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W BA 13 08 _V 1. 0 FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO 2 Vinicius Del Fiol Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Conrado Hernandes de Oliveira Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Fiol, Vinicius Del Ferramentas da comunicação/ Vinicius Del Fiol, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 32 p. ISBN 978-65-5903-347-8 1. Comunicação organizacional. 2. Softwares. 3. Estratégias comunicacionais. I. Título CDD 153.6 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 F517f © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 A importância do mapeamento de dados: novas práticas na comunicação organizacional _________________________________ 07 O potencial e os novos dilemas dos novos canais de comunicação ________________________________________________ 20 Reflexão sobre o ambiente da Comunicação 5.0: produzindo conteúdo para as mídias digitais ____________________________ 32 Pesquisa e análise de dados: a gestão do conhecimento no ambiente corporativo _______________________________________ 45 FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO 5 Apresentação da disciplina Nesta disciplina, você entenderá quais são as principais ferramentas e estratégias comunicacionais que podem ser desenvolvidas no ambiente empresarial. As mudanças ocorridas recentemente no mercado de trabalho destacaram ainda mais a importância da comunicação nas empresas, e novas modalidades de trabalho necessitam maior engajamento e comprometimento de seus colaboradores. Entre as mudanças recentes, você descobrirá como as empresas definem a palavra “colaborador”. Discutiremos sobre os modelos de contratação e veremos como a prestação de serviços e o contrato via terceiros (cooperativas, por exemplo) foram a solução para manter a empregabilidade em situações de crise. Os novos formatos de contrato dispensam colaboradores e empresas de certas formalidades e compromissos. Assim sendo, o engajamento precisa ir além de um contrato de trabalho baseado em objetivos e metas. Este é o ponto principal de discussão desta disciplina: a importância da comunicação, vínculo essencial entre as empresas e seus colaboradores e prestadores de serviço. Em ambientes de trabalho tradicional, a constituição de uma cultura organizacional acontece de forma orgânica. As pessoas trabalham juntas em departamentos interdependentes, conversam, trocam impressões e criam vínculos. Contratações temporárias ou sem vínculo direto dificultam a sensação de comprometimento e pertencimento. A comunicação entra em nossa discussão como elemento essencial para estabelecer vínculo e nivelar expectativas entre os colaboradores. É 6 muito importante que de alguma forma a empresa consiga estabelecer um processo de engajamento e vínculo com seus trabalhadores. E não é pela certeza do cumprimento da tarefa – afinal, isso está em termos contratuais –, mas sobretudo para que as atividades mantenham um nível de excelência e compromisso. O ambiente corporativo no cenário contemporâneo se pulverizou, deixou de ocupar andares inteiros ou até mesmo prédios comerciais, se deslocando para espaços que outrora eram exclusivamente domésticos. As ferramentas de comunicação disponíveis no ambiente tradicional de trabalho não puderam acompanhar a migração da mão de obra. Os meios de comunicação usados para atividades outras (como entretenimento) passaram a compor o novo pacote de instrumentos de comunicação organizacional. Assim, o objetivo principal desta disciplina é entender esse processo e as prováveis mudanças que estão ainda por vir. O estudo está dividido em videoaulas acompanhadas de textos e indicação de estudo (artigos, e-books, vídeos e filmes). A disciplina conta, também, com podcast e materiais complementares. Seu conhecimento será verificado através de questões de múltipla escolha. Vamos começar nossa jornada? 7 A importância do mapeamento de dados: novas práticas na comunicação organizacional Autoria: Vinicius Del Fiol Leitura crítica: Conrado Hernandes de Oliveira Objetivos • Entender os novos valores da comunicação organizacional. • Apresentar as principais estratégias de engajamento e persuasão. • Descrever as principais ferramentas de comunicação e gestão da informação. 8 1. Estratégias de comunicação A argumentação foi até há pouco tempo a principal característica e estratégia de uma comunicação persuasiva. O formato da mensagem, evidentemente, tem importância, mas sobretudo a tessitura que os elementos argumentativos engendram entre si. A proposta deste texto é pensarmos como as estratégias de engajamento foram alteradas conforme o ambiente social e corporativo em que as pessoas estão inseridas. Voltemo-nos agora ao entendimento da problemática sugerida: como a forma da comunicação passou a ter mais peso do que a estratégia discursiva. A força do argumento está na ordenação lógica das ideias. O convencimento ou a assertividade ocorre quando as ideias vão engendrando um todo coeso. Em outras palavras, a força da argumentação está na construção de uma ideia ou conceito. A escolha das palavras e conceitos compõe um ordenado que guiará o interlocutor a uma conclusão, independentemente de sua aceitação ou refutação. A questão proposta aqui é o processo de composição e articulação. A comunicação no mundo contemporâneo se tornou mais objetiva, e a construção de uma ideia ou conceito abriu espaço para uma fala assertiva. A rapidez com que lidamos com as comunicações que recebemos impede a fruição da capacidade argumentativa, pois precisamos chegar direto ao ponto. A força da comunicação no contexto contemporâneo, entretanto, depende muito mais da repercussão e dos sentimentos que desperta. A determinação básica de uma comunicação deixou de ter a negociação de ideias como aspecto principal, e a geração de reações e o compartilhamento ganharam maior destaque e foco no processo comunicacional. A mudança que observamos teve como impulso, em grande medida, as tecnologias da comunicação, principalmente aquelas ligadas ao processo 9 de inteligência artificial, ou seja, à resposta automatizada gerada por mecanismos e meios de comunicação na era digital. Os dispositivos criados para mapear, filtrar e conduzir o processo comunicacional nas mídias sociais compreendem, sobretudo, a audiência e as reações a determinado conteúdo. Por mais sofisticada que seja a tecnologia de inteligência artificial contemporânea, a máquina continua incapaz de reconhecer e lidar com o conteúdo da comunicação. O que pretendemos discutir é a mensagem, a intenção, a expressão e o sentido de determinada comunicação. A máquina, evidentemente, é capazde lidar com a composição dos códigos e signos das mensagens, mas ainda não consegue abstrair o sentimento que a mensagem pretende transmitir. Desta forma, os dispositivos criados pelas mídias sociais ajudam nesse processo. As reações previstas pelas redes de comunicação, tais como likes e emojis, ajudam as máquinas a classificarem os sentimentos e reações que determinada comunicação desperta. Essas estratégias mais simples, destinadas a “ensinar” as máquinas, são acompanhadas por desenvolvimento de programas mais sofisticados. Algoritmos de sistemas de busca são retroalimentados pelos próprios usuários, e isso significa que ensinamos as máquinas a se comunicarem conosco. Este cenário, certamente, não é nenhuma novidade se considerarmos as mídias sociais. Porém, essa capacidade de resposta das máquinas está, já há algum tempo, sendo utilizada para mapeamento da comunicação organizacional e, principalmente, na definição das personas que as empresas buscam para compor seus quadros de colaboradores. A reunião por semelhança de responsividade à comunicação é o foco de plataformas que assessoram empresas no processo de busca e contratação de colaboradores. O funcionamento desses dispositivos não difere muito dos algoritmos utilizados em sistemas de busca de streaming e mídias sociais. A reação a determinadas mensagens e estímulos é o material para construir as personas e agrupar as similaridades de personalidades. É o que percebemos em processos de seleção que envolvem a inteligência artificial: o sistema constrói 10 tipologias de pessoas, buscando descrever habilidades comportamentais e atitudes responsivas a determinados estímulos ou situações. A segmentação do público interno de uma empresa ajuda no processo de gestão da comunicação organizacional, pois, conforme os agrupamentos por competências e habilidades, é possível criar conteúdos de interesse. De certa forma, essa prática tende a mitigar conflitos internos, por conta da similaridade dos grupos de trabalho. Embates em torno de entendimento e respostas a uma comunicação ou determinação são, certamente, minorados. Os grupos homogêneos tendem a não desenvolver conflitos e atritos e facilitam o processo de onboarding de novos colaboradores. O quadro que descrevemos permite uma gestão menos conflituosa e mais harmônica, de modo que o esforço de nivelamento é certamente reduzido. Entretanto, vale refletir sobre a contrapartida desse quadro organizacional. A coesão entre os grupos pode dificultar a integração entre diferentes setores ou níveis organizacionais. O ganho da redução de esforço na gestão comunicacional de uma equipe pode gerar esforço quando pensamos em time, quando as diferentes competências e habilidades são colocadas em relação. A diferença de percepção e de urgência gerará, certamente, um empenho na gestão da comunicação entre áreas. Partindo da discussão proposta anteriormente, podemos considerar a empresa como um sistema, ou seja, um conjunto de elementos interdependentes em interação, com determinação em atingir um objetivo comum ou uma meta. Como elementos constituintes desse sistema, entendemos que colaboradores, clientes, stakeholders, tecnologia, dados, tecnologia e comunicação, interagindo entre si, procuram atingir objetivos comuns. De uma forma ou de outra, existe uma interação entre as partes, de acordo com as diretrizes gerais da empresa, para alcançar os objetivos propostos. Neste ponto de nossa discussão, vale mencionarmos a fundamental importância da comunicação no ambiente corporativo, como elemento 11 de conformação e gestão relacional. Entenderemos a comunicação como a materialização de ideias e processos em uma empresa, a consolidação de um conceito abstrato em um todo coeso que precisará ser recebido e compreendido praticamente de forma muito parecida. Preferencialmente, isso é feito sem muita margem para interpretações, de modo que a criatividade e o ponto de vista ficam restritos ao conteúdo ou estímulo suscitado pela comunicação. No entanto, a recepção da comunicação deverá, sempre que possível, ser virtualmente neutra em possibilidades interpretativas. 2. Comunicação e engajamento O cenário descrito certamente parece ter saído de manuais antigos de administração empresarial, principalmente em relação ao ponto de conformidade da comunicação. Com a massificação do uso da tecnologia, particularmente da tecnologia de informação proveniente dos bancos de dados das empresas, há a necessidade de que as pessoas que atuam nas organizações e delas fazem parte sejam estimuladas no processo participativo da comunicação – não necessariamente na produção desta, mas, sobretudo, no acesso à informação. Os times de colaboradores precisam acompanhar a troca de comunicação, no intuito de evitar conflitos por conta da ausência de diretrizes, o que poderia levar, em alguns casos, a um elevado grau de desmotivação. Em ambientes empresariais, principalmente, informação representa poder e tranquilidade para ações e processos decisórios. Por este motivo, a divulgação da comunicação organizacional deve ser estimulada. Cabe, no entanto, considerar qual tipo de comunicação é mais adequado a cada time. Muito embora pareça um contrassenso, a adequação e o conteúdo da comunicação são fatores que precisam de cuidado e estudo. Tanto a falta como o excesso de informação podem 12 resultar em possibilidades interpretativas e, por fim, ruído no processo interno de uma corporação. A comunicação empresarial, por definição, serve como base para as funções de planejamento, controle e tomada de decisão. Partindo desta premissa, entenderemos seu papel como elemento de integração e engajamento em ambientes corporativos. Ela desempenha, entre múltiplos papéis, o de elemento integrador e nivelador de expectativas. De maneira figurada, vamos entender a empresa como um organismo que necessita de regulagem e energia para bem funcionar. Os órgãos, para trabalharem de forma uníssona, necessitam de um elemento que transite entre eles e promova integração, fluxo e troca. Pensando em um organismo, imaginemos o fluxo sanguíneo, essencial para “alimentar” todos os departamentos (no nosso exemplo, órgãos), mantendo um fluxo constante de trocas e dependência. Permanecendo com esta ideia, pensemos agora na regulação dos órgãos. O fluxo nutritivo (a comunicação) nivelará as expectativas e estabelecerá, de forma quase natural, a sensação de integração e interdependência. [...] sistema organizacional se viabiliza graças ao sistema de comunicação nele existente, que permitirá sua contínua realimentação e sua sobrevivência. Caso contrário, entrará num processo de entropia e morte. Daí a imprescindibilidade da comunicação para uma organização social. (KUNSCH, 2002, p. 69) O sistema de comunicação é essencial para o processamento das funções e, principalmente, do relacionamento dos órgãos (departamentos) com os demais departamentos, e até mesmo com o meio externo. Neste contexto, a comunicação que se processa em uma organização possibilita a gestão do ambiente corporativo, por meio de uma confluência de fluxos e interesses. A comunicação interna é uma ferramenta estratégica para compatibilização dos interesses dos empregados e da empresa, por meio 13 do estímulo ao diálogo, à troca de informações e de experiências e à participação de todos os níveis. (KUNSCH, 2002, p. 150) A comunicação no ambiente corporativo é responsável pela criação e pelo estímulo da identidade da organização. Desta forma, tem entre suas diversas funções a missão de engajar e regular o fluxo interno. Se voltarmos à ideia de organismo, pensemos em um órgão isolado do processo comunicacional, privado dos “nutrientes” necessários para seu funcionamento. Evidentemente, ele passará a operar de forma desregulada e pouco producente, podendo até mesmo prejudicar outros órgãos (departamentos) pela ausência do compartilhamento da comunicação. [...] a comunicação torna-se umdos papéis ou capacidades do planejamento para que todos na organização – e aqueles públicos externos que a interessam – conheçam sua estratégia e posicionamento. Internamente, a comunicação, enquanto um papel do planejamento, também é imprescindível: por meio dela, os empregados sabem o que precisam fazer para que as intenções estratégicas sejam concretizadas. (KUNSCH, 2002, p. 168) A comunicação desempenha importante papel norteador e nivelador. As empresas do passado costumavam, por conta de pontos de vista, negligenciar informações, com receio dos “pequenos poderes” na corporação. Ou seja, havia o hábito de reter partes da comunicação como estratégia para impedir o conhecimento total da informação. Desta forma, por receio, os colaboradores poderiam se sentir sem autonomia para tomada de decisões. Hoje, no entanto, entendemos que essa prática está cada vez mais em desuso, principalmente se considerarmos os modelos híbridos e de trabalho remoto. Nestes casos, a comunicação é fator determinante para o sucesso da empresa. A ausência do presencial é suprida por reuniões periódicas de engajamento e feedback. No modelo presencial, o simples ato de estar diante do outro dava a impressão de sintonia. O modelo de trabalho remoto, por sua vez, ajudou a evidenciar um problema que parecia não existir: a falta de engajamento das equipes. 14 3. Comunicação e engajamento As mídias sociais foram ressignificadas no ambiente corporativo contemporâneo. Para os colaboradores de uma empresa, suas redes sociais, hoje, vão além de simples interação pessoal, compartilhamento de opiniões e publicidade. Elas se transformaram em elemento de integração entre a empresa e os colegas de trabalho. A pulverização do ambiente corporativo nas redes ampliou os domínios da empresa e, também, os inputs com colaboradores e stakeholders. O ser humano sempre foi social, mas o novo contexto empresarial, mediado por mídias sociais, levou essa nossa tendência a um passo além. As empresas precisam adotar tecnologias sociais no contato direto com os colaboradores e o público externo, bem como nos processos de back-end. O uso interno das ferramentas sociais facilita a comunicação entre os colaboradores e possibilita o compartilhamento de conhecimentos que estimulam a colaboração. As tecnologias se tornam mais desejáveis quando permitem e promovem a conexão social. A tecnologia facilita o compartilhamento das experiências e informações através de grupos, blogs, fóruns e wikis, por exemplo. É muito comum hoje nas empresas os grupos departamentais utilizarem canais de WhatsApp, algo que até pouco tempo atrás era considerado pouco formal ou, até mesmo, improvável em ambientes corporativos, principalmente pela falta de formalidade na comunicação. Este é outro ponto fundamental na gestão comunicacional: a formalidade nos canais de comunicação, estratificação que sempre houve, como evitar o uso de uma linguagem mais coloquial em textos de e-mail, por exemplo. Essa regra ainda é vigente, porém a troca de mensagens hoje não está limitada a canais formais e informais. Na verdade, essa separação é bem tênue no ambiente corporativo contemporâneo. Ferramentas que foram criadas com determinações lúdicas hoje são aparatos de trabalho. O Discord é um bom exemplo disso. Essa ferramenta de 15 comunicação foi, originalmente, pensada para o universo dos gamers, e possui uma estrutura bastante lúdica e interativa, além de permitir o fácil compartilhamento de informações e de telas, sem que seja preciso sair da aplicação ou abrir outra ferramenta. Figura 1 – Discord Fonte: Shutterstock. Esta ferramenta começou a ser usada em ambientes corporativos do segmento de tecnologia, principalmente por conta do perfil dos colaboradores. O uso corporativo evidenciou possibilidades novas para o Discord. Os grupos que poderiam ser criados nesta ferramenta para organizar times de oponentes em partidas de games, permitiram dispor os colaboradores por departamentos. A aplicabilidade que deveria organizar partidas entre jogadores e grupos por pontuação, hoje permite que colaboradores se estruturem em departamentos virtuais. As salas de discussão, eminentemente usadas para dicas e estratégias de jogo, se transformaram em salas de reunião virtual. A adaptação da ferramenta ao universo empresarial mostra a força e a necessidade de a comunicação ser pensada de forma estratégia e adaptativa ao novo contexto dos colaboradores. Outras aplicações da tecnologia nos ambientes de trabalho também podem alavancar o desejo dos colaboradores em estreitar a conexão social no meio corporativo. 16 As conversas e trocas de informação podem ser expandidas, não apenas entre empresas e clientes, mas entre os próprios membros da empresa. O modelo de crowdsourcing1 é um exemplo de como a tecnologia conecta e faz com que pessoas colaborem com a troca de diferentes habilidades e competências. A empresa não tem mais barreira física, e desta forma o processo de troca é estimulado e menos percebido. Ou seja, a troca de experiências acontece de forma mais natural e fluida. A possibilidade do uso de mídias sociais para encontrar as melhores soluções para determinado problema fez com que os colaboradores perdessem o receio de partilhar informações. O benchmarking, troca de descobertas e soluções, que gerava tanto receio entre as empresas, se tornou um processo relativamente comum. As descobertas de novas soluções permaneciam em âmbito restrito e interno, e o compartilhamento dessas ideias poderia gerar sanções. O ambiente atual, permeado pelas mídias sociais, dificulta o controle de reter informações. Pensemos em um colaborador em sistema home office, diante de uma dificuldade ou dúvida na execução de uma atividade. Em um primeiro momento, ele solicitará o auxílio de algum colega ou da liderança direta. A demora na resposta, seja por demanda de atividades, seja por divergências nas prioridades, certamente poderá causar sensação de improdutividade. Desta forma, não seria incomum este colaborador usar redes sociais como possibilidade de buscar soluções para resolver a atividade que está sob sua responsabilidade. Conteúdo não é mera tendência, mas uma estratégia efetiva que define uma nova forma de comunicação [...], as empresas que quiserem se 1 Este termo pode ser entendido como compartilhamento de ideias, conteúdos e serviços através de comunidades online. Inicialmente designava, principalmente, a troca de experiências de consumo. A palavra hoje abarca também o significado de tarefas coletivas, aquelas que demandam muito esforço ou são consideradas tediosas ou de difícil execução. Desta forma, o trabalho é dividido entre as equipes de trabalho. O crowdsourcing não tem relação com o processo de terceirização, pois o trabalho pode ser executado por um grupo indefinido, em vez de ser contratado por uma empresa especialista em determinado tipo de solução. Pessoas com conhecimento específico se unem para resolver determinada tarefa ou superar uma dificuldade. Nesta prática, o conhecimento é compartilhado inclusive com pessoas de fora da empresa. 17 estabelecer no mercado, precisam buscar novas aproximações para atenderem as demandas de seus nichos. (REZ, 2016, p. 34-35) O avanço da influência social impõe para as empresas uma preocupação que vai além do comércio de produtos e da gestão de colaboradores. A tecnologia se tornou uma forte ferramenta de modificação comportamental que impulsiona o ativismo digital e, em consequência, a transformação nas relações de trabalho. Isso ocorre principalmente pelo senso de coletivismo, uma vez que as distâncias geográfica e departamental não são mais um problema a ser considerado. [...] a inteligência coletiva refere-se a essa capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus membros. O que não podemos saber ou fazer sozinhos, agora podemos fazer coletivamente [...] a nova cultura do conhecimento surge ao mesmo tempoem que nossos vínculos com antigas formas de comunidade social estão se rompendo. (JENKINS, 2006, p. 56) O grau de preparo para a digitalização é o que ditará as estratégias de comunicação no ambiente corporativo atual. Por isso, é essencial a definição de ferramentas e formas de uso para elas. No exemplo mencionado, o uso do Discord no ambiente corporativo demonstra uma, praticamente, total integração da ferramenta lúdica com o universo corporativo, sem, no entanto, exigir mudanças na ferramenta. A adaptação de soluções desenhadas para outras utilidades e que podem estimular o engajamento de pessoas no ambiente corporativo deve ser o foco de uma empresa e seus gestores. A flexibilidade para abraçar ferramentas da era das mídias sociais é determinante para o sucesso de uma empresa e, principalmente, o engajamento de times. O compartilhamento de informação é fundamental para o processo de construção de uma equipe coesa e alinhada. No entanto, esse processo evoluiu para a construção do conhecimento. As soluções e a resolução não estão mais centradas em um único indivíduo. O papel do líder hoje é estimular e gerir o processo 18 de troca informacional, estabelecendo metodologias para a condução da comunicação na promoção de soluções de problemas. O maior impacto da inclusão das mídias sociais no ambiente corporativo está na necessidade constante de feedback, no nivelamento das expectativas e no mapeamento de possíveis interpretações equivocadas da informação. Apesar de criarem um ambiente colaborativo, as mídias digitais impuseram necessidades, como bem postulou Henry Jenkins (2006, p. 34): “apenas certas coisas são do conhecimento de todos, coisas de que a comunidade precisa para sustentar sua existência e alcançar seus objetivos”. Esta é uma questão paradigmática, pois envolve uma reflexão sobre regras de compartilhamento. Em suma, a reintegração à antiga empresa departamentalizada no contexto das mídias sociais. Neste ponto, é importante registrar a necessidade de estratégias gerenciais em processos de engajamento. Mesmo em ambientes altamente colaborativos, há a necessidade de estabelecer parâmetros comportamentais. As avaliações e reuniões de alinhamento devem ser uma rotina muito tranquila para as novas empresas e seus colaboradores. O exercício do feedback não pode mais se restringir a apresentação de planilhas e negociações de prazo. Essas reuniões são momentos cruciais para identificar o sentimento geral de uma equipe, reconhecer seus padrões de comportamento e entender a responsividade de seus membros. Pensemos em uma empresa que trabalhe nos antigos moldes de atividade presencial. Mesmo estando no mesmo ambiente, os colaboradores eram separados por estações de trabalho e departamentos. Se neste ambiente não era incomum encontrar pessoas desmotivadas por não se sentirem integradas, imagine como seria em um ambiente virtual. Tudo precisa ser considerado, inclusive os instrumentos básicos de trabalho, como acesso à rede de internet (pensemos em um colaborador sem uma boa conectividade). Os desafios e paradigmas dos novos ambientes corporativos estão colocando na comunicação empresarial uma responsabilidade jamais 19 vista. As empresas devem entender que o ser humano é único, dotado de uma capacidade cognitiva sem comparativos. Somos capazes de tomar decisões difíceis e resolver problemas complexos. No entanto, o mais importante é que somos capazes de aprender com a experiência e que esse novo paradigma da comunicação está exigindo novas formas de lidar com os processos estabelecidos. Referências ANDERSON, C. A cauda longa. São Paulo: Editora Campus, 2006. JENKINS, H. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2006. KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 2. ed. São Paulo: Summus, 2002. MORAIS, F. Planejamento estratégico digital. São Paulo: Saraiva, 2015. REZ, R. Marketing de conteúdo – a moeda do século XXI. 7. ed. São Paulo: DVS Editora, 2016. 20 O potencial e os novos dilemas dos novos canais de comunicação Autoria: Vinicius Del Fiol Leitura crítica: Conrado Hernandes de Oliveira Objetivos • Entender as características principais dos meios de comunicação. • Dominar a prática da produção de conteúdo para o atual ambiente corporativo. • Saber identificar as principais causas de ruído na comunicação. 21 1. A comunicação empresarial A necessidade de comunicar é nata do ser humano, faz parte do processo de socialização, integração e evolução do conhecimento. Partilhar é um sentimento praticamente instintivo, já que, quando descobrimos e aprendemos algo, a reação seguinte é partilhar essa novidade. No entanto, sabemos que transformar ideias e conhecimento em comunicação não é tarefa tão simples, mas envolve uma série de saberes, como a escolha da melhor e mais assertiva forma de transformar o abstrato (pensamento) em um sensível concreto (comunicação/mensagem). A tarefa inicial é escolher eficazmente o meio e a forma de exprimir uma ideia. O passo seguinte é entender o repertório de nosso interlocutor, ou seja, seu conhecimento prévio, repertório e valores. É preciso adequação do discurso, independentemente do meio utilizado, e saber o que o destinatário já sabe, pois a redundância pode ser um impeditivo para a eficácia do processo. Por fim, são necessários valores que envolvem crenças, expectativas e disparadores para tomada de ação. Resumidamente, você estudará apenas alguns dos principais questionamentos de um processo comunicacional simples. As questões apresentadas são elementares quando queremos nos expressar de forma assertiva, objetiva e influente. A comunicação empresarial envolve estes questionamentos e outra série de preocupações e formalidades. A comunicação é a base do processo administrativo e precisa ser, antes de tudo, planejada. Entre os objetivos primordiais da comunicação empresarial, podemos considerar a motivação e integração do público interno. Estabelecer um clima de pertencimento e de estabilidade, mesmo quando o momento for de crise latente, é fundamental, pois o clima positivo desvia o foco do problema e o direciona para soluções e ideias. A comunicação empresarial é responsável, também, por agilizar processos de tomada de decisão, engajamento e busca de soluções. Uma equipe 22 integrada divide conhecimentos, distribui bem as tarefas e colabora assertivamente na busca de soluções. [...] a comunicação empresarial integrada significa todo o esforço de trabalhar toda a comunicação da organização (interna, institucional e de marketing) de forma planejada e integrada. Não existe mais espaço para ações fragmentadas de comunicação. Todos os públicos de interesse da organização devem não só estar à parte, mas também participar do processo de comunicação. (TAVARES, 2009, p. 13) A história das organizações tem demonstrado que os problemas de comunicação são os principais responsáveis pela maior parte dos erros operacionais, desacertos de gestão e conflitos interpessoais. Fatores subjetivos, atitudes introvertidas e meras idiossincrasias geram problemas nos relacionamentos interpessoais e fazem empresas e departamentos perderem tempo nivelando o processo comunicacional para, em seguida, avançar nas atividades rotineiras e no cumprimento de objetivos. É importante dar atenção aos filtros, os quais podem ser meras questões interpretativas ou descompasso de repertório. Ou seja, podemos julgar, por vezes, que nosso interlocutor domina os mesmos conhecimentos que nós. Outro equívoco comum é o descompasso na escolha do tipo de discurso. Pessoas, embora pertencentes à mesma cultura, têm experiências e saberes singulares e que devem ser considerados. A comunicação é o fio condutor das atividades: transmite segurança, alinha processos e é determinante no cumprimento de objetivos empresariais. [...] a motivação é representada pelas atitudes dos funcionários. Gerenciar as atitudes dos funcionários significamotivá-los de forma planejada. O planejamento para as ações de motivação é fundamental para que a constância seja garantida. (TAVARES, 2009, p. 19-20) A eficácia na comunicação não prevê uma fórmula específica ou roteiro a ser definido. As questões apresentadas são, sem dúvidas, fundamentais para uma comunicação bem-sucedida. Outro fator de suma importância 23 é a devolutiva (em termos empresariais, o feedback), responsável pela apuração e verificação dos resultados obtidos na transmissão da mensagem, em relação os objetivos iniciais. O feedback não deve ser confundido com crítica ou correção de um processo, mas, sobretudo, consiste em entender como a comunicação chegou e foi interpretada pelo destinatário. A maior dificuldade nesse processo é saber ouvir sem interferir ou conduzir o discurso. Esse momento é de suma importância, pois determinará a forma e o conteúdo de novas mensagens. A cultura da empresa, nesse ponto, é crucial. Se o retorno e nivelamento de expectativas é hábito corrente, certamente não será interpretado equivocadamente, tampouco gerará receio e insegurança. Desta forma, o tom dessa conversa não deve ser para nenhuma das partes uma disputa de pontos de vista, mas um processo claro e objetivo cujo propósito é esclarecer pontos, rever processos e adequar expectativas. A boa comunicação começa pela organização das ideias. Antes de emitir qualquer pensamento, a dica é organizar e estabelecer um escalonamento de prioridades, bem como deixar claro o que se deseja que os receptores absorvam e entendam. Note neste ponto que existe a preocupação com o outro. Por mais planejada que seja nossa emissão, devemos ter sempre em vista que a mensagem certamente passará por uma interpretação. O discurso organizado e com ideias concatenadas tem menor chance de ser equivocadamente interpretado. O reforço da ideia ou objetivo principal é necessário, porém não deve ser exaustivamente repetitivo, já que a redundância pode gerar efeito contrário. A insistência em um ponto pode ser fator de desconfiança e motivo para contrariedades. Por esta razão, a prática constante da comunicação organizada e objetiva se faz necessária, principalmente para mensurarmos e avaliarmos nossas ações. Por vezes podemos, equivocadamente, nos considerar claros e objetivos, mas a verdade pode ser outra. Isso é razão suficiente para organizarmos sempre nossos pensamentos, estabelecendo um procedimento de prioridades e sobretudo sabendo ouvir e receber o retorno de nossa comunicação. 24 O erro não é ser assertivo em plenitude, mas é, certamente, não ter a faculdade de ouvir e rever o processo de comunicação. Ajustes fazem parte do processo e demonstram interesse e preocupação com o interlocutor. A boa comunicação é aquela que tem preocupação maior em ser integradora do que assertiva. A percepção de pertencimento e cuidado com o outro é fator essencial para a escuta ativa, quando o outro se predispõe a ouvir e se preocupa em entender. Em comunicação, não existe o erro absoluto, porém é necessário acertar o tom logo de início e ser prontamente claro sobre o que se quer dizer, ou não haverá engajamento com o interlocutor. 2. Comunicação e engajamento A comunicação, conforme você estudou anteriormente, depende da adequação e organização da mensagem. Certamente estes são dois aspectos fundamentais para a eficácia e o engajamento, no entanto a construção estratégica do discurso pode cair por terra se o canal utilizado não for adequado. A escolha e adequação de um canal não deve ser baseada em sua audiência. O fato de todos os colaboradores terem um e-mail corporativo não significa que darão a devida atenção ao conteúdo transmitido através dele. Acesso às mídias sociais também não é garantia; pelo contrário, a informalidade destes meios pode tirar da mensagem o seu teor de importância. Os canais de comunicação podem, certamente, interferir diretamente na interpretação (ou reinterpretação) do conteúdo. [...] são visíveis e apreciáveis as diferenças técnicas entre os canais de comunicação. Uns são tempestivos (como os e-mails), rápidos (como boletins noticiosos), simultâneos (como conversas pessoais ou telefônicas) [...] alguns permitem ampla visibilidade, difusão e sentido de atração; outros são seletivos, destinando-se a receptores específicos e privilegiados. (TORQUATO, 2002, p. 43) 25 A seleção do canal permitirá, além da adequação da mensagem, a escolha dos interlocutores. Muito embora a comunicação deva ser estimulada em ambientes corporativos, pois, desta forma, promove a integração e o nivelamento das expectativas, existem assuntos ou temas que precisam de um direcionamento. Determinados assuntos estratégicos precisam de contextualização para sua correta compreensão e, principalmente, de um meio adequado. Um comunicado do departamento de recursos humanos (também conhecido como capital humano ou gestão de pessoas, como algumas empresas preferem) não pode ser feito despretensiosamente em um grupo da empresa. Os motivos são vários, mas dois são os principais. O primeiro é que essa comunicação pode se perder em meio à troca de mensagens, muitas delas certamente despretensiosas e corriqueiras. O segundo motivo, e o mais sério, é o rebaixamento da comunicação de caráter oficial a uma simples conversa departamental. Isso sem mencionar outras questões que podemos elencar, como a impressão de que tal comunicado é um pedido de sugestões – neste caso, interpretações e reivindicações certamente surgirão. As empresas estão usando diversas estratégias de comunicação e apostando nos formatos, uma vez que os meios disponíveis não são tantos. Alguns até caíram em desuso, como o jornal corporativo – em algumas corporações havia, inclusive, a versão impressa. A difusão das mídias sociais no ambiente corporativo, bem como o trabalho home office, descontinuaram praticamente qualquer formato de comunicação impressa. Os poucos resquícios que ainda restam são os códigos QRs1 que algumas empresas disponibilizam, pondo fim ao pouco eficaz quadro de avisos. Os meios digitais potencializaram a comunicação, mas, assim como no mundo fora das corporações, poluíram o ambiente com mensagens desnecessárias e, em casos mais graves, inverídicas. Da mesma forma que testemunhamos em nossas 1 O QR é um código de barras biométrico ou bidimensional que pode ser escaneado pela câmera de um telefone celular. Através dessa leitura, o usuário é direcionado diretamente ao site da empresa, link de pesquisa, regulamento de promoções, entre outros. Foi criado pela empresa japonesa Denso Wave, em 1994, e hoje é amplamente utilizado por conta da facilidade e rapidez que oferece. 26 redes sociais a proliferação de comunicação redundante e muitas vezes falaciosa, as empresas também enfrentam essa questão. Pensemos nos grupos de WhatsApp, que são muito eficientes como meios de integrar um departamento ou grupo de trabalho, mas devem ter regras claras de uso, que não incluem necessariamente a unilateralidade da comunicação – em outras palavras, a impossibilidade de postar mensagens, prerrogativa exclusiva de um administrador. Em grupos familiares, impomos algumas regrinhas de etiqueta, as quais valem também em ambientes corporativos. Nem todas as mensagens precisam de respostas, no entanto as pessoas se sentem compelidas a enviar algum tipo de devolutiva, como uma resposta ou um emoji, à comunicação. Desta forma, perde-se o foco, já que mensagens redundantes poluem o grupo com reiterações, e o cerne da discussão se perde. A administração dos meios de comunicação é premente no ambiente empresarial, mas não deve ser restritiva. No caso exposto anteriormente, a solução imediata, mas pouco popular e eficaz, seria restringir a postagem de respostas. A cultura e a etiqueta empresarial precisam ser trabalhadas com relação ao uso das mídias sociais no meio corporativo. Tomemos como exemplo o antigo quadro de avisos ou a caixa de sugestões que existiram nasempresas. Certamente, muitas pessoas se lembram desses dois mecanismos com certa aflição, principalmente pela desorganização da informação e falta de uniformidade. O mesmo acontece em um grupo de WhatsApp. Se não houver uma cultura de uso, esse recurso pode certamente ser mais confuso que os antigos meios citados. A solução não deve ser extremada nem é tão complicada, ela sai dos antigos impressos das empresas do passado. O design da comunicação é fundamental, o que significa dizer que o formato de cada conteúdo deve ser singular e específico. Veja um exemplo prático: pensemos em normativas da empresa. Elas podem ser divulgadas em grupos, desde que tenham um formato e uma adequação de linguagem que sejam capazes de destacar a comunicação e lhe conferir a devida seriedade. 27 Comunicados sobre conformidade à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) podem estar em um grupo de WhatsApp, em caso de se tratar de uma normativa geral, mas é preciso haver os devidos destaque e seriedade que o assunto convoca. Uma informação em formato de “pílula de conhecimento”, em linguagem direta e elucidativa, com um design que seja padrão para esse tipo de assunto, certamente será suficiente para que os membros do grupo entendam sua seriedade. Uma diretriz pode ter início com esse tipo de comunicação, mas certamente precisará de uma comunicação de apoio, como um e-mail explicativo ou uma publicação no portal da empresa. A informação é sempre uma boa aliada da empresa, pois permite clareza. Os colaboradores, quando alinhados, são mais propensos a agir assertivamente e demonstrar engajamento em relação à comunicação oficial e às normativas da empresa. 3. Comunicação e engajamento A entrada das mídias sociais nas empresas é um fato que, certamente, está longe de ser um problema. A questão complicada para o uso dos meios de comunicação em um ambiente corporativo está na oficialidade dos canais utilizados. Um grupo de conversa pode tranquilamente ser considerado um canal oficial para um departamento, desde que entre os usuários se estabeleçam regras claras de uso e do tipo de comunicação. Do contrário, o volume de informação redundante poderá desvirtuar o foco das mensagens que precisam de atenção. A retenção de atenção e o senso de prioridade são questões primordiais para o engajamento em determinada comunicação. Cada pessoa tem seus conhecimentos, suas crenças e sua capacidade de percepção, e a seleção dependerá dos elementos que ela considera importante. Neste contexto, a palavra valor tem relevância determinante. A seleção acontece, por vezes, simplesmente por estímulos visuais ou, em determinadas situações, por força da necessidade de se inteirar ou 28 adquirir certo conhecimento. O design tem papel fundamental neste ponto, sendo o fator responsável por conferir valor à mensagem. A forma é um elemento que comunica e engaja, fazendo com que valha a pena investir em um estudo dos valores da empresa e mapear as diferenças culturais existentes para entender como ter eficiência no mecanismo de retenção de atenção. Partilhamos os mesmos códigos para formarmos mensagens e comunicação, porém o arranjo que fazemos desses elementos é o que conferirá força à mensagem, a fim de garantir destaque e, principalmente, a decodificação exata. No entanto, trataremos aqui apenas do arranjo e da composição, deixando para discutir a decodificação posteriormente. A forma da mensagem é muito importante. Se ela é percebida de modo que a pessoa não se considere afrontada ou ameaçada em seu sistema de ideias, sentimentos e valores, a mensagem é facilmente incorporada ao seu repertório. Estar ou não propenso a receber determinado conteúdo depende muito do formato (design) da mensagem. A assertividade, ao mesmo tempo que é algo desejável, pode se tornar um problema. A familiaridade com o design da mensagem pode fazer com que ela passe quase que despercebida ou até mesmo seja incorporada sem a devida atenção ao conteúdo. O formato da comunicação é preocupação preponderante quando o canal utilizado é uma mídia social adaptada ao ambiente empresarial. Essa preocupação se justifica por conta de uma característica comum nos ambientes de redes sociais e que migrou para a esfera empresarial: a redundância de informações. Referimo-nos aqui ao compartilhamento de informações desnecessárias ou de conteúdo irrelevante, como saudações diárias, textos motivacionais (sem nenhum embasamento), imagens e textos humorísticos, entre outros. Estas mensagens acabam por gerar uma enormidade de volume desnecessário de comunicação, e as informações importantes podem passar despercebidas. Este é outro motivo pelo qual as empresas devem investir em diferentes formatos (uso do design) para conferir o destaque necessário às mensagens que precisam ser absorvidas. 29 4. Redução de incertezas A tendência contemporânea ao trabalho em sistema remoto trouxe novas preocupações ao ambiente corporativo. O uso de tecnologia para mediar a comunicação é prática conhecida, a novidade é o isolamento do colaborador na sua jornada laboral. O trabalho home office permitiu que as pessoas pudessem ganhar mais tempo para investir em outras atividades, como lazer ou conhecimento profissional. Outras vantagens podem ser elencadas, mas trataremos de um fator complicador e que precisa de atenção nesse modelo de trabalho: a frieza da comunicação. Por mais que as empresas se empenhem em criar dispositivos integradores, boa parte do trabalho acontece de forma mediada, sendo que entre o colaborador e a empresa existe apenas uma tela. Outros meios podem ser integrados, tais como celulares ou linhas telefônicas, porém o uso de ligações, principalmente pela rapidez e por questões econômicas, acaba também indo parar dentro dos computadores. Desta forma, voltamos novamente à mediação pela tela. Entre as questões que podem atrapalhar a eficiência da comunicação, a falta de interação é a que merece maior destaque. O motivo é a incerteza que determinadas comunicações podem gerar. A comunicação pode ser a mesma, mas os receptores possuem repertórios diferentes. No ambiente corporativo de trabalho presencial, quando uma dúvida surge, ela é quase imediatamente compartilhada, pois as pessoas se sentem mais à vontade para expor o entendimento que tiveram de determinada mensagem. Essa espontaneidade não acontece no ambiente home office. A troca de percepções, neste segundo caso, depende da intervenção de um meio de comunicação e precisa ser registrada de alguma forma. Pensemos em uma mensagem oficial comunicada em um grupo corporativo de WhatsApp. As pessoas dificilmente exporão sua percepção caso o teor da mensagem não seja claro. As trocas podem acontecer através de mensagens pessoais, porém com certa ressalva. A escrita tem em nossa cultura um peso 30 muito significativo, visto que toda mensagem escrita ganha valor de documento que pode ser verificado e auditado. A comunicação indica a qualidade de nossa participação, evidencia qual papel assumimos e impomos aos outros e revela nosso juízo e nossas expectativas diante de uma mensagem. Por esta razão, existe o receio de imprimir em uma mensagem a percepção pessoal suscitada por uma comunicação. Faltam estímulos à participação direta e objetiva, cabendo às lideranças o cumprimento dessa tarefa, ao estabelecerem procedimentos que estimulem as pessoas a expor pontos de vista e interpretações. A incerteza quanto ao conteúdo, certamente, resultará em perda de produtividade ou desestímulo ao trabalho. Em certos casos, há perda de energia com entregas equivocadas ou tempo mal investido e gasto na tentativa de compreender da forma mais acertada aquilo que foi comunicado. A convivência social em situações como a que descrevemos é fundamental para promover o alinhamento de equipes. Neste mesmo tema, outra variação interpretativa que merece destaque é o tom da mensagem. Em ambientes corporativos de trabalho presencial, a comunicação oralé muito usada, e a escrita é convocada sempre que já há o ensejo de documentar uma conversa ou solução negociada. Enfim, o coloquialismo tem maior preponderância nesses ambientes. No entanto, no modelo de trabalho home office, a escrita ganha maior espaço, e eis que podemos ter um problema. O volume de textos escritos pode estimular um certo desleixo com a mensagem, bem como a velocidade que se exige do indivíduo no envio de uma resposta ou o volume de respostas pode gerar textos com descuidos na redação. Neste ponto, não nos referimos à ortografia ou obediência à norma culta, fator também muito importante, mas ao arranjo da mensagem. Em outras palavras, o receptor pode ler e ter uma impressão equivocada ou ficar em dúvida quanto à emoção e ao tom do texto. A rapidez, conforme falamos, pode gerar textos muito curtos e diretos, causando a impressão de algum tipo de reprimenda ou, até mesmo, descaso com o interlocutor. 31 Na discussão sobre o design da comunicação, a forma é fundamental. Um comunicado geral pode ter o peso de uma severa observação se o texto não obedecer a cuidados mínimos. Por este motivo, é importante criar modelos de comunicados e de mensagens que pela forma já indiquem do que se tratará o conteúdo. A rapidez na elaboração dos textos costuma ser a mesma na leitura e decodificação. Então, se o formato indicar de antemão a funcionalidade da comunicação, uma grande parcela de incerteza será descartada. Referências JENKINS, H. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2006. REZ, R. Marketing de conteúdo – a moeda do século XXI. 7. ed. São Paulo: DVS Editora, 2016. TAVARES, M. Comunicação Empresarial e Planos de Comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. TORQUATO, G. Tratado de Comunicação – Organizacional e Política. 2. ed. São Paulo: Cengage, 2002. 32 Reflexão sobre o ambiente da Comunicação 5.0: produzindo conteúdo para as mídias digitais Autoria: Vinicius Del Fiol Leitura crítica: Conrado Hernandes de Oliveira Objetivos • Compreender as principais ferramentas de conteúdo automatizado. • Entender o processo de construção de mensagens com mídias digitais. • Descrever os objetivos e as tendências da produção de conteúdo automatizada. 33 1. Estratégias de comunicação O provável maior interesse de uma empresa é prever ações dos consumidores e se antecipar à dinâmica do mercado. É evidente que não existe uma fórmula certeira para concretizar esse ensejo, mas há ferramentas que podem ajudar as empresas nessa atividade. Além das tradicionais pesquisas estruturadas de mercado, o ambiente corporativo pode contar com dispositivos de inteligência artificial desenvolvidos para mapear e reconhecer padrões comportamentais e, desta forma, antever ações dos consumidores. O uso da tecnologia no marketing tem como finalidade elevar o padrão de satisfação do cliente e orientar as empresas para as necessidades voláteis do atual mercado consumidor. O foco na experiência do cliente é um fenômeno relativamente recente: no final da década de 1990, a padronização de bens e serviços tornou a tarefa do marketing mais difícil. O nivelamento dos valores e da qualidade dos itens produzidos praticamente inviabilizou toda e qualquer premissa ou promessa básica de diferencial de um produto. Afirmar que o consumo de determinado bem seria uma experiência única certamente poderia ser entendido como uma falácia de marketing. [...] Uma pequena diferença nas características do produto pode evitar que o cliente mude para um concorrente, mas é difícil que venha a aumentar o preço que ele está disposto a pagar. As empresas precisam seguir para o próximo passo na progressão do valor econômico: a experiência [...] esse conceito se tornou corrente com o advento da digitalização. (KOTLER, 2021, p. 144-145) O ambiente digital permitiu ao consumidor fazer comparações e aferir as vantagens e qualidades daquilo que estava consumindo. Outro fato que colaborou para o desenvolvimento de mudanças estratégicas foi o compartilhamento de informações e troca de experiências. Antes do ambiente das mídias sociais, a indicação ou busca por informações de determinado produto se restringia, quando muito, a sites especializados 34 ou publicações impressas. A reputação de produtos e empresas estava um pouco mais resguardada, e a verificação costumava ser feita por especialistas ou órgãos competentes. Por exemplo, no Brasil, pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), as informações sobre as empresas ficavam disponíveis apenas no site e dependiam do interesse do consumidor em efetuar a busca. O ambiente atual estimulou a criação de outras possibilidades verificadoras, como o ranking do Reclame Aqui, sem mencionar grupos de especialistas. 2. A padronização do mercado e a diferenciação cultural O entendimento das estratégias atuais de experiência do consumidor depende de compreendermos, primeiramente, o processo de padronização dos produtos e da comunicação empresarial. A padronização no desenvolvimento de produtos foi um processo estimulado pela disseminação e pelo barateamento das tecnologias. As pesquisas de mercado, antes restritas a poucas e privilegiadas empresas, ficaram disponíveis para todo o setor produtivo, e, com base nas mesmas fontes e informações, os produtos se tornaram cada vez mais padronizados. Para o consumidor, os benefícios funcionais oferecidos por produtos concorrentes ficaram indiferenciáveis, e, para as empresas, os conceitos de produto agregado e fidelização do cliente são indispensáveis para a diferenciação e sobrevivência dos produtos. A mesma situação ocorre com o setor de serviços, sendo um bom exemplo o ramo varejista: as lojas encontram muita dificuldade em diferenciar os produtos oferecidos ou trabalhar com estratégias de precificação. Afinal, o fornecedor é praticamente o mesmo, de forma que falar em qualidade não é uma boa estratégia. Valor e forma de pagamento não são mais atrativos, nem vendas casadas. As promoções também não são a melhor estratégia. A 35 diferenciação, quando existe, fica condicionada a facilidades de crédito ou programas de recompensa. Os consumidores passaram a impor novas condições às estratégias empresariais essencialmente semelhantes, exigindo uma desmassificação de produtos e serviços. Por conta desse cenário, houve um tempo em que a cultura ganhou destaque sob dois ângulos, conferindo diferenciação estética e constituindo parte do marketing de relacionamento, ao explorar uma dimensão emocional através de estratégias do marketing cultural. Os idiomas, valores, comportamentos e produções que formam a essência distintiva de uma cultura oferecem possibilidades de diferenciação de novos conceitos de produtos e serviços. O consumidor contemporâneo escolhe opções que possam reforçar suas crenças, seus hábitos e seu estilo de vida. Evidentemente, essa prática não é uma novidade, mas, no mundo contemporâneo, que celebra a diferença, é cada vez mais complicado atender plenamente às necessidades de grupos e comunidades específicas. No entanto, quando a empresa decide focar determinado segmento e se especializar em determinado cliente/público, acaba conseguindo vantagens nos processos de venda e fidelização. Os benefícios funcionais, as características e os usos passam a ser tão semelhantes entre um produto e seus concorrentes que não justificam mais a decisão de compra por um em detrimento do outro. Em um mercado de marcas padronizadas, o fator de diferenciação mais eficiente entre elas é a relação afetiva que cada produto oferece e gera para o consumidor. A estratégia focada em projetos culturais como forma de criar emoções atua reforçando os valores que para o consumidor são importantes. Com a constância do incentivo ao relacionamento, a ligação emocional é transformada em fidelidade à marca. Por esta razão, atividades como patrocínio a longo prazo se justificam. A repetição dessas atividades 36 estreita o vínculo e associa,indelevelmente, a empresa ou o produto com os eventos culturais fomentados e patrocinados. Como qualquer ferramenta de comunicação, a repetição coerente da mensagem enviada a determinado público contribui para a sua lembrança. A relação da empresa com a cultura reforça sua intimidade com uma comunidade. Outra razão para investir em cultura é a postura do consumidor contemporâneo, que, por conta do fácil acesso à informação, tornou-se mais crítico. Desta forma, ele exige respeito a seus direitos e recusa-se a se sujeitar a situações abusivas. Os consumidores passam a requerer a adoção de novas atitudes por parte das empresas, no que concerne a seus deveres sociais, estimulando-as a agir de forma mais integrada às condições sociais da comunidade na qual estão inseridas. A cultura ainda representa uma maneira eficiente de estabelecer comunicação direta com os mais diversos públicos-alvo, anulando as resistências às tradicionais formas de comunicação (publicidade e propaganda e assessoria de imprensa) e estimulando, por esta ação, empatia entre a empresa e o público. A cultura se torna um veículo neutro para a transmissão da mensagem da empresa, principalmente se a atividade cultural tem liberdade e não sofre qualquer tipo de intervenção por parte da empresa. Em outras palavras, a empresa apenas investe recursos e abraça a causa. Como os produtos viraram commodities1, a estratégia de investir em cultura e na imagem é uma das formas de reverter esse quadro. No entanto, é preciso ter foco na inovação para tratar dos demais pontos de contato com o consumidor, a fim de alcançar o sucesso de um produto. [...] O segredo para vencer a concorrência não reside mais no produto, e sim em como o cliente avalia, compra, usa e recomenda esse produto. A experiência do cliente tornou-se, essencialmente, um jeito novo e eficiente de as empresas criarem e entregarem mais valor. (KOTLER, 2021, p. 147) 1 O termo, conforme definido no site Wikipedia, significa, no setor da economia, produtos básicos globais não industrializados. Desta forma, podemos considerar como matérias-primas que não se diferem, independentemente de quem as produziu ou de sua origem. O preço é também muito semelhante e determinado conforme a procura. 37 A promessa de um produto diferente e inovador no cenário atual parece um tanto falaciosa, e o consumidor a observa com receio, por mais verdadeira que seja. No ambiente corporativo contemporâneo, a opinião é o ponto de virada. Muito embora estratégias associativas a padrões culturais sejam eficientes, devemos considerar que a fidelidade dos consumidores é um tanto volátil. Em outras palavras, de nada adianta a empresa criar estratégias duradouras calcadas em vínculos afetivos se não acompanhar a opinião do consumidor e monitorar sua experiência de compra. A adesão das empresas a atividades culturais é bastante eficiente a longo prazo, porém é muito difícil manter a atenção e o interesse do consumidor por um período muito dilatado. Um bom exemplo que podemos citar é o Espaço Itaú de Cinemas, nas cidades de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Muito embora a comunicação do banco reforce o compromisso com a comunidade e os correntistas, ainda soa como campanha. Ao fomentar e manter salas com programação alternativa, o compromisso com pessoas e diversidade sai da promessa e aparece na prática. Outro aspecto positivo para o banco é a divulgação espontânea desse projeto, pois a programação é anunciada e comentada em sites e veículos de comunicação. Buscar constantemente associações culturais ou pontos de adesão pode encarecer muito as ações de marketing da empresa e, além disso, é inviável, pois leva tempo para construir e divulgar certa imagem. Há, ainda, o fato de esta ser determinada por um conjunto-chave de pessoas, público-alvo entrevistado e executivos da empresa. Para manter constante vínculo com o consumidor, a empresa precisa desenvolver estratégias para ouvir e valorar a opinião de seu público. Trabalhar com o ponto de vista de quem consome é muito mais autêntico, é um conteúdo que faz muito mais sentido para quem está comprando. A empresa conseguirá mais conversões quando o cliente sentir autenticidade, quando perceber um contexto real baseado em seu ponto de vista. As pessoas gostam de ter razão, e a assertividade é a chave para cativar o consumidor e iniciar um processo de adesão. 38 3. Comunicação estratégica Parte do sucesso de um produto ou uma empresa depende, hoje, da gestão da comunicação nos ambientes de mídia social. As pessoas compartilham todo tipo de informação nas redes, principalmente experiências. Este é o ponto de maior interesse para as empresas: entender como são vistas e interpretadas, bem como seus produtos. Mapear e compreender a experiência do consumidor é tarefa principal do marketing e da pesquisa da empresa. Outrora, a experiência limitava-se a compra, atendimento e uso. O processo hoje é mais amplo, envolvendo monitoramento das experiências compartilhadas, as quais começam muito antes da aquisição do produto e continuam posteriormente à atividade de compra. A comunicação abarca todos os pontos de contato que o cliente possa vir a ter com o produto. O processo começa com a comunicação da marca e continua através da experiência de compra, da interação com a equipe de venda e facilitadores, da própria utilização do produto, do suporte técnico e, posteriormente, da fase mais importante: a troca de impressões com outros consumidores. Conforme Kotler (2021, p. 89), “as empresas precisam harmonizar todos esses pontos para entregar uma experiência sem descontinuidade, que seja relevante e inesquecível para o cliente”. O ponto de cuidado que as empresas precisam ter diz respeito à continuidade da experiência nas mídias sociais. A troca de opiniões é algo que não pode nem deve ser controlado, mas precisa de monitoramento, pois as empresas precisam saber o que falam os consumidores. A proposta não é criar ações de combate ou que refutem o que é dito, mas, sobretudo, fornecer respostas para pontos que ficaram em aberto e entender que aquilo que se diz é ouro para a geração de novos produtos ou correções necessárias. A troca de mensagens nas mídias sociais costuma acontecer de forma muito rápida e volátil, ou seja, um comentário, positivo ou negativo, pode 39 tanto se perder como ganhar corpo. Tudo dependerá da repercussão ou do valor que seja capaz de suscitar. Uma boa experiência com um produto pode ser descontinuada se o usuário entender, através de outras opiniões, que determinado bem ou empresa não tem imagem muito positiva. Por mais que a experiência concreta tenha sido satisfatória, as pessoas tendem a aderir à opinião coletiva. O sentimento de pertencimento a um grupo pode, certamente, levar a uma mudança de opinião, por conta da influência de determinada comunidade. No ambiente virtual, as associações de ideias e conceitos acontecem de forma orgânica e incontrolável. A ação mais coerente por parte das empresas é monitorar e fornecer conteúdo para as mídias sociais. O risco de um produto ou uma marca ter vínculo atrelado a uma personalidade negativa ou virar motivo de sátira nas redes é real. Evitar isso é uma tarefa praticamente impossível e que exigiria muito esforço. As ações legais e punitivas para as associações indevidas e difamações podem, de imediato, dissolver a associação, mas deixam um ponto de dúvidas e incertezas na opinião dos consumidores. É função das empresas abastecerem as redes com informações para evitar o surgimento de zonas nebulosas na comunicação. [...] marketing de conteúdo [...] quando entendemos que nem todos os clientes estão no momento de compra e que nem todos eles retornarão ao site por iniciativa própria, usar ofertas de conteúdo para reter cada vez mais pessoas. E construir um relacionamento com elas nas redes sociais [...] entregando conteúdo que as ajude a tomar a decisão de compra. (REZ, 2016, p. 55) A responsabilidadede informar e abastecer os consumidores de argumentos é das empresas. Por exemplo, sites com poucas ou confusas informações são verdadeiros convites a buscas nas mídias sociais. O risco é perder o consumidor para outras fontes de informação, que podem apregoar ideias contraditórias às crenças da empresa ou negativas em relação ao produto. 40 4. Produção de conteúdo O conteúdo ajuda as pessoas a entenderem o que a marca faz e é, permitindo um comparativo seguro com outras marcas e conceitos. Isso ocorre porque ele embasa o consumidor, fornece argumentos que podem ser comparados, e não apenas ideias e conceitos que podem ser refutados ou mal associados. Conteúdo não é mera tendência, mas uma estratégia efetiva que define uma nova forma de comunicação. A mídia social não é um meio de massa no qual a empresa pode investir pesadamente para obter resultado, pois o comportamento das redes é orgânico. A internet não é espaço propício para a publicidade agressiva, de modo que a comunicação nesse ambiente precisa de outra forma de aproximação para conseguir conquistar nichos e entender demandas. A primeira grande mudança é abrir um canal de comunicação. A empresa não deve ser exclusivamente quem envia informações, mas, também, deve saber ouvir e entender. Deve focar em informação criativa e relevante, em vez de promover o discurso frio e imperativo da publicidade. A responsabilidade principal é gerar informação de valor e que faça sentido. E para cumprir esta necessidade, precisa ouvir para compreender como montar um discurso que consiga engajar. [...] o conteúdo do dia a dia publicado na internet cria a percepção e a forma como a marca é vista. Se a marca tiver conhecimento e a certeza de que pode prestar um bom serviço, pode desenvolver um grande conteúdo e ocupar um espaço precioso na mente das pessoas. (REZ, 2016, p. 42) Este é o desafio do marketing: produzir conteúdo sem apelo comercial. A empresa deve ser produtora de conhecimento e informação que tenham valor para as pessoas. A ideia é estabelecer comunicação com stakeholders, ou seja, público em geral que poderá colaborar espontaneamente com a marca ou o produto. O conteúdo informativo e de valor pode abarcar um número de pessoas muito maior, além do já cativado público da empresa ou do produto. Essa comunicação 41 poderá ser compartilhada, encaminhada e, quem sabe, citada em outras publicações. A estratégia, nesse contexto, é fornecer assunto para ser compartilhado. Desta forma, diminui-se a preocupação em gerir o conteúdo que está sendo produzido nas mídias sociais pelo público geral. A responsabilidade do marketing deve ser a de contar histórias e produzir cases, como entrevistas (envolvendo inclusive autoridades no assunto), releases, eventos culturais e notícias. Dessa forma, ele estará contando e compartilhando conteúdo com poder de inspirar e entreter. O conteúdo pode servir para orientar decisões. Ao produzir um e-book, um white paper ou um artigo, a empresa ajuda o consumidor a decidir qual é a melhor escolha ou atitude a ser tomada, mas sem vender nada ou divulgar uma solução. A comunicação hoje deve engajar pelo conteúdo informativo, e não por estratégias premeditadas de venda ou convencimento. Gerenciar expectativas também pode ser feito através do conteúdo, principalmente quando a empresa estabelece um canal de troca e comunicação. O feedback ajuda a nortear próximos conteúdos muito mais focados no interesse da audiência da empresa. O conteúdo também significa mais visitações através de buscas e recomendações sociais. Se a empresa deseja ver a marca crescer organicamente nas mídias sociais, aparecendo como referência no Google, Twitter, TikTok, Facebook e em outras redes, precisa gerar conteúdo, abastecendo a audiência com informações. Nestas redes, as pessoas não trocam nem consomem publicidade, mas, sobretudo, informação que tenha valor e ajude a tomar alguma decisão ou definir um posicionamento. O conteúdo de valor servirá para fidelizar clientes e a audiência em geral. Uma vez que os leitores tenham assinado a lista de contatos da empresa, tornando-se leads, eles criarão relações com a marca a partir do momento em que receberem conteúdo relevante. Essas relações são ouro para as empresas e marcas, pois estabelecem interesse de forma espontânea e podem gerar novos leads. 42 5. Gerando audiência Produzir conteúdo de interesse, além de alimentar a audiência com comunicação relevante e ajustada com os propósitos da empresa, permitirá seu aparecimento em resultados de pesquisa. Ser citada em buscas aumenta muito a chance da empresa de conquistar novos clientes e estabelecer novos negócios, bem como expandir mercado. Neste ponto, voltemos à ideia do canal de comunicação. As empresas devem estabelecer um dispositivo de troca de informações, ou seja, abastecer as mídias sociais com conteúdo e, também, analisar a receptividade a ele. Principalmente, elas precisam entender as reações e interpretações. Desta forma, poderão ajustar e nivelar o conteúdo conforme a necessidade e assertividade da audiência. Outra vantagem desse canal é descobrir o que tem valor para as pessoas e entender os dispositivos de resposta, crenças e expectativas. Essas informações são base para desenvolver palavras-chave (keywords) e dispositivos de ignição para ações de compra, adesão ou assertividade. Por muito tempo, as empresas investiram pesadamente em pesquisa para chegar nesses dispositivos, mas nem sempre com resultados satisfatórios. Hoje, de forma orgânica, essas palavras-chave e os valores são construídos juntamente com a audiência, aumentando consideravelmente a chance de a empresa ou marca aparecer em dispositivos de busca. Existem, evidentemente, mecanismos de busca baseados na inteligência artificial dos sites – vale citar o Google Key Tool, que funciona da seguinte maneira: a empresa basicamente informa alguns termos de relevância que as pessoas provavelmente estão procurando em seu nicho e esta ferramenta gera uma lista com inúmeros termos de busca que se assemelham com as palavras indicadas. É uma boa ferramenta, mas a base da busca está em algoritmos. Os motores de busca (Search Engine Optimization – SEO) ajudam na criação de estratégias construtivas de valor. No entanto, como 43 dependem muito da inteligência artificial, precisam de verificação. Neste ponto, vale mencionar a necessidade do ajuste fino da comunicação e jamais contar com a eficácia desses dispositivos. Ferramentas de busca até direcionam para o alvo, porém não informam o calibre do disparo. As empresas terão, certamente, um bom direcionamento da comunicação, mas a adesão e o contrato ocorrem somente com o ajuste fino, oriundo da relação que se estabelecerá com a troca de conteúdos. Existem outras formas de a empresa conseguir destaque nas buscas, elevando seu ranking de importância. A primeira que podemos destacar é o off-site SEO, que consiste basicamente em backlinking (inserção de links de outros sites na página da corporação), pelo qual a empresa direciona backlinks de outros sites para o seu site a fim de gerar tráfego, e isto a ajuda a subir nos rankings no Google. Essa estratégia envolve a citação de outros sites que possuam relevância ou prestígio e, desta forma, possam garantir o interesse pelo conteúdo. Outro processo é o on-site SEO, que é um pouco diferente, pois a empresa otimiza o seu site em vez de gerar tráfego de sites de outras empresas, produzindo tráfego em seu próprio endereço eletrônico. Essa estratégia é bem mais legítima e colabora com o que mencionamos anteriormente, a saber, a construção de valores com o público. Em processos comunicacionais, é sempre importante investir na própria imagem e construção de valores. Parcerias são relevantes, mas devem ser pensadas como reforço ou endosso à comunicação principal. Por este motivo, reiteramos a importância de optar pelo segundo tipo de engajamento virtual, pois toda conquista serámérito da própria empresa e não ficará dependente de ter que administrar a imagem de companhias parceiras. Referências ANDERSON, C. A cauda longa. São Paulo: Editora Campus, 2006. 44 JENKINS, H. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2006. KOTLER, P. Marketing 5.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2021. MORAIS, F. Planejamento estratégico digital. São Paulo: Saraiva, 2015. REZ, R. Marketing de conteúdo – a moeda do século XXI. 7. ed. São Paulo: DVS Editora, 2016. 45 Pesquisa e análise de dados: a gestão do conhecimento no ambiente corporativo Autoria: Vinicius Del Fiol Leitura crítica: Conrado Hernandes de Oliveira Objetivos • Apresentar os principais desafios da comunicação no ambiente colaborativo. • Descrever as principais características do trabalho a distância e mecanismos de gestão. • Entender as principais estratégias de gestão.. 46 1. Ambientes colaborativos O mercado empresarial está vivenciando mudanças muito rápidas e profundas no processo, formato e prestação de trabalho. Uma nova modalidade de trabalho se impôs, por conta do isolamento social que ocorreu durante a pandemia da covid-19. O trabalho remoto, nesse período, foi a única possibilidade de continuidade das atividades. Todas as incertezas e os planejamentos tiveram que ser postos de lado em prol da adoção imediata desse modelo. Empresas e colaboradores tiveram que se adaptar muito rapidamente; não houve tempo para reflexões, testes ou adotantes iniciais nas corporações. Praticamente da noite para o dia, times inteiros foram convocados para limpar a área de trabalho e levar para casa os equipamentos necessários para dar continuidade às tarefas no ambiente doméstico. Essa mudança abrupta jamais havia sido pensada pelas empresas. Havia, de fato, interesse em enxugar as grandes estruturas através da terceirização e, sobretudo, do trabalho remoto. O custo direto na manutenção de escritórios e sedes empresariais estimulou a pesquisa por soluções tecnológicas para desenvolver pequenas células de trabalho. Surgiram ambientes compartilhados de trabalho – esta solução foi muito bem recebida pelo mercado. As empresas puderam substituir grandes espaços por escritórios dinâmicos, que eram espaços alugados capazes de oferecer toda a infraestrutura necessária para os colaboradores realizarem suas tarefas. As vantagens eram muitas, desde a principal, redução de custo de manutenção, até a possibilidade de trabalhar literalmente ao lado de empresas parceiras. Em um mesmo escritório, foram alocados departamentos inteiros trabalhando juntamente com áreas de empresas parceiras. Essa união de parceiros de organizações diferentes potencializou o trabalho, principalmente nas áreas comerciais de comunicação. A tendência estava se consolidando quando surgiu a necessidade, por conta da pandemia, de tornar o trabalho remoto. Cabe entendermos, neste momento, como estava sendo a implantação desse modelo de trabalho colaborativo. 47 As vantagens e os ganhos para empresas e colaboradores são múltiplos, como a redução em tempo e custos do trajeto de ida e volta ao trabalho, a atração ou manutenção de funcionários qualificados, a ampliação de oportunidades de trabalho para pessoas com deficiências ou que habitam em regiões com poucas oportunidades de emprego, a flexibilidade de horário, a economia de custos e a redução de espaço nas empresas, além de menores impactos ambientais com a redução da poluição do ar devido à diminuição do trânsito. Os avanços das tecnologias e meios de comunicação, já em meados de 2000, permitiram que empresas adotassem uma nova modalidade de trabalho para a época: o teletrabalho, hoje conhecido como trabalho a distância ou home office. A principal característica desta modalidade é ser uma forma de trabalho descentralizado. Eram requeridas ferramentas colaborativas para que os trabalhadores, geograficamente distribuídos em home office, pudessem se comunicar, trabalhar em grupo e, principalmente, compartilhar informação. A maior dificuldade encontrada na época foi designar o chamado telegerente ou líder do grupo, presença necessária para manter a rotina das atividades e estimular as entregas no prazo, além do cumprimento de metas. O gestor precisa dominar os elementos que formam a equação da comunicação [...] grande parte das distorções se deve ao uso inadequado de formas e canais de comunicação. A compreensão da natureza da mídia organizacional ajudará o gestor em suas comunicações, contribuindo para sua eficácia. (TORQUATO, 2002, p. 44-45) O monitoramento dos colaboradores e o acompanhamento dos projetos são fundamentais para um bom desempenho das atividades da empresa. A maior dificuldade que a modalidade home office encontrou foi a implantação de um ambiente colaborativo que permitisse compartilhar ideias e realizar reuniões virtuais. Foi também um desafio identificar um novo perfil de liderança, capaz de gerenciar e monitorar os projetos através da mediação de instrumentos de comunicação. Naquela época, a dificuldade era significativa, pois não se cogitava 48 utilizar os meios que compunham as redes sociais, hoje mídias digitais, como instrumentos de trabalho. Essa forma flexível de organização do trabalho permite ao colaborador desempenhar atividades profissionais sem a sua presença física na empresa durante uma parte importante de seu horário laboral. Por esta razão, se faz necessário o uso frequente de métodos de processamento eletrônico de informação, assim como o emprego permanente de algum meio de comunicação para que haja contato entre o colaborador e a empresa. As empresas estavam habituadas com meios de comunicação formais, como intranet, e-mails corporativos e redes internas, entre outros. A vantagem do ambiente colaborativo é a utilização de ferramentas mais versáteis, o que representa uma grande economia para as empresas. Essas ferramentas promovem, principalmente por conta de sua natureza interativa, o compartilhamento de informações e saberes nas organizações. Segundo Lévy (2003, p. 28), a inteligência coletiva é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. Por outro lado, o compartilhamento de conhecimento e informações trouxe uma preocupação legítima: a divulgação de dados fora do ambiente corporativo. Por mais que fosse, como ainda é, possível monitorar a troca de informações, a possibilidade de levar a empresa para o ambiente do coworking e para a casa dos colaboradores gerou desconforto. A segurança da informação foi um tema corrente e amplamente debatido no início do trabalho remoto. Evidentemente, nesse momento, algumas empresas já adotavam notebooks, porém seu uso era restrito a áreas estratégicas e de liderança. O modelo home office disponibilizou computadores para todos os departamentos e colaboradores. O acesso ao banco de dados da empresa ficou disponível e muito mais vulnerável a ataques ou, até mesmo, compartilhamento indevido. O tema teve tanta importância que, em 2018, foi promulgada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD–Lei n° 13.709/2018), que entrou 49 em vigência em 2020. A data coincide com o início da pandemia no Brasil e o primeiro lockdown. A Lei, quando idealizada, tinha como foco proteger os dados de pessoas físicas e jurídicas. Naquela época, era prática corrente entre empresas trocar bancos de dados ou vender leads. Qualquer cadastro de fidelidade ou clube de descontos solicitava do cliente uma enormidade de dados, e estes, posteriormente, eram usados estrategicamente pelas empresas para gerar informações sobre dinâmica e comportamento do consumidor. A Lei surgiu como forma de coibir essa prática e tornar esse exercício mais claro para os proprietários dos dados. No entanto, ela hoje abarca muitas outras preocupações, como também os dados das empresas. Seu cumprimento como exigência legal estimulou uma reflexão sobre como tratar
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