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Agonistas Adrenérgicos 1 🎢 Agonistas Adrenérgicos ✏ Nossas anotações Síntese e secreção de catecolaminas Na sinapse ganglionar, a acetilcolina é o neurotransmissor responsável por mediar a interação entre o neurônio pré-ganglionar e o pós-ganglionar enquanto a noradrenalina exerce essa função na sinapse do segundo neurônio. O neurônio pós-ganglionar se ramifica e seus axônios formam varicosidades semelhantes a um colar em cada contato do axônio com o seu alvo. Por isso, a excitação desses neurônios ativam uma área ampla nas células efetoras ainda que a noradrenalina liberada fique confinada à região de cada sinapse. A estimulação dos neurônios pré-ganglionares que inervam a medula suprarrenal causa a liberação de acetilcolina induzindo a secreção de noradrenalina e adrenalina, que são amplamente distribuídas aos tecidos corporais pelo sangue e agem como hormônios. No interior das varicosidades, a noradrenalina é armazenada em pequenas vesículas e é sintetizada a partir do aminoácido tirosina, que sofre a ação de https://www.notion.so/Nossas-anota-es-80df68c05f964c5ea69e0578658357ea Agonistas Adrenérgicos 2 enzimas sequenciais até chegar a noradrenalina. A hidroxilação da tirosina para L-dopa pela tirosina hidroxilase e a descarboxilação da L-dopa para dopamina pela enzima descarboxilase dos aminoácidos L- aromáticos são processos que ocorrem no citoplasma e a dopamina formada é ativamente transportada pelo TVMA para o interior das vesículas de armazenamento contendo dopamina β-hidroxilase, onde é convertida a NE. Na suprarrenal, a noradrenalina sofre a ação da feniletilamina n-metiltransferase no citosol e é convertida à adrenalina. A chegada de um potencial de ação faz o nervo simpático abrir os canais de Ca2+, emitindo um influxo de cálcio e a liberação das vesículas na fenda sináptica. A noradrenalina se liga a receptores adrenérgicos e induz efeitos específicos em cada célula. Agonistas Adrenérgicos 3 ❗ Também há receptores adrenérgicos (α2) na membrana pré-sináptica que atuam como uma alça de feedback negativo O término do efeito na sinapse ocorre com a recaptação da noradrenalina pelo terminal pré-sináptico (90%), diluição do neurotransmissor no tecido e metabolização pelas enzimas MAO e COMT (10%). O transportador NET, que transporta a noradrenalina de volta para o terminal pré-sináptico e atua com um co- transporte com o sódio, pode ser bloqueado por cocaína, anfetaminas e antidepressivos, resultando em uma maior concentração da noradrenalina na fenda sináptica e gerando uma despolarização neuronal com uma maior exacerbação das respostas simpáticas. A reserpina é um fármaco que bloqueia o receptor TVMA impedindo o transporte de noradrenalina para dentro da vesícula. Ela foi usada durante muito tempo como fármaco anti-hipertensivo. Receptores, vias de sinalização e efeitos Receptores α1: Estes receptores estão presentes na membrana pós-sináptica dos órgãos efetores e intermedeiam vários dos efeitos clássicos, envolvendo a Agonistas Adrenérgicos 4 contração de músculo liso. A ativação dos receptores α1 inicia uma série de reações por meio da fosfolipase C ativada pela proteína G, resultando na formação do segundo mensageiro inositol-1,4,5-trifosfato (IP3) e de diacilglicerol (DAG). O IP3 inicia a liberação de Ca2+ do retículo endoplasmático para o citosol, e o DAG ativa outras proteínas no interior da célula. Receptores α2: Estes receptores estão localizados primariamente nas terminações de nervos simpáticos pré-sinápticos e controlam a liberação de norepinefrina. Quando um nervo simpático adrenérgico é estimulado, parte da norepinefrina liberada “retorna” e reage com os receptores α2 na membrana pré-sináptica. A estimulação dos receptores α2 promove retroalimentação inibitória e inibe liberação adicional de norepinefrina do neurônio adrenérgico estimulado. Essa ação inibitória serve como mecanismo local para modular a saída de norepinefrina quando há atividade simpática elevada. Em contraste com os receptores α1, os efeitos da ligação com os receptores α2 são mediados pela inibição da adenililciclase e pela redução nos níveis intracelulares de AMPc. Receptores β: Podem ser subdivididos em três principais subgrupos, β1, β2, e β3, com base nas suas afinidades por agonistas e antagonistas adrenérgicos. Os receptores β1 têm afinidade praticamente igual por epinefrina e norepinefrina, e os receptores β2 têm maior afinidade por epinefrina do que por norepinefrina. Assim, tecidos com predominância de receptores β2 (como os vasos dos músculos esqueléticos) são particularmente responsivos aos efeitos da epinefrina circulante, liberada pela medula da suprarrenal. Os receptores β3 estão envolvidos na lipólise e também em efeitos no músculo detrusor da bexiga. A ligação de um neurotransmissor a qualquer dos três receptores β resulta na ativação de adenililciclase e aumenta a concentração de AMPc no interior da célula. Agonistas Adrenérgicos 5 Como generalização, a estimulação de receptores α1 caracteristicamente provoca vasoconstrição (particularmente na pele e nas vísceras abdominais) e aumento na resistência periférica total e na pressão arterial. A estimulação dos receptores β1 causa estimulação cardíaca (aumento na frequência e na contratilidade), ao passo que a estimulação dos receptores β2 produz vasodilatação (no leito vascular esquelético) e relaxamento dos músculos lisos. Resposta à ativação simpática A ativação da divisão simpática pode ser considerada uma forma pela qual o organismo atinge um estado de capacidade de trabalho máxima, como aquele necessário em situações de luta ou fuga. Para esses 2 casos é necessário uma intensa atividade da musculatura esquelética e, para segurar o suprimento de oxigênio e nutrientes adequados, o fluxo sanguíneo deve ser aumentado nos músculos esqueléticos. A frequência cardíaca e a contratilidade também são aumentadas, resultando no direcionamento de um maior volume de sangue para os músculos. E há também um aumento da secreção de renina, que contribui para o aumento da pressão arterial. Como a digestão de alimentos é dispensável e contraproducente nessa situação, a propulsão do conteúdo intestinal diminui, com a redução do peristaltismo e estreitamento dos esfíncteres, juntamente com a atividade do trato urinário. Para aumentar o aporte de nutrientes para o coração e para musculatura, o fígado e o tecido adiposo devem liberar glicose e ácidos graxos no sangue. Os brônquios dilatam para aumentar o volume respiratório e a captação de oxigênio para o sangue. As glândulas sudoríparas, também inervadas por fibras simpáticas apesar do neurotransmissor ser a acetilcolina, são ativadas e as mãos ficam úmidas. A Agonistas Adrenérgicos 6 atenção, motivação e estado de alerta são causados pela ativação do SNC, bem como a midríase. Química dos agonistas adrenérgicos A estrutura comum de todos os simpaticomiméticos de ação direta possui um grupo catecol e a feniletanolamina. A feniletanolamina consiste em um anel benzeno com uma cadeia lateral de etilamina. As substituições podem ser feitas (1) no anel benzeno, (2) no grupo amina terminal e (3) nos carbonos α ou β da cadeia etilamina. A substituição por grupos OH nas posições 3 e 4 gera fármacos simpatomiméticos conhecidos como catecolaminas (maior afinidade por receptores α). A substituição por grupos OH nas posições 3 e 5 aumenta a afinidade por receptores β2 Os efeitos da modificação de feniletilamina são mudança da afinidade dos fármacos por receptores α e β, ampliando o limite de atividade quase puramente α (metoxamina) para quase puramente β (isoproterenol), assim como influência à capacidade intrínseca de ativação dos receptores. Além de determinar a afinidade relativa com o subtipo de receptor, a estrutura química também determina as propriedades farmacocinéticas e a biodisponibilidade dessas moléculas. A adrenalina ou epinefrina é reconhecida pelo receptor por meio de vários locaisde interação. Algumas substâncias podem, apesar disso, serem reconhecidas e transportadas pelo sistema adrenérgico resultando em simpaticomiméticos de ação indireta (ex.: anfetamina) Agonistas Adrenérgicos 7 → Substituição no anel benzeno A atividade máxima α e β é encontrada com as catecolaminas, isto é, fármacos que têm grupos OH nas posições 3 e 4 do anel benzeno. A ausência de um ou outro desses grupos, em particular a hidroxila em C-3, sem outras substituições no anel, pode reduzir consideravelmente a potência do fármaco (aumento na atividade simpaticomimética indireta). Por outro lado, as catecolaminas estão sujeitas à inativação por catecol-O-metiltransferase (COMT); como essa enzima é encontrada no intestino e no fígado, as catecolaminas não são ativas por via oral. A ausência de um ou ambos os grupos OH do anel fenila aumenta a biodisponibilidade após administração oral e prolonga a duração da ação. Além disso, a ausência de grupos OH do anel tende a aumentar a distribuição da molécula ao sistema nervoso central (SNC). → Substituição no grupo amina O aumento do tamanho dos substitutos alquila no grupo amina tende a elevar a atividade de receptor β. A atividade β é aumentada ainda pela substituição por isopropila no grupo amina (isoproterenol). Os agonistas β2-seletivos geralmente precisam de um grupo substituto amina grande. Quanto maior é o substituto no grupo amina, mais baixa é a atividade em receptores α. → Substituição no carbono α As substituições no carbono α bloqueiam a oxidação pela MAO e prolongam a ação desses fármacos, particularmente os que não são catecolaminas. A efedrina e a anfetamina são exemplos de compostos com substituição por α. Os compostos α- metílicos também são chamados de fenilisopropilaminas. Além de sua resistência à oxidação por MAO, algumas fenilisopropilaminas têm uma capacidade aumentada de deslocar catecolaminas de armazenamento noradrenérgicos. Portanto, uma parte de sua atividade depende da presença de estoques normais de norepinefrina no corpo; são simpatomiméticos de ação indireta. Agonistas Adrenérgicos 8 → Substituição no carbono β Em geral, a substituição de um grupo hidroxila no carbono β diminui as ações no SNC, em grande parte pelo fato de diminuir a lipossolubilidade. Entretanto, essa substituição aumenta acentuadamente a atividade agonista nos receptores tanto α quanto β-adrenérgicos. Agonistas Adrenérgicos 9 Classificação das catecolaminas e dos fármacos agonistas adrenérgicos As catecolaminas e os fármacos simpaticomiméticos são classificados em simpaticomiméticos de ação direta, de ação indireta ou de ação mista. Os de ação direta atuam diretamente sobre um ou mais dos receptores adrenérgicos. Esses fármacos podem exibir considerável seletividade para um subtipo específico de receptor ou podem ter pouca ou nenhuma seletividade, atuando sobre vários tipos de receptores. Os fármacos de ação indireta aumentam a disponibilidade da norepinefrina (NE) ou da epinefrina para estimular os receptores adrenérgicos. Já os fármacos que liberam NE indiretamente e também ativam diretamente os receptores são denominados de simpaticomiméticos de ação mista. Agonistas Adrenérgicos 10 Uma das características dos fármacos simpaticomiméticos de ação direta é que as suas respostas não são reduzidas pelo tratamento prévio com reserpina ou guanetidina, que causam depleção da NE dos neurônios simpáticos. Após a depleção do transmissor, as ações dos simpaticomiméticos de ação direta podem de fato aumentar, visto que a perda do neurotransmissor induz alterações compensatórias que determinam a suprarregulação dos receptores ou que potencializam a via de sinalização. Em contraste, as respostas dos simpaticomiméticos de ação indireta (p. ex., anfetamina, tiramina) são abolidas por tratamento prévio com reserpina ou guanetidina. A característica fundamental dos simpaticomiméticos de ação mista reside no fato de que seus efeitos são atenuados, mas não abolidos, por meio de tratamento prévio com reserpina ou guanetidina. Agonistas Adrenérgicos 11 Agonistas adrenérgicos diretos → Adrenalina (não seletivo) A epinefrina (adrenalina) é um potente estimulador tanto dos receptores α quanto β adrenérgicos, de modo que seus efeitos sobre os órgãos-alvo são complexos. Agonistas Adrenérgicos 12 Efeitos na pressão arterial: A epinefrina é um dos mais potentes fármacos vasopressores conhecidos. Se uma dose farmacológica for rapidamente administrada por via intravenosa, provoca um efeito característico sobre a pressão arterial, que se eleva rapidamente até atingir um pico, que é proporcional à dose. O aumento da pressão sistólica é maior que o da diastólica, de modo que a pressão do pulso se eleva. À medida que a resposta declina, a pressão média pode cair abaixo do normal antes de retornar aos níveis de controle. O mecanismo de elevação da pressão arterial são: Estimulação direta do miocárdio, que aumenta a força de contração ventricular (ação inotrópica positiva - especialmente pela ativação de receptor β1) Aumento da frequência cardíaca (ação cronotrópica positiva - ativação de receptor β1, β2 e histamina) Vasoconstrição em muitos leitos vasculares — em especial, nos vasos de resistência pré-capilares da pele, das mucosas e dos rins, juntamente com acentuada constrição das veias (especialmente pela ativação de receptores α1) Efeitos vasculares: A epinefrina exerce sua principal ação vascular sobre as arteríolas menores e os esfíncteres pré-capilares, embora as veias e as artérias de grande calibre também respondam ao fármaco. Vários leitos vasculares reagem de modo diferente, resultando em considerável redistribuição do fluxo sanguíneo. A adrenalina injetada diminui acentuadamente o fluxo sanguíneo cutâneo, com constrição dos vasos pré-capilares e das pequenas vênulas. A vasoconstrição cutânea é responsável pela intensa diminuição do fluxo sanguíneo nas mãos e nos pés. O fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos aumenta com a administração de doses terapêuticas a seres humanos. Isso se deve, em parte, a uma poderosa ação vasodilatadora mediada pelos receptores β2, que é apenas parcialmente contrabalançada por uma ação vasoconstritora nos receptores α1. O efeito da epinefrina sobre a circulação cerebral está relacionado com a pressão arterial sistêmica. Em doses terapêuticas habituais, o fármaco exerce relativamente pouca ação constritora sobre as arteríolas cerebrais. As doses de epinefrina que exercem pouco efeito sobre a pressão arterial média aumentam consistentemente a resistência vascular renal e reduzem o seu fluxo sanguíneo em até 40%. Apesar disso, as capacidades excretora e de reabsorção tubular máxima estão inalteradas. A secreção de renina aumenta em consequência da ação direta da epinefrina sobre os receptores β1 no aparelho justaglomerular. Agonistas Adrenérgicos 13 Ocorre elevação das pressões pulmonares arterial e venosa. Apesar da vasoconstrição pulmonar direta, a redistribuição do sangue da circulação sistêmica para a pulmonar, em consequência da constrição da musculatura mais potente nas grandes veias sistêmicas, sem dúvida desempenha um importante papel na elevação da pressão pulmonar. A presença de concentrações muito altas de epinefrina pode causar edema nos pulmões, precipitado pela elevação da pressão de filtração capilar pulmonar e, possivelmente, por “extravasamento” de capilares. Em condições fisiológicas, a epinefrina ou a estimulação simpática cardíaca aumentam o fluxo sanguíneo coronariano. Efeitos cardíacos: A epinefrina é um poderoso estimulante cardíaco. Atua diretamente sobre os receptores β1 predominantes no miocárdio e sobre as células marcapassos e do tecido condutor e é responsável pelo aumento da frequência cardíaca. A sístole é mais curta e mais potente, ocorre aumento do débito cardíaco, e tanto o trabalho do coração quanto o consumo de oxigênio estão acentuadamente aumentados. As respostas diretas à epinefrinaincluem aumento da força contrátil, elevação acelerada da tensão isométrica, maior velocidade de relaxamento, diminuição do tempo para alcançar a tensão máxima, aumento da excitabilidade, aceleração da frequência de batimentos espontâneos e indução de automaticidade em regiões especializadas do coração. Se forem administradas grandes doses de adrenalina, ocorrem contrações ventriculares prematuras, que podem anunciar o desenvolvimento de arritmias ventriculares mais graves. Essa situação raramente é observada com as doses convencionais utilizadas nos seres humanos; todavia, a liberação de epinefrina endógena pode precipitar extrassístoles ventriculares, taquicardia ou até mesmo fibrilação, quando o coração for sensibilizado a essa ação da epinefrina por determinados anestésicos ou na presença de isquemia do miocárdio. Efeitos sobre os músculos lisos: Os efeitos da epinefrina sobre os músculos lisos de diferentes órgãos e sistemas dependem do tipo de receptor adrenérgico presente no músculo. Em geral, o músculo liso gastrintestinal é relaxado pela epinefrina. Esse efeito deve-se à ativação tanto dos receptores α quanto β. Ocorre redução do tônus intestinal e da frequência e amplitude das contrações espontâneas. Em geral, o estômago sofre relaxamento e ocorre contração dos esfíncteres pilórico e ileocecal. A adrenalina inibe o tônus e contração uterina no último mês de gravidez e durante o parto e, por isso, os agonistas β2 adrenérgicos são utilizados para impedir o parto Agonistas Adrenérgicos 14 prematuro causando relaxamento uterino. A epinefrina relaxa o músculo detrusor da bexiga em consequência da ativação dos receptores β, enquanto causa contração do trígono e dos músculos esfíncteres devido à sua atividade α agonista. Esse efeito pode resultar em hesitação à micção e também contribuir para a retenção de urina na bexiga. A ativação da contração do músculo liso na próstata via receptor α1 promove retenção urinária. Efeitos respiratórios: Nos músculos respiratórios, a adrenalina tem uma poderosa ação broncodilatadora, que se torna mais evidente quando o músculo brônquico está contraído em decorrência de doença, como na asma brônquica, ou em resposta a fármacos ou a vários autacóides. Nessas situações, ela possui notável efeito terapêutico como antagonista fisiológico de substâncias que causam broncoconstrição. Os efeitos benéficos da epinefrina na asma também podem decorrer da inibição da liberação de mediadores da inflamação dos mastócitos induzida por antígenos e, em menor grau, da diminuição das secreções brônquicas e congestão na mucosa. A inibição da secreção dos mastócitos é mediada pelos receptores β2, enquanto os efeitos sobre a mucosa são mediados por receptores α. Efeitos sobre o sistema nervoso central: Devido à incapacidade desse composto bastante polar de penetrar no SNC, a epinefrina em doses terapêuticas convencionais não atua como poderoso estimulante desse sistema. Embora possa causar inquietação, apreensão, cefaleia e tremor em muitos indivíduos, esses efeitos podem ser, em parte, secundários aos seus efeitos sobre o sistema cardiovascular, o músculo esquelético e o metabolismo intermediário, isto é, podem resultar de manifestações somáticas da ansiedade. Alguns outros fármacos simpaticomiméticos atravessam mais facilmente a barreira hematoencefálica. Efeitos metabólicos: A epinefrina exerce várias influências importantes sobre os processos metabólicos. Ela aumenta as concentrações de glicose e de lactato no sangue, inibe a secreção de insulina pela interação com o receptor α2 e a intensifica pela ativação dos receptores β2. A secreção de glucagon aumenta em consequência de sua ação sobre os receptores β das células α das ilhotas pancreáticas e o seu efeito na estimulação da glicogenólise na maioria dos tecidos e na maioria das espécies envolve os receptores β, aumentando a concentração de ácidos graxos livres no sangue e favorecendo a essa ação calorigênica (aumento do metabolismo). Outros efeitos: Os seus efeitos sobre as glândulas secretoras não são pronunciados. Na maioria das glândulas, a secreção é habitualmente inibida, Agonistas Adrenérgicos 15 devido, em parte, à redução do fluxo sanguíneo causada pela vasoconstrição. Estimula o lacrimejamento, bem como uma secreção mucosa escassa pelas glândulas salivares. Nos olhos observa-se midríase durante a estimulação simpática, mas essa midríase não é observada muito claramente quando a adrenalina é instilada no saco conjuntival de olhos normais. Todavia, a epinefrina costuma reduzir a pressão intraocular (o mecanismo desse efeito ainda não foi esclarecido) Farmacocinética A epinefrina não é eficaz por via oral devido a rápida conjugação e oxidação na mucosa gastrointestinal e no fígado. A absorção a partir dos tecidos subcutâneos ocorre de modo relativamente lento, em razão da vasoconstrição local, podendo a sua taxa ser ainda mais reduzida pela presença de hipotensão sistêmica, como, por exemplo, em pacientes em choque. A absorção é mais rápida após injeção intramuscular. Em situações de emergência, pode ser necessário administrá-la por via intravenosa. Quando soluções relativamente concentradas são nebulizadas e inaladas, as ações do fármaco limitam-se, em grande parte, ao trato respiratório; entretanto, podem ocorrer reações sistêmicas, como arritmias, sobretudo quando são utilizadas quantidades maiores. A adrenalina injetável está disponível em soluções de 1 mg/mL (1:1.000), 0,1 mg/mL (1:10.000) e 0,5 mg/mL (1:2.000). A dose habitual para adultos, administrada por via subcutânea, varia de 0,3-0,5 mg e deve ser injetada de forma muito lenta. A dose raramente alcança 0,25 mg, exceto para os casos de parada cardíaca, quando pode ser necessário administrar quantidades maiores. A epinefrina é rapidamente inativada no organismo. O fígado, que é rico em ambas as enzimas responsáveis pela destruição da epinefrina circulante (COMT e MAO). Embora só apareçam pequenas quantidades na urina de indivíduos normais, a de pacientes grandes de epinefrina, NE e seus metabólitos. → Usos terapêuticos: Os usos clínicos da epinefrina baseiam-se nas suas ações sobre os vasos sanguíneos, o coração e o músculo brônquico. Um importante uso da epinefrina consiste em proporcionar alívio rápido das reações de hipersensibilidade, incluindo anafilaxia, a fármacos e outros alergénios. Ela também é utilizada para prolongar a ação de anestésicos locais, presumivelmente Agonistas Adrenérgicos 16 ao diminuir o fluxo sanguíneo local. Seus efeitos no coração podem ser utilizados para restaurar o ritmo cardíaco em pacientes com parada cardíaca devido a várias causas. É também utilizada como agente hemostático tópico em superfícies que sangram, como na boca, ou em úlceras pépticas hemorrágicas durante a endoscopia do estômago e do duodeno. Além disso, sua inalação pode ser útil no tratamento do crupe infeccioso e pós- intubação. → Efeitos adversos: A epinefrina pode causar reações desagradáveis, como inquietação, cefaléia pulsátil, tremor e palpitações. Reações mais graves incluem hemorragia cerebral e arritmias cardíacas. O uso de doses elevadas ou a injeção intravenosa rápida acidental de epinefrina podem provocar hemorragia cerebral em consequência da elevação aguda da pressão arterial. Em geral, o uso de epinefrina está contraindicado para pacientes que estão recebendo antagonistas bloqueadores não seletivos dos receptores β, visto que suas ações sobre os receptores α1 vasculares, sem oposição, podem resultar em hipertensão e hemorragia cerebral graves. PARTE 2 → Noradrenalina (não seletivo) É o principal mediador químico liberado pelos nervos simpáticos pós-ganglionares e se difere da adrenalina apenas pela ausência da metila no grupo amino. É um agonista de receptores α1, α2 e β1, com pouco efeito sobre os receptores β2, mas é ligeiramente menos potente do que a epinefrina sobre os receptores α da maioria dos órgãos. Efeitos cardiovasculares:A norepinefrina causa um aumento na resistência periférica devido à intensa vasoconstrição da maior parte dos leitos vasculares, incluindo os rins (efeito α1). A pressão arterial sistólica e a diastólica aumentam. ❗ A norepinefrina causa maior vasoconstrição do que a epinefrina porque ela não induz vasodilatação compensatória via receptores β2 nos vasos sanguíneos que