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Brasília-DF. Gestão de Crises em seGurança PúbliCa Elaboração Luiz Henrique Horta Hargreaves Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL ..................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 PREVENÇÃO E RESPOSTA EM INCIDENTES CRÍTICOS.................................................................. 9 UNIDADE II SITUAÇÃO COM REFÉNS ...................................................................................................................... 31 CAPÍTULO 1 NEGOCIAÇÃO DE REFÉNS ..................................................................................................... 31 UNIDADE III CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS .......................................................................................... 38 CAPÍTULO 1 REBELIÕES .............................................................................................................................. 38 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 47 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A Segurança Pública compreende uma série de ações destinadas a proteger os direitos individuais e coletivos, visando, entre outros, o exercício da cidadania. Embora a Polícia seja um dos importantes integrantes da Segurança Pública, as situações críticas nessa área não se resumem a ocorrências policiais. Neste Caderno, abordaremos as situações críticas mais comuns em Segurança Pública, incluindo Defesa Civil. Um bom estudo para todos! Objetivos » Compreender os conceitos de Crise em Segurança Pública. » Compreender a importância do tema no Gerenciamento de Crises. » Apresentar conceitos e instrumentos para gerenciamento de crises em Segurança Pública. 9 UNIDADE IGESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL CAPÍTULO 1 Prevenção e Resposta em Incidentes Críticos “Desastre é qualquer evento crítico que excede a capacidade de resposta da sociedade” Ciottone Iniciaremos nosso estudo em Segurança Pública abordando a Prevenção e Resposta em Incidentes Críticos como um dos elementos de Gestão de Crises em Defesa Civil. O conceito de Defesa Civil é discutido em diferentes países do mundo, desde a década de 1920, objetivando preparar a população civil para ataques militares. Essa preparação foi fundamental ao longo dos anos, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a década de 1950 e 1960, contudo, houve a organização de serviços de Defesa Civil em diversos países, motivados pela Guerra Fria e pelo medo de uma guerra nuclear. No entanto, na década de 1970, mais precisamente durante a Conferência Diplomática para a Reafirmação e Desenvolvimento da Lei Humanitária Internacional em Conflitos Armados (1974- 1977), o papel da Defesa Civil como instituição de proteção dos civis em situações de conflitos foi, não apenas reconhecido como importante, como também inserido no Protocolo Adicional I das Convenções de Genebra. Esse Protocolo define Defesa Civil (Proteção Civil) como sendo o “conjunto de ações humanitárias voltadas para a proteção de populações civis contra perigos oriundos de hostilidades ou desastres, de tal forma a assisti-las em suas necessidades imediatas e assegurar as condições necessárias à sua sobrevivência.“ O símbolo internacional da Defesa Civil, também chamada de Proteção Civil em alguns locais, é um triângulo laranja em fundo azul, mas cada país fez suas adaptações a esse símbolo. 10 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL O surgimento da Defesa Civil no Brasil se deu a partir de 1942, com a entrada do País na Segunda Guerra Mundial . Para conhecer mais sobre essa história acesse o link a seguir: <http://www.defesacivil.gov.br/historico/brasil.asp>. Desde então, diversas mudanças foram ocorrendo na sua estrutura até chegar àconfiguração atual de Secretaria Nacional de Defesa Civil, órgão do Ministério de Integração Regional. O Órgão Superior da organização do Sistema Nacional de Defesa civil no Brasil é o Conselho Nacional de Defesa Civil (CONDEC), responsável pela formulação e deliberação de políticas e diretrizes do sistema. O CONDEC é composto por representantes de diversos órgãos governamentais do Poder Executivo. A Secretaria Nacional de Defesa Civil é responsável, pela articulação, coordenação e supervisão técnica do sistema, constituindo-se em órgão central. Abaixo do órgão central, há os órgãos regionais que, por meio das Coordenadorias Regionais de Defesa Civil (CORDECs), são responsáveis pela coordenação e articulação do sistema em nível regional e, por essa razão, estão presentes nas cinco macroregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Em nível estadual, essa coordenação está à cargo das Coordenadorias Regionais de Defesa Civil e do Distrito Federal (CEDECs) e, em nível municipal, das Coordenadorias Municipais (COMDEC) e Núcleos Comunitários (NUDECs) de Defesa Civil. O instrumento legal que trata e dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil e o Conselho Nacional de Defesa Civil é Decreto no 5.376, de 17.02.2005. » Decreto no 5.376 de 2005 – <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2005/Decreto/D5376.htm> – Dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil » Organização do Sistema Nacional de Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov. br/sindec/organizacao.asp>. » Política Nacional de Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/ politica.asp>. » Defesa Civil nos Estados – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/estados/index. asp>. » Objetivo da Defesa Civil – <http://www.defesacivil.gov.br/sindec/index.asp>. 11 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Logo da Defesa Civil do Brasil A Constituição Federal brasileira, em seu artigo 144, assim dispõe: Da Segurança Pública Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I. polícia federal; II. polícia rodoviária federal; III. polícia ferroviária federal; IV. polícias civis; V. polícias militares e corpos de bombeiros militares. Ao definir as ações dos corpos de bombeiros diz que: “aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.” Essa é uma discussão antiga em diversos meios, pois há muitas pessoas que enxergam nessa afirmação que a execução das atividades de defesa civil é prerrogativa exclusiva dos corpos de bombeiros. Não é. Uma vez que as ações de defesa civil são inerentes a vários órgãos e também à sociedade organizada, os corpos de bombeiros têm o dever constitucional de executar as atividades de defesa civil (ou seja, não podem deixar de fazê-lo), mas não é uma exclusidade. Mesmo porque, se assim fosse, estaríamos relegando o conceito amplo de defesa civil às atividades específicas do bombeiro. Naturalmente que entre as ações de defesa civil há algumas que são típicas da atividade dos bombeiros como a de salvamento e de combate a incêndios e, neste caso, devem ser realizadas por eles, sempre que possível. Infelizmente, muitos são os municípios que sequer dispõem de um destacamento de bombeiros. Não temos em nosso país uma tradição forte de bombeiros voluntários como em outros países como o Chile. No Brasil, a maior parte deles está no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Nos Estados Unidos, a Defesa Civil foi transformada em Agência Federal de Manejo de Emergências (FEMA) e é parte do Departamento de Segurança Interna (Homeland Security Department) surgido após os atentados de 11 de setembro. 12 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL <http://www.dhs.gov/index.shtm> – Departamento de Homeland Security. <http://www.fema.gov – FEMA>. Ao colocar a FEMA no mesmo Departamento em que estão órgãos de combate ao terrorismo, os Estados Unidos centralizaram as ações de prevenção e resposta às mais diferentes situações críticas em uma única instituição, visando o trabalho integrado e seguindo uma única política de ações. Isso já não ocorre no Brasil. Aqui temos diferentes órgãos, sob a responsabilidade de diferentes ministérios, muitas vezes tratando de temas comuns. Não é à-toa, que uma pergunta é sempre feita no Brasil, quando se trata de resposta a desastres. Quem assume a coordenação? Embora o Sistema de Comando de Incidentes (ICS), que estudaremos em breve, seja uma excelente ferramenta, ainda é pouco utilizado no Brasil e não resolve todas situações de crise, estando mais indicado para resposta a emergências e desastres. Há, no entanto, outras crises a serem resolvidas em Segurança Pública. Ao tratarmos de Prevenção e Resposta a eventos críticos e, em particular, a desastres e incidentes com múltiplas vítimas, é fundamental que primeiro saibamos definir essas situações. Diante de incidentes com magnitudes diferentes , independente de sua natureza, há necessidade de resposta articulada e organizada. Sutingco (Ciottone et. al. 2006, cap. 30) afirma que “muitos incidentes, independente de tratar-se de um desastre ou incidentes menores, frequentemente requerem resposta coordenada de uma variedade de agências ao longo de um já estabelecido sistema de comando e controle. O Incident Command System (ICS) foi criado para ser utilizado na cena de emergências e tem se tornado um instrumento-modelo de comando, controle e coordenação de uma efetiva resposta de emergência”. A maioria dos planos de atendimento de múltiplas vítimas é inadequada e usualmente inferior aos procedimentos adotados na resposta diária de emergências. Essa constatação ocorre tanto em comunidades com resposta avançada de emergência médica, como aquelas onde há apenas o sistema de resposta básico (BUTMAN, 1982). Os acidentes com múltiplas vítimas são aqueles que, independente da natureza do evento, causam lesão a diversas pessoas simultaneamente. Nessas circunstâncias, é comum a resposta desorganizada por parte de equipes de emergência, seja no atendimento inicial, como também na definição do hospital de destino. Um exemplo de acidente com múltiplas vítimas foi o atentado de 11/09 ao World Trade Center em Nova York (EUA). Nos desastres, a situação é diferente. A capacidade de resposta é inferior à magnitude do evento e, assim, a maioria das decisões estratégicas é tomada com base na estrutura existente e frequentemente o caos é estabelecido. Há em comum, no entanto, entre as duas situações, a necessidade de resposta organizada, gerenciada com base em conceitos estratégicos, gerenciamento de crise e qualidade no atendimento. Os chamados eventos críticos de grande porte, como acidentes com múltiplas vitimas e desastres, além de causarem comoção popular, requerem atendimento básico e especializado, de forma coordenada e baseada em planejamento adequado à realidade local, bem como treinamento continuado das equipes de emergência e da população. 13 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I A resposta de emergência deve ser baseada nessas situações de forma integrada, com comando unificado, por meio do conceito internacionalmente conhecido como Incident Command System, ou seja, um sistema de comando para incidentes, onde as diversas faces da resposta, como operações e logística, são tratadas de forma objetiva e com planejamento focado nas ações de curto, médio e longo prazos. Em situações de desastre, como furacões ou em grandes tempestades onde há isolamento e grande destruição de cidades, sobretudo no interior do país, frequentemente há um número de vítimas superior à capacidade de resposta das equipes de atendimento e hospitais da região. O atendimento é usualmente descoordenado e até mesmo improvisado. Poucas são as cidades preparadas para contingenciamento de emergências e desastres. Não há diferençasentre desastres e catástrofes. Ambas as palavras possuem o mesmo significado. No entanto, encontramos com maior frequência, em inglês e em espanhol, o equivalente à desastre (disaster e desastre, respectivamente), enquanto os franceses preferem o equivalente à catástrofe (catastrophe). Os nossos problemas começam a partir da definição. Não há um consenso em nosso país quanto a esses termos, apesar de internacionalmente consolidados. A Defesa Civil brasileira considera desastre “o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais.” Essa é uma definição ampla demais e, se a adotássemos, praticamente qualquer evento da natureza que provocasse qualquer tipo de dano ou prejuízo seria considerado um desastre. O que gera um grande problema, pois, sendo assim, quando acionar um Plano de Desastres? A Defesa Civil <http://www.defesacivil.gov.br/desastres/ recomendacoes/declarar/index.asp> adota, ainda, os termos “Emergência em Desastre” e “Estado de Calamidade em Desastres”, o que acaba gerando alguma confusão e redundância, pois, por definição internacional, um desastre já é uma situação de emergência e de calamidade pública. Seria muito importante que todos seguissem a mesma nomenclatura e doutrina, no caso, a internacional. Uma situação de desastre requer o esgotamento da resposta local, pela superioridade da magnitude do evento. Assim, adotaremos a definição internacionalmente aceita de desastre, que é aquela definida por Ciottone em seu livro Disaster Medicine (2007): “Desastre é qualquer evento que excede a capacidade organizada de resposta da sociedade”. Ou seja, não basta um evento ser de grande magnitude, nem crítico, nem que cause muitos danos ou muitas mortes. Para ser um desastre, a capacidade de resposta organizada deve ser excedida pelo impacto ocorrido. Do contrário, teremos acidentes com múltiplas vítimas ou mesmo grandes tragédias, que implicam dor e sofrimento, mas não se traduzem por planos específicos. Os incidentes são definidos pela FEMA, como “uma ocorrência, seja causada pelo homem ou por um fenômeno da natureza, que requer ações de resposta para prevenir ou minimizar perdas de vida, ou danos à propriedade e/ou ao meio ambiente”. É com essa definição que iremos trabalhar. A formação de Gabinete de Crise é comumente negligenciada e muitos são os mitos que envolvem o atendimento de emergências e desastres. O Gabinete de Crise, no entanto, deve providenciar o gerenciamento de informações e o conhecimento necessário ao gerenciamento completo do evento, bem como a integração e a coordenação da resposta como um todo. 14 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL Os desastres, quanto à sua natureza, podem ser: » Naturais: tornados, furacões, terremotos, etc. » Provocados pelo Homem: terrorismo, incêndioss, acidentes aéreos, etc. » Mistos: parte causada pelo homem e parte decorrente de fenômeno da natureza. Ex: Uma pessoa atira um cigarro aceso na mata, que, por estar muito seca com vento favorável, produz incêndio florestal. » Siderais: causados por elementos espaciais Para fins didáticos, podemos dividir os eventos críticos e particularmente os encontrados em emergências e desastres em: » Pré-Impacto » Impacto » Pós-Impacto Pré-Impacto Todos nós, que vivemos em uma situação onde não haja situação de desastre declarada, estamos na fase de Pré-Impacto de um desastre. Essa fase vai desde a completa ausência de indícios da iminência de um desastre até a sua ocorrência. É nessa fase que trabalhamos na prevenção. Precisamos cultivar a cultura de que a ocorrência de um desastre em nossa comunidade não é uma questão de “se”, mas de “quando”. Não há comunidade ou região do mundo imune a um desastre. Em emergência, a ocorrência de desastres no passado pode servir de alerta para o futuro, mas, a ausência de desastres no passado serve apenas para estatística, não servindo como fator preditor para situações futuras. A Fase de Pré-Impacto é constituída por: » Análise de Vulnerabilidades, Ameaças e Riscos » Planejamento » Sistemas de Contingenciamento » Treinamento » Monitoramento de situações de risco potencial » Alerta » Alarme 15 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Análise de Vulnerabilidades, Ameaças e Riscos Esse foi o tema de nossa primeira disciplina do curso, propriamente dito, dada a sua importância na prevenção de crises. Não há hipótese de se realizar uma prevenção eficiente se não fizermos levantamento e analisárnos quais são nossos pontos fracos, fortes, nossas vulnerabilidades, quem nos ameaça e o risco a que estamos expostos. Quem deve ser o responsável por esse levantamento e análise? Em um nível micro, representado pelo ambiente de uma empresa, a própria instituição deve realizá-lo, por meio da Comissão de Prevenção de Acidentes e da Medicina e Engenharia do Trabalho. Mesmo porque, além de ser obrigação legal, prevista na normativa do Ministério do Trabalho, é de total interesse da corporação, a prevenção de acidentes e desastres. Infelizmente, na prática, as CIPAs, com frequência, se limitam a atender ou verificar os acidentes depois de ocorridos, algumas nem isso fazem. Poucas empresas possuem brigadas de incêndio e, menos ainda, análises de risco. Em um nível comunitário, municipal ou estadual, essa competência deve ser dos órgãos de Defesa Civil. Isso não significa que a própria Defesa Civil tenha que executar o trabalho em si, mas coordenar a sua elaboração e sua análise, visando a construção de mapas de risco, planos de contingenciamento, treinamentos e os demais elementos dessa fase. Aliás, um ponto precisa ser deixado claro. A Defesa Civil não é órgão executor, mas de planejamentos e de coordenação. Não faz sentido, portanto, como vemos em alguns locais do país, viaturas da Defesa Civil prestando atendimento de emergência, removendo cadáveres, entre outras ações que deveriam ser de responsabilidade de órgãos executores, como o Corpo de Bombeiros, por exemplo. O fato da Defesa Civil não ser órgão executor não a exime, no entanto de estar à frente das ações que precisam ser coordenadas, pois essa é a sua função. Mais tarde veremos como isso deve ocorrer. A forma mais fácil e prática de realizar mapas de risco nas comunidades é trabalhar em conjunto com os moradores locais. O órgão encarregado de fazer o estudo de risco da região, para posteriormente o encaminhar à Defesa Civil, ao entrar em contato com os seus habitantes, além de poder obter apoio e confiança recíproca que é podera conhecer mais de perto situações que não serão reveladas pelo mapa ou satélite, como pontos de alagamento, por exemplo. É importante também que a população veja nos profissionais que representam esse órgao um apoio e não uma desconfiança. Podem achar, por exemplo, que se tratam de fiscais do governo ou de pessoas com outros interesses. Nesse sentido, há muitas comunidades que possuem um Conselho Local de Segurança Comunitária, onde são discutidos temas relativos à Segurança Pública, com representantes do governo e da comunidade. Uma vez que os dados são obtidos eles devem ser analisados para a quantificação de risco e posterior elaboração dos mapas de risco da região que deverão ser encaminhados à Defesa Civil municipal, e, no caso do Distrito Federal, à estadual. Infelizmente não é assim que ocorre, de forma rotineira, em nosso país. Há, ainda muitos municípios que não possuem Defesa Civil organizada. Nessas situações, 16 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL os mapas de risco devem ser construídos e encaminhados à Prefeitura, para serem consolidados posteriormente em um Plano de Contingências. Planejamento Concluída essas operações, acima citadas, dá-se início ao Planejamento. O que será planejado? Serão construídos Planos de Desastre e Planos de Contingenciamento. Planos de Desastre Nos Planos de Desastre, são elencadasas condições para decretação de desastre e como se dá o desencadeamento das ações necessárias à sua resposta de uma forma geral e integrada, sem pormenorizar os tipos de desastre e nem ações específicas. (Na prática, quem faz o que, porque faz, quando faz, quem liga para quem e como é feito). É importante, no planejamento, que haja representantes com formação na área, dos diferentes órgãos executores, mas, obrigatoriamente, da Secretaria de Saúde, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, da Secretaria de Segurança, de Viação e Obras, entre outros que sempre precisam trabalhar de forma integrada. O Plano de Desastres daí surgido, deverá ser do conhecimento de todos órgãos do sistema que de alguma forma participam da prevenção e resposta organizada a desastres. Sistemas de Contingenciamento A partir do Plano de Desastre, são elaborados Planos ou Sistemas de Contingenciamento. O que isso significa? Nos Planos ou Sistemas de Contingenciamento, são elencadas hipóteses para cada tipo de situação prevista e priorizada conforme o mapa de riscos. Por exemplo, em um plano desses, podemos ter como hipótese 01, incêndio na refinaria da região e, a partir dessa hipótese, elaborar de forma detalhada todo o plano de ações a serem empregadas. Todos devem conhecer a fundo o Plano de Contingências? Não. Os responsáveis pelos órgãos, planejadores e encarregados de coordenação, sim. Os operadores devem saber o que é de responsabilidade deles executar, o que não deve ser confundido com o compartilhamento de informações, que deve ser do conhecimento de todos. Esse compartilhamento significa que as informações com relação à evolução do incidente devem ser de conhecimento de todos envolvidos na operação, mas não dá direito a eles a repassá-las ao público, o que é prerrogativa do responsável pela Comunicação da Crise, o que será posteriormente estudado. Conhecer a fundo um Plano de Contingências significa ter à mão todas ações que cada um dos orgãos do sistema deve desenvolver. Portanto, essa é uma função e responsabilidade dos coordenadores do sistema de comando de incidentes (Incident Comanders), como estudaremos em outra disciplina. 17 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Treinamento O treinamento é uma das atividades mais importantes, mas frequentemente negligenciada. Muitos profissionais entendem que, pelo fato de serem graduados em suas profissões, não precisam receber mais treinamentos, sobretudo de outras áreas. A equipe médica, por exemplo deve ser muito bem treinada não apenas em suporte avançado de vida, mas também em seu suporte básico. Em uma parada cardíaca, as medicações e procedimentos avançados são muito importantes, mas se o paciente não recebe o suporte básico de forma adequada não estará sendo atendido como deveria e as chances de insucesso são muito grandes. O treinamento das equipes deve seguir, obrigatoriamente, dois caminhos. O primeiro é a seleção de quem será treinado e, em seguida, que tipo de treinamento será oferecido e com que frequência. No processo de selecionar quem será treinado, deve-se estabelecer uma prioridade. Profissionais da área de saúde e de segurança pública devem ser os primeiros. Todo servidor da área de segurança pública (incluindo policiais e bombeiros) e todo profissional de saúde (incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, odontólogos, fonoaudiológos) devem ser certificados em suporte básico de vida e revalidados periodicamente. Nenhum profissional destas áreas poderia trabalhar sem sua certificação em dia, o que significa não apenas participar de um curso de suporte básico de vida, mas ser aprovado em questões teóricas e práticas. Nesse treinamento deve estar incluído o uso do desfibrilador externo automático e suporte de vida no trauma, o que inclui atendimento com grande número de vítimas e desastres. Não é aceitável que um profissional de segurança pública ou de saúde não esteja preparado para atendimento de primeiros socorros. A segunda fase do treinamento implica no aprofundamento dos conhecimentos específicos e ampliação do básico. Assim, o suporte básico de vida deve ser estendido aos professores, taxistas, motoristas de coletivos e, posteriormente, à população como um todo. Não há explicação lógica do porquê o ensino de primeiros socorros não ser obrigatório no ensino fundamental e médio, ao lado de aulas de cidadania. Como também o porquê de não se ensinar o suporte básico e o avançado na maioria das faculdades de medicina. É absurdo, mas a maioria dos médicos sai da faculdade sem ter recebido treinamento teórico-prático em suporte avançado de vida. O treinamento especializado passa a ser direcionado às equipes de socorro propriamente ditas. O ensinamento deve ser compartilhado. Um curso de Resposta a Desastres deve ser feito por equipes de bombeiros, policiais, SAMU, equipes de saúde dos hospitais, como também de serviços privados. É um grave erro acreditar que a rede privada de saúde, o que inclui serviços de emergência móvel, não contribui ou não é necessária ao sistema de resposta em emergências e desastres. O que conta não é quem atendeu o paciente, mas se ele foi atendido dentro dos padrões de tempo-resposta preconizados. 18 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL Há muitos serviços privados de alto padrão e, com frequência, os mesmos médicos que trabalham no SAMU também são plantonistas em serviços privados. O que falta, no entanto, é uma coordenação desses serviços na esfera do atendimento, em situações de múltiplas vítimas. Deve estar bem estabelecido, não apenas no papel, mas por intermédio de simulações e de treinamentos conjuntos, como essa coordenação se dará. Planos só irão funcionar se forem testados. Simulados onde tudo “correu bem” devem ser vistos com desconfiança. Aliás, uma questão frequentemente levantada é: Qual o termo correto, simulacro ou simulado? O simulacro é algo que é falso, mas é feito para se passar por verdadeiro. Um simulacro de uma bomba, por exemplo, pode enganar muitos profissionais, que acabam levando o objeto para um local distante, explodindo-o. Um simulado, por sua vez, é um teste ou uma imitação de condições reais, para que possam ser avaliados diferentes aspectos. Um simulador de voo, por exemplo, faz com que as condições encontradas sejam as mais próximas do real, mas o piloto que está sendo treinado tem consciência de que não se trata de uma situação real. Quando vamos fazer um treinamento com equipes de socorro, na resposta a desastres ou emergências, estamos diante de um simulado, pois todos têm a percepção de que é um treinamento e não uma situação real; do contrário estaríamos colocando em sério risco os participantes do simulado. Se um médico acreditasse que está diante de uma situação real, poderia iniciar um procedimento em um ator, alguém que está ali apenas para representar uma situação. O fato de ser um simulado, (drill, em inglês), no entanto, não significa que as equipes que estão sendo treinadas não devem agir como se a situação fosse real. Pelo contrário. As ações devem ser as mais próximas da realidade possível, mas sempre com a limitação de se tratar de uma simulação. É um erro muito grave, realizar um simulacro de incêndio em um prédio, para se testar a evacuação.Ou seja, fazer com que as pessoas acreditem que de fato o prédio está pegando fogo, pois pode gerar consequencias desastrosas, como pânico. No entanto, nada impede que um serviço de resgate faça um simulacro, desde que sejam adotadas medidas rigorosas de segurança e dentro de um cenário isolado, para que não haja acionamento real de outros serviços e pânico na população. As comunidades que vivem e/ou trabalham em locais de risco também devem ser treinadas, não apenas em primeiros socorros, mas na prevenção de acidentes e desastres. Cursos de longa duração são aceitáveis quando estamos fazendo uma graduação ou especialização, mas para treinamento das equipes, o melhor é trabalharcom módulos de ensino. Equipes de saúde devem receber treinamento de resgate e salvamento? Não o mesmo recebido pelos bombeiros, que realizarão esses procedimentos, mas devem conhecer o trabalho dos bombeiros para que atuem em conjunto. A responsabilidade dos treinamentos é de cada serviço, mas o órgão coordenador de prevenção e resposta a desastres, a Defesa Civil, deve garantir que os treinamentos estejam sendo realizados e, com frequência, patrocinar e promover a integração e a execução de simulados. 19 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Simulado de Emergência Aeronáutica Fonte: <www.ms.gov.br>. Monitoramento O monitoramento de qualquer situação com potencial de crise é que permitirá o conhecimento antecipado de que algo grave está para acontecer. Em Defesa Civil, esse monitoramento se dá sobretudo com relação aos fenômenos da natureza. O Brasil não está isento nem imune de ocorrências graves como tornados e furacões. O maior pecado a ser cometido no monitoramento é pensar que um fenômeno não pode ocorrer simplesmente porque não há registro de ter ocorrido anteriormente naquela região. Foi imperdoável a forma como realizaram o monitoramento e as consequentes ações de alerta, alarme e resposta ao furacão Catarina. Até mesmo após a passagem do furacão, muitos meteorogistas brasileiros continuavam afirmando que se tratava de um ciclone extratropical, quando seus colegas americanos já haviam feito o alerta de furacão para região. Outros furacões poderão ocorrer em qualquer parte do litoral brasileiro. Isso é fato, dada a questão do aquecimento global. Houve algum investimento ou ação destinada a promover a evacuação rápida da população? Podemos com segurança afirmar que não. Se há planos, não foram testados e nem a população informada. Se não foi testado, o plano não existe. Nas cidades americanas, mais sujeitas a furacões, há placas de sinalização, mostrando as rotas de evacuação a serem utilizadas em situações que requeiram a saída rápida da população do local de risco. 20 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL Meteorologista monitorando furacão Fonte: Enciclopédia Britânica A recente situação ocorrida em Santa Catarina mostra bem o que representa um monitoramento inadequado. Monitorar uma situação não é apenas checar como ela está, mas avaliar quais as chances de evoluir de forma desfavorável e emitir os alertas e alarmes necessários. Em Segurança Pública, outra forma de monitoramento é realizada por intermédio do emprego de câmeras de vídeo. Em diversas cidades, como Londres, por exemplo, há câmeras espalhadas por todas as regiões, o que permite o acompanhamento real e ao vivo de tudo que ocorre nas ruas. Há diversas cidades brasileiras, como também rodovias, que possuem câmeras. Aqui também é importante que haja a integração com a resposta rápida e eficiente; do contrário, os policiais apenas assistirão a ocorrência do crime e quando muito poderão posteriormente identificar os suspeitos, mas o objetivo maior do monitoramento é inibir a ação ou interromper a sua realização. Outra forma de monitorização está no uso de GPS para identificação e localização das unidades móveis mais próximas da ocorrência, de tal forma a diminuir o tempo-resposta. Monitoramento de ambulâncias por GPS Fonte:<http://www.tristateambulance.org>. 21 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Alerta Um sistema de alerta eficaz e eficiente é aquele que é iniciado em tempo adequado para as ações de prevenção tardia e resposta. Estamos aqui chamando de prevenção tardia aquela que deveria já ter sido realizada, não foi, mas ainda é possível de ser feita, não com os mesmos resultados, mas ainda importante. É o caso, por exemplo, do indivíduo que é avisado do risco de habitar uma região ribeirinha. Ele não aceita os avisos de abandonar a região e lá permanece. Surge então o aviso de que fortes chuvas na região poderiam provocar um aumento no volume de água do rio próximo à sua casa e então ele acaba saindo antes que possa haver uma enchente devastadora. Ele agiu preventivamente, ainda que tardiamente. Por que a ação dele não foi uma resposta? Porque a enchente ainda não havia ocorrido. Estamos ainda na fase de Pré-Impacto, lembram-se? Um alerta deve produzir um alarme de forma satisfatória. Infelizmente, os sistemas de alerta em nosso país são muito ruins, quando existem. Vejamos a situação da meteorologia. São emitidos alertas meteorológicos que são enviados para a Secretaria Nacional de Defesa Civil e eventualmente para as regionais ou municipais. Quais ações resultam a partir daí? Nenhum hospital, aliás, recebe alertas de fortes ventos, de possibilidade de tornados na região ou qualquer outro tipo de alarme. Colocar a informação em sites da internet e nos noticiários de televisão, ainda mais quando não são acompanhados de informações relevantes para resposta, é extremamente ineficiente. Quais medidas de prevenção tardia ou de resposta precoce foram adotadas na recente enchente em Santa Catarina? Falta a cultura da prevenção e das ações voltadas para a construção de cenários, sobretudo em emergências e desastres. Nos Estados Unidos, são emitidos boletins meteorológicos várias vezes ao dia e em casos de alerta de tempestades severas, são veiculadas informações precisas de como a população deve agir. As rádios recebem interrupção em sua programação, com informações urgentes sobre a tempestade que se aproxima. Nada disso ocorre no Brasil, apesar de termos tornados por aqui. Não com a mesma frequência que nos Estados Unidos, mas nem um sistema semelhante ocorre por aqui. 22 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL Boletim meteorológico do National Weather Center (USA) com alertas Fonte: <www.spc.noaa.gov>. Alarme Um sistema de alarme adequado é aquele que é facilmente identificado como sinal de que uma situação crítica está em curso e que todos devem seguir imediatamente um plano bem estabelecido. Todos hotéis devem possuir alarmes de incêndio, com planos de evacuação localizados nas portas de entrada dos quartos, luzes e saídas de emergência, de fácil acesso, além de dispositivos de combate ao incêndio, como sprinklers, extintores, entre outros. Infelizmente há muitos hotéis em nosso país que não possuem alarmes e os dispositivos de combate e prevenção estão vencidos. O mesmo ocorre com prédios públicos e comerciais. Em outros locais, o acesso às viaturas de incêndio está comprometido pelo alto fluxo de veículos na região, entre outros problemas. Alarmes em Segurança Pública também são utilizados em bancos e locais onde haja necessidade de aviso imediato da polícia. Ao falarmos de Defesa Civil, no entanto, nos preocupa a falta de alarmes nas cidades, para aviso do impacto de fenômenos naturais de grave potencial de dano. Não há, de uma forma geral, qualquer tipo de alarme nas cidades, tampouco planos rápidos de evacuação e abrigos para a população em caso de graves tempestades, tornados e furacões, por exemplo. Antes do furacão Catarina, havia a “desculpa” de que se acreditava que nosso país era imune a furacões. No entanto, houve o furacão, com sérios danos e nada de concreto mudou em termos de alerta e alarme. Em breve, teremos mais furacões, tornados e, infelizmente, mais danos. A falta de planejamento e prevenção é, com frequência, mais devastadoras do que muitos fenômenos da natureza. 23 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Quando assistimos pela televisão, em 11 de setembro de 2001, os atentados às torres gêmeas do World Trade Center e vimos, horrorizados, o segundo avião dirigir-se a uma das torres, em transmissão ao vivo, estávamos presenciando aos momentos finais da fase de pré-impacto, quando mais nada poderia ser feito para impedir o impacto. Isso significa que as pessoas que morreram naquele atentado não poderiam ter sido salvas? Bom, isso já é uma outra história, pois há diversos trabalhos mostrando que foram cometidas falhas inaceitáveis de resposta,apesar do heroísmo de todos naquele dia. Atentado no WTC-11/09/2001 Fonte: <http://www.youdecidepolitics.com>. Impacto A fase de impacto é o momento em que ocorre o evento crítico propriamente dito. Tanto pode representar uma situação verdadeira de impacto, como a queda de uma aeronave, como pode ser o momento em que se iniciou um ataque bioterrorista, que será mortal, mas silencioso, e levará algum tempo até que todos percebam terem sido vítimas de um atentado. Se a fase de impacto foi precedida por medidas preventivas adequadas, eficazes e eficientes, há grandes chances de minimização dos seus efeitos. Há situações que poderiam se transformar em um desastre, mas, graças a medidas preventivas, ocorrem danos na região, possivelmente mortos e feridos, o que seria uma tragédia, mas não um desastre. Por outro lado, há desastres, que poderiam ter sido totalmente evitados. Em 1989, na cidade de São Francisco, ocorreu um terremoto de 6,9 na escala Richter. Essa escala foi construída em 1935 pelos sismólogos Charles Richter e Beno Gutemberg. Inicialmente ela ia de 0 a 9, onde 0 seria o menor terremoto possível e 9 o maior. No entanto, hoje sabe-se que não há um número inferior ou superior que possa ser considerado limite e a escala muitas vezes tem 24 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL sido chamada de escala aberta de Richter. Em 1960, no Chile, foi registrado o maior terremoto da história, atingindo 9,5 nessa escala. Terremotos como o de 1989, em São Francisco, ocorrem em média 100 à 120 por ano, em todo o mundo. Nesse que ficou conhecido como terremoto de Loma Prieta (Montanha negra, em espanhol), devido ao epicentro ter ocorrido perto desse local, deixou 63 mortos e quase 3.800 feridos. Loma Prieta-1989 Fonte: <www.nasa.gov>. Em 2006, um terremoto de 6.2 na escala Richter matou mais de 6.000 pessoas na ilha de Java, na Indonésia, deixando cerca de 20.000 feridos. <http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/05/29/ult34u155379.jhtm>. Faça uma análise de por que um terremoto com intensidade até inferior ao dos Estados Unidos foi muito mais devastador? Durante a fase de Impacto, são colocados em prática todos planos de Desastre e de Contingência. A fase de Impacto é divida didaticamente em: » Alarme » Resgate » Socorro » Busca e Salvamento 25 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Uma vez que o alarme é acionado na fase de Pré-Impacto, só é desativado após a ocorrência do impacto e, por essa razão, começamos a fase de Impacto com o alarme, que já discutimos. Tão logo o evento crítico tenha sido iniciado, as operações de resgate, de socorro e de busca e salvamento são disparadas. Tanto o resgate quanto o salvamento são normalmente praticados por bombeiros, mas há muitas regiões do Brasil onde não há bombeiros militares. Em algumas cidades do sul do país, por exemplo, encontramos unidades de bombeiros voluntários muito bem organizadas e treinadas. Em muitos outros municípios não há nenhum tipo de socorro organizado, o que complica muito a situação das vítimas, pois as operações de socorro, resgate e salvamento praticadas por profissionais, acabam sendo realizadas de forma tardia. É fundamental que as prefeituras assumam um papel de pró- atividade na elaboração de Planos de Desastre e de Contingência para seus municípios, o que inclui a organização e o treinamento de equipes de pronto-emprego. Bombeiros Voluntários do Rio Grande do Sul O socorro às vítimas obedece a seguinte sequência: 1. Chegar ao local 2. Organizar segurança do local e avaliação do cenário 3. Chamada do socorro adequado (reforço), se necessário 4. Organizar o isolamento 5. Contenção (evitar propagação do incidente) 6. Dispor de um Posto de Comando 7. Facilitar o acesso às vítimas e a Triagem 8. Socorrer às vítimas 9. Transportar as vítimas 10. Chegar ao hospital 26 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL Zonas Em incidentes críticos, utiliza-se o conceito de zonas da seguinte forma: Zona Quente – Local do incidente, onde há grave risco de lesões e/ou morte Zona Morna – Local próximo ao incidente, onde há risco moderado para os que ali estão. Nesse local é realizada a triagem e atendimento inicial de feridos. Zona Fria – Local seguro, para onde devem ser levadas as pessoas durante uma evacuação e onde devem permanecer as equipes de socorro que não estejam diretamente envolvidas nas operações de resgate das vítimas. Triagem Em incidentes com múltiplas vítimas e desastres, há necessidade de avaliação das vítimas, com vistas a definir as prioridades de atendimento. Esse processo é conhecido por triagem. Na prática, de acordo com as recomendações internacionais, é estabelecida uma área segura para a realização da triagem, que deve ser em local próximo o suficiente para que as vítimas possam ser facilmente transportadas e distante o suficiente para não oferecer riscos aos que ali estão (Zona Morna). As vítimas são classificadas conforme a gravidade, em: 1. Vermelho – Risco iminente de morte 2. Amarelo – Necessidade de atendimento urgente, mas sem risco iminente de morte 3. Verde – Necessita de atendimento médico, mas pode aguardar 4. Preto ou Branco – Vítimas fatais Uma vez classificadas, as vítimas são transportadas para áreas identificadas com as respectivas cores e as vítimas passam a portar um cartão que define sua prioridade. Como a triagem é dinâmica, as prioridades podem mudar ao longo do atendimento. As vítimas são transportadas de acordo com as prioridades estabelecidas. Assim, as vítimas “amarelas” só podem ser transportadas após as “vermelhas.” 27 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Ficha de triagem das vítimas O método de triagem mais utilizado no Pré-hospitalar é conhecido por START e é assim esquematizado: 28 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) oferece uma excelente simulação online de desastres, incluindo exercícios de triagem, que pode ser acessada gratuitamente em <http://www.virtual.epm.br/cursos/desastre/ index.php>. Baseado nas informações acima sobre triagem, classifique as seguintes vítimas, de acordo com as prioridades, no sistema de cores: Vítima 1 » Enchimento capilar = 6 segundos. » Encontra-se caída próxima aos escombros do desabamento. » Confusa. » Respira. » FR = 36 rpm. » Não responde ordem verbal. » É necessária imobilização completa da coluna cervical com colar semirrígido, coxins laterais e prancha longa. » A equipe de segurança já entrou no local. Não há risco. » Vias aéreas pérvias. Vítima 2 » Enchimento capilar = 1,5 segundos. » Achada escondida sob escombros. » Orientado, e muito gemente. » Será certamente avaliada posteriormente. » Consegue falar. » FR = 28 rpm. » Obedece ordem simples. » Será encaminhada sozinha. » Os bombeiros já retiraram todos os escombros que a encobriam. » Via aérea pérvia. 29 GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL │ UNIDADE I Vítima 3 » Enchimento capilar ausente. » Escondida sob muitos escombros, apresentando intenso sangramento na cabeça. » Inconsciente. » Será avaliada posteriormente. » Após o posicionamento das vias aéreas, a vítima continua em apnéia. » Respiração ausente. » Não responde ordem verbal simples. » Está imóvel. » A equipe de segurança já retirou os escombros próximos à ela. » Não respira. Socorro às Vítimas No atendimento às vítimas, não há diferença no Suporte Básico e Avançado de Vida a ser prestado, quando comparado àquele realizado rotineiramente pelos serviços de emergência. Uma vez definidas as prioridades, as vítimas devem ser atendidas de acordo com os protocolos internacionais. Todos profissionais de segurança pública têm a obrigação de saber prestar o suporte básico de vida e todos médicos e enfermeiros devem estar aptos a prestar o suporte avançado de vida, dentro de suas competências profissionais. Há diversos sites com informaçõessobre suporte básico de vida, como: <http://www.bombeiros.go.gov.br/downloads/pdf/Resgate-Protocolo%20Basico. pdf>. As novas recomendações internacionais para suporte básico e avançado de vida podem ser encontradas em português no site da Associação Americana do Coração (American Heart Association): <http://www.americanheart.org/downloadable/heart/1141072864029CurrentsPor tugueseWinter2005-2006.pdf>. 30 UNIDADE I │ GESTÃO DE CRISES EM DEFESA CIVIL Pós-Impacto Didaticamente, podemos afirmar que o Pós-Impacto tem início após a ocorrência do impacto e o fim das operações de socorro, resgate e busca e salvamento. É dividido em: » Recovery » Reconstrução Há ainda alguma controvérsia nesse tema, pois muitos colocam o Pós-Impacto em uma única fase de reconstrução. Não há uma única palavra em português que possa, com exatidão, traduzir recovery, que significa voltar ao estado original. Ou seja, voltar como era antes do impacto. É importante que essa ação seja lembrada, pois há necessidade de a população voltar aos afazeres normais, como parte de sua recuperação. Se imaginarmos que apenas depois da reconstrução isso irá ocorrer, poderemos estar falando de vários meses ou anos. No recovery, especial atenção é dada aos aspectos psicológicos, sociais e econômicos e não apenas na questão material, comum, na Reconstrução. 1. Sua cidade possui um Plano de Desastres e de Contingências? 2. Você já recebeu treinamento em como agir nessas situações, como cidadão? 3. Os hospitais de sua cidade estão preparados para a resposta a incidentes com múltiplas vítimas? 4. Os hospitais possuem Plano de Desastres? E se essas instalações sofrerem um incêndio, exemplo do Hospital das Clínicas de São Paulo que, em poucos meses, sofreu dois incêndios? 5. Há uma integração entre os serviços de pré-hospitalar em sua região? 6. Há Defesa Civil em sua cidade? Como é a atuação dela? 31 UNIDADE IISITUAÇÃO COM REFÉNS CAPÍTULO 1 Negociação de Reféns “Em meio à morte, a vida persiste. Em meio à inverdade, a verdade persiste. Em meio à escuridão, a luz persiste!” Mahatma Gandhi O Brasil, infelizmente, tem sofrido, ao longo dos anos, as consequências da violência urbana, com ausência do Estado, tanto na prevenção quanto na resolução de questões que, em muitos casos, como os furtos e roubos em áreas de alto índice de ocorrências, seriam de fácil resolução, faltando apenas a vontade política de resolvê-los; em outras situações, a questão é bem mais complexa, como é o caso do narcotráfico. Os dados estatísticos em Segurança Pública no Brasil nem sempre são fáceis de serem encontrados e, em alguns casos, são conflitantes e pouco confiáveis. De qualquer forma, de acordo com o Instituto de Segurança Pública da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o número de sequestrados entre janeiro e outubro cresceu 85,7% de 2011 para 2012. No período da Copa do Mundo de 2014, apenas na Vila Madalena em São Paulo, onde havia grande quantidade de turistas, o número de crimes (todos) teve um aumento de cerca de 3.500%, com os roubos representando um crescimento de 1.400%. A Lei no 11.923, de 17 de abril de 2009, que trata da tipificação do sequestro-relâmpago, foi sem dúvida de grande importância para punir com mais rigor uma modalidade criminosa ainda bastante empregada em várias cidades brasileiras. O número dos chamados sequestros clássicos (extorsão mediante sequestro) é, na maioria dos casos, subnotificada, pois há muitas famílias que não procuram a polícia e pretendem resolver a situação por conta própria, o que pode ser um erro, uma vez que muitos casos, quando a polícia não é envolvida, possuem um desfecho trágico. Um situação com reféns pode ocorrer por meio de: 1. Sequestro clássico. 2. Sequestros-relâmpago. 32 UNIDADE II │ SITUAÇÃO COM REFÉNS 3. Situações em que um ou mais criminosos estão praticando um crime e “pegam” um ou mais reféns para fugir. 4. Criminosos em fuga que pegam refém para conseguir escapar. 5. Rebeliões em presídios. 6. Casos passionais nos quais uma das partes de um casal ou pessoas que já tiveram um relacionamento afetivo toma a outra parte como refém. 7. Pessoas que invadem repartições públicas ou privadas e fazem reféns para obter alguma vantagem. 8. Sequestro de aeronaves ou outros meios de transporte coletivo. 9. Sequestros políticos. 10. Outras situações. Para nosso estudo, iremos nos concentrar na situação em que há um ou mais tomadores de reféns e há necessidade de estabelecimento de uma negociação para resolução do problema. Antes de tudo, é fundamental que as grandes cidades possuam protocolos de gerenciamento desse tipo de crise e que esteja claro o papel de cada um dos atores envolvidos. Infelizmente, é comum, em muitas cidades, a falta desses protocolos e uma interação ruim entre a Polícia Militar e a Polícia Civil, fazendo com que as duas corporações possuam grupos de negociadores e de equipes de invasão tática dinâmica (por exemplo a SWAT), o que acaba gerando conflitos e confusões. Uma regra básica diz que quem negocia não invade. Assim, o negociador não pode ser ao mesmo tempo membro do grupo tático, que realizará a invasão. Mesmo porque o perfil de quem negocia é completamente diferente de um policial tático. Todo policial, contudo, independente da corporação a que pertença, deve estar apto a reconhecer a situação e realizar as primeiras ações de isolamento e de contenção da crise, bem como acionar a central, para solicitar apoio. Esse policial pode e deve começar a negociação, que deve ser continuada o mais rápido possível por especialistas na área. Os primeiros 15-20 minutos de uma situação com reféns são extremamente perigosos. De acordo com dados do FBI/HOBAS e do Research Fellow Columbia University Law School (2013), as seguintes estatísticas e informações foram encontradas nas situações de negociação de crises e negociação de reféns. Local: » 53% dos casos ocorreram em residências (casas); » 21% ocorreram em apartamentos/condomínios; » 4% em casas móveis (trailers e motor home). 33 SITUAÇÃO COM REFÉNS │ UNIDADE II Tempo de negociação: » 35% das ocorrências foram resolvidas entre 2-4 horas; » 26% entre 0-2 horas; » 19% entre 4-6 horas; » 11% entre 6-9 horas. Características dos suspeitos: » 91% eram homens; » 39% eram casados; » 40% tinham entre 35-40 anos de idade; » Em 82% não foram feridos; » Em 72% dos casos, uma arma foi utilizada, sendo que em 37% das vezes era uma arma de fogo; » Em 30% dos casos, o suspeito havia ingerido álcool e 39% possuíam histórico criminal. Características das vítimas: » 58% das vítimas eram mulheres; » 34% das vítimas não possuíam qualquer tipo de relacionamento com o suspeito (o que significa que, em 66% dos casos, havia algum tipo de relacionamento); » 25% eram menores de 18 anos de idade; » 80% não sofreram ferimentos. Resolução: » Em 56% dos casos a negociação foi bem–sucedida; » Em 20% houve intervenção tática; » Em 12% houve uma combinação de negociação com ação tática; » 8% conseguiram escapar; » 71% dos incidentes não foram planejados. Com relação aos ferimentos: » Em 97% dos casos ninguém se feriu; » Em 2% das situações policiais se feriram; 34 UNIDADE II │ SITUAÇÃO COM REFÉNS » Em 1% dos casos, outras pessoas foram feridas; » Em 99% dos casos, não houve mortes. Há uma diferença de conceitos entre negociação de crises e negociação de reféns, na doutrina policial americana. No primeiro caso, o criminoso pode manter pessoas sob seu poder, por determinado tempo e sob ameaça, mas não há uma demanda ou exigência para a polícia que vise a liberação das pessoas. Ocorre muitas vezes em decorrência de uso de drogas, instabilidade emocional e disputas familiares. A situação com reféns, por outro lado, é mais elaborada e há uma demanda clara por parte do criminoso com vistas a liberação dos reféns. Nos estudos analisados, em 96% dos casos, a situação é de negociação decrises e não de reféns. O gerenciamento de crises e de reféns envolve quatro fases: 1. Fase de resposta: isolamento, contenção, controle e comunicação. 2. Fase de distribuição estratégica: posicionamento de equipes táticas, estabelecimento de perímetros e posto de comando. 3. Fase de negociação. 4. Fase de resolução: prisão dos suspeitos e/ou resgate de reféns. De acordo com um estudo publicado pela Rand Corporation no livro The Counter-Terrorism Handbook, de cada 1.000 reféns mortos em situações críticas, 780 morreram durante as tentativas de resgate/invasão, razão pela qual essa opção é sempre a última a ser utilizada, embora os policiais devam estar prontos para empregá-la desde o primeiro momento. O papel do gerente de crises nas situações com reféns é: 1. Ser o responsável pelo gerenciamento do local do evento, incluindo as ações policiais como as dos especialistas em crise e negociadores. 2. Coordenar e controlar os recursos necessários à resolução. 3. Tomar as decisões necessárias para a resolução da crise. Em hipótese alguma, contudo, o gerente de crises assumirá posição de negociador e nem de coordenador da equipe tática no resgate de reféns. Uma vez tomada a decisão de invasão, cabe ao comando da equipe tática tomar as decisões pertinentes. Gestão de crises em segurança pública O FBI recomenda o uso do chamado “critério de ação” para ajudar na tomada de decisões com vistas à invasão de um local com reféns. Deve-se considerar os seguintes questionamentos: 1. A ação é necessária? 2. A ação possui risco elevado para os reféns? Há alternativas melhores? 3. A ação é aceitável, sob o ponto de vista ético e legal? 35 SITUAÇÃO COM REFÉNS │ UNIDADE II As seguintes situações, segundo Thomas Davidson (2006), devem ser consideradas como de alto risco de morte para reféns e deve ser levada em consideração pelos gerentes de crise (incident commanders). » O suspeito comete uma ação de forma deliberada sabendo que haverá resposta da polícia (ex.: atira contra os que estão do lado de fora). » A vítima é selecionada pelo suspeito, especialmente quando se trata de alguém com quem teve relacionamento amoroso, membro da família e ex-chefe. » Há um histórico de ocorrências entre a vítima e o suspeito, especialmente quando há registro de disputa de custódia de filhos ou de agressões. » O suspeito faz ameaças diretas à vítima. » O suspeito tem histórico de ações similares. » O suspeito tem passado por situações extremamente estressantes em curto prazo de tempo, como morte de alguém próximo, perda de emprego e divórcio. » O suspeito perdeu contato com laços familiares. » O suspeito verbaliza intenção de se matar. » O suspeito deixou “suas coisas em ordem” ou deu a entender a alguém que poderia se matar. » O suspeito age de tal forma a não sair vivo da situação, no chamado suicide by cop. Ele quer se matar, mas não tem coragem, então faz de tudo para que um policial o mate. Ex.: um tomador de reféns que usa um revólver de brinquedo e, ao se render, “atira” na polícia. A polícia atira nele e mata-o. Estabelecimento de perímetros Após o isolamento e a contenção, quando ninguém que não esteja envolvido diretamente na operação pode entrar ou sair do local, são estabelecidos perímetros (Zona Quente, Morna e Fria). Na Zona Quente, permanece apenas a equipe tática e de inteligência, que irá observar as ações do suspeito. O Posto de Comando deve estar na Zona Fria. Se há equipes médico-táticas, pouco comuns em nosso país, devem estar posicionadas junto às equipes táticas, mas na retaguarda. As demais equipes de atendimento de emergência devem estar na zona morna ou zona fria, dependendo da situação e da avaliação do Incident Commander. Posto de comando No posto de comando, devem estar os seguintes profissionais: gerente de crises (Incident Commander), comandante tático, negociadores em equipe (separada dos demais), profissionais 36 UNIDADE II │ SITUAÇÃO COM REFÉNS de inteligência, supervisor de ligação (para contato com outras corporações e recursos que sejam necessários), supervisor de comunicações (para contato com a imprensa) e conselheiro legal (para aconselhamento jurídico das operações). Muitas vezes, as situações são resolvidas rapidamente, mas há casos em que se passam horas ou dias. Nessas circunstâncias, devem ser providenciados o revezamento das equipes, a alimentação e toda a logística necessária. Desde o início das negociações, familiares da vítima e do suspeito devem ser contatados por profissionais especialmente treinados, para que recebam as seguintes informações e outras que se fizerem necessárias: 1. O que está acontecendo. 2. Porque a polícia tem que negociar. 3. Porque as negociações são demoradas. 4. Se o suspeito é preso, o que acontece em seguida. 5. Porque todos reféns são algemados, mesmo os que são soltos (para identificar de forma adequada se são mesmo reféns ou se participaram do crime, para segurança dos reféns e ainda para evitar que, em casos de Síndrome de Estocolmo, possam atrapalhar a polícia). 6. Explicar que na maioria das situações, a resolução é pacífica. 7. Deixar claro que a polícia está fazendo o melhor. Apenas em filmes de cinema e televisão, negociadores se oferecem para ser trocados por reféns ou fazem a negociação “cara a cara”. Da mesma forma, é inadmissível o que presenciamos no episódio de Santo André, quando uma refém menor de idade, solta pelo suspeito, foi levada de volta pela polícia para negociar e acabou sendo feita refém novamente. Síndrome de Estocolmo Uma situação comum com reféns é chamada de Síndrome de Estocolmo, quando o refém passa a ter uma percepção positiva do suspeito e acaba querendo protegê-lo. Essa situação foi inicialmente reconhecida durante um assalto a banco na cidade de Estocolmo, na Suécia, em 1973. Os que experimentam a Síndrome de Estocolmo passam por três fases: 1. Sentimentos positivos dos reféns com relação aos captores. 2. Sentimentos negativos dos reféns com relação à polícia. 3. Sentimentos recíprocos dos tomadores e dos reféns. 37 SITUAÇÃO COM REFÉNS │ UNIDADE II Nem todos reféns irão desenvolver a Síndrome de Estocolmo, que pode se estabelecer tanto em poucos minutos, como em algumas horas ou dias. Se ao mesmo tempo em que pode ser bom para o refém o estabelecimento da síndrome, quando o tomador de reféns demonstra a reciprocidade, é sempre uma situação de risco, pois os reféns podem querer atrapalhar a atuação da polícia ou ajudar o tomador de reféns em sua fuga. As técnicas de negociação e de intervenção, bem como o perfil psicológico dos tomadores de reféns não serão discutidos aqui, pois são atividades específicas dos negociadores e não dos gerentes de crise. Com base nas informações conhecidas, faça uma análise, sob o ponto de vista de gerenciamento de crises, enfatizando os erros e acertos das quatro fases da negociação de reféns, do episódio do sequestro do Ônibus 174. Sugerimos que assista o documentário “Ônibus 174”, de 2002, de José Padilha. 38 UNIDADE III CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS CAPÍTULO 1 Rebeliões “A violência essencialmente não pode ser traduzida por palavras, e ela começa apenas onde o pensamento e a comunicação racional deixam de existir” Thomas Morton Nossos estudos nessa área estarão voltados para a questão das rebeliões, que são situações mais críticas e que requerem a intervenção externa de forças policiais e a atuação de negociadores. Há muitas outras situações de crise em presídios, mas relacionadas principalmente a questões gerenciais, regime disciplinar e atuação do crime organizado, motivo pelo qual não farão parte dessa discussão, mas que são extremamente importantes para quem posteriormente quiser se especializar em gerenciamento de crises em estabelecimentos prisionais. No dia 18 de fevereiro de 2001, São Paulo viveu uma situação completamente atípica. Naquele dia, houve 29 rebeliões simultâneas em presídios no estado, em umdomingo, dia de visita, com mais de 1.000 reféns, lideradas pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Até hoje, não há um consenso sobre como classificar o PCC. Alguns o definem como Organização Criminosa, outros como uma associação de criminosos, mas o mais polêmico talvez seja como classificar as ações do grupo. Há uma corrente de pensamento que enxerga nas ações, crimes comuns. Há, no entanto, outra corrente, que entende que o grupo tem praticado atos terroristas, o que fica comprometido em um país que não possui legislação nem definição para terrorismo. As principais reivindicações dessa megarrebelião foram entre outras: mais agilidade na tramitação dos processos para evitar que presos com penas vencidas continuem detidos; remoção de diretores de alguns estabelecimentos; volta dos líderes presos em Taubaté para a Casa de Custódia; desativação do Anexo em que eram aplicados o Regime Disciplinar. O saldo da rebelião foi de 17 presos mortos e o PCC condenando à morte os seus membros que promoveram a rebelião, por terem infringido seu regulamento iniciado uma rebelião em dia de visita, a executado de presos na frente de visitas, dentre outras acusações. 39 CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III Fica muito difícil e inverossímil imaginar que uma rebelião que envolva 29 presídios, simultaneamente, não pudesse ter sido previamente detectada pelos órgãos de inteligência policial. A questão é: se esses órgãos não sabiam de coisa alguma precisam ser imediatamente reformulados, pois não estão cumprindo seu papel. Se os órgãos sabiam e nada fizeram, então houve, no mínimo, uma conivência criminosa ou mesmo uma grave omissão. O mais grave, no entanto, seria a opção, em que os órgãos sabiam, informaram às autoridades competentes e essas nada fizeram. Em nosso país, essas três realidades existem e são muito comuns. Ora, se tem um serviço de inteligência desaparelhado, mal estruturado e com baixo nível de formação de seus agentes e analistas, ora, se tem o oposto, com um serviço excelente, mas cujos dirigentes pouco valor dão ao conhecimento produzido. Raros são os serviços eficientes que conseguem informar de forma adequada as autoridades e essas por sua vez se antecipam nas ações críticas. Mais raro ainda, infelizmente, é vermos os órgãos de inteligência interagindo entre si e compartilhando informações. Enquanto isso, um serviço de inteligência bem eficiente é estabelecido pelo lado dos criminosos, que, ao encontrar uma contrainteligência frágil, desencadeiam suas ações. As reivindicações de presos, na década de 1990, motivavam rebeliões sobretudo pelas condições precárias de encarceramento práticas aviltantes e pela incapacidade do Estado em manter o controle da situação. A violência nas prisões devia-se principalmente por disputas internas entre organizações criminosas, o que ainda acontece nos dias atuais, além da deficiência do Estado no gerenciamento da dinâmica prisional. Para entendermos melhor essa dinâmica prisional, é importante que voltemos um pouco na história, para analisarmos as rebeliões ocorridas nas décadas de 1950 e 1960, nos Estados Unidos. Naquela época, as reivindicações principais eram contra a presença de pessoal desqualificado para atuar em presídios, baixo investimento, indiferença da sociedade com a situação em que estavam, ociosidade forçada dos presos que não trabalhavam, superlotação, megaprisões, bem como falta de um programa voltado para a ressocialização, o que também não difere muito da situação atual dos presídios brasileiros. A diferença é que estamos falando de eventos ocorridos naquele país, há cerca de 50 anos. Donald Clemmer, em de seu livro The Prison Community, descreveu a cultura das prisões na década de 1930 e 1940, afirmando que não se tratava de uma cultura fechada. Segundo esse autor, a prisão é um mundo à parte e a “prizonização” (prizonization) seria a incorporação dos valores praticados no estabelecimento prisional, pelo detento. Esse processo já iniciar-se-ia a partir da chegada do preso ao presídio. Novas regras são conhecidas, muitas completamente diferentes a quem está acostumado com a liberdade, inclusive com o linguajar próprio utilizado. Nem todos passarão por todas as mudanças que frequentemente ocorrem no processo de “prizonização”, mas todos sofrem algum tipo de alteração, o que seria de se esperar, já que estariam colocando criminosos de diferentes facções e ideologias, convivendo sob o mesmo teto. A assimilação passaria a existir quando um grupo de detentos passasse a ter contato, com outro, de tal forma a haver uma fusão de objetivos e de valores. Quanto maior esse contato, maior a assimilação. Haveria, então, os chamados “Fatores Universais de Aprisionamento”: 40 UNIDADE III │ CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS » Aceitação de um papel inferior na sociedade. » Adoção de novos hábitos e rotinas diárias, inclusive de alimentação e sono. » Incorporação de novo linguajar. » Acumulação de fatos oriundos da organização prisional. » Desejo de um bom emprego. O processo completo de “prizonização” passaria por fases. Dependeria, por exemplo, do tipo de vida levada pelo preso antes de ser encarcerado, bem como a sua personalidade, o que inclui a rede de relacionamentos que possuía. A fase seguinte é a do contato com os grupos e facções da prisão, quando passa a ter que escolher com quem se aliar, como ferramenta de proteção de sua integridade física. Começa, então, a fazer amizades com outros criminosos e a aceitar os dogmas da prisão. A assimilação difere da “prizonização”, à medida que é um processo mais lento e não tão suscetível a mudanças extremas quanto o aprisionamento, que também pode ser lento e variar de pessoa para pessoa, a depender de uma série de características individuais, inclusive, o nível sociocultural do detento. Em 1958, Gresham Sykes publica Sociedade dos Cativos: Um estudo da Prisão de Segurança Máxima (no original: The Society of the Captives: A study of a maximum security prison). Nesse livro, que se tornou um clássico para os estudiosos do assunto, o autor argumenta que os detentos são desprovidos de liberdade, autonomia, segurança, bens materiais e até privados de relações sexuais. O Estado não consegue, por sua vez, lidar com todas essas questões de forma positiva e o resultado acaba sendo a corrupção dos agentes penitenciários, o relaxamento da vigilância e das regras, entre outros aspectos. A teoria do autor passa a ser conhecida como o “modelo da privação”. Na avaliação de Sykes, as rebeliões ocorreriam por um desequilíbrio nas relações estabelecidas entre as forças de poder exercidas pelas autoridades prisionais e os presos. A gestão dos estabelecimentos prisionais dependeria de uma série de concessões. A busca do poder seria motivo de acirramento das tensões e as rebeliões não seriam eventos explosivos, mas situações que aos poucos iriam se agravando. Sociedade dos Cativos 41 CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III Pouco tempo depois e em meio à Guerra Fria, Erving Goffman publica, em 1961, o livro Asylums, onde discute a situação social de detentos e de pacientes com distúrbios mentais. As rebeliões na década de 1970, nos Estados Unidos, tinham como foco as reivindicações dos movimentos negros, a atuação de grupos de ativistas de movimentos civis e podia ser, portanto, entendida como desdobramento do pensamento e das revoltas que estavam acontecendo nas ruas. Em 1966, é fundado, nos Estados Unidos, o grupo que seria conhecido por “Panteras Negras” e que, em seu auge, teria em suas fileiras cerca de 2.000 militantes. O objetivo inicial desse grupo seria proteger a população negra da violência da polícia. As reivindicações com o tempo, no entanto, foram ficando cada vez mais radicais e incluíam a liberação de todos negros presos, isenção de impostos para negros e alguns defendiam a luta armada contra a “América branca”. Esse era um momento de racismo declarado e acirrado no cenário americano.Foi nessa mesma década que o presidente John Kennedy, árduo defensor da igualdade racial, havia sido assassinado poucos anos antes, em um episódio até hoje pouco esclarecido e repleto de mistério, apesar de não relacionado a questões raciais. Poucos anos mais tarde, o líder negro pacifista Martin Luther King também seria assassinado. Em 1971, ocorre a rebelião na penitenciária de Attica. A rebelião teve como motivação inicial a demanda dos prisioneiros por melhores condições no cárcere; no entanto, a “gota d’agua “ teria sido a morte do prisioneiro George Jackson, um radical do movimento negro, fundador do movimento “Família Guerrilheira Negra”, preso em San Quentin , quando tentava escapar armado da prisão. Cerca de 1.000 dos quase 2.200 presos se rebelaram e tomaram conta do presídio, fazendo 33 reféns. Nos quatro dias de negociação que se seguiram, o governo atendeu 28 exigências dos presos, exceto a que pedia anistia de processos criminais e substituição do supervisor da prisão. O governador, à época, era Nelson Rockefeller, que ordenou então a invasão do presídio pela polícia. O saldo foi de 39 mortos, incluindo 10 agentes penitenciários e funcionários do presídio. A ação do polícia foi iniciada com o uso de grande quantidade de gás lacrimogênio (tear gas), seguida por tiros de escopeta. Para saber mais sobre a rebelião de Attica: <http://en.wikipedia.org/wiki/Attica_Prison_riots>. <http://www.history.com/this-day-in-history.do?action=Article&id=1125>. Rebelião de Attica – 1971 Fonte: <www.americanheritage.com>. 42 UNIDADE III │ CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS As rebeliões na década de 1970, na Europa, tinham uma característica que posteriormente também ocorreu no Brasil, que foi o contato de presos políticos com presos comuns. Foi dessa forma que surgiu, no presídio da Ilha Grande no Rio de Janeiro, a chamada Falange Vermelha, precursora do Comando Vermelho. Os presos comuns passaram a receber de presos políticos informações sobre guerrilha urbana e doutrinação ideológica em muitos casos. Não é por acaso que o “Mini- Manual de Guerrilha Urbana”, de Carlos Mariguela, com frequência foi encontrado com grupos de narcotraficantes. Em 1974, na França, houve 152 rebeliões em 77 prisões. A situação passou a ser controlada com o fim dos presos políticos e de seus grupos e a legislação que, em 1978, foi modificada de tal forma a favorecer as intervenções policiais. De acordo com Robert Adams(1994), as rebeliões: » são parte de um continuum de atividades; » envolvem discórdia e/ou protestos; » provocam interrupção no funcionamento da prisão; » propiciam que os presos tomem a prisão ou parte dela; » são temporárias; » envolvem grupos de presos; » são direcionadas para obter mudanças ou expressar queixas. De acordo com o Ministério da Justiça, a população encarcerada no Brasil tem aumentado de forma considerável, conforme o gráfico a seguir. População encarcerada no Brasil 1988-2003 Fonte: Ministério da Justiça 43 CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III Os dados mostram que esse aumento não se dá apenas em números absolutos, mas também por 100.000 habitantes. População encarcerada no Brasil 1988-2003 Fonte: Ministério da Justiça As rebeliões no Brasil envolvem os seguintes aspectos: » Vínculo a grupos criminosos. » Alto índice de corrupção. » Frequentes desdobramentos de fugas frustradas. » Cotidiano das prisões administrado pelos próprios presos. » Mortes abribuidas pelo Estado a “acertos de contas”. » Omissão do Estado administração carcerária. » Superpopulação de presos nas celas. » Eliminação de rivais de grupos criminosos, durante rebeliões (com esse objetivo). » Proteção em troca da “lealdade” (Bin Ladens). » Partilha no dividendo das atividades criminosas. Nas unidades penitenciárias brasileiras, que em sua grande maioria são administradas elo Estado, pode-se detectar: » Preso não trabalha por não haver legislação que obrigue a isso. » Alto índice de ociosidade. » Formação deficitária dos agentes penitenciários. 44 UNIDADE III │ CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS » Presença marcante de facções e grupos criminosos. » Pouco ou nenhum controle na entrada e uso de celulares, drogas e outros objetos proibidos. » Superpopulação de presos nas celas. » Compartilhamento de celas por presos com diferentes níveis de periculosidade. » Poucos programas voltados para a profissionalização ou reinserção social do preso. » Ausência de legislação que permita o encarceramento por mais de 30 anos, o que significa que os grandes bandidos condenados por centenas de anos de reclusão nada tem a perder no cometimento de mais crimes. » Dificuldade na realização de interrogatórios a distância, por teleconferência, o que diminuiria o risco de fugas e de ações de tentativa de resgate de presos. » Alto índice de violência , prosmicuidade e consumo de drogas. Aliados a isso destacam-se, no Brasil: a ausência de uma legislação que permita o encarceramento por mais de 30 anos, o que leva os grandes bandidos, condenados à pena máxima, a cometerem outros crimes, por não terem nada a perder; a necessidade de revisão urgente da Lei de Execuções Penais. Em 2003, com o art. 52 da Lei no 10.792, com reação contrária de muitos jornalistas, organizações criminosas, de direitos humanos e até mesmo juristas, surge o Regime Disciplinar Difereciado, estabelecendo nos incisos I, II, III e IV: I. duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II. recolhimento em cela individual; III. visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; IV. o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho do sol. Entre 2002 e 2003, o Comando Vermelho no Rio de Janeiro foi acusado de: » Tentativa de resgate de presos. » Ataque a viaturas da PM. » Lançamento de granadas contra shopping. » Disparos contra o Palácio da Guanabara. » Colocação de Coquetel Molotov em metrô. 45 CRISES EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS │ UNIDADE III » Detoração de bomba caseira contra Hotel Meridien. » Organização debloqueios e assaltos nas ruas. » Comparação com ação das FARC, pela antropóloga Alba Zaluar. De lá para cá, a violência urbana cometida por diferentes facções e grupos criminosos, incluindo as recentes, formações de milícias, tem mostrado características de ações terroristas, embora nos falte legislação nessa área, como também de guerrilha urbana, com grave omissão do Estado em diversas áreas. Em 2006, o PCC em São Paulo foi acusado de comandar um ataque sem precedentes a diversos pontos da capital, incluindo unidade do Corpo de Bombeiros, polícias e agentes penitenciários de folga e em serviço, com um saldo final de mais de 250 ataques e mais de 110 mortos. Algo comparável apenas a países em guerra declarada ou vivendo em situação de guerrilha urbana. Segundo Fernando Salla (2006), podemos concluir que a situação atual das unidades carcerárias mostra: » Estado omisso, ineficiente e ineficaz; » massas carcerárias sob controle das lideranças do crime organizado; » grupos com potencial de formação de força política; » surgimento de novos grupos criminosos. O gerente de crise, diante de tal realidade, deve não apenas conhecê-la, mas assim como em situações como reféns (o que também é comum nas rebeliões) ter a serenidade e o profissionalismo necessário para atuar. Em rebeliões, as regras a serem seguidas e observadas são as mesmas que as discutidas com relação à negociação de reféns. 46 Para (não) Finalizar As operações de busca e salvamento, como também de transporte de vítimas, são atividades que requerem treinamento e não são objeto de nosso estudo. O Gerente de Crises precisa conhecer as fases de Pré-Impacto, Impacto e Pós-Impacto, sabendo que ações são devidas em cada uma dessas fases, o Sistema de Comando de
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