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PRÁTICