Buscar

Direito das Sucessões

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direito das Sucessões
Prof. Gilberto Fachetti Silvestre
Descrição
Abordagem conceitual e prática dos institutos fundamentais do Direito
de Sucessão e seus impactos patrimoniais mais importantes nas
relações familiares no Brasil.
Propósito
Essa é uma das principais matérias das quais resultam demandas
discutidas em ações judiciais, sendo um assunto de grande viés prático
e operabilidade para o exercício das profissões jurídicas que você irá
exercer no futuro.
Preparação
Tenha o Código Civil atualizado em mãos para compreender como é a
disciplina jurídica da matéria.
Objetivos
Módulo 1
Teoria Geral do Direito Sucessório
Reconhecer os conceitos básicos da sucessão hereditária.
Módulo 2
Sucessão legítima
Analisar as principais formas de sucessão.
Módulo 3
Sucessão testamentária
Identificar os elementos essenciais de um testamento.
A aquisição da propriedade está na base do Direito Sucessório
sobre a herança e tem importância nas entidades familiares, célula
da sociedade.
Daí a importância de compreender em detalhes como se dá a
constituição do direito de herança e quais suas características, pois
as consequências sociais e jurídicas resultantes dessas situações
servem de campo fértil para o seu desenvolvimento profissional.
O regime jurídico da sucessão possui uma consequência prática e
alguns conceitos próprios, que permitem compreender como
funcionam as formas de aquisição do direito de herança e como
problemas deles decorrentes devem ser resolvidos.
Com o objetivo de colaborar com o futuro exercício da profissão,
pretendemos apresentar conceitos e demonstrar como eles se
Introdução
1 - Teoria Geral do Direito Sucessório
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos básicos
da sucessão hereditária.
Sobre a herança: de�nição e
efeitos
De�nição de Direito de Sucessão e seu conceito
fundamental: a herança
Como apontamento inicial é importante entendermos que Direito de
Sucessão é diferente de sucessão. Entenda:
Sucessão
Sucessão é situação
jurídica na qual os bens
de alguém que faleceu
(o chamado de cujus ou
Direito de Sucessão
Direito Sucessório é o
conjunto de normas
jurídicas que regem a
sucessão,
aplicam para a solução de problemas que resultam dos danos
decorrentes das relações hereditárias.
de cuius ou “autor da
herança”) são
transmitidos para
outras pessoas, os
chamados herdeiros ou
legatários. Trata-se da
sucessão ou
transmissão causa
mortis (por causa da
morte).
estabelecendo direitos
e deveres para a
transmissão e a divisão
da herança. A herança é
o objeto da sucessão. É
o conjunto dos bens
deixados pelo de cujus e
ela compreende os
ativos e os passivos do
morto.
Juridicamente falando, a sucessão causa mortis é um modo de
transmissão e aquisição da propriedade privada, pelo qual os herdeiros
(legítimos ou testamentários) tornam-se proprietários dos bens
deixados pelo autor da herança (de cujus), após saldadas as dívidas por
ele deixadas.
Herança
Veja a seguir o que é a herança, seus efeitos e a possibilidade de sua
aceitação ou renúncia.
Efeitos da herança
Quanto aos efeitos, a sucessão pode ser a título universal ou a título
singular. Veja:
Neste caso, o(s) sucessor(es) – chamados de “autor(es) da
herança – adquirem a propriedade sobre todo conjunto de bens
(herança) deixado pelo de cujus. Todos os herdeiros se tornam


Título Universal 
proprietários de toda a herança, constituindo um condomínio
(propriedade comum, donos do todo). A herança constitui, assim,
uma universalidade: todos os herdeiros têm direito sobre a toda
a herança.
Havendo mais de um herdeiro, cada um deles se torna
proprietário de uma proporção sobre a universalidade. Por
exemplo: o de cujus deixa três filhos; logo, cada um dos filhos
terá direito a 33,33% sobre o todo.
Alguém, identificado pelo falecido quando este estava em vida,
adquire um bem individualizado e especificado pelo de cujus.
O beneficiário não tem direito a uma quota sobre toda a herança
deixada. Um bem específico é retirado da universalidade para ser
entregue ao beneficiário. O restante dos bens constituirá a
universalidade da herança, para ser dividido entre os herdeiros
universais.
O beneficiário é chamado de “legatário” e a destinação e
especificação do bem é feita em um testamento ou em um
legado.
Assim, tem-se:
Sucessão a título
universal
O beneficiário é o
herdeiro, que tem direito
a uma quota sobre toda
a herança.
Sucessão a título
singular
O beneficiário é o
legatário, que tem
direito a um bem
especificado da
herança.
Com isso, o(s) herdeiro(s) se torna(m) também responsáveis pelas
dívidas do de cujus. Terão direito sobre o ativo e deveres sob o passivo.
Mas nenhum herdeiro é obrigado a pagar uma dívida do morto com seu
patrimônio próprio; o pagamento das dívidas é feito com os bens da
herança, de modo que o que restar após o pagamento do passivo é que
será dividido entre os herdeiros. Observe:
Título singular ou particular 

Art. 1.997 caput - A
herança responde pelo
pagamento das dívidas
do falecido; mas, feita a
partilha, só respondem
os herdeiros, cada qual
em proporção da parte
que na herança lhe
coube.
(Código Civil)
Em vida, a pessoa pode confeccionar um testamento ou um legado.
Porém, tais instrumentos, que expressam uma última vontade, somente
produzem efeitos após a morte do instituidor (futuro de cujus). Não
existe “herança de pessoa viva”, ou seja, por exemplo, um filho não pode
antecipar seu direito de herança, nem pode ceder seu direito a terceiro
com o pai ainda vivo. É o chamado pacta corvina, que é proibido pelo art.
426 do Código Civil: “Não pode ser objeto de contrato a herança de
pessoa viva”. Caso exista tal negócio de cessão de direito hereditário de
pessoa viva, o ato será nulo.
Aceitação, renúncia e cessão
A herança é passível de aceitação, renúncia e cessão.
No caso de aceitação, também conhecida como “adição da herança”, há
a concordância do herdeiro em receber os bens do de cujus por
sucessão legítima ou testamentária.
Não se exige uma manifestação expressa do herdeiro de que deseja
aderir à herança; basta participar do inventário ou receber algum bem da
massa hereditária para administrar. O herdeiro tem 10 anos para
consentir expressamente em receber bens da herança.
Com a aceitação, a aquisição do direito hereditário ocorrida na saisinèe
se consolida. A aceitação retroage à data da abertura da sucessão.
Existem três tipos de aceitação, conforme veremos a seguir:
Declaração expressa, feita por escrito, em que o herdeiro
manifesta sua intenção de ser herdeiro.
Decorre da prática de atos típicos de herdeiro, que demonstrem
inequivocamente que o herdeiro deseja ser herdeiro e adquirir os
bens, como participar do inventário e assumir administração de
bens do espólio.
Hipótese do art. 1.807, pela qual o interessado em que o herdeiro
declare se aceita ou não a herança, poderá, em até 20 dias após
aberta a sucessão, requerer ao juiz que, em até 30 dias, o
herdeiro se pronuncie, sob pena de se haver a herança por aceita,
ou seja, o silêncio presume a aceitação.
A herança não pode ser aceita parcialmente, ou seja, um herdeiro não
pode aceitar só uma parte daquilo que lhe cabe. Deve, portanto, aceitar
tudo o que lhe cabe ou, então, nada.
Atenção!
A aceitação da herança é irrevogável (irretratável).
Já a renúncia, trata-se de ato no qual o herdeiro, expressamente e por
escrito, recusa sua condição de herdeiro. Perde, assim, seu Direito
Sucessório, por livre e espontânea vontade.
A renúncia deve ser feita por escrito e não pode ser por documento
particular. Assim, deverá ser feita por:
Expressa 
Tácita 
Presumida 
Escritura pública
Onde esta é confeccionada em um cartório de notas.
Termo judicial no processo de
inventário
O herdeiro declara, em juízo, que não deseja a herança.
A renúncia pode ser dividida em dois tipos:
O herdeiro renuncia à sua quota na herança, que retorna à
universalidade paraser distribuída entre os outros herdeiros.
Quando o renunciante renuncia à sua quota na herança em favor
de alguém (por exemplo: outro herdeiro); porém, essa hipótese
não é bem uma renúncia, mas uma cessão, mas é chamada de
renúncia porque a cessão ocorre no documento de renúncia.
Para renunciar, o herdeiro não pode ser civilmente incapaz, interditado.
Não se pode renunciar parcialmente à herança, ou seja, um herdeiro não
pode abrir mão só de uma parte daquilo que lhe cabe. Deve, portanto,
renunciar a tudo o que lhe cabe ou, então, nada.
Atenção!
A renúncia da herança é irrevogável (irretratável).
Um efeito da renúncia é que ela não gera o direito de representação.
Assim, os netos não sucederão ao avô se o pai dos netos (filho do avô)
renunciar ao seu direito hereditário.
A cessão da herança é a transmissão ou alienação, gratuita ou onerosa,
do quinhão que o herdeiro faz a outrem. O herdeiro aliena para outra
pessoa a parte que lhe cabe na herança. Esse outrem pode ser outro
herdeiro ou terceiro (pessoa estranha à herança).
Abdicativa 
Translativa 
O herdeiro cede sua quota, ou seja, seu quinhão, e não bens específicos.
Consequentemente, o cessionário (adquirente) ocupa a posição do
cedente.
Em se tratando de cessão onerosa, o herdeiro, antes de oferecer a
terceiros, deve oferecer seu quinhão aos demais herdeiros, pois a
herança se trata de um condomínio indivisível. Trata-se do direito de
preferência.
Caso o herdeiro cedente não dê a preferência aos demais herdeiros e
aliene sua quota a terceiro, os demais herdeiros terão 180 dias para
tornar seu direito de preferência eficaz e pleitear o desfazimento da
cessão a terceiro (art. 504 do Código Civil).
Esse direito de preferência não é obrigatório se o herdeiro decidir seu
quinhão a outro herdeiro. A cessão deve ser feita por meio de
instrumento público (escritura pública).
Atenção!
A cessão é do direito de herança, mas não da posição de herdeiro;
assim, o adquirente não se torna herdeiro.
A aceitação, a renúncia e a cessão da herança somente poderão ocorrer
após a abertura da sucessão, ou seja, não podem ser praticadas com o
autor da herança ainda vivo, sob pena de nulidade por pacta corvina (art.
426).
Abertura da sucessão
Abertura da sucessão e herança jacente e vacante
Abre-se a sucessão imediatamente no momento da morte do titular do
conjunto de bens a ser transmitido. Ou seja, com o último expiro, os
possíveis herdeiros se tornam proprietários dos bens deixados pelo
herdeiro. Essa investidura é chamada de princípio de saisine, direito de
saisine ou saisinèe.
A saisine é a abertura da sucessão imediatamente
após a morte do de cujus. Todos os herdeiros se
tornam proprietários da herança, conforme art. 1.784:
“Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”.
A abertura da sucessão é a aquisição imediata da propriedade da
herança ou do legado pelos herdeiros ou legatários, respectivamente.
A herança é o objeto da sucessão. É o conjunto dos bens deixados pelo
de cujus e ela compreende os ativos e os passivos do morto. Veja mais
informações dos ativos e passivos a seguir:
Ativos
Direitos reais (propriedade, superfície, direito real do promitente
comprador etc.) e créditos a receber (situações em que o de
cujus tem créditos perante outras pessoas).
Passivos
Dívidas que o de cujus teria a pagar e que foram constituídas
em vida.
Por isso existe o seguinte:
Herança positiva
É o que ocorre quando, após serem pagos os débitos do de cujus com
os bens da herança, havendo sobra de bens, esta sobra será dividida
entre os herdeiros.
Herança negativa
Quando as dívidas deixadas pelo de cujus são de valor igual ou superior
ao valor dos bens da herança, de modo que não sobrará bens no acervo
hereditário a serem distribuídos entre os herdeiros.
Saiba mais
A herança, por vezes, é chamada de espólio, monte mor e acervo
hereditário.
A sucessão a título singular não é herança; é como se fosse uma
“doação para depois da morte” (post mortem).
Para os casos de um de cujus casado ou convivente (união estável),
preliminarmente é necessário resolver a meação, a depender do regime
de bens. Existe possível meação nos seguintes regimes de bens:
1. Comunhão universal;
2. Comunhão parcial;
3. Participação final nos aquestos;
4. Separação legal, conforme entendimento da Súmula nº 377 do
STF, que o “transformou”, praticamente, em uma comunhão
parcial.
Meação é divisão (partilha) dos bens que compõem a comunhão dos
casados e companheiros. Na meação, 50% dos bens do casal
pertencem a cada um dos cônjuges e companheiros.
Os 50% que correspondem ao cônjuge ou companheiro morto é que
constituem a herança a ser partilhada entre seus herdeiros, juntamente
com possíveis bens particulares que deixou e que não integram a
comunhão. O viúvo retira sua parte do total (meação) e os herdeiros
seguem com a herança, que será o somatório da meação
correspondente ao de cujus e dos bens particulares (que não integram a
comunhão). Há casos em que um indivíduo deixa herança, porém, não
tem herdeiros (legítimos ou testamentários). Essa herança é chamada
de jacente.
Quando alguém morre sem deixar testamento ou herdeiro legítimo
(descendentes, ascendentes, irmãos, tios, sobrinhos, cônjuge, primos)
conhecido, os bens da herança:
1. Serão arrecadados, ou seja, levantados, inventariados,
identificados;
2. Colocados sob a guarda e administração de um curador, até a sua
entrega a um possível herdeiro que surja e seja devidamente
habilitado;
3. Não aparecendo um herdeiro, serão declarados herança vacante.
Feitas as diligências de arrecadação dos bens e finalizando, assim, a
fase de inventário, serão expedidos editais para tornar pública a
existência da herança. Se dentro do prazo de um ano, contado da
primeira publicação dos editais, não havendo herdeiro habilitado, será a
herança declarada vacante.
Vacância é a declaração judicial de que uma herança não tem a quem
ser distribuída.
Ou seja:
Jacente
É a herança que não tem herdeiros habilitados após a morte do de cujus
para darem início ao inventário e à partilha.
Vacante
É a herança que está sem herdeiros, após serem realizadas as tentativas
de identificação dos herdeiros.
Mesmo na hipótese de herança jacente, é assegurado aos credores o
direito de exigir o pagamento das dívidas reconhecidas deixadas pelo de
cujus, nos limites das forças da herança (ou seja, exclusivamente com a
quantidade de bens deixados). Se os bens não forem suficientes, os
credores não receberão os valores a que têm direito.
Decorridos cinco anos da abertura da sucessão (isto é, da morte do
titular da herança), os bens arrecadados passarão ao domínio do
município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas
circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados
em território federal.
Comentário
Também se fala em herança vacante quando todos os chamados a
suceder (herdeiros) renunciarem à herança.
Modos de suceder: direito próprio, representação
e transmissão
Sucessão por direito próprio
Ocorre quando o titular de um quinhão de uma herança é herdeiro do
autor da herança (de cujus). Quem herda por direito próprio está em
iguais condições em relação aos demais herdeiros, tendo quota
semelhante aos demais. Isso significa que a herança é dividida em
partes iguais entre todos os herdeiros por direito próprio.
Porém, foge à regra da igualdade de condições a hipótese de um
falecido deixar descendentes e cônjuge ou companheiro. Nesse caso,
haverá diferença de quotas se aqueles descendentes forem comuns ao
falecido e ao cônjuge ou companheiro ou se forem descendentes
exclusivos do morto.
Outra situação que foge à regra é o direito de representação, pois os
descendentes do herdeiro morto dividirão entre si a quota de tal
herdeiro; não receberão a mesma quota que os demais herdeiros.
Sucessão por direito de representação
É uma substituição que ocorre quando a lei chamacertos parentes de
um herdeiro pré-falecido (pré-morto) a suceder em todos os seus
direitos sobre a herança de outra pessoa, como se o pré-morto vivo
fosse. Acompanhe o exemplo a seguir:
José é pai de Maria e Carlos. Maria é mãe de João, Ana e Luiz. Maria
falece em 2020 e José falece em 2022. Os filhos de Maria (João, Ana e
Luiz) serão chamados a suceder o avô José em representação de sua
mãe Maria, ou seja, a parte da herança de José que caberia a Maria será
distribuída aos netos João, Ana e Luiz.
Atenção!
Os representantes dividirão entre si a quota da herança que corresponde
ao pré-morto; não será dividida a herança em partes igual entre
herdeiros e herdeiros por representação.
Tomando o exemplo anterior, veja a figura:
Direito de representação.
O direito de representação somente existe na linha reta descendente
(filho, neto, bisneto). Não há direito de representação de ascendente
(pai, avô, bisavô). Ou seja, no exemplo dado, José não teria direito de
sucessão, por representação, se Luiz falecesse (sem deixar herdeiros
necessários, obviamente).
Na linha colateral (irmão, sobrinho, tio, primo), somente há direito de
representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, ou seja,
sobrinhos. Porém, essa representação tem lugar somente se o autor da
herança deixar irmãos como herdeiros.
Sucessão por direito de transmissão
Ocorre quando o herdeiro falece antes de manifestar se aceita ou não a
herança de quem é herdeiro. Não é representação; é transmissão da
quota que um herdeiro tem sobre a herança de alguém para seus
herdeiros, por motivo de morte posterior à abertura da sucessão do
autor da herança.
Assim, falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o
poder de aceitar passa aos seus herdeiros. Nesse caso, os chamados à
sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que
concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar
a primeira.
Excluídos da sucessão: indignidade e deserdação
Indignidade
Existe a possibilidade de excluir um herdeiro ou um legatário da
sucessão, de modo a nada receber. Isso decorre de atos de ingratidão
do possível beneficiário de uma herança ou de um legado.
Isso ocorre nas seguintes hipóteses do art. 1.814, quando herdeiro ou
legatário:
1. For autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso consumado ou
tentado contra:
a pessoa do autor da herança (de cujus);
o cônjuge ou o companheiro do autor da herança (de cujus);
ascendente do de cujus; ou
descendente do de cujus;
2. Acusou caluniosamente em juízo o autor da herança (de cujus);
3. Cometeu crime contra a honra do de cujus ou de seu cônjuge ou
companheiro;
4. Inibiu ou obstou o autor da herança (de cujus), usando de violência
ou meios fraudulentos, de dispor livremente de seus bens por ato
de última vontade.
Esses praticantes de atos de ingratidão são os chamados excluídos da
sucessão. Veja alguns pontos importantes sobre:
Na hipótese de herdeiro ou legatário que foram autores, coautores ou
partícipes de homicídio doloso, consumado ou tentado, contra a pessoa
do autor da herança (de cujus), seu cônjuge ou companheiro,
ascendente ou descendente, o Ministério Público tem legitimidade para
pleitear judicialmente a exclusão do herdeiro ou legatário.
Atenção!
A decretação de indignidade e exclusão independe de condenação no
juízo criminal. Por isso, se ocorrer, por exemplo, prescrição na esfera
 A exclusão de herdeiro ou legatário nessas
hipóteses é designada de exclusão por indignidade;
logo, as hipóteses do art. 1.814 são casos de
indignidade para a herança.
 A indignidade deve ser reconhecida e declarada por
sentença. Somente após o reconhecimento judicial
da ocorrência de uma das hipóteses de indignidade
é que o herdeiro ou legatário indigno serão
excluídos da sucessão.
 O interessado tem o prazo de quatro anos, contado
da abertura da sucessão, para pleitear a declaração
de indignidade de um herdeiro ou um legatário.
criminal, nada impede a decretação de indignidade.
A exclusão de herdeiro, porém, cria o direito de representação para os
descendentes do excluído (art. 1.816). Isso significa que os efeitos da
exclusão são pessoais, ou seja, não passam da pessoa do herdeiro
excluído. Assim, os descendentes do herdeiro excluído o sucederão
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão, tal como
ocorre no modo de suceder por representação.
Ainda como punição, o excluído da sucessão não terá direito ao
usufruto ou à administração dos bens que a seus representantes
couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. Isso
significa que, caso o excluído seja herdeiro do representante que
recebeu os bens em seu lugar, caso este representante faleça antes do
excluído, o excluído não terá direito de herança ou legada sobre tais
bens.
Acompanhe o próximo exemplo:
João é pai de Antônio, que é pai de Carlos. Antônio pratica homicídio
doloso contra João e é excluído da sucessão de João por indignidade
(inciso I do art. 1.814). Isso criará o direito de representação para Carlos
(art. 1.816). Antônio não receberá a herança de João, mas seu filho
Carlos será chamado a exercer seu direito de representação e receberá
a parte da herança de João que caberia a Antônio. Nesse caso, Antônio
não poderá usufruir e nem administrar esses bens recebidos por Carlos
(caso este seja, por exemplo, menor de idade ou incapaz). Se Carlos
falecer antes de Antônio e sem deixar descendentes, Antônio não
poderá receber por herança ou legado os bens que Carlos recebeu da
herança de João.
Imagine, agora, que, antes da declaração de indignidade, o futuro
herdeiro indigno tenha administrado a herança ou alienado quota ou
bens a terceiros. Nesse caso, serão válidos:

As alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé.

Os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da
sentença de exclusão.
Contudo, os herdeiros têm direito de exigir perdas e danos do indigno,
caso cause prejuízo com as alienações e os atos de administração.
O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos
que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser
indenizado das despesas com a conservação deles.
Em caso de legatário ou herdeiro testamentário, havendo sua exclusão,
a parte que lhe caberia é acrescida ao restante da herança e dividida
entre os demais herdeiros.
De acordo com o art. 1.818, o herdeiro ou legatário que praticou os atos
que ensejam a exclusão da herança, poderá ser admitido a suceder, se o
autor da herança (de cujus) manifeste expressamente sua vontade que
seja reabilitado. É como se fosse um “perdão pela indignidade”. A
manifestação de vontade pode ser feita em um testamento ou em outro
documento autêntico, como uma escritura pública.
Atenção!
Não existe reabilitação tácita; sempre deverá ser expressa.
A decretação de herdeiro indigno ocorre judicialmente, por requerimento
dos interessados. Há, porém, a hipótese em que o autor da herança (de
cujus) dispõe em testamento a deserdação de herdeiros necessários.
Podem ser deserdados, assim, descentes, ascendentes, cônjuge ou
companheiro. Nesse caso, esses herdeiros (deserdados) são excluídos
da sucessão quanto à sua parte legítima.
Deserdação
A deserdação é feita exclusivamente em testamento e por fatos
justificados ocorridos durante a vida do autor da herança.
Mas a deserdação não é ato de mera liberalidade do testador, ou seja,
deve constar no testamento expressamente a declaração da causa.
Logo, depende de justificativa e só ocorre em casos específicos. Os
herdeiros que serão beneficiados com a deserdação, pois a parte do
deserdado será dividida entre os outros, devem provar a veracidade da
declaração de causa feita pelo testador. O direito de provar a causa da
deserdação se extingue no prazo de quatro anos, a contar da data da
abertura do testamento.
Tais casos variam de acordo com quem será o deserdador e quem será
o deserdado, como você pode observar natabela a seguir:
Herdeiro a ser
deserdado
Testador que
deserdará
Hipóteses
Descendentes Ascendentes
as mesma
hipóteses 
indignidad
do art. 1.8
ofensa físi
injúria grav
relações
ilícitas com
madrasta 
com
padrasto; e
desampar
do
ascendent
em alienaç
mental ou
grave
enfermida
Herdeiro a ser
deserdado
Testador que
deserdará
Hipóteses
Ascendentes Descendentes
as mesma
hipóteses 
indignidad
do art. 1.8
ofensa físi
injúria grav
relações
ilícitas com
mulher ou
companhe
do filho ou
neto;
relações
ilícitas com
marido ou
companhe
da filha ou
neta;
desampar
do filho ou
neto com
deficiência
mental ou
grave
enfermida
Tabela: Deserdação.
Gilberto Fachetti Silvestre.
A deserdação depende de testamento válido. Se o testamento for
inválido, a deserdação também será inválida.
Somente pode ser deserdado um herdeiro necessário. Quanto aos
outros herdeiros, tem-se:
Herdeiro testamentário, nomeado herdeiro antes do ato que enseja
deserdação: Basta o testador revogar o testamento.
Legatário nomeado em testamento ou legado: Basta revogar a
disposição ou revogar o testamento ou legado.
Herdeiro não necessário (irmão, sobrinho, tio, primo): Basta
confeccionar um testamento ou legado destinando os bens da
herança a outras pessoas.
A causa da deserdação deve ser comprovada judicialmente pelos
herdeiros interessados. Depende, portanto, de confirmação judicial para
que a exclusão se efetive.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Um neto órfão é amante da esposa do seu avô. Esta é uma hipótese
de
Parabéns! A alternativa C está correta.
O caso é exatamente a hipótese estampada no inciso III do art.
1.962 do Código Civil: “autorizam a deserdação dos descendentes
por seus ascendentes: [...] III - relações ilícitas com a madrasta ou
com o padrasto”.
Questão 2
É hipótese de deserdação
A redução de sua quota na herança do avô.
B indignidade.
C deserdação.
D incapacidade hereditária.
E crime contra a honra.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O caso é exatamente a hipótese estampada no inciso I do art. 1.962
do Código Civil: “autorizam a deserdação dos descendentes por
seus ascendentes: [...] I – ofensa física”.
A
herdeiros ou legatários que tiverem sido autores,
coautores ou partícipes de homicídio doloso, contra
a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge
companheiro, ascendente ou descendente.
B
herdeiros ou legatários que tiverem sido autores,
coautores ou partícipes de tentativa de homicídio
doloso, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente.
C ofensa física.
D
herdeiros ou legatários que, por violência ou meios
fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da
herança de dispor livremente de seus bens por ato
de última vontade.
E inimizade capital.
2 - Sucessão legítima
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as principais formas de
sucessão.
Sucessão legítima
De�nição de sucessão legítima
Sucessão legítima
Antes de iniciarmos o conteúdo, fique com a explanação do conceito de
sucessão legítima e as espécies de herança.
Toda sucessão possui duas partes: a herança legítima e a herança
disponível. Vejamos a definição de cada uma delas:
Herança legítima

Os primeiros 50% do patrimônio devem ser reservados pela pessoa para
serem destinados aos seus herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge ou companheiro). Essa é a chamada herança
legítima e a parte reservada obrigatoriamente é chamada de legítima.
Herança testamentária
Os outros 50% podem ser dispostos livremente, ou seja, destinados para
qualquer outra pessoa (inclusive um herdeiro necessário). Nesse caso, o
autor da herança deve celebrar um testamento, destinando uma quota
da herança para quem deseja beneficiar. O beneficiado será o herdeiro
testamentário.
Se, porém, o autor da herança deseja destinar um ou mais bens
específicos para um beneficiário, poderá fazê-lo por meio de um legado
ou testamento. Mas, nesse caso, o beneficiário não será um herdeiro,
mas um legatário. Portanto, não há que se falar em herança aqui.
A sucessão legítima tem lugar em duas hipóteses:
1. Quando o autor da herança não deixa testamento ou legado.
2. Quando o autor da herança deixa testamento ou legado de até 50%
da parte disponível da herança, cabendo à herança legítima a parte
não disposta em testamento.
Assim, sucessão legítima é aquela em que
parentes e o cônjuge ou companheiro recebem
quotas da herança com a abertura da sucessão.
A sucessão legítima decorre da lei, é criada pela lei, conforme art. 1.786:
“A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade”. A
sucessão por disposição de última vontade é aquela planejada pelo
autor da herança em testamento ou legado. Não havendo testamento, a
sucessão é disciplinada pela lei, que é a sucessão legítima. Havendo
testamento e parte da herança que não foi testada ou legada, esta parte
é considerada herança legítima.
Havendo testamento nulo ou ineficaz, a parte testada será revertida à
parte legítima (art. 1.788). Assim:
1. Se uma pessoa morrer sem testamento, sua herança se transmite,
por força de lei, aos herdeiros legítimos (art. 1.829);
2. Se uma pessoa morrer com testamento, os bens que não forem
compreendidos no testamento serão transmitidos, por força de lei,
aos herdeiros legítimos;
3. Se o testamento caducar ou for julgado nulo, a parte testada será
transmitida, por força de lei, aos herdeiros legítimos.
O art. 1.829 do Código Civil elenca quais são os parentes que participam
da herança legítima. Essa sucessão legítima acontece em uma ordem
de prioridade, em que uma classe afasta a outra. São herdeiros
legítimos, nesta ordem:
1. Os descendentes, em concorrência com o cônjuge ou
companheiro sobrevivente (obs.: há especificidades, conforme
entendimento do STF);
2. Os ascendentes, em concorrência com o cônjuge ou companheiro;
3. O cônjuge ou o companheiro sobrevivente (também chamado de
cônjuge ou companheiro supérstite); e
4. Os colaterais.
Em maio de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou os Recursos
Extraordinários nº 646.721 e nº 878.694 e decidiu que “No sistema
constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em
ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”.
Antes desse julgamento, a sucessão do companheiro era diferenciada e
menos favorável que a sucessão do cônjuge. Era regida pelo art. 1.790 e
o companheiro poderia receber frações diferentes, a depender da
existência de filhos comuns ou não.
Foi o que o STF disse que é inconstitucional. A partir disso, a sucessão
do companheiro foi equiparada à do cônjuge e passou a ser regida pelo
art. 1.829. Assim, no art. 1.829, onde se lê apenas “cônjuge”, deve-se ler,
na realidade, “cônjuge ou companheiro”.
O cônjuge e o companheiro
O cônjuge e o companheiro como herdeiros
Para entender a sucessão pelo cônjuge ou companheiro, é preciso,
antes, entender como funcionam os regimes de bens. Sistematizando:
Vários graus de parentesco.
Comunhão universal
Regime da comunhão parcial.
Comunhão parcial
Regime da separação.
Separação total
Participação final dos aquestos.
Participação �nal nos aquestos
Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por
inteiro ao cônjuge ou ao companheiro sobrevivente. A situação se torna
complexa, porém, quando o cônjuge ou companheiro concorrem com
descendentes e ascendentes na herança. Aí a sistemática fica diferente
e dependerá do regime de bens, especialmente quando concorre com os
descentes.
O inciso I do art. 1.829 estabelece que a sucessão legítima é deferida
aos descendentes, em concorrência com o cônjuge ou o companheiro
sobrevivente, salvo se casado ou convivendo este com o falecido no
regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ouse, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares.
Quando o inciso I do art. 1.829 dispõe que o cônjuge ou o companheiro
concorre com os descentes, há o estabelecimento de algumas exceções
(“salvo se”). Veja as exceções:
1. O cônjuge ou o companheiro não sucede se for casado no regime
da comunhão universal. Ou seja, cônjuge ou companheiro casado
na comunhão universal não é herdeiro em concorrência com os
descendentes; é excluído: recebe sua meação e nada recebe a
título de herança, exceto se não existirem descendentes e
ascendentes;
2. O cônjuge ou o companheiro e o autor da herança forem casados
no regime da separação obrigatória, imposto pela lei nas seguintes
hipóteses de casamento entre pessoas que (art. 1.641):
casarem com inobservância das causas suspensivas da
celebração do casamento;
um dos nubentes tem 70 anos ou mais; ou
dependem, para casar, de suprimento judicial; ou
3. O cônjuge ou o companheiro e o autor da herança forem casados
no regime da comunhão parcial, mas o de cujus não deixou bens
particulares excluídos da comunhão.
Observe, então, que o cônjuge ou companheiro, quando concorrer com
os descendentes, somente terá direito à herança se for casado na
comunhão parcial, na separação total e na participação final dos
aquestos.
Nesses regimes, os cônjuges podem produzir um patrimônio próprio,
exclusivo, excluídos da comunhão. Daí ocorrerá o seguinte:
1. É feita a partilha dos bens comuns (comunhão) para que o cônjuge
ou companheiro supérstite receba sua meação;
2. Se o cônjuge ou companheiro falecido deixar bens particulares,
excluídos da comunhão, então o cônjuge ou o companheiro,
quando concorrer com os descendentes, terá direito à herança
sobre esses bens particulares; ou
3. Quanto à meação que caberia ao de cujus, o cônjuge ou o
companheiro não terá direito à herança; essa massa patrimonial
será dividida apenas entre os descendentes, exceto se o de cujus
não tiver ascendentes ou descendentes.
Na classe do cônjuge ou companheiro, para ter direito de herança sobre
o patrimônio do cônjuge ou do companheiro morto, ele e o cônjuge ou o
companheiro sobrevivente, na época da morte do outro (abertura da
sucessão), não podem estar separados judicialmente ou de fato há mais
de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se
tornara impossível sem culpa do sobrevivente.
Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao
cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo
a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos
herdeiros com que concorrer.
Quando o cônjuge ou o companheiro concorrer com ascendentes, deve-
se observar as seguintes regras:
1. Se o cônjuge ou o companheiro concorrer com ascendente em 1º
grau do de cujus, o cônjuge ou o companheiro terá direito a um
terço da herança;
2. Se o de cujus tiver somente um ascendente vivo, então o cônjuge
ou o companheiro terá direito à metade da herança; e
3. Se o ascendente do de cujus for de grau acima do primeiro, então,
o cônjuge ou o companheiro terá direito à metade da herança.
Herdeiros necessários
Herdeiros necessários são aqueles para quem, obrigatoriamente, devem
ser reservados pelo menos 50% da herança. Assim, pertence aos
herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, a
qual constitui a legítima.
São herdeiros necessários:
Descendentes
Filhos, netos, bisnetos etc.
Ascendentes
Pai, avô, bisavô etc.
Cônjuge
Ou companheiro.
A legítima é calculada sobre o valor dos bens que existirem na época da
abertura da sucessão, após pagas as dívidas e as despesas do funeral.
Um herdeiro necessário pode ser beneficiado em testamento por valores
a mais. Isso significa que o herdeiro necessário a quem o testador
deixar a sua parte disponível ou algum legado, não perderá o direito à
legítima. Tal valor recebido em testamento não é descontado ou
compensado da quota a que o herdeiro tem direito na legítima.
Quanto a isso, imagine a seguinte situação:
Luiz tem três filhos: Maria, Ana e João. Como são seus descendentes,
Luiz deve, obrigatoriamente, reservar 50% do seu patrimônio para a
herança de Maria, Ana e João, pois, como filhos, são herdeiros
necessários. Logo, obrigatoriamente, deve existir a legítima na herança
(pelo menos 50%) que será deixada para Maria, Ana e João.
Porém, na parte disponível (os outros 50% do patrimônio), João concede
a metade para sua filha Maria, em testamento. Assim, em testamento,
João deixa a metade da parte disponível do patrimônio para Maria, o
que corresponde a 25% do total da herança.
Logo, a outra metade da parte disponível (25%) sobrará para ser
incorporada à legítima e, assim, ser distribuída entre os herdeiros
legítimos-necessários.
Observe o esquema abaixo:
Exemplo de herança necessária.
Veja, então, a seguinte divisão:
A parte legítima será dividida em três partes, cada uma delas para cada
um dos herdeiros legítimos-necessários.
Nessa parte, cada herdeiro terá uma quota de 16,7% sobre o total da
herança. Os beneficiários são então:
Maria
Quota de 16,7%
Ana
Quota de 16,7%
João
Quota de 16,7%
Já a parte disponível será dividida em duas partes:

Metade será exclusivamente de Maria, conforme vontade de Luiz em
testamento.

Metade entre todos os herdeiros (inclusive Maria), pois será incorporada
à legítima, já que não foi disposta em testamento por Luiz para alguém.
Quantos aos beneficiários, teremos:
Maria
Receberá a metade da metade disponível, o que corresponde a 25% do
total da herança.
Maria, Ana e João
Cada um receberá a terça parte (1/3) da metade da metade disponível,
que não foi destinada por Luiz em testamento para ninguém. Isso
corresponde a quotas de 8,3% do total da herança.
Esmiuçando as quotas de Maria, Ana e João, temos as seguintes
divisões:
 Maria
50%
16 7% t t di it h d i
Esse exemplo demonstra a importância da legítima, a força da herança
necessária e a possibilidade de um herdeiro ser mais favorecido que os
demais. Porém, esse favorecimento não é ilícito e é admitido pela lei.
Quanto aos parentes colaterais (irmãos, sobrinhos, tios e primos), estes
não são herdeiros necessários. Logo, uma pessoa que não tem
ascendentes, descendentes e cônjuge ou companheiros pode dispor,
livremente, do total de sua herança para qualquer pessoa. Não deverá
reservar qualquer quota para seus parentes colaterais.
16,7%: quota a que tem direito, como herdeira
necessária, sobre a parte legítima;
25%: quota a que tem direito por causa do
testamento de Luiz, que atribuiu valores a
mais na herança;
8,3%: parte que dividirá com os irmãos sobre
a metade da parte disponível que não foi
disposta em testamento por Luiz.
 Ana
25%
16,7%: quota a que tem direito, como herdeira
necessária, sobre a parte legítima;
8,3%: parte que dividirá com os irmãos sobre
a metade da parte disponível que não foi
disposta em testamento por Luiz.
 João
25%
16,7%: quota a que tem direito, como herdeira
necessária, sobre a parte legítima;
8,3%: parte que dividirá com os irmãos sobre
a metade da parte disponível que não foi
disposta em testamento por Luiz.
Caso uma pessoa não queira que seus parentes colaterais recebam a
herança que pode deixar, deverá celebrar um testamento no qual destina
seus bens a outros beneficiários. É o que dispõe o art. 1.850 do Código
Civil: “Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o
testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar”.
Ordem de vocação
hereditária
Ordem de recebimento da herança
O art. 1.829 estabelece uma ordem para recebimento de herança entre
os herdeiros legítimos:
1. Os descendentes, em concorrência com o cônjuge ou
companheiro sobrevivente;
2. Os ascendentes, em concorrência com o cônjuge ou companheiro;
3. O cônjuge ou o companheiro sobrevivente (também chamado de
cônjuge ou companheiro supérstite);
4. Os colaterais.
A ordem de vocação hereditária estabelece:1. Quais herdeiros têm direito de suceder na herança;
2. A ordem de preferência entre as classes de parentesco e de graus
para uns na falta dos outros;
3. A concorrência entre herdeiros sobre a herança, caso haja classes
de herdeiros concomitantes e que não se excluem (ex.: cônjuge
sobrevivente e filhos).
A lei estabelece, no art. 1.829, uma ordem de prioridade ou preferência.
Essa é a ordem de vocação hereditária. Herdeiros de classes e graus de
parentesco mais próximos excluem os herdeiros de classes e graus de
parentesco mais remotos, bem como a linha reta prefere a linha
colateral.
Cada classe e grau terá regras próprias de sucessão.
Na classe dos descendentes, aqueles de grau mais próximo excluem os
mais remotos.
Exemplo
Havendo filhos e netos, somente os filhos terão direito à herança.
Há a exceção do direito de representação, pelo qual se um filho é pré-
morto ao avô, o neto representará o pai na herança do avô.
Em regra, os filhos sucedem por cabeça, ou seja, todos eles recebem a
herança dividida por igual. Mas se houver direito de representação, a
sucessão é por extirpe, ou seja, a quota da herança que caberia ao
herdeiro pré-morto será dividida por cabeça entre seus herdeiros.
Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à
sucessão, não havendo tratamento diferenciado em caso de
descendente adotado ou havido fora do casamento ou da união estável.
Dica
Lembre-se de que os descendentes podem concorrer com o cônjuge ou
o companheiro sobrevivente.
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes,
sendo que os ascendentes de grau mais próximo excluem os de graus
mais remotos.
Dica
Lembre-se de que os ascendentes podem concorrer com o cônjuge ou o
companheiro sobrevivente.
Havendo ascendentes do mesmo grau na linha paterna e na linha
materna, a herança será dividida pela metade:
50%
Para ascendentes do mesmo grau da linha paterna (ascendentes do
“lado do pai”).
50%
Para ascendentes do mesmo grau da linha materna (ascendentes do
“lado da mãe”).
Mas se os graus das linhas forem diferentes, então, a herança será
exclusiva do ascendente de grau mais próximo. Veja o exemplo a seguir:
Maria é filha de João e de Ana. João é filho de Carlos e Glória. Ana é
filha de Antônio e Luíza. João é falecido. Morrendo Maria sem cônjuge
ou companheiro e sem descendentes, Ana receberá toda a herança de
sua filha, pois Ana é o 1º grau de parentesco na linha reta. Os avós
paternos de Maria são parentes em 2º grau na linha reta.
Logo, o ascendente de grau mais próximo exclui todos os outros
ascendentes de grau posterior. Imagine, agora, nesse mesmo exemplo,
que os pais de Maria são falecidos. Os avós maternos também são
falecidos. Os avós paternos são vivos. Porém, a bisavó materna de
Maria é viva. Assim, na linha reta ascendente, Maria tem os seguintes
parentes em grau:

2º grau
Avós paternos

3º grau
Bisavó materna
Morrendo Maria, somente seus avós paternos receberão sua herança,
pois são o grau mais próximo.
Relembrando
“Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente,
mas nunca na ascendente”.
No mesmo exemplo, imagine que os pais de Maria são falecidos. Seus
avós maternos são vivos. Sua avó paterna é viva, mas seu avô paterno é
morto. Assim, Maria tem ascendentes:

De 2º grau na linha materna
Avós paternos.

De 2º grau na linha paterna
Glória.
Como Maria tem ascendentes do mesmo grau em ambas as linhas
(paterna e materna), sua herança será assim dividida:
50%: Antônio e Luíza (avós maternos). Nesse caso, Antônio e
Luíza dividirão entre si, por cabeça, a parte que recebem, de modo
que Antônio receberá 25% sobre o todo da herança de Maria e
Luíza receberá 25% sobre o todo; e
50%: Glória (avó paterna). Como seu esposo Carlos é morto, não
há como receber qualquer parte.
Dica
Lembre-se! Sempre na hipótese de Maria não ter cônjuge ou
companheiro sobrevivente e descentes.
Já na linha colateral (irmão, sobrinho, tio, primo), eles são chamados a
suceder na herança legítima somente se as classes anteriores da ordem
de vocação não existirem ou tiverem renunciado à herança.
Porém, há limite de grau de parentesco nessa linha colateral: os
herdeiros colaterais legítimos vão até o quarto grau.
Veja como calcular o grau de parentesco colateral:
1. Toma-se o parente ancestral comum entre os parentes que se quer
descobrir o grau; coloca-se as gerações intermediárias;
2. Colocam-se os parentes em posição de descendência na geração
intermediária;
3. Conta-se a geração.
Por exemplo, primos são parentes de 4º grau. Inclusive, é possível
perceber que entre tios e sobrinhos o parentesco é de 3º grau. Veja a
imagem:
Parentesco de 3º e 4º graus.
Veja, agora, o cálculo dos graus entre parentes distantes:
Então, os colaterais até 4º grau são herdeiros. Esse grau não tem um
parente fixo, pois depende da ancestralidade.
Também aqui os colaterais mais próximos excluem os mais remotos,
salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos. Filhos
de outros parentes não têm direito de representação, como o filho de um
primo. Mas o sobrinho tem direito de representação se seu pai (irmão
do autor da herança) for pré-morto em relação ao tio de cujus.
Existe, porém, uma diferença na distribuição da herança, dependendo do
tipo de irmão do autor da herança. São tipos de irmãos:
Bilaterais ou germanos
Têm o mesmo pai e a mesma mãe.
Unilaterais
Têm em comum somente o pai ou somente a mãe.
Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos
unilaterais, cada um dos irmãos unilaterais herdará metade do que cada
um dos irmãos bilaterais herdar. Porém, não concorrendo à herança
irmão bilateral, os unilaterais herdarão em partes iguais entre si.
Na falta de irmãos vivos do de cujus, herdarão a herança:
1. Os sobrinhos do de cujus (filhos dos irmãos). Neste caso, os
sobrinhos herdam por cabeça, ou seja, dividem entre si em partes
iguais a herança do tio;
2. Os tios do de cujus, caso não existam sobrinhos.
Se todos os sobrinhos forem filhos de irmãos bilaterais ou todos os
sobrinhos forem filhos de irmãos unilaterais, todos os sobrinhos
herdarão por igual, ou seja, a herança será dividida em partes iguais.
Se concorrem sobrinhos filhos de irmãos bilaterais com sobrinhos filhos
de irmãos unilaterais, a divisão será: cada um dos sobrinhos filhos de
irmãos unilaterais herdará a metade do que herdar cada um dos
sobrinhos filhos de irmãos bilaterais.
Não sobrevivendo cônjuge ou companheiro, nem algum parente da
ordem de vocação hereditária, ou tendo os herdeiros renunciado à
herança, esta se torna jacente e será declarada vacante. Nesse caso, os
bens da herança serão entregues ao município ou ao Distrito Federal, se
localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada
em território federal.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Marque a opção que corresponda à ordem para o recebimento entre
os herdeiros legítimos prevista no Código Civil.
A
1º os descendentes, em concorrência com o
cônjuge ou companheiro sobrevivente; 2º os
ascendentes, em concorrência com o cônjuge ou
companheiro; 3º o cônjuge ou o companheiro
sobrevivente (também chamado de cônjuge ou
companheiro supérstite); 4º os colaterais.
Parabéns! A alternativa A está correta.
O art. 1.829 estabelece uma ordem para recebimento de herança
entre os herdeiros legítimos:
1. os descendentes, em concorrência com o cônjuge ou
companheiro sobrevivente;
2. os ascendentes, em concorrência com o cônjuge ou
companheiro;
B
1º os ascendentes, em concorrência com o cônjuge
ou companheiro; 2º os descendentes, em
concorrência com o cônjuge ou companheiro
sobrevivente; 3º o cônjuge ou o companheiro
sobrevivente (também chamado de cônjuge ou
companheiro supérstite); 4º os colaterais.
C
1º os colaterais; 2º os ascendentes, em
concorrência com o cônjuge ou companheiro; 3º os
descendentes, em concorrência com o cônjugeou
companheiro sobrevivente; 4º o cônjuge ou o
companheiro sobrevivente (também chamado de
cônjuge ou companheiro supérstite).
D
1º o cônjuge ou o companheiro sobrevivente
(também chamado de cônjuge ou companheiro
supérstite); 2º os descendentes, em concorrência
com o cônjuge ou companheiro sobrevivente; 3º o
cônjuge ou o companheiro sobrevivente (também
chamado de cônjuge ou companheiro supérstite); 4º
os colaterais.
E
1º o cônjuge ou o companheiro sobrevivente
(também chamado de cônjuge ou companheiro
supérstite); 2º os colaterais; 3º os descendentes, em
concorrência com o cônjuge ou companheiro
sobrevivente; 4º o cônjuge ou o companheiro
sobrevivente (também chamado de cônjuge ou
companheiro supérstite).
3. o cônjuge ou o companheiro sobrevivente (também chamado
de cônjuge ou companheiro supérstite); e
4. os colaterais.
Questão 2
É herdeiro legítimo
Parabéns! A alternativa B está correta.
O STF julgou nos Recursos Extraordinários nº 646.721 e nº 878.694
que a sucessão do companheiro é equiparada à do cônjuge e
passou a ser regida pelo art. 1.829.
A
o ex-companheiro, após realizada divisão de bens
da dissolução da união.
B o companheiro.
C
o ex-marido, após realizada divisão de bens do
divórcio.
D a madrinha de consideração.
E o filho do primo.
3 - Sucessão testamentária
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os elementos
essenciais de um testamento.
Sobre o testamento
Testamento
Você conhece as regras do testamento e suas características?
Acompanhe no vídeo a seguir.
Características do testamento
A sucessão testamentária se funda no testamento, um negócio jurídico
baseado nas seguintes características:

O testamento se funda na vontade do testador de deixar para
uma pessoa uma quota da sua herança, para depois da sua
morte; se um testamento for celebrado mediante erro, dolo ou
coação, será nulo.
O testamento é ato personalíssimo, ou seja, somente pode ser
celebrado pelo autor da herança, o futuro de cujus.
Para sua celebração, basta que o autor da herança manifeste sua
vontade, independentemente da vontade do herdeiro
testamentário; somente após a morte do testador é que o
herdeiro testamentário aceitará ou não a herança, mas para ser
celebrado e existir, a vontade do herdeiro não importa, somente a
do autor da herança.
Ao elaborar um testamento, o autor da herança não pode exigir
nada do herdeiro para seu benefício; pode impor encargos ao
herdeiro perante terceiros, mas em benefício do próprio testador,
não.
O testamento deve ser feito por escrito, por escritura pública ou
particular, contando com a leitura em voz alta perante
testemunhas.
Voluntariedade 
Exclusividade 
Unilateralidade 
Gratuidade 
Solenidade 
A qualquer momento, o testador poderá revogar o testamento e
retirar sua eficácia, independentemente de autorização daquele
que seria beneficiado.
Pelo testamento, a pessoa pode dispor de seu patrimônio total ou
parcialmente. Se tiver herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge ou companheiro), deve reservar,
obrigatoriamente, a parte legítima, que corresponde a 50% do seu
patrimônio. Os outros 50% compõem a parte disponível e o autor da
herança pode dela dispor livremente.
Se o testador não tiver herdeiros necessários, então, poderá dispor de
100% do seu patrimônio em favor de um ou mais herdeiros
testamentários. Pode até dispor de apenas uma parte (por exemplo:
30%) e o restante será dividido entre os outros herdeiros legítimos.
Veja os exemplos a seguir para melhor entendimento:
Revogabilidade 
 João é pai de Maria e Carlos. Deixa em testamento
50% de seu patrimônio em favor do seu amigo
Antônio. A sucessão testamentária é válida, pois
restou garantida a parte legítima para Maria e
Carlos e a parte disponível foi livremente atribuída a
Antônio.
 João é pai de Maria e Carlos. Deixa em testamento
75% de seu patrimônio em favor do seu amigo
Antônio. Observe que o testamento extrapolou em
25% o percentual da parte disponível, ou seja, foram
retirados bens que obrigatoriamente deveriam ser
de Maria e Carlos. Nesse caso, a sucessão
testamentária poderá prosseguir, mas será anulado
o excedente que extrapolou a parte disponível.
Assim, para garantir a legítima de Carlos e Maria, a
quota testamentária de Antônio será reduzida para
50% e os 25% excedentes passarão a integrar a
legítima para ser dividida entre Maria e Carlos.
 João não é casado e não tem ascendentes, nem
descendentes vivos. Tem, porém, uma tia, Ana.
João deixa em testamento 100% de seu patrimônio
em favor do seu amigo Antônio. O testamento é
válido porque Ana não é herdeira necessária. Como
consequência, João não precisa reservar,
obrigatoriamente, 50% do seu patrimônio (parte
legítima) para sua tia, podendo dispor de 100% dos
seus bens livremente.
 João não é casado e não tem ascendentes, nem
descendentes vivos. Tem, porém, uma tia, Ana.
João deixa em testamento 80% de seu patrimônio
em favor do seu amigo Antônio. O testamento é
válido, pois Ana não é herdeira necessária e não há
obrigatoriedade de reserva da parte legítima. Mas
restaram 20% do patrimônio de João, pois o
testamento abrangeu apenas 80% da herança.
Nesse caso, Ana será chamada a suceder nos 20%
restantes, pois é herdeira legítima da parte que não
foi testada.
Observe que, embora toda pessoa capaz possa dispor, por testamento,
da totalidade dos seus bens ou de parte deles, para depois de sua
morte, a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.
Mas um testamento não serve, apenas, para dispor de patrimônio. Ele
pode ter cláusulas de caráter não patrimonial, por exemplo, o
reconhecimento de filhos.
É possível, ainda, dispor de bens por ato de última vontade chamado
codicilo. Toda pessoa capaz de celebrar um testamento poderá fazer
um codicilo.
Codicilo é o ato feito em instrumento particular datado e assinado, no
qual a pessoa faz disposições especiais sobre:
1. Seu enterro;
2. Esmolas de pouca monta a serem entregues a:
certas e determinadas pessoas; ou
indeterminadamente aos pobres de certo lugar; e
3. Presentear pessoas com móveis, roupas ou joias de pouco valor e
de seu uso pessoal.
Se estiver fechado o codicilo, falecido o autor da herança, o codicilo será
apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará registrar, ordenando que seja
cumprido.
Capacidade de testar e os
tipos de testamento
Quem pode testar?
Para celebrar um testamento, é preciso ter capacidade de testar. Veja a
sistematização:
Podem testar Não podem testar
os maiores de 16
anos;
aqueles que não
estejam
interditados;
aqueles que têm o
pleno
discernimento no
momento de fazer
o testamento.
os absolutamente
incapazes (menores de 16
anos);
os relativamente incapazes
(art. 4º do Código Civil)
interditados (ou seja, se são
os interditados, então, não
entra nessa hipótese os
maiores de 16 anos e
menores de 18 anos);
aqueles que não têm o
pleno discernimento no
momento de fazer o
testamento.
Tabela: Capacidade para testar.
Gilberto Fachetti Silvestre.
Atenção!
A incapacidade do testador posterior à celebração do testamento não
invalida o testamento. O testamento feito por um incapaz não será
validado se o testador recuperar sua capacidade após ter feito o
testamento inválido.
Quais são os tipos de testamento?
Existem vários tipos de testamento, os quais podem ser divididos em
dois grupos:
Testamentos ordinários
Público
Cerrado
Particular
Testamentos especiais
Marítimo
Aeronáutico
Militar
A seguir, apresentaremos as características dos testamentos ordinários,
que são os mais praticados e os mais importantes para os profissionais
do Direito, veja:
Aquele que é celebrado perante oficial do registro civil, em
cartório. É redigido e assinado pelo oficial, que lhe confere fé
pública. Esse testamento é lacrado e somente poderá ser aberto
no inventário.
O procedimento de confecção é o seguinte:
Presença de pelo menos duas testemunhas,que não
podem ser pessoas beneficiadas no testamento ou outras
pessoas que tenham interesse na herança, como os
herdeiros legítimos;
O testador ditará as disposições para o oficial do registro;
O oficial do registro reduz a termo o que foi manifestado
pelo testador;
O oficial lê em voz alta o texto do testamento, perante as
testemunhas;
Assinatura do documento pelo testador, pelas testemunhas
e pelo oficial.
Excepcionalmente, dependendo do estado de saúde do testador,
o testamento poderá ser redigido em outros locais que não a
sede do cartório, por exemplo, no hospital, na casa do testador.
É aquele redigido pelo próprio testador ou por alguém a seu
pedido. Esse testamento é secreto e ficará lacrado até o início do
inventário. O documento pode ser escrito de próprio punho ou
digitado.
Posteriormente, esse testamento é lavrado em cartório para que
o oficial lavre seu termo de aprovação perante duas
testemunhas. O objetivo desse ato é dar autenticidade e fé
pública ao documento redigido pelo testador.
Público 
Cerrado 
Aquele redigido de próprio punho ou digitado pelo testador. O
documento não pode conter rasuras e espaços em branco.
Esse testamento deve ser lido perante três testemunhas e será
assinado pelo testador e pelas testemunhas. Ele será validado
no inventário, com a presença das testemunhas.
Disposições testamentárias
O testamento é escrito no formato de cláusulas. Quando uma cláusula
testamentária compreender interpretações diferentes, deve prevalecer a
interpretação que melhor assegure a observância da vontade do
testador. Veja o exemplo a seguir:
João tem quatro irmãos, Maria, José, Luiz e Ana, com os quais sempre
se relacionou bem e a quem sempre ajudou. João, em testamento, fez
constar várias cláusulas que beneficiavam os quatro irmãos. Todas as
vezes que se referia a eles, João mencionava os nomes completos de
Maria, José, Luiz e Ana, não escrevendo “meus irmãos”. Mas a cláusula
X ficou com a seguinte redação: “Deixo meus bens imóveis para meus
irmãos”.
Particular, privado ou hológrafo 
Não se utilizou os nomes completos de Maria, José, Luiz e Ana.
Essa cláusula bene�cia os quatro irmãos
(Maria, José, Luiz e Ana) ou bene�cia apenas os
irmãos homens (José e Luiz)?
A dúvida é razoável, pois nas outras cláusulas ele redigia o nome
completo de todos os irmãos.
Considerando que nas outras cláusulas João beneficiava os quatro
irmãos e considerando a boa relação que teve com eles em vida, é
possível concluir que sua vontade sempre foi a de beneficiar,
igualmente, todos os seus quatro irmãos. Essa é uma interpretação para
a cláusula X que parece melhor se aproximar da vontade do testador.
A invalidade de uma cláusula do testamento por causa de alguma
disposição não gera a nulidade de todo o testamento, exceto se se tratar
da disposição mais importante do ato, ou seja, uma cláusula essencial.
Aplica-se a redução do negócio jurídico nulo: “Art. 184. Respeitada a
intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o
prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da
obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas
não induz a da obrigação principal”. Nesse caso, anula-se apenas a
disposição.
Será nula a disposição testamentária que:
1. Instituir um herdeiro ou um legatário exigindo que este favorecido,
também por meio de um testamento, nomeie o testador ou um
terceiro como seu herdeiro (ou seja, exigir herança testamentária
recíproca);
2. Instituir como herdeiro uma pessoa incerta, cuja identidade não se
possa averiguar;
3. Favorecer pessoa incerta, dando poderes a terceiro para
determinar a identidade do herdeiro testamentário (afinal, o
testamento é ato personalíssimo);
4. Deixar a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado,
ou seja, a determinação de valores cabe ao próprio testador;
5. Favoreça as seguintes pessoas que não podem ser nomeadas
herdeiras nem legatárias:
aquele que, a pedido do testador, escreveu o testamento,
mesmo que tal subscritor seja seu cônjuge ou companheiro,
seus ascendentes ou seus irmãos;
as testemunhas do testamento;
o concubino (“amante”) do testador casado, salvo se o
testador estiver separado de fato do cônjuge há mais de
cinco anos e não tiver sido o culpado de tal separação;
o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão,
perante quem se fizer o testamento;
aqueles que não estão legitimados a suceder.
Em testamento, é possível constar uma disposição geral em favor dos
pobres, dos estabelecimentos particulares de caridade ou dos
estabelecimentos de assistência pública. Eis algumas observações
importantes sobre:
 Nesse caso, as disposições beneficiarão os pobres
e os estabelecimentos do lugar do domicílio do
testador ao tempo de sua morte, salvo se
manifestamente constar que tinha em mente
beneficiar os de outra localidade.
 Havendo erro na designação da pessoa do herdeiro
ou do legatário, ou havendo erro na designação da
coisa legada, será anulada a disposição. Porém,
não será anulada a disposição se, pelo contexto do
testamento, por documentos ou por fatos
inequívocos, for possível identificar a pessoa ou a
coisa a que o testador queria se referir.
 Se o testamento nomear dois ou mais herdeiros,
sem especificar a parte de cada um, a partilha será
feita por igual entre todos os herdeiros, observada a
parte disponível do testador.
Observe o exemplo a seguir para melhor entendimento:
João deixa um testamento que beneficia seu amigo Luiz e seus vizinhos
de prédio. Luiz é o herdeiro individualizado; os vizinhos do prédio são o
grupo herdeiro. Luiz receberá 50% da herança e o grupo receberá os
outros 50%. Os vizinhos que compõem o grupo herdeiro dividirão
aqueles 50% entre si.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Se uma pessoa não tem cônjuge ou companheiro, nem
ascendentes e descendentes vivos, tendo somente um primo como
parente vivo, essa pessoa poderá beneficiar um amigo com uma
quota sobre sua herança de até
 Se, porém, o testador nomear herdeiros
individualmente e herdeiros coletivamente, a
herança será dividida em quotas iguais entre os
herdeiros individuais e o grupo herdeiro.
A 100%.
B 50%.
Parabéns! A alternativa A está correta.
Como o testador não tem herdeiros necessários e como primo é
herdeiro legítimo, mas não necessário, a pessoa não precisa
reservar legítima e pode dispor de até 100% do seu patrimônio a
quem que seja.
Questão 2
A pessoa adquire capacidade para testar a partir dos
Parabéns! A alternativa B está correta.
Ver parágrafo único do art. 1.860: “Podem testar os maiores de
dezesseis anos”.
C 0.
D 75%.
E 25%.
A 15 anos.
B 16 anos.
C 18 anos.
D 21 anos.
E 60 anos.
Considerações �nais
Este conteúdo constatou quais são as principais regras do Direito de
Sucessão, em especial seu papel na vida patrimonial familiar e seu
papel na aquisição de propriedade. A partir daí, demonstrou-se como
devem ser entendidas tais tendências e quais suas consequências.
A abordagem realizada foi destinada a apresentar não somente
aspectos teóricos, mas, também e principalmente, os aspectos práticos.
É preciso ter em mente que os assuntos aqui abordados são matérias
discutidas em ações judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação
profissional.
Podcast
Para encerrar, ouça sobre as características da sucessão legitima e da
testamentária.

Explore +
Confira agora o que separamos especialmente para você!
Leia os artigos:
O direito à sucessão dos filhos concebidos “post mortem” no
campo da reprodução artificial, de Emannueli Felix Bueno,
publicado pelo IBDFam, em 12 jul. 2021. O artigo discute o Direito
Sucessório no âmbito da reprodução artificial, uma vez que, tendo
em vista sua lacuna legislativa, impede o aperfeiçoamento do
Direito ao versar sobre conteúdo grandemente oportuno às famílias
brasileiras.
Testamento: expressão de última vontade, de Rolf Madaleno,publicado pelo IBDFam, em 4 jan. 2011. O artigo analisa o direito
hereditário como um complexo de princípios, pelos quais é
realizada a transmissão do patrimônio de alguém que deixa de
existir, registrando a história dos povos, os mais acalentados
debates entre juristas e filósofos, que buscavam o sentido dessa
transmissão por causa da morte.
Herança digital e sucessão legítima – Primeiras reflexões, de
Flávio Tartuce, publicado pelo IBDFam, em 27 set. 2018. O artigo
analisa as novas tecnologias, especialmente as incrementadas
pelas redes sociais e pelas interações digitais, e as repercussões
para o Direito de Sucessão, surgindo intensos debates sobre a
transmissão da chamada herança digital.
Inciso XXX – Direito de Herança. “É garantido o direito de herança”,
de Gregory Terry Ubillus e Matheus Silveira, publicado no portal
Artigo Quinto, em 3 dez. 2019. O artigo analisa e discute a
perspectiva da herança no Direito Constitucional, o qual garante que
os bens na posse de alguém que venha a falecer sejam
transmitidos a seus respectivos herdeiros legítimos ou
testamentários.
Referências
DIAS, M. B. Manual das sucessões. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 6. Direito das Sucessões.
34. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. v. 7. Sucessões.
8. ed. Salvador: Juspodivm, 2022.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. v. 6. Direito das Sucessões.
15. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
TEIXEIRA, A. C. B.; RIBEIRO, G. P. L (Coords.). Manual de Direito das
Famílias e das Sucessões. 3. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2017.
Material para download
Clique no botão abaixo para fazer o download do
conteúdo completo em formato PDF.
Download material
O que você achou do conteúdo?
Relatar problema
javascript:CriaPDF()

Continue navegando