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LLPT_TopicosdeLiteraturaPortuguesa_impresso-19

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TÓPICO 01: INÊS DE CASTRO NA EPOPEIA CLASSICISTA
VERSÃO TEXTUAL
Ainda no Classicismo, mas agora no gênero epopeia (poema 
longo, narrativo, em que se relatam os feitos de um herói de uma 
determinada coletividade), vamos encontrar, em meados século XVI, 
Luís Vaz de Camões (1524/25-1579/80) compondo Os lusíadas. Ele 
insere o episódio de Inês de Castro no Canto III de seu poema épico.
Conforme lemos ali, durante a travessia rumo à Índia, a armada de 
Vasco da Gama chega a Melinde (cidade que hoje pertence ao Quênia, na 
África), cujo rei solicita ao almirante que conte a história de Portugal. Nos 
cantos III, IV e V, o Gama narra a história das duas primeiras dinastias 
portuguesas, chegando até o início da viagem. O relato de Inês ocupa 
dezessete estrofes do terceiro canto, nas quais a rainha depois de morta é 
apresentada como vítima da inexorabilidade do Amor.
Tu só, tu, puro Amor, com força crua, 
Que os corações humanos tanto obriga, 
Deste causa à molesta morte sua, 
Como se fora pérfida inimiga. 
Se dizem, fero Amor, que a sede tua 
Nem com lágrimas tristes se mitiga, 
É porque queres, áspero e tirano, 
Tuas aras banhar em sangue humano. (III, 119)
A ideia da responsabilidade do Amor pela morte de Inês já se encontrava 
em Garcia de Resende e António Ferreira (“Já morreu Dona Inês, matou-a 
Amor”, Ato IV, cena II). Em Camões, ele é apresentado como o deus Amor 
(Eros, na tradição grega), um senhor “áspero e tirano”, cuja força escraviza 
os corações. Ele não se satisfaz apenas com as lágrimas dos amantes, 
também deseja seu sangue como oferenda em seus altares. 
No entanto, a grande contribuição de Camões ao mito de Inês foi a 
criação de um contexto lírico no qual a história passaria então a ser contada. 
Até ali, peças e poemas se concentravam na narrativa dos eventos e nos 
discursos de defesa e acusação. O bardo português vai dar formas e cores ao 
ambiente (Coimbra), antropomorfizar a Natureza, trazer perfumes e 
múltiplas sensações aos episódios e conclamar figurantes a sofrer e chorar 
pelos amores de Inês e Pedro:
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 02: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 2ª PARTE
16
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