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OAB EXAME DE ORDEM DIREITO TRIBUTÁRIO Capítulo 03 1 CAPÍTULOS Capítulo 1 - Teoria Geral do Direito Tributário Capítulo 2 – Fontes do direito Tributário. Capítulo 3 (você está aqui!) – Relação jurídico-tributária. Crédito tributário. Capítulo 4 – Impostos. Capítulo 5 – Taxas e contribuições de melhoria. Capítulo 6 – Empréstimos compulsórios e contribuições. Capítulo 7 – Administração tributária e processo tributário. 2 SOBRE ESTE CAPÍTULO A apostila de número 03 do nosso curso de Direito Tributário tratará sobre Obrigação Tributária e Crédito Tributário, também conhecidos como os assuntos mais importantes de direito tributário no EXAME DE ORDEM!!!! A seguir, passaremos às considerações sobre cada tema. 1- “Obrigação Tributária” é considerado um assunto de altíssima relevância no Exame de Ordem, estando presente 10 VEZES nos últimos 3 anos! As questões de 01 a 05 versam sobre o referido assunto! 2- “Crédito Tributário” é considerado um assunto de altíssima relevância no Exame de Ordem, estando presente 14 VEZES nos últimos 3 anos! É imperioso afirmar que teve pelo menos uma questão sobre este assunto nas provas anteriores! Assim, é extremamente importante que você o estude com carinho e dedicação! As questões de 06 a 10 versam sobre o referido assunto! Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 3 SUMÁRIO DIREITO TRIBUTÁRIO .............................................................................................................................. 5 Capítulo 3 .................................................................................................................................................. 5 3. Relação Jurídico-Tributária e o Crédito Tributário ................................................................... 5 3.1 Obrigação tributária ......................................................................................................................... 5 3.1.1 Fato gerador ............................................................................................................................................................ 7 3.1.2 Sujeitos da relação tributária ........................................................................................................................ 12 3.1.2.1 Sujeito ativo ............................................................................................................................................. 12 3.1.2.2 Sujeito passivo ........................................................................................................................................ 13 3.1.2.3 Solidariedade passiva ........................................................................................................................... 14 3.1.2.4 Capacidade tributária ........................................................................................................................... 15 3.1.2.5Domicílio tributário ........................................................................................................................................... 16 3.2 Responsabilidade tributária ........................................................................................................................... 17 3.2.1 Responsabilidade dos sucessores................................................................................................... 21 3.2.2 Responsabilidade de terceiros ......................................................................................................... 25 3.2.3. Responsabilidade por infrações ................................................................................................................... 26 3.2.2.1 Denúncia espontânea .......................................................................................................................... 27 3.3 Crédito tributário ................................................................................................................................................ 27 3.3.1 Constituição do crédito tributário (lançamento) .................................................................................. 28 3.3.1.1 Lançamento de ofício/direto ............................................................................................................ 29 3.3.1.2 Lançamento por declaração/misto ................................................................................................ 30 3.3.1.3 Lançamento por homologação/autolançamento .................................................................... 31 3.3.2 Suspensão do crédito tributário .................................................................................................................. 33 3.3.3 Extinção do crédito tributário ....................................................................................................................... 41 4 3.3.4 Exclusão do crédito tributário ...................................................................................................................... 50 3.3.5 Garantias e privilégios do crédito tributário .......................................................................................... 54 QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 59 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 65 GABARITO ............................................................................................................................................... 76 QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 77 GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 78 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 80 JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 84 MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 99 5 DIREITO TRIBUTÁRIO Capítulo 3 3. Relação Jurídico-Tributária e o Crédito Tributário 3.1 Obrigação tributária Para o Direito Civil, obrigação é uma relação jurídica de caráter transitório estabelecida entre devedor e credor, e cujo objeto consiste em uma prestação pessoal e econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-se o adimplemento através do seu patrimônio (GONÇALVES, 2017). O mesmo ocorre no Direito Tributário, pois a relação jurídico- tributária é evidentemente obrigacional. Em matéria tributária, a obrigação pode se dividir em principal ou acessória, cada uma com suas próprias características1: Obrigação principal: decorre exclusivamente de lei e tem como objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária (multa). É a chamada “obrigação de dar”. Inteligência do art. 113, § 1º, do CTN; Obrigação acessória: decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações positivas ou negativas (“fazer” ou “não fazer”) no interesseda arrecadação ou fiscalização dos tributos; configura-se como um dever burocrático, sem conteúdo economicamente apreciável. Exemplo: escriturar livros fiscais. Art. 113, § 2º, do CTN. 1 Questão 1 deste capítulo. 6 Conforme exposto no capítulo 2 deste material, o artigo 96 do Código Tributário Nacional integra no conceito de legislação tributária a lei em sentido estrito, os tratados e convenções internacionais, os decretos e as normas complementares. Qualquer desses atos normativos pode instituir uma obrigação acessória (incluindo a lei em sentido estrito), mas apenas a lei (e nenhum outro componente da legislação tributária) tem o condão de criar obrigações principais, haja vista o condicionamento do Direito Tributário ao princípio da legalidade. O §3º do art. 113 do CTN estabelece que “a obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária”. É necessário atenção quanto à redação desse parágrafo: tecnicamente, não há uma conversão, pois uma obrigação não substitui a outra (exemplo: se o contribuinte deixa de escriturar livros fiscais, recebe uma multa, que não extingue a obrigação acessória originária – a de escrituração). Em resumo, o descumprimento da obrigação acessória apenas dá origem a uma principal (a penalidade pecuniária), sem excluir a primeira. 7 Insta salientar que o surgimento de uma obrigação tributária está condicionado ao preenchimento de dois requisitos, quais sejam, a ocorrência de um fato gerador e a existência de vínculo jurídico entre duas partes (sujeitos da relação tributária). Adiante, breves considerações sobre ambos os tópicos. 3.1.1 Fato gerador Segundo Kiyoshi Harada (2018), costuma-se definir fato gerador como “uma situação abstrata, descrita na lei, a qual, uma vez ocorrida em concreto enseja o nascimento da obrigação tributária”. O autor destaca, contudo, uma rejeição de parte dos doutrinadores à nomenclatura adotada pelo Código Tributário Nacional: Essa expressão fato gerador, empregada pelo CTN, tem merecido violentas críticas por certos setores da doutrina, sob a alegação de que nada gera, a não ser confusão na mente dos juristas. Por isso, preferem a expressão hipótese de incidência ou hipótese tributária para designar a descrição legislativa de um fato, e a expressão fato imponível ou fato jurídico-tributário ou ainda hipótese de incidência realizada para designar aquele fato concreto, localizado no tempo e no espaço. De qualquer modo, para compreender a dinâmica utilizada pelo legislador, é necessário entender a expressão “fato gerador” sob dois aspectos: de partida, um abstrato, referente a uma previsão normativa de uma situação que, se ocorresse, ensejaria a incidência de uma obrigação; em segundo lugar, um concreto, que consiste na efetiva ocorrência – realidade social – da situação hipotética prevista Obrigação tributária Principal Decorre da lei Tributos Penalidades pecuniárias Acessória Decorre da legislação tributária Prestações positivas ou negativas não patrimoniais 8 em lei ou legislação tributária. Exemplo: o art. 32 do CTN (lei) define como fato gerador abstrato do IPTU “a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município”; se um determinado sujeito, na prática, adquire um imóvel urbano, está configurado o fato gerador concreto desse imposto, o que implica a criação de uma obrigação tributária principal de pagamento do tributo. Em termos técnicos, um antecedente (fato gerador, derivado do Poder Descritor) gera um consequente normativo (Poder Prescritor). O art. 114 do CTN prevê que o fato gerador da obrigação principal “é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência”. De seu turno, o art. 115 do CTN define como fato gerador da obrigação acessória “qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal”. Em síntese, as obrigações acessórias se destinam a facilitar o cumprimento – e comprová-lo – das principais. O Código Tributário Nacional determinou o momento de ocorrência do fato gerador com base na seguinte classificação: Situação de fato: a situação escolhida pelo legislador para a definição do fato gerador do tributo possuía, antes do advento da norma tributária, relevância meramente econômica, não produzindo efeitos jurídicos. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se como ocorrido o fato gerador definido com base em situação de fato desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios (exemplo: as importações não eram regidas por outros ramos do direito. Neste caso, o fato gerador do Imposto de Importação se dá pelo fato em si – a entrada de produtos estrangeiros no País). Inciso I do art. 116 do CTN; Situação jurídica/de direito: a situação definida como fato gerador se enquadra com precisão em alguma hipótese já prevista em lei como geradora de consequências. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se como ocorrido o fato gerador definido com base em situação jurídica desde o momento em que esteja definitivamente constituída (aperfeiçoada), nos termos de direito aplicável (exemplo: a propriedade já era regida pelo Código Civil, que estabelece, em seu art. 1.245, que a transmissão inter vivos se dá somente pelo devido registro imobiliário. Logo, o fato gerador do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis segue essa regra, não bastando a mera transmissão fática – sem a 9 documentação apta à produção de efeitos jurídicos – de um imóvel). Inciso II do art. 116 do CTN. Imperioso destacar também as situações condicionais. De acordo com o artigo 121 do Código Civil, “considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”. No Direito Tributário isso também acontece: para se definir o momento em que o fato gerador se reputa aperfeiçoado, o CTN também classifica as condições em suspensivas e resolutivas/resolutórias: Condições suspensivas: há efeitos a partir da ocorrência de um fato. Salvo disposição de lei em contrário, a eficácia surge somente com o implemento da condição (“A” e “B” celebram um negócio estabelecendo que “A” doará um imóvel a “B” se este se casar. Neste caso hipotético, o fato gerador do ITCMD2 ocorrerá apenas com a tal doação – que depende do efetivo casamento de “B”). Inciso I do art. 117 do CTN; Condições resolutivas: seu implemento acarreta a resolução do ato ou negócio jurídico celebrado. Salvo disposição de lei em contrário, os atos ou negócios jurídicos com condição resolutória reputam-se perfeitos e acabados desde o momento da prática do ato ou da celebração do negócio (exemplo: no mesmo acordo, “A” estipula a devolução do imóvel caso “B” desfaça seu casamento. Neste caso, o negócio jurídico produz efeitos até o eventual divórcio de “B”, mas o fato gerador do ITCMD já é considerado perfeito desde a doação do imóvel – independentemente da condição resolutiva se concretizar ou não). Inciso II do art. 117 do CTN. Consoante os ensinamentos de Ricardo Alexandre (2017, p. 341-344), existem três meios para se “fugir” das obrigações tributárias, sendo estes a evasão, a elusão e a elisão: (1) Evasão fiscal: é uma conduta ilícita em que o sujeito passivo, geralmente após a ocorrência do fato gerador, pratica atos que visam a evitar o conhecimento, pela 2 Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação. 10 autoridade fiscal, do nascimento daobrigação tributária (o fato gerador ocorre, mas o contribuinte o esconde do Fisco). Exemplo: fraudar notas fiscais; (2) Elisão fiscal: é a prática, pelo sujeito passivo, de ato ou celebração de negócio legalmente previsto, com o intuito de obter isenção, não incidência ou incidência menos onerosa de determinada obrigação tributária. Tende a ocorrer antes da verificação do fato gerador. Resumidamente, trata-se de um planejamento tributário lícito. Exemplo: ao declarar renda para fins de IRPF, o contribuinte pode escolher entre o modelo completo (há abatimento dos rendimentos tributáveis de determinadas despesas, nos termos da lei tributária) e o simplificado (o contribuinte substitui as deduções que lhe seriam cabíveis por uma dedução-padrão de 20%), ainda que o segundo modelo implique redução no valor do imposto a ser recolhido; (3) Elusão fiscal/elisão ineficaz: para adquirir isenção, não incidência ou incidência menos onerosa de uma obrigação tributária, o sujeito se utiliza de uma forma artificiosa e abusiva de ato ou negócio jurídico, conferindo-lhe uma falsa aparência de licitude. Ocorre tanto antes quanto depois do fato gerador, e se trata de hipótese de simulação de negócio jurídico. Exemplo: “A” e “B” constituem sociedade de forma simulada, com o único objetivo de se beneficiarem da imunidade contida no art. 156, §2º, inciso I, da CF/1988 e, consequentemente, não serem obrigados ao recolhimento do imposto incidente sobre transmissão onerosa de bem imóvel (ITBI). O parágrafo único do artigo 116 do Código Tributário Nacional consagra a norma geral de antielisão fiscal, de acordo com a qual “a autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária”. Essa norma tem como objetivo evitar a elusão fiscal (elisão ineficaz), mas não pode desconstituir determinado negócio jurídico, apenas desconsiderá-lo (o negócio não perde a eficácia). No exemplo de elusão acima citado, o Fisco não pode extinguir a sociedade criada entre “A” e “B”, mas lhe é permitido considerar a imunidade como não caracterizada (em virtude da simulação) e efetuar normalmente a cobrança do ITBI. CUIDADO! Em tese, a norma geral de antielisão fiscal poderia coibir, também, determinadas práticas de elisão propriamente dita. No entanto, a parte final do aludido dispositivo faz expressa menção à necessidade complementação por lei, por ora inexistente, de 11 modo que a norma prevista no art. 116, parágrafo único, do CTN ainda não pode ser adotada em termos práticos para situações de planejamento financeiro (a norma é aplicável no caso de simulação em decorrência da necessidade de proteção do interesse público e da indisponibilidade do patrimônio público). Nesse sentido, já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. PREJUÍZOS FISCAIS. COMPENSAÇÃO. EMPRESA INCORPORADORA. VEDAÇÃO DO ART. 33 DO DECRETO-LEI 2.341/1987 (...) O titular da competência tributária pode através de normatização adequada excluir as zonas de não-incidência para impedir a utilização da elisão tributária. Não há o que a doutrina chamou de poder geral da Administração tributária para desconstituir atos e negócios jurídicos (a chamada norma geral antielisão) já que o art. 116, parágrafo único, do CTN é norma de eficácia limitada, carente de lei para produzir efeitos (...) (grifo nosso) (STJ, AgInt nos EDcl no REsp 1.725.911/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 12/02/2019, DJe 11/03/2019). O artigo 118 do Código Tributário Nacional preconiza que a definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se a validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como a natureza de seu objeto, ou dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. Logo, para o Direito Tributário, a capacidade tributária independe, por exemplo, da capacidade civil das pessoas naturais (a priori, um sujeito absolutamente incapaz no âmbito do Direito Civil pode figurar como contribuinte, bastando a ocorrência dos fatos geradores normativamente prescritos). Aliás, a origem do fato gerador também é irrelevante, podendo derivar até mesmo de atividades ilícitas; trata-se do princípio da pecunia non olet, sustentado pelo Supremo Tribunal Federal: 2. A jurisprudência da Corte, à luz do art. 118 do Código Tributário Nacional, assentou entendimento de ser possível a tributação de renda obtida em razão de atividade ilícita, visto que a definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica do ato efetivamente praticado, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Princípio do non olet. Vide o HC nº 77.530/RS, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 18/9/98. 3. Ordem parcialmente conhecida e denegada (STF, HC 94.240/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 23/08/2011, DJe 11/10/2011). 12 Para fins de fixação da regra matriz de incidência da obrigação tributária, o fato gerador pode ser analisado por meio de cinco critérios, assim elencados (PAVANI, 2011): Critério pessoal: relaciona os sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária; Critério quantitativo: expressa os parâmetros necessários à aferição do valor da prestação pecuniária principal (base de cálculo e a alíquota). A partir deste critério é fixado o quantum debeatur do tributo; Critério material: refere-se a aspectos substanciais do fato ou conjunto de fatos que servem de suporte à hipótese de incidência tributária. É a descrição do fato em si; Critério temporal: estabelece o momento em que se considera praticado o fato gerador; Critério espacial: determina o local de ocorrência do fato gerador. Através deste critério é definida a limitação territorial do alcance da legislação tributária. O fato gerador da obrigação tributária não pode ser considerado como um negócio jurídico, pois a vontade do agente é irrelevante para fins tributários. Por essa razão, diz-se que o fato gerador detém caráter avolitivo. 3.1.2 Sujeitos da relação tributária 3.1.2.1 Sujeito ativo Dispõe o art. 119 do CTN que o sujeito ativo da obrigação “é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento”. Pode ser classificado em direto (ente tributante com competência tributária – União, Estados, Municípios ou Distrito Federal) e indireto (outra pessoa jurídica de direito público a quem tenha sido delegada a capacidade ativa. O sujeito ativo indireto jamais possui competência tributária). 13 O art. 120 do CTN prevê uma hipótese de modificação superveniente de sujeito ativo: “salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito público, que se constituir pelo desmembramento territorial de outra, subroga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre em vigor a sua própria”. Trata-se da extraterritorialidade da legislação tributária. Desse modo, a título exemplificativo, na hipótese de desmembramento de uma parcela territorial do Estado “A” para a criação do Estado “B”, este poderá adotar as normas daquele até o advento de suas próprias, a fim de evitar lacunas legislativas e insegurança jurídica. 3.1.2.2 Sujeito passivo Segundo o art. 121 do CTN, “sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária”. Na obrigação principal, o sujeito passivo pode ser classificado em contribuinte (sujeito passivo direto, possui relação pessoal e direta com a situação que constituir o respectivo fato gerador – parágrafo único, inciso I, do art. 121 do CTN) e responsável (sujeito passivoindireto, não possui a condição de contribuinte, mas sua obrigação decorre de disposição expressa de lei – parágrafo único, inciso II, do art. 121 do CTN). Existe uma classificação econômica do contribuinte em “de direito” e “de fato”, sendo que contribuinte de direito é o que possui a obrigação legal de efetuar o pagamento do tributo, e contribuinte de fato é o que não integra a relação jurídica (não tem a obrigação legal de pagar o tributo), mas arca com o ônus fiscal (POSSAS, 2018). Exemplo: no caso dos tributos indiretos, definidos como aqueles em que o ônus do tributo é repassado ao adquirente da mercadoria, produto, serviço etc., como o ICMS, o sujeito que compra a mercadoria (consumidor) arca com o ônus referente ao aludido imposto – através da inclusão do tributo no valor total da compra –, e por isso é chamado de contribuinte (de fato), mas a obrigação de recolher o ICMS na operação permanece atrelada ao comerciante (contribuinte de direito). De outra banda, quanto à obrigação acessória, o art. 122 do CTN estabelece como sujeito Sujeito ativo Direto Tem competência e capacidade tributária ativa Indireto Tem apenas capacidade tributária ativa (por delegação) 14 passivo “a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto”. Consoante o art. 123 do CTN, as convenções particulares, salvo disposição de lei em contrário, não podem modificar a definição legal de sujeito passivo da obrigação tributária devida à Fazenda Pública. Nesse sentir, não pode o locador de um imóvel, por exemplo, transferir a titularidade da obrigação de pagar IPTU ao locatário (pois a obrigação está vinculada ao proprietário do imóvel. Vale ressaltar, porém, que é permitido transferir ao locatário a obrigação de pagar as contas de consumo diretamente com os órgãos fiscalizadores, uma vez que estas não são tributos). A existência de uma cláusula contratual privada modificando sujeito passivo de obrigação (principal ou acessória) tributária, ainda que plenamente válida entre as partes, não produz efeitos perante o Fisco. 3.1.2.3 Solidariedade passiva Preceitua o Código Civil, em seu artigo 264, que há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor ou devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. No Direito Tributário, não há solidariedade ativa, porquanto na relação jurídico-tributária o credor é a pessoa política a quem a Constituição Federal atribuiu a competência para instituir o tributo ou a quem a capacidade tributária tenha sido delegada. Quanto à solidariedade passiva, são solidariamente obrigadas, nos termos do artigo 124 do Código Tributário Nacional: (1) As pessoas com interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal (solidariedade de fato. Exemplo: dois proprietários de um mesmo imóvel, que devem o IPTU em sua integralidade, pois ambos causaram a ocorrência do fato gerador); Sujeito passivo Obrigação principal Com relação direta e pessoal Contribuinte De fato De direito Sem relação direta e pessoal Responsável Obrigação acessória Pessoa obrigada às prestações positivas ou negativas 15 (2) As pessoas expressamente designadas por lei (solidariedade de direito. Exemplo: na importação de bens, a transportadora é solidariamente obrigada ao pagamento do tributo, mesmo que não tenha realizado o fato gerador). Os sujeitos passivos solidários se responsabilizam igual e concomitantemente pelo cumprimento da obrigação, sem benefício de ordem (direito de preferência que existe no Direito Civil, a exemplo dos fiadores, que podem exigir que a execução se inicie com o locatário, contanto que haja essa previsão contratual nesse sentido). No que tange aos efeitos da solidariedade, dispõe o art. 125 do CTN da seguinte forma: Salvo disposição de lei em contrário, o pagamento realizado por um dos obrigados aproveita aos demais (pois todos são devedores de um único débito); A isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados (salvo se o benefício for específico a um dos devedores. Exemplo: por circunstâncias específicas e pessoais, um dos devedores se torna isento; nesse caso, os demais se responsabilizam pelo saldo em aberto, incluindo a parte que cabia ao que recebeu a isenção. Trata-se da característica de unidade da obrigação); A interrupção da prescrição em relação a um dos obrigados se estende aos demais (independentemente de isso ser favorável ou prejudicial a eles). 3.1.2.4 Capacidade tributária A capacidade tributária ativa se refere à possibilidade de fiscalizar e arrecadar tributos, bem como de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas, e é conferida, em um primeiro momento, aos entes federados (sujeitos ativos diretos), que também detêm a competência tributária (atribuição constitucional do poder de tributar). Todavia, a capacidade ativa – e jamais a competência, vale reiterar – pode ser transferida por eles a outras pessoas jurídicas de direito público (sujeitos ativos indiretos). 16 A delegação de capacidade tributária ativa pode ser revogada a qualquer tempo, por ato unilateral da entidade competente. Inteligência do art. 7º do Código Tributário Nacional. De seu turno, o art. 126 do CTN aduz que a capacidade tributária passiva independe: Da capacidade civil das pessoas naturais; De achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; De estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. Pela leitura desse artigo, nota-se que as regras do Direito Civil sobre capacidade não se aplicam no Direito Tributário. Por conseguinte, não há qualquer óbice à caracterização do menor (inciso I), do sujeito em exercício irregular da profissão (inciso II) e do comerciante clandestino (inciso III), por exemplo, como sujeitos passivos de obrigações tributárias (SABBAG, 2017). 3.1.2.5 Domicílio tributário Leandro Paulsen (2017) ensina que domicílio tributário “é o local em que o contribuinte receberá notificações e intimações com efeito legal. É extremamente relevante, pois o art. 23, inciso II, do Decreto n. 70.235/72, por exemplo, considera realizada a intimação ‘por via postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo’”. Em regra, o sujeito passivo pode escolher seu domicílio tributário, ressalvada a possibilidade de a autoridade administrativa recusar o local eleito, na hipótese de este dificultar ou impossibilitar a arrecadação ou a fiscalização do tributo (art. 127, §2º, do CTN). A recusa precisa ser motivada e razoável. Contudo, se o sujeito passivo deixar de eleger seu domicílio tributário, aplicam-se as regras dos incisos I, II e III do artigo 127 do Código Tributário Nacional, quais sejam: 17 Quanto às pessoas naturais, será domicílio tributário sua residência habitual ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; No que tange às pessoas jurídicas de direito privado ou firmas individuais, será o lugar de sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento (o domicílio se vincula ao local em que os fatos se deram, se o caso); Em relação às pessoas jurídicas de direito público, será qualquer de suas repartições no território da entidade tributante. Não sendo possível a aplicação das regras acima discriminadas ou na hipótese de recusa administrativa do local eleito, considera-se como domicílio tributário do sujeito passivo o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação (§1º do art. 127 do CTN)3. Frise-se que a lógica do legislador, em matéria dedomicílio tributário, é semelhante à adotada pelo Código de Processo Civil. 3.2 Responsabilidade tributária De acordo com o art. 128 do CTN, a responsabilidade tributária consiste em uma sujeição passiva indireta – sem relação pessoal e direta com a obrigação, tendo em vista que essa é uma característica própria do contribuinte –, decorrente de expressa determinação legal. CUIDADO! O responsável deve ter algum vínculo com o fato gerador da obrigação tributária, ainda que indireto e não pessoal. Quanto aos efeitos da responsabilidade, esta pode ser subsidiária (é a regra, salvo disposição de lei em contrário), solidária (depende de previsão legal, a teor do art. 124, inciso I, do CTN) ou pessoal (exclusiva – a obrigação se dirige somente ao responsável –, também decorre da atuação positiva do legislador). No que tange à classificação, embora o Código Tributário Nacional não utilize expressamente estes termos, a doutrina define que a responsabilidade pode se dar de duas modalidades: por substituição e por transferência. A responsabilidade por substituição, segundo Eduardo Sabbag (2017), é fixada pela lei antes da ocorrência do fato gerador. Não há uma alteração subjetiva, uma vez que o substituto (responsável) 3 Questão 05 18 ocupa o polo passivo da obrigação tributária desde seu nascimento . Exemplo: o empregado é contribuinte do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRRF), mas a lei atribui ao empregador o dever recolhê-lo na fonte – consequentemente, o contribuinte sequer tem acesso ao valor do imposto. Substituição tributária “para frente”/progressiva: as pessoas que se encontram em posições posteriores na cadeia de produção e circulação são substituídas no dever de pagar tributo pelas ocupantes das posições anteriores (ALEXANDRE, 2017, p. 376-377). Exemplo: uma indústria de bebidas é a responsável pelo pagamento dos tributos referentes à vendas; em uma cadeia de produção indústria – varejo – consumidor, os ocupantes das duas últimas posições (venda das bebidas feita do lojista ao consumidor) são substituídos pela indústria, anterior, que arca com o ônus – mesmo antes da ocorrência do fato gerador. Substituição tributária “para trás”/regressiva/antecedente: as pessoas que se encontram em posições anteriores na cadeia de produção e circulação são substituídas no dever de pagar tributo pelas ocupantes das posições posteriores (ALEXANDRE, 2017, p. 375). Exemplo: indústrias que adquirem matéria-prima de produtores rurais; em uma cadeia de produção produtor – indústria – varejo, o ocupante da primeira posição, anterior (produtor rural), é substituído pelo ocupante da segunda, posterior (indústria). Logo, o pagamento do tributo referente ao fato gerador provocado pelo produtor rural é adiado; diz-se, portanto, que há um diferimento do tributo. 19 1ª posição - Indústria Substituta (paga o tributo de toda a cadeia, antes da ocorrência de fatos geradores) 2ª posição - Loja Provoca um fato gerador, mas sua parcela do tributo já foi paga pela substituta 3ª posição - Consumidor Provoca um fato gerador, mas sua parcela do tributo já foi paga pela substituta 1ª posição - Produtor rural Provoca um fato gerador, mas não paga o tributo (o pagamento é adiado) 2 ª posição - Indústria Substituta do produtor rural, mas contribuinte em relação à loja 3ª posição - Loja Não integra a substituição, e paga o tributo correspondente ao fato gerador por ela causado SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA “PARA FRENTE” SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA “PARA TRÁS” 20 Em 2002, no julgamento da ADI nº 1.851/AL, o Supremo Tribunal Federal cristalizou o entendimento de que a presunção do fato gerador do ICMS (no caso da substituição tributária “para frente”, em que há pagamento antecipado e ainda não se sabe o valor exato da operação tributada) é dotada de legitimidade definitiva, não cabendo qualquer restituição ou complementação do imposto pago, salvo na hipótese de sua não realização final. Entretanto, a Corte alterou seu posicionamento em 2016, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 593.849/MG, paradigma do Tema 201 de Repercussão Geral. Na ocasião, firmou-se a tese de que o contribuinte tem direito, na sistemática da substituição tributária “para frente” em que há pagamento a maior, à diferença entre o valor recolhido antecipadamente e o efetivamente devido após a ocorrência do fato gerador. No ponto, confira-se: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS - ICMS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA PROGRESSIVA OU PARA FRENTE. CLÁUSULA DE RESTITUIÇÃO DO EXCESSO. BASE DE CÁLCULO PRESUMIDA. BASE DE CÁLCULO REAL. RESTITUIÇÃO DA DIFERENÇA. ART. 150, §7º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REVOGAÇÃO PARCIAL DE PRECEDENTE. ADI 1.851. 1. Fixação de tese jurídica ao Tema 201 da sistemática da repercussão geral: “É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida”. 2. A garantia do direito à restituição do excesso não inviabiliza a substituição tributária progressiva, à luz da manutenção das vantagens pragmáticas hauridas do sistema de cobrança de impostos e contribuições. 3. O princípio da praticidade tributária não prepondera na hipótese de violação de direitos e garantias dos contribuintes, notadamente os princípios da igualdade, capacidade contributiva e vedação ao confisco, bem como a arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS. (...) 5. De acordo com o art. 150, §7º, in fine, da Constituição da República, a cláusula de restituição do excesso e respectivo direito à restituição se aplicam a todos os casos em que o fato gerador presumido não se concretize empiricamente da forma como antecipadamente 21 tributado. (...) (STF, RE, Rel. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em 19/10/2016, DJe 31/03/2017). Ademais, na hipótese de o fato gerador acabar por não ocorrer, o art. 150, § 7º, da CF/1988 autoriza a restituição imediata e preferencial da quantia paga antecipadamente. Na responsabilidade por transferência, de outro lado, há uma verdadeira alteração subjetiva, tendo em vista que a obrigação tributária surge com um sujeito passivo, mas, por um evento descrito em lei, outra pessoa passa a ocupar o polo passivo. Feitas tais ponderações, é importante mencionar que o Código Tributário Nacional divide as hipóteses de responsabilidade em três categorias: responsabilidade dos sucessores, de terceiros e por infrações. 3.2.1 Responsabilidade dos sucessores Uma das hipóteses de responsabilidade por transferência diz respeito à sucessão, em que há uma mudança na sujeição passiva da obrigação tributária devido à impossibilidade, por questões causa mortis ou inter vivos, de o contribuinte original permanecer nessa condição. De partida, o art. 129 do CTN prevê que as normas sobre responsabilidade dos sucessores se aplicam igualmente à totalidade das obrigações tributárias do sujeito sucedido surgidas até a data da sucessão, independentemente da fase de constituição dos créditos tributários4, bastando avaliar a data do fato gerador das obrigações. Com efeito, elucida Eduardo Sabbag (2017): Em síntese, pode-se afirmar que o sucessor assume todos os débitos tributários do sucedido, relativos a fatos geradores ocorridos antes da data do ato ou fato que demarcou a sucessão, sendo irrelevante o andamento da constituição definitiva do crédito. Assim, o que vai regular o conjunto de obrigações transferidas é o fato gerador, e não o “momento do lançamento”, inibindo-se a alegação de vício de retroatividade da atuação administrativo-fiscal.No referido dispositivo, fica explicitado que os débitos conhecidos à data da sucessão, ou seja, já lançados, bem como aqueles que estiverem em via de sê-los, 4 Por ora, entenda-se constituição do crédito tributário como o procedimento pelo qual a autoridade tributária estabelece vínculo jurídico com o sujeito passivo de uma obrigação e adquire o direito de exigir seu cumprimento. 22 ou mesmo os débitos desconhecidos, mas que venham a ser posteriormente lançados, podem ser irrogados aos sucessores. O Código Tributário Nacional indica seis situações ensejadoras da responsabilidade dos devedores sucessores: (1) Sucessão imobiliária (art. 130 do CTN). Possui responsabilidade solidária (STJ, AgInt no AREsp 942.940/RJ, julgado em 15/08/2017) o adquirente de bens imóveis no que tange aos impostos cujo fato gerador seja sua propriedade, domínio útil ou posse (exemplo: IPTU), bem como às contribuições de melhoria e às taxas pela prestação de serviços referentes aos imóveis adquiridos. Tal regra não se aplica aos imóveis adquiridos por meio de hasta pública, uma vez que o valor arrecadado com o leilão de bens penhorados visa justamente a satisfazer do crédito do Poder Público; eventuais débitos tributários pendentes sobre um imóvel devem incluídos em seu valor de arrematação e se consideram quitados com a aquisição do bem ao arrematante, ainda que o preço alcançado no leilão acabe por ser inferior ao do débito tributário. Nesse sentido, a propósito, já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça: (...) 5. No enfrentamento da matéria, o Tribunal de origem lançou os seguintes fundamentos (fls. 122-123, e-STJ): "Assim, tem-se que o direito líquido e certo foi bem demonstrado. Aliás, diz-se demonstrado porque, sem dúvida, o direito existe e tem arrimo no parágrafo único do art. 130 do Código Tributário Nacional (...) Ora, a hipótese traçada no dispositivo transcrito se amolda perfeitamente ao caso. Fique bem claro que tratamos no presente caso do arrematante, não do antigo proprietário. Sendo assim, não é possível a imposição da responsabilidade tributária ao recorrido em relação ao período anterior à arrematação. Não há obstáculos, portanto, para que se expeça a certidão negativa de débitos". 6. Nos termos do artigo 130 do CTN, os créditos relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade sub-rogam-se sobre o respetivo preço quando arrematados em hasta pública, não sendo o adquirente responsável tributário pelos tributos que oneraram o bem até a data da realização da hasta. 7. Com efeito, ainda que o preço alcançado na arrematação do bem seja insuficiente para a quitação do débito tributário, o arrematante não poderá ser responsabilizado por dívidas contraídas por outrem, conforme a literalidade do parágrafo único do art. 130 do CTN. Precedentes: AgRg no Ag 1.246.665/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira turma, DJe 22/4/2010; REsp 954.176/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda turma, DJe 23/6/2009. 8. Agravo Interno a que se nega provimento (STJ, AgInt no AREsp 1.076.860/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 28/11/2017, DJe 19/12/2017). 23 Outrossim, não há responsabilidade do adquirente em relação a tributos de imóveis em cuja escritura conste menção à quitação dos tributos (certidão negativa expedida pela Fazenda Pública). Saliente-se que essa exceção prevalece inclusive na hipótese de equívoco quanto à informação constante no registro imobiliário, pois não se pode exigir o pagamento de um tributo do qual o adquirente não possuía – e sequer tinha condições para tanto – conhecimento; (2) Responsabilidade pessoal do adquirente ou remitente5, pelos tributos relacionados aos bens adquiridos ou remidos (art. 131, inciso I, do CTN). Na concepção de Eduardo Sabbag (2017), esse dispositivo se refere apenas a bens imóveis, considerando-se que os imóveis são abrangidos pelo artigo anterior. Ademais, diferentemente da regra aplicável à sucessão imobiliário, aqui não há qualquer exceção legal à regra de responsabilidade. (3) Responsabilidade pessoal do sucessor a qualquer título e do cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação (art. 131, inciso II, do CTN). Observe-se que a responsabilidade pelas dívidas tributárias se limita ao montante adquirido em decorrência da sucessão. Exemplo: um sucessor único recebe a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de herança, e responde por todas as obrigações tributárias pendentes do de cujus até esse valor, ainda que a totalidade das dívidas por ele contraídas até o momento de sua morte o ultrapassem. (4) Responsabilidade pessoal do espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão (art. 131, inciso III, do CTN). Embora o CTN o trate como tal, o espólio não é uma pessoa física ou jurídica, mas a integralidade dos bens e direitos incorporados ao patrimônio do de cujus. Note-se que a diferença em relação à hipótese anterior se dá quanto ao momento em que se finda a responsabilidade. A lógica adotada pelo legislador é simples: no momento da morte do contribuinte, ocorre a abertura da sucessão. A partir desse marco temporal, todos os bens e direitos do de cujus formam seu espólio, que deve ser utilizado para quitar todos os seus débitos tributários. Realizada a partilha ou adjudicação, o espólio deixa de existir (perdendo, assim, a qualidade de 5 Entenda-se remitente como aquele que efetua o resgate de um bem penhorado por meio do pagamento ou consignação da importância atualizada dívida (remição – art. 826 do CPC). 24 responsável tributário) e é incorporado ao patrimônio dos sucessores, sendo transmitida, concomitantemente, a responsabilidade. (5) Sucessão empresarial (art. 132 do CTN)6. Nos casos de reorganizações societárias (fusão, transformação ou incorporação de uma pessoa jurídica de direito privado a outra), as sucessoras respondem pessoalmente pelos tributos devidos pelas sucedidas até a data do ato. O mesmo se aplica nos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual. CUIDADO! Para fins de aplicação desse artigo, é irrelevante a manutenção da forma da pessoa jurídica extinta (tanto a razão social quanto a categoria de empresa podem ser alterados), bastando que a atividade realizada pelo sócio remanescente permaneça a mesma, ainda que a extinção tenha ocorrido de modo irregular ou fraudulento (art. 126, inciso III, do CTN); Súmula nº 554/STJ: “Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão”. (6) Sucessão comercial (art. 133 do CTN). Não obstante a aparente similaridade entre esta hipótese e a anterior, as consequências, para fins de responsabilidade, são diversas. De fato, a pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquire de outra fundo 6 Questão 04 • É contribuinte das obrigações pode ele contraídas até o momento de sua morte. De cujus • É responsável pelas obrigações contraídas pelo de cujus em vida. Espólio • São responsáveis nos limites da sucessão, pelas obrigações contraídas pelo de cujus em vida e pelas não resolvidas pelo espólio até o momento da partilha ou adjudicação. Sucessores 25 de comércio7 ou estabelecimento8 (sob a mesma ou outra razão social) responde pelos tributos relacionados ao que foi adquirido e devidos até a data do ato: integralmente(segundo a parcela majoritária da doutrina, o termo equivale a “pessoalmente”, embora haja divergências) se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; subsidiariamente, se o alienante continuar a atividade comercial ou iniciar uma nova em 06 (seis) meses. De acordo com os §§ 1º e 2º do ar. 132 do CTN, essa regra não se aplica nas hipóteses de alienação em processo de falência ou de recuperação judicial (no segundo caso, tratando-se de filial ou unidade produtiva isolada), ou se o adquirente for: sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial; parente, em linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios, ou; identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária. 3.2.2 Responsabilidade de terceiros Os terceiros responsabilizados são pessoas que, em determinadas situações, falharam no cumprimento de um dever legal de gestão ou vigilância do patrimônio do contribuinte. Nas hipóteses do art. 134 do CTN, os terceiros responsáveis atuam de forma regular, mas respondem de forma solidária, independentemente de dolo, com o contribuinte incapaz de cumprir a obrigação principal no que concerne aos atos em que intervierem ou às omissões de que foram responsáveis9. É o caso: (1) dos pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; (2) os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; (3) os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; (4) o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; 7 “Conjunto de bens, materiais ou imateriais, agregados pelo empresário para a consecução de suas atividades. Designa a universalidade harmônica de bens, utilizada na realização da atividade comercial. Exemplo: uma loja possui, como ‘fundo de comércio’: prateleiras, balcões, máquinas, o ponto, a clientela, a marca etc.” (SABBAG, 2017). 8 “Identificação da unidade fisicamente autônoma, na qual uma pessoa física ou jurídica realiza suas atividades comerciais. Significa a parte, a fração, e não a ‘totalidade de bens’ (típica do fundo de comércio)” (SABBAG, 2017). 9 Vide as questões 1 e 2 deste capítulo. 26 (5) o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; (6) os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; (7) os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Em matéria de multas, a solidariedade só é aplicável às penalidades pecuniárias de caráter moratório (decorrentes de atraso no pagamento do tributo). Inteligência do art. 134, parágrafo único, do CTN. De outra banda, nos casos estampados no art. 135 do CTN, os terceiros responsáveis atuam de forma irregular, violando a lei, o contrato social ou o estatuto, de modo que sua responsabilidade não é apenas solidária, mas pessoal (o terceiro responde sozinho, com todo o seu patrimônio, ficando afastada qualquer possibilidade de atribuição da sujeição passiva à pessoa que, de outra forma, estaria na posição de contribuinte). Aplica-se este artigo tanto às pessoas referidas no art. 134 do CTN quanto aos mandatários, prepostos, empregados, diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. 3.2.3. Responsabilidade por infrações Aduz o artigo 136 do Código Tributário Nacional que “salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato”. Apesar de diferente, em essência, do instituto da responsabilidade civil, é possível afirmar que o Direito Tributário consagra uma teoria civilista, qual seja, a Teoria da Responsabilidade Objetiva. As pessoas designadas como pessoalmente responsáveis por infrações são as que as cometeram, tendo com elas relação direta e pessoal. Seriam, portanto, contribuintes da multa, ainda que o Código Tributário Nacional não utilize essa palavra (é apenas uma questão de nomenclatura). De acordo com o art. 137 do CTN10, há responsabilidade pessoal do agente11: (1) quanto às infrações definidas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito (excludentes); (2) quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja imprescindível (quando não se configura a infração sem a intenção do agente). A existência de dolo é 10 Questão 03 11 Saliente-se a adoção do termo “agente”, própria do Direito Penal, o que evidencia a vinculação do tema com a ocorrência de infrações. 27 irrelevante para fins de ocorrência de fato gerador e cobrança de tributo, mas é obrigatória para que se constitua uma penalidade por infrações; (3) quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico: das pessoas referidas nos arts. 134 e 135 do CTN, quando a infração for direcionada contra as pessoas a elas relacionadas. Assim, por exemplo, os pais são pessoalmente responsáveis pelos atos cometidos por seus filhos menores (art. 134, inciso I, do CTN).12 3.2.2.1 Denúncia espontânea O agente pode confessar os ilícitos por ele cometidos através de uma “denúncia espontânea de infrações”, medida de política tributária destinada a atrair os sujeitos passivos das obrigações de volta à legalidade. Realizada a denúncia espontânea e efetuado o pagamento do tributo e dos juros de mora, a responsabilidade é excluída, ex vi do art. 138 do CTN. Não obstante, o caráter da espontaneidade se finda após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização relacionados com o ato ilícito. Assim, se o Fisco tomar ciência acerca de uma infração e proceder a uma comunicação formal ao agente, uma eventual denúncia não produzirá efeitos. Inteligência do artigo 138 do Código Tributário Nacional. 3.3 Crédito tributário Nas lições de Kiyoshi Hirada (2018), crédito tributário é a obrigação dotada de liquidez e certeza, ou seja, exigível pela autoridade tributária: Do ponto de vista material, obrigação e crédito se confundem. As partes são as mesmas, o objeto é idêntico e o vínculo jurídico, idem. Surgida a obrigação, deve a Fazenda declarar sua existência, através do lançamento, apurando o quantum e identificando o sujeito passivo, quando então, aquela obrigação passará a existir sob a denominação de crédito tributário. Disso resulta que pode existir obrigação tributária sem o crédito tributário, mas o contrário não poderá ocorrer. O art. 139 do CTN prevê que o crédito tributário decorre da obrigação principal (pagamento de tributo ou prestação pecuniária) e tem a mesma natureza desta (seria ilógico, por exemplo, uma 12 Questão 02 28 obrigação de pagar IPTU gerar um crédito tributário referente a IPVA). Não obstante, o legislador explicita a autonomia da obrigação no art. 140 do CTN, ao dispor que “as circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou que excluem sua exigibilidade não afetam a obrigação tributária que lhe deu origem”. Assim, ainda que um determinado crédito, por qualquer razão, deixe de existir, a obrigação remanesce. Uma vez constituído, o crédito pode ser dispensado somente nas hipóteses previstas pelo Código Tributário Nacional, a teor deseu artigo 141. A ideia é preservar ao máximo o interesse da autoridade tributária, tendo o legislador estipulado, inclusive, a responsabilidade funcional do agente público causador da desconstituição irregular de crédito favorável ao Fisco. 3.3.1 Constituição do crédito tributário (lançamento) Ocorrido o fato gerador, é necessário definir formalmente as particularidades da obrigação tributária, de forma a torna-la certa e líquida. Para tanto, utiliza-se um mecanismo denominado lançamento, que consiste, conforme o artigo 142 do Código Tributário Nacional, no “procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível”. É um procedimento de competência privativa da autoridade administrativa, de caráter vinculado e obrigatório (verificado o fato gerador, surge um verdadeiro dever – e não faculdade – de lançar, sob pena, novamente, de responsabilidade funcional. Inteligência do art. 142, parágrafo único, do CTN), que constitui o crédito tributário. Esse procedimento, segundo Ricardo Alexandre (2017, p. 434-435), possui natureza jurídica mista: constitutiva em relação ao crédito tributário (não existe crédito sem lançamento), mas declaratória quanto à obrigação (o lançamento tem a função de atestar de modo formal a ocorrência do fato gerador da obrigação e dotá-la de exigibilidade, não de criá-la). Tal perspectiva, aliás, foi sustentada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº 250.306/DF, Rel. Min. Garcia Vieira, 1ª Turma, julgado em 06/06/2000, DJU 01/08/2000. O artigo 144 do CTN reforça o conceito de ultratividade no Direito Tributário, ao preconizar que “o lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada”. Ressalte-se ainda que o mesmo vale, salvo disposição de lei em contrário, para a conversão em moeda nacional do valor tributário expresso em moeda estrangeiro (adota-se a taxa de câmbio da data do fato gerador, ex vi do art. 143 do CTN). 29 Prevê o §1º do art. 144 do CTN que é aplicada a legislação que, após a ocorrência do fato gerador, institua novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, amplie os poderes de investigação das autoridades administrativas ou outorgue ao crédito maiores garantias ou privilégios (exceto, neste último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros); A exceção à aplicabilidade do art. 144 do CTN se dá quanto aos impostos lançados por tempo determinado, contanto que a lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido, a exemplo do IPVA e do IPTU. Neste caso, portanto, não há ultratividade. Em prosseguimento, o artigo 145 do CTN indica que após a notificação do sujeito passivo, o lançamento só pode ser alterado em razão de: (1) impugnação do sujeito passivo; (2) recurso de ofício; (3) iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149 do CTN. Observe- se que na terceira hipótese não é necessário um prévio processo administrativo, basta a autoridade notar um erro para corrigi-lo. Por sua vez, preceitua o art. 146 do CTN que “a modificação introduzida, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução”. Desse modo, é possível alterar o lançamento efetuado em decorrência de erro de fato da autoridade administrativa ou de erro de direito do sujeito passivo (quando este, de boa-fé, apenas se utilizou de interpretação anterior da lei tributária), contanto que a mudança se refira aos fatos geradores posteriores à alteração interpretativa. Exemplo: suponha-se que a interpretação da legislação tributária seja alterada em abril/2020 e se torne mais benéfica ao contribuinte. Se este se utilizar da interpretação anterior para declarar um fato gerador de julho/2020, por exemplo, pode corrigi-lo, mas não tem o direito de fazê-lo em relação a um fato datado de janeiro/2020. O lançamento é classificado de acordo com a intensidade de participação do sujeito passivo no procedimento, em três modalidades: de ofício, por declaração ou por homologação. 3.3.1.1 Lançamento de ofício/direto Previsto pelo art. 149 do CTN, o lançamento de ofício, também chamado de direto, envolve nenhuma ou mínima participação do sujeito passivo. Nessa modalidade, a própria autoridade administrativa utiliza os dados de que dispõe a respeito do sujeito passivo, identificando-o, declarando a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, especificando a matéria tributária em 30 questão, calculando o montante do tributo devido e, se o caso, aplicando a penalidade cabível (ALEXANDRE, 2017, p. 450-451). O lançamento de ofício, de acordo com os incisos do art. 149 do CTN, dá-se quando: (1) A lei assim determina; (2) A declaração não é prestada por quem de direito no prazo e na forma da legislação tributária; (3) A pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração, deixa de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; (4) Comprovada a ocorrência de falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; (5) Comprovada a omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade de lançamento por homologação; (6) Comprovada a ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; (7) Demonstrado que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; (8) Necessário apreciar fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; (9) Demonstrada, no lançamento anterior, a ocorrência de fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. Enfim, de acordo com o parágrafo único do artigo 149 do Código Tributário Nacional, a revisão do lançamento pode ser iniciada somente enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública (o prazo para que a Fazenda constitua o crédito tributário, ou seja, realize o lançamento, é idêntico ao de sua revisão). 3.3.1.2 Lançamento por declaração/misto A modalidade prevista no art. 147 do CTN é efetuada a partir de uma declaração do sujeito passivo ou de terceiro, na forma da legislação tributária, prestando à autoridade administrativa informações factuais indispensáveis à efetivação do lançamento. Há um misto de atuação das partes na realização do procedimento, dele participando tanto o Fisco quanto o sujeito passivo da obrigação tributária. Decerto, a elaboração de declarações e sua entrega à Administração Fazendária são obrigações acessórias referentes ao fornecimento de matéria de fato, ao passo que a análise da matéria de direito para fixação do tributo fica a cargo da autoridade administrativa (ALEXANDRE, 2017, p. 451-454). 31 Os §§ 1º e 2º do art. 147 do CTN se referem à retificação da declaração, que pode acontecer de duas formas: (1) Por iniciativa do próprio declarante, quando este tiver por intuito reduzir ou excluir um tributo, contanto que seja demonstrado o erro e a alteração ocorra antes da notificação de lançamento (CUIDADO! Nenhum desses requisitos é exigido na hipótese de a retificação implicar aumento de tributo, haja vista a preponderânciado interesse público). Exemplo: um contribuinte que acidentalmente declara uma base de cálculo de R$ 100.000,00 (cem mil reais), quando o correto seria apenas R$ 10.000,00 (dez mil reais) e é capaz de comprovar não possuir o valor inicialmente declarado detém o direito à retificação; (2) De ofício, quando a autoridade administrativa encontrar erros ao revisar o lançamento. Se liga, OABeeiro! Sempre que o cálculo do tributo tiver por base, ou tome em consideração, o valor ou preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, e o sujeito passivo ou terceiro obrigado forem omissos ou apresentem declaração de fé questionável, a própria autoridade administrativa fixará o montante devido, mediante processo regular, assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa. Trata-se de uma situação atípica denominada lançamento por arbitramento, consagrada pelo art. 148 do CTN. Não é uma modalidade de lançamento propriamente dita, mas mera apuração do consequente normativo, qual seja, o arbitramento de valores (ALEXANDRE, 2017, p. 455-456). 3.3.1.3 Lançamento por homologação/autolançamento Previsto pelo art. 150 do CTN, o lançamento por homologação, também chamado de autolançamento, incide sobre os tributos cuja legislação correspondente atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem exame prévio da autoridade administrativa. Nessa modalidade 32 de lançamento, a responsabilidade de identificar a ocorrência do fato gerador e calcular o tributo é transferida ao sujeito passivo, que efetua o pagamento antecipado do tributo, sem qualquer participação da autoridade fiscal (ALEXANDRE, 2017, p. 458-460). Assim, o crédito é extinto sob condição resolutória da homologação, feita pela Administração após análise do procedimento realizado (§ 1º do art. 150 do CTN). A homologação do pagamento do tributo pode ser expressa ou tácita – esta última se a autoridade não se pronunciar no prazo devido, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. O prazo para que o pagamento seja homologado é fixado por lei; sendo omissa, adotar-se- á o prazo de 05 (cinco) anos, a contar da data do fato gerador (§ 4º do art. 150 do CTN). Súmula nº 436/STJ: “A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco”. Súmula nº 446/STJ: “Declarado e não pago o débito tributário pelo contribuinte, é legítima a recusa de expedição de certidão negativa ou positiva com efeito de negativa”. O obrigado calcula e paga o tributo, extinguindo a a obrigação sob condição resolutiva A autoridade confere o lançamento e homologa o pagamento 33 3.3.2 Suspensão do crédito tributário A constituição do crédito tem como principal efeito tornar líquida, certa e exigível a obrigação tributária. Contudo, o art. 151 do CTN estabelece um rol taxativo (devido à necessidade de interpretação literal da legislação sobre suspensão, a teor do art. 111, inciso I, do CTN) de hipóteses em que a possibilidade de promoção de atos de cobrança por parte da autoridade tributária fica suspensa, quais sejam: (i) moratória; (ii) depósito do montante integral do crédito tributário; (iii) reclamações e recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; (iv) medida liminar em mandado de segurança; (v) medida liminar ou tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; (vi) parcelamento. A suspensão pode se dar antes ou depois do lançamento. Em ambos os casos, há apenas a proibição de propositura de execução fiscal. Assim, uma causa suspensiva prévia não impede o lançamento (que é um procedimento meramente constitutivo de crédito tributário), mas obsta a exigibilidade (cobrança do crédito constituído pelo lançamento). Finalmente, de acordo com o parágrafo único do art. 151 do CTN, a suspensão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações assessórias dependentes da principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. • Art. 149 do CTN. O sujeito passivo não participa da atividade. Lançamento de ofício • Art. 147 do CTN. Há equilíbrio entre as participações dos sujeitos ativo e passivo na atividade. Lançamento por declaração • Art. 150 do CTN. O sujeito passivo realiza a atividade por conta própria, e o Poder Público apenas a chancela. Lançamento por homologação 34 Uma forma simples de se decorar as hipóteses de suspensão do crédito tributário é a utilização do seguinte mnemônico: MOR DE R e LIM PAR. (1) MORATÓRIA É um benefício excepcional consistente na dilação de prazo para pagamento do tributo13, podendo ser concedido direta e genericamente por lei (caráter geral – art. 152, inciso I, do CTN. A lei dilata o prazo para pagamento a todos, beneficiando todos os obrigados, sem distinção) ou por ato administrativo declaratório do cumprimento dos requisitos previstos em lei (caráter individual – art. 152, inciso II, do CTN. A lei restringe a abrangência do benefício às pessoas que preenchem requisitos legais específicos, de forma que sua concessão depende de requerimento à Administração). Destaque-se que ambas as modalidades decorrem da lei (o despacho administrativo, mencionado pelo inciso II do dispositivo em apreço, possui caráter meramente declaratório de direito preexistente). Sendo de caráter geral, a moratória pode ser autônoma (concedida pela entidade política competente para a instituição do tributo – art. 152, inciso I, “a”, do CTN) ou heterônoma (a União concede moratória de tributo de competência de outro ente – art. 152, inciso I, “b”, do CTN), embora haja discussão acerca da (in)constitucionalidade desta última, em razão da autonomia dos entes federativos. Consoante o art. 153 do CTN, a lei que conceder moratória em caráter geral ou autorizar sua concessão em caráter individual deverá especificar, sem prejuízo de outros requisitos: o prazo de duração do favor; as condições da concessão do favor em caráter individual; os tributos a que se aplica (se o 13 Questão 07 Moratória Genérica (caráter geral) Autônoma Concedida pelo ente competente para instituir o tributo Heterônoma Concedida pela União para tributos de competência de outros entes Específica (caráter individual) 35 caso); o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo de duração do benefício, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para cada hipótese de concessão em caráter individual (se o caso); as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual (se o caso). Salvo disposição de lei em contrário, a moratória se estende apenas aos créditos já lançados ou em fase de lançamento, ex vi do art. 153 do CTN. O mesmo artigo prevê, ainda, que o benefício não aproveita aos casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele, uma vez que o legislador visa a beneficiar somente o sujeito passivo de boa-fé que passa por dificuldades quanto ao pagamento do tributo. A concessão de moratória em caráter individual não gera direito adquirido, podendo ser revogada de ofício sempre que constatado que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições previstas em lei, ou que ele não cumpria ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor (observe-se que há certa atecnia no emprego do termo “revogação”, haja vista que, do ponto de vista do Direito Administrativo, haveria uma “anulação” ou uma “cassação” do benefício). Inteligência do art. 155, caput, do CTN. Revogada a moratória, será cobrado o crédito acrescido de juros de mora: com penalidade, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele;sem penalidade, nos demais casos. Segundo o parágrafo único do art. 155 do CTN, nos casos de aplicação de penalidade, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso de não aplicação de penalidade, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito. É uma forma, novamente, de proteger o sujeito passivo de boa-fé e dar ao Estado viabilidade para a execução fiscal do devedor de má-fé. A revogação deve ser precedida de procedimento administrativo em que sejam assegurados a ampla defesa e o contraditório. (2) DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO O sujeito passivo que discorda do lançamento pode impugná-lo, administrativa ou judicialmente. Para tanto, deverá suspender a exigibilidade do crédito tributário, a fim de impedir a autoridade tributária de ajuizar ação de execução fiscal. A forma mais viável de se fazer isso é através do depósito do montante integral do crédito tributário – não o que o sujeito passivo entende como correto, mas o efetivamente 36 exigido pela Administração (equivale à caução para concessão de efeito suspensivo na sistemática do Código de Processo Civil). De certo modo, essa ainda é a opção mais benéfica ao obrigado, uma vez que o depósito obsta a fluência dos juros de mora (ALEXANDRE, 2017, p. 468). Súmula nº 112/STJ: “O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro”. Súmula Vinculante nº 28/STF: “É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”. Da leitura desse verbete sumular se depreende que o depósito integral, embora suspenda a exigibilidade do crédito tributário, não perfaz um requisito à sua discussão pela via judicial, mormente pela restrição que tal obrigatoriedade causaria ao acesso à justiça. Ao fim do litígio, sendo vencedor o depositante, deverá ser reconhecida a improcedência total ou parcial do lançamento, e o valor depositado que não é devido à autoridade tributária poderá ser levantado por ele com os respectivos acréscimos legais. O levantamento deve ocorrer ainda que o depositante possua outros créditos tributários em aberto perante o mesmo sujeito ativo. Entretanto, caso se entenda pela regularidade do lançamento, o importe depositado será convertido em renda (destinado definitivamente aos cofres públicos), o que configura causa de extinção do crédito tributário (pois o valor já foi pago). Por fim, havendo extinção do processo sem julgamento de mérito, o valor depositado também será convertido em renda (ALEXANDRE, 2017, p. 469-470). Essa, aliás, é a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça: 2. A Primeira Seção, por ocasião do julgamento do EREsp 227.835/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, consolidou o entendimento de que os depósitos judiciais realizados com o objetivo de suspender a exigibilidade do crédito tributário somente poderão ser levantados pelo contribuinte nos casos em que ele, na questão de mérito na qual se discute a exigibilidade das respectivas exações, se consagrar vencedor. Nessa esteira, concluiu-se que, nas hipóteses em que o processo vier a ser extinto sem julgamento de mérito, os depósitos judiciais deverão ser convertidos em renda da União (STJ, AgRg no Ag 1300823/DF, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 24/05/2011, DJe 27/05/2011). 37 Em função da taxatividade das hipóteses de suspensão do crédito tributário, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.156.668/DF, paradigma do Tema Repetitivo 378, firmou a seguinte tese jurídica: "a fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado Sumular n. 112 desta Corte". O Tribunal se utilizou da mesma premissa em relação à penhora e à medida cautelar de caução: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO CAUTELAR. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. OCORRÊNCIA. (...) 2. Já decidiu o STJ que, muito embora a penhora e a Medida Cautelar de caução possam ensejar a expedição da certidão positiva de débitos com efeitos de negativa (art. 206, do CTN), não são elas meio apto a suspender a exigibilidade do crédito tributário, pois não previstas no art. 151 do CTN. Precedentes: REsp. 1.307.961/ MT, Rel. Ministro Castro Meira, DJE 12.09.2012; AgRg no REsp 1.331.172/SC, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 22.10.2013, DJE 22.11.2013(...) (STJ, AgRg no REsp 1.504.009/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 19/03/2015, DJe 06/04/2015). (3) RECLAMAÇÕES E RECURSOS, NOS TERMOS DAS LEIS REGULADORAS DO PROCESSO TRIBUTÁRIO ADMINISTRATIVO Havendo processo administrativo contra o sujeito passivo, este poderá impugnar o lançamento que julgar indevido, em obediência aos direitos constitucionais à ampla defesa e ao contraditório. Em primeira Depósito integral Processo administrativo ou judicial Procedência Levantamento do depósito Improcedência Conversão em renda Extinção sem julgamento de mérito Conversão em renda 38 instância, a impugnação é chamada de reclamação. Sendo parte vencida, o sujeito passivo também pode interpor recurso. Nos processos administrativos fiscais, toda reclamação e todo recurso, contanto que previstos em lei, têm efeito suspensivo, impedindo, até a decisão final do processo, a realização de qualquer ato de cobrança ou a inclusão do nome do reclamante ou obrigado no rol de inadimplentes. De acordo com a Súmula Vinculante nº 21/STF, “é inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo”. Em igual sentido, a Súmula nº 373/STJ: “é ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo”. Saliente-se que o contrário implicaria manifestas ofensas ao princípio da isonomia (pessoas desprovidas de condições financeiras não poderiam ter acesso às mesmas oportunidades de defesa disponíveis às mais abastadas), à garantia da ampla defesa e do contraditório (art. 5º, inciso LV, da CF/1988), e à garantia de direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra a ilegalidade e abuso de poder (art. 5º, inciso XXXIV, “a”, da CF/1988). (4) CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA Assevera o artigo 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/2009 que o mandado de segurança consiste em ação constitucional em que o juiz, ao despachar a inicial, ordena a suspensão do ato que deu motivo ao pedido, quando relevante seu fundamento, com o fito de coibir irregularidades e ilegalidades decorrentes de abuso de poder. Não é necessário que exista crédito constituído para que a ação seja ajuizada, nem que tenha ocorrido fato gerador, pois a Carta Magna proíbe que se exclua da apreciação do Poder Judiciário a lesão e a ameaça de lesão a direito. Logo, a suspensão da exigibilidade pode ser preventiva. CUIDADO! Ao conceder a liminar, não pode o juiz expedir ordem impedindo a autoridade fiscal de promover o lançamento, mas somente a exigibilidade do crédito tributário constituído. 39 Ademais, segundo o Superior Tribunal de Justiça, a revogação da liminar ocasiona a incidência de encargos moratórios (juros e multa) sobre o crédito suspenso: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE NO PERÍODO DE VIGÊNCIA DE LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. 1. No período compreendido entre a concessão de medida liminar e a denegação da ordem incide correção monetária e juros de mora oua Taxa SELIC, se for o caso. Afastada a imposição de multa de ofício (EREsp 839.962/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, julgado em 27/2/2013, DJe 24/4/2013). 2. Agravo interno não provido (STJ, AgInt no REsp 1.471.847/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 27/11/2018, DJe 07/12/2018). (5) CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR OU DE TUTELA ANTECIPADA, EM OUTRAS ESPÉCIES DE AÇÃO JUDICIAL São mecanismos aplicáveis nos casos em que não é possível ao sujeito passivo proteger seu direito via mandado de segurança, seja pela ausência dos pressupostos constitucionais da ação (liquidez e certeza do direito) ou pela perda do prazo decadencial para impetração (cento em vinte dias, a contar da ciência do ato impugnado – art. 23 da Lei nº 12.016/2009). Para que haja o deferimento da medida liminar ou tutela antecipada, é necessária a demonstração da probabilidade do direito invocado e de risco de dano ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC). (6) PARCELAMENTO Trata-se de uma medida de política fiscal a partir da qual a Administração Tributária busca recuperar créditos e criar condições práticas para que os sujeitos passivos inadimplentes tenham a possibilidade de voltar para a regularidade (ALEXANDRE, 2017, p. 486). É concedido na forma e condição estabelecidas em lei (art. 155-A, caput, do CTN), aplicando-se subsidiariamente as regras previstas para a moratória (§ 2º). O parcelamento de créditos tributários do devedor em recuperação judicial, no entanto, deve ser regido por lei específica (§ 3º)14 ou, na omissão do legislador, as regras do ente político atrelado ao devedor (§ 4º). O Superior Tribunal de Justiça, em 2018, posicionou-se pela impossibilidade de flexibilização do princípio da legalidade: “as condições para a concessão de parcelamento tributário devem 14 Questão 06 40 estrita observância ao princípio da legalidade, e não há autorização para que os atos infralegais tratem de condições não previstas na lei de regência do benefício” (STJ, REsp 1.739.641/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 21/06/2018) (Info 629). CUIDADO! Os entes federados têm liberdade para estabelecer seus próprios prazos de parcelamento, mas estes jamais poderão ser inferiores ao concedido pela lei federal específica. Inteligência do art. 155-A, § 4º, parte final, do CTN. Não confundir parcelamento com moratória parcelada. As diferenças entre os institutos podem ser assim esquematizadas: Parcelamento • Medida corriqueiramente praticada pela autoridade tributária; • Não exclui a incidência de multa e juros, salvo disposição de lei em contrário (art. 155-A, § 1º, do CTN). A autoridade tributária facilita o pagamento ao parcelá-lo, mas onera a desídia do obrigado em adimplir suas obrigações). Moratória parcelada • Medida excepcionalmente praticada pela autoridade tributária; • Pode ser concedida sem incidência de qualquer multa ou juros (a autoridade tributária reconhece que a dificuldade dos sujeitos passivos para adimplir suas obrigações tributárias decorre de eventos externos, e por isso deixa de onerá-los excessivamente). 41 3.3.3 Extinção do crédito tributário O artigo 156 do Código Tributário Nacional elenca um rol taxativo de situações que não impedem o lançamento da obrigação, mas obstam, definitivamente, a exigibilidade do crédito tributário (o crédito existe, mas é extinto). São elas: (i) pagamento; (ii) compensação; (iii) transação; (iv) remissão; (v) prescrição e decadência; (vi) conversão de depósito em renda; (vii) pagamento antecipado e a homologação do lançamento; (viii) consignação em pagamento; (ix) decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; (x) decisão judicial passada em julgado; (xi) dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei15. A verificação das causas acima elencadas afeta somente o crédito tributário (obrigação principal), não implicando extinção das obrigações acessórias. Nesse sentido, Eduardo Sabbag (2017) ensina: “quanto à extinção das obrigações, isso só pode ocorrer no que tange à obrigação principal, pois das obrigações acessórias o CTN não tratou, já que sua extinção se opera pela implementação das prestações a que elas se referem, sejam positivas ou negativas”. Feitas tais ponderações introdutórias, passar-se-á a breves comentários sobre cada causa extintiva do crédito tributário. (1) PAGAMENTO Causa mais natural de extinção das obrigações. No Direito Tributário, a multa é sempre cumulativa, ou seja, a imposição de uma penalidade não elide o pagamento integral do crédito tributário (art. 157 do CTN). Não há a opção de pagar o tributo OU multa. Diferentemente do que ocorre no Direito Civil quanto às obrigações periódicas, no Direito Tributário o pagamento parcial de um crédito não implica presunção de pagamento das prestações anteriores (art. 158 do CTN). Assim, o obrigado tem o dever de manter comprovantes de pagamento de todas as parcelas, até a data de prescrição dos respectivos créditos (a comprovação de pagamento do IPVA de 2018, por exemplo, não faz presumir a quitação do IPVA de 2017). Salvo disposição expressa da legislação tributária, o pagamento é feito na repartição competente do domicílio do sujeito passivo (art. 159 do CTN – vide regras de domicílio tributário), e vencimento do crédito ocorre trinta dias após a data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento 15 Questão 10 42 (art. 160 CTN – regra que não se aplica ao lançamento por homologação, pois nesse caso o pagamento é antecipado, não havendo notificação de lançamento e incumbindo à legislação tributária estabelecer o prazo de pagamento do tributo). Ainda há a possibilidade de concessão de desconto pela antecipação do pagamento (parágrafo único do art. 160 do CTN), ainda que tal situação não seja muito recorrente no mundo concreto. Não efetuado o pagamento no tempo, forma e lugar legalmente estabelecidos, o sujeito passivo fica em mora, que tem efeitos automáticos (mora ex re), sendo imputáveis juros e penalidades pecuniárias (art. 161 do CTN). Malgrado a possibilidade de incidência dos juros e multa de mora no dia seguinte ao do vencimento do débito, as legislações têm previsto que tal hipótese se aplica apenas às penalidades pecuniárias, incidindo os juros de mora, por outro lado, somente a partir do primeiro dia do mês seguinte ao vencimento do débito. Salvo disposição da lei em contrário, os juros de mora são calculados de forma não capitalizada, em 1% ao mês (§1º do art. 161 do CTN). Prevê o art. 162 do CTN que o pagamento pode ser feito em moeda corrente, cheque, vale postal, estampilha, papel selado ou por processo mecânico. Vale ressaltar, entretanto, que as modalidades além de dinheiro não são adotadas atualmente. A imputação em pagamento ocorre quando se verifica que um determinado sujeito passivo possui perante o mesmo sujeito ativo mais de um débito, e oferece para pagamento montante insuficiente para quitação de tudo o que deve. Para se definir quais débitos serão quitados, segue-se a ordem do art. 163 do CTN: (i) Primeiramente, dá-se preferência aos créditos em que o sujeito passivo é devedor na condição de contribuinte (obrigação própria) sobre os decorrentes de responsabilidade tributária (sem relação direta e pessoal); (ii) Não resolvida a questão com base no primeiro critério, priorizam-se as contribuições de melhoria, depois as taxas, e enfim os impostos. É uma ordem inversa do grau de retributividade (do mais retributivo para o menos retributivo); (iii) Se as duas primeiras regras não solucionarem o problema,adota-se o critério de ordem crescente dos prazos de prescrição (quita-se o tributo que prescreveria mais rápido); (iv) Como critério de desempate, não servindo as anteriores, decide-se a imputação em benefício dos créditos de valor mais elevado (ordem decrescente dos montantes). 43 Se um pagamento é considerado indevido ou maior que o devido, o montante pago a título de tributo deve ser parcial ou integralmente restituído. No ponto, preconiza o art. 165 do CTN que a restituição se dá nos seguintes casos: Cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; Erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao pagamento; Reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória. Súmula nº 546/STF: “Cabe a restituição do tributo pago indevidamente, quando reconhecido por decisão que o contribuinte ‘de jure’ não recuperou do contribuinte ‘de facto’ o ‘quantum’ respectivo”. Súmula nº 162/STJ: “Na repetição de indébito tributário, a correção monetária incide a partir do pagamento indevido”. Súmula nº 188/STJ: “Os juros moratórios, na repetição do indébito tributário, são devidos a partir do trânsito em julgado da sentença”. Imputação em pagamento 1º critério - Relação do sujeito com as obrigações 2º critério - Retributividade das obrigações 3º critério - Prescrição dos tributos 4º critério - Valor dos tributos 44 Súmula nº 523/STJ: “A taxa de juros de mora incidente na repetição de indébito de tributos estaduais deve corresponder à utilizada para cobrança do tributo pago em atraso, sendo legítima a incidência da taxa Selic, em ambas as hipóteses, quando prevista na legislação local, vedada sua cumulação com quaisquer outros índices”. A teor do art. 166 do CTN, a restituição de tributos indiretos pode ser feita apenas em duas hipóteses: Quando o contribuinte de direito comprovar que não transferiu o encargo financeiro do tributo; Quando o contribuinte de direito estiver expressamente autorizado pelo contribuinte de fato a receber a restituição. Havendo pagamento a maior de tributo, os juros e multas de mora eventualmente exigidos indevidamente também serão restituídos, proporcionalmente, salvo as penalidades pecuniárias referentes a infrações de caráter formal não prejudicadas pela causa da restituição. Inteligência do art. 167 do CTN. Conforme o art. 168 do CTN, assim como o direito de cobrar, o de pleitear a restituição se extingue em 05 (cinco) anos, contados a partir das seguintes datas: Se a restituição decorrer de cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou excessivo, da data da extinção do crédito tributário (extinção não contenciosa do crédito); Nas demais hipóteses do art. 165 do CTN, da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória (extinção contenciosa do crédito). Nos casos em que a Fazenda Pública é notadamente contrária ao pleito que o obrigado deseja formular, é possível a este ajuizar a ação de repetição de indébito mesmo sem anterior pleito administrativo, no prazo de cinco (5) anos. No entanto, se optar por formular o pedido inicialmente na via administrativa e este vier a ser indeferido, prescreve em dois (2) anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a restituição, ex vi do art. 169 do CTN. Ademais, dispõe o parágrafo único do artigo 169 do Código Tributário Nacional que o prazo prescricional é interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando pela metade (dois anos e meio) a partir da intimação válida da Fazenda Pública. No mesmo sentido, a Súmula 383/STF: “A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo”. 45 (2) COMPENSAÇÃO Instituto que se configura na hipótese de duas ou mais pessoas serem, ao mesmo tempo, credoras e devedoras umas das outras. As duas obrigações extinguem-se até o ponto em que se compensam. Inteligência do artigo 368 do Código Civil. Em matéria tributária, a compensação depende da existência de lei que estipule as respectivas condições e garantias, ou que se delegue à autoridade administrativa o encargo de fazê-lo, não bastando a mera constatação de reciprocidade de dívidas, ex vi do art. 170 do CTN. Ademais, é necessário que a dívida seja líquida, certa e de crédito vencido ou vincendo (art. 170-A do CTN). Súmula nº 212/STJ: “A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar cautelar ou antecipatória”. Prazos prescricionais na repetição de indébito Sem prévio processo administrativo: 05 anos Com prévio processo administrativo: 02 anos em favor do obrigado (apara anular a decisão) Após o ajuizamento da ação judicial pelo obrigado: 02 anos e meio em favor da Fazenda (para cobrar o tributo) 46 Súmula nº 213/STJ: “O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária”. Súmula nº 464/STJ: “A regra de imputação de pagamentos estabelecida no art. 354 do Código Civil não se aplica às hipóteses de compensação tributária”. Súmula nº 625/STJ: “O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública”. (3) TRANSAÇÃO No Direito Tributário não há transação preventiva, mas é permitida a terminativa, nos termos da lei. Desse modo, a lei pode facultar aos sujeitos da obrigação a celebração de acordo para chegarem ao fim do litígio e, em consequência, provocarem a extinção do crédito tributário. Inteligência do artigo 171 do Código Tributário Nacional. (4) REMISSÃO É a dispensa gratuita da dívida, concedida pelo credor em benefício do devedor (artigo 385 do Código Civil). Em matéria tributária, devido ao princípio da indisponibilidade do patrimônio público, pode ser concedida apenas com fundamento em lei específica (art. 150, §6º, da CF/1988). A lei pode autorizar a remissão parcial ou total do crédito tributário, atendendo, nos termos do art. 172 CTN: À situação econômica do sujeito passivo; Ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato; À diminuta importância do crédito tributário; A considerações de equidade, em relação com as características pessoais ou materiais do caso; A condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante. O despacho que concede remissão não gera direito adquirido, sendo aplicável a regra do art. 155 do CTN: 47 A concessão da remissão pode ser “revogada” de ofício, sempre que se apure que o beneficiário não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições, ou não cumpria ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor; No caso de revogação, será cobrado o crédito acrescido de juros de mora: com penalidade, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; sem penalidade, nos demais casos. Segundo o parágrafo único do art. 155 do CTN, nos casos de aplicação de penalidade, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso de não aplicação de penalidade, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito. O texto legalnão restringe a possibilidade de concessão de remissão apenas para créditos relativos a tributos, podendo abranger também valores referentes a penalidades pecuniárias e juros. (5 e 6) DECADÊNCIA e PRESCRIÇÃO A decadência é perda de um direito pelo decurso de um prazo. O prazo para que a Administração Tributária promova o lançamento é decadencial; ao revés, o prazo para o ajuizamento da ação de execução fiscal é prescricional. Logo, a decadência impede o nascimento do crédito tributário. Dispõe o artigo 17316 do Código Tributário Nacional que “o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 05 (cinco) anos”, a contar de diferentes datas, conforme esquematizado a seguir: 16 Questão 08 Decadência Lançamento definitivo Prescrição 48 De outro lado, a prescrição se verifica quando a autoridade tributária não propõe, no prazo legalmente estipulado, a ação de execução fiscal para obter a satisfação coativa do crédito tributário. O art. 174 do CTN estipula que o prazo de prescrição é de 05 (cinco) anos, contados a partir da data da constituição definitiva do crédito tributário (lançamento). Segundo o parágrafo único do artigo 174 do Código Tributário Nacional, existem as seguintes causas interruptivas da prescrição: Despacho do juiz ordenando a citação em execução fiscal; Protesto judicial; Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; Qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor (confissão de dívida). Nos três primeiros casos, a interrupção se dá em decorrência de ato praticado na seara judicial; na última, pode ocorrer em sede administrativa. Nos casos de suspensão do prazo prescricional, o prazo fica sem fluir durante o tempo em que durar a respectiva causa e, cessada esta, volta ao seu curso apenas pelo que lhe faltava. O Código Te rm o i n ic ia l d o p ra zo d e d e ca d ê n ci a d o d ir e it o d e l a n ça r Regra geral 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado (art. 173, inciso I, do CTN) Interrupção da decadência Data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento efetuado (art. 173, inciso II, do CTN) Antecipação de contagem Data do ato tendente a lançar o tributo (art 173, parágrafo único, do CTN) Lançamento por homologação Regra geral - com pagamento antecipado: data do fato gerador (art. 159, § 4º, do CTN) Com pagamento antecipado, mas mediante dolo, fraude ou simulação: 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado (art. 173, inciso I, do CTN) Sem pagamento antecipado: 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado (art. 173, inciso I, do CTN) 49 Tributário Nacional não prevê expressamente as hipóteses de suspensão da fluência do prazo prescricional, mas são admitidas, atualmente, cinco situações: A concessão de moratória, parcelamento, remissão, isenção e anistia em caráter individual e mediante procedimento fraudulento do beneficiário (nesses casos, o prazo ficará suspenso até a revogação do favor); As causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário previstas no art. 151 do CTN (hipóteses em que a suspensão durará até que o crédito volte a ser exigível); A inscrição do crédito tributário em Dívida Ativa (a suspensão durará 180 dias, ou até a distribuição da ação de execução fiscal, se esta ocorrer primeiro); A ordem judicial suspendendo o curso da execução fiscal, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora (neste caso, a suspensão deve durar um ano, após o qual o processo será arquivado e o prazo para prescrição intercorrente voltará a fluir do seu início). Inteligência do artigo 40 da Lei de Execução Fiscal; Os demais atos e fatos imputáveis ao exequente que ensejem a suspensão da própria pretensão executiva. (7) CONVERSÃO DO DEPÓSITO EM RENDA No caso de ser parcial ou total improcedente a impugnação do sujeito passivo quanto ao valor integral depositado. (8) PAGAMENTO ANTECIPADO E A HOMOLOGAÇÃO DO LANÇAMENTO Na sistemática do §1º do art. 150 do CTN, o pagamento antecipado extingue o crédito, sob condição resolutória da posterior homologação do lançamento, momento em que ocorre a extinção definitiva. (9) CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO JULGADA PELA PROCEDÊNCIA É o meio processual cabível para que o sujeito passivo exerça seu direito de pagar e obter a quitação do tributo quando tal providência é impedida por fato imputável ao credor. Ocorre nas hipóteses elencadas no art. 164 do CTN, quais sejam: Recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória; Subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; 50 Exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador (tentativa de bitributação). O consignante deposita apenas o valor que entende como devido; julgada procedente a consignação, extingue-se o crédito tributário (não há suspensão, porque o sujeito passivo não impugna o valor depositado em consignação). Inteligência do art. 164, § 2º, do CTN. (10) DECISÃO ADMINISTRATIVA IRREFORMÁVEL Para fins de extinção do crédito tributário, entenda-se decisão administrativa irreformável como “a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória”, ex vi do artigo 156, inciso IX, do Código Tributário Nacional. (11) DECISÃO PASSADA EM JULGADO Vulgo trânsito em julgado, situação em que o julgamento passa a se revestir de imutabilidade constitucionalmente protegida (artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal). (12) DAÇÃO EM PAGAMENTO EM BENS IMÓVEIS Dação em pagamento é um acordo pelo qual o credor consente em receber prestação diversa da que lhe é devida (artigo 356 do Código Civil). No Direito Tributário, as prestações se restringem a dinheiro, mas é lícito à Administração Tributária aceitar extinguir o crédito por meio da entrega de um bem imóvel (e jamais móvel!) de igual valor. Inteligência do artigo 156, inciso XI, do Código Tributário Nacional. 3.3.4 Exclusão do crédito tributário Diferentemente do que ocorre na suspensão e na extinção, a exclusão impacta diretamente a constituição do crédito tributário. Assim, a despeito da ocorrência do fato gerador e do consequente nascimento da obrigação tributária, a concessão de isenção ou anistia obsta o lançamento (SABBAG, 2017). 51 (1) ISENÇÃO É a dispensa legal do pagamento de tributo. Os arts. 150, §6º, da CF/1988 c/c 176 do CTN impõem que a concessão de isenção seja feita por intermédio de lei específica, ainda que prevista em contrato17, sendo incabível sua instituição via ato infralegal. Nessa toada, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou em favor da impossibilidade de flexibilização do princípio da legalidade tributária em matéria de isenção, ainda que fundada no objetivo de coibir tributações discriminatórias: TRIBUTÁRIO. EXTENSÃO DE ISENÇÃO FISCAL A CATEGORIA NÃO CONTEMPLADA. Não é possível ao Poder Judiciário estender benefício de isenção fiscal a categoria não abrangida por regra isentiva na hipótese de alegação de existência de situação discriminatória e ofensa ao princípio da isonomia. A concessão de isenção fiscal é ato discricionário, fundado em juízo de conveniência e oportunidade do Poder Público, não sendo possível ao Poder Judiciário, sob o pretexto de tornar efetivo o princípio da isonomia, reconhecer situação discriminatória de categorias não abrangidas pela regra isentiva e estender, por via transversa,benefício fiscal sem que haja previsão legal específica. Precedente citado do STF: RE 405.579-PR, DJ 3/8/2011. (STJ, AgRg no AREsp 248.264/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 27/11/2012, DJe 05/12/2012). 17 “A menção à ‘isenção prevista em contrato’ visa a disciplinar os casos em que governos que tentam atrair investimento para o seu território fazem um acordo com empresas, segundo o qual o Poder Público se compromete a conceder benefícios fiscais para as entidades que se instalem em seu território. O pacto, por si só, não tem o condão de efetivamente isentar a entidade que cumpra sua parte, pois a isenção necessariamente decorre de lei, como exige o princípio da indisponibilidade do patrimônio público” (ALEXANDRE, 2017, p. 572-573). Suspensão • Não impede o lançamento, mas obsta, de forma temporária, a exigibilidade do crédito tributário. Extinção • Não impede o lançamento, mas obsta, de forma definitiva, a exigibilidade do crédito tributário. Exclusão • Impede o lançamento, e o crédito tributário não chega a ser constituído. 52 CUIDADO! Não confundir isenção com não incidência, pois nesta o fato gerador sequer se configura, e naquela a obrigação tributária existe, mas não é lançada. O art. 177 do CTN assevera que, salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva às taxas e às contribuições de melhoria, nem aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão. Preceitua o art. 178 do CTN que a isenção pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104 do referido códex (anterioridade). A exceção se dá nos casos em que o benefício é concedido por prazo certo e em função de determinadas condições (isenção onerosa). Inteligência, também, da Súmula nº 544/STF: “Isenções tributárias concedidas sob condição onerosa não podem ser livremente suprimidas”. Assim como os demais benefícios fiscais, a isenção pode ser concedida em caráter geral (objetivo, atinge a generalidade dos obrigados, sem necessidade de comprovação, por parte destes, de alguma característica pessoal especial. Exemplo: isenção do Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos da caderneta de poupança) ou em caráter individual (subjetivo, mediante cumprimento de determinados requisitos. Exemplo: isenção de IPI e IOF aos deficientes físicos que adquiram veículos adaptados às suas necessidades especiais) (ALEXANDRE, 2017, p. 575-576). No caso da isenção individual/específica, a autoridade administrativa deve analisar cada caso, verificando se o interessado preencheu as condições e requisitos necessários à concessão do benefício. Inteligência do art. 179 do CTN. o A isenção específica não gera direito adquirido. Consequentemente, tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o beneficiário precisa comprovar periodicamente que continua a preencher os requisitos necessários à isenção, sob pena de revogação do benefício (§§ 1º e 2º do art. 179 do CTN). As isenções heterônomas são vedadas pelo artigo 151, inciso III, da Constituição Federal, de acordo com o qual “é vedado à União instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito 53 Federal ou dos Municípios”. Pelo princípio da simetria, a norma deve ser interpretada de forma extensiva. Assim, é inconstitucional a concessão de isenção, por um determinado ente federado, de tributo de competência de outro. (2) ANISTIA É o perdão legal das infrações, tendo como consequência a vedação ao lançamento das respectivas penalidades pecuniárias (ALEXANDRE, 2017, p. 576). Segundo o art. 180 do CTN, o benefício somente pode abranger as infrações cometidas antes da vigência da lei que a concede, sem exceção. Há dois marcos temporais que delimitam a anistia: o benefício pode ser concedido somente após o cometimento da infração (sob pena de servir de incentivo à prática de atos ilícitos) e antes do lançamento da penalidade pecuniária (se o crédito já está constituído, a dispensa pode ser realizada apenas mediante remissão). Quando às limitações materiais, o benefício não é aplicável: Aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício daquele; Salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas. Dispõe o art. 181 do CTN que a anistia pode ser concedida em caráter geral ou de forma limitada: Às infrações da legislação relativa a determinado tributo; Às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado montante; A determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares; Sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade administrativa. Enfim, o art. 182 do CTN estabelece que a isenção concedida em caráter limitado é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, mediante requerimento do interessado, e não Sem anistia Infração Possibilidade de anistia Lançamento Sem anistia 54 gera direito adquirido. Por ser similar aos benefícios concedidos em caráter individual, também são adotadas as regras de revogação do art. 155 do mesmo diploma. 3.3.5 Garantias e privilégios do crédito tributário As garantias do crédito tributário, na concepção de Paulo de Barros Carvalho (apud SABBAG, 2017), são os meios jurídicos assecuratórios do direito da autoridade tributária ao percebimento das prestações devidas pelos obrigados. Vê-se, portanto, uma preocupação do legislador em dar o máximo de eficácia ao cumprimento de obrigações tributárias, conferindo segurança e estabilidade aos respectivos créditos. O rol de garantias discriminado pelo Código Tributário Nacional é exemplificativo, abrangendo também outras criadas por lei, a teor do art. 183, caput, do CTN. A possibilidade de criação de novas garantias se justifica pela natureza ou função de determinados tributos – alguns são dotados de particularidades que podem causar maior risco de não recebimento da prestação ao ente tributante, tornando imperiosa a instituição de medidas específicas. Ressalve-se apenas que o parágrafo único do art. 183 do CTN aponta que “a natureza das garantias atribuídas ao crédito tributário não altera a natureza deste nem a da obrigação tributária a que corresponda”. O legislador tributário destacou quatro garantias, abaixo enumeradas: (1) De partida, segundo o art. 184 do CTN, todos os bens e rendas do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa falida respondem pelo pagamento do crédito tributário (sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens), inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade. A única exceção diz respeito nos bens definidos pela lei (especificamente, o artigo 833 do Código de Processo Civil) como absolutamente impenhoráveis. (2) De seu turno, o art. 185 do CTN aponta a presunção de fraude à execução fiscal quando o devedor tributário, a partir da data de inscrição do débito em Dívida Ativa, promove a alienação ou oneração de seus bens ou rendas (caput), salvo se tem reservado patrimônio suficiente para quitar a integralidade do débito (parágrafo único). CUIDADO! O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.141.990/PR, paradigma do Tema Repetitivo 290, firmou o entendimento de que a Súmula nº 375/STJ (“o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”) não é aplicável às execuções fiscais: 55 1. A lei especial prevalece sobre a lei geral (lex specialisderrogat lex generalis), por isso que a Súmula n.º 375 do Egrégio STJ não se aplica às execuções fiscais. (...) 3. A Lei Complementar n.º 118, de 9 de fevereiro de 2005, alterou o artigo 185, do CTN, que passou a ostentar o seguinte teor: "Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita." 4. Consectariamente, a alienação efetivada antes da entrada em vigor da LC n.º 118/2005 (09.06.2005) presumia-se em fraude à execução se o negócio jurídico sucedesse a citação válida do devedor; posteriormente à 09.06.2005, consideram-se fraudulentas as alienações efetuadas pelo devedor fiscal após a inscrição do crédito tributário na dívida ativa. 5. A diferença de tratamento entre a fraude civil e a fraude fiscal justifica-se pelo fato de que, na primeira hipótese, afronta-se interesse privado, ao passo que, na segunda, interesse público, porquanto o recolhimento dos tributos serve à satisfação das necessidades coletivas (...) (STJ, REsp 1.141.990/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 10/11/2010, DJe 19/11/2010). (3) A terceira garantia se refere ao art. 185-A do CTN, que estabelece que caso o devedor tributário devidamente citado não pague ou apresente bens à penhora no prazo legal, devem ser procurados bens penhoráveis; não sendo localizados, o juiz determinará a indisponibilidade dos bens e direitos do devedor (penhora on-line), comunicando a decisão aos órgãos e entidades pertinentes ao cumprimento da ordem judicial. A indisponibilidade é obrigatoriamente limitada ao valor total exigível, sendo mister o imediato levantamento da indisponibilidade do montante excedente (§1º). É um procedimento semelhante ao adotado pelo Código de Processo Civil. Súmula nº 560/STJ: “A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do art. 185-A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado, ao Denatran ou Detran”. o O esgotamento das diligências na busca de bens a serem penhorados, embora imprescindível para a decretação de indisponibilidade de bens, não é necessário para fins de autorização de penhora on line (BACENJUD, RENAJUD ou INFOJUD). 56 STJ, AgInt no REsp 1.184.039/MG, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em 28/02/2017, DJe 04/04/2017). (4) Por derradeiro, os artigos 191 a 193 do CTN aduzem que a prova de quitação de tributos (certidão negativa) é requisito para a extinção das obrigações do falido, para a concessão de recuperação judicial, para a partilha e adjudicação de bens do espólio, e para a contratação e participação em licitação com a Administração Pública. Em prosseguimento, os privilégios asseguram a superioridade do crédito tributário sobre os demais. Deveras, o art. 186 do CTN define que o crédito tributário possui preferência quase absoluta sobre os demais, independentemente da natureza ou da data de constituição destes, salvo os créditos decorrentes da legislação do trabalho e de acidente de trabalho (primeiramente são pagos os créditos trabalhistas, depois os tributários, e por fim os restantes). O parágrafo único do art. 186 do CTN discorre sobre regras específicas no que tange aos processos de falência. Neles, ainda há outros créditos que preferem ao de natureza tributária, quais sejam: créditos extraconcursais18 (art. 84 da Lei nº 11.101/2005), importâncias passíveis de restituição e 18 São extraconcursais os créditos referentes aos credores da massa falida. Tratando-se do falido em si, os créditos são concursais. Garantias do crédito tributário Sujeição de toda a renda e patrimônio à satisfação do crédito tributário Presunção de fraude na execução fiscal Indisponibilidade de bens Necessidade de quitação de tributos para fins de falência, recuperação judicial, partilha e adjudicação de bens do espólio, e contratação ou licitação com a Administração Pública 57 créditos com garantia real (no limite do valor do bem gravado). Ademais, a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados (quirografários, são os últimos a serem pagos em caso de insolvência). São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência, nos termos dos arts. 67 e 84 da Lei de Falência. O art. 188 do CTN confere a esses créditos preferência absoluta, ainda que vincendos. Havendo contestação do devedor acerca da legitimidade do crédito tributário, tal questão não deve ser avaliada pelo juiz da falência, mas pelo juízo fiscal competente (§1º). A mesma regra se aplica aos processos de concordata (§2º). CUIDADO! Na falência, a preferência dos créditos decorrentes da legislação do trabalho pode ser limitada por lei (art. 186, parágrafo único, inciso II, do CTN). Regra geral de ordem de preferência (art. 186 do CTN): Ordem de preferência em processos de falência (arts. 186, parágrafo único, do CTN c/c 83 da Lei nº 11.101/2005 – Lei de Falência e Recuperação Judicial): Por derradeiro, consoante o art. 187 do CTN, a execução fiscal não é sujeita a concurso de credores, tampouco a habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento (habilitação em juízo universal, no qual estão os demais credores). Contudo, nada impede que a cobrança do crédito tributário ocorra nessas situações. Créditos trabalhistas Créditos tributários Outros créditos Créditos trabalhistas Créditos extraconcursais, com garantia real e restituições Créditos tributários, exceto multas Créditos com privilégios Créditos quirografários Multas, incluindo as tributárias Créditos subordinados 58 O único concurso de preferência se dá entre os próprios entes federados, respeitada a seguinte ordem (parágrafo único do art. 187 CTN e artigo 29 da Lei de Execuções Fiscais): União → Estados, Distrito Federal e Territórios (conjuntamente e pro rata19) → Municípios (conjuntamente e pro rata). o Súmula nº 497/STJ: “Os créditos das autarquias federais preferem aos créditos da Fazenda estadual desde que coexistam penhoras sobre o mesmo bem”. Os créditos tributários têm preferência no processo de liquidação judicial ou voluntária de pessoas jurídicas de direito privado. Inteligência do art. 190 do CTN. Também há preferência absoluta do crédito tributário vencido ou vincendo a cargo do de cujus ou de seu espólio sobre os habilitados em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do monte (art. 189 do CTN). Havendo contestação ao crédito, o processo também deve ser remetido ao juízo fiscal competente, tal como na falência (parágrafo único). 19 Entenda-se pro rata como “proporcionalmente”. 59 QUADRO SINÓTICO RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA E CRÉDITO TRIBUTÁRIO 3.1. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA Principal: pagar tributo ou prestação pecuniária. Decorre de lei. Acessória: prestações positivas ou negativas. Decorre da legislação tributária. 3.1.1. Fato gerador (arts. 114-118, CTN) Aspectos abstrato (hipótese de incidência) e concreto (consequente normativo). Fato gerador da obrigação principal: situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Fato gerador da obrigação acessória: qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstençãode ato que não configure obrigação principal. Momento de ocorrência: o Situação de fato: desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; o Situação de direito: desde o momento em que esteja definitivamente constituída; o Negócio com condição suspensiva: desde o implemento da condição; o Negócio com condição resolutiva: desde o momento da prática do ato ou da celebração do negócio. Norma geral de antielisão. 3.1.2.1. Sujeito ativo (arts. 119-120, CTN) É a pessoa jurídica de direito público titular da competência para exigir o seu cumprimento. Art. 119, CTN). Sujeito direto (tem competência E capacidade tributária ativa) e indireto (tem apenas capacidade tributária ativa). 60 Extraterritorialidade da legislação tributária (art. 120 do CTN). 3.1.2.2. Sujeito passivo (arts. 121-123, CTN) É a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Art. 121, CTN. o Obrigação principal: contribuinte (de fato ou de direito) ou responsável. o Obrigação acessória: pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto. 3.1.2.3. Solidariedade (arts. 124-125, CTN) Não há solidariedade ativa. Solidariedade passiva: de fato (pessoas com interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal) e de direito (pessoas expressamente designadas por lei). Art. 124, CTN. Sem benefício de ordem. Efeitos da solidariedade (art. 125, CTN): o Salvo disposição de lei em contrário, o pagamento realizado por um dos obrigados aproveita aos demais; o A isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se o benefício for específico a um dos devedores; o A interrupção da prescrição em relação a um dos obrigados se estende aos demais. 3.1.2.4. Capacidade tributária (art. 126, CTN) Capacidade ativa: ente federado ou outra pessoa jurídica de direito público, por delegação revogável a qualquer tempo. Capacidade passiva (art. 126, CTN): independe o da capacidade civil das pessoas naturais; o de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; 61 o de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. 3.1.3. Domicílio tributário (art. 127, CTN) Regra geral: o sujeito passivo pode escolher seu domicílio tributário, ressalvada a possibilidade de a autoridade administrativa recusar o local eleito, na hipótese de este dificultar ou impossibilitar a arrecadação ou a fiscalização do tributo. Regras para o caso de omissão do sujeito passivo: o Quanto às pessoas naturais, será domicílio tributário sua residência habitual ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; o No que tange às pessoas jurídicas de direito privado ou firmas individuais, será o lugar de sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento (o domicílio se vincula ao local em que os fatos se deram, se o caso); o Em relação às pessoas jurídicas de direito público, será qualquer de suas repartições no território da entidade tributante. Recusa da autoridade ou impossibilidade de adoção das regras acima: lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação. 3.2. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA Sujeição passiva indireta – sem relação pessoal e direta com a obrigação. Subsidiária, solidária ou pessoal. Por substituição (“para frente” e “para trás”) e por transferência. 3.2.1. Responsabilidade dos sucessores (arts. 129-133, CTN) Sucessões: imobiliária; por aquisição e remição de bens móveis; causa mortis; comercial; empresarial. 62 3.2.2. Responsabilidade de terceiros (arts. 134-135, CTN) Dos pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; dos tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; dos administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; do inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; do síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; dos tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; dos sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. 3.2.3. Responsabilidade por infrações (arts. 136-137, CTN) Responsabilidade pessoal do agente, independentemente de dolo. 3.2.3.1. Denúncia espontânea (art. 138, CTN) Exclui a responsabilidade por infrações, contanto que realizada antes de comunicação formal por parte da autoridade tributária. 3.3. CRÉDITO TRIBUTÁRIO 3.3.1. Lançamento (arts. 142-150, CTN) Natureza jurídica mista: constitutiva em relação ao crédito tributário (não existe crédito sem lançamento), mas declaratória quanto à obrigação (o lançamento tem a função de atestar de modo formal a ocorrência do fato gerador da obrigação e dotá-la de exigibilidade, não de criá-la). Lançamento de ofício: a própria autoridade administrativa utiliza os dados de que dispõe a respeito do sujeito passivo, identificando-o, declarando a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, especificando a matéria tributária em questão, calculando o montante do tributo devido e, se o caso, aplicando a penalidade cabível. Lançamento por declaração: há um misto de atuação das partes na realização do procedimento, dele participando tanto o Fisco quanto o sujeito passivo da obrigação tributária. Decerto, a elaboração de 63 declarações e sua entrega à Administração Fazendária são obrigações acessórias referentes ao fornecimento de matéria de fato, ao passo que a análise da matéria de direito para fixação do tributo fica a cargo da autoridade administrativa. Lançamento por homologação: a responsabilidade de identificar a ocorrência do fato gerador e calcular o tributo é transferida ao sujeito passivo, que efetua o pagamento antecipado do tributo, sem qualquer participação da autoridade fiscal. Assim, o crédito é extinto sob condição resolutória da homologação, feita pela Administração após análise do procedimento realizado. 3.3.2. Suspensão do crédito tributário (arts. 151-155-A, CTN) (i) Moratória; (ii) depósito do montante integral do crédito tributário; (iii) reclamações e recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; (iv) medida liminar em mandado de segurança; (v) medida liminar ou tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; (vi) parcelamento. 3.3.3. Extinção do crédito tributário (arts. 156-174, CTN) (i) Pagamento; (ii) compensação; (iii) transação; (iv) remissão; (v) prescrição e decadência; (vi) conversão de depósito em renda; (vii) pagamento antecipado e a homologação do lançamento; (viii) consignação em pagamento; (ix) decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; (x) decisão judicial passada em julgado; (xi) dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. 3.3.4. Exclusão do crédito tributário (arts.175-182, CTN) (i) Isenção; (ii) anistia. 64 3.3.5. Garantias e privilégios do crédito tributário (arts. 183-193, CTN) Garantias são os meios jurídicos assecuratórios do direito da autoridade tributária ao percebimento das prestações devidas pelos obrigados. São elas: (i) sujeição de toda a renda e patrimônio à satisfação do crédito tributário; (ii) presunção de fraude à execução fiscal; (iii) indisponibilidadede bens e direitos; (iv) necessidade de quitação de tributos para fins de falência, recuperação judicial, partilha e adjudicação de bens do espólio, e contratação ou licitação com a Administração Pública. Privilégios asseguram a superioridade do crédito tributário sobre os demais. o Em regra, segue-se a ordem: créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho → créditos tributários → outros créditos. Exceção: processos de falência. o Concurso de preferência entre os entes federados, respeitada a seguinte ordem (parágrafo único do art. 187 CTN e artigo 29 da Lei de Execuções Fiscais): União → Estados, Distrito Federal e Territórios (conjuntamente e pro rata) → Municípios (conjuntamente e pro rata). o Os créditos tributários têm preferência no processo de liquidação judicial ou voluntária de pessoas jurídicas de direito privado. Inteligência do art. 190 do CTN. o Também há preferência absoluta crédito tributário vencido ou vincendo a cargo do de cujus ou de seu espólio sobre os habilitados em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do monte. 65 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (XXX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) A sociedade empresária ABC Ltda. foi autuada pelo Fisco do Estado Z apenas pelo descumprimento de uma determinada obrigação tributária acessória, referente à fiscalização do ICMS prevista em lei estadual (mas sem deixar de recolher o tributo devido). Inconformada, realiza a impugnação administrativa por meio do auto de infração. Antes que sobreviesse a decisão administrativa da impugnação, outra lei estadual extingue a previsão da obrigação acessória que havia sido descumprida. Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta. A) A lei estadual não é instrumento normativo hábil para extinguir a previsão dessa obrigação tributária acessória referente ao ICMS, em virtude do caráter nacional desse tributo. B) O julgamento administrativo, nesse caso, deverá levar em consideração apenas a legislação tributária vigente na época do fato gerador. C) Não é possível a extinção dos efeitos da infração a essa obrigação tributária acessória após a lavratura do respectivo auto de infração. D) A superveniência da extinção da previsão dessa obrigação acessória, desde que não tenha havido fraude, nem ausência de pagamento de tributo, constitui hipótese de aplicação da legislação tributária a ato pretérito. Comentário CTN, art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: [...] II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: [...] b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência 66 de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; [...] QUESTÃO 2 (XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV 2019) Pedro tem três anos de idade e é proprietário de um apartamento. Em janeiro deste ano, o Fisco notificou Pedro para o pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por meio do envio do carnê de cobrança ao seu endereço. Os pais de Pedro, recebendo a correspondência, decidiram não pagar o tributo, mesmo possuindo recursos suficientes para tanto. Diante da impossibilidade de cumprimento da obrigação por Pedro, assinale a afirmativa correta. A) Os pais de Pedro devem pagar o tributo, na qualidade de substitutos tributários. B) O Fisco deverá aguardar Pedro completar 18 anos para iniciar o processo de execução da dívida. C) Os pais de Pedro responderão pelo pagamento do tributo, uma vez que são responsáveis tributários na condição de terceiros. D) O Fisco deve cobrar o tributo dos pais de Pedro, já que são contribuintes do IPTU. Comentário CAPÍTULO V - Responsabilidade Tributária SEÇÃO III - Responsabilidade de Terceiros 67 CTN, art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; QUESTÃO 3 (XXVII EOU FGV 2018) A pessoa jurídica Sigma teve lavrado contra si um auto de infração. A autuação fiscal lhe impôs multa pela falta de exibição de notas fiscais durante um determinado período. Após ser citada em sede de execução fiscal, a pessoa jurídica Sigma alegou, em embargos à execução, que não apresentou as notas fiscais porque elas haviam sido furtadas por seu antigo gerente geral, que, com elas, praticara ilícito criminal, tendo sido, por isso, condenado na esfera penal por sonegação fiscal e furto daquelas notas. Com base nessa narrativa, no que tange ao pagamento da multa tributária, assinale a afirmativa correta. A) A responsabilidade é pessoal do antigo gerente por ter cometido infração conceituada na lei como crime. B) A empresa deve arcar com o pagamento da multa, sendo possível, posteriormente, uma ação de regresso em face do antigo gerente geral. C) O antigo gerente não pode ser responsabilizado na esfera cível/tributária, por já ter sido condenado na esfera penal. D) O caso é de responsabilidade solidária, por ter a empresa nomeado o antigo gerente para cargo de tamanha confiança. Comentário 68 Essa questão foi a reprodução do artigo 137 do CTN da matéria responsabilidade tributária, dita por infrações. Art. 137. A responsabilidade é pessoal ao agente: I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito; III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico: c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, contra estas. QUESTÃO 4 (XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) A pessoa jurídica XXX é devedora de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), além de multa de ofício e de juros moratórios (taxa Selic), relativamente ao exercício de 2014. O referido crédito tributário foi devidamente constituído por meio de lançamento de ofício, e sua exigibilidade se encontra suspensa por força de recurso administrativo. No ano de 2015, a pessoa jurídica XXX foi incorporada pela pessoa jurídica ZZZ. Sobre a responsabilidade tributária da pessoa jurídica ZZZ, no tocante ao crédito tributário constituído contra XXX, assinale a afirmativa correta. A) A incorporadora ZZZ é responsável apenas pelo pagamento da CSLL e dos juros moratórios (taxa Selic). B) A incorporadora ZZZ é integralmente responsável tanto pelo pagamento da CSLL quanto pelo pagamento da multa e dos juros moratórios. 69 C) A incorporadora ZZZ é responsável apenas pelo tributo, uma vez que, em razão da suspensão da exigibilidade, não é responsável pelo pagamento das multas e dos demais acréscimos legais. D) A incorporadora ZZZ é responsável apenas pela CSLL e pela multa, não sendo responsável pelo pagamento dos juros moratórios. Comentário Art. 132 CTN e Súmula 554 STJ: Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. (Súmula 554, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015, DJ 15/12/2015) O novo enunciado dispõe que, em casos de sucessão empresarial (cisão, fusão, incorporação, transformação ou alienação), todo o passivo tributário, incluindo-se aí as multas punitivas e moratórias, fica sob a responsabilidade da empresa sucessora. QUESTÃO 5 (XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Considere que Luís é um andarilho civilmente capaz que não elegeu nenhum lugar como seu domicílio tributário, não tem domicílio civil, nem residência fixa, e não desempenha habitualmente atividadesem endereço certo. A partir da hipótese apresentada, de acordo com o Código Tributário Nacional e no silêncio de legislação específica, assinale a afirmativa correta. A) Luís nunca terá domicílio tributário. B) O domicílio tributário de Luís será o lugar da situação de seus bens ou da ocorrência do fato gerador. C) O domicílio tributário de Luís será, necessariamente, a sede da entidade tributante. 70 D) O domicílio tributário de Luís será a residência de seus parentes mais próximos ou o lugar da situação dos bens de Luís. Comentário Conforme CÓDIGO TRIBUNAL NACIONAL: Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se como tal: I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento; III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante. § 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos deste artigo, considerar-se-á como domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação. § 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo anterior. QUESTÃO 6 71 (XXXI EXAME DE ORDEM – FGV -2020) Uma sociedade empresária em recuperação judicial requereu, perante a Secretaria Estadual de Fazenda do Estado X, o parcelamento de suas dívidas tributárias estaduais. O Estado X dispunha de uma lei geral de parcelamento tributário, mas não de uma lei específica para parcelamento de débitos tributários de devedor em recuperação judicial. Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta. A) O parcelamento não pode ser concedido caso inexista lei específica estadual que disponha sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial. B) O prazo de parcelamento a ser concedido ao devedor em recuperação judicial quanto a tais débitos para com o Estado X não pode ser inferior ao concedido por lei federal específica de parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial. C) O parcelamento do crédito tributário exclui a incidência de juros, em regra, no caso de devedor em recuperação judicial. D) O parcelamento do crédito tributário exclui a incidência de multas, em regra, no caso de devedor em recuperação judicia Comentário Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica. § 3o Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial. § 4o A inexistência da lei específica a que se refere o § 3o deste artigo importa na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica. QUESTÃO 7 72 (XXX EXAME DE ORDEM – FGV 2019) No final do ano de 2018, o Município X foi gravemente afetado por fortes chuvas que causaram grandes estragos na localidade. Em razão disso, a Assembleia Legislativa do Estado Y, em que está localizado o Município X, aprovou lei estadual ordinária concedendo moratória quanto ao pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) do ano subsequente, em favor de todos os contribuintes desse imposto situados no Município X. Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta. A) Lei ordinária não é espécie normativa adequada para concessão de moratória. B) Lei estadual pode conceder moratória de IPTU, em situação de calamidade pública ou de guerra externa ou sua iminência. C) Lei estadual não pode, em nenhuma hipótese, conceder moratória de IPTU. D) A referida moratória somente poderia ser concedida mediante despacho da autoridade administrativa em caráter individual. Comentário Moratória: Significa dilação de prazo para pagamento do tributo, podendo ser concedida genericamente por lei (forma direta) ou por ato adm. declaratório do cumprimento dos requisitos previstos na lei (forma indireta). CTN, art. 152. A moratória somente pode ser concedida: I - em caráter geral: a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que se refira; [...] CF, art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana [IPTU]; [...] 73 QUESTÃO 8 (XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) A Fazenda Pública apurou que fato gerador, ocorrido em 12/10/2007, referente a um imposto sujeito a lançamento por declaração, não havia sido comunicado pelo contribuinte ao Fisco. Por isso, efetuou o lançamento de ofício do tributo em 05/11/2012, tendo sido o contribuinte notificado desse lançamento em 09/11/2012, para pagamento em 30 dias. Não sendo a dívida paga, nem tendo o contribuinte impugnado o lançamento, a Fazenda Pública inscreveu, em 05/10/2017, o débito em dívida ativa, tendo ajuizado a ação de execução fiscal em 08/01/2018. Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta. A) A cobrança é indevida, pois o crédito tributário foi extinto pelo decurso do prazo decadencial. B) A cobrança é indevida, pois já teria se consumado o prazo prescricional para propor a ação de execução fiscal. C) A cobrança é devida, pois a inscrição em dívida ativa do crédito tributário, em 05/10/2017, suspendeu, por 180 dias, a contagem do prazo prescricional para propositura da ação de execução fiscal. D) A cobrança é devida, pois não transcorreram mais de 10 anos entre a ocorrência do fato gerador (12/10/2007) e a inscrição em dívida ativa do crédito tributário (05/10/2017). Comentário O lançamento [natureza jurídica mista] declara a obrigação tributária e constitui o crédito tributário. CTN, art. 173. O direito de a FP constituir o crédito tributário extingue-se após 5 anos [prazo decadencial], contados: I - do 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; 01/01/2008 - início do prazo decadencial. 31/12/2012 - término do prazo decadencial. CTN, art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 anos, contados da data da sua constituição definitiva 74 A prescrição quinquenal para a cobrança dos tributos sujeitos a lançamento de ofício é contada da data de sua constituição definitiva, ou seja, quando já não caiba recurso adm. ou findo o prazo para sua interposição. (STJ - jurisprudência em teses). QUESTÃO 9 (XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) O médico João da Silva está há 4 (quatro) anos sem pagar a anuidade cobrada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM). Diante desse cenário, o CRM poderá A) inscrever o débito em dívida ativa de natureza tributária, depois promovendo a competente ação de execução fiscal, regida pela Lei nº 6.830/80, para cobrança. B) promover a competente ação de execução fiscal regida pela Lei nº 6.830/80, sem necessidade de inscrição em dívida ativa, por serem as certidões de inadimplemento de anuidades expedidas pelos conselhos profissionais dotadas de natureza de título executivo extrajudicial. C) promover a competente ação de cobrança das anuidades, regida pelo Código de Processo Civil, a partir da comprovação do não pagamento das anuidades em atraso. D) promover a competente ação de execução das anuidades, regida pelo Código de Processo Civil, por serem as certidões de inadimplemento de anuidades expedidas pelos conselhos profissionais dotadasde natureza de título executivo extrajudicial. Comentário Depois do LANÇAMENTO fica instituído o CRÉDITO TRIBUTÁRIO, aqui acaba a cobrança pelas vias administrativas, se esta não for paga, o sujeito ativo (ente federativo competente) inscreverá esse débito em DÍVIDA ATIVA, inscrevendo-o no CADASTRO DE DÍVIDA ATIVA, que o possibilitará de promover a EXECUÇÃO FISCAL. QUESTÃO 10 75 (XXVII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) A sociedade empresária ABC, atuante na área de prestação de serviços de limpeza, em dificuldades financeiras, não estava conseguindo realizar o pagamento dos tributos federais. Diante disso, ela se ofereceu à Administração Pública Federal para realizar o pagamento dos tributos mediante prestação direta de serviços de limpeza em prédios públicos ou, alternativamente, transferir para o Fisco um imóvel de sua propriedade. A respeito desse cenário, assinale a afirmativa correta. A) As propostas são inadmissíveis, pois os tributos somente podem ser pagos em dinheiro. B) As propostas são admissíveis, em razão do princípio da menor onerosidade para o devedor (favor debitoris). C) A proposta de transferência de imóvel do contribuinte para a Fazenda Pública Federal para pagamento de tributo é admissível por expressa permissão legal. D) A proposta de prestação direta de serviços para pagamento de tributo é admissível, em circunstâncias excepcionais, como forma subsidiária de garantia do recebimento do crédito pela Fazenda Pública. Comentário CTN - Art. 156. Extinguem o crédito tributário: XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. 76 GABARITO Questão 1 – D Questão 2 – C Questão 3 – A Questão 4 – B Questão 5 – B Questão 6 – B Questão 7 – C Questão 8 – C Questão 9 – A Questão 10 – C 77 QUESTÃO DESAFIO Quais são as modalidades de exclusão do crédito tributário e o que as diferencia? Máximo de 5 linhas 78 GABARITO QUESTÃO DESAFIO Excluem o crédito tributário a isenção e a anistia (CTN, art. 175,I e II).A isenção exclui o crédito e impede a incidência da norma de tributação; a anistia se refere só às penalidades vindas do inadimplemento do crédito por parte do contribuinte(o crédito permanece; a exclusão é só da penalidade). Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Art. 175 do CTN Questões referentes ao crédito tributário têm tido alta incidência nas provas preambulares do MPSC; logo, entre as prováveis perguntas que o examinador fará, é alta a probabilidade de haver algo relacionado ao tema. E, neste ano, a aposta do Diego é que apareça algo sobre a exclusão do crédito tributário. As hipóteses de exclusão estão no art. 175 do CTN, que assim dispõe: Art. 175. Excluem o crédito tributário: I - a isenção; II - a anistia. Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente. Isenção A inversão do ônus da prova não pode gerar para a parte a prova impossível ou excessivamente difícil de se realizar (prova diabólica). Continua inaplicável a negociação A isenção é a dispensa do pagamento do tributo que impede a incidência da norma de tributação. Note que o fato gerador ocorre normalmente, mas não alcança a etapa de lançamento do crédito. A concessão da isenção deve se dar por meio de lei específica, conforme prevê o art. 150, § 6º, da CRFB: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente 79 tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993). Anistia A anistia é o perdão que alcança as penalidades pecuniárias, como a multa, e só se refere às infrações cometidas antes da entrada em vigor da lei que a concede (diz respeito a atos pretéritos). MAS ATENÇÃO! Por expressa previsão legal (CTN, art. 180), a anistia não se aplica: "I - aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício daquele; II - salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas". 80 LEGISLAÇÃO COMPILADA Capacidade tributária Código Tributário Nacional: 7º; 126. Domicílio tributário Código Tributário Nacional: 127. Exclusão do crédito tributário Código Tributário Nacional: 175-182. Constituição Federal: 150, § 6º. Súmulas: 544, do STF. Extinção do crédito tributário Código Civil: 356; 385. Código Tributário Nacional: 156-174. Súmulas o STF: 523, 546. o STJ: 162, 188, 212, 213, 464, 625. Fato gerador Código Civil: 121. Código Tributário Nacional: 114-118. Garantias e privilégios do crédito tributário Código de Processo Civil: 833. Código Tributário Nacional: 183-193. Súmula: 497 e 560, do STJ. 81 Lançamento do crédito tributário Código Tributário Nacional: 142-150. Noções gerais de sujeitos da relação tributária Código Tributário Nacional: 119-123. Obrigação tributária Código Tributário Nacional: 96; 113. Responsabilidade tributária Código Tributário Nacional: 128-137. Constituição Federal: 150, § 7º. Súmula: 554, do STF. Solidariedade tributária Código Civil: 264. Código Tributário Nacional: 124-125. Suspensão do crédito tributário Código de Processo Civil: 300. Código Tributário Nacional: 111; 151-155-A. Lei nº 12.016/2009: 7º, inciso III; 23. Súmulas o STF: 21 (Vinculante), 28 (Vinculante). o STJ: 112, 373. Súmula Vinculante nº 21, STF É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. Súmula Vinculante nº 28/STF 82 É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. Súmula nº 544, STF Isenções tributárias concedidas sob condição onerosa não podem ser livremente suprimidas. Súmula nº 546, STF Cabe a restituição do tributo pago indevidamente, quando reconhecido por decisão que o contribuinte ‘de jure’ não recuperou do contribuinte ‘de facto’ o ‘quantum’ respectivo. Súmula nº 112, STJ O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro Súmula nº 373, STJ É ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo. Súmula nº 554, STJ Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. Súmula nº 560, STJ A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do art. 185-A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado, ao Denatran ou Detran. Súmula nº 625, STJ 83 O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem oda execução de título judicial contra a Fazenda Pública. 84 JURISPRUDÊNCIA Exclusão do crédito tributário STJ, AgRg no AREsp 248.264/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 27/11/2012, DJe 05/12/2012 TRIBUTÁRIO. EXTENSÃO DE ISENÇÃO FISCAL A CATEGORIA NÃO CONTEMPLADA. Não é possível ao Poder Judiciário estender benefício de isenção fiscal a categoria não abrangida por regra isentiva na hipótese de alegação de existência de situação discriminatória e ofensa ao princípio da isonomia. A concessão de isenção fiscal é ato discricionário, fundado em juízo de conveniência e oportunidade do Poder Público, não sendo possível ao Poder Judiciário, sob o pretexto de tornar efetivo o princípio da isonomia, reconhecer situação discriminatória de categorias não abrangidas pela regra isentiva e estender, por via transversa, benefício fiscal sem que haja previsão legal específica. Precedente citado do STF: RE 405.579-PR, DJ 3/8/2011. Garantias e privilégios do crédito tributário STJ, REsp 1.141.990/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 10/11/2010, DJe 19/11/2010 (Tema Repetitivo 290) PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE À EXECUÇÃO FISCAL. ALIENAÇÃO DE BEM POSTERIOR À CITAÇÃO DO DEVEDOR. INEXISTÊNCIA DE REGISTRO NO DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO - DETRAN. INEFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO. INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA. ARTIGO 185 DO CTN, COM A REDAÇÃO DADA PELA LC N.º 118/2005. SÚMULA 375/STJ. INAPLICABILIDADE. 1. A lei especial prevalece sobre a lei geral (lex specialis derrogat lex generalis), por isso que a Súmula n.º 375 do Egrégio STJ não se aplica às execuções fiscais. (...) 3. A Lei Complementar n.º 118, de 9 de fevereiro de 2005, alterou o artigo 185, do CTN, que passou a ostentar o seguinte teor: "Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita." 4. Consectariamente, a alienação efetivada antes da entrada em vigor da LC n.º 118/2005 (09.06.2005) presumia-se em fraude à execução se o negócio jurídico sucedesse a citação válida do devedor; posteriormente à 09.06.2005, consideram-se fraudulentas 85 as alienações efetuadas pelo devedor fiscal após a inscrição do crédito tributário na dívida ativa. 5. A diferença de tratamento entre a fraude civil e a fraude fiscal justifica-se pelo fato de que, na primeira hipótese, afronta-se interesse privado, ao passo que, na segunda, interesse público, porquanto o recolhimento dos tributos serve à satisfação das necessidades coletivas (...) STJ, AgInt no REsp 1.184.039/MG, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em 28/03/2017, DJe 04/04/2017 PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA PELO SISTEMA BACEN-JUD. DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DAS DILIGÊNCIAS PARA LOCALIZAÇÃO DE BENS. MATÉRIA DECIDIDA EM RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO À SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC/73. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015 no julgamento do Agravo Interno. II - Esta Corte, em precedentes submetidos ao rito do art. 543-C, firmou entendimento segundo o qual é desnecessário o esgotamento das diligências na busca de bens a serem penhorados a fim de autorizar-se a penhora on line (sistemas BACEN-JUD, RENAJUD ou INFOJUD), em execução civil ou execução fiscal, após o advento da Lei n. 11.382/2006, com vigência a partir de 21/01/2007. III - A Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida. IV - Agravo Interno improvido. Norma geral de antielisão fiscal STJ, AgInt nos EDcl no REsp 1.725.911/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 12/02/2019, DJe 11/03/2019 TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. PREJUÍZOS FISCAIS. COMPENSAÇÃO. EMPRESA INCORPORADORA. VEDAÇÃO DO ART. 33 DO DECRETO-LEI 2.341/1987. (...) Nesse sentido, os entes federativos são livres para editar as normas que melhor lhes convirem, respeitados tão-somente as balizas constitucionais. A regra do art. 33 do Decreto-lei 2.341/87 foi editada nesse diapasão: para vedar a compensação de prejuízos fiscais nas operações de transformações da pessoa jurídica. Depreende-se de tal proceder que o objetivo foi impedir a elisão tributária, pois muitas empresas viram a reorganização societária como instrumento de planejamento tributário e passaram a se reorganizar com o único intuito da economia de tributos. Passou a ser um negócio vantajoso incorporar ou fundir a empresa deficitária 86 como forma de reduzir a carga tributária. O titular da competência tributária pode através de normatização adequada excluir as zonas de não-incidência para impedir a utilização da elisão tributária. Não há o que a doutrina chamou de poder geral da Administração tributária para desconstituir atos e negócios jurídicos (a chamada norma geral antielisão) já que o art. 116, parágrafo único, do CTN é norma de eficácia limitada, carente de lei para produzir efeitos. Portanto, considerada a autorização para a compensação de prejuízos fiscais como forma de benefício fiscal, livremente suprimível pelos entes federativos no exercício da competência tributária, é perfeitamente válida a regra do art. 33 do Decreto- lei 2.341/87 e demais regras posteriores de igual teor" (...). Princípio da pecunia non olet STF, HC 94.240/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 23/08/2011, DJe 11/10/2011 EMENTA: Habeas corpus. Penal. Processual penal. Crime contra a ordem tributária. Artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/90. Desclassificação para tipo previsto no art. 2º, inciso I, da indigitada lei. Questão não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça. Supressão de instância. Inadmissibilidade. Precedentes. Alegada atipicidade da conduta baseada na circunstância de que os valores movimentados nas contas bancárias do paciente seriam provenientes de contravenção penal. Artigo 58 do Decreto-Lei nº 6.259/44 - Jogo do Bicho. Possibilidade jurídica de tributação sobre valores oriundos de prática ou atividade ilícita. Princípio do Direito Tributário do non olet. Precedente. Ordem parcialmente conhecida e denegada. 1. A pretendida desclassificação do tipo previsto no art. 1º, inciso I, para art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.137/90 não foi analisada pelo Superior Tribunal de Justiça. Com efeito sua análise neste ensejo configuraria, na linha de precedentes, verdadeira supressão de instância, o que não se admite. 2. A jurisprudência da Corte, à luz do art. 118 do Código Tributário Nacional, assentou entendimento de ser possível a tributação de renda obtida em razão de atividade ilícita, visto que a definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica do ato efetivamente praticado, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Princípio do non olet. Vide o HC nº 77.530/RS, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 18/9/98. 3. Ordem parcialmente conhecida e denegada. 87 Responsabilidade tributária STF, ADI 1.851/AL, Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/2002, DJ 22/11/2002 EMENTA: TRIBUTÁRIO. ICMS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA.CLÁUSULA SEGUNDA DO CONVÊNIO 13/97 E §§ 6.º E 7.º DO ART. 498 DO DEC. N.º 35.245/91 (REDAÇÃO DO ART. 1.º DO DEC. N.º 37.406/98), DO ESTADO DE ALAGOAS. ALEGADA OFENSA AO § 7.º DO ART. 150 DA CF (REDAÇÃO DA EC 3/93) E AO DIREITO DE PETIÇÃO E DE ACESSO AO JUDICIÁRIO. Convênio que objetivou prevenir guerra fiscal resultante de eventual concessão do benefício tributário representado pela restituição do ICMS cobrado a maior quando a operação final for de valor inferior ao do fato gerador presumido. Irrelevante que não tenha sido subscrito por todos os Estados, se não se cuida de concessão de benefício (LC 24/75, art. 2.º, INC. 2.º). Impossibilidade de exame, nesta ação, do decreto, que tem natureza regulamentar. A EC n.º 03/93, ao introduzir no art. 150 da CF/88 o § 7.º, aperfeiçoou o instituto, já previsto em nosso sistema jurídico- tributário, ao delinear a figura do fato gerador presumido e ao estabelecer a garantia de reembolso preferencial e imediato do tributo pago quando não verificado o mesmo fato a final. A circunstância de ser presumido o fato gerador não constitui óbice à exigência antecipada do tributo, dado tratar-se de sistema instituído pela própria Constituição, encontrando-se regulamentado por lei complementar que, para definir-lhe a base de cálculo, se valeu de critério de estimativa que a aproxima o mais possível da realidade. A lei complementar, por igual, definiu o aspecto temporal do fato gerador presumido como sendo a saída da mercadoria do estabelecimento do contribuinte substituto, não deixando margem para cogitar-se de momento diverso, no futuro, na conformidade, aliás, do previsto no art. 114 do CTN, que tem o fato gerador da obrigação principal como a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. O fato gerador presumido, por isso mesmo, não é provisório, mas definitivo, não dando ensejo a restituição ou complementação do imposto pago, senão, no primeiro caso, na hipótese de sua não-realização final. Admitir o contrário valeria por despojar-se o instituto das vantagens que determinaram a sua concepção e adoção, como a redução, a um só tempo, da máquina-fiscal e da evasão fiscal a dimensões mínimas, propiciando, portanto, maior comodidade, economia, eficiência e celeridade às atividades de tributação e arrecadação. Ação conhecida apenas em parte e, nessa parte, julgada improcedente. 88 STF, RE 593.849/MG, Rel. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em 19/10/2016, DJe 05/04/2017 (Tema 201) RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS - ICMS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA PROGRESSIVA OU PARA FRENTE. CLÁUSULA DE RESTITUIÇÃO DO EXCESSO. BASE DE CÁLCULO PRESUMIDA. BASE DE CÁLCULO REAL. RESTITUIÇÃO DA DIFERENÇA. ART. 150, §7º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REVOGAÇÃO PARCIAL DE PRECEDENTE. ADI 1.851. 1. Fixação de tese jurídica ao Tema 201 da sistemática da repercussão geral: “É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida”. 2. A garantia do direito à restituição do excesso não inviabiliza a substituição tributária progressiva, à luz da manutenção das vantagens pragmáticas hauridas do sistema de cobrança de impostos e contribuições. 3. O princípio da praticidade tributária não prepondera na hipótese de violação de direitos e garantias dos contribuintes, notadamente os princípios da igualdade, capacidade contributiva e vedação ao confisco, bem como a arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS. 4. O modo de raciocinar “tipificante” na seara tributária não deve ser alheio à narrativa extraída da realidade do processo econômico, de maneira a transformar uma ficção jurídica em uma presunção absoluta. 5. De acordo com o art. 150, §7º, in fine, da Constituição da República, a cláusula de restituição do excesso e respectivo direito à restituição se aplicam a todos os casos em que o fato gerador presumido não se concretize empiricamente da forma como antecipadamente tributado. 6. Altera-se parcialmente o precedente firmado na ADI 1.851, de relatoria do Ministro Ilmar Galvão, de modo que os efeitos jurídicos desse novo entendimento orientam apenas os litígios judiciais futuros e os pendentes submetidos à sistemática da repercussão geral. 7. Declaração incidental de inconstitucionalidade dos artigos 22, §10, da Lei 6.763/1975, e 21 do Decreto 43.080/2002, ambos do Estado de Minas Gerais, e fixação de interpretação conforme à Constituição em relação aos arts. 22, §11, do referido diploma legal, e 22 do decreto indigitado. 8. Recurso extraordinário a que se dá provimento. STJ, AgInt no AREsp 1.076.860/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 28/11/2017, DJe 19/12/2017 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 2 DO STJ. APLICAÇÃO DAS REGRAS DO CPC/1973. TEMPESTIVIDADE RECONHECIDA. SUSPENSÃO DO EXPEDIENTE FORENSE 89 DEMONSTRADA. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL EM HASTA PÚBLICA. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA. DÉBITOS TRIBUTÁRIOS. SUB-ROGAÇÃO NO PREÇO. PARÁGRAFO ÚNICO, DO ART. 130, DO CTN. IMPOSSIBILIDADE DE IMPUTAR-SE AO ARREMATANTE ENCARGO OU RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA PENDENTE. LEGÍTIMA A EXPEDIÇÃO DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS. PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. (...) 5. No enfrentamento da matéria, o Tribunal de origem lançou os seguintes fundamentos (fls. 122-123, e-STJ): "Assim, tem-se que o direito líquido e certo foi bem demonstrado. Aliás, diz-se demonstrado porque, sem dúvida, o direito existe e tem arrimo no parágrafo único do art. 130 do Código Tributário Nacional (...) Ora, a hipótese traçada no dispositivo transcrito se amolda perfeitamente ao caso. Fique bem claro que tratamos no presente caso do arrematante, não do antigo proprietário. Sendo assim, não é possível a imposição da responsabilidade tributária ao recorrido em relação ao período anterior à arrematação. Não há obstáculos, portanto, para que se expeça a certidão negativa de débitos". 6. Nos termos do artigo 130 do CTN, os créditos relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade sub-rogam-se sobre o respetivo preço quando arrematados em hasta pública, não sendo o adquirente responsável tributário pelos tributos que oneraram o bem até a data da realização da hasta. 7. Com efeito, ainda que o preço alcançado na arrematação do bem seja insuficiente para a quitação do débito tributário, o arrematante não poderá ser responsabilizado por dívidas contraídas por outrem, conforme a literalidade do parágrafo único do art. 130 do CTN. Precedentes: AgRg no Ag 1.246.665/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira turma, DJe 22/4/2010; REsp 954.176/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda turma, DJe 23/6/2009. 8. Agravo Interno a que se nega provimento. STJ, AgInt no AREsp 942.940/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 15/08/2017, DJe 12/09/2017 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL APÓS O LANÇAMENTO. SUJEITO PASSIVO. CONTRIBUINTE. ALIENANTE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. ART. 130 DO CTN. SUB-ROGAÇÃO TRIBUTÁRIA. DISTINÇÃO DO REGIME CIVIL. EFEITO REFORÇATIVO E NÃO EXCLUDENTE. PROTEÇÃO DO CRÉDITO. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DO CAPUT COM O PARÁGRAFO ÚNICO E DEMAIS DISPOSITIVOS DO CTN. COERÊNCIA SISTÊMICA DA DISCIPLINA DA RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. IRRELEVÂNCIA DA DATA DO AJUIZAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL PARA LIBERAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO ORIGINÁRIO. ART. 123 DO CTN. INOPONIBILIDADE À FAZENDA PÚBLICA DAS CONVENÇÕES PARTICULARES RELATIVAS À RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DE TRIBUTOS. ATO NEGOCIAL PRIVADO. RES INTER ALIOS ACTA. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DAS CONVENÇÕES. SÚMULA 392/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA ALIENANTE NA DISCUSSÃO DE SITUAÇÃO PROCESSUAL DO TERCEIRO ADQUIRENTE. PEDIDO DE ANULAÇÃO DOACÓRDÃO. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO NA INSTÂNCIA ESPECIAL. (...) 4. O caput do art. 130 do CTN deve ser interpretado conjuntamente com o seu parágrafo único. Nenhuma dúvida de que a sub-rogação do parágrafo único não exclui a responsabilidade do proprietário anterior 90 à transferência imobiliária. Tal raciocínio há de ser aplicado na sub-rogação do caput, devendo a interpretação sistemática prevalecer sobre a isolada. 5. O parágrafo único do art. 130 do CTN ajuda não só a compreender o alcance e sentido da sub-rogação do caput, cujo efeito tem caráter meramente aditivo e integrador do terceiro adquirente sem liberação do devedor primitivo, como reforça o regime jurídico específico do instituto tributário em relação à disciplina estabelecida no Direito Civil. A sub- rogação do Direito Civil é no crédito e advém do pagamento de um débito. A do Direito Tributário é no débito e decorrente do inadimplemento de obrigações anteriores, assemelhando-se a uma cessão de dívida, com todas as consequências decorrentes. Não há confundir a sub-rogação tributária com a sub- rogação civil ante a diversidade de condições e, por conseguinte, de efeitos. 6. Importa assegurar que a sucessão no débito tributário seja neutra em relação ao credor fiscal, cuja mudança pura e simples de devedor pode se dar em detrimento da garantia geral do pagamento do tributo. O imóvel transferido não é o único bem a responder pela dívida fiscal dele advinda. Consoante prescreve o art. 184 do CTN, responde pelo pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis. Proteção parecida se encontra no art. 789 do CPC/2015, c/c o art. 10 da LEF. A subtração de uma quantidade negativa não equivale necessariamente à adição proporcional de uma positiva, pois o acervo patrimonial que potencialmente responde pela dívida pode ser diverso e por isso não passível de ser manietado por ato de vontade do devedor (...) 8. A correta interpretação do art. 130 do CTN, combinada com a característica não excludente do parágrafo único, permite concluir que o objetivo do texto legal não é desresponsabilizar o alienante, mas responsabilizar o adquirente na mesma obrigação do devedor original. Trata-se de responsabilidade solidária, reforçativa e cumulativa sobre a dívida, em que o sucessor no imóvel adquirido se coloca ao lado do devedor primitivo, sem a liberação ou desoneração deste. 9. A responsabilidade do art. 130 do CTN está inserida ao lado de outros dispositivos (arts. 129 a 133 do CTN), que veiculam distintas hipóteses de responsabilidade por sucessão, e localizada no mesmo capítulo do CTN que trata da responsabilidade tributária de terceiros (arts. 134 e 135) e da responsabilidade por infração (arts. 136 a 138). O que há em comum a todos os casos de responsabilidade tributária previstos no CTN é o fim a que ordinariamente se destinam, no sentido de propiciar maior praticidade e segurança ao crédito fiscal, em reforço à garantia de cumprimento da obrigação com a tônica de proteção do erário. O STJ tem entendido que os arts. 132 e 133 do CTN consagram responsabilidade tributária solidária, por sucessão, e o art. 135 ventila hipótese de responsabilidade de caráter solidário, por transferência. 10. Interpretação sistemática do art. 130 com os demais dispositivos que tratam da responsabilidade tributária no CTN corrobora a conclusão de que a sub-rogação ali prevista tem caráter solidário, aditivo, cumulativo, reforçativo e não excludente da responsabilidade do alienante, cabendo ao credor escolher o acervo patrimonial que melhor satisfaça o débito cobrado a partir dos vínculos distintos (...). Suspensão do crédito tributário 91 STJ, AgRg no Ag 1300823/DF, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 24/05/2011, DJe 27/05/2011 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEPÓSITO JUDICIAL. SUSPENSÃO DE EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. LEVANTAMENTO PELO CONTRIBUINTE. IMPOSSIBILIDADE. CONVERSÃO EM RENDA DA UNIÃO. 1. Caso em que a agravante insurge-se contra a decisão que conheceu do agravo de instrumento para prover o recurso especial. 2. A Primeira Seção, por ocasião do julgamento do EREsp 227.835/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, consolidou o entendimento de que os depósitos judiciais realizados com o objetivo de suspender a exigibilidade do crédito tributário somente poderão ser levantados pelo contribuinte nos casos em que ele, na questão de mérito na qual se discute a exigibilidade das respectivas exações, se consagrar vencedor. Nessa esteira, concluiu-se que, nas hipóteses em que o processo vier a ser extinto sem julgamento de mérito, os depósitos judiciais deverão ser convertidos em renda da União. 3. Agravo regimental não provido. STJ, REsp 1.156.668/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 24/11/2010, DJe 10/12/2010 (Tema Repetitivo 378) TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. CAUÇÃO E EXPEDIÇÃO DA CPD-EN. POSSIBILIDADE. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ART. 151 DO CTN. INEXISTÊNCIA DE EQUIPARAÇÃO DA FIANÇA BANCÁRIA AO DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL DO TRIBUTO DEVIDO PARA FINS DE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE. SÚMULA 112/STJ. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC, NÃO CONFIGURADA. MULTA. ART. 538 DO CPC. EXCLUSÃO. 1. A fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado Sumular n. 112 desta Corte, cujos precedentes são de clareza hialina (...) 2. O art. 151 do CTN dispõe que, in verbis: 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V - a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) VI - o parcelamento." 3. Deveras, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário (que implica óbice à prática de quaisquer atos executivos) encontra-se taxativamente prevista no art. 151 do CTN, sendo certo que a prestação de caução, mediante o oferecimento de fiança bancária, ainda que no montante integral do valor devido, não ostenta o efeito de suspender a exigibilidade do crédito tributário, mas apenas de garantir o débito exequendo, em equiparação ou antecipação à penhora, com 92 o escopo precípuo de viabilizar a expedição de Certidão Positiva com Efeitos de Negativa e a oposição de embargos (...) 4. Ad argumentandum tantum, peculiaridades do instituto da fiança demonstram, de forma inequívoca, a impossibilidade de sua equiparação ao depósito, tais como a alegação do benefício de ordem e a desoneração do encargo assumido mediante manifestação unilateral de vontade do fiador, nos termos dos arts. 827 e 835 do Código Civil, verbis: "Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor." "Art. 835. O fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante sessenta dias após a notificação do credor." 5. O contribuinte pode, após o vencimento da sua obrigação e antes da execução, garantir o juízo de forma antecipada, para o fim de obter certidão positiva com efeito de negativa. (...) 12. Recurso especial parcialmente provido, apenas para afastar a multa imposta com base no art. 538, § único do CPC. Acórdão submetido ao regime do art. 543-Cdo CPC e da Resolução STJ 08/2008. STJ, AgRg no REsp 1.504.009/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 19/03/2015, DJe 06/04/2015 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO CAUTELAR. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. OCORRÊNCIA. 1. A Fazenda Nacional interpôs Embargos de Declaração no qual alega omissão do julgado, pois a Ação Cautelar não foi ajuizada para suspender a exigibilidade do crédito tributário. 2. Já decidiu o STJ que, muito embora a penhora e a Medida Cautelar de caução possam ensejar a expedição da certidão positiva de débitos com efeitos de negativa (art. 206, do CTN), não são elas meio apto a suspender a exigibilidade do crédito tributário, pois não previstas no art. 151 do CTN. Precedentes: REsp. 1.307.961/ MT, Rel. Ministro Castro Meira, DJE 12.09.2012; AgRg no REsp 1.331.172/SC, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 22.10.2013, DJE 22.11.2013. 3. É cediço o entendimento de que a solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC e que o juiz não é obrigado a rebater todos os argumentos aduzidos pelas partes. Por outro lado, o juiz não pode deixar de conhecer de matéria relevante ao deslinde da questão, mormente quando sua decisão não é suficiente para refutar a tese aduzida, que, portanto, não abrange toda a controvérsia 4. No caso, os fundamentos asseverados pelo Tribunal a quo não são hábeis a afastar a argumentação tida como ignorada. Mesmo com os aclaratórios opostos para sanear a lacuna, a Corte de origem os rejeitou e deixou de se manifestar sobre o ponto 5. Agravo Regimental não provido. STJ, AgInt no REsp 1.471.847/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 27/11/2018, DJe 07/12/2018 93 PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE NO PERÍODO DE VIGÊNCIA DE LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. 1. No período compreendido entre a concessão de medida liminar e a denegação da ordem incide correção monetária e juros de mora ou a Taxa SELIC, se for o caso. Afastada a imposição de multa de ofício (EREsp 839.962/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, julgado em 27/02/2013, DJe 24/04/2013). 2. Agravo interno não provido. STJ, REsp 1.739.641/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 21/06/2018) (Info 629) As condições para a concessão de parcelamento tributário devem estrita observância ao princípio da legalidade, e não há autorização para que os atos infralegais tratem de condições não previstas na lei de regência do benefício. 94 MAPA MENTAL 95 96 97 98 99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário. 11ª ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2017. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 2: teoria geral das obrigações. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 8ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017. PAVANI, Vanessa Roda. A regra matriz de incidência tributária. Âmbito jurídico, 2011. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-tributario/a-regra-matriz-de-incidencia-tributaria>. Acesso em 29 fev. 2020. POSSAS, Fernando Lima. Sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária. Jusbrasil, 2018. Disponível em: <https://fpossas.jusbrasil.com.br/artigos/519675093/sujeitos-ativo-e-passivo-da-obrigacao-tributaria>. Acesso em 29 fev. 2020. SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 9ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017. DIREITO TRIBUTÁRIO Capítulo 3 3. Relação Jurídico-Tributária e o Crédito Tributário 3.1 Obrigação tributária 3.1.1 Fato gerador 3.1.2 Sujeitos da relação tributária 3.1.2.1 Sujeito ativo 3. 3.1.1 3.1.2 3.1.2.1 3.1.2.2 Sujeito passivo 3.1.2.3 Solidariedade passiva 3.1.2.4 Capacidade tributária 3.1.2.5 Domicílio tributário 3.2 Responsabilidade tributária 3.2.1 Responsabilidade dos sucessores 3.2.2 Responsabilidade de terceiros 3.2.3. Responsabilidade por infrações 3.2.2.1 Denúncia espontânea 3.3 Crédito tributário 3.3.1 Constituição do crédito tributário (lançamento) 3.3.1.1 Lançamento de ofício/direto 3.3.1.2 Lançamento por declaração/misto 3.3.1.3 Lançamento por homologação/autolançamento 3.3.2 Suspensão do crédito tributário 3.3.3 Extinção do crédito tributário 3.3.4 Exclusão do crédito tributário 3.3.5 Garantias e privilégios do crédito tributário QUADRO SINÓTICO QUESTÕES COMENTADAS GABARITO QUESTÃO DESAFIO GABARITO QUESTÃO DESAFIO LEGISLAÇÃO COMPILADA JURISPRUDÊNCIA MAPA MENTAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS