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2 Sumário APRESENTAÇÃO DO CURSO .......................................................................... 4 OBJETIVOS DO CURSO ................................................................................... 5 ESTRUTURA DO CURSO ................................................................................. 5 MÓDULO 1 - A CRISE E O SEU GERENCIAMENTO ...................................... 6 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ....................................................................... 6 OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................ 6 AULA 1 – A CRISE E O SEU GERENCIAMENTO ............................................. 7 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7 2. CARACTERÍSTICAS DE UMA CRISE ........................................................... 7 3. DOUTRINA DE GERENCIAMENTO DE CRISES .......................................... 9 4. GERENCIAMENTO DE CRISES VERSUS GERENCIAMENTO DE SITUAÇÕES CRÍTICAS ................................................................................... 10 5. OBJETIVOS DO GERENCIAMENTO DE SITUAÇÕES CRÍTICAS ............. 11 6. TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES CRÍTICAS .................................................. 11 7. FASES DO GERENCIAMENTO DE CRISES .............................................. 11 8. MOTIVAÇÕES PARA CRISES NO SISTEMA PRISIONAL ......................... 28 9. CONCEITOS DE REBELIÃO E MOTIM ....................................................... 29 MÓDULO 2: CRITÉRIOS DE AÇÃO EM UMA CRISE .................................... 34 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ..................................................................... 34 OBJETIVOS DO MÓDULO .............................................................................. 34 1. CRITÉRIOS DE AÇÃO EM UMA CRISE...................................................... 35 2. PROVIDÊNCIAS IMEDIATAS: CONTER, ISOLAR, RESOLVER E NEGOCIAR ...................................................................................................... 37 3. AÇÕES INICIAIS ADOTADAS NO SISTEMA PRISIONAL .......................... 39 4. ALTERNATIVAS TÁTICAS NO GERENCIAMENTO DE CRISES ............... 42 5. ELEMENTOS OPERACIONAIS ESSENCIAIS ............................................. 53 MÓDULO 3: REFÉM, VÍTIMA E SÍNDROME DE ESTOCOLMO .................... 56 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ..................................................................... 56 OBJETIVOS DO MÓDULO .............................................................................. 56 1. VÍTIMA E REFÉM: CARACTERÍSTICAS BÁSICAS E DISTINÇÕES ESSENCIAIS .................................................................................................... 57 DIFERENÇA ENTRE VÍTIMA E REFÉM .................................................. 58 2. COMPORTAMENTO DO REFÉM ................................................................ 62 3. SÍNDROME DE ESTOCOLMO .................................................................... 64 3 MÓDULO 4: ASPECTOS DOS CONFLITOS E DA VIOLÊNCIA .................... 68 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ..................................................................... 68 OBJETIVOS DO MÓDULO .............................................................................. 68 1. CONFLITOS E VIOLÊNCIA A POPULAÇÃO CARCERÁRIA E A VIOLÊNCIA ......................................................................................................................... 69 2. A TEORIA DO CONFLITO: SIGNIFICADOS, PROCESSOS CONSTRUTIVOS E DESTRUTIVOS DE RESOLUÇÃO E AS ESPIRAIS DE CONFLITOS ..................................................................................................... 73 3. MEIOS DE RESOLUÇÃO PACÍFICA DE CONFLITOS................................ 76 4. AS ORIGENS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA ............................................. 78 5. JUSTIÇA RESTAURATIVA: SIGNIFICADOS, CONCEITOS E VALORES .. 81 6. AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS ............................................................... 84 MÓDULO 5: ESTUDOS DE CASO .................................................................. 95 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ..................................................................... 95 1. SITUAÇÃO I ................................................................................................. 95 2. SITUAÇÃO II ................................................................................................ 96 3. SITUAÇÃO III ............................................................................................... 97 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 98 4 APRESENTAÇÃO DO CURSO Seja bem-vindo ao curso Noções de Gerenciamento de Crises e de Conflitos no Sistema Prisional. O curso foi originalmente desenvolvido pelo Departamento Penitenciário Nacional em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e pretende apresentar aos agentes de segurança pública, principalmente aos Policiais Penais, questões relacionadas ao Gerenciamento de Crises e a Mediação de Conflitos no sistema prisional. Em 2020 o material passou a ser disponibilizado pela Rede EaD Segen, tendo sido adaptado para o novo Ambiente Virtual de Aprendizagem. Sabe-se que são grandes as dificuldades para a administração atuar na contenção de motins e rebeliões no sistema prisional, isso se dá pela soma de vários fatores, os quais destacamos: falta de um planejamento anterior à situação crítica; ingerências políticas; falta de uma política nacional de combate a tais situações e, principalmente, falta de equipamento e treinamento adequados ao ambiente prisional. Nesse curso buscaremos expor ferramentas úteis para o gerenciamento eficaz de crises nos sistemas prisionais. A premissa básica envolve a compreensão das situações que envolvem crises e conflitos no sistema prisional, ou seja, em seu ambiente de trabalho. Dessa forma, discutiremos os aspectos políticos, psicológicos e profissionais direta e indiretamente relacionados aos conflitos vivenciados no ambiente de trabalho do sistema prisional. Espera-se assim, que as discussões possam contribuir para a construção de um perfil profissional que consiga compreender, dialogar e propor soluções para os problemas enfrentados no sistema prisional. 5 OBJETIVOS DO CURSO Ao final deste curso, você será capaz de: • Definir crise no contexto do sistema prisional; • Estabelecer conceitos básicos de gerenciamento de crise prisional; • Compreender as fases do gerenciamento de crise; • Reconhecer os motivos que desencadeiam a crise no sistema prisional; • Perceber os critérios de ação em evento crítico; • Identificar o perfil do causador e do refém em um evento crítico; • Perceber as características da Síndrome de Estocolmo no comportamento e no discurso dos reféns e saber lidar com o fenômeno; • Entender o contexto da violência no Brasil, seus reflexos para o universo carcerário e o modo do desenvolvimento dos conflitos a partir do estudo da teoria do conflito; • Compreender e utilizar as técnicas de resolução de conflitos a partir do paradigma da Justiça Restaurativa. ESTRUTURA DO CURSO O curso está dividido nos seguintes módulos: • Módulo 1 – A crise e o seu gerenciamento; • Módulo 2 – Critérios de ação em uma crise; • Módulo 3 – Refém, vítima e síndrome de Estocolmo; • Módulo 4 – Aspectos do conflito e da violência; • Módulo 5 – Estudos de Caso. 6 MÓDULO 1 - A CRISE E O SEU GERENCIAMENTO APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Caro estudante, Uma crise sempre implica em dificuldades agudas e perigosas que requerem decisões comumente difíceis por parte dos seus administradores. Para o Federal Bureau of Investigation (FBI), crise é o evento ou situação crucial que exige uma resposta especial da polícia,a fim de assegurar uma solução aceitável. Alguns especialistas no tema fazem uma diferenciação entre crise e situação crítica, sendo aquela originada por esta. Assim, um fato envolvendo reféns caracteriza uma situação crítica, e a ruptura do equilíbrio social decorrente, caracteriza a crise. OBJETIVOS DO MÓDULO Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Compreender as características de uma crise; • Identificar situações de crise no sistema penitenciário; • Analisar os motivos que levam a uma crise no sistema prisional; • Analisar as fases de gerenciamento de crises. 7 AULA 1 – A CRISE E O SEU GERENCIAMENTO 1. INTRODUÇÃO Podemos falar que a crise, no contexto policial, é também conhecida como evento crítico (decisivo). Existem muitas definições para crise, porém, em nossa atividade podemos defini-la como: Uma manifestação violenta e inesperada de rompimento do equilíbrio, da normalidade, podendo ser observada em qualquer atividade humana (neste caso, abordaremos somente no campo da Segurança Pública). “Pode ser uma tensão ou conflito. Situação grave em que os fatos da vida em sociedade, rompendo modelos tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos integrados na coletividade." De um modo geral, podemos citar como exemplos de crises: • Assalto com tomada de reféns; • Sequestro de pessoas; • Rebelião em presídios; • Assalto a banco com reféns; • Ameaça de bombas; • Atos terroristas; • Sequestro de aeronaves; • Captura de fugitivos em zona rural. 2. CARACTERÍSTICAS DE UMA CRISE Uma crise é identificada por características peculiares que individualizam sua definição. São elas: I) Imprevisibilidade – A crise é não-seletiva e inesperada, isto é, qualquer pessoa ou instituição pode ser atingida a qualquer instante, em qualquer local, a 8 qualquer hora. Sabemos que ela vai acontecer, mas não podemos prever quando. Portanto, devemos estar preparados para enfrentar qualquer crise. Ela pode ocorrer assim que você acabar de ler este texto. II) Compressão do tempo – Embora as crises possam durar vários dias, os processos decisórios que envolvem discussões para a adoção de posturas no ambiente operacional devem ser realizados, em um curto espaço de tempo. As ocorrências de alta complexidade impõem às autoridades policiais responsáveis pelo seu gerenciamento: urgência, agilidade e rapidez nas decisões. III) Ameaça à vida – Sempre se configura como elemento de um evento crítico (decisivo), mesmo quando a vida em risco é a do próprio causador da crise. IV) Necessidade de Postura Organizacional não-rotineira; Planejamento Analítico Especial e Considerações Legais Especiais. Vamos ver a seguir cada um deles, confira abaixo: Postura organizacional não-rotineira A necessidade de uma postura organizacional não-rotineira é de todas as características essenciais, aquela que talvez cause maiores transtornos ao processo de gerenciamento. Contudo, é a única que os efeitos podem ser minimizados, graças a um preparo e a um treinamento prévio da organização para o enfrentamento de eventos críticos. Planejamento analítico especial e capacidade de implementação Sobre a necessidade de um planejamento analítico especial é importante observar que a análise e o planejamento, durante o desenrolar de uma crise, são consideravelmente prejudicados por fatores, como a insuficiência de informações sobre o evento crítico, a intervenção da mídia e o tumulto de massa geralmente causado por situações dessa natureza. Considerações legais especiais Finalmente, com relação às considerações legais especiais exigidas pelos eventos críticos, cabe ressaltar que, além de reflexões sobre temas, como: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, 9 responsabilidade civil etc., o aspecto da competência para atuar é aquele que primeiro vem à cabeça, ao se ter notícia do desencadeamento de uma crise. Caro aluno, dessas características, é importante frisar que, de acordo com a doutrina do FBI, a ameaça de vida deve ser observada como um componente essencial do evento crítico, mesmo quando a vida em risco é a do próprio indivíduo causador da crise. Assim, por exemplo, se alguém está tentando se matar dentro de uma cela, essa situação é caracterizada como uma crise, ainda que inexistam outras vidas em perigo. “Quem ficará encarregado do gerenciamento?” Este é o primeiro e mais urgente questionamento a ser feito, sendo muito importante na sua solução um perfeito entrosamento entre as autoridades responsáveis pelas organizações policiais envolvidas. 3. DOUTRINA DE GERENCIAMENTO DE CRISES Para o FBI, gerenciamento de crises é o processo de identificar, obter e aplicar recursos necessários a antecipação, prevenção e resolução de uma crise. Podemos compreender a antecipação como uma medida específica voltada para o impedimento de ocorrência de uma situação previamente identificada. Como exemplo já citado, podemos apontar a detecção de um plano de fuga ou de captura de reféns por um determinado grupo de detentos de uma penitenciária. Nesse caso, a administração adotará providências para que o fato não ocorra, transferindo os possíveis arquitetos do plano para outras acomodações, revistando as celas em busca de armas etc. 10 Já a prevenção consiste na medida genérica, voltada a não-ocorrência de situações previsíveis, como a entrada de armas e drogas nas unidades prisionais. Como exemplo podemos citar a revista periódica das dependências carcerárias, revista dos visitantes etc. 4. GERENCIAMENTO DE CRISES VERSUS GERENCIAMENTO DE SITUAÇÕES CRÍTICAS O gerenciamento de situações críticas é papel das forças especializadas, já o gerenciamento das crises é papel dos políticos. Assim, a resolução de uma situação crítica caracterizada por uma rebelião prisional seria de responsabilidade exclusiva das forças especializadas responsáveis, enquanto a solução para a crise decorrente desta situação seria incumbência dos entes políticos do Estado. Durante o curso, por questões didáticas, o termo “Gerenciamento de Crises” poderá se referir a atividades desempenhadas pelos agentes de segurança pública. 11 5. OBJETIVOS DO GERENCIAMENTO DE SITUAÇÕES CRÍTICAS • Preservar vidas; • Preservar vidas; • Restaurar a ordem; • Aplicar a lei. Em sua opinião: dos objetivos apresentados, qual seria o mais importante? 6. TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES CRÍTICAS • Provocadas por ações humanas (Exemplos: rebeliões, motim, roubo com refém); • Derivadas de eventos naturais (Exemplos: terremoto, pandemia, inundações). Você seria capaz de identificar outras situações críticas derivadas de eventos humanos ou naturais? Faça uma pesquisa e reflita sobre a influência desses eventos em sua atividade profissional. Adiante analisaremos de forma mais profunda as situações críticas originadas de ações humanas em estabelecimentos prisionais. 7. FASES DO GERENCIAMENTO DE CRISES O processo de gerenciamento de crises requer planejamento e coordenação antes da ocorrência de uma situação crítica, bem como a aplicação da força necessária para a administração do evento. O planejamento eficaz é a chave para resolução de qualquer incidente. A doutrina de gerenciamento de crises proporciona uma metodologia eficiente ao dirigente responsável para o emprego de seus recursos numa 12 confrontação. Permite um sistema padronizado de preparação e resolução bem sucedida dos problemas que ocorrem durante um evento crítico. O gerenciamento de crises desenvolve-se cronologicamente em quatro fases e não há linhas distintas de separação entre estas. Com efeito, dependendo da situação específica, podem sobrepor-se umas às outras. Apesar de exigir uma padronização em suas ações, o gerenciamento de crises não é uma ciênciaexata, pois cada crise apresenta características exclusivas, e pode exigir soluções particulares, que demandam uma cuidadosa análise e reflexão. BASSET (apud MONTEIRO, 1994, p.22), da Academia Nacional do FBI, visualiza o fenômeno da crise em quatro fases cronologicamente distintas, as quais ele denomina de fases de confrontação. Essas fases são as seguintes: SAIBA MAIS!!! Recentemente, alguns estudiosos do gerenciamento de crises estão entendendo que as ações tomadas, após o término de um evento crítico, que funcionam como feedback para substanciar o reinício do ciclo, denominam-se: Pós-confrontação. Vejamos a seguir um pouco mais sobre cada etapa. I - Pré- confrontação; II - Resposta imediata; III - Plano específico; IV - Resolução. 13 7.1 FASE I - PRÉ-CONFRONTAÇÃO OU PREPARO Esta fase abrange todas as atividades e preparativos feitos antes de ocorrer uma crise. Inclui, geralmente, treinamento, elaboração do plano de operação padronizado e plano de contingência. É a fase que antecede a confrontação do evento crucial. Durante esta fase, a instituição policial se prepara, administrativamente, em relação à logística, operacionalmente através de instruções e operações simuladas, planejando-se para que possa atender qualquer crise que vier acontecer na sua esfera de competência. São todos aqueles procedimentos fundamentais, que irão permitir aos órgãos e pessoas envolvidos em um evento crítico, possuir condições de interagir de maneira pró-ativa com as situações encontradas. a) Treinamento O treinamento contínuo é essencial para que haja uma expectativa razoável de sucesso. O treinamento não deve ser confinado à unidade tática e, sim, a todo o mecanismo de ação de uma força especializada. b) Plano de Operação Padronizado (POP) Visa proporcionar fórmulas padronizadas de reações aplicadas aos problemas encontrados ou previstos frequentemente. O valor dos procedimentos padronizados de operação está, de fato, em todos saberem precisamente o que se espera quando ocorre um evento crítico. No mínimo, os POP’s devem abranger: • Hierarquia de comando; • Notificação e reunião do pessoal; • Comunicações; • Atribuição de deveres e responsabilidades; • Levantamento inicial dos elementos essenciais de informação; • Procedimento do centro de operações; • Táticas padronizadas; 14 • Cuidados com os suspeitos e os reféns; • Relação com a imprensa (só o pessoal autorizado pelo Gabinete de Gerenciamento de Crises Penitenciárias – GGCP). c) Plano de Contingência O plano de contingência visa solucionar eventos de provável aparição e desenvolvimento que ocorrem como desdobramento da situação original. Podem também surgir situações provocadas pelos próprios internos, como, por exemplo: o confronto entre facções em rebeliões com reféns. Os planos de contingências são flexíveis, devendo se adequar a cada situação apresentada. Neste roteiro deve conter: • Os deveres dos primeiros que se depararem com o incidente; • A cadeia de comando e unidade de comando; • Notificação e reunião de pessoal; • Comunicações; • Atribuições de deveres e responsabilidades; • Táticas padronizadas; • Como cuidar dos suspeitos e reféns; e • Relações com a imprensa. Cada crise possui sua peculiaridade específica, como exemplo, uma ocorrência com reféns localizados após um assalto frustrado é diferente de uma rebelião em presídio, portanto, para cada tipo de situação de complexidade há a necessidade de elaboração de um roteiro específico. Embora, em caráter geral, as linhas a serem seguidas já tenham sido acima citadas. Devido a especificidade de cada tipo de situação, Monteiro (1994), usa o termo “sinopses de rotinas”, que têm como objetivo dar a cada policial, em tópicos claros e objetivos, um resumo das tarefas que lhe couber de imediato executar, na eventualidade de uma crise. 15 Portanto, a identificação dos problemas potenciais, tais como: rebelião em presídio, situações que envolvam reféns, instalações ou pessoas suscetíveis a ações criminosas, bem como os prováveis locais em que elas acontecerão, são essenciais para a elaboração dos roteiros de gerenciamento. Após a identificação dos problemas, todas as informações relativas a eles devem ser observadas: planta das edificações, mapas topográficos, rede pública de telefonia e elétrica e dados biográficos de reféns potenciais. “Quanto mais abundantes forem as informações, maiores as possibilidades de resolver com sucesso o problema, caso este venha a acontecer”. (NUGOLI, 2002, p. 9). 7.2 FASE II - AÇÃO IMEDIATA OU CONFRONTAÇÃO OU RESPOSTA IMEDIATA A fase de confrontação ou resposta imediata corresponde ao momento em que as primeiras medidas devem ser adotadas, imediatamente a eclosão de um evento de alta complexidade. Nesta fase, os agentes de segurança que estão no serviço, uma vez conhecedores da doutrina sobre gerenciamento de situações cruciais, são de extrema importância, pois, na maioria dos casos são eles que serão os primeiros a se depararem com tais ocorrências. Segundo Monteiro (1994): “(...) de uma resposta imediata eficiente depende quase que 60% do êxito da missão policial no gerenciamento de uma crise”. É a fase do conflito propriamente dito, onde ocorre a resposta imediata da Polícia através de ações urgentes de controle da 16 área crítica, dividida nas seguintes etapas: Contenção, Isolamento e Manter Contato sem Concessões e Promessas. a) CONTENÇÃO A contenção de uma crise consiste em evitar que ela se alastre, isto é, impedindo que os sequestradores aumentem o número de reféns, ampliem a área sob seu controle, conquistem posições mais seguras, ou melhor, guarnecidas, tenham acesso a mais armamento, vias de escape, ou seja, a contenção é o impedimento do deslocamento do ponto crítico. A contenção que fora realizada na manutenção do perpetrado dentro do ônibus no caso do Ônibus 174, acontecido no Rio de Janeiro, em 2001, é um exemplo de contenção. Enfim, é a ação policial que visa evitar o agravamento da situação ou que ela se alastre, impedindo que o causador: • Aumente o número de reféns; • Amplie a área de controle; • Conquiste posições mais seguras; • Tenham acesso a recursos que facilitem ou ampliem o seu potencial ofensivo. Simultaneamente à contenção, o primeiro agente a se deparar como uma crise deve informar a central de operações o acontecido. Dentro do possível ele deve informar qual o ato criminoso cometido, a quantidade de perpetradores, quantidade de armas, de reféns, local exato onde se encontram melhores via de acesso ao local etc. b) ISOLAMENTO É a ação policial que visa cortar todos os meios de contato, visual, audiovisual e ou material dos envolvidos diretamente no conflito. É o “congelamento” do objetivo (local), visando interromper o contato da vítima ou refém e principalmente do causador com o exterior. 17 Recomenda-se o corte de energia elétrica, linha telefônica, sistema de abastecimento de água, gás e qualquer outro meio de independência por parte dos causadores. Permite que a Polícia assuma o controle como único veículo de interlocução. Quanto melhor o isolamento, melhor a possibilidade de negociação. A ação de isolar o ponto crítico se desenvolve praticamente ao mesmo tempo em que a de conter a crise. Os perpetradores (amotinados, crimonosos) devem ser isolados de forma que se imponha a eles a sensação de estarem completamente sozinhos. Torna-se conveniente registrar a ressalva do Ten. PMES Doria (2007): “(...) dentro do isolamento será feito a evacuação das pessoas que não são envolvidas com a ocorrência, como: visitantes e trabalhadores do local. Após a evacuação serão determinados os perímetros interno e externo”. c) MANTER CONTATO SEM CONCESSÕES E PROMESSAS As medidas a serem adotadas imediatamente após o iníciode um incidente devem ser distribuídas entre todos os membros da força especializada e claramente entendida por todos. Estes procedimentos devem especificar todas as ações imediatas. Elas incluem: • Medidas iniciais; • Deveres dos que primeiro reagem à crise; • Contenção e isolamento do evento crítico; • Evacuação; • Negociação; • Controle. Esse primeiro contato, aqui não foi chamado negociação porque é necessário que não haja concessões e promessas, pelo menos, nos primeiros contatos, e saiba que existem concessões e promessas na negociação. Isso não 18 quer dizer que, necessariamente, a negociação será tomada por um negociador treinado, embora seja o indicado, ela pode ser conduzida pelo policial chegou primeiro na ocorrência, assessorado pelo negociador ou pela equipe de negociação (o mais indicado). O primeiro contato é o mais tenso e, pelo menos, nos quarenta e cinco primeiros minutos há uma maior probabilidade dos perpetradores ofenderem verbalmente, efetuarem disparos contra os policiais e agredirem os reféns. O objetivo deste primeiro contato é tentar acalmar o perpetrador, colocando-o num nível de racionalidade considerado normal. É importante que todos os agentes de segurança tenham noção de negociação policial, porque nestas situações ele saberá o que poderá ou não ser concedido. Considerando a importância dessa fase para a gestão das situações críticas, a estudaremos de forma mais aprofundada no próximo módulo. 7.3 FASE III – PLANO ESPECÍFICO Dada a resposta imediata, com a contenção e o isolamento da ameaça e o início das negociações, principia-se a fase do Plano Específico, que é aquela em que o comandante do Teatro de Operações (ou gerente da crise), responsável pela situação crítica, procura encontrar a solução do evento crítico. Nesta fase, o papel das informações (inteligência) é preponderante. As informações colhidas e devidamente analisadas é que vão indicar qual a solução para a crise. 19 A situação deve ser totalmente analisada, incluindo a avaliação da ameaça e os riscos existentes, a fim de serem estabelecidas as bases para definição da estratégia e táticas recomendadas. Ao avaliar a situação, faz-se necessária, dentre outras medidas, a análise das seguintes variáveis: Local do evento crítico • Observação; • Tipo de construção; • Campos de fogo; • Medidas de cobertura e de encobrimento da força e obstáculos; • Rotas de aproximação e de entrada. Suspeitos • Número; • Características pessoais; • Motivações; • Propensão à violência; • Antecedentes. Armas • Número; • Tipo; • Nível de sofisticação. Reféns • Número; • Características pessoais; • Localização; • Estado de saúde; • Importância. 7.3.1 AVALIAÇÃO DO RISCO Após a análise da situação, é possível determinar o NÍVEL DO RISCO. Em geral, os níveis podem ser: 20 • Nível 1 – Baixo risco: suspeito sozinho; • Nível 2 – Médio risco: dois ou mais suspeitos armados; • Nível 3 – Alto risco: suspeitos múltiplos armados e com reféns; • Nível 4 – Risco extraordinário: ameaça de destruição em massa ou grande número de baixa. Para cada nível de risco haverá uma resposta compatível, não necessariamente do mesmo nível. De acordo com Salignac (2011), os níveis de resposta estão relacionados diretamente ao grau de risco de uma crise, ou seja, o nível de resposta sobe na mesma proporção em que cresce o risco da crise. Salignac (2011) descreve alguns exemplos de NÍVEIS DE RESPOSTA e recursos a serem utilizados conforme o grau da crise: • Nível 1 (Corresponde a crise de alto risco) Recurso Local. Resposta: Policiais normais de área poderão atender à ocorrência. • Nível 2 (Corresponde a crise de altíssimo risco) Recursos Locais + Especializados. Resposta: Os policiais normais com apoio de grupos especiais da unidade de área. • Nível 3 (Corresponde a ameaça extraordinária) Recursos Locais + Especializados + Comando Geral. Resposta: Os grupos especiais de área não conseguiram solucionar, pede-se apoio da equipe especial da maior autoridade. • Nível 4 (Corresponde a ameaça exótica) Todos do nível três + Recursos Exógenos. Resposta: A equipe especial é empregada com auxílio de equipe de profissionais de áreas específicas, (grifo nosso). 21 Para Monteiro (2001), uma correta avaliação do grau de risco ou ameaça representado por uma crise concorre favoravelmente para a solução do evento, possibilitando, desde o início, o oferecimento de um nível de resposta adequado à situação, evitando-se perdas desnecessárias. Por isso, afirma Monteiro (2001) que o grau de risco de uma crise pode ser mudado em seu transcorrer, pois a primeira força policial que chega ao local faz uma avaliação precoce da situação, com base em informações precárias e de difícil confirmação. Informações importantes, como o número de reféns, número de bandidos e número de armas, que, na maioria das vezes, vêm a ser confirmados no andamento da crise. 7.3.2 DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS E PLANOS Para a tomada de decisões, dispor das informações da etapa destinada à AVALIAÇÃO DE RISCOS é fundamental. A próxima etapa é o levantamento das estratégias a serem adotadas para a resolução da crise. A determinação da estratégia é função do gerente da crise. Nesse contexto, refere-se ao planejamento de uma abordagem geral para o problema. A escolha da estratégia deve levar em conta os seguintes fatores: • As normas legais; • A política adotada; • Os recursos disponíveis; • As instruções do grupo de administração de crises (recomenda-se a criação de um Gabinete de Gerenciamento de Crises Penitenciárias – GGCP); • A comunidade local; • A repercussão da situação crítica. 22 Para o FBI, qualquer ação adotada para a resolução de uma situação de crise, deve ser precedida de análise das variáveis: No próximo módulo, estudaremos cada um dos fatores acima. Dessa forma, a partir da definição da estratégia, inicia-se a confecção ou adaptação (se já existentes) dos Planos de execução das alternativas táticas. Os planos de execução devem ser constantemente adaptados, na medida em que a situação evoluir e em que forem recebidas informações adicionais. No mínimo, é recomendável a elaboração dos seguintes planos: • Plano de negociações; • Plano de assaltos (assalto de emergência que é o adentramento de urgência, provocado pelos criminosos e assalto deliberado, aquele aprovado e iniciado pelo governo); • Plano de contingência móvel. 23 Contingência É a situação de incerteza quanto a um determinado evento, fenômeno ou acidente, que pode se concretizar ou não, durante um período determinado. Um plano de Contingência funciona como um planejamento da resposta e por isso, deve ser elaborado na normalidade, quando são definidos os procedimentos, ações e decisões que devem ser tomadas na ocorrência de situações críticas. Por sua vez, na etapa de resposta, tem-se a operacionalização do plano de contingência, quando todo o planejamento feito anteriormente é adaptado à situação real do evento. Considerando o curto prazo e a emergência para implementação dos planos, é recomendável que haja projetos prévios para diferentes cenários e de conhecimento dos envolvidos. Quanto melhor o planejamento da organização e com profissionais mais capacitados, maiores são as chances de sucesso. A elaboração dos planos deve levar em consideração os requisitos para emprego do uso da força em cada situação, de modo que sua aplicação observe estritamente os preceitos quanto à legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência na ação. 7.3.3 DO USO DA FORÇA PELO AGENTE DE SEGURANÇA PÚBLICA Deve-se observar que, acima de qualquer outro objetivo, a doutrina de gerenciamento de crises visa à preservação da vida e, para tanto, o emprego da força pelo agente policialdeve variar quanto ao nível exigido no momento. Níveis do uso da força O uso da força pode ser compreendido como sendo desde a presença da autoridade policial no local e progredir até o uso da força letal nos casos que sejam admitidos. 24 Figura: Uso Moderado da Força Fonte: SCD/EaD/Segen As técnicas do uso de força não letal consistem em: Toda intervenção envolve algum tipo de risco potencial que deverá ser considerado pelo Agente de Segurança Pública. O risco é a probabilidade de concretização de uma ameaça contra pessoas e/ou bens é incerto, mas previsível. Cada situação exigirá que ele se mantenha no estado de prontidão compatível com a gravidade dos riscos que identificar. Uma 25 ponderação prévia irá orientar o Agente de Segurança Pública sobre a necessidade e sobre o momento de iniciar a intervenção, escolhendo a melhor maneira para fazê-lo. Toda ação do Agente de Segurança Pública deverá ser precedida de uma avaliação dos riscos envolvidos, que consiste na análise da probabilidade da concretização do dano e de todos os aspectos de segurança que subsidiarão o processo de tomada de decisão em uma intervenção. O Agente de Segurança Pública deverá ter em mente que, em qualquer processo de tomada de decisão em ambiente operacional, precisa levar em conta as atribuições do Órgão de Segurança Pública a que pertence. Em geral, pode-se resumir como sendo o dever funcional de servir e de proteger a sociedade, preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, garantindo a vida, a dignidade e a integridade de todos. SAIBA MAIS!! Aplicação da avaliação de risco possibilita o uso de técnicas e de táticas adequadas às diversas formas de intervenção do Agente de Segurança Pública. Para cada nível de risco determinado deverá haver uma conduta operacional correspondente, como referência para a ação do Agente de Segurança Pública, cabendo-lhe selecionar os procedimentos mais adequados a cada situação. Cada atuação do Agente de Segurança Pública é cercada de particularidades. Não existem intervenções iguais, contudo, é possível desenhar 26 um conjunto de “situações básicas” que podem servir de modelos aplicáveis ao treinamento. A sistematização das respostas esperadas a partir da identificação e da classificação de riscos em uma intervenção viabiliza a seleção e a aplicação de procedimentos adequados à solução de problemas. Uso Diferenciado da Força – o termo correto Não é conveniente utilizar a terminologia “Uso Progressivo da Força”, porque o termo “progressivo” nos remete à ideia somente de elevação (de escalada, de subida, atitude ascensional), sendo que, em muitos casos, o uso “regressivo” de força é apropriado, quando verificada a diminuição da violência do agressor. Trata-se de um processo dinâmico, no qual o nível de força pode aumentar ou diminuir, em função de uma escolha consciente do Agente de Segurança Pública, de acordo com as circunstâncias presentes em uma determinada intervenção. A este dinamismo denominou-se Uso Diferenciado da Força. Outros termos poderiam adjetivar o uso da força, por exemplo, uso adequado, uso moderado, uso necessário, uso qualificado da força etc., de maneira mais efetiva e que se aproxime da dinâmica do uso da força. Contudo, a opção utilizada na edição da Portaria nº 4.226 foi buscada no documento originário dos Princípios Básicos sobre o Uso da Força, adotados por consenso em 7 de setembro de 1990, por ocasião do Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes. Em nenhum momento, o documento cita o uso progressivo da força ou qualquer outro adjetivo. 27 “Princípio nº 2: (...) 2. Os governos e entidades responsáveis pela aplicação da lei deverão preparar uma série tão ampla quanto possível de meios e equipar os responsáveis pela aplicação da lei com uma variedade de tipos de armas e munições que permitam o uso diferenciado da força e de armas de fogo. (...)” Para mais informações sobre o Uso Diferenciado da Força, acesse o curso disponibilizado pela Rede EaD-Segen que trata especificamente desse tema. 7.4 FASE IV – RESOLUÇÃO Várias podem ser as soluções encontradas para um evento crítico. A rendição pura e simples dos bandidos, a saída negociada, a resiliência das forças policiais, o uso de força letal ou, até mesmo, a transferência da crise para um outro local são alguns exemplos dessas soluções. Não importa qual seja a solução adotada, ela há de ser executada ou implementada através de um esforço organizado que se denomina Resolução. A Resolução é a última fase do gerenciamento de uma crise. Nele se executa e implementa o que ficou decidido durante a fase do Plano Específico. A resolução se impõe como uma imperiosa necessidade para que a solução da crise ocorra exatamente como foi planejado durante a fase do Plano Específico e sem que haja uma perda do controle da situação por parte da polícia. Se necessária, a intervenção da unidade responsável pelo assalto deliberado dar-se-á nessa fase. As duas alternativas táticas mais comuns são a neutralização por disparo de longa distância e o assalto direto. 28 No Módulo 2, estudaremos as alternativas táticas voltadas para resolução de situações críticas que são comumente empregadas pelas equipes de segurança. 8. MOTIVAÇÕES PARA CRISES NO SISTEMA PRISIONAL O sistema penitenciário brasileiro sofre, em sua maioria, com problemas semelhantes e, por conta disso, as motivações para as crises prisionais são lineares em todos os estados da federação, sendo as mais comuns: Figura: Motivações para crises no estabelecimento prisional Fonte: SCD/EaD/Segen 29 9. CONCEITOS DE REBELIÃO E MOTIM Dentro da tipologia das situações críticas provocadas pelo homem, podemos destacar o motim e a rebelião como os principais causadores de danos à integridade física e ao patrimônio, sendo oportuno diferenciarmos os seus conceitos. MOTIM Segundo o art. 354 do Código Penal, o motim ocorre quando “amotinarem- se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão”. Trata-se de ação atentatória à ordem do estabelecimento penal provocada por uma parcela da população carcerária com vistas a causar danos patrimoniais, descumprir ordens e/ou atentar contra a vida de terceiros. Por não envolver toda a massa de internos, os motins, em regra, podem ser dominados através da ação rápida e enérgica das forças especializadas. Temos como exemplo de motim: custodiados de uma cela se recusam a entrar para a conferência. REBELIÃO Situação crítica que envolve toda a população carcerária, tendo como objetivo a destituição do poder do Estado na administração da unidade prisional, bem como a demonstração de força dos internos perante os agentes penitenciários. A rebelião, por ser um evento de grandes proporções e em caso de falha na sua repressão, certamente se tornará uma crise, necessitando de medidas especiais por parte do Estado para uma solução aceitável. Como por exemplo de rebelião, podemos citar: a população carcerária de uma unidade prisional aproveita o horário de saída para o banho de sol para tomar um agente penitenciário como refém, exigir a abertura de todas as celas e iniciar uma fuga em massa, se frustrada a ação, os rebelados iniciam a destruição do patrimônio. 30 A Rebelião e o Motim, palavras em muitos contextos sinônimas, significam basicamente uma insurreição contra autoridade instituída, caracterizada por atos explícitos de desobediência, de não cumprimento de deveres, de desordem e de grande tumulto, geralmente acompanhada de levante de armas. Em regra, trazem o sentido de ato coletivo e se revelam pela violência, pela força bruta ou pela força viva com a qual os rebelados (amotinados) se opõem ou resistemà ordem/ato emanado da autoridade constituída ou ao cumprimento e execução da lei. (HOUAISS, 2009; SILVA, 2013). No contexto prisional, geralmente se diz que quando o movimento se restringe a um número restrito de presos, tem-se o motim. De forma mais ampliada, quando a grande maioria dos encarcerados ou a totalidade deles está envolvida, tem-se a rebelião. No Código Penal Brasileiro em vigor (Decreto Lei nº 2848/40), o motim de presos é previsto como um crime autônomo. O artigo 354 da norma prevê uma pena de detenção de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência para a conduta de “amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou a disciplina da prisão” (BRASIL, 1940). Se algum preso, por exemplo, causar um dano ao estabelecimento prisional durante um motim, ele responderá tanto pelo artigo 354, como pelo artigo 163 – crime de dano qualificado. O bem jurídico protegido pelo Código, ao prever o crime de motim de presos, em um primeiro plano, preserva a própria administração da justiça, uma vez que as situações de conflito, tumulto e disciplina generalizadas produzidas pelo motim criam nos estabelecimentos penais um ambiente desfavorável ao cumprimento da sanção penal. Em segundo plano, busca-se proteger, com a criminalização da conduta, a integridade física dos funcionários do presídio, as 31 visitas e as pessoas que cumprem pena no sistema penitenciário, além do próprio patrimônio público, já que a violência pode ser direcionada contra pessoa ou coisa (PRADO, 2006). SAIBA MAIS!!! A palavra rebelião origina-se do latim rebellio, do verbo rebellare (rebelar-se, revoltar-se, sublevar-se). Na etimologia, que é a parte da gramática que trata da origem e formação das palavras, compõe-se do prefixo re, repetição, e bellum, que significa guerra. Sendo assim, a palavra exprime a nova guerra ou a nova resistência armada. No entanto, na linguagem comum, a palavra perdeu o sentido de novo ou novamente que lhe atribuía o prefixo, para significar corretamente a resistência pela força ou oposição com violência ou pelas vias de fato. Já a palavra motim origina-se do francês mutin, significando inicialmente insubmisso, rebelde e depois sedição, rebelião, revolta. O autor de Plácido e Silva diz, ainda, que a palavra motim tem ligações com a expressão latina motus, cujo significado é de tumulto, movimento. (HOUAISS, 2009; SILVA, 2013). Veja o histórico de duas rebeliões: https://globoplay.globo.com/v/2422553/ http://g1.globo.com/se/sergipe/bom-dia- sergipe/videos/v/refens-e-familiares-sao-liberados-e- rebeliao-acaba-apos-26-horas-em-se/3354468/ Os agentes do delito de motim de presos são (como o nome indica) os próprios presos e é necessário que atuem conjuntamente, de maneira a perturbar a ordem ou disciplina da prisão, com o recurso da violência contra https://globoplay.globo.com/v/2422553/ http://g1.globo.com/se/sergipe/bom-dia-sergipe/videos/v/refens-e-familiares-sao-liberados-e-rebeliao-acaba-apos-26-horas-em-se/3354468/ http://g1.globo.com/se/sergipe/bom-dia-sergipe/videos/v/refens-e-familiares-sao-liberados-e-rebeliao-acaba-apos-26-horas-em-se/3354468/ http://g1.globo.com/se/sergipe/bom-dia-sergipe/videos/v/refens-e-familiares-sao-liberados-e-rebeliao-acaba-apos-26-horas-em-se/3354468/ 32 pessoa ou bem da prisão. Entendem-se, diversamente sobre o número mínimo de presos rebelados para que seja possível a configuração do motim, haja vista a falta de determinação legal. No entanto, compreende-se que bastam três presos amotinados, praticando a perturbação efetiva, e estará consumado o delito. Sobre as características do crime em estudo, conforme afirma Regis Prado: “o vocábulo “preso”, empregado pelo texto legal, refere-se não apenas aos condenados à pena privativa de liberdade (reclusão, detenção e prisão simples), mas abarca igualmente aqueles presos em caráter provisório (prisão decorrente de sentença de pronúncia, de flagrante delito, temporária, prisão extrapenal). Em todo caso, é indispensável a legalidade formal da medida privativa de liberdade aplicada”. (PRADO, 2006, p. 720). É preciso um especial cuidado para caracterizar determinados comportamentos como motim ou rebelião. Como afirma Nelson Hungria (1959, p. 522): “não se pode confundir atitudes coletivas de irreverência ou desobediência ghândica [termo que remete a Mahatma Gandhi, pacifista indiano] com o motim propriamente dito, que não se configura se não assume o caráter militante de violências contra os funcionários internos ou de depredações contra o respectivo edifício ou instalações, com grave perturbação da ordem ou disciplina da prisão”. Os tribunais já decidiram, por exemplo, que configura o delito de motim de presos a conduta de encarcerados que mantém reféns vários funcionários do 33 presídio, ameaçando-os de morte, com o objetivo de obter transferência para outro estabelecimento prisional (TACRIMSP – Ap. 1438315/9 – 5ª. C. – Rel. Penteado Navarro – julgamento em 18.10.2004); ou mesmo a conduta dos presos que, rebeldemente, tumultuam a ordem e a disciplina da prisão, negam- se a entrar nas celas, quebrando a fechadura das portas para a liberação de outros presos, destruindo o patrimônio público e causando grande prejuízo ao Estado (TACRIMSP – Ap. 1417257/4 – 2ª. C. – Rel. Oliveira Passos – julgamento em 05.08.2004). De outro lado, já se decidiu que simples briga entre os presos sem intuito de ir contra a ordem e a disciplina da prisão ou contra os guardas e os funcionários não caracteriza o motim. (TAMG, RT 615/341) (PRADO, 2006; DELMANTO, 2010). Na verdade, a vontade livre e consciente (chamada na ciência jurídica de dolo) de os presos amotinarem-se para perturbar a ordem ou a disciplina da prisão é o determinante para a ocorrência do crime, pouco importando se o motivo alegado para o motim seja justo ou não. Cumpre ressaltar também que inexiste a previsão para a modalidade de natureza culposa e a tentativa, muito embora admitida pelos penalistas, é de difícil configuração. Vale lembrar ainda que a Lei de Execução Penal (LEP) estabelece, no inciso IV do artigo 39, que constitui um dever do condenado ter conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina. Já no artigo 50, inciso I, está previsto que comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina, estando o sujeito a regime disciplinar diferenciado, sem prejuízo da sanção penal (art. 52) (BRASIL, 1984). 34 MÓDULO 2: CRITÉRIOS DE AÇÃO EM UMA CRISE APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Caro estudante, Em um ambiente de crise no sistema prisional, os tomadores de decisão devem analisar rigorosamente os elementos do caso antes de realizar as escolhas para a ação. Isto é importante, uma vez que eventuais falhas estarão sujeitas às críticas da opinião pública e poderão ser levadas aos tribunais competentes para responsabilização dos envolvidos. OBJETIVOS DO MÓDULO Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Identificar quais são os critérios de ação em uma crise; • Entender o significado de cada um desses critérios: necessidade, validade do risco e aceitabilidade. 35 1. CRITÉRIOS DE AÇÃO EM UMA CRISE Como já antecipamos no módulo anterior e, segundo a unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Agência Federal de Investigação – FBI (do inglês Federal Bureau of Investigation), são três os critérios que devem ser levados em conta pelo gerente da crise para a tomada da ação frente a determinada crise, a saber: Fonte: SCD/EaD/Segen 1.1 A NECESSIDADE O critério de necessidade indica que toda e qualquer situação somente deve ser implementada quando for indispensável. Se não houver necessidade deser tomar determinadas decisões, não se justifica. Diante de uma crise, devem ser esgotadas as alternativas menos arriscadas antes da opção pela ação tática. A intervenção tática deve ser vista como a menos desejável das alternativas e somente será utilizada quando não houver outra opção. Os agentes terão de demonstrar paciência e contenção ao avaliarem, cuidadosamente, e entenderem o comportamento e a motivação do sujeito, caso sentirem obrigados a utilizar a força, apenas deve ser para salvar vidas e não porque tinham esta capacidade. (NOESNER, 1999). Sendo assim, ações táticas, de alto risco, não devem ser tomadas se as ameaças às vítimas/reféns forem seguramente baixas. Por outro lado, havendo 36 fundado motivo para a consideração da gravidade da situação, as ações táticas serão mais fáceis de serem defendidas. 1.2 A VALIDADE DO RISCO O critério da validade do risco estabelece que toda e qualquer ação precisa levar em conta se os riscos dela advindos serão compensados pelos resultados. A pergunta a ser feita é: “Vale a pena correr esse risco?”. Esse critério é difícil de ser avaliado, pois envolve fatores de ordem subjetiva (pois o que é arriscado para um não é para outro) e de ordem (o que foi proveitoso em uma crise poderá não sê-lo em outra). Na análise deste critério, é fundamental a sensibilidade do tomador da decisão: quanto maior seu grau de instrução e experiência, menores os riscos. É importante lembrar também que durante as ações táticas as chances de perda de vidas são maiores e a situação das vítimas ou reféns devem ser cuidadosamente observadas. Aceitabilidade LEGAL Significa que toda decisão deve ser tomada com base nos princípios ditados pelas leis. Uma crise por mais séria que seja não confere à organização policial a prerrogativa de violar leis. Os agentes públicos devem obedecer estritamente ao princípio da legalidade, isto é, somente poderão agir em conformidade com o ordenamento jurídico (leis, normas, regulamentos etc.). Aceitabilidade MORAL Implica que toda decisão a ser tomada deve levar em consideração aspectos de moralidade e bons costumes. A moral orienta o comportamento do homem diante das normas instituídas pela sociedade e está associada aos valores e convenções estabelecidos coletivamente por cada cultura. Em caso de descumprimento deste critério, a opinião pública e a mídia certamente condenarão as ações tomadas no gerenciamento da crise. 37 Aceitabilidade ÉTICA Está consubstanciada no princípio de que o responsável pelo gerenciamento da crise, ao tomar uma decisão, deve fazê-lo lembrando de que o resultado da mesma não pode exigir de seus comandados a prática de ações que causem constrangimentos à própria corporação. Vale dizer, a aceitabilidade ética está relacionada com os valores, princípios, ideais e deveres profissionais que os agentes devem seguir. Sugestão de Leitura. Gary Noesner, aposentado do FBI em 2003 e após uma carreira de trinta anos como investigador, instrutor e negociador, escreveu em 1999 o trabalho Conceitos de negociação para os comandantes do FBI (Law Enforcement Bulletin). No artigo o autor relata, em detalhes, as técnicas de negociação utilizadas pela agência, incluindo a diferenciação de ações quando se trata de crise com vítima ou com refém. 2. PROVIDÊNCIAS IMEDIATAS: CONTER, ISOLAR, RESOLVER E NEGOCIAR Como já pudemos estudar no Módulo 1, a administração de uma crise começa com os primeiros que chegam à cena. As medidas tomadas pela primeira unidade que atender o local do incidente influenciarão a eficácia da resposta. Dentre as responsabilidades desta primeira unidade estão as seguintes: https://drive.google.com/file/d/1UUIIQTVOnxJIwRp-ByQluJbnRgljWyg0/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/1UUIIQTVOnxJIwRp-ByQluJbnRgljWyg0/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/1UUIIQTVOnxJIwRp-ByQluJbnRgljWyg0/view?usp=sharing 38 Reação de forma segura e cautelosa Uma reação impensada pode causar problemas adicionais e atrapalhar seriamente o programa da ação. Deve haver um primeiro combate através das grades de controle ou do comongol (tijolos vazados, parede com espaços entre os tijolos). Confirmação da situação Deve-se verificar e confirmar a natureza e o local do incidente. A mensagem de confirmação deve ser nítida e objetiva. EX.: briga, fuga, rebelião etc. Contenção da situação Deve-se tomar medidas para assegurar que a situação seja mantida no local, de forma a ser resolvida num ambiente controlado. Todos os meios disponíveis devem ser utilizados para garantir a contenção. Evacuação Deve-se priorizar a retirada de quaisquer feridos ou inocentes ameaçados, obviamente se isto puder ser feito de forma segura. Também devem ser retiradas as pessoas alheias às forças de segurança (advogados, psicólogos, assistentes sociais, médicos, empresa de alimentação, professores). Esta retirada deve ser dinâmica e coordenada. Estabelecimento de um perímetro interno Esta será uma zona de contenção mais volátil. Os primeiros que reagirem devem fazer o possível para cobrir-se e esconder-se de possíveis disparos de armas de fogo ou arremesso de projéteis. Todas as pessoas não envolvidas devem ser retiradas do perímetro interno. Na maioria das estruturas prisionais, o perímetro interno será o bloco em que estiver ocorrendo a crise. Estabelecimento de um perímetro externo Na maioria das estruturas prisionais, o perímetro externo será definido pela área da unidade prisional em que ocorre a crise ou no posto de fiscalização e controle nos casos de unidades dentro de complexos penitenciários. 39 Coleta de informações iniciais Todas as informações colhidas nos estágios iniciais de uma crise são importantes. Se for possível, as testemunhas devem ser identificadas e entrevistadas. A unidade que primeiro se deparar com a situação deve, também, tentar conseguir todas as informações possíveis a respeito dos responsáveis pela crise, dos reféns, das armas existentes e do local em que se encontram. Identificação de uma área intermediária (área de estacionamento) Esta deve ser uma área situada longe do perigo e fora do ângulo de observação dos responsáveis pela crise. Deve ser suficientemente espaçosa para acomodar as unidades táticas e os seus veículos. Quando o responsável pela administração da crise chegar ao local poderá adequá-lo ou mudá-lo se desejar. Identificação de uma área para pouso de helicóptero Em situações críticas, o uso desse tipo de aeronave tem se mostrado bastante viável em vários aspectos, como para a observação aérea do local, desembarque de equipes no local, cobertura das equipes de entrada e resgate, socorro de urgência e perseguição de eventuais fugitivos. 3. AÇÕES INICIAIS ADOTADAS NO SISTEMA PRISIONAL À medida em que a ameaça é contida e o isolamento do ponto crítico é realizado, deve-se comunicar o superior hierárquico sobre o ocorrido, reportando o máximo de informações disponíveis. Ainda, a autoridade policial, deve procurar estabelecer os primeiros contatos com os elementos causadores da crise, objetivando o início da negociação. Independente do problema, os esforços de reação não serão ideais, a menos que a força especializada possa estabelecer o controle sobre o ambiente da ameaça. 40 Uma ameaça estacionária, independente de sua gravidade, é geralmente mais fácil de enfrentar do que uma ameaça que tenha se tornado ou que continue móvel. Em regra geral, a mobilidade deve ser apenas permitida quando realçar vantagem tática para a equipe de intervenção ou para negociação. O isolamento do local do evento crítico está intimamente relacionado com a contenção. Nesse contexto, o isolamento terá seu mais amplo sentido, abrangendo tanto aspectos físicos como psicológicos. Os responsáveis devem ser isolados psicologicamente, deforma a impor-lhes o sentimento que estão completamente sozinhos. Se possível, a única forma de comunicação exterior deverá ser através de uma linha direta com a força especializada, criando, assim, uma relação de dependência benéfica nas negociações futuras. As limitações físicas e psicológicas podem contribuir para o enfraquecimento da vontade de reação por parte dos responsáveis pela crise, servindo também como elementos que poderão ser usados na fase de negociação como forma de barganha. Por exemplo, a força especializada poderá permitir o fornecimento de água ou alimentos, em troca da liberação de alguns dos reféns. SAIBA MAIS!!! A negociação é considerada a opção mais desejada na administração de uma crise. Deve ser estabelecida no início da confrontação, preferencialmente por servidor especialmente treinado. Muitas situações críticas são resolvidas na ação imediata, ou seja, consegue-se sua resolução no momento de contenção e isolamento. Caso a contenção e isolamento tenham sido iniciados por servidor sem treinamento, caberá a equipe de negociação avaliar seu desempenho a fim de decidir se sua remoção é adequada ou não. 41 A maior parte dos incidentes é resolvida por meio da negociação. As demais alternativas táticas devem apoiar o negociador, mas não depender dele, visto que os preparativos para uma conclusão com utilização de força não devem ser ignorados. O sistema penitenciário tem uma peculiaridade: quanto mais rápido se agir, menor será o êxito nas ações de sublevação da ordem por parte dos presos. Também se observa nas unidades onde tem procedimento de segurança com servidores equipados e treinados em ações de contenção, dificilmente os impetrantes conseguirão gerar uma crise de grandes proporções, pois a resposta rápida ou pronto emprego retomará o controle da situação em menos de cinco minutos. Assim sendo, as crises serão setorizadas e não generalizadas, facilitando sua resolução. 42 4. ALTERNATIVAS TÁTICAS NO GERENCIAMENTO DE CRISES No enfrentamento à situações críticas, a doutrina de gerenciamento apresenta algumas possibilidades de atuação. Vejamos: 4.1 NEGOCIAÇÃO Segundo Monteiro (1994), a negociação é quase tudo no gerenciamento de crises. Ressalta também que: “Gerenciar crises é negociar, negociar e negociar. E quando ocorre de se esgotarem todas as chances de negociações, deve-se ainda tentar negociar mais um pouquinho . . .” 43 Tipos de Negociação A negociação pode ser real ou tática. De acordo com o DPF ROBERTO DAS CHAGAS MONTEIRO, em seu Manual, a negociação REAL também pode ser chamada de TÉCNICA. NEGOCIAÇÃO REAL É o processo de convencimento de rendição dos criminosos por meios pacíficos, trabalhando a equipe de negociação com técnicas de psicologia, barganha ou atendimento de reivindicações razoáveis. NEGOCIAÇÃO TÁTICA É o processo de coleta e análise de informações para suprir as demais alternativas táticas, caso sejam necessários os seus empregos, ou mesmo para preparar o ambiente, reféns e criminosos para este emprego. A tarefa de negociação, dada a sua prioridade, não pode ser confiada a qualquer um. Dela ficará encarregado um policial com treinamento específico, denominado de negociador. O negociador tem um papel de grande responsabilidade no processo de gerenciamento de crises, sendo muitas as suas atribuições. Assim sendo, não pode a sua função ser desempenhada por qualquer outra pessoa, influente ou não, como já ocorreram e ocorrem em diversas ocasiões. Monteiro (1994, p. 45), e De Souza (1995, p. 56), citam em suas obras que: Faz parte da história policial recente, no Brasil, a utilização de religiosos, psicólogos, políticos e até secretários de Segurança 44 Pública como negociadores. Tal prática tem-se revelado inteiramente condenável, com resultados prejudiciais para um eficiente gerenciamento dos eventos críticos, e a sua reincidência somente encontra explicação razoável, no fato de a grande maioria das organizações policiais do país não ser dotada de uma equipe de negociadores constantemente treinada para essa missão. Na falta de alguém capacitado para negociar, é comum que muitas organizações policiais aceitem qualquer um que voluntariamente se apresente para ser negociador. O papel mais específico do negociador é o de ser intermediário entre os causadores da crise e o Gerente da Crise (ou chefe do teatro de operações). Ele é o canal de conversação que se desenvolve entre, as exigências dos causadores do evento crítico e a postura das autoridades, na busca de uma solução aceitável. SAIBA MAIS!! “Você sabia que TRADICIONALMENTE, costumava-se estereotipar a figura do negociador como a de alguém que simplesmente utilizava todos os meios dissuasórios ao seu alcance, para conseguir a rendição dos elementos causadores da crise? Quando esse objetivo era atingido, a tarefa do negociador estava encerrada e a solução da crise ficaria a cargo do grupo tático (“SWAT”). Era como se as negociações e o grupo tático tivessem duas missões distintas e excludentes entre si". (MONTEIRO, 1994, p. 46) 45 Por este motivo, a “Special Operations and Research Unit”, da Academia Nacional do FBI, realizou estudos que mostram que essa concepção revelou-se errônea, uma vez que os dois grupos têm, de fato, a mesma missão, isto é, resgatar pessoas tomadas como reféns e que tal missão permanece a mesma ao longo de todo o evento crítico. Caso se decida pelo uso de força letal, os negociadores não devem ser afastados. Eles devem utilizar todos os seus recursos, no sentido de apoiar uma ação tática coordenada. Em outras palavras, o negociador tem um papel tático de suma importância no curso da crise. Você sabia que esse papel tático, segundo Dwayne Fuselier (apud MONTEIRO, 1994, p.46), da Academia do FBI, pode ser desempenhado de três maneiras? De acordo com Lima Filho (2008, p.24 e 25), na Apostila de Gerenciamento de Crises da PCBA, o papel mais específico do negociador é o de ser intermediário entre os causadores da crise e o Gerente da Crise (Comandante do Teatro de Operações). Ele é o canal de conversação que se 46 desenvolve entre, as exigências dos causadores do evento crítico e a postura das autoridades, na busca de uma solução aceitável. CARACTERÍSTICAS QUE DEVE TER O NEGOCIADOR • Conhecimento global da doutrina; • Respeitabilidade e confiabilidade; • Maleabilidade; • Serenidade e paciência; • Espírito de equipe; • Disciplina, Autoconfiança e Autocontrole; • Comunicabilidade; • Perspicácia; • Não tem poder de decisão. OBJETIVOS DA NEGOCIAÇÃO: • Ganhar tempo; • Abrandar exigências; • Colher informações; • Prover um suporte tático. TÁTICAS DE NEGOCIAÇÃO - Regras Básicas • Estabilize e contenha a situação; • Escolha a ocasião correta para fazer contato; • Procure ganhar tempo; • Deixe o indivíduo falar, é mais importante ser um bom ouvinte que um bom conversador; • Não ofereça nada ao indivíduo; • Evite dirigir a sua atenção as vítimas com muita frequência e não os chame de refém; • Seja tão honesto quanto possível, evitando truques; • Atenda pequenas exigências; • Nunca diga a palavra “NÃO”; • Procure abrandar as exigências; • Nunca estabeleça um prazo fatal e procure não aceitar prazo fatal; • Não faça sugestões alternativas; • Não envolva pessoas “não policiais” no processo de negociação; 47 • Não permita qualquer troca de reféns, principalmente não troque um negociador por refém; • Evite negociar cara a cara. 4.2 TÉCNICAS NÃO LETAIS Essa alternativa tática, com o passar do tempo e seu emprego, tem mostrado que os equipamentos tidos como não-letais, se forem mal empregados, podem ocasionar a morte, além de não produzir o efeitodesejado. Podemos citar como exemplo, a utilização do cartucho plástico calibre 12, modelo AM 403, da marca Condor, possuindo um formato cilíndrico, além de ser feito de uma espécie de borracha, conhecida como elastômero, que, se for utilizado numa distância inferior a 20 metros, pode produzir ferimentos graves ou até mesmo letais. O fabricante recomenda a utilização em distâncias de 20 metros, fazendo com que, se tal agente não-letal for usado numa distância acima do recomendado, não produzirá as fortes dores que se deseja produzir para alcançar a intimidação psicológica e o efeito dissuasivo de manifestantes. Segundo De Souza e Riani (2007, p. 04), “Não letal é o conceito que rege toda a produção, utilização e aplicação de técnicas, tecnologias, armas, munições e equipamentos não letais em atuações policiais. Técnicas não-letais – Conjunto de métodos utilizados para resolver um determinado litígio ou realizar uma diligência policial, de modo a preservar as vidas das pessoas envolvidas na situação (...) somente utilizando a arma de fogo após esgotarem tais recursos”. TECNOLOGIAS NÃO LETAIS Conjunto de conhecimentos e princípios científicos utilizados na produção e emprego de equipamentos não letais. ARMAS NÃO LETAIS 48 São as projetadas e empregadas especificamente para incapacitar pessoal ou material, minimizando mortes, ferimentos permanentes no pessoal, danos indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio ambiente. MUNIÇÕES NÃO LETAIS São as munições desenvolvidas com objetivo de causar a redução da capacidade operativa e/ou combativa do agressor ou oponente. Podem ser empregadas em armas convencionais ou específicas para atuações não letais. EQUIPAMENTOS NÃO LETAIS Todos os artefatos, inclusive os não classificados como armas, desenvolvidos com finalidade de preservar vidas, durante atuação policial ou militar, e os equipamentos de proteção individual (EPI’s). Podemos, então, afirmar que as terminologias “não letal”, “menos letal” e “menos que letal” podem ser usadas, pois, referem-se ao objetivo a ser alcançado, e não do resultado incondicional do uso de tais tecnologias ou equipamentos. As armas não letais atuam através de ruído, irritação da pele, mucosas e sistema respiratório, privação visual por ação de fumaça e luz, limitação de movimentos, através de choque elétrico, e impacto controlado. Essas armas objetivam inibir ou neutralizar, temporariamente, a agressividade do indivíduo através de debilitação ou incapacitação. (DE SOUZA E RIANI, 2007, p. 7). No momento em que as alternativas não letais forem usadas corretamente, obedecendo aos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência, não podemos dar garantias de que o causador da crise estará livre de sentir dor, desconforto ou mesmo de sofrer uma lesão. Lembre-se: O principal objetivo das armas não letais é reduzir os efeitos sobre o infrator, não eliminá-los. 49 4.3 TIRO DE COMPROMETIMENTO Segundo LUCCA (2002, p. 4), o tiro de comprometimento constitui também uma alternativa tática de fundamental importância para resolução de crises envolvendo reféns localizados. No entanto, a aplicação dessa alternativa tática necessita de uma avaliação minuciosa de todo o contexto, sobretudo, do polígono formado pelo treinamento, armamento, munição e equipamento, que são os elementos fundamentais para que o objetivo idealizado seja alcançado. Ser um sniper (atirador de elite) transcende ter uma arma qualquer e uma luneta de pontaria, para acertar um tiro na cabeça. Acrescenta ainda o Coronel da Polícia Militar de São Paulo, Giraldi (apud LUCCA, 2002, p. 99), sintetizando a responsabilidade e a expectativa gerada pelo emprego dessa alternativa tática, como: “O atirador de elite exerce grande fascínio na imprensa e no povo, que vêem nele uma figura mística, um herói cinematográfico, infalível, sempre pronto para derrotar o mal e restabelecer a ordem”. Um fato curioso é que, por diversas razões, grandes estragos têm sido feitos pelos snipers, em crises com reféns localizados, sendo, portanto, o ponto mais sensível de todos os grupos de elite do mundo. A decisão de um gerente de crises em fazer o uso de tal alternativa tática é de grande responsabilidade e deve ser efetuada, quando todas as outras forem inadequadas e quando o cenário para tal fato seja favorável. Pode parecer que a atuação do atirador de elite é simples. Observe que, na realidade, tais atuações são difíceis, complexas, quase impossíveis de serem exercidas como um todo e, quando existe mais de um sequestrador, ficam muito mais complicadas. Por isso, existe a polêmica na utilização do atirador de elite, muito criticada em situações de sequestros, mesmo que o atirador não entre em ação. 50 Em situações de crises policiais, o atirador de elite fica posicionado, sem ser visto, ao mesmo tempo em que é possuidor de uma ampla visão do cenário em que se desenrola a ação. Ele está sempre em contato com o gerente da crise, através de sistema de rádio, e este repassa tais informações aos negociadores e para o grupo de inteligência, visando o bom andamento da ocorrência. Lucca (2002, p. 104) relata que: (...) A escolha do policial, seu treinamento e a oferta de equipamento necessário, devem ser regidos por critérios altamente técnicos e profissionais. Todos esses requisitos terão como fim salvar pessoas que se encontrem em situações aflitivas, com suas vidas em jogo. As autoridades devem investir em tecnologia de ponta nesse segmento das forças policiais, para que desempenhem, com habilidade e eficiência, sua árdua tarefa. Afinal, qual é o preço de uma vida? 51 4.4 INVASÃO TÁTICA A invasão tática ou “Assalto Direto” representa, em geral, a última alternativa a ser empregada em uma ocorrência com reféns localizados. Isso ocorre porque o emprego da invasão tática acentua o risco da operação, aumentando, como consequência, o risco de vida para o refém, para o policial e para o transgressor da lei. Isso por si só, vai de encontro com um dos objetivos principais do gerenciamento de crises que é a preservação da vida. Dessa forma, só se admite a aplicação dessa alternativa tática quando, no momento da ocorrência, o risco em relação aos reféns se torna um risco ameaçador à integridade física deles ou ainda quando, na situação em andamento, houver uma grande possibilidade de sucesso do time tático. Em qualquer equipe tática, a invasão é a alternativa mais treinada, porém, em contrapartida, a menos utilizada e isso acontece pelo simples fato de, por mais cenários que sejam criados e montados nos treinamentos, o cenário de uma crise real terá a sua própria característica mantendo assim o risco elevado para todos os atores. O treinamento incessante e diversificado de invasões táticas, em cenários diferentes, aumenta somente a chance de acerto sem, no entanto, eliminar o risco. No assalto direto a equipe utilizará preferencialmente recursos não letais, isto é, munições e equipamentos tais como elastômero, granadas de efeito moral, spray de pimenta, gás lacrimogêneo, bastão PR-24 (tonfa) etc. Há quatro princípios essenciais que devem ser observados e aplicados em todas as situações de intervenção. São eles: 52 Fonte: SCD/EaD/Segen O uso da força letal não deve ultrapassar o limite do estrito cumprimento do dever legal e da legítima defesa que, sendo excludentes de ilicitude, tornam legítima a ação policial, ainda que o resultado seja a morte do transgressor da lei. Cada policial de um grupo de invasão tática deve ter esses parâmetros bem massificados. Observe, abaixo, o quadro com resumo das alternativas táticas estudadas: 53 5. ELEMENTOS OPERACIONAIS ESSENCIAIS Os elementos operacionais costumam recebera denominação geral de Grupo de Ação Direta (GAD) e enquanto participarem do evento crítico ficam sob a supervisão direta do GERENTE DA CRISE (comandante da cena de ação), por dois motivos: I. Suas atividades geralmente têm um impacto imediato, de vida ou morte, no ponto crítico; e II. No interesse de comunicações mais rápidas e coerentes entre eles e o gerente da crise, evitando-se a existência de intermediários de outras autoridades. São elementos operacionais essenciais: Fonte: SCD/EaD/Segen Vamos estudar cada um dos elementos operacionais essenciais, confira: 5.1 O GRUPO DE NEGOCIADORES Ao chefe do grupo de negociadores incumbe, dentre outras, as seguintes tarefas: • Ter controle direto sobre todos os negociadores; • Determinar as opções viáveis de negociação e as recomendar ao gerente da crise; • Assegurar o cumprimento, por parte dos negociadores, das estratégias do gerente da crise; 54 • Formular táticas de negociação específicas e as apresentar ao gerente da crise para aprovação; • Envidar esforços para que as informações obtidas por meio da negociação cheguem com rapidez e precisão ao pessoal de inteligência; • Assegurar a coordenação de iniciativas táticas com os demais integrantes do GAD; • Fazer um levantamento periódico da situação psicológica dos perpetradores. 5.2 O GRUPO TÁTICO ESPECIAL No cenário de gerenciamento de crises, o comandante do Grupo Tático Especial possui as seguintes responsabilidades no posto de comando: • Controle direto sobre todo o pessoal do Grupo Tático no local da crise; • Controle direto sobre a área do perímetro interno, em torno do ponto crítico; • Determinação das opções táticas viáveis e as recomendações ao gerente da crise; • Formulação dos planos táticos específicos visando apoiar as estratégias concebidas pelo gerente da crise; • Explicação para o Grupo Tático da missão a ser executada e do plano a ser implementado, de acordo com a orientação do gerente da crise; • Supervisão do ensaio do plano; • Supervisão da inspeção do pessoal a ser empregado na ação; • Direção pessoal da implementação dos planos táticos autorizados pelo gerente da crise; • Garantia da rápida difusão das informações obtidas pelos franco- atiradores (snipers) para os encarregados do processamento da inteligência; • Garantia da coordenação de ações táticas com os demais integrantes do GAD; • Ordenamento da aplicação do plano de emergência diante da resposta imediata, antes da chegada de autorização superior, em casos de extrema necessidade. 5.3 GRUPO DE VIGILÂNCIA TÉCNICA À chefia do Grupo de Vigilância Técnica competem as seguintes tarefas: • Determinar as opções de vigilância técnica e as recomendar ao gerente da crise; 55 • Formular planos específicos de vigilância técnica para apoio da estratégia do gerente da crise e os apresentar para aprovação; • Dirigir e coordenar a instalação de equipamentos de vigilância técnica na área da crise; • Assegurar a coordenação de iniciativas de vigilância técnica com os demais integrantes do GAD; • Envidar esforços para que as informações obtidas por meio da vigilância técnica sejam difundidas aos usuários, especialmente ao pessoal de inteligência. 5.4 EQUIPE DE INTELIGÊNCIA O chefe da Equipe de Inteligência, presente no Posto de Comando, possui, dentre outras, as seguintes funções: • Coletar, processar, analisar e difundir inteligência atual e oportuna para todos os usuários; • Desenvolver e assegurar a consecução de diretrizes investigatórias, com vistas à coleta de inteligência; • Manter um quadro atualizado da situação da crise; • Prover resumos da situação para o gerente da crise e, quando necessário, para escalões superiores. 56 MÓDULO 3: REFÉM, VÍTIMA E SÍNDROME DE ESTOCOLMO APRESENTAÇÃO DO MÓDULO A pessoa capturada que não tem valor ou utilidade posterior para o causador do evento crítico e que venha a sofrer violência deste é considerada vítima. Existem três explicações para a origem da palavra vítima, todas elas vinculadas ao idioma latim, sendo que tais explicações não são excludentes entre si. Na primeira, segundo Lélio Braga Calhau, a palavra vítima (em latim victima) se origina do vocábulo “vincere” que significa atar, ligar, referindo-se aos animais destinados ao sacrifício dos deuses após a vitória na guerra e que, por isso, ficavam vinculados, ligados, atados a esse ritual, no qual seriam vitimados. OBJETIVOS DO MÓDULO Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Distinguir, diante de uma situação de crise, se a pessoa em poder de um detento em uma crise é uma vítima ou um refém; • Perceber as características da Síndrome de Estocolmo no comportamento e no discurso dos reféns e saber lidar com o fenômeno; • Reconhecer a importância do estudo da síndrome para aumentar as chances de sucesso em uma negociação em ambiente de crise. 57 1. VÍTIMA E REFÉM: CARACTERÍSTICAS BÁSICAS E DISTINÇÕES ESSENCIAIS A palavra também poderia ter surgido do vocábulo “vincere” que tem o sentido de vencer, ser vencedor, sendo a vítima o vencido, o abatido. Alguns autores falam ainda na possibilidade de ter se originado do vocábulo “vigere”, que quer dizer vigoroso, forte. Segundo o dicionário Houaiss, dentre os vários significados atuais da palavra vítima na língua portuguesa consta o de pessoa ferida, violentada, assassinada ou executada por outra, ou ainda o sentido de que vítima é quem é sujeito à opressão, maus tratos, arbitrariedades (como, por exemplo, na expressão “vítima do sistema social injusto”). Estes seriam exemplos de significados gramaticais da expressão. No vocabulário jurídico e na lição de De Plácido e Silva sobre vítima, geralmente entende-se por vítima toda pessoa que é sacrificada em seus interesses, que sofre um dano ou é atingida por qualquer mal. E, sem fugir ao sentido do senso comum, na linguagem penal designa o sujeito passivo de um delito ou de uma contravenção. É, assim, o ofendido, o ferido, o assassinado, o prejudicado, o burlado. Observe as charges e veja alguns tipos de vítimas: 58 Na charge do cartunista Duke – Prisão residencial de segurança máxima – o brasileiro é retratado como sujeito da opressão pela violência urbana, ou seja, vítima de um sistema social violento. Fonte: www.drpepper.com.br Na charge politicamente incorreta de Dr. Pepper, é mostrada uma situação em que o garoto se torna duplamente vítima: pela violência praticada na escola e pelo próprio pai. DIFERENÇA ENTRE VÍTIMA E REFÉM VÍTIMA No contexto da gestão de crises dentro do sistema carcerário, o reconhecimento de uma vítima ganha novos contornos. Inicialmente, tem-se que em um evento crítico quando uma pessoa é capturada e se contra ela forem destinados atos de violência, ódio, raiva e frustração do agressor, não possuindo a finalidade de causar algum benefício prático, ela é considerada vítima. Nesse caso, a captura não é uma forma de se garantir sobrevivência física do causador do evento. REFÉM Se a pessoa capturada tem valor real para o causador do evento crítico, que dela se valerá para a obtenção de algum tipo de vantagem ou benefício palpável claramente expresso e, muitas vezes, quantificável, estar-se-ia diante não de uma vítima, mas de um refém. 59 Imagine um causador de evento crítico, surpreendido em meio a um ritual bizarro, no qual se prepara uma execução em que o sacrifício da pessoa apaziguará sua divindade com a qual ele mantém incessantes diálogos. Ele avisa aos policiais que a mera interrupção do ritual provocará tragédias imensas que atingirão toda a humanidade e prepara-se para degolar a pessoa. Trata-se de uma situação em que são observadas as características de vítima no capturado, uma vez que o dominado não apresenta nenhum
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