possibilidade de conduzir a um casuísmo ilimitado e, por consequência, a uma insegurança interpretativa, tendo em vista que os métodos clássicos de interpretação, assim como a norma e o sistema, são tratados como simples topoi; e o fato de que a interpretação deve partir da norma para a solução do problema, e não do problema para a busca de uma norma que justifique o resultado desejado pelo intérprete. 6 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 25 MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR (Konrad Hesse) Parte da Constituição para o problema. Pressupostos interpretativos: a) subjetivos: o intérprete vale-se de suas pré-compreensões sobre o tema para obter o sentido da norma. b) objetivos: o intérprete atua como mediador entre a norma e a situação concreta, tendo como "pano de fundo" a realidade social. c) Círculo hermenêutico: é o "movimento de ir e vir" do subjetivo para o objetivo, até que o intérprete chegue a uma compreensão da norma. Crítica: o fato de se partir das pré-compreensões do intérprete pode distorcer não somente a realidade, como também o próprio sentido da norma. MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL (Rudolf Smend) Não utiliza-se apenas valores consagrados na Constituição, mas também valores extra-constitucionais, como a realidade social e cultura do povo. A Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova constantemente, no compasso das modificações da vida em sociedade. Crítica: método desenvolvido em termos muito vagos, sem um fundamento filosófico-jurídico claro, além da indeterminação e mutabilidade dos possíveis resultados obtidos. MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE (Friedrich Müller) OU CONCRETISTA (Paulo Bonavides) Inexistência de identidade entre a norma jurídica e o texto normativo. O teor literal da norma (elemento literal da doutrina clássica), que será considerado pelo intérprete, deve ser analisado à luz da concretização da norma em sua realidade social, a qual estruturará aquela em sua aplicação. MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL (Peter Häberle) A interpretação dos institutos se implementa mediante comparação nos vários ordenamentos. MÉTODO CONCRETISTA DA CONSTITUIÇÃO ABERTA (Peter Häberle) A Constituição deve ser interpretada por todos e em quaisquer espaços (abertura interpretativa), e não apenas pelos juristas no bojo de procedimentos formais. LEITURA MORAL DA CONSTITUIÇÃO (Ronald Dworkin) A leitura moral da Constituição elucida que a interpretação jurídica deve valer-se de uma teoria política, sem que isso signifique uma corrupção da interpretação. Os princípios e valores dos julgadores tendem a desvelar das normas jurídicas. PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO Toda interpretação constitucional se assenta no pressuposto da superioridade jurídica da Constituição sobre os demais atos normativos no âmbito do Estado. Assim, em razão da supremacia constitucional, nenhum ato jurídico ou manifestação de vontade pode subsistir validamente se for incompatível com a Lei Fundamental. Nesse contexto, em razão da superlegalidade formal (Constituição como fonte primária da produção normativa, identificando competências e procedimentos para a elaboração dos atos normativos inferiores) e material da Constituição (subordina o conteúdo de toda a atividade normativa estatal à conformidade com os princípios e regras da Constituição), surge o controle de constitucionalidade (judicial review), que nada mais é do que uma técnica de atuação da supremacia da Constituição. 7 Regys Damião Rezende Medeiros - 09977895651 26 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS E DOS ATOS DO PODER PÚBLICO - Não sendo evidente a inconstitucionalidade, havendo dúvida ou a possibilidade de razoavelmente se considerar a norma como válida, deve o órgão competente abster-se da declaração de inconstitucionalidade. - Havendo alguma interpretação possível que permita afirmar-se a compatibilidade da norma com a Constituição, em meio a outras que carreavam para ela um juízo de invalidade, deve o intérprete optar pela interpretação legitimadora, mantendo o preceito em vigor. O princípio da presunção de constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público (presunção juris tantum) é uma decorrência do princípio geral da separação dos Poderes e funciona como fator de autolimitação da atividade do Judiciário que, em reverência à atuação dos demais Poderes, somente deve invalidar os atos diante de casos de inconstitucionalidade flagrante e incontestável. No caso de superação legislativa da jurisprudência (reação legislativa), como fica a aplicação do princípio da presunção de constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público?7 Segundo o STF (ADI 5.105, Info 801), a aplicação do princípio irá variar de acordo com a espécie de norma utilizada pelo Poder Legislativo quando da reação legislativa: Reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional: a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, CF. Conclusão: aplica-se normalmente o princípio da presunção de constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. 7 https://www.dizerodireito.com.br/2015/10/superacao-legislativa- da-jurisprudencia.html Reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária: a lei que frontalmente colidir com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. A novel legislação que frontalmente colida com a jurisprudência (leis in your face) se submete a um controle de constitucionalidade mais rigoroso. Para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa. Conclusão: não se aplica o princípio da presunção de constitucionalidade das leis e dos atos PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO Diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem mais de uma interpretação), deve-se preferir a exegese que mais se aproxime da Constituição (ainda que não seja a que mais obviamente decorra de seu texto)
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