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Gerenciamento de Incidente Crítico 2 Sumário APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 5 OBJETIVO DO CURSO .............................................................................................. 6 ESTRUTURA DO CURSO .......................................................................................... 7 Módulo 1 – A crise e seu Gerenciamento: Conceitos Fundamentais ................... 8 Apresentação ........................................................................................................... 8 Objetivos do Módulo ................................................................................................ 8 Estrutura do Módulo ................................................................................................ 8 Evolução histórica da doutrina de gerenciamento de crises no Brasil ..................... 9 Aula 1 - A crise ...................................................................................................... 13 1.1- Conceitos Básicos....................................................................................... 13 1.2 - Tipos de Incidentes .................................................................................... 13 1.3 - Crise versus Incidente Crítico .................................................................... 15 1.4 - Incidentes Estáticos e Incidentes Dinâmicos ............................................. 20 Aula 2 - O Gerenciamento de Crises ..................................................................... 22 2.1 - Características da Crise ............................................................................. 23 Módulo 2 – Doutrina de Gerenciamento de Crises: aspectos conceituais ........ 30 Apresentação do Módulo ....................................................................................... 30 Objetivo do Módulo ................................................................................................ 30 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 30 Aula 1 – Objetivos e critérios de ação ................................................................... 31 1.1. Critérios de ação ......................................................................................... 33 Aula 2 - Classificação dos graus de risco .............................................................. 37 Aula 3 - Níveis de resposta .................................................................................... 43 Aula 4 - Tipologia dos causadores de eventos críticos (CEC) ............................... 49 Módulo 3 – Doutrina de Gerenciamento de Crises: aspectos operacionais ...... 55 3 Apresentação ......................................................................................................... 55 Objetivos do Módulo .............................................................................................. 55 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 55 Aula 1 - Alternativas táticas ................................................................................... 56 1.1. Negociação ................................................................................................. 56 1.2. Técnicas e/ou tecnologias menos que letais ............................................... 60 1.3. Tiro de comprometimento ........................................................................... 63 1.4. Invasão tática .............................................................................................. 65 Aula 2 - Perímetros de segurança ......................................................................... 67 2.1. Organização do cenário .............................................................................. 69 Aula 3 - Operação e organização do posto de comando ....................................... 72 3.1 Posto de comando - princípios fundamentais .............................................. 72 3.2. Requisitos essenciais de um PC: .......................................................... 74 3.3. Distribuição de tarefas ........................................................................... 76 Aula 4 - Dificuldades no teatro de operações ........................................................ 82 4.1. Manutenção do isolamento ........................................................................ 83 4.2. Equipamentos ............................................................................................. 84 4.3. Localização de autoridades ......................................................................... 86 4.4. Ingerências externas ................................................................................... 87 4.5. Falta de autonomia da polícia ..................................................................... 89 4.6. A Imprensa .................................................................................................. 90 Módulo 4 – A Nova Ambiência das Crises Policiais ............................................. 94 Apresentação ......................................................................................................... 94 Objetivos do Módulo .............................................................................................. 94 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 94 Aula 1 - Primeira Intervenção em Crise (PIC) ........................................................ 95 4 Aula 2 - Síndrome de Estocolmo versus Síndrome de Londres ............................ 99 2.1. Síndrome de Estocolmo .............................................................................. 99 2.2. Síndrome de Londres ................................................................................ 102 Aula 3 - Atirador Ativo .......................................................................................... 106 Aula 4 - SUICIDE BY COP (Suicídio pela Polícia) ............................................... 113 4.1. Prevalência ............................................................................................... 113 4.2. Motivações: ............................................................................................... 114 4.3. Resposta policial ....................................................................................... 116 Conclusão final do curso ..................................................................................... 122 Sugestões de filmes de Gerenciamento de Crises e Negociação ....................... 128 A Negociação ...................................................................................................... 129 Reféns no Hotel ................................................................................................... 129 Prova de Vida ...................................................................................................... 130 Refém de Uma Vida ............................................................................................ 131 Referências .......................................................................................................... 135 5 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Este é um Curso a Distância sobre Gerenciamento de Crises no contexto policial, que devido a necessidades de atualizações acadêmicas e administrativas, teve seu conteúdo, título e carga horária atualizados e reformulados. Seu objetivo principal é criar condições para que o policial (law enforcement) possa utilizar um recurso que está disponibilizado de forma gratuita. O conhecimento da própria função no contexto da Segurança Pública e a busca do conhecimento necessário para desempenhá-la da melhorforma possível, são fatores primordiais para a mudança de mentalidade e evolução doutrinária na atividade policial brasileira. Esses fatores são responsáveis pela esperança de uma prestação de serviços melhor, não apenas através dos profissionais da área de segurança, mas, também, pelos servidores públicos como um todo, e, consequentemente, de uma melhor qualidade de vida, em um futuro, talvez, não tão distante. Todos nós, profissionais de Segurança Pública, sabemos que nossa função não consiste única e exclusivamente em realizar policiamento ou investigação, evitando ou reprimindo crimes. Cabe aos órgãos de Segurança Pública a Preservação da Ordem, que não pode ser obtida sem que haja tranquilidade pública. Porém, tranquilidade exige confiança. Não basta mais aumentar o número de profissionais de segurança pública nas ruas, delegacias e penitenciárias, para que as pessoas fiquem tranquilas, deve ter bons profissionais, com alto nível técnico. Para que o profissional de segurança pública, tenha também a tranquilidade e a autoconfiança de agir com maior probabilidade de acerto, é preciso que ele tenha à disposição um leque tão amplo quanto possível de alternativas táticas para resolução das ocorrências com as quais irá se deparar. É preciso também que saiba utilizar os recursos disponíveis, por mais simples que pareçam. Como primeiro recurso a ser usado por qualquer profissional de segurança pública, na maioria das ocorrências em que se envolverá, é a Mediação de Conflitos. A 6 grande maioria das polícias do Brasil (para não dizer todas) vêm se preocupando em criar e treinar grupos táticos e tropas de choque, treinando seus policiais para atuar sempre nas situações mais complexas, o que é muito bom. Muitas vezes, por serem exaustivamente treinados nas técnicas de intervenção policial com uso de força, os operadores de segurança pública crêem que as técnicas de gerenciamento de crises são ineficazes ou desnecessárias. Este raciocínio leva muitos a agirem de forma precipitada e usar a força onde, provavelmente, não seria necessário fazê-lo. Em virtude disso, tais técnicas são pouco conhecidas no meio da Segurança Pública ou conhecidas de forma inadequada e superficial. Este curso visa disseminar tais técnicas e mostrar sua importância para a preservação da vida, mostrando aos profissionais de Segurança Pública que elas podem e devem ser um instrumento cotidiano de resolução de problemas. Fazer este curso será uma oportunidade ímpar para os profissionais de segurança pública que não são gerentes de crises e/ou negociadores treinados, conheçam e utilizem estas técnicas buscando aumentar seu conhecimento a respeito do assunto e passem a perceber sua função de uma outra forma. OBJETIVO DO CURSO Ao final deste curso você será capaz de: • Conhecer os aspectos conceituais e operacionais do Gerenciamento de Incidente Crítico; • Classificar os graus de risco e níveis de resposta de um evento crítico; • Utilizar perímetros de segurança em eventos críticos; • Diferenciar Síndrome de Estocolmo da Síndrome de Londres; • Reconhecer a importância da primeira intervenção em um evento crítico; • Valorizar a padronização de procedimentos e a necessidade de pedir apoio em todos os eventos críticos. 7 ESTRUTURA DO CURSO Para alcançar os objetivos propostos, este curso foi dividido em 4 módulos: Módulo 1 – A Crise e seu Gerenciamento: Conceitos Fundamentais; Módulo 2 – Doutrina de Gerenciamento de Crise: Aspectos Conceituais; Módulo 3 – Doutrina de Gerenciamento de Crises: Aspectos Operacionais; Módulo 4 – A Nova Ambiência das Crises Policiais. 8 Módulo 1 – A crise e seu Gerenciamento: Conceitos Fundamentais Apresentação Você já ouviu falar em Crise, Gerenciamento de Crises e/ou Gestão de Incidente Crítico? Neste módulo você irá estudar um pouco sobre a evolução da doutrina de gerenciamento de crise no Brasil, estudará sobre incidente com refém e incidentes com vítima, refém sequestrados e refém tomados, indivíduos homiziados, sobre causador de evento crítico (CEC), falaremos sobre a área crítica, a crise e incidente crítico, sobre o gerenciamento de crises e as características de uma crise. Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Distinguir crise de incidente crítico no contexto policial; • Diferenciar um incidente com refém de incidente com vítima • Citar exemplos de modalidades de crise policial; • Definir Gerenciamento de Crises; • Listar as características da Crise. Estrutura do Módulo Este módulo está dividido em 2 aulas: Aula 1 – A Crise; Aula 2 – O Gerenciamento de Crises. Bons estudos e lembre-se de ser profissional nas suas atitudes! 9 Evolução histórica da doutrina de gerenciamento de crises no Brasil Antes de se trazer um resumo da evolução da doutrina de Gerenciamento de Crises no Brasil, é por demais oportuno mencionar que os Estados Unidos é berço da sistematização, consolidação e difusão de praticamente todos os materiais produzidos no nosso país, no final dos anos 90 e início de 2000. Nomes como os de Frank A. Bolz Jr. (NYPD), Harvey Schlosseberg (NYPD), Frederick J. Lanceley (FBI), Gary Noesner (FBI), Thomas Strentz (FBI), Dwayne G. Fuselier (FBI), Clinton Van Zandt (FBI), figuram como os autores dos primeiros trabalhos (livros, artigos, apostilas) que se tem registros no universo policial. Pode-se dizer que todo o material produzido no Brasil sobre a temática de Gerenciamento de Crises no âmbito policial, tem a sua origem nas traduções de materiais (livros e apostilas) oriundas dos Estados Unidos da América (EUA) dos autores acima mencionados. 1990 Nessa esteira, atribui-se ao Delegado de Polícia Federal, Roberto das Chagas Monteiro (atualmente aposentado), como o pioneiro nessa seara tendo em vista que o citado profissional tivera a oportunidade de no ano de 1990 realizar um curso sobre o assunto na Academia Nacional de Polícia do Federal Bureau of Investigation (FBI) e produziu o primeiro documento (apostila) que fora compartilhado para os alunos que frequentavam a Academia Nacional de Polícia (ANP) em Brasília-DF. Destaca-se também a contribuição ofertada pelo Perito de Polícia Federal Angelo Oliveira Salignac (atualmente aposentado) para a consolidação desses primeiros apontamentos. 1995 Em 1995, o então capitão da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) Wanderley Mascarenhas de Souza (atualmente Coronel veterano), produziu o seu trabalho monográfico de conclusão do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO – Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais) intitulado “Gerenciamento de Crises: Negociação e atuação de grupos especiais de polícia na solução de eventos críticos.” 10 Constituindo-se na base da “Doutrina de Gerenciamento de Crises” que se utiliza no Brasil para os diversos cursos e eventos que trabalham a matéria. A partir desse trabalho monográfico, teve-se início a difusão do conhecimento para as diversas instituições do sistema de segurança pública e de defesa social, bem como a população em geral e imprensa. De modo que, pode-se mencionar o 1º Simpósio Internacional de Gerenciamento de Crises, promovido pelo Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), como sendo o evento pioneiro, entre as polícias brasileiras, a tratar do tema “recém” chegado ao país. Esse evento contou com palestras de policiais militares brasileiros, entre eles o então Cap. PMESP Mascarenhas, policiais norte americanos e franceses. 1998 Em 1998, entre os dias 21 e 23 de janeiro de 1998, foi ministrado na Polícia Militar da Paraíba (PMPB) pelo então Major PMESP Mascarenhas, o Estágio Especial de Gerenciamento de Crises para Oficiais, participaram ainda do evento 02 (dois) Aspirantes-a-Oficial e 01 (um) Sargento. Estágio esse quenaquele mesmo ano, se transformou em curso na PMPB, com a carga horária de 60 h/a, ministrado pelo então 1º Tenente PMPB Onivan Elias de Oliveira. Fato ocorrido também na PMESP, no momento em que o Major PMESP Mascarenhas estava lotado na Diretoria de Ensino e Instrução (DEI) e, também, executou o Curso de Gerenciamento de Crise de forma pioneira, com a primeira turma no período de 13 de outubro a 13 de novembro, incluindo aulas nos Estados Unidos. 2001 e 2002 No período de 2001 a 2002, a Senasp/MJ, ofertou no âmbito do Projeto de Treinamento para Profissionais da Área de Segurança do Cidadão, sete cursos de Gerenciamento Crises. Os cursos foram coordenados pela equipe da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, sob o comando do então Tenente Coronel Abreu Costa. 2001 a 2005 Para ampliar, difundir e consolidar as bases iniciais da doutrina de gerenciamento de crises no Brasil, na Polícia Militar da Paraíba foram realizados quatro simpósios de gerenciamento de crises (2001, 2002, 2003 e 2005). Outras 11 polícias também promoveram eventos similares, a exemplo de: 1º Encontro de Negociadores Policiais Militares (PMMG-2005), Simpósio de Operações Policiais Especiais (PMDF 2007/2008), Simpósio Internacional de Operações Especiais (PMAM-2009). 2007 2007 tem lugar na difusão desse conteúdo, as primeiras turmas do Curso de Gerenciamento de Crises na modalidade Ensino à Distância (EaD), promovido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que capacitou milhares de policiais militares, civis, penais e bombeiros militares. De modo que se pode afirmar que, no Brasil, ultrapassa-se os vinte anos em que esse assunto vem sendo estudado, pesquisado, experimentado e atualizado por e para os profissionais das diversas instituições que integram as forças de segurança e de defesa social. 2014 Cap. PMESP Rogério Nery Machado, elabora trabalho de mestrado profissional em Ciências Policiais na PMESP com o tema “Atirador Ativo: impositivo de emprego do sistema dinâmico de gerenciamento de crises”, em 2014. 2017 Cap. PMESP Paulo Augusto Aguilar, elabora seu trabalho de mestrado profissional em Ciências Policiais na PMESP com o título “Ações e Operações Táticas Especiais: aplicação do conceito de concepção imediata do perigo em entradas táticas realizadas pelo grupo de ações táticas especiais”, em 2017. 2019 Maj. PMESP Valmor Saraiva Racorti elabora a sua tese de doutorado, também em Ciências Policiais intitulada “Proposta Estratégica para Atualização, Difusão e Emprego da Doutrina de Gerenciamento de Incidentes na Polícia Militar do Estado de São Paulo”, em 2019. Destaca-se por oportuno a constante evolução, além da dinâmica dos eventos críticos, dos seus respectivos estudos, análises e pesquisas. Nesse diapasão, pode- se afirmar que os trabalhos produzidos em nível de mestrado e doutorado, citados no 12 ano de 2014, 2017 e 2019 são os precursores na nova ótica sobre os fatos policiais e suas respostas estatais. É primordial admitir que as bases doutrinárias estão bem solidificadas pelas polícias brasileiras desde a difusão do conhecimento através dos eventos acima mencionados e outros não citados, que ampliam ainda mais essa construção árdua de milhares de homens e mulheres que ao longo dos últimos 25 anos vêm dando sua parcela de contribuição. Para ratificar essa assertiva, basta dizer que, por exemplo, desde 1995 nas polícias militares da Paraíba, Distrito Federal, Sergipe, Espírito Santo, Rondônia não se tem registro de mortes de reféns nas atuações das respectivas polícias. Ao passo que há registro de mortes de reféns no Rio de Janeiro em 2000, no Paraná em 2001, em São Paulo em 2008, em Alagoas em 2011 e no Rio Grande do Sul em 2013. Levando em conta as milhares de ocorrências atendidas nos respectivos períodos até outubro de 2020, com tranquilidade se afirma que as polícias brasileiras, em especial as militares, consolidaram as bases doutrinárias do gerenciamento de crises policiais envolvendo reféns localizados. Por fim, mostra-se que a “doutrina” deve ser entendida, em linguagem metafórica, como sendo um farol para iluminar o caminho e não para cegar os que dela fazem uso, ou seja, deve estar em constante avaliação, mudança, aperfeiçoamento e adequação às realidades locais. 13 Aula 1 - A crise “O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho”. Abraham Lincoln. 1.1- Conceitos Básicos Para fins deste curso, emprega-se os seguintes termos/conceitos: Refém Sequestrado (RS) – é uma pessoa (grupo de pessoas) que foi cerceada a sua liberdade de locomoção deliberadamente pelo criminoso com fins previamente definidos, estando em local desconhecido pelas autoridades. Refém Tomado (RT) - é uma pessoa (grupo de pessoas) que foi cerceada a sua liberdade de locomoção de forma aleatória pelo criminoso, com fins diversos, estando em local conhecido pelas autoridades. Indivíduo Homiziado – é uma pessoa que encontra-se em local confinado por ter praticado um ato ilícito anteriormente e se recusa a obedecer as ordens das autoridades competentes. Causador do Evento Crítico (CEC) – é uma pessoa que origina uma ação ilícita, desencadeando a mobilização de vários órgãos públicos e/ou privados, para que o fato seja resolvido. Área Crítica (AC) – é um espaço geográfico onde ocorreu um ou mais crimes e será(ão) objeto(s) de perícia oficial. 1.2 - Tipos de Incidentes 1.2.1 Situação com Refém versus Situação com Vítima O Federal Bureau of Investigation (FBI) caracteriza todos os eventos críticos – independente do motivo, saúde mental ou história criminal do causador – ou como 14 hostage ou nonhostage situations (situações com reféns ou situação com vítimas, tradução nossa). Entender a diferença entre ambos permanece sendo o grande paradigma para resolver pacificamente tais incidentes e com isto representa o ponto- chave para o treinamento, principalmente dos gerentes de crises (NOESNER, 1999, tradução nossa). Incidente com REFÉM Noesner (1999) fez uma distinção entre incidentes que envolvem reféns e incidentes que envolvem pessoas que são vítimas potenciais. Ele define um incidente com refém como aquele em que um indivíduo mantém outras pessoas a fim de forçar um terceiro a cumprir suas exigências substantivas. Exigências substantivas são aquelas que o indivíduo acha que não pode obter sem o uso de reféns. Portanto, os reféns são uma alavanca nesses incidentes, não alvos. É apenas mantendo os reféns vivos que o indivíduo tem influência junto à polícia. As exigências são razoáveis e direcionadas a um objetivo. Incidente com VÍTIMA Os incidentes com vítimas envolvem o indivíduo agindo por emoção, tendo objetivos mal definidos e não fazendo exigências substantivas (Noesner, 1999). As exigências parecem irrealistas - exigências que nenhuma pessoa razoável esperaria que fossem atendidas. Nesses incidentes, os indivíduos seguram outros para expressar sua frustração, mágoa ou desilusão sobre os eventos ou, mais perigosamente, sobre os indivíduos que estão mantendo sob ameaça. As pessoas nesses incidentes não são reféns; eles são vítimas. O risco para as pessoas detidas é consideravelmente maior em incidentes com vítimas do que em incidentes com reféns. 15 Figura 1: Tipos de Incidentes de Crise Fonte: Gary W. Noesner, M.Ed, traduzido e adaptado por Onivan Elias de Oliveira, 2020. À luz da legislação nacional e para a população em geral, não há diferença entre Incidente com Refém e Incidente com Vítima. Em ambos, uma ou mais de uma pessoa será vítima de um criminoso sob constante ameaça de morte. No entanto, para fins de estratégia do gerenciamento de crise policial, nos incidentes com vítimas, estas estão numa possibilidade muito alta deterem suas vidas ceifadas a qualquer momento. Os casos por motivação terroristas ou situações por motivação passional ilustram bem esse perfil de ocorrência. 1.3 - Crise versus Incidente Crítico CRISE Em geral nossa mente ao ler algum título de obra, trabalho científico ou curso, por exemplo, busca a compreensão “do que” se trata esse rótulo, nome etc. Suponha- se que o nome deste curso fosse “Gerenciamento de Esternocleidomastóideo”, provavelmente uma das primeiras indagações seria algo como: afinal, o que é esse tal de esternocleidomastóideo? Somente a partir dessa resposta é que, então, podemos trabalhar na gestão dessa “coisa.” De modo similar quanto a 16 dúvida/curiosidade mental, pode-se citar as expressões “crise financeira”, “crise nos rins”, “crise na garganta”, “crise da meia-idade”; enfim haverá a necessidade da compreensão, no mínimo semântica, da palavra. SAIBA MAIS! Segundo o dicionário priberam o verbete crise em latim Crisis e no grego Krísis, é definido como o ato de separar, decisão, julgamento, evento ou momento decisivo. Para Sacconi (1996, p. 212), crise é “s.f. 1. Tempo de dificuldades agudas ou perigosas; conjuntura difícil. 2. Ponto crítico no curso de uma doença, indicativo de melhora ou piora, geralmente caracterizado por mudança na intensidade dos sintomas. 3. Momento decisivo de um acontecimento, que afeta o estado emocional de uma pessoa. 4. Ataque.” Por sua vez, afirma Ferreira (1989, p. 144) que a crise é “s.f. 1. Manifestação súbita de acidente patológico ou psíquico; 2. Fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos sentimentos; 3. Deficiência, penúria; 4. Ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de depressão.” O conceito de crise também é empregado em legislação pátria. Assim, considera-se crise: “todo incidente ou situação crucial não rotineira, que exija uma resposta especial dos órgãos operativos de defesa social, em razão da possibilidade de agravamento conjuntural, com grande risco à vida e ao patrimônio.” (PERNAMBUCO, 2009). Ocorrência de Alta Complexidade Outro conceito é o de Ocorrência de Alta Complexidade, apresentado por Silva Neto (apud MAGALHÃES; SACRAMENTO; SOUZA, 1998, p.12): 17 Todo fato de origem humana ou natural que, alterando a ordem pública, supere a capacidade de resposta dos esforços ordinários de polícia, exigindo a intervenção de forças policiais através da estruturação de ações e operações especiais, ou típicas de bombeiro militar, com o objetivo de proteger e socorrer o cidadão. Evento de Defesa Social de Alto Risco Cotta (2009, p.4) traz o conceito de Evento de Defesa Social de Alto Risco: [...] são as intervenções qualificadas em Incidentes Críticos que extrapolam o poder de resposta dos órgãos que compõem o Sistema de Defesa Social e, portanto, necessitam de intervenções integradas especiais com a utilização de equipamentos, armamentos, tecnologias e treinamentos especializados para o restabelecimento da Paz Social. Mattos (2011) conceitua “que nem todo evento de defesa social de alto risco é uma crise. Entretanto, por suas características, toda crise com enfoque policial é um evento de defesa social de alto risco ou ocorrência policial de alta complexidade”. De todo modo, pode-se chegar a conclusão que crise é um acontecimento/fato que vai exigir de pessoas e/ou organizações medidas não ortodoxas para: 1] mitigar a possibilidade de surgimento, 2] em ocorrendo, resolver com o mínimo de causalidades humanas, materiais ou de reputação da imagem dos envolvidos e, 3] após o seu término, adotar condutas para minimizar a possibilidade de retorno do acontecimento/fato em circunstâncias similares. No entanto, neste curso, será delimitado o conceito de crise para a atividade das instituições policiais dos órgãos inseridos no artigo 144 da Constituição Federal, sendo eles: Polícia Militar, Polícia Civil, Policia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Penal e Guardas Civis Municipais. Podemos falar que a crise, no contexto policial, é também conhecida como evento crítico (decisivo). Podemos defini-la como: Uma manifestação violenta e inesperada de rompimento do equilíbrio, da normalidade, podendo ser observada em qualquer atividade humana. 18 Situação grave em que os fatos da vida em sociedade, rompendo modelos tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos integrados na coletividade. Monteiro (1994, p. 5), e Souza (1995, p. 19), em suas respectivas obras, citam o conceito de crise adotado pelo FBI como: Figura 2: Conceito de Crise Fonte: SCD/EaD/Segen Mas o que seria uma” Solução Aceitável”? Para fins de mensuração quanto a “solução aceitável”, estabelece-se que, quando uma intervenção policial, ainda que resulte em mortes, se ao final, todos os interventores ao serem devidamente processados e julgados restarem absolvidos, bem como a opinião pública, em geral, seja mais favorável ao desfecho do que as críticas “negativas”, ou seja, a ação alcançou o binômio “legalidade” e 19 “opinião pública favorável”, diz-se ter atingido a mencionada solução conforme o conceito citado. Nesse contexto, você verá alguns exemplos de crises, em que a polícia tem que dar essa resposta especial: • Roubo com tomada de reféns em aeronaves, estabelecimentos bancários ou comerciais, em veículos particulares, em transportes públicos ou privados, em residências ou nas vias públicas etc; • Rebeliões em estabelecimentos prisionais; • Ocorrências com bombas e/ou explosivos; • Acidentes com múltiplas vítimas; • Ações terroristas com um ou múltiplos alvos; • Tentativas de autoexertímino/lesão autoprovocada; • Fenômenos da natureza (enchentes, desabamento de edificações etc.); • Grandes Incêndios (rurais ou urbanos); • Graves distúrbios com repercussão na ordem pública do Estado (greve dos caminhoneiros); • Desocupação/reintegração de grande magnitude mediante ordem judicial. INCIDENTE CRÍTICO Para Racorti (2019, p. 160), incidente crítico é: “Qualquer incidente em que o resultado ou consequência possa resultar em: danos graves ao indivíduo, patrimônio ou ao meio ambiente, pode impactar significativamente na confiança da sociedade, exigindo arranjos especiais, emprego conjugado de meios e capacidade de gestão para responder.” 20 Nesta mesma linha de pensamento, a Federal Emergency Management Agency (FEMA. 2017, apud Racorti et al 2020) estabelece que incidente é “uma ocorrência, natural ou de causas humanas que necessita de uma resposta para proteger a vida ou propriedade.” Destacam os autores que “toda crise é um incidente, mas nem todo incidente é uma crise.” IMPORTANTE!! Incidentes críticos de segurança pública são fenômenos sociais complexos de quebra da normalidade que, por colocarem a vida dos cidadãos em risco, exigem a intervenção especial da polícia. Uma característica significativa do incidente crítico é a sua relativa imprevisibilidade, pois não se pode identificar, com precisão, o local e a hora em que eclodirá. Ademais, o incidente crítico foge aos padrões existentes dos atendimentos das situações típicas da polícia (MINAS GERAIS, 2018a). Desse modo, independente de questões semânticas ou de outras naturezas, é importante destacar que uma anormalidade foi estabelecida em determinado espaço geográfico e que necessita de uma gestão de múltiplas agências (públicas ou privadas) para a mitigação dos vários danos e efeitos colaterais. 1.4 - Incidentes Estáticos e Incidentes Dinâmicos A necessidade de estabelecer essas novas conceituações, afirma Aguilar (2017), vem a partir do caso ocorrido numa escola em Columbine-EUA, instante em que a resposta dos primeiros interventores, ao seguirem o protocolo de CONTER, ISOLAR e NEGOCIAR, retardarama neutralização dos atiradores e com isso, várias vidas de estudantes foram perdidas. 21 Vamos ver a definição de Aguilar (2017): Figura 3: Incidente Estático X Incidente Dinâmico Fonte: SCD/EaD/Segen De forma ilustrativa, pode-se citar casos em que uma pessoa armada efetua disparos em pessoas aleatoriamente, conhecidos como Atiradores Ativos (AA), ou mesmo ações do que se chama na crônica policial recente brasileira de “novo cangaço”, ou seja, ações criminosas de grupos que atacam mais de um alvo simultaneamente, como agências bancárias e quarteis de polícia militar em cidades do interior do país. Nesses cenários de incidentes dinâmicos, a ação de negociar, dá lugar a neutralizar o mais breve possível os causadores do evento crítico. Pois em assim procedendo, os primeiros interventores estão contribuindo decisivamente para a amenização do risco de perdas de vidas das pessoas que estejam nas cercanias das áreas críticas. Figura 4: Reflita Fonte: SCD/EaD/Segen 22 Aula 2 - O Gerenciamento de Crises Você verá que o gerenciamento de crises também pode ser descrito como uma metodologia que se utiliza, muitas vezes, de uma sequência lógica para resolver problemas que são fundamentados em possibilidades. Deve-se observar que o gerenciamento de crises não é uma ciência exata, pois cada crise apresenta características exclusivas, demandando soluções particulares, que exigem uma cuidadosa análise e reflexão. Trata-se de um saber que deve ser utilizado em um tempo restrito e não calculado, pois vidas estão em risco iminente de serem perdidas ou seriamente lesionadas, diante dos mais diversos problemas sociais, econômicos, políticos e ideológicos da humanidade. Novamente, faz-se menção a alguns dos primeiros estudiosos do gerenciamento de crises no Brasil, sendo eles: Monteiro (1994, p. 6) e Souza (1995, p. 23), que também explicitam em seus trabalhos o conceito de gerenciamento de crise utilizado pela Academia Nacional do FBI dos Estados Unidos da América com sendo “o processo de identificar, obter e aplicar recursos necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise.” A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), estabeleceu uma sutil mudança nesse conceito. Destarte, ocorreu a substituição da palavra “resolução” por “gestão”; assim gerenciamento de crises é: “o processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e gestão de uma crise. Os principais fundamentos desse gerenciamento são: preservar vidas e aplicar a lei.” (PMESP, 2013, grifo nosso) IMPORTANTE! As ocorrências que envolvem crises policiais, por suas características, geram e criam, no cenário da Segurança Pública, sempre situações decisivas, onde o gestor da crise 23 deve estar preparado para ser o “maestro” de todo um cenário. 2.1 - Características da Crise Monteiro (1994) e Souza (1995), ao estudarem o gerenciamento das situações de crise, com base na doutrina emanada da Academia Nacional do FBI (EUA), que estuda basicamente as ocorrências com reféns, enumera as seguintes características para as crises: Figura 5: Características para uma crise Fonte: SCD/EaD/Segen Vamos estudá-las cada uma delas, confira: Imprevisibilidade (relativa) Esta característica vai orientar aos profissionais de segurança pública e da defesa social, que as crises podem ocorrer em qualquer lugar, a qualquer momento e sob as mais variadas circunstâncias, ou seja, ninguém está imune a ter, no seu turno 24 de serviço, que tomar parte num cenário crítico. Assim, quando em serviço, deve-se ter a mentalidade de estar em condições de dar pronta resposta a toda sorte de fatos. Com o avanço das tecnologias disponíveis as polícias (drones, smartphones, software de análise de riscos etc.), não se pode mais dizer que os incidentes críticos são totalmente imprevisíveis. Existem alguns indícios que podem ser diagnosticados e repassados para os órgãos operativos. Ilustra-se essa assertiva com um trabalho de inteligência de monitoramento de uma ação criminoso por parte de quadrilha de roubo a bancos. Compressão do tempo (Urgência) Esta característica impõe aos gestores presentes nas áreas críticas, a tomada de várias decisões sob um curto espaço de tempo. Muito embora algumas crises se prolongarão por várias horas, dias ou até meses, porém a cada minuto decisões de “vida ou morte”, diminuir os danos a propriedade carecem de ser implementadas sob alta pressão com urgência, agilidade e presteza por parte do tomador de decisão. Ameaça à vida Esta é uma das principais características da crise. Nela repousa todo esforço humano e logístico por parte dos gestores e operadores. Ainda que a única vida em risco iminente de ser perdida seja do próprio causador do evento crítico, ainda assim todo o esforço deve ser colocado em prática com o escopo de protegê-la. Postura organizacional não-rotineira Implica dizer que numa crise, e tão somente numa crise, a hierarquia cede lugar à especialização, ou seja, o gestor deve ser uma pessoa devidamente especializada para àquele cenário específico e não necessariamente o de maior nível hierárquico na instituição que esteja liderando as ações. O ideal é que, a gestão esteja sob a responsabilidade de um gestor de elevado status hierárquico e com capacitação específica sobre a crise. 25 Planejamento analítico especial e capacidade de implementação O planejamento tradicional e sua forma de execução, em cenários de crise, dá lugar a flexibilidade, a agilidade e capacidade de execução instantânea. Aos planejadores presentes nas áreas de crises, a insuficiência de tempo e informações robustas vão interferir nessas ações de planejamento e implementação. Considerações legais especiais Quando mais de uma instituição pública está atuando numa área de crise, então uma das primeiras respostas a serem obtidas é: “quem é a mais alta autoridade responsável pela tomada de decisões?”. Ou seja, trata-se da competência funcional/legal para gerir a crise. No caso específico de ocorrências envolvendo reféns, no Brasil, por força da Lei nº 13.964/2019, ampliou-se o conceito de legítima defesa, afirmando in verbis que “o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”, também age sob a tutela da excludente de ilicitude. Além das características anteriormente mencionadas, outras podem ser agregadas para uma melhor compreensão. Entre essas: • A necessidade de recursos variados para sua solução; • Ser um evento de baixa probabilidade de ocorrência e de graves consequências; • As informações iniciais são escassas, contraditórias e confusas; • Ter um acompanhamento próximo e detalhado, tanto pelas autoridades como pela população, pela mídia e por organizações diversas. 26 Vamos ver dois casos reais de uma crise, clique sobre o título e leia toda a matéria: Operação prende quadrilha que planejava atacar bancos e carros- fortes Bando foi preso portando diversos tipos de armas e explosivos que seriam utilizados para realizar os ataques. Por Redação -16/04/2020. Uma quadrilha que planejava atacar carros-fortes e bancos no Sertão da Paraíba foi desarticulada em Aparecida (PB), nesta quinta-feira (16). O grupo com seis criminosos de quatro estados do Nordeste portava uma metralhadora ponto 50, quatro fuzis, uma pistola, várias munições e explosivos. Conforme informações do comandante da operação que desfez o grupo, coronel Francisco Campos, as armas estavam escondidas por baixo da carroceria de um carro. “A prisão do bando evitou vários crimes contra carros-fortes e instituições financeiras, não só aqui no estado. Eles estavam divididos em dois carros, com placas de Minas Gerais, e asarmas e os explosivos estavam todos empacotados, por baixo da carroceria de um dos veículos”, disse. Os presos são dos estados do Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia. Segundo a polícia, a operação continuará para chegar até outros integrantes do bando. Os suspeitos e todo o arsenal apreendido foram levados para a sede da Polícia Federal em Patos, que fica na mesma região. Disponível em: <https://portalcorreio.com.br/policia-prende-quadrilha-ataque- bancos/>. Acesso 06 out. 2020. PERU - Operação Chavín de Huantar Há 20 anos o excepcional resgate dos reféns mantidos na Embaixada do Japão, pelas Forças Especiais do Peru. A grande vitória do Presidente Alberto Fujimori. Para a esquerda mundial ver as tropas comemorando uma imagem que os autores devem pagar caro. 27 de Dezembro, 2017 - 00:05 (Brasília) 27 As 20h19min da noite de 19 de dezembro de 1996, quatorze membros do grupo terrorista Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) irromperam desde uma casa vizinha e tomaram a residência do embaixador do Japão em Lima, Peru durante a celebração da festa de aniversário do Imperador do Japão. O embaixador recebia nesta ocasião cerca de 800 dignitários e convidados. Os terroristas sabiam da presença de personalidades políticas, civis e militares no evento. Paulatinamente foram liberando reféns que não serviam a seus propósitos. Finalmente ficaram no local apenas 72 pessoas, por cuja liberação exigiam a libertação de 400 de seus companheiros que cumpriam pena em prisões peruanas. Desde o início, o governo peruano recusou-se a atender a qualquer demanda dos sequestradores, e adotou uma política de espera. Enquanto mantinha infindáveis negociações com os invasores da Embaixada, treinava e equipava uma força de elite para uma possível operação de resgate. Além disso, iniciou um processo de desgaste contra os terroristas. A luz e a água da Embaixada foram cortadas. Veículos equipados com alto-falantes passaram a circular em torno do prédio, tocando a pleno volume músicas militares e canções patrióticas, na intenção de cansar e enervar os terroristas, privando-os de sono e descanso. Também grupos de policiais bem protegidos jogavam pedras no prédio, disparavam tiros para o ar e gritavam palavrões, para provocar uma reação. Os militares peruanos conseguiram infiltrar um repórter na Embaixada, ostensivamente para obter um furo de reportagem entrevistando os líderes do MRTA, porém na realidade para obter informações sobre o prédio e a situação dos reféns, além de informações sobre quantos eram e que armamento tinham os terroristas. O passar do tempo provocou um relaxamento na atitude dos sequestradores, que passaram a confiar em que a opinião pública mundial não permitiria que os militares lançassem um ataque ao prédio. Consequentemente, os quatorze membros do MRTA entraram numa rotina diária bastante tranquila, inclusive organizando partidas de futebol com alguns de seus reféns. Embora na manhã de 9 de janeiro uma rádio local tivesse divulgado a notícia de que os militares treinavam um grupo incursor, os sequestradores não tomaram nenhuma ação, confiando que os militares não ousariam pôr em risco a vida dos reféns. Embora em março a mesma rádio divulgasse que um túnel estava sendo 28 cavado em direção à Embaixada, a reação dos sequestradores foi fraca, fazendo-os apenas trocar o alojamento dos reféns do térreo para o primeiro andar do prédio. Esta ação eventualmente ajudou a diminuir o risco de ferimentos nos reféns, por ocasião da entrada do grupo de resgate. Na noite anterior ao assalto final, metade da força de 142 comandos deslocou- se para perto do prédio, e silenciosamente começou a tomar suas posições de ataque. Outros setenta policiais formaram um perímetro externo em volta do prédio. Oito snipers posicionaram-se em prédios adjacentes, para dar fogo de proteção. O pessoal restante foi dividido em três grupos de ataque. As 15h17min do dia 22 de abril de 1997, quase quatro meses depois da invasão da Embaixada pelo MRTA, o Presidente Alberto Fujimori deu a ordem para o ataque. Seis minutos depois, o chão da sala principal e da cozinha do prédio entrou em erupção, matando vários terroristas que jogavam futebol na sala. As explosões foram causadas por cargas cuidadosamente colocadas debaixo dos pisos, através de uma série de túneis cavados. Disponível em: <https://www.defesanet.com.br/terror/noticia/28052/-PERU--- Operacao-Chavin-de-Huantar/>. Acesso 06 out. 2020. 29 Finalizando... Neste Módulo você estudou: • Conceito de crise e os tipos de incidentes de crise (refém tomado, refém sequestrado, indivíduo homiziado, causador de evento crítico, área crítica). • Incidente crítico, o Gerenciamento de Crises e suas características (imprevisibilidade, compreensão do tempo, ameaça a vida, necessidade). 30 Módulo 2 – Doutrina de Gerenciamento de Crises: aspectos conceituais Apresentação do Módulo Caro Aluno, Nesse módulo você estudará sobre os aspectos conceituais da Doutrina de Gerenciamento de Crise, sobre a classificação dos riscos e níveis de respostas e estudará a tipologia dos causadores de eventos críticos (CEC). Objetivo do Módulo Ao final deste módulo, você será capaz de: • Apontar os objetivos do gerenciamento de crises; • Relacionar os objetivos do gerenciamento de crises à doutrina; • Identificar os critérios que orientam as decisões e ações; • Classificar os graus de risco e ameaça dos eventos críticos; • Estabelecer a relação existente entre graus de risco e níveis de resposta; • Caracterizar, de acordo com a tipologia, os causadores de eventos críticos. Estrutura do Módulo Este módulo é dividido em 04 aulas: Aula 01 – Objetivos e Critérios de ação; Aula 02 - Classificação dos graus de risco; Aula 03 - Níveis de resposta; Aula 04 - Tipologia dos causadores de eventos críticos (CEC). 31 Aula 1 – Objetivos e critérios de ação Todos os esforços efetivados numa área crítica, por quaisquer que sejam as instituições envolvidas, tem o escopo principal de preservar vidas, das vítimas, dos profissionais que estão efetivamente trabalhando e das pessoas que estão próximas ao epicentro da crise. Os recursos humanos e logísticos presentes na(s) área(s) crítica(s), estão voltados a mitigação de maiores danos à propriedade, seja ela pública ou privada, além de minimizar os riscos de perdas de vidas humanas, agravamento de lesões às pessoas ainda não atingidas e danos ao meio ambiente, conforme cada caso. No universo policial, além da preservação da vida humana, secundariamente tem-se a aplicação da lei e o restabelecimento da ordem pública na área crítica, como objetivos básicos a serem alcançados. Figura 6: Objetivo principal do gerenciamento de crises Fonte: Alfredo Justiniano Paes – SD PMRO, 2020 32 Os envolvidos diretamente na gestão de uma crise ou incidente crítico, devem ter permanentemente esses, entres outros, objetivos no gerenciamento da crise: preservar vidas, aplicar a lei e restabelecer a normalidade. (MINAS GERAIS, 2020). Portanto, em ordem axiológica, a preservação da vida humana se sobrepõe a todo e qualquer outro objetivo na gestão de eventos críticos de quaisquer naturezas. Enfatiza-se que não há uma hierarquia ou prioridade na preservação das vidas envolvidas na área crítica, todas tem a mesma importância. Eventualmente, na atividade policial, os responsáveis pela tomada de decisão optam por não prender em flagrante delito um CEC que faz refém, dando-lhe uma fuga momentânea para, em momento mais adequado e seguro para as vidas das vítimas, fazerem a intervenção pertinente. Esta opção é a mais acertada sob o ponto de vista dos objetivos fundamentais. Pode até parecer uma certa prevaricação das autoridades, porém, mostra-se como a melhor opção. (SOUZA, 1995). Figura7: Objetivos secundários do gerenciamento de crise Fonte: Alfredo Justiniano Paes – SD PMRO, 2020 Ainda pode-se dizer que o responsável pela gestão do incidente crítico ou crise, tem objetivos adicionais, tais como: 33 • Reduzir as lesões e os danos à propriedade e ao meio ambiente adicionais; • Garantir a segurança das pessoas na(s) área(s) crítica(s); • Prender e conduzir o(s) causador(es) do incidente crítico às autoridades competentes para iniciar os procedimentos apuratórios pertinentes; • Obedecer às normas legais e éticas. O gerenciamento de crises possui esses pilares como escopo, pois assim pode conduzir suas técnicas para a gestão e resolução dos incidentes, com sucesso, com o mínimo de perda de vidas, segurança dos envolvidos e garantia do cumprimento da legislação. 1.1. Critérios de ação Na busca da execução dos objetivos que apresentamos no tópico anterior, o administrador de uma ocorrência de alta complexidade, ainda segundo Souza (1995), “o comandante da cena de ação (também chamado de comandante do teatro de operações)” está, durante todo o desenrolar do evento, tomando decisões pertinentes aos campos de gerenciamento aqui abordados. IMPORTANTE!! Nessas ocasiões existe um constante processo decisório para o gerente da crise. O comandante se vê diante do dilema do tipo “faço ou não faço?”. Decisões, desde as mais simples às mais complexas, vão sendo tomadas a todo o momento. Elas envolvem assuntos variados, como o fornecimento de água ou alimentação para os reféns e para os delinquentes, atendimento médico de urgência a uma vítima no interior do ponto crítico, o corte de linha telefônica e fornecimento de eletricidade, até mesmo o emprego de força. 34 As expectativas do público em relação à reação dos órgãos de segurança em incidentes de alto risco são previsíveis, porém nem sempre realistas. Quase sempre, a sociedade é conduzida a aceitar, principalmente pela mídia, que o incidente deva ser resolvido desta ou daquela maneira, no entanto, desconhecem as estratégias, técnicas e táticas utilizadas pela polícia, bem como as limitações jurídicas enfrentadas. Figura 8: Dúvida Fonte: SCD/EaD/Segen Assim, com o intuito de balizar o processo decisório na ambiência operacional, atendendo os preceitos dos objetivos do Gerenciamento de Crises, segundo Monteiro (1994) e Souza (1995), a doutrina do FBI preconiza três critérios para tomada de decisões. Esses critérios ou “filtros” podem, efetivamente, ser utilizados do modo seguinte: o tomador de decisão ao fazer o questionamento (em cada critério) para si e obtiver como resposta uma dúvida ou mesmo um “não” taxativo, então a orientação vai no sentido de, retardar ou mesmo não tomar àquela decisão que se estava pensando. 35 Figura 9: Análise de Risco Fonte: SCD/EaD/Segen Vamos ver os três critérios para tomada de decisões: Necessidade O critério de necessidade indica que toda e qualquer ação somente deve ser implementada quando for indispensável. Se não houver necessidade de se tomar determinadas decisões, não se justifica a sua adoção. A ação que pretendemos fazer é estritamente necessária? Validade do risco O critério da validade do risco estabelece que toda e qualquer ação, tem que levar em conta, se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados. A pergunta que deve ser feita é: Vale à pena correr esse risco? Embora este critério tenha uma dificuldade de mensuração objetiva, pois envolve muito forte fatores de ordem subjetiva (já que o que é arriscado para um, não é para outro) e de ordem objetiva (o que foi proveitoso em uma crise poderá não sê- lo em outra), serve de um parâmetro na tomada de decisão, seja ela qual for. 36 Aceitabilidade O terceiro critério, aceitabilidade, implica em que toda decisão deve ter respaldo legal, moral e ético. A aceitabilidade legal - significa que toda decisão deve ser tomada com base nos princípios ditados pelas leis. Uma crise, por mais séria que seja não dá à organização policial a prerrogativa de violar leis. A aceitabilidade moral - implica que toda decisão para ser tomada deve levar em consideração aspectos de moralidade e bons costumes. A aceitabilidade ética - está consubstanciada no princípio de que o responsável pelo gerenciamento da crise, ao tomar uma decisão, deve fazê-lo lembrando que o resultado da crise não pode exigir de seus comandados a prática de ações que causem constrangimentos “internas corporis.” Nesse sentido é clássico o exemplo do policial que se oferece como voluntário para ser trocado por algum refém. Essa troca, se autorizada, acarreta questionamentos éticos de natureza bastante complicada, que podem provocar sérios transtornos no gerenciamento da crise. 37 Aula 2 - Classificação dos graus de risco “As lições mais difíceis são aquelas que valem realmente a pena aprender.” John Taylor Você estudou no tópico anterior quais os critérios de ação na tomada de decisões numa situação de crise. Neste, estudará a classificação do grau de risco ou ameaça dos incidentes críticos. Desta classificação, você poderá dimensionar os recursos humanos e logísticos a serem empregados na ocorrência de forma que não fiquem super ou subdimensionados. ATENÇÂO!! O foco é não dispor de recursos “de menos” para ocorrências complexas” ou recursos “de mais” para fatos menos críticos. Uma ilustração é dispor de várias viaturas de polícia ostensiva, corpo de bombeiros para administrar uma ocorrência de “violência doméstica” ou, de modo diverso, dispor de apenas uma viatura ostensiva para atender um evento do tipo “pancadão.” A avaliação da classificação do grau de risco deve ser uma das primeiras ações a ser mentalizada pelo gerente da crise. Segundo Monteiro (1994), a doutrina do FBI estabelece uma escala de risco ou ameaça que serve de padrão para a classificação da crise, a exemplo do que ocorre com a Escala Richter, em relação aos terremotos. 38 Essa classificação obedece a um escalonamento de quatro graus: Figura 10: Escalonamento dos graus de risco Fonte: SCD/EaD/Segen Classificação dos graus de risco De forma simplificada, convencionou-se as exemplificações seguintes para ilustrar essa classificação, conforme quadro abaixo: Figura 11: Quadro exemplificativo Fonte: do Conteudista; SCD/EaD/Segen Tendo estes exemplos como base, você poderá classificar as situações de crise com mais segurança. 39 EXERCITE SEUS CONHECIMENTOS CLASSIFICANDO OS SEGUINTES CASOS: CASO 1 - Homem se rende e termina sequestro de quase 24 horas em motel no MA. PM corrigiu informação e diz que jovem de 17 anos não foi ferida. Ex-marido manteve mulher como refém em quarto de motel em São Luís. Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo 22/10/2011 12h36 - Atualizado em 22/10/2011, 15h06. O homem de 36 anos, que mantinha há quase 24 horas a ex-mulher como refém em um motel em São Luís, no Maranhão, entregou-se por volta das 12h deste sábado (22), segundo o serviço de inteligência da Polícia Militar. Conforme a PM, a jovem, de 17 anos, foi levada a um hospital sem ferimentos. Anteriormente, a polícia havia divulgado a informação de que a refém estava ferida levemente por um disparo acidental provocado pelo sequestrador. O sequestrador pediu que fosse levado em uma viatura policial para a delegacia, diz a PM. O casal estava recluso dentro do banheiro de um quarto do motel e a negociação era realizada através da porta do banheiro, sem contato visual. Uma avó do suspeito foi chamada para participar das negociações e pediu que ele entregasse a arma e se rendesse. Conforme os policiais, o suspeito estava cansado e o casal não havia recebido alimentação desde o início das negociações, que começaram por volta das 16h de sexta-feira (20). Osequestro começou quando o homem, de 36 anos, raptou a jovem por volta das 12h na porta da escola e levou a refém para um motel. O casal teve um relacionamento curto e o homem não teria concordado com o rompimento. Três negociadores da Polícia Civil atuam diretamente e a equipe tática que está preparada para uma suposta invasão, caso fosse necessária, é da Polícia Militar. Os pais da jovem e a mãe e o advogado do suspeito estão no local. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/10/homem-se-rende-e- termina-sequestro-de-quase-24-horas-em-motel-no-ma.html>. Acesso: 07 out. 2020. Analisando: Trata-se de uma situação de ALTISSÍMO RISCO. 40 CASO 2 - Polícia posiciona atiradores de elite em cerco a sequestrador em Brasília Homem armado algemou funcionário e ameaça explodir hotel Saint Peter. Hotel foi esvaziado; negociadores tentam fazer com que homem se renda. Raquel Morais Do G1 DF - 29/09/2014 13h53 - Atualizado em 29/09/2014, 13h53. A Polícia Civil informou que atiradores de elite foram posicionados e aguardam autorização para disparar contra o homem que invadiu o hotel Saint Peter no centro de Brasília na manhã desta segunda-feira (28) e fez um mensageiro de refém. A corporação não quis informar o número de atiradores ou o total de policiais envolvidos na operação. O funcionário teve um colete supostamente com dinamite envolvido ao corpo. "Temos 98% de certeza de que são explosivos", disse o delegado Paulo Henrique Almeida. Nas imagens do refém, é possível ver que o colete tem uma fileira de objetos cilíndricos. Se for mesmo dinamite, a carga tem capacidade para danificar a estrutura do hotel, segundo a polícia. "Ele nos deu um prazo para atender as exigências dele – saída da Dilma, extradição de Cesare Battisti e aplicação efetiva da Lei da Ficha Limpa – e esse prazo está acabando. Ele disse que vai explodir, caso não o atendamos." Almeida afirmou que não vai dizer qual é o prazo dado pelo sequestrador, mas informou que é inferior a seis horas. De acordo com testemunhas, o sequestrador fez o check-in por volta das 8h30. Às 8h40, subiu para o 13º andar e bateu de quarto em quarto mandando os hóspedes descerem e informando que se tratava de uma ação terrorista. Um publicitário de Ribeirão Preto (SP) que está no DF a trabalho conta que foi abordado pelo homem às 8h40. "Ele bateu na porta do meu quarto e mandou juntar todas as coisas e descer. Estava armado e com o mensageiro já algemado, cheio de bombas no corpo", diz. Segundo o publicitário, que não quis se identificar, o homem passou em todos os quartos mandando os hóspedes descerem. O publicitário desconfiou que fosse um assalto. "Depois, enquanto eu terminava de juntar as coisas, ele voltou no meu quarto e disse que não era roubo nem nada, era terrorismo. Que ele não estava brincando." 41 'Vazamento de gás' Os lutadores de MMA e irmãos Minotauro e Minotouro, que estavam hospedados no hotel, tiveram de deixar o quarto às pressas após serem informados de que havia um vazamento de gás. Eles participaram em Brasília do Capital Fitness, realizados no final de semana. Minotauro disse que eles estavam hospedados no quarto andar do hotel e não ficaram sabendo de nada sobre o sequestro. "A gente desceu pelo elevador. Lá dentro não ficamos sabendo de nada. A primeira informação foi que estava tendo um vazamento de gás, que era para a gente sair o mais rápido possível." O lutador disse que demorou a deixar o hotel porque estava tomando café da manhã. "Quando chegaram ao meu quarto eu tinha saído para tomar café, então quando voltei os quartos já estavam todos abertos, ninguém tinha nenhuma informação." O hotel Sain Peter é o mesmo onde o ex-ministro José Dirceu, condenado no processo do mensalão, iria trabalhar ganhando R$ 20 mil mensais. Dirceu acabou desistindo do trabalho devido à repercussão negativa do caso. O imóvel está localizado no Setor Hoteleiro Sul, às margens do Eixo Monumental, e possui 400 quartos distribuídos em 15 andares. Disponível em: <http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2014/09/policia-posiciona- atiradores-de-elite-em-cerco-sequestrador-em-brasilia.html>. Acesso: 06 out. 2020. Analisando: Trata-se de uma situação de AMEAÇA EXTRAORDINÁRIA. CASO 3 - A história do acidente radiológico em Goiânia Em setembro de 1987 aconteceu o acidente com o Césio-137 (137Cs) em Goiânia, capital do Estado de Goiás, Brasil. O manuseio indevido de um aparelho de radioterapia abandonado, onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia, gerou um acidente que envolveu direta e indiretamente centenas de pessoas. A fonte, com radioatividade de 50.9 Tbq (1375 Ci) continha cloreto de césio, composto químico de alta solubilidade. O 137Cs, isótopo radioativo artificial do Césio tem comportamento, 42 no ambiente, semelhante ao do potássio e outros metais alcalinos, podendo ser concentrado em animais e plantas. Sua meia-vida física é de cerca de 33 anos. Com a violação do equipamento, foram espalhados no meio ambiente vários fragmentos de 137Cs, na forma de pó azul brilhante, provocando a contaminação de diversos locais, especificamente naqueles onde houve manipulação do material e para onde foram levadas as várias partes do aparelho de radioterapia. Por conter chumbo, material de relativo valor financeiro, a fonte foi vendida para um depósito de ferro-velho, cujo dono a repassou a outros dois depósitos, além de distribuir os fragmentos do material radioativo a parentes e amigos que por sua vez os levaram para suas casas. Disponível em: <http://www.cesio137goiania.go.gov.br/o-acidente/>. Acesso: 07 out. 2020. Analisando: Trata-se de uma situação de AMEAÇA EXÓTICA. 43 Aula 3 - Níveis de resposta É recomendável que os níveis de resposta se correlacionem com o grau de risco do evento crítico, ou seja, o nível de resposta se adequa, na medida em que cresce o vulto da crise. No entanto, por várias razões, constata-se que no Brasil, principalmente nas cidades mais distantes das capitais e regiões metropolitanas, essa estratégia tem sérias dificuldades de implementação, pelo menos nos primeiros instantes do fato. Como você viu anteriormente é de extrema importância o dimensionamento dos recursos a serem utilizados. De modo que, ao final da ocorrência, verificará qual o nível de resposta que foi adotado pelo gestor do incidente crítico ou crise. Os níveis de resposta podem ser visualizados conforme especificado abaixo: Nível UM - O gerente da crise dispôs na área crítica apenas recursos locais e não especializados. Nível DOIS - O gerente da crise dispôs na área crítica recursos especializados. Nível TRÊS - O gerente da crise dispôs na área crítica recursos especializados, acrescido de recursos de outras esferas/níveis de governo. Nível QUATRO - O gerente da crise dispôs na área crítica recursos especializados de vários níveis de governo, além de recursos de outro país. SOUZA, 1995, p. 34, cita que: “uma correta avaliação do grau de risco ou ameaça, representado por uma crise, concorre favoravelmente, para a solução do evento, possibilitando, desde o início, o oferecimento de um nível de resposta adequado à situação, evitando-se, destarte, perdas de tempo desnecessárias.” 44 O grau de risco de uma crise pode ser mudado no seu decorrer, pois a primeira autoridade policial que chega ao local faz uma avaliação precoce da situação com bases em informações precárias e de difícil confirmação. Dados de grande importância, como: presença de reféns, de explosivos ou agentes químicos, só podem ser devidamente confirmados com a passagem do tempo e empenho dos órgãos de inteligência para colher tais informações. Assim, o gerente do incidente crítico ou crise, pode se valer das várias fontes para que lhe propiciem informações atualizadas e robustas, a exemplo de: refénsresgatados, atirador de precisão, vizinhos, causador do evento crítico saiu da área crítica (se for mais de um), funcionários do local, entre outros. De acordo com a classificação acima, veja os casos abaixo e os níveis de respostas adotados: CASO 1 - Em Sousa: bandidos tentam realizar assalto, matem família como refém e terminam presos Da Redação - Policiais - 16/06/2011 No início da manhã desta quinta-feira (16), uma tentativa de assalto envolvendo três homens identificados como: Fagner Barbosa de Barros, natural de Recife, conhecido também como “Jogador”, 27 anos, que fugiu no último dia (06/06) da Colônia Penal Agrícola de Sousa, José Aparecido Soares, o “Cidão” natural da cidade de São Bentinho e outro suspeito João Júnior Pedrosa, conhecido por “Buchada”, 25 anos, residente próximo a empresa Coleite no Jardim Sorrilandia II, mobilizaram quase todo efetivo do 14º. BPM, além de policiais de outras cidades, onde os bandidos invadiram a casa do comerciante Marcelo Nogueira Lins, conhecido como "Marcelo da Kaiser", localizada no alto Capanema, ao lado da CAGEPA com intuito de realizar um assalto, momento que comerciante ouviu vozes estranhas (dos bandidos) no interior da casa e resolveu sair da casa sem que os acusados percebessem e em seguida acionou a polícia. Uma guarnição do trânsito que estava realizando rondas de rotina pela localidade imediatamente se deslocou até casa do comerciante juntamente com uma guarnição do Choque, onde os bandidos ao avistar os militares tentaram fugiu em um 45 carro pertencente à vítima, mas não obtiveram êxito sendo obrigado a retornarem ao interior da casa fazendo a esposa do comerciante e uma funcionária como refém. A polícia cercou toda a casa e o quarteirão, em seguida passou a negociar com os causados por cerca de três horas, que só resolveram se entregarem na presença de seus advogados. Os acuados foram presos e encaminhados até a delegacia local e apresentados ao delegado plantonista para serem adotadas as medidas cabíveis. A redação do Sertão Informado obteve informações exclusivas de pessoas ligadas a família, que revelaram que há mais de 40 dias os bandidos vinham circulando a casa do comerciante para analisar a rotina da dos moradores e consequentemente montar o plano delituoso que foi executado e frustrado na manhã de hoje. Segundo informações, os elementos são acusados de praticarem outros delitos na região, a exemplo do assalto aos sacoleiros da cidade de Cajazeiras que foram interceptados e roubados nas proximidades da Serra do Tigre, há poucos quilômetros do município de Aparecida. A polícia continua investigando o caso com a incumbência de saber se outras pessoas fazem parte do bando que agia na região. Matéria divulgada à época na mídia local e no site http://www.sertaoinformado.com.br/. Analisando: Trata-se do Nível 01 – Foram utilizados apenas recursos policiais locais. CASO 2 - Dupla assalta bar e mantém seis pessoas reféns durante sete horas Setembro 17, 2005 - 20:24 O estudante Otávio Almeida Mesquita Neto, 19 anos, residente no Conjunto Mangabeira e o desempregado Lucivan de Souza Rocha, 22 anos, solteiro, residente no Conjunto José Américo, foram presos no início por volta das 6h30 deste sábado (17), depois de terem assaltado e feito seis pessoas como reféns. O fato aconteceu no bar “Bar te papo” localizado na rua José Firmino Ferreira, no bairro de Água Fria, João Pessoa. http://www.sertaoinformado.com.br/ 46 O assalto começou por volta 23h40 da sexta-feira (16) quando foram feitos os reféns. Os acusados fizeram como reféns os estudantes Gino Massarini Bezerra Veras, 22 anos, Armando Duarte Marinho Júnior, 25 anos, Igor Bergson Morais Vasconcelos, 23 anos, as funcionárias do bar Maria da Conceição de Oliveira Tito, 37 anos, Maria de Lourdes Alves Brito e Luciano Xavier da Silva, 36 anos. Maria da Conceição inclusive passou mais de seis horas mantida refém e com um revólver Taurus, calibre 38, acervo da Secretaria da Segurança, com seis balas duas delas pinadas. Tudo começou quando os policiais militares do 5º Batalhão, comandados pelo sargento Adriano, estavam de rondas na viatura 0733, por volta das 23h40 passavam em frente ao “Bar te papo”, na rua José Firmino Ferreira, notaram que algo estranho estava acontecendo, pois viu quando pessoas entraram apressadas para o interior, no entanto não havia nenhum freguês nas mesas. Como havia passado pouco antes e teve sua atenção despertada para duas pessoas ambas vestindo camisa polo e calça jeans que ao ver a viatura ficaram nervosos, as suspeitas do militar aumentaram, e acionou a sirene da viatura várias vezes para chamar a atenção dos funcionários do bar, mas não obteve resposta, tudo permaneceu em silêncio. O sargento Adriano parou a viatura em frente ao bar, desceu e caminhou sem fazer barulho, foi quando escutou vozes de pessoas do interior, colocou o ouvido na porta, foi quando escutou alguém falar que ninguém alarmasse, que tudo sairia bem. Foi aí que o sargento descobriu que se tratava de um assalto com reféns. Retornou a viatura, através do rádio comunicação avisou sobre o que estava se passando e pediu apoio. As viaturas 0781, 0782, comandadas pelo tenente Rodrigues, Oficial de Dia do 5º BPM, e a 0644, está última do Grupo de Apoio Tático Especial – Gate, comandada pelo capitão Onivan, e mais as ambulâncias AA-29 e AA-30, do Corpo de Bombeiros, os delegados Flávio Travassos Sarinho e Lean Matheus, de plantões nas 11ª e 4ª Delegacias Distritais, chegaram ao local pouco tempo depois, imediatamente foram iniciadas as negociações para liberar as vítimas. O secretário Harrison Targino, da Defesa Social, o coronel Lima Irmão, Comandante Geral da PM, o coronel Kelson de Assis Chaves, subcomandante Geral da PM, foram avisados sobre o assalto com seis reféns, imediatamente se deslocaram até o bar “Bar te Papo”. Por volta de 1h, da refém Maria de Lourdes, começou a passar mal, e foi à outra refém Maria da Conceição que negociou com os dois acusados a liberação da refém. Lourdes foi a 47 primeira a ser liberada, recebeu o primeiro atendimento médico pelos paramédicos do Corpo de Bombeiros, em seguida foi encaminhada ao Hospital. Por volta das 2h, Otávio Neto e Lucivan de Souza, exigiram a presença da Imprensa, dando sinal de quem iriam liberar os cinco reféns. Uma equipe da TV CORREIO foi acionada e chegou ao bar pouco tempo depois, e as negociações comandadas pelo capitão Onivan, prosseguiram e às 6h30, depois que o último refém foi liberado, os dois acusados foram presos. Com eles o sargento Adriano apreendeu o revólver Taurus, uma faca-peixeira, a importância de R$ 100 e os dois telefones celulares pertencentes às vítimas com os quais eles mantiveram contatos com seus familiares, advogados e com a equipe da TV CORREIO. Otávio Mesquita Neto e Lucivan de Souza, juntamente com os seus reféns foram levados para a 9ª Delegacia Distrital, do Conjunto Mangabeira, onde foram autuados em flagrante delito pelo delegado Carlos Alberto do Nascimento. Depois das formalidades legais, os dois acusados foram transferidos para a Central de Polícia, e na segunda-feira (19) serão transferidos para um dos presídios da Capital. Matéria divulgada à época na mídia local. Analisando: Trata-se do Nível 03 – Foram utilizados recursos especiais, acrescidos de recursos de outras esferas/níveis de governo. CASO 3 - Após quatro dias, militares de Israel deixam resgate em Brumadinho 130 soldados e oficiais israelenses retornam a seu país nesta quinta-feira após críticas à efetividade dos equipamentos trazidos. Por Da Redação - Atualizado em 30 jul. 2020, 19h56 - Publicado em 31 jan. 2019, 08h40. Quatro dias depois de chegarem ao Brasil para oferecer apoio às operações de resgate e localização de vítimas do rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho, as Forçasde Defesa de Israel voltarão a seu país nesta quinta-feira, às 15h. A equipe de cerca de 130 soldados e oficiais israelenses desembarcou domingo à noite. Segundo a Casa Civil da Presidência da República, o retorno dos israelenses já era previsto. Logo após o início dos trabalhos, o embaixador de Israel no Brasil, 48 Yossi Shelly, disse que não havia prazo para a permanência do Exército israelense no auxílio à busca de pessoas desaparecidas na tragédia. “Estaremos aqui enquanto tivermos utilidade”, disse o coronel Colan Vach, que comanda a missão. Os militares israelenses começaram a trabalhar na segunda-feira e logo foram informados de declarações do comandante das operações de resgate, tenente- coronel Eduardo Ângelo, de que os equipamentos trazidos de Israel para Brumadinho (MG) não eram efetivos para esse tipo de desastre. Eduardo Ângelo referia-se à câmera térmica usada pelos israelenses para encontrar pessoas soterradas. “Eu ouvi que as câmeras térmicas não teriam uso, mas nós trouxemos todo o nosso equipamento. Ele pode ser muito útil, mas, neste caso, na maioria das vezes, não foi necessário”, reconheceu Vach, salientando que trabalha com outros equipamentos de busca e resgate. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/brasil/apos-quatro-dias-militares-de-israel- deixam-resgate-em-brumadinho/>. Acesso: 07 out. 2020 Analisando: Trata-se do Nível 04 – Foram utilizados recursos especiais, acrescidos de recursos de outras esferas/níveis de governo, além de recursos de outro país. 49 Aula 4 - Tipologia dos causadores de eventos críticos (CEC) Compreender a tipologia dos Causadores de Eventos Críticos (CEC) auxilia o tomador de decisão no sentido de designar estratégias de atuação, principalmente no tocante as ferramentas de negociação, a todos que estão envolvidos na(s) área(s) crítica(s). Obviamente, os desastres “naturais” que foram provocados por uma ação humana, o responsável pela eclosão da crise não será objeto deste conteúdo. Assim, Silva e Roncaglio (2020, p. 13) afirmam que existem quatro tipos de causadores de evento crítico: “criminosos, mentalmente perturbados, terroristas e presos rebelados.” CRIMINOSO A característica principal é que a motivação para gerar um incidente crítico é uma ação ilícita. Nos casos em que geram a presença de reféns, podem ser oriundos de uma extorsão mediante sequestro ou outro crime que foi frustrado pela presença em flagrante da polícia ou outro fator. MENTALMENTE PERTURBARDO Pode-se dizer que os mentalmente perturbados geradores de incidentes críticos ou crises aglutinam uma variedade de motivações a exemplo de presença de transtornos mentais, abalos emocionais súbitos e abusos de substâncias lícitas ou ilícitas (SILVA e RONCAGLIO, 2020). Figura 12: Criminoso Fonte: Canva Figura 13: Mentalmente Perturbado Fonte: Canva 50 TERRORISTA As motivações para iniciarem um incidente crítico ou crise por parte dessa tipologia de causadores, são complexas e variadas, passando pelo fanatismo político, religioso ideológico ou social, buscando causar instabilidades nos governos, causar medo e pânico na população em geral ou ainda dar ampla visibilidade a uma causa específica ((SILVA e RONCAGLIO, 2020). PRESOS REBELADOS Embora o preso já esteja nessa condição por ter praticado um ato criminoso devidamente processado e julgado, é importante destacar que o perfil das exigências e atitudes serão diferenciadas, bem como o processo de gestão considerando que esses já estão devidamente em área crítica confinada e isolada. Outro ponto a destacar é que as exigências e estratégicas de negociação, em geral, também terão características próprias. Roncaglio (2017, p. 24 apud SILVA e RONCAGLIO, 2020) afirma que os presos rebelados são “indivíduos que geram crises em virtude das especificidades da vida em cárcere, podendo ou não apresentar alterações comportamentais e/ou adotar ações com características terroristas.” Seja qual for o tipo do causador do evento crítico, deve-se evitar, no curso da negociação, a adoção de posturas estereotipadas com relação à tipologia e à motivação. Figura 14: Terrorista Fonte: Canva Figura 15: Presos Rebelados Fonte: Canva 51 A classificação aqui apresentada, a par de suas imperfeições, deve servir apenas como um ponto de orientação na diagnose dos tomadores de reféns, dado o papel primordial que eles desempenham no processo de negociação. Com base no conteúdo acima, veja os casos abaixo conforme a tipologia dos causadores do evento crítico: CASO 1: Assaltantes se entregam à polícia depois de fazerem família refém no Bairro dos Estados Dois assaltantes criaram pânico numa residência da avenida Sergipe, no Bairro dos Estados, mantendo refém uma família de três pessoas, segundo as informações iniciais. O capitão Onivan e o capitão Barros anunciaram o fim da crise com a negociação, rendição dos delinquentes e a libertação da família. O fato começou por volta das 17h30, quando o homem realizou um assalto na avenida Alagoas. Ao tentar fugir, foi de encontro a uma viatura da PM e acabou entrando em uma residência, onde rendeu todos os moradores. Ainda não se sabe as condições estabelecidas pelo homem para libertar a família refém. Equipes do Corpo de Bombeiros e do Samu estão no local para prestar socorro imediato. O secretário Harrison Targino (Segurança Pública) e agentes estão de plantão para capturar o sequestrador. Matéria divulgada à época na mídia local. Analisando: Trata-se do CRIMINOSO – A ação principal que gerou a crise foi o assalto. CASO 2: Jovens queimam colchões e fazem refém em rebelião no CEA Henriqueta Santiago O educador Dorgival Leoni Dias Moraes ficou como refém por quase uma hora, durante uma rebelião no Centro Educacional do Adolescente (CEA), localizado no bairro Jardim Cidade Universitária, em João Pessoa. Três alojamentos foram 52 danificados, vários colchões queimados e um aparelho de TV foi destruído. Aproximadamente 100 menores das alas "B" e "C" participaram da rebelião, que teve início às 8h30. Viaturas do 5º Batalhão de Polícia Militar, policiais da cavalaria e equipes do Grupo de Ações Táticas Especiais da PM (Gate) foram ao local para conter a rebelião. Segundo a Polícia, os menores queriam fugir. A fuga foi evitada e ninguém saiu ferido. Policiais do Corpo de Bombeiros também foram ao local para apagar o fogo. De acordo com o comandante do Gate, capitão Onivan Elias de Oliveira, tudo começou quando 50 internos da ala "C" (onde ficam os maiores de 18 anos) se rebelaram. Em seguida, mais 48 menores da ala "B" também entraram na confusão. Eles queriam fugir, mas foram impedidos por um forte esquema de segurança, montado pela PM. Ação da PM evita fuga Segundo o comandante do Gate da Polícia Militar, capitão Onivan Elias de Oliveira, os menores não fizeram nenhuma reivindicação. "Eles queriam fugir. Cercamos o local e os educadores do Centro Educacional do Adolescente entraram nos alojamentos e conseguiram conter os menores. Ninguém fugiu, nem saiu ferido e eles não apresentaram reivindicações", afirmou. Mesmo depois que a situação foi controlada, vários policiais permaneceram de plantão, em frente ao Centro Educacional, como medida preventiva. Disponível em: <http://www.pm.pb.gov.br/newsite/gate/manchete/28.html>. Acesso em: 20 fev. 2018. Analisando: Trata-se do PRESO REBELADO: Com devida observação que no caso 02, tratava-se de menores infratores. CASO 3: Corretor que ameaçava se matar é imobilizado e salvo pela Polícia Da Redação, com informações de Flavio Asevedo, do CORREIO - Segunda, 10 de Agosto de 2009 - 16h54. 53 O corretor de imóveis Agnaldo Almeida Costa, de 45 anos, que estava há cerca de três horas com duas facas ameaçando
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