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AULA 1: INTRODUÇÃO À ELETRÔNICA DE POTÊNCIA Nesta aula, você vai estudar como os elementos básicos da eletrônica de potência podem ser caracterizados, além de suas aplicações. Desde o século XVIII, com a utilização do primeiro motor elétrico e o exponencial crescimento da utilização da energia elétrica, o mundo busca cada vez mais eficiência em seus processos. Equipamentos eletroeletrônicos existentes em indústrias, comércios e residências utilizam circuitos eletrônicos que devem ser alimentados com energia elétrica em corrente contínua. Como a forma de distribuição de energia pelas empresas de distribuição é, predominantemente, em corrente alternada, diversos processos de conversão devem ocorrer entre ligar um equipamento e utilizá-lo. A conversão de energia elétrica em corrente alternada (CA) para corrente contínua (CC) (assim como as demais conversões que podem ser feitas, como CA-CA, CC-CC e CC-CA) pode ser feita de diversas formas, que serão mais ou menos eficientes dependendo dos aspectos a serem considerados, como dissipação de energia, custo dos componentes e tempo do projeto, de acordo com o nível de potência exigido pela carga final. Assim, compreendendo o princípio de funcionamento dos elementos da eletrônica de potência, é possível projetar e utilizar circuitos eletrônicos que façam essa conversão da energia elétrica de forma eficiente e sustentável, sem prejuízo da aplicação. CARACTERÍSTICAS DA ELETRÔNICA DE POTÊNCIA A energia elétrica já vem sendo usada pela humanidade há mais de 200 anos, suas origens remontando a relatos da eletricidade no Egito antigo e de alguns experimentos na Grécia antiga. No século XXI há uma grande dependência da população na energia elétrica. O crescimento da internet fez com que nela ficassem concentradas diversas áreas da necessidade humana, do entretenimento à disseminação de conhecimento. No entanto, para que isso seja possível, as pessoas mais e mais são dependentes de dispositivos eletrônicos. Os dispositivos eletrônicos sofrem constante evolução para que, em um pequeno dispositivo, que caiba na palma da mão, seja possível acessar toda a informação disponível na internet, além de se comunicar com pessoas ao redor de todo o mundo. Esses dispositivos contêm milhares de transistores exercendo todo o tipo de função para esse fim. E, para fornecer energia a esses transistores, baterias cada vez mais eficientes são desenvolvidas, permitindo que mais e mais energia seja armazenada em um espaço cada vez mais limitado. A energia armazenada em uma bateria, na forma de corrente contínua, é limitada e deve ser reposta em um processo que carrega a bateria. No entanto, como as distribuidoras de energia elétrica operam em corrente alternada, deve haver um processo entre a tomada das casas e o equipamento eletrônico, para transformar essa energia de corrente alternada em corrente contínua (MOHAN, 2014). Um dos processos mais básicos da eletrônica de potência é a conversão CA-CC, que consiste em transformar a energia que tem uma forma senoidal em um sinal contínuo, utilizando um dispositivo conhecido como fonte de tensão, mostrado na Figura 1, composto por uma ponte de diodos, um capacitor de filtragem e uma carga genérica. Enquanto esse circuito exerce sua função, com as crescentes demandas de energia para dispositivos, mais e mais corrente elétrica deve ser fornecida aos equipamentos, provocando uma série de efeitos em cascata: maior dissipação de potência; maior tamanho de componentes; maior espaço físico; soluções para resfriamento; etc. O exemplo da Figura 1 é apenas um dentre vários que, com a modernização da vida do ser humano, tornam-se parte do nosso cotidiano. Figura 1: Exemplo de conversor CA-CC. Fonte: autor (2021) Esse problema, no entanto, não está restrito a nós, individualmente. Com a crescente demanda por energia, as empresas de geração de energia elétrica devem buscar novas soluções com impacto ambiental cada vez menor. As soluções tradicionais (usinas hidrelétricas, termelétricas e nucleares), mesmo sendo responsáveis por gerar muita energia, acabam por trazer danos irreversíveis ao ambiente. No século XXI, a utilização da energia fotovoltaica e eólica permite que novos horizontes sejam vislumbrados, utilizando fontes de energia com baixo impacto ambiental, que trazem consigo novas necessidades de conversão e armazenamento (MOHAN, 2014). De forma a atenuar os problemas causados por essa crescente demanda por energia, soluções mais eficientes são oferecidas pelos circuitos e componentes da eletrônica de potência, que vem crescendo desde meados do século XX, oferecendo soluções eficientes em conversão de energia. COMPONENTES DA ELETRÔNICA DE POTÊNCIA Os componentes utilizados nos circuitos de eletrônica de potência se baseiam no conceito de chaveamento. Supondo que uma fonte de alimentação deve alimentar uma carga de tensão nominal menor, existem diversas estratégias a serem empregadas, desde a substituição da fonte até a utilização de um divisor de tensão resistivo. No entanto essas soluções podem não ser aceitáveis, tanto de um ponto de vista econômico (comprar uma nova fonte com o valor exatamente igual) quanto do ponto de vista da eficiência energética (pois um resistor adicional será utilizado apenas para abaixar essa tensão, fazendo com que a fonte tenha que fornecer mais energia ao circuito, que será apenas dissipada pelo divisor resistivo, sem ser utilizada) (HART, 2012). Se entre a fonte de tensão e a carga for colocada uma chave que abrirá e fechará por intervalos definidos de tempo, é possível dizer que a tensão média na carga terá o valor esperado, como ilustrado na Figura 2. Figura 2. Tensão média obtida por chaveamento. Fonte: autor (2021) Analisando os exemplos anteriores, podemos notar uma diferença na potência fornecida pela fonte ao circuito. Enquanto no circuito com divisor resistivo a fonte deve fornecer 5 W para alimentar a carga de forma satisfatória, utilizando a chave, abrindo e fechando-a em intervalos determinados, a fonte apenas fornece a energia necessária para alimentar a carga, ou seja, 2,5W. Isso significa que a fonte deverá ser projetada para a potência necessária para alimentar a carga. Considerando essa chave a ideal, temos que analisar as duas situações, dela fechada e aberta: Chave fechada: A tensão é zero (por ser ideal) e a corrente é aquela fornecida à carga. O produto dos dois será zero. Chave aberta: A tensão sobre a chave será a tensão da fonte (10 V), mas não há circulação de corrente; logo, o produto dos dois será zero. carga, sem desperdício. É claro que, em situações reais, haverá sim alguma potência sendo dissipada pela chave. O importante é perceber que essa potência será muito menor do que aquela entregue à carga, tornando a utilização de energia mais eficiente. Essas chaves são, na verdade, componentes semicondutores, que tem essa característica de conduzir ou não sob determinadas condições do circuito. Os componentes que descreveremos podem ser classificados, quanto ao seu controle de condução, em três tipos principais (RASHID, 1999): Não controlados: são aqueles componentes que dependem de características intrínsecas para permitir ou não a condução de corrente; Semicontrolados: são componentes que permitem o controle de sua condução, mas dependem de características intrínsecas para deixarem de conduzir; Totalmente controlados: são os componentes que permitem tanto o controle para a condução quanto para deixarem de conduzir. As características intrínsecas são condições de queda de tensão sob o componente ou intensidade de corrente circulando pelos terminais do componente. Diodo O DIODO O diodo é o componente fundamental da eletrônica de potência, sendo composto por material semicondutor do tipo p e do tipo n.A utilização desses dois materiais diferentes faz com que esse componente não possa ser controlado externamente, mas apenas sob certas condições existentes no circuito. Quando o diodo conduz corrente, dizemos que está polarizado diretamente, o que ocorre quando o anodo (representado por A) está em um potencial elétrico maior que o catodo (representado por K), como podemos ver na Figura 3(a). Já no caso de o diodo ser ligado de forma que o catodo fique em um potencial elétrico maior que o anodo, como mostra a Figura 3(b), ele estará polarizado reversamente, não permitindo a condução de corrente. Podemos observar na Figura 4(a) que o símbolo do diodo indica o sentido no qual ele permite conduzir (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013). Figura 3. Polarização do diodo. Fonte: autor (2021) Em um diodo real, entretanto, mais uma condição deve ser satisfeita para que haja a condução, mesmo que ele esteja polarizado diretamente. Essa condição consiste em manter uma queda de tensão acima de um determinado valor de limiar que, para um diodo de silício é de 0,7 V. TIRISTOR Também conhecido como SCR (Retificador Controlado de Silício, do inglês Silicon Controlled Rectifier), esse componente já oferece uma estrutura semicondutora mais complexa do que a do diodo, tendo um terminal extra, chamado de gatilho (ou porta em algumas literaturas; do inglês gate), como pode ser visto na Figura 4b. O gatilho tem a função de permitir que o tiristor se comporte praticamente como um diodo, caso seja injetada uma certa intensidade de corrente através dele. Na presença de uma corrente de gatilho, o tiristor, conduzirá quando a queda de tensão sobre ele for maior que a tensão de disparo direta (análoga à tensão de limiar do diodo). Quanto maior for a corrente no gatilho, menor será a tensão de disparo direta, obedecendo os limites do componente. Uma condição para o tiristor continuar conduzindo é que ele deve ter uma corrente passando em seus terminais que tenha uma intensidade maior do que um valor de sustentação (holding current), que é uma informação vital em seu manual (HART, 2012). Caso não seja injetada uma corrente no gatilho, o tiristor apenas conduzirá quando estas duas condições forem cumpridas: A queda de tensão sobre ele for maior que a tensão de disparo direta máxima; A corrente passada de seu anodo para seu catodo for maior que a corrente de sustentação. O tiristor é considerado um componente semicontrolável devido à existência de uma forma de controlar sua condução, mas não é possível controlar o momento em que ele deixa de conduzir, dependendo da intensidade da corrente que ele conduz ficar abaixo do seu valor de sustentação. GTO O GTO (do inglês Gate Turn-off Thyristor) tem as mesmas características do tiristor, com a adição da possibilidade de controlar também o momento em que este efetua o bloqueio da condução, tornando-o um componente totalmente controlável. Esse controle é feito de acordo com o sentido da corrente em seu gate, como pode ser visto em seu símbolo na Figura 4(c) (HART, 2012). DIAC O DIAC (do inglês, Diode for Alternating Current), apesar do nome, tem características mais semelhantes a um tiristor do que a um diodo. Isso se dá porque a queda de tensão necessária para permitir a condução deve alcançar um valor denominado tensão direta de ruptura (breakover voltage). Após ultrapassar esse valor, o DIAC conduzirá até que a corrente por seus terminais seja menor que a corrente de sustentação, analogamente a um tiristor sem corrente no gatilho (HART, 2012). Isso significa que seu controle de condução é feito internamente, sendo classificado como não controlável. Como as maiores aplicações do DIAC são em corrente alternada, isso significa que ele foi desenvolvido de forma a conduzir tanto para uma tensão positiva quanto para uma negativa. Assim, no seu símbolo, mostrado na Figura 4(d), podemos verificar que seus terminais não têm denominação específica, podendo ser chamados de T1 e T2, por exemplo. TRIAC Da mesma forma que o DIAC oferece similaridades a um tiristor sem corrente no gatilho, o TRIAC (do inglês, Triode for Alternating Current) já oferece controle na condução a partir da injeção de corrente em seu terminal de gatilho, fazendo com que sua tensão direta de ruptura diminua até que a corrente circule por seus terminais. Assim como o tiristor, o TRIAC é classificado como semicontrolável (HART, 2012). O símbolo do TRIAC pode ser visto na Figura 4(e). TRANSISTOR BIPOLAR Para que o transistor bipolar seja utilizado como uma chave, este deve atuar apenas nas regiões de corte (funcionando como uma chave aberta) e saturação (funcionando como uma chave fechada). Para que isso ocorra, uma característica desse tipo de componente é ter um ganho em corrente baixo, na ordem de uma dezena. Arranjos Darlington (um tipo de arranjo em cascata) permitem um aumento nesse ganho. Esse controle de corrente na base faz com que o transistor bipolar tenha condução totalmente controlável. A Figura 4(d) mostra os símbolos para os transístores NPN e PNP (HOROWITZ; HILL, 2017). TRANSISTOR DE EFEITO DE CAMPO Também conhecido pelo seu nome em inglês, FET (Field-effect Transistor), esse componente é similar ao transistor bipolar, mas chaveado pela aplicação de uma tensão entre o seu gatilho (gate, G) e sua fonte (source, S). A aplicação de uma tensão maior do que sua tensão de limiar entre os terminais de gatilho e a fonte faz com que o transistor de efeito de campo entre na região de saturação, permitindo a condução de corrente entre fonte e dreno. Quando a tensão entre gatilho e fonte for menor que a tensão de limiar, o transistor de efeito de campo entra na região de corte, não permitindo a passagem de corrente. Assim como o transistor bipolar, o transistor de efeito de campo também apresenta condução totalmente controlável (HART, 2012; MOHAN, 2014). Os símbolos para um transistor de efeito de campo do tipo canal P e do tipo canal N podem ser vistos na Figura 4(g). IGBT O IGBT (do inglês, Insulated-gate Bipolar Transistor) pode ser entendido como uma combinação entre um transistor bipolar e um transistor de efeito de campo, chaveando por tensão aplicada entre o gatilho e o emissor e permitindo uma baixa queda de tensão entre emissor e coletor. Como o IGBT apresenta características tanto do transistor bipolar quanto do transistor de efeito de campo, ele também apresenta condução totalmente controlável (HART, 2012; MOHAN, 2014). Seu símbolo é mostrado na Figura 4(h). Figura 4. Símbolos dos componentes da eletrônica de potência. Autor (2019) APLICAÇÕES DA ELETRÔNICA DE POTÊNCIA Utilizando os componentes da eletrônica de potência, diversos equipamentos podem ser desenvolvidos para uma eficiente conversão de energia, tanto no âmbito industrial quanto no âmbito residencial. FONTES CHAVEADAS Os equipamentos eletrônicos estão presentes em todos os aspectos de nossas vidas, seja no celular, no computador, na televisão, etc. Os circuitos eletrônicos, por precisarem de energia em corrente contínua para seu funcionamento, devem utilizar algum equipamento intermediário para converter a energia em corrente alternada disponível nas tomadas para que o dispositivo funcione. Esse equipamento é conhecido como fonte de tensão. Com o aumento na necessida às perdas e altas correntes, além do tamanho e peso que aumentam juntamente com a capacidade de fornecimento de corrente de uma fonte. Utilizando uma metodologia diferente, as fontes chaveadas começaram a ser disseminadas na década de 1980 e hoje predominam como forma de alimentação de circuitos eletrônicos (HART, 2012; MOHAN, 2014). As diferenças físicas entre as fontes lineares e chaveadas são devidas à utilização de transformadores com núcleo de ferrite, que, em oposição aos núcleosde ferro laminado, conseguem transmitir a mesma quantidade de fluxo em um volume muito menor de material, desde que esse fluxo esteja em uma frequência alta (na ordem das centenas de quilohertz). Isso provoca uma redução considerável de massa de uma fonte. Outra grande vantagem é sua eficiência na faixa de 85%, contra 60% das fontes lineares. INVERSORES DE FREQUÊNCIA Inicialmente desenvolvidos para o controle de velocidade de motores de indução, que têm sua velocidade proporcional à frequência da tensão alternada que os alimentam. Assim, o inversor, a partir de uma fonte CC, gera tensão CA na frequência desejada para uma determinada velocidade do motor (HART, 2012; MOHAN, 2014). Uma das formas de gerar uma tensão CA consiste no uso de um circuito de ponte H, que é composto por quatro elementos de chaveamento totalmente controláveis. A Figura 6(a) mostra um diagrama de blocos desse tipo de inversor de frequência. O controlador aciona as chaves alternadamente, gerando um sinal quadrado. Esse sinal pode ser aproximado de uma senoide utilizando várias pontes H em paralelo. Outra forma, também utilizando uma ponte H, utiliza dois sinais de referência um para a frequência da tensão de saída CA e outro para a frequência do chaveamento. Quanto maior a frequência do chaveamento, mais fiel será a tensão de saída. Na Figura 6(b) é possível ver o diagrama de blocos desse sistema. Figura 6. Diagrama de blocos de um inversor de frequência. Autor (2017) O sinal de chaveamento será uma onda quadrada onde a referência de chaveamento vai determinar quanto tempo, em cada ciclo, o valor de tensão será máximo. Assim, para cada ciclo haverá um valor médio diferente, permitindo a composição de uma tensão senoidal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013. HART, D. W. Eletrônica de potência: análise e projetos de circuitos. Porto Alegre: AMGH, 2012. HOROWITZ, P.; HILL, W. A arte da eletrônica: circuitos eletrônicos e microeletrônica. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. MOHAN, N. Eletrônica de potência: curso introdutório. Rio de Janeiro: LTC, 2014. RASHID, M. H. Eletrônica de potência: circuitos, dispositivos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999. Leituras recomendadas AHMED, A. Eletrônica de potência. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2000. ERICKSON, R. W.; MAKSIMOVIC, D. Fundamentals of power electronics. 2. ed. New York: Kluwer Academic Publishers, 2004. RASHID, M. H. Power electronics handbook. 3. ed. Oxford: Elsevier, 2011. SKVARENINA, T. L. The power electronics handbook. Florida: CRC Press, 2002. TRZYNADLOWSKI, A. M. Introduction to modern power electronics. 3. ed. New Jersey:
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