suprem os músculos esqueléticos. A fraca atividade β2 da norepinefrina também explica por que ela não é útil no tratamento de asma ou anafilaxia Agonistas Adrenérgicos 17 A ativação barorreflexa compensadora tende a suplantar os efeitos cronotrópicos positivos diretos da norepinefrina; entretanto, os efeitos inotrópicos positivos no coração são mantidos. Outros efeitos: Nos seres humanos, as outras respostas à NE não são proeminentes. O fármaco provoca hiperglicemia e outros efeitos metabólicos, que se assemelham aos produzidos pela epinefrina; entretanto, esses efeitos são observados apenas quando se administram doses elevadas, visto que ela não é tão eficaz quanto um “hormônio” como a epinefrina. → Usos terapêuticos: A NE é usada como vasoconstritor para aumentar ou manter a pressão arterial sob certas condições de cuidados intensivos (ex.: choque séptico). Também pode ser utilizada no tratamento da pressão arterial baixa. → Efeitos adversos: Os efeitos adversos da noradrenalina assemelham-se aos da epinefrina, embora ocorra tipicamente uma elevação mais acentuada da pressão arterial com a primeira. A sua administração em doses excessivas pode causar hipertensão grave, de modo que, em geral, recomenda-se uma monitoração cuidadosa da pressão arterial durante a administração sistêmica desse agente. É preciso ter cuidado para que não ocorra necrose nem descamação no local da injeção intravenosa, em consequência do extravasamento do fármaco. A infusão deve ser efetuada em uma região alta do membro, de preferência através de uma cânula de plástico longa, estendendo-se centralmente. O comprometimento da circulação nos locais de injeção, com ou sem o seu extravasamento, pode ser aliviado pela infiltração da área com fentolamina, um antagonista dos receptores α. É preciso determinar a pressão arterial a intervalos frequentes durante a infusão e, particularmente, durante o ajuste da velocidade de infusão. A redução do fluxo sanguíneo para órgãos como os rins e o intestino constitui um constante perigo com o uso da NE. Fármacos β seletivos: A resposta da pressão arterial ao agonista β depende de seus efeitos contrastantes sobre o coração e sobre os vasos. A estimulação de receptores β no coração aumenta o débito cardíaco pelo crescimento da contratilidade e por ativação direta do nodo sinusal para aumentar a frequência cardíaca. Eles também diminuem a Agonistas Adrenérgicos 18 resistência vascular periférica pela ativação de receptores β2, levando a uma vasodilatação em certos leitos vasculares. → Isoproterenol (β seletivo) É um potente agonista não seletivo dos receptores β (ativa tanto β1 quanto β2), com afinidade muito baixa pelos receptores α. Como ativa quase exclusivamente receptores β, é um potente vasodilatador. Essas ações levam a um aumento marcante do débito cardíaco, associado com uma queda na pressão arterial diastólica e média, e há um aumento menor ou leve da pressão arterial sistólica, de modo a reduzir a pressão arterial média. → Usos terapêuticos: O isoproterenol pode ser utilizado em situações de emergência, para estimular a frequência cardíaca em pacientes com bradicardia ou bloqueio cardíaco, particularmente quando se planeja introduzir um marca-passo cardíaco artificial, ou em pacientes com a arritmia ventricular, torsade de pointes. Em certos distúrbios, como a asma e o choque, ele foi substituído, em grande parte, por outros simpaticomiméticos. → Efeitos adversos: É comum a ocorrência de palpitações, taquicardia, cefaléia e rubor. Podem ocorrer isquemia cardíaca e arritmias, particularmente em pacientes com coronariopatia subjacente. Agonistas Adrenérgicos 19 A adrenalina causa um efeito maior de aumento da pressão arterial sistólica em razão do aumento na força de contração cardíaca e da elevação do débito cardíaco. Há uma redução da resistência vascular periférica por uma ação predominante em receptores β2 vasculares na musculatura esquelética, onde o fluxo sanguíneo encontra-se aumentado. Em consequência, observa-se uma queda na pressão arterial diastólica. Como a pressão arterial média não está relativamente muito elevada, os barorreceptores compensatórios não antagonizam as ações cardíacas diretas. A frequência cardíaca e o débito cardíaco, volume sistólico e trabalho ventricular esquerdo por batimento aumentam em consequência da estimulação cardíaca direta e do aumento do retorno venoso ao coração, que se reflete por uma elevação da pressão atrial direita. Com velocidade de infusão ligeiramente maior, pode não haver alteração alguma, ou ocorrer uma discreta elevação da resistência periférica e da pressão diastólica. Nesses casos os reflexos compensatórios também podem desempenhar algum papel. Logo, o aumento da pressão sistólica é maior que a diastólica e a frequência de pulso se eleva ligeiramente. Agonistas Adrenérgicos 20 Na fusão intravenosa de noradrenalina, observa-se um aumento da pressão sistólica e diastólica e, geralmente, a frequência de pulso diminui. O débito cardíaco reduz ou permanece inalterado, a atividade vagal compensatória reduz a frequência cardíaca, a resistência vascular periférica aumenta na maioria dos leitos vasculares, o fluxo sanguíneo renal, esplâncnico e hepático diminuem e o aumento do fluxo sanguíneo coronariano em função da dilatação coronariana induzida diretamente também acontece. O isoproterenol, quando infundido por via venosa, reduz a resistência vascular periférica, primariamente no músculo esquelético, mas também nos leitos vasculares renal e mesentérico. Há redução da pressão arterial diastólica e a sistólica se mantém inalterada ou aumenta ligeiramente, embora a pressão arterial média geralmente caia. O débito cardíaco aumenta em consequência dos efeitos inotrópicos e cronotrópicos positivos na presença da diminuição da resistência vascular periférica. ❗ Esses efeitos são distintos em função dos diferentes receptores que esses fármacos ativam. → Dopamina (não seletivo) A dopamina é o precursor da noradrenalina e sua liberação endógena pode ter efeitos mais importantes na regulação da excreção do sódio ou na função renal, além de ser importante no SNC, onde está envolvida no estímulo gratificante e relevante ao vício. Por outro lado, a sua deficiência no SNC na região dos gânglios basais leva à doença de Parkinson, tratada com seu precursor, levodopa. Os receptores de dopamina também são alvo para fármacos antipsicóticos. Agonistas Adrenérgicos 21 Suas respostas são dose dependente, ou seja, em doses baixas as respostas predominantes são as do receptor D1 (dilatação do músculo liso), levando a um aumento da perfusão sanguínea dos leitos coronarianos, mesentéricos e renais. Em receptores β1 promove efeitos cronotrópicos e inotrópicos positivos, enquanto sua ação em α1 são as ações vasoconstritoras. Logo há necessidade de se ter um grande cuidado por conta de sua dose. Quase nunca é utilizada para ter um efeito vasoconstritor. Na maioria das vezes, é utilizada para aumento da perfusão. De modo que nunca se quer que esta chegue a uma dose tão alta para que não haja essa resposta vasoconstritora. Ainda promove aumento da taxa de filtração glomerular e aumento da excreção de sódio. Em doses muito elevadas causa constrição arterial e venosa. → Usos terapêuticos: A dopamina é indicada para o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva grave, particularmente em pacientes com oligúria e resistência vascular periférica baixa ou normal. Também é utilizada no choque cardiogênico ou séptico, melhorando os parâmetros fisiológicos, e em cardiopatia ouinsuficiência renal crônica. → Efeitos adversos: Durante a infusão pode causar náuseas, vômito, taquicardia, dor anginosa, arritmias, cefaléia, hipertensão e vasoconstrição periférica. No extravasamento pode levar a uma necrose isquêmica e descamação. Agonistas Adrenérgicos 22 → Dobutamina (β seletivos) A dobutamina é um fármaco agonista β1 seletivo, ou seja, promove estimulação cardíaca. Uma observação é que, no caso da dobutamina, esta parece não influenciar a frequência cardíaca, possuindo um efeito inotrópico muito mais pronunciado que o efeito cronotrópico. → Usos terapêuticos: A dobutamina é utilizada no tratamento a curto prazo da descompensação cardíaca, que pode ocorrer após cirurgia cardíaca ou em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva com infarto agudo do miocárdio, do choque cardiogênico, da insuficiência cardíaca crônica (resistência ao tratamento convencional), da bradicardia e da parada cardíaca → Efeitos adversos: Seus efeitos adversos são o aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, no caso bem menor da frequência, exigindo redução da velocidade de infusão da dobutamina (infusão contínua – regulação da resposta à dose - infusão acompanhada de um eletrocardiograma). Este é um fármaco utilizado a nível hospitalar, assim como a adrenalina e a noradrenalina em caso de pacientes que não estão respondendo a outros medicamentos, logo, sua dose também é individualizada e, dependendo da resposta do eletrocardiograma do paciente, o médico aumenta ou diminui a dose. → Agonistas β2 seletivos Os agonistas β2 seletivos substituíram a adrenalina no tratamento da asma, pois são seletivos devido a maior substituição no grupo amino e na posição dos grupos hidroxila no anel aromático. Entre eles se tem: salbutamol, metaproterenol, terbutalina, salmeterol (agonista parcial de ação prolongada), formoterol (agonista pleno de longa duração) e ritodrina. Agonistas Adrenérgicos 23 → Usos terapêuticos: São fármacos utilizados principalmente por sua ação broncodilatadora, ou seja, para o tratamento da asma, mas também podem ser utilizados por sua ação de relaxamento uterino, retardando o parto prematuro; nos vasos, causando vasodilatação; e no músculo esquelético, implicando no tremor. → Efeitos adversos: Seus efeitos adversos são tremor, devido a ativação de receptores β2 no músculo esquelético; aumento da concentração plasmática de glicose; aumento do risco de arritmias em pacientes com coronariopatias; inquietação, apreensão e ansiedade. → Agonistas α1 seletivos São fármacos que agem de forma pronunciada sobre os receptores do tipo α1. Agem principalmente no músculo liso vascular. Pode promover elevação da pressão arterial ou manutenção da mesma por conta de sua vasoconstrição. São úteis no tratamento de hipotensão ou do choque. A fenilefrina é um agonista α1 relativamente puro e, como não se trata de um derivado do catecol, não é inativada pela COMT tendo uma ação mais longa que as catecolaminas. É um agente midriático efetivo para facilitar o exame de retina e tem Agonistas Adrenérgicos 24 ação descongestionante útil para a hiperemia alérgica leve e coceira das membranas conjuntivais. Já a midodrina é um pró-fármaco hidrolisado por uma via enzimática, a desglimidodrina. É usada para tratar a hipotensão postural e insuficiência autonômica por causar vasoconstrição arterial e venosa. ❗ A midodrina deve ser evitada antes de dormir e a cabeceira do paciente deve ser levantada. → Agonistas α2 seletivos São utilizados primariamente no tratamento da hipertensão sistêmica por reduzirem a pressão arterial. No SN, eles diminuem o tônus simpático e ativam receptores α2 pré-sinápticos, reduzindo a liberação de noradrenalina (diminui a pressão arterial de forma prolongada). A clonidina diminui as descargas nas fibras pré-ganglionares simpáticas no nervo esplâncnico e nas fibras pós-ganglionares dos nervos cardíacos. Também estimula o fluxo parassimpático, que pode contribuir para reduzir a frequência cardíaca em consequência do aumento do tônus vagal e da diminuição do impulso simpático. A clonidina é bem absorvida após administração oral, e a sua biodisponibilidade atinge quase 100%. A concentração máxima no plasma e o efeito hipotensor máximo são observados em 1-3 h após uma dose oral. A meia-vida de eliminação varia de 6-24 h, com média de 12 h. Agonistas Adrenérgicos 25 A apraclonidina é um agonista dos receptores α2 relativamente seletivo, utilizada topicamente para reduzir a pressão intraocular. Pode reduzir a pressão intraocular tanto elevada quanto normal, seja ela acompanhada ou não de glaucoma. A redução da pressão intraocular é observada com efeitos mínimos ou nenhum sobre os parâmetros cardiovasculares sistêmicos. Por conseguinte, ela é mais útil do que a clonidina para terapia oftálmica. Aparentemente, a apraclonidina não atravessa a barreira hematoencefálica. O seu mecanismo de ação está relacionado com uma redução na formação de humor aquoso mediada pelos receptores α2. A brimonidina, é outro derivado da clonidina, administrado ocularmente para reduzir a pressão intraocular em pacientes com hipertensão ocular ou glaucoma de ângulo aberto. É um agonista α2-seletivo, que reduz a pressão intraocular ao diminuir a produção de humor aquoso e ao aumentar o seu efluxo. A sua eficácia na redução da pressão intraocular assemelha-se àquela do antagonista dos receptores β, o timolol. Ao contrário da apraclonidina, a brimonidina pode atravessar a barreira hematoencefálica e produzir hipotensão e sedação, embora esses efeitos sobre o SNC sejam discretos, em comparação com aqueles da clonidina. A exemplo de todos os agonistas α2, a brimonidina deve ser utilizada com cautela em pacientes com doença cardiovascular. A guanfacina é um agonista dos receptores α2, que é mais seletivo do que a clonidina para esses receptores. Como a clonidina, diminui a pressão arterial por meio da ativação dos receptores do tronco encefálico, com consequente supressão da atividade simpática. O guanabenzo é um agonista α2 de ação central, que diminui a pressão arterial por meio de um mecanismo semelhante ao da clonidina e da guanfacina. Possui meia-vida de 4-6 h e sofre extenso metabolismo no fígado. Pode ser necessário ajustar a posologia em pacientes com cirrose hepática. Os Agonistas Adrenérgicos 26 efeitos adversos produzidos pelo guanabenzo (p. ex., boca seca e sedação) assemelham-se aos observados com a clonidina. A metildopa (α-metil-3,4-di-hidroxi fenilalanina) é um agente anti-hipertensivo de ação central. É metabolizada a α-metilnorepinefrina no cérebro, e acredita-se que esse composto seja capaz de ativar os receptores α2 centrais e reduzir a pressão arterial de modo semelhante ao mecanismo da clonidina. Agonistas adrenérgicos de ação mista Os simpaticomiméticos de ação mista aumentam a liberação de noradrenalina, além de ativar receptores α1, induzindo vasoconstrição, e receptores β, que aumentam o trabalho cardíaco e promovem também a broncodilatação. → Efedrina É uma fenilisopropilamina sem catecol e, por isso, tem uma alta biodisponibilidade e uma duração de ação relativamente longa (horas ao invés de minutos). Uma fração significativa deste fármaco é excretada de forma inalterada na urina e, como é uma base fraca, sua excreção pode ser acelerada pela acidificação da urina. Ela causa um aumento da resistência vascular periférica, aumento da frequência cardíaca, aumento do débito cardíaco e, em função disso, induz o aumento da pressão arterial. → Usos terapêuticos: Estão relacionados com o tratamento da hipotensão que ocorre com a anestesia espinhal, por causa da indução da vasoconstrição, e como descongestionante nasal. → Efeitos adversos: Os mais importantes são a hipertensão arterial e a insônia. → Descongestionantes nasais A fenilefrina, a pseudoefedrina (um estereoisômero da efedrina), a nafazolina e a oximetazolina são os fármacos simpaticomiméticos que têm sidoutilizados com mais frequência em preparações orais para alívio da congestão nasal. São fármacos agonistas α que agem sobre as membranas reduzindo o desconforto do resfriado comum pela diminuição do volume da mucosa nasal. Este efeito é Agonistas Adrenérgicos 27 mediado por receptores α1 e pode haver hiperemia de rebote após o uso desses agentes. Além disso, o uso tópico repetido de concentrações altas do fármaco pode resultar em alterações isquêmicas nas membranas das mucosas em função da vasoconstrição de artérias nutrientes. Devem ser utilizados com cautela em pacientes hipertensos e não devem ser utilizados em pacientes que estejam usando inibidores da monoaminoxidase (IMAO). Agonistas adrenérgicos indiretos Eles podem ter 2 mecanismos de ação: No primeiro, podem entrar na terminação nervosa simpática e deslocar a noradrenalina que está armazenada dentro de vesículas nos neurônios, aumentando a sua liberação. Esses fármacos têm sido chamados de semelhantes à anfetamina ou “deslocadores”. No segundo, podem inibir a recaptação da noradrenalina liberada por interferência com a ação do transportador de norepinefrina (NET), como faz a cocaína e os antidepressivos tricíclicos. Agonistas Adrenérgicos 28 → Anfetamina É uma mistura racêmica de fenilisopropilamina e é importante por causa do seu uso como estimulante do SNC. Em termos farmacocinéticos é semelhante à efedrina, mas entra no SNC ainda mais rapidamente, exercendo efeitos estimulantes mais acentuados sobre o humor e o estado de alerta, além de um efeito depressivo sobre o apetite. O seu isômero D é mais potente que o seu isômero L. As anfetaminas causam elevação do humor (euforia), o que é base para o uso abusivo disseminado desse grupo de fármacos. Também tem ação de vigília Agonistas Adrenérgicos 29 (posterga o sono) e isso se manifesta por melhoria na atenção em tarefas repetitivas e por aceleração e dessincronização do eletroencefalograma. Efeitos no sistema cardiovascular: A anfetamina administrada por via oral eleva a pressão arterial tanto sistólica quanto diastólica. A frequência cardíaca muitas vezes diminui de modo reflexo, e podem ocorrer arritmias cardíacas com a administração de grandes doses. O débito cardíaco não aumenta com doses terapêuticas, e não se observa muita alteração no fluxo sanguíneo cerebral. O isômero l é ligeiramente mais potente do que o isômero d em suas ações cardiovasculares. Efeitos no sistema nervoso central: A anfetamina é uma das aminas simpaticomiméticas mais potentes na estimulação do SNC. Estimula o centro respiratório bulbar, reduz o grau de depressão central causado por várias substâncias e produz outros sinais de estimulação do SNC. Os efeitos psíquicos dependem da dose, do estado mental e da personalidade do indivíduo. Efeitos na analgesia: A anfetamina e algumas outras aminas simpaticomiméticas exercem um pequeno efeito analgésico, que não é pronunciado o suficiente para ser terapêticamente útil. Todavia, ela pode aumentar a analgesia produzida por opiáceos. Efeitos na respiração: A anfetamina estimula o centro respiratório, aumentando a frequência e a profundidade da respiração Efeitos na depressão do apetite: A anfetamina e substâncias semelhantes têm sido utilizadas no tratamento da obesidade, embora a racionalidade desse uso seja, quando muito, questionável. A perda de peso observada em seres humanos obesos tratados com anfetamina deve-se quase inteiramente a uma redução da ingestão de alimentos e, apenas em pequeno grau, a um aumento do metabolismo. O local de ação situa-se, provavelmente, no centro da fome no hipotálamo lateral. A sua injeção nessa área, mas não na região ventromedial, suprime a ingestão de alimentos. Os mecanismos neuroquímicos de ação não estão bem esclarecidos, mas podem envolver um aumento da liberação de NE e/ou DA. Nos seres humanos, verifica-se o rápido desenvolvimento de tolerância à supressão do apetite. Por conseguinte, não se observa habitualmente uma redução contínua do peso em indivíduos obesos sem restrição dietética. → Usos terapêuticos: Narcolepsia; A dextroanfetamina, com ação mais acentuada sobre o SNC e menor ação periférica, era utilizada contra a obesidade (entretanto, não é mais aprovada Agonistas Adrenérgicos 30 para esse propósito, devido ao risco de uso abusivo) e foi aprovada pelo FDA para o tratamento da narcolepsia e do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade → Efeitos adversos: Os efeitos tóxicos agudos da anfetamina constituem habitualmente extensões de suas ações terapêuticas e, em geral, resultam de superdosagem. Os efeitos sobre o SNC consistem comumente em inquietação, tontura, tremor, reflexos hiperativos, loquacidade, tensão, irritabilidade, fraqueza, insônia, febre e, algumas vezes, euforia. Ocorrem confusão, agressividade,alterações da libido, ansiedade, delírio, alucinações paranóicas, estados de pânico e tendências suicidas ou homicidas, sobretudo em pacientes com transtornos mentais. Todavia, esses efeitos psicóticos podem ser produzidos em qualquer indivíduo se forem ingeridas quantidades suficientes de anfetamina por um período prolongado. Em geral, a estimulação central é seguida de fadiga e depressão. Os efeitos cardiovasculares são comuns e incluem cefaléia, calafrios, palidez ou rubor, palpitações, arritmias cardíacas, dor anginosa, hipertensão ou hipotensão e colapso circulatório. Ocorre sudorese excessiva. Os sintomas gastrointestinais incluem boca seca, gosto metálico, anorexia, náuseas, vômitos, diarréia e cólicas abdominais. Em geral, a intoxicação fatal termina em convulsões e coma, e os principais achados patológicos consistem em hemorragias cerebrais. → Metanfetamina A metanfetamina (N-metilanfetamina) assemelha-se bastante à anfetamina, com uma proporção ainda mais alta de ações centrais do que periféricas. → Metilfenidato (conhecido como Ritalina) O metilfenidato é uma variante da anfetamina cujos principais efeitos farmacológicos e potencial de uso abusivo são similares aos da anfetamina. O metilfenidato pode ser efetivo em algumas crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). → Modafinila A modafinila é um psicoestimulante que difere da anfetamina em estrutura, perfil neuroquímico e efeitos comportamentais. Seu mecanismo de ação não é completamente conhecido. Ela inibe transportadores de norepinefrina e de dopamina, e aumenta as concentrações sinápticas não apenas de norepinefrina e dopamina, mas também de serotonina e glutamato, enquanto diminui os níveis de GABA. É usada para melhorar o estado de vigília na narcolepsia e algumas outras condições. Costuma ser associada a aumentos da pressão sanguínea e frequência cardíaca, embora esses efeitos sejam geralmente leves. Agonistas Adrenérgicos 31 → Tiramina A tiramina é um produto colateral do metabolismo da tirosina no corpo e pode ser produzida em altas concentrações de alimentos ricos em proteína por descarboxilação da tirosina durante a fermentação. É metabolizada de imediato pela MAO no fígado e é normalmente inativa quando ingerida por via oral, por causa de um efeito de primeira passagem muito alto, ou seja, baixa biodisponibilidade. Se administrada por via parenteral, tem ação simpatomimética indireta causada pela liberação de catecolaminas armazenadas. Em consequência, o espectro de ação da tiramina assemelha-se ao da norepinefrina. Em pacientes tratados com inibidores da MAO – em particular os inibidores da isoforma MAO-A, esse efeito da tiramina pode ser muito intensificado, levando a aumentos acentuados da pressão arterial. Isso ocorre por causa da biodisponibilidade aumentada da tiramina e estoques neuronais aumentados de catecolaminas. ❗ Pacientes tomando inibidores da MAO devem evitar alimentos contendo tiramina (queijo envelhecido, carnes curadas e alimentos em conserva). → Inibidores da recaptação de noradrenalina (NET) Muitos antidepressivos, em particular os tricíclicos mais antigos, podeminibir a recaptação de norepinefrina e serotonina em graus diferentes. Alguns antidepressivos dessa classe, sobretudo a imipramina, induzem hipotensão ortostática, presumivelmente por seu efeito similar ao da clonidina, ou por bloqueio de receptores α1, mas o mecanismo permanece obscuro. A cocaína é um anestésico local com ação simpaticomimética periférica que resulta da inibição da recaptação de noradrenalina nas sinapses. Ela penetra no SNC e produz um efeito psicológico semelhante à anfetamina com duração de ação mais curta porém com efeito mais intenso. Sua principal ação no sistema nervoso central é inibir a recaptação de dopamina em neurônios no centro do prazer e isso tem feito a cocaína ser uma droga de abuso muito utilizada. Agonistas Adrenérgicos 32
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