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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Gestão de Crises em seGurança PúbliCa
Elaboração
Luiz Henrique Horta Hargreaves
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL ..................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
PREVENÇÃO E RESPOSTA EM INCIDENTES CRÍTICOS.................................................................. 9
UNIDADE II
SITUAÇÃO COM REFÉNS ...................................................................................................................... 31
CAPÍTULO 1
NEGOCIAÇÃO DE REFÉNS ..................................................................................................... 31
UNIDADE III
CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS .......................................................................................... 38
CAPÍTULO 1
REBELIÕES .............................................................................................................................. 38
PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 46
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 47
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
A Segurança Pública compreende uma série de ações destinadas a proteger os direitos individuais e 
coletivos, visando, entre outros, o exercício da cidadania.
Embora a Polícia seja um dos importantes integrantes da Segurança Pública, as situações críticas 
nessa área não se resumem a ocorrências policiais.
Neste Caderno, abordaremos as situações críticas mais comuns em Segurança Pública, incluindo 
Defesa Civil.
Um bom estudo para todos!
Objetivos
 » Compreender os conceitos de Crise em Segurança Pública.
 » Compreender a importância do tema no Gerenciamento de Crises.
 » Apresentar conceitos e instrumentos para gerenciamento de crises em Segurança 
Pública.
9
UNIDADE IGESTÃO DE CRISES 
EM DEFESA CIVIL
CAPÍTULO 1
Prevenção e Resposta em Incidentes 
Críticos
“Desastre é qualquer evento crítico que excede a capacidade de resposta da 
sociedade”
Ciottone
Iniciaremos nosso estudo em Segurança Pública abordando a Prevenção e Resposta em Incidentes 
Críticos como um dos elementos de Gestão de Crises em Defesa Civil.
O conceito de Defesa Civil é discutido em diferentes países do mundo, desde a década de 1920, 
objetivando preparar a população civil para ataques militares. Essa preparação foi fundamental ao 
longo dos anos, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante a década de 1950 e 1960, contudo, houve a organização de serviços de Defesa Civil em 
diversos países, motivados pela Guerra Fria e pelo medo de uma guerra nuclear.
No entanto, na década de 1970, mais precisamente durante a Conferência Diplomática para a 
Reafirmação e Desenvolvimento da Lei Humanitária Internacional em Conflitos Armados (1974-
1977), o papel da Defesa Civil como instituição de proteção dos civis em situações de conflitos foi, 
não apenas reconhecido como importante, como também inserido no Protocolo Adicional I das 
Convenções de Genebra.
Esse Protocolo define Defesa Civil (Proteção Civil) como sendo o “conjunto de ações humanitárias 
voltadas para a proteção de populações civis contra perigos oriundos de hostilidades ou desastres, 
de tal forma a assisti-las em suas necessidades imediatas e assegurar as condições necessárias à sua 
sobrevivência.“
O símbolo internacional da Defesa Civil, também chamada de Proteção Civil em alguns locais, é um 
triângulo laranja em fundo azul, mas cada país fez suas adaptações a esse símbolo.
10
UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
O surgimento da Defesa Civil no Brasil se deu a partir de 1942, com a entrada do País 
na Segunda Guerra Mundial . Para conhecer mais sobre essa história acesse o link a 
seguir: <http://www.defesacivil.gov.br/historico/brasil.asp>.
Desde então, diversas mudanças foram ocorrendo na sua estrutura até chegar àconfiguração atual de 
Secretaria Nacional de Defesa Civil, órgão do Ministério de Integração Regional. O Órgão Superior 
da organização do Sistema Nacional de Defesa civil no Brasil é o Conselho Nacional de Defesa 
Civil (CONDEC), responsável pela formulação e deliberação de políticas e diretrizes do sistema. O 
CONDEC é composto por representantes de diversos órgãos governamentais do Poder Executivo.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil é responsável, pela articulação, coordenação e supervisão 
técnica do sistema, constituindo-se em órgão central.
Abaixo do órgão central, há os órgãos regionais que, por meio das Coordenadorias Regionais de Defesa 
Civil (CORDECs), são responsáveis pela coordenação e articulação do sistema em nível regional e, 
por essa razão, estão presentes nas cinco macroregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, 
Sudeste e Sul).
Em nível estadual, essa coordenação está à cargo das Coordenadorias Regionais de Defesa Civil e 
do Distrito Federal (CEDECs) e, em nível municipal, das Coordenadorias Municipais (COMDEC) e 
Núcleos Comunitários (NUDECs) de Defesa Civil.
O instrumento legal que trata e dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil e o Conselho 
Nacional de Defesa Civil é Decreto no 5.376, de 17.02.2005.
 » Decreto no 5.376 de 2005 – <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2005/Decreto/D5376.htm> – Dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil
 » Organização do Sistema Nacional de Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.
br/sindec/organizacao.asp>.
 » Política Nacional de Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/
politica.asp>.
 » Defesa Civil nos Estados – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/estados/index.
asp>.
 » Objetivo da Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/index.asp>.
11
GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Logo da Defesa Civil do Brasil
A Constituição Federal brasileira, em seu artigo 144, assim dispõe:
Da Segurança Pública
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, 
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I. polícia federal;
II. polícia rodoviária federal;
III. polícia ferroviária federal;
IV. polícias civis;
V. polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Ao definir as ações dos corpos de bombeiros diz que: “aos corpos de bombeiros militares, além das 
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.”
Essa é uma discussão antiga em diversos meios, pois há muitas pessoas que enxergam nessa 
afirmação que a execução das atividades de defesa civil é prerrogativa exclusiva dos corpos de 
bombeiros. Não é. Uma vez que as ações de defesa civil são inerentes a vários órgãos e também à 
sociedade organizada, os corpos de bombeiros têm o dever constitucional de executar as atividades 
de defesa civil (ou seja, não podem deixar de fazê-lo), mas não é uma exclusidade. Mesmo porque, 
se assim fosse, estaríamos relegando o conceito amplo de defesa civil às atividades específicas do 
bombeiro. Naturalmente que entre as ações de defesa civil há algumas que são típicas da atividade 
dos bombeiros como a de salvamento e de combate a incêndios e, neste caso, devem ser realizadas 
por eles, sempre que possível. Infelizmente, muitos são os municípios que sequer dispõem de um 
destacamento de bombeiros. Não temos em nosso país uma tradição forte de bombeiros voluntários 
como em outros países como o Chile. No Brasil, a maior parte deles está no Rio Grande do Sul e em 
Santa Catarina.
Nos Estados Unidos, a Defesa Civil foi transformada em Agência Federal de Manejo de Emergências 
(FEMA) e é parte do Departamento de Segurança Interna (Homeland Security Department) surgido 
após os atentados de 11 de setembro.
12
UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
<http://www.dhs.gov/index.shtm> – Departamento de Homeland Security.
<http://www.fema.gov – FEMA>.
Ao colocar a FEMA no mesmo Departamento em que estão órgãos de combate ao terrorismo, os 
Estados Unidos centralizaram as ações de prevenção e resposta às mais diferentes situações críticas 
em uma única instituição, visando o trabalho integrado e seguindo uma única política de ações. 
Isso já não ocorre no Brasil. Aqui temos diferentes órgãos, sob a responsabilidade de diferentes 
ministérios, muitas vezes tratando de temas comuns. Não é à-toa, que uma pergunta é sempre feita 
no Brasil, quando se trata de resposta a desastres. Quem assume a coordenação?
Embora o Sistema de Comando de Incidentes (ICS), que estudaremos em breve, seja uma excelente 
ferramenta, ainda é pouco utilizado no Brasil e não resolve todas situações de crise, estando mais 
indicado para resposta a emergências e desastres. Há, no entanto, outras crises a serem resolvidas 
em Segurança Pública.
Ao tratarmos de Prevenção e Resposta a eventos críticos e, em particular, a desastres e incidentes 
com múltiplas vítimas, é fundamental que primeiro saibamos definir essas situações.
Diante de incidentes com magnitudes diferentes , independente de sua natureza, há necessidade 
de resposta articulada e organizada. Sutingco (Ciottone et. al. 2006, cap. 30) afirma que “muitos 
incidentes, independente de tratar-se de um desastre ou incidentes menores, frequentemente 
requerem resposta coordenada de uma variedade de agências ao longo de um já estabelecido sistema 
de comando e controle. O Incident Command System (ICS) foi criado para ser utilizado na cena de 
emergências e tem se tornado um instrumento-modelo de comando, controle e coordenação de uma 
efetiva resposta de emergência”.
A maioria dos planos de atendimento de múltiplas vítimas é inadequada e usualmente inferior 
aos procedimentos adotados na resposta diária de emergências. Essa constatação ocorre tanto 
em comunidades com resposta avançada de emergência médica, como aquelas onde há apenas o 
sistema de resposta básico (BUTMAN, 1982).
Os acidentes com múltiplas vítimas são aqueles que, independente da natureza do evento, causam 
lesão a diversas pessoas simultaneamente. Nessas circunstâncias, é comum a resposta desorganizada 
por parte de equipes de emergência, seja no atendimento inicial, como também na definição do 
hospital de destino. Um exemplo de acidente com múltiplas vítimas foi o atentado de 11/09 ao World 
Trade Center em Nova York (EUA). Nos desastres, a situação é diferente. A capacidade de resposta 
é inferior à magnitude do evento e, assim, a maioria das decisões estratégicas é tomada com base 
na estrutura existente e frequentemente o caos é estabelecido. Há em comum, no entanto, entre as 
duas situações, a necessidade de resposta organizada, gerenciada com base em conceitos estratégicos, 
gerenciamento de crise e qualidade no atendimento.
Os chamados eventos críticos de grande porte, como acidentes com múltiplas vitimas e desastres, 
além de causarem comoção popular, requerem atendimento básico e especializado, de forma 
coordenada e baseada em planejamento adequado à realidade local, bem como treinamento 
continuado das equipes de emergência e da população.
13
GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
A resposta de emergência deve ser baseada nessas situações de forma integrada, com comando 
unificado, por meio do conceito internacionalmente conhecido como Incident Command System, 
ou seja, um sistema de comando para incidentes, onde as diversas faces da resposta, como operações 
e logística, são tratadas de forma objetiva e com planejamento focado nas ações de curto, médio e 
longo prazos.
Em situações de desastre, como furacões ou em grandes tempestades onde há isolamento e grande 
destruição de cidades, sobretudo no interior do país, frequentemente há um número de vítimas 
superior à capacidade de resposta das equipes de atendimento e hospitais da região. O atendimento 
é usualmente descoordenado e até mesmo improvisado. Poucas são as cidades preparadas para 
contingenciamento de emergências e desastres. Não há diferençasentre desastres e catástrofes. 
Ambas as palavras possuem o mesmo significado. No entanto, encontramos com maior frequência, 
em inglês e em espanhol, o equivalente à desastre (disaster e desastre, respectivamente), enquanto 
os franceses preferem o equivalente à catástrofe (catastrophe).
Os nossos problemas começam a partir da definição. Não há um consenso em nosso país quanto a 
esses termos, apesar de internacionalmente consolidados.
A Defesa Civil brasileira considera desastre “o resultado de eventos adversos, naturais ou 
provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e 
ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais.” Essa é uma definição ampla demais e, 
se a adotássemos, praticamente qualquer evento da natureza que provocasse qualquer tipo de dano 
ou prejuízo seria considerado um desastre. O que gera um grande problema, pois, sendo assim, 
quando acionar um Plano de Desastres? A Defesa Civil <http://www.defesacivil.gov.br/desastres/
recomendacoes/declarar/index.asp> adota, ainda, os termos “Emergência em Desastre” e “Estado 
de Calamidade em Desastres”, o que acaba gerando alguma confusão e redundância, pois, por 
definição internacional, um desastre já é uma situação de emergência e de calamidade pública. Seria 
muito importante que todos seguissem a mesma nomenclatura e doutrina, no caso, a internacional.
Uma situação de desastre requer o esgotamento da resposta local, pela superioridade da magnitude 
do evento. Assim, adotaremos a definição internacionalmente aceita de desastre, que é aquela 
definida por Ciottone em seu livro Disaster Medicine (2007): “Desastre é qualquer evento que excede 
a capacidade organizada de resposta da sociedade”. Ou seja, não basta um evento ser de grande 
magnitude, nem crítico, nem que cause muitos danos ou muitas mortes. Para ser um desastre, a 
capacidade de resposta organizada deve ser excedida pelo impacto ocorrido. Do contrário, teremos 
acidentes com múltiplas vítimas ou mesmo grandes tragédias, que implicam dor e sofrimento, mas 
não se traduzem por planos específicos.
Os incidentes são definidos pela FEMA, como “uma ocorrência, seja causada pelo homem ou por um 
fenômeno da natureza, que requer ações de resposta para prevenir ou minimizar perdas de vida, ou 
danos à propriedade e/ou ao meio ambiente”. É com essa definição que iremos trabalhar.
A formação de Gabinete de Crise é comumente negligenciada e muitos são os mitos que envolvem 
o atendimento de emergências e desastres. O Gabinete de Crise, no entanto, deve providenciar o 
gerenciamento de informações e o conhecimento necessário ao gerenciamento completo do evento, 
bem como a integração e a coordenação da resposta como um todo.
14
UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
Os desastres, quanto à sua natureza, podem ser:
 » Naturais: tornados, furacões, terremotos, etc.
 » Provocados pelo Homem: terrorismo, incêndioss, acidentes aéreos, etc.
 » Mistos: parte causada pelo homem e parte decorrente de fenômeno da natureza. Ex: 
Uma pessoa atira um cigarro aceso na mata, que, por estar muito seca com vento 
favorável, produz incêndio florestal.
 » Siderais: causados por elementos espaciais
Para fins didáticos, podemos dividir os eventos críticos e particularmente os encontrados em 
emergências e desastres em:
 » Pré-Impacto
 » Impacto
 » Pós-Impacto
Pré-Impacto
Todos nós, que vivemos em uma situação onde não haja situação de desastre declarada, estamos na 
fase de Pré-Impacto de um desastre.
Essa fase vai desde a completa ausência de indícios da iminência de um desastre até a sua ocorrência.
É nessa fase que trabalhamos na prevenção.
Precisamos cultivar a cultura de que a ocorrência de um desastre em nossa comunidade não é uma 
questão de “se”, mas de “quando”. Não há comunidade ou região do mundo imune a um desastre.
Em emergência, a ocorrência de desastres no passado pode servir de alerta para o futuro, mas, a 
ausência de desastres no passado serve apenas para estatística, não servindo como fator preditor para 
situações futuras. 
A Fase de Pré-Impacto é constituída por:
 » Análise de Vulnerabilidades, Ameaças e Riscos
 » Planejamento
 » Sistemas de Contingenciamento
 » Treinamento
 » Monitoramento de situações de risco potencial
 » Alerta
 » Alarme
15
GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Análise de Vulnerabilidades, Ameaças e Riscos
Esse foi o tema de nossa primeira disciplina do curso, propriamente dito, dada a sua importância 
na prevenção de crises.
Não há hipótese de se realizar uma prevenção eficiente se não fizermos levantamento e analisárnos 
quais são nossos pontos fracos, fortes, nossas vulnerabilidades, quem nos ameaça e o risco a que 
estamos expostos.
Quem deve ser o responsável por esse levantamento e análise? Em um nível micro, representado 
pelo ambiente de uma empresa, a própria instituição deve realizá-lo, por meio da Comissão de 
Prevenção de Acidentes e da Medicina e Engenharia do Trabalho. Mesmo porque, além de ser 
obrigação legal, prevista na normativa do Ministério do Trabalho, é de total interesse da corporação, 
a prevenção de acidentes e desastres. Infelizmente, na prática, as CIPAs, com frequência, se limitam 
a atender ou verificar os acidentes depois de ocorridos, algumas nem isso fazem. Poucas empresas 
possuem brigadas de incêndio e, menos ainda, análises de risco.
Em um nível comunitário, municipal ou estadual, essa competência deve ser dos órgãos de 
Defesa Civil. Isso não significa que a própria Defesa Civil tenha que executar o trabalho em si, 
mas coordenar a sua elaboração e sua análise, visando a construção de mapas de risco, planos de 
contingenciamento, treinamentos e os demais elementos dessa fase. Aliás, um ponto precisa ser 
deixado claro. A Defesa Civil não é órgão executor, mas de planejamentos e de coordenação. Não 
faz sentido, portanto, como vemos em alguns locais do país, viaturas da Defesa Civil prestando 
atendimento de emergência, removendo cadáveres, entre outras ações que deveriam ser de 
responsabilidade de órgãos executores, como o Corpo de Bombeiros, por exemplo.
O fato da Defesa Civil não ser órgão executor não a exime, no entanto de estar à frente das ações 
que precisam ser coordenadas, pois essa é a sua função. Mais tarde veremos como isso deve ocorrer.
A forma mais fácil e prática de realizar mapas de risco nas comunidades é trabalhar em conjunto com 
os moradores locais. O órgão encarregado de fazer o estudo de risco da região, para posteriormente 
o encaminhar à Defesa Civil, ao entrar em contato com os seus habitantes, além de poder obter apoio 
e confiança recíproca que é podera conhecer mais de perto situações que não serão reveladas pelo 
mapa ou satélite, como pontos de alagamento, por exemplo. É importante também que a população 
veja nos profissionais que representam esse órgao um apoio e não uma desconfiança. Podem achar, 
por exemplo, que se tratam de fiscais do governo ou de pessoas com outros interesses.
Nesse sentido, há muitas comunidades que possuem um Conselho Local de Segurança Comunitária, 
onde são discutidos temas relativos à Segurança Pública, com representantes do governo e 
da comunidade.
Uma vez que os dados são obtidos eles devem ser analisados para a quantificação de risco e posterior 
elaboração dos mapas de risco da região que deverão ser encaminhados à Defesa Civil municipal, e, 
no caso do Distrito Federal, à estadual. Infelizmente não é assim que ocorre, de forma rotineira, em 
nosso país. Há, ainda muitos municípios que não possuem Defesa Civil organizada. Nessas situações, 
16
UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
os mapas de risco devem ser construídos e encaminhados à Prefeitura, para serem consolidados 
posteriormente em um Plano de Contingências.
Planejamento
Concluída essas operações, acima citadas, dá-se início ao Planejamento. O que será planejado?
Serão construídos Planos de Desastre e Planos de Contingenciamento.
Planos de Desastre
Nos Planos de Desastre, são elencadasas condições para decretação de desastre e como se dá o 
desencadeamento das ações necessárias à sua resposta de uma forma geral e integrada, sem 
pormenorizar os tipos de desastre e nem ações específicas. (Na prática, quem faz o que, porque faz, 
quando faz, quem liga para quem e como é feito). 
É importante, no planejamento, que haja representantes com formação na área, dos diferentes órgãos 
executores, mas, obrigatoriamente, da Secretaria de Saúde, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, 
da Secretaria de Segurança, de Viação e Obras, entre outros que sempre precisam trabalhar de forma 
integrada.
O Plano de Desastres daí surgido, deverá ser do conhecimento de todos órgãos do sistema que de 
alguma forma participam da prevenção e resposta organizada a desastres.
Sistemas de Contingenciamento
A partir do Plano de Desastre, são elaborados Planos ou Sistemas de Contingenciamento. O que isso 
significa? 
Nos Planos ou Sistemas de Contingenciamento, são elencadas hipóteses para cada tipo de situação 
prevista e priorizada conforme o mapa de riscos. Por exemplo, em um plano desses, podemos ter 
como hipótese 01, incêndio na refinaria da região e, a partir dessa hipótese, elaborar de forma 
detalhada todo o plano de ações a serem empregadas. Todos devem conhecer a fundo o Plano de 
Contingências? Não. Os responsáveis pelos órgãos, planejadores e encarregados de coordenação, 
sim. Os operadores devem saber o que é de responsabilidade deles executar, o que não deve ser 
confundido com o compartilhamento de informações, que deve ser do conhecimento de todos.
Esse compartilhamento significa que as informações com relação à evolução do incidente devem 
ser de conhecimento de todos envolvidos na operação, mas não dá direito a eles a repassá-las ao 
público, o que é prerrogativa do responsável pela Comunicação da Crise, o que será posteriormente 
estudado.
Conhecer a fundo um Plano de Contingências significa ter à mão todas ações que cada um dos orgãos 
do sistema deve desenvolver. Portanto, essa é uma função e responsabilidade dos coordenadores do 
sistema de comando de incidentes (Incident Comanders), como estudaremos em outra disciplina.
17
GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Treinamento
O treinamento é uma das atividades mais importantes, mas frequentemente negligenciada. Muitos 
profissionais entendem que, pelo fato de serem graduados em suas profissões, não precisam receber 
mais treinamentos, sobretudo de outras áreas.
A equipe médica, por exemplo deve ser muito bem treinada não apenas em suporte avançado de 
vida, mas também em seu suporte básico. Em uma parada cardíaca, as medicações e procedimentos 
avançados são muito importantes, mas se o paciente não recebe o suporte básico de forma adequada 
não estará sendo atendido como deveria e as chances de insucesso são muito grandes.
O treinamento das equipes deve seguir, obrigatoriamente, dois caminhos. O primeiro é a seleção 
de quem será treinado e, em seguida, que tipo de treinamento será oferecido e com que frequência.
No processo de selecionar quem será treinado, deve-se estabelecer uma prioridade. Profissionais da 
área de saúde e de segurança pública devem ser os primeiros.
Todo servidor da área de segurança pública (incluindo policiais e bombeiros) e todo profissional 
de saúde (incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, 
odontólogos, fonoaudiológos) devem ser certificados em suporte básico de vida e revalidados 
periodicamente. Nenhum profissional destas áreas poderia trabalhar sem sua certificação em dia, 
o que significa não apenas participar de um curso de suporte básico de vida, mas ser aprovado em 
questões teóricas e práticas.
Nesse treinamento deve estar incluído o uso do desfibrilador externo automático e suporte de vida no 
trauma, o que inclui atendimento com grande número de vítimas e desastres. Não é aceitável que um 
profissional de segurança pública ou de saúde não esteja preparado para atendimento de primeiros 
socorros.
A segunda fase do treinamento implica no aprofundamento dos conhecimentos específicos e 
ampliação do básico. Assim, o suporte básico de vida deve ser estendido aos professores, taxistas, 
motoristas de coletivos e, posteriormente, à população como um todo. Não há explicação lógica 
do porquê o ensino de primeiros socorros não ser obrigatório no ensino fundamental e médio, 
ao lado de aulas de cidadania. Como também o porquê de não se ensinar o suporte básico e o 
avançado na maioria das faculdades de medicina. É absurdo, mas a maioria dos médicos sai da 
faculdade sem ter recebido treinamento teórico-prático em suporte avançado de vida.
O treinamento especializado passa a ser direcionado às equipes de socorro propriamente ditas. O 
ensinamento deve ser compartilhado. Um curso de Resposta a Desastres deve ser feito por equipes 
de bombeiros, policiais, SAMU, equipes de saúde dos hospitais, como também de serviços privados. 
É um grave erro acreditar que a rede privada de saúde, o que inclui serviços de emergência móvel, 
não contribui ou não é necessária ao sistema de resposta em emergências e desastres. O que conta 
não é quem atendeu o paciente, mas se ele foi atendido dentro dos padrões de tempo-resposta 
preconizados.
18
UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
Há muitos serviços privados de alto padrão e, com frequência, os mesmos médicos que trabalham no 
SAMU também são plantonistas em serviços privados. O que falta, no entanto, é uma coordenação 
desses serviços na esfera do atendimento, em situações de múltiplas vítimas. Deve estar bem 
estabelecido, não apenas no papel, mas por intermédio de simulações e de treinamentos conjuntos, 
como essa coordenação se dará.
Planos só irão funcionar se forem testados. Simulados onde tudo “correu bem” devem ser vistos com 
desconfiança. Aliás, uma questão frequentemente levantada é: Qual o termo correto, simulacro ou 
simulado? O simulacro é algo que é falso, mas é feito para se passar por verdadeiro. Um simulacro 
de uma bomba, por exemplo, pode enganar muitos profissionais, que acabam levando o objeto para 
um local distante, explodindo-o. Um simulado, por sua vez, é um teste ou uma imitação de condições 
reais, para que possam ser avaliados diferentes aspectos. Um simulador de voo, por exemplo, faz 
com que as condições encontradas sejam as mais próximas do real, mas o piloto que está sendo 
treinado tem consciência de que não se trata de uma situação real.
Quando vamos fazer um treinamento com equipes de socorro, na resposta a desastres ou emergências, 
estamos diante de um simulado, pois todos têm a percepção de que é um treinamento e não uma 
situação real; do contrário estaríamos colocando em sério risco os participantes do simulado. Se um 
médico acreditasse que está diante de uma situação real, poderia iniciar um procedimento em um 
ator, alguém que está ali apenas para representar uma situação. O fato de ser um simulado, (drill, 
em inglês), no entanto, não significa que as equipes que estão sendo treinadas não devem agir como 
se a situação fosse real. Pelo contrário. As ações devem ser as mais próximas da realidade possível, 
mas sempre com a limitação de se tratar de uma simulação. É um erro muito grave, realizar um 
simulacro de incêndio em um prédio, para se testar a evacuação.Ou seja, fazer com que as pessoas 
acreditem que de fato o prédio está pegando fogo, pois pode gerar consequencias desastrosas, 
como pânico. No entanto, nada impede que um serviço de resgate faça um simulacro, desde que 
sejam adotadas medidas rigorosas de segurança e dentro de um cenário isolado, para que não haja 
acionamento real de outros serviços e pânico na população.
As comunidades que vivem e/ou trabalham em locais de risco também devem ser treinadas, não 
apenas em primeiros socorros, mas na prevenção de acidentes e desastres. 
Cursos de longa duração são aceitáveis quando estamos fazendo uma graduação ou especialização, 
mas para treinamento das equipes, o melhor é trabalharcom módulos de ensino.
Equipes de saúde devem receber treinamento de resgate e salvamento? Não o mesmo recebido pelos 
bombeiros, que realizarão esses procedimentos, mas devem conhecer o trabalho dos bombeiros 
para que atuem em conjunto.
A responsabilidade dos treinamentos é de cada serviço, mas o órgão coordenador de prevenção e 
resposta a desastres, a Defesa Civil, deve garantir que os treinamentos estejam sendo realizados e, 
com frequência, patrocinar e promover a integração e a execução de simulados.
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GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Simulado de Emergência Aeronáutica
Fonte: <www.ms.gov.br>.
Monitoramento
O monitoramento de qualquer situação com potencial de crise é que permitirá o conhecimento 
antecipado de que algo grave está para acontecer.
Em Defesa Civil, esse monitoramento se dá sobretudo com relação aos fenômenos da natureza. O 
Brasil não está isento nem imune de ocorrências graves como tornados e furacões. O maior pecado 
a ser cometido no monitoramento é pensar que um fenômeno não pode ocorrer simplesmente 
porque não há registro de ter ocorrido anteriormente naquela região.
Foi imperdoável a forma como realizaram o monitoramento e as consequentes ações de 
alerta, alarme e resposta ao furacão Catarina. Até mesmo após a passagem do furacão, muitos 
meteorogistas brasileiros continuavam afirmando que se tratava de um ciclone extratropical, 
quando seus colegas americanos já haviam feito o alerta de furacão para região.
Outros furacões poderão ocorrer em qualquer parte do litoral brasileiro. Isso é fato, dada a questão 
do aquecimento global. Houve algum investimento ou ação destinada a promover a evacuação 
rápida da população? Podemos com segurança afirmar que não. Se há planos, não foram testados e 
nem a população informada. Se não foi testado, o plano não existe.
Nas cidades americanas, mais sujeitas a furacões, há placas de sinalização, mostrando as rotas de 
evacuação a serem utilizadas em situações que requeiram a saída rápida da população do local de 
risco.
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UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
Meteorologista monitorando furacão
Fonte: Enciclopédia Britânica
A recente situação ocorrida em Santa Catarina mostra bem o que representa um monitoramento 
inadequado. Monitorar uma situação não é apenas checar como ela está, mas avaliar quais as 
chances de evoluir de forma desfavorável e emitir os alertas e alarmes necessários.
Em Segurança Pública, outra forma de monitoramento é realizada por intermédio do emprego de 
câmeras de vídeo. Em diversas cidades, como Londres, por exemplo, há câmeras espalhadas por 
todas as regiões, o que permite o acompanhamento real e ao vivo de tudo que ocorre nas ruas. 
Há diversas cidades brasileiras, como também rodovias, que possuem câmeras. Aqui também é 
importante que haja a integração com a resposta rápida e eficiente; do contrário, os policiais apenas 
assistirão a ocorrência do crime e quando muito poderão posteriormente identificar os suspeitos, 
mas o objetivo maior do monitoramento é inibir a ação ou interromper a sua realização.
Outra forma de monitorização está no uso de GPS para identificação e localização das unidades 
móveis mais próximas da ocorrência, de tal forma a diminuir o tempo-resposta.
Monitoramento de ambulâncias por GPS
Fonte:<http://www.tristateambulance.org>.
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GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Alerta
Um sistema de alerta eficaz e eficiente é aquele que é iniciado em tempo adequado para as ações 
de prevenção tardia e resposta. Estamos aqui chamando de prevenção tardia aquela que deveria 
já ter sido realizada, não foi, mas ainda é possível de ser feita, não com os mesmos resultados, 
mas ainda importante. É o caso, por exemplo, do indivíduo que é avisado do risco de habitar uma 
região ribeirinha. Ele não aceita os avisos de abandonar a região e lá permanece. Surge então o 
aviso de que fortes chuvas na região poderiam provocar um aumento no volume de água do rio 
próximo à sua casa e então ele acaba saindo antes que possa haver uma enchente devastadora. Ele 
agiu preventivamente, ainda que tardiamente. Por que a ação dele não foi uma resposta? Porque a 
enchente ainda não havia ocorrido. Estamos ainda na fase de Pré-Impacto, lembram-se?
Um alerta deve produzir um alarme de forma satisfatória.
Infelizmente, os sistemas de alerta em nosso país são muito ruins, quando existem.
Vejamos a situação da meteorologia. São emitidos alertas meteorológicos que são enviados para a 
Secretaria Nacional de Defesa Civil e eventualmente para as regionais ou municipais. Quais ações 
resultam a partir daí? 
Nenhum hospital, aliás, recebe alertas de fortes ventos, de possibilidade de tornados na região ou 
qualquer outro tipo de alarme.
Colocar a informação em sites da internet e nos noticiários de televisão, ainda mais quando não são 
acompanhados de informações relevantes para resposta, é extremamente ineficiente.
Quais medidas de prevenção tardia ou de resposta precoce foram adotadas na recente enchente 
em Santa Catarina? 
Falta a cultura da prevenção e das ações voltadas para a construção de cenários, sobretudo em 
emergências e desastres.
Nos Estados Unidos, são emitidos boletins meteorológicos várias vezes ao dia e em casos de alerta 
de tempestades severas, são veiculadas informações precisas de como a população deve agir. As 
rádios recebem interrupção em sua programação, com informações urgentes sobre a tempestade 
que se aproxima. Nada disso ocorre no Brasil, apesar de termos tornados por aqui. Não com a 
mesma frequência que nos Estados Unidos, mas nem um sistema semelhante ocorre por aqui.
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UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
Boletim meteorológico do National Weather Center (USA) com alertas
Fonte: <www.spc.noaa.gov>.
Alarme
Um sistema de alarme adequado é aquele que é facilmente identificado como sinal de que uma 
situação crítica está em curso e que todos devem seguir imediatamente um plano bem estabelecido.
Todos hotéis devem possuir alarmes de incêndio, com planos de evacuação localizados nas portas de 
entrada dos quartos, luzes e saídas de emergência, de fácil acesso, além de dispositivos de combate 
ao incêndio, como sprinklers, extintores, entre outros.
Infelizmente há muitos hotéis em nosso país que não possuem alarmes e os dispositivos de combate 
e prevenção estão vencidos. O mesmo ocorre com prédios públicos e comerciais.
Em outros locais, o acesso às viaturas de incêndio está comprometido pelo alto fluxo de veículos na 
região, entre outros problemas.
Alarmes em Segurança Pública também são utilizados em bancos e locais onde haja necessidade de 
aviso imediato da polícia.
Ao falarmos de Defesa Civil, no entanto, nos preocupa a falta de alarmes nas cidades, para aviso do 
impacto de fenômenos naturais de grave potencial de dano. Não há, de uma forma geral, qualquer 
tipo de alarme nas cidades, tampouco planos rápidos de evacuação e abrigos para a população em 
caso de graves tempestades, tornados e furacões, por exemplo.
Antes do furacão Catarina, havia a “desculpa” de que se acreditava que nosso país era imune a 
furacões. No entanto, houve o furacão, com sérios danos e nada de concreto mudou em termos de 
alerta e alarme. Em breve, teremos mais furacões, tornados e, infelizmente, mais danos. A falta 
de planejamento e prevenção é, com frequência, mais devastadoras do que muitos fenômenos da 
natureza.
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GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Quando assistimos pela televisão, em 11 de setembro de 2001, os atentados às torres gêmeas 
do World Trade Center e vimos, horrorizados, o segundo avião dirigir-se a uma das torres, em 
transmissão ao vivo, estávamos presenciando aos momentos finais da fase de pré-impacto, quando 
mais nada poderia ser feito para impedir o impacto. Isso significa que as pessoas que morreram 
naquele atentado não poderiam ter sido salvas? Bom, isso já é uma outra história, pois há diversos 
trabalhos mostrando que foram cometidas falhas inaceitáveis de resposta,apesar do heroísmo de 
todos naquele dia.
Atentado no WTC-11/09/2001
Fonte: <http://www.youdecidepolitics.com>.
Impacto
A fase de impacto é o momento em que ocorre o evento crítico propriamente dito. Tanto pode 
representar uma situação verdadeira de impacto, como a queda de uma aeronave, como pode ser 
o momento em que se iniciou um ataque bioterrorista, que será mortal, mas silencioso, e levará 
algum tempo até que todos percebam terem sido vítimas de um atentado.
Se a fase de impacto foi precedida por medidas preventivas adequadas, eficazes e eficientes, há 
grandes chances de minimização dos seus efeitos. Há situações que poderiam se transformar em 
um desastre, mas, graças a medidas preventivas, ocorrem danos na região, possivelmente mortos e 
feridos, o que seria uma tragédia, mas não um desastre. Por outro lado, há desastres, que poderiam 
ter sido totalmente evitados.
Em 1989, na cidade de São Francisco, ocorreu um terremoto de 6,9 na escala Richter. Essa escala 
foi construída em 1935 pelos sismólogos Charles Richter e Beno Gutemberg. Inicialmente ela ia 
de 0 a 9, onde 0 seria o menor terremoto possível e 9 o maior. No entanto, hoje sabe-se que não 
há um número inferior ou superior que possa ser considerado limite e a escala muitas vezes tem 
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UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
sido chamada de escala aberta de Richter. Em 1960, no Chile, foi registrado o maior terremoto da 
história, atingindo 9,5 nessa escala.
Terremotos como o de 1989, em São Francisco, ocorrem em média 100 à 120 por ano, em todo o 
mundo. Nesse que ficou conhecido como terremoto de Loma Prieta (Montanha negra, em espanhol), 
devido ao epicentro ter ocorrido perto desse local, deixou 63 mortos e quase 3.800 feridos.
Loma Prieta-1989 
Fonte: <www.nasa.gov>.
Em 2006, um terremoto de 6.2 na escala Richter matou mais de 6.000 pessoas na ilha de Java, na 
Indonésia, deixando cerca de 20.000 feridos.
<http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/05/29/ult34u155379.jhtm>.
Faça uma análise de por que um terremoto com intensidade até inferior ao dos 
Estados Unidos foi muito mais devastador?
Durante a fase de Impacto, são colocados em prática todos planos de Desastre e de Contingência.
A fase de Impacto é divida didaticamente em:
 » Alarme
 » Resgate
 » Socorro
 » Busca e Salvamento
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GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Uma vez que o alarme é acionado na fase de Pré-Impacto, só é desativado após a ocorrência do 
impacto e, por essa razão, começamos a fase de Impacto com o alarme, que já discutimos.
Tão logo o evento crítico tenha sido iniciado, as operações de resgate, de socorro e de busca e 
salvamento são disparadas.
Tanto o resgate quanto o salvamento são normalmente praticados por bombeiros, mas há muitas 
regiões do Brasil onde não há bombeiros militares. Em algumas cidades do sul do país, por exemplo, 
encontramos unidades de bombeiros voluntários muito bem organizadas e treinadas. Em muitos 
outros municípios não há nenhum tipo de socorro organizado, o que complica muito a situação das 
vítimas, pois as operações de socorro, resgate e salvamento praticadas por profissionais, acabam 
sendo realizadas de forma tardia. É fundamental que as prefeituras assumam um papel de pró-
atividade na elaboração de Planos de Desastre e de Contingência para seus municípios, o que inclui 
a organização e o treinamento de equipes de pronto-emprego.
Bombeiros Voluntários do Rio Grande do Sul
O socorro às vítimas obedece a seguinte sequência:
1. Chegar ao local
2. Organizar segurança do local e avaliação do cenário
3. Chamada do socorro adequado (reforço), se necessário
4. Organizar o isolamento
5. Contenção (evitar propagação do incidente)
6. Dispor de um Posto de Comando
7. Facilitar o acesso às vítimas e a Triagem
8. Socorrer às vítimas
9. Transportar as vítimas
10. Chegar ao hospital
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UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
Zonas
Em incidentes críticos, utiliza-se o conceito de zonas da seguinte forma:
Zona Quente – Local do incidente, onde há grave risco de lesões e/ou morte
Zona Morna – Local próximo ao incidente, onde há risco moderado para os que ali estão. Nesse 
local é realizada a triagem e atendimento inicial de feridos.
Zona Fria – Local seguro, para onde devem ser levadas as pessoas durante uma evacuação e onde 
devem permanecer as equipes de socorro que não estejam diretamente envolvidas nas operações 
de resgate das vítimas.
Triagem
Em incidentes com múltiplas vítimas e desastres, há necessidade de avaliação das vítimas, com 
vistas a definir as prioridades de atendimento. Esse processo é conhecido por triagem.
Na prática, de acordo com as recomendações internacionais, é estabelecida uma área segura para 
a realização da triagem, que deve ser em local próximo o suficiente para que as vítimas possam 
ser facilmente transportadas e distante o suficiente para não oferecer riscos aos que ali estão 
(Zona Morna).
As vítimas são classificadas conforme a gravidade, em:
1. Vermelho – Risco iminente de morte
2. Amarelo – Necessidade de atendimento urgente, mas sem risco iminente de morte
3. Verde – Necessita de atendimento médico, mas pode aguardar
4. Preto ou Branco – Vítimas fatais 
Uma vez classificadas, as vítimas são transportadas para áreas identificadas com as respectivas 
cores e as vítimas passam a portar um cartão que define sua prioridade. Como a triagem é dinâmica, 
as prioridades podem mudar ao longo do atendimento. 
As vítimas são transportadas de acordo com as prioridades estabelecidas. Assim, as vítimas 
“amarelas” só podem ser transportadas após as “vermelhas.”
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GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Ficha de triagem das vítimas
O método de triagem mais utilizado no Pré-hospitalar é conhecido por START e é assim 
esquematizado:
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UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) oferece 
uma excelente simulação online de desastres, incluindo exercícios de triagem, que 
pode ser acessada gratuitamente em <http://www.virtual.epm.br/cursos/desastre/
index.php>.
Baseado nas informações acima sobre triagem, classifique as seguintes vítimas, de 
acordo com as prioridades, no sistema de cores:
Vítima 1
 » Enchimento capilar = 6 segundos. 
 » Encontra-se caída próxima aos escombros do desabamento. 
 » Confusa. 
 » Respira. 
 » FR = 36 rpm. 
 » Não responde ordem verbal. 
 » É necessária imobilização completa da coluna cervical com colar 
semirrígido, coxins laterais e prancha longa. 
 » A equipe de segurança já entrou no local. Não há risco. 
 » Vias aéreas pérvias.
Vítima 2
 » Enchimento capilar = 1,5 segundos. 
 » Achada escondida sob escombros. 
 » Orientado, e muito gemente. 
 » Será certamente avaliada posteriormente. 
 » Consegue falar. 
 » FR = 28 rpm. 
 » Obedece ordem simples. 
 » Será encaminhada sozinha. 
 » Os bombeiros já retiraram todos os escombros que a encobriam.
 » Via aérea pérvia.
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GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I
Vítima 3
 » Enchimento capilar ausente. 
 » Escondida sob muitos escombros, apresentando intenso sangramento na 
cabeça. 
 » Inconsciente. 
 » Será avaliada posteriormente. 
 » Após o posicionamento das vias aéreas, a vítima continua em apnéia. 
 » Respiração ausente. 
 » Não responde ordem verbal simples. 
 » Está imóvel. 
 » A equipe de segurança já retirou os escombros próximos à ela.
 » Não respira.
Socorro às Vítimas
No atendimento às vítimas, não há diferença no Suporte Básico e Avançado de Vida a ser prestado, 
quando comparado àquele realizado rotineiramente pelos serviços de emergência.
Uma vez definidas as prioridades, as vítimas devem ser atendidas de acordo com os protocolos 
internacionais.
Todos profissionais de segurança pública têm a obrigação de saber prestar o suporte básico de vida 
e todos médicos e enfermeiros devem estar aptos a prestar o suporte avançado de vida, dentro de 
suas competências profissionais.
Há diversos sites com informaçõessobre suporte básico de vida, como:
<http://www.bombeiros.go.gov.br/downloads/pdf/Resgate-Protocolo%20Basico.
pdf>.
As novas recomendações internacionais para suporte básico e avançado de vida 
podem ser encontradas em português no site da Associação Americana do Coração 
(American Heart Association):
<http://www.americanheart.org/downloadable/heart/1141072864029CurrentsPor
tugueseWinter2005-2006.pdf>.
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UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL
Pós-Impacto
Didaticamente, podemos afirmar que o Pós-Impacto tem início após a ocorrência do impacto e o fim 
das operações de socorro, resgate e busca e salvamento.
É dividido em:
 » Recovery
 » Reconstrução
Há ainda alguma controvérsia nesse tema, pois muitos colocam o Pós-Impacto em uma única fase 
 de reconstrução.
Não há uma única palavra em português que possa, com exatidão, traduzir recovery, que significa 
voltar ao estado original. Ou seja, voltar como era antes do impacto.
É importante que essa ação seja lembrada, pois há necessidade de a população voltar aos afazeres 
normais, como parte de sua recuperação. Se imaginarmos que apenas depois da reconstrução isso 
irá ocorrer, poderemos estar falando de vários meses ou anos.
No recovery, especial atenção é dada aos aspectos psicológicos, sociais e econômicos e não apenas 
na questão material, comum, na Reconstrução.
1. Sua cidade possui um Plano de Desastres e de Contingências?
2. Você já recebeu treinamento em como agir nessas situações, como 
cidadão?
3. Os hospitais de sua cidade estão preparados para a resposta a incidentes 
com múltiplas vítimas?
4. Os hospitais possuem Plano de Desastres? E se essas instalações sofrerem 
um incêndio, exemplo do Hospital das Clínicas de São Paulo que, em 
poucos meses, sofreu dois incêndios?
5. Há uma integração entre os serviços de pré-hospitalar em sua região? 
6. Há Defesa Civil em sua cidade? Como é a atuação dela?
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UNIDADE IISITUAÇÃO COM 
REFÉNS
CAPÍTULO 1
Negociação de Reféns
“Em meio à morte, a vida persiste. Em meio à inverdade, a verdade persiste. Em meio 
à escuridão, a luz persiste!” 
Mahatma Gandhi
O Brasil, infelizmente, tem sofrido, ao longo dos anos, as consequências da violência urbana, com 
ausência do Estado, tanto na prevenção quanto na resolução de questões que, em muitos casos, 
como os furtos e roubos em áreas de alto índice de ocorrências, seriam de fácil resolução, faltando 
apenas a vontade política de resolvê-los; em outras situações, a questão é bem mais complexa, como 
é o caso do narcotráfico.
Os dados estatísticos em Segurança Pública no Brasil nem sempre são fáceis de serem encontrados 
e, em alguns casos, são conflitantes e pouco confiáveis. De qualquer forma, de acordo com o 
Instituto de Segurança Pública da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o número 
de sequestrados entre janeiro e outubro cresceu 85,7% de 2011 para 2012. No período da Copa do 
Mundo de 2014, apenas na Vila Madalena em São Paulo, onde havia grande quantidade de turistas, 
o número de crimes (todos) teve um aumento de cerca de 3.500%, com os roubos representando um 
crescimento de 1.400%.
A Lei no 11.923, de 17 de abril de 2009, que trata da tipificação do sequestro-relâmpago, foi sem 
dúvida de grande importância para punir com mais rigor uma modalidade criminosa ainda bastante 
empregada em várias cidades brasileiras.
O número dos chamados sequestros clássicos (extorsão mediante sequestro) é, na maioria dos 
casos, subnotificada, pois há muitas famílias que não procuram a polícia e pretendem resolver a 
situação por conta própria, o que pode ser um erro, uma vez que muitos casos, quando a polícia não 
é envolvida, possuem um desfecho trágico.
Um situação com reféns pode ocorrer por meio de:
1. Sequestro clássico. 
2. Sequestros-relâmpago. 
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UNIDADE II │ SITUAÇÃO COM REFÉNS 
3. Situações em que um ou mais criminosos estão praticando um crime e “pegam” um 
ou mais reféns para fugir. 
4. Criminosos em fuga que pegam refém para conseguir escapar. 
5. Rebeliões em presídios. 
6. Casos passionais nos quais uma das partes de um casal ou pessoas que já tiveram 
um relacionamento afetivo toma a outra parte como refém. 
7. Pessoas que invadem repartições públicas ou privadas e fazem reféns para obter 
alguma vantagem. 
8. Sequestro de aeronaves ou outros meios de transporte coletivo. 
9. Sequestros políticos. 
10. Outras situações.
Para nosso estudo, iremos nos concentrar na situação em que há um ou mais tomadores de reféns e 
há necessidade de estabelecimento de uma negociação para resolução do problema.
Antes de tudo, é fundamental que as grandes cidades possuam protocolos de gerenciamento desse 
tipo de crise e que esteja claro o papel de cada um dos atores envolvidos.
Infelizmente, é comum, em muitas cidades, a falta desses protocolos e uma interação ruim entre 
a Polícia Militar e a Polícia Civil, fazendo com que as duas corporações possuam grupos de 
negociadores e de equipes de invasão tática dinâmica (por exemplo a SWAT), o que acaba gerando 
conflitos e confusões.
Uma regra básica diz que quem negocia não invade. Assim, o negociador não pode ser ao mesmo 
tempo membro do grupo tático, que realizará a invasão. Mesmo porque o perfil de quem negocia é 
completamente diferente de um policial tático.
Todo policial, contudo, independente da corporação a que pertença, deve estar apto a reconhecer 
a situação e realizar as primeiras ações de isolamento e de contenção da crise, bem como acionar a 
central, para solicitar apoio. Esse policial pode e deve começar a negociação, que deve ser continuada 
o mais rápido possível por especialistas na área. Os primeiros 15-20 minutos de uma situação com 
reféns são extremamente perigosos. 
De acordo com dados do FBI/HOBAS e do Research Fellow Columbia University Law School 
(2013), as seguintes estatísticas e informações foram encontradas nas situações de negociação de 
crises e negociação de reféns.
Local:
 » 53% dos casos ocorreram em residências (casas);
 » 21% ocorreram em apartamentos/condomínios;
 » 4% em casas móveis (trailers e motor home).
33
SITUAÇÃO COM REFÉNS │ UNIDADE II
Tempo de negociação:
 » 35% das ocorrências foram resolvidas entre 2-4 horas;
 » 26% entre 0-2 horas;
 » 19% entre 4-6 horas;
 » 11% entre 6-9 horas.
Características dos suspeitos:
 » 91% eram homens;
 » 39% eram casados;
 » 40% tinham entre 35-40 anos de idade;
 » Em 82% não foram feridos;
 » Em 72% dos casos, uma arma foi utilizada, sendo que em 37% das vezes era uma 
arma de fogo;
 » Em 30% dos casos, o suspeito havia ingerido álcool e 39% possuíam histórico 
criminal.
Características das vítimas:
 » 58% das vítimas eram mulheres;
 » 34% das vítimas não possuíam qualquer tipo de relacionamento com o suspeito (o 
que significa que, em 66% dos casos, havia algum tipo de relacionamento);
 » 25% eram menores de 18 anos de idade;
 » 80% não sofreram ferimentos.
Resolução:
 » Em 56% dos casos a negociação foi bem–sucedida;
 » Em 20% houve intervenção tática;
 » Em 12% houve uma combinação de negociação com ação tática;
 » 8% conseguiram escapar;
 » 71% dos incidentes não foram planejados.
Com relação aos ferimentos:
 » Em 97% dos casos ninguém se feriu;
 » Em 2% das situações policiais se feriram;
34
UNIDADE II │ SITUAÇÃO COM REFÉNS 
 » Em 1% dos casos, outras pessoas foram feridas;
 » Em 99% dos casos, não houve mortes.
Há uma diferença de conceitos entre negociação de crises e negociação de reféns, na doutrina policial 
americana. No primeiro caso, o criminoso pode manter pessoas sob seu poder, por determinado 
tempo e sob ameaça, mas não há uma demanda ou exigência para a polícia que vise a liberação das 
pessoas. Ocorre muitas vezes em decorrência de uso de drogas, instabilidade emocional e disputas 
familiares. A situação com reféns, por outro lado, é mais elaborada e há uma demanda clara por 
parte do criminoso com vistas a liberação dos reféns. Nos estudos analisados, em 96% dos casos, a 
situação é de negociação decrises e não de reféns.
O gerenciamento de crises e de reféns envolve quatro fases:
1. Fase de resposta: isolamento, contenção, controle e comunicação. 
2. Fase de distribuição estratégica: posicionamento de equipes táticas, estabelecimento 
de perímetros e posto de comando. 
3. Fase de negociação. 
4. Fase de resolução: prisão dos suspeitos e/ou resgate de reféns.
De acordo com um estudo publicado pela Rand Corporation no livro The Counter-Terrorism 
Handbook, de cada 1.000 reféns mortos em situações críticas, 780 morreram durante as tentativas 
de resgate/invasão, razão pela qual essa opção é sempre a última a ser utilizada, embora os policiais 
devam estar prontos para empregá-la desde o primeiro momento.
O papel do gerente de crises nas situações com reféns é:
1. Ser o responsável pelo gerenciamento do local do evento, incluindo as ações policiais 
como as dos especialistas em crise e negociadores. 
2. Coordenar e controlar os recursos necessários à resolução. 
3. Tomar as decisões necessárias para a resolução da crise. 
Em hipótese alguma, contudo, o gerente de crises assumirá posição de negociador e nem de 
coordenador da equipe tática no resgate de reféns. Uma vez tomada a decisão de invasão, cabe ao 
comando da equipe tática tomar as decisões pertinentes.
Gestão de crises em segurança pública
O FBI recomenda o uso do chamado “critério de ação” para ajudar na tomada de decisões com vistas 
à invasão de um local com reféns. Deve-se considerar os seguintes questionamentos:
1. A ação é necessária? 
2. A ação possui risco elevado para os reféns? Há alternativas melhores? 
3. A ação é aceitável, sob o ponto de vista ético e legal? 
35
SITUAÇÃO COM REFÉNS │ UNIDADE II
As seguintes situações, segundo Thomas Davidson (2006), devem ser consideradas como de alto 
risco de morte para reféns e deve ser levada em consideração pelos gerentes de crise (incident 
commanders).
 » O suspeito comete uma ação de forma deliberada sabendo que haverá resposta da 
polícia (ex.: atira contra os que estão do lado de fora). 
 » A vítima é selecionada pelo suspeito, especialmente quando se trata de alguém com 
quem teve relacionamento amoroso, membro da família e ex-chefe. 
 » Há um histórico de ocorrências entre a vítima e o suspeito, especialmente quando 
há registro de disputa de custódia de filhos ou de agressões. 
 » O suspeito faz ameaças diretas à vítima. 
 » O suspeito tem histórico de ações similares. 
 » O suspeito tem passado por situações extremamente estressantes em curto prazo de 
tempo, como morte de alguém próximo, perda de emprego e divórcio. 
 » O suspeito perdeu contato com laços familiares. 
 » O suspeito verbaliza intenção de se matar. 
 » O suspeito deixou “suas coisas em ordem” ou deu a entender a alguém que poderia 
se matar. 
 » O suspeito age de tal forma a não sair vivo da situação, no chamado suicide by cop. 
Ele quer se matar, mas não tem coragem, então faz de tudo para que um policial o 
mate. Ex.: um tomador de reféns que usa um revólver de brinquedo e, ao se render, 
“atira” na polícia. A polícia atira nele e mata-o. 
Estabelecimento de perímetros
Após o isolamento e a contenção, quando ninguém que não esteja envolvido diretamente na operação 
pode entrar ou sair do local, são estabelecidos perímetros (Zona Quente, Morna e Fria). Na Zona 
Quente, permanece apenas a equipe tática e de inteligência, que irá observar as ações do suspeito. O 
Posto de Comando deve estar na Zona Fria. Se há equipes médico-táticas, pouco comuns em nosso 
país, devem estar posicionadas junto às equipes táticas, mas na retaguarda. As demais equipes de 
atendimento de emergência devem estar na zona morna ou zona fria, dependendo da situação e da 
avaliação do Incident Commander. 
Posto de comando
No posto de comando, devem estar os seguintes profissionais: gerente de crises (Incident 
Commander), comandante tático, negociadores em equipe (separada dos demais), profissionais 
36
UNIDADE II │ SITUAÇÃO COM REFÉNS 
de inteligência, supervisor de ligação (para contato com outras corporações e recursos que sejam 
necessários), supervisor de comunicações (para contato com a imprensa) e conselheiro legal (para 
aconselhamento jurídico das operações).
Muitas vezes, as situações são resolvidas rapidamente, mas há casos em que se passam horas ou 
dias. Nessas circunstâncias, devem ser providenciados o revezamento das equipes, a alimentação e 
toda a logística necessária.
Desde o início das negociações, familiares da vítima e do suspeito devem ser contatados por 
profissionais especialmente treinados, para que recebam as seguintes informações e outras que se 
fizerem necessárias:
1. O que está acontecendo.
2. Porque a polícia tem que negociar.
3. Porque as negociações são demoradas.
4. Se o suspeito é preso, o que acontece em seguida. 
5. Porque todos reféns são algemados, mesmo os que são soltos (para identificar de 
forma adequada se são mesmo reféns ou se participaram do crime, para segurança 
dos reféns e ainda para evitar que, em casos de Síndrome de Estocolmo, possam 
atrapalhar a polícia).
6. Explicar que na maioria das situações, a resolução é pacífica.
7. Deixar claro que a polícia está fazendo o melhor.
Apenas em filmes de cinema e televisão, negociadores se oferecem para ser trocados por reféns ou 
fazem a negociação “cara a cara”. Da mesma forma, é inadmissível o que presenciamos no episódio 
de Santo André, quando uma refém menor de idade, solta pelo suspeito, foi levada de volta pela 
polícia para negociar e acabou sendo feita refém novamente.
Síndrome de Estocolmo
Uma situação comum com reféns é chamada de Síndrome de Estocolmo, quando o refém passa a 
ter uma percepção positiva do suspeito e acaba querendo protegê-lo. Essa situação foi inicialmente 
reconhecida durante um assalto a banco na cidade de Estocolmo, na Suécia, em 1973. 
Os que experimentam a Síndrome de Estocolmo passam por três fases:
1. Sentimentos positivos dos reféns com relação aos captores. 
2. Sentimentos negativos dos reféns com relação à polícia. 
3. Sentimentos recíprocos dos tomadores e dos reféns. 
37
SITUAÇÃO COM REFÉNS │ UNIDADE II
Nem todos reféns irão desenvolver a Síndrome de Estocolmo, que pode se estabelecer tanto em 
poucos minutos, como em algumas horas ou dias. Se ao mesmo tempo em que pode ser bom para 
o refém o estabelecimento da síndrome, quando o tomador de reféns demonstra a reciprocidade, é 
sempre uma situação de risco, pois os reféns podem querer atrapalhar a atuação da polícia ou ajudar 
o tomador de reféns em sua fuga.
As técnicas de negociação e de intervenção, bem como o perfil psicológico dos tomadores de reféns 
não serão discutidos aqui, pois são atividades específicas dos negociadores e não dos gerentes de 
crise.
Com base nas informações conhecidas, faça uma análise, sob o ponto de vista 
de gerenciamento de crises, enfatizando os erros e acertos das quatro fases da 
negociação de reféns, do episódio do sequestro do Ônibus 174. Sugerimos que 
assista o documentário “Ônibus 174”, de 2002, de José Padilha.
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UNIDADE III
CRISES EM 
ESTABELECIMENTOS 
PRISIONAIS
CAPÍTULO 1
Rebeliões
“A violência essencialmente não pode ser traduzida por palavras, e ela começa 
apenas onde o pensamento e a comunicação racional deixam de existir”
Thomas Morton
Nossos estudos nessa área estarão voltados para a questão das rebeliões, que são situações mais 
críticas e que requerem a intervenção externa de forças policiais e a atuação de negociadores.
Há muitas outras situações de crise em presídios, mas relacionadas principalmente a questões 
gerenciais, regime disciplinar e atuação do crime organizado, motivo pelo qual não farão parte dessa 
discussão, mas que são extremamente importantes para quem posteriormente quiser se especializar 
em gerenciamento de crises em estabelecimentos prisionais.
No dia 18 de fevereiro de 2001, São Paulo viveu uma situação completamente atípica. Naquele dia, 
houve 29 rebeliões simultâneas em presídios no estado, em umdomingo, dia de visita, com mais 
de 1.000 reféns, lideradas pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Até hoje, não há um consenso 
sobre como classificar o PCC. Alguns o definem como Organização Criminosa, outros como uma 
associação de criminosos, mas o mais polêmico talvez seja como classificar as ações do grupo. 
Há uma corrente de pensamento que enxerga nas ações, crimes comuns. Há, no entanto, outra 
corrente, que entende que o grupo tem praticado atos terroristas, o que fica comprometido em um 
país que não possui legislação nem definição para terrorismo.
As principais reivindicações dessa megarrebelião foram entre outras: mais agilidade na tramitação 
dos processos para evitar que presos com penas vencidas continuem detidos; remoção de diretores 
de alguns estabelecimentos; volta dos líderes presos em Taubaté para a Casa de Custódia; desativação 
do Anexo em que eram aplicados o Regime Disciplinar. O saldo da rebelião foi de 17 presos mortos 
e o PCC condenando à morte os seus membros que promoveram a rebelião, por terem infringido 
seu regulamento iniciado uma rebelião em dia de visita, a executado de presos na frente de visitas, 
dentre outras acusações.
39
CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III
Fica muito difícil e inverossímil imaginar que uma rebelião que envolva 29 presídios, simultaneamente, 
não pudesse ter sido previamente detectada pelos órgãos de inteligência policial. A questão é: se 
esses órgãos não sabiam de coisa alguma precisam ser imediatamente reformulados, pois não estão 
cumprindo seu papel. Se os órgãos sabiam e nada fizeram, então houve, no mínimo, uma conivência 
criminosa ou mesmo uma grave omissão. O mais grave, no entanto, seria a opção, em que os órgãos 
sabiam, informaram às autoridades competentes e essas nada fizeram. Em nosso país, essas três 
realidades existem e são muito comuns. Ora, se tem um serviço de inteligência desaparelhado, mal 
estruturado e com baixo nível de formação de seus agentes e analistas, ora, se tem o oposto, com um 
serviço excelente, mas cujos dirigentes pouco valor dão ao conhecimento produzido. Raros são os 
serviços eficientes que conseguem informar de forma adequada as autoridades e essas por sua vez 
se antecipam nas ações críticas. Mais raro ainda, infelizmente, é vermos os órgãos de inteligência 
interagindo entre si e compartilhando informações. Enquanto isso, um serviço de inteligência bem 
eficiente é estabelecido pelo lado dos criminosos, que, ao encontrar uma contrainteligência frágil, 
desencadeiam suas ações.
As reivindicações de presos, na década de 1990, motivavam rebeliões sobretudo pelas condições 
precárias de encarceramento práticas aviltantes e pela incapacidade do Estado em manter o controle 
da situação.
A violência nas prisões devia-se principalmente por disputas internas entre organizações criminosas, 
o que ainda acontece nos dias atuais, além da deficiência do Estado no gerenciamento da dinâmica 
prisional.
Para entendermos melhor essa dinâmica prisional, é importante que voltemos um pouco na 
história, para analisarmos as rebeliões ocorridas nas décadas de 1950 e 1960, nos Estados Unidos. 
Naquela época, as reivindicações principais eram contra a presença de pessoal desqualificado para 
atuar em presídios, baixo investimento, indiferença da sociedade com a situação em que estavam, 
ociosidade forçada dos presos que não trabalhavam, superlotação, megaprisões, bem como falta de 
um programa voltado para a ressocialização, o que também não difere muito da situação atual dos 
presídios brasileiros. A diferença é que estamos falando de eventos ocorridos naquele país, há cerca 
de 50 anos.
Donald Clemmer, em de seu livro The Prison Community, descreveu a cultura das prisões na década 
de 1930 e 1940, afirmando que não se tratava de uma cultura fechada. Segundo esse autor, a prisão 
é um mundo à parte e a “prizonização” (prizonization) seria a incorporação dos valores praticados 
no estabelecimento prisional, pelo detento. Esse processo já iniciar-se-ia a partir da chegada do 
preso ao presídio. Novas regras são conhecidas, muitas completamente diferentes a quem está 
acostumado com a liberdade, inclusive com o linguajar próprio utilizado. Nem todos passarão 
por todas as mudanças que frequentemente ocorrem no processo de “prizonização”, mas todos 
sofrem algum tipo de alteração, o que seria de se esperar, já que estariam colocando criminosos 
de diferentes facções e ideologias, convivendo sob o mesmo teto. A assimilação passaria a existir 
quando um grupo de detentos passasse a ter contato, com outro, de tal forma a haver uma fusão de 
objetivos e de valores. Quanto maior esse contato, maior a assimilação. Haveria, então, os chamados 
“Fatores Universais de Aprisionamento”:
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UNIDADE III │ CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS 
 » Aceitação de um papel inferior na sociedade.
 » Adoção de novos hábitos e rotinas diárias, inclusive de alimentação e sono.
 » Incorporação de novo linguajar.
 » Acumulação de fatos oriundos da organização prisional.
 » Desejo de um bom emprego.
O processo completo de “prizonização” passaria por fases. Dependeria, por exemplo, do tipo de 
vida levada pelo preso antes de ser encarcerado, bem como a sua personalidade, o que inclui a rede 
de relacionamentos que possuía. A fase seguinte é a do contato com os grupos e facções da prisão, 
quando passa a ter que escolher com quem se aliar, como ferramenta de proteção de sua integridade 
física. Começa, então, a fazer amizades com outros criminosos e a aceitar os dogmas da prisão.
A assimilação difere da “prizonização”, à medida que é um processo mais lento e não tão suscetível 
a mudanças extremas quanto o aprisionamento, que também pode ser lento e variar de pessoa para 
pessoa, a depender de uma série de características individuais, inclusive, o nível sociocultural do 
detento.
Em 1958, Gresham Sykes publica Sociedade dos Cativos: Um estudo da Prisão de Segurança Máxima 
(no original: The Society of the Captives: A study of a maximum security prison). Nesse livro, 
que se tornou um clássico para os estudiosos do assunto, o autor argumenta que os detentos são 
desprovidos de liberdade, autonomia, segurança, bens materiais e até privados de relações sexuais. 
O Estado não consegue, por sua vez, lidar com todas essas questões de forma positiva e o resultado 
acaba sendo a corrupção dos agentes penitenciários, o relaxamento da vigilância e das regras, entre 
outros aspectos. A teoria do autor passa a ser conhecida como o “modelo da privação”. Na avaliação 
de Sykes, as rebeliões ocorreriam por um desequilíbrio nas relações estabelecidas entre as forças de 
poder exercidas pelas autoridades prisionais e os presos. A gestão dos estabelecimentos prisionais 
dependeria de uma série de concessões. A busca do poder seria motivo de acirramento das tensões e 
as rebeliões não seriam eventos explosivos, mas situações que aos poucos iriam se agravando.
Sociedade dos Cativos
41
CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III
Pouco tempo depois e em meio à Guerra Fria, Erving Goffman publica, em 1961, o livro Asylums, 
onde discute a situação social de detentos e de pacientes com distúrbios mentais.
As rebeliões na década de 1970, nos Estados Unidos, tinham como foco as reivindicações dos 
movimentos negros, a atuação de grupos de ativistas de movimentos civis e podia ser, portanto, 
entendida como desdobramento do pensamento e das revoltas que estavam acontecendo nas ruas. 
Em 1966, é fundado, nos Estados Unidos, o grupo que seria conhecido por “Panteras Negras” e que, 
em seu auge, teria em suas fileiras cerca de 2.000 militantes. O objetivo inicial desse grupo seria 
proteger a população negra da violência da polícia. As reivindicações com o tempo, no entanto, foram 
ficando cada vez mais radicais e incluíam a liberação de todos negros presos, isenção de impostos 
para negros e alguns defendiam a luta armada contra a “América branca”. Esse era um momento 
de racismo declarado e acirrado no cenário americano.Foi nessa mesma década que o presidente 
John Kennedy, árduo defensor da igualdade racial, havia sido assassinado poucos anos antes, em um 
episódio até hoje pouco esclarecido e repleto de mistério, apesar de não relacionado a questões raciais. 
Poucos anos mais tarde, o líder negro pacifista Martin Luther King também seria assassinado.
Em 1971, ocorre a rebelião na penitenciária de Attica. A rebelião teve como motivação inicial a demanda 
dos prisioneiros por melhores condições no cárcere; no entanto, a “gota d’agua “ teria sido a morte 
do prisioneiro George Jackson, um radical do movimento negro, fundador do movimento “Família 
Guerrilheira Negra”, preso em San Quentin , quando tentava escapar armado da prisão. Cerca de 
1.000 dos quase 2.200 presos se rebelaram e tomaram conta do presídio, fazendo 33 reféns. Nos 
quatro dias de negociação que se seguiram, o governo atendeu 28 exigências dos presos, exceto a que 
pedia anistia de processos criminais e substituição do supervisor da prisão. O governador, à época, era 
Nelson Rockefeller, que ordenou então a invasão do presídio pela polícia. O saldo foi de 39 mortos, 
incluindo 10 agentes penitenciários e funcionários do presídio. A ação do polícia foi iniciada com o uso 
de grande quantidade de gás lacrimogênio (tear gas), seguida por tiros de escopeta.
Para saber mais sobre a rebelião de Attica:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Attica_Prison_riots>.
<http://www.history.com/this-day-in-history.do?action=Article&id=1125>. 
Rebelião de Attica – 1971
Fonte: <www.americanheritage.com>.
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UNIDADE III │ CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS 
As rebeliões na década de 1970, na Europa, tinham uma característica que posteriormente também 
ocorreu no Brasil, que foi o contato de presos políticos com presos comuns. Foi dessa forma que 
surgiu, no presídio da Ilha Grande no Rio de Janeiro, a chamada Falange Vermelha, precursora 
do Comando Vermelho. Os presos comuns passaram a receber de presos políticos informações 
sobre guerrilha urbana e doutrinação ideológica em muitos casos. Não é por acaso que o “Mini-
Manual de Guerrilha Urbana”, de Carlos Mariguela, com frequência foi encontrado com grupos de 
narcotraficantes.
Em 1974, na França, houve 152 rebeliões em 77 prisões. A situação passou a ser controlada com o 
fim dos presos políticos e de seus grupos e a legislação que, em 1978, foi modificada de tal forma a 
favorecer as intervenções policiais.
De acordo com Robert Adams(1994), as rebeliões:
 » são parte de um continuum de atividades;
 » envolvem discórdia e/ou protestos;
 » provocam interrupção no funcionamento da prisão;
 » propiciam que os presos tomem a prisão ou parte dela;
 » são temporárias;
 » envolvem grupos de presos;
 » são direcionadas para obter mudanças ou expressar queixas.
De acordo com o Ministério da Justiça, a população encarcerada no Brasil tem aumentado de forma 
considerável, conforme o gráfico a seguir.
População encarcerada no Brasil 1988-2003
Fonte: Ministério da Justiça
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CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III
Os dados mostram que esse aumento não se dá apenas em números absolutos, mas também por 
 100.000 habitantes.
População encarcerada no Brasil 1988-2003
Fonte: Ministério da Justiça
As rebeliões no Brasil envolvem os seguintes aspectos:
 » Vínculo a grupos criminosos.
 » Alto índice de corrupção.
 » Frequentes desdobramentos de fugas frustradas.
 » Cotidiano das prisões administrado pelos próprios presos.
 » Mortes abribuidas pelo Estado a “acertos de contas”.
 » Omissão do Estado administração carcerária.
 » Superpopulação de presos nas celas.
 » Eliminação de rivais de grupos criminosos, durante rebeliões (com esse objetivo).
 » Proteção em troca da “lealdade” (Bin Ladens).
 » Partilha no dividendo das atividades criminosas.
Nas unidades penitenciárias brasileiras, que em sua grande maioria são administradas elo Estado, 
pode-se detectar:
 » Preso não trabalha por não haver legislação que obrigue a isso.
 » Alto índice de ociosidade.
 » Formação deficitária dos agentes penitenciários.
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UNIDADE III │ CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS 
 » Presença marcante de facções e grupos criminosos.
 » Pouco ou nenhum controle na entrada e uso de celulares, drogas e outros objetos 
proibidos.
 » Superpopulação de presos nas celas.
 » Compartilhamento de celas por presos com diferentes níveis de periculosidade.
 » Poucos programas voltados para a profissionalização ou reinserção social do preso.
 » Ausência de legislação que permita o encarceramento por mais de 30 anos, o que 
significa que os grandes bandidos condenados por centenas de anos de reclusão 
nada tem a perder no cometimento de mais crimes.
 » Dificuldade na realização de interrogatórios a distância, por teleconferência, o que 
diminuiria o risco de fugas e de ações de tentativa de resgate de presos.
 » Alto índice de violência , prosmicuidade e consumo de drogas.
Aliados a isso destacam-se, no Brasil: a ausência de uma legislação que permita o encarceramento 
por mais de 30 anos, o que leva os grandes bandidos, condenados à pena máxima, a cometerem 
outros crimes, por não terem nada a perder; a necessidade de revisão urgente da Lei de Execuções 
Penais.
Em 2003, com o art. 52 da Lei no 10.792, com reação contrária de muitos jornalistas, organizações 
criminosas, de direitos humanos e até mesmo juristas, surge o Regime Disciplinar Difereciado, 
estabelecendo nos incisos I, II, III e IV:
I. duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção 
por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;
II. recolhimento em cela individual;
III. visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas 
horas;
IV. o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho do sol.
Entre 2002 e 2003, o Comando Vermelho no Rio de Janeiro foi acusado de:
 » Tentativa de resgate de presos.
 » Ataque a viaturas da PM.
 » Lançamento de granadas contra shopping.
 » Disparos contra o Palácio da Guanabara.
 » Colocação de Coquetel Molotov em metrô.
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CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III
 » Detoração de bomba caseira contra Hotel Meridien.
 » Organização debloqueios e assaltos nas ruas.
 » Comparação com ação das FARC, pela antropóloga Alba Zaluar.
De lá para cá, a violência urbana cometida por diferentes facções e grupos criminosos, incluindo as 
recentes, formações de milícias, tem mostrado características de ações terroristas, embora nos falte 
legislação nessa área, como também de guerrilha urbana, com grave omissão do Estado em diversas 
áreas.
Em 2006, o PCC em São Paulo foi acusado de comandar um ataque sem precedentes a diversos 
pontos da capital, incluindo unidade do Corpo de Bombeiros, polícias e agentes penitenciários de 
folga e em serviço, com um saldo final de mais de 250 ataques e mais de 110 mortos. Algo comparável 
apenas a países em guerra declarada ou vivendo em situação de guerrilha urbana.
Segundo Fernando Salla (2006), podemos concluir que a situação atual das unidades carcerárias 
mostra:
 » Estado omisso, ineficiente e ineficaz;
 » massas carcerárias sob controle das lideranças do crime organizado;
 » grupos com potencial de formação de força política;
 » surgimento de novos grupos criminosos.
O gerente de crise, diante de tal realidade, deve não apenas conhecê-la, mas assim como em situações 
como reféns (o que também é comum nas rebeliões) ter a serenidade e o profissionalismo necessário 
para atuar. 
Em rebeliões, as regras a serem seguidas e observadas são as mesmas que as discutidas com relação 
à negociação de reféns.
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Para (não) Finalizar
As operações de busca e salvamento, como também de transporte de vítimas, são atividades que 
requerem treinamento e não são objeto de nosso estudo.
O Gerente de Crises precisa conhecer as fases de Pré-Impacto, Impacto e Pós-Impacto, sabendo que 
ações são devidas em cada uma dessas fases, o Sistema de Comando de

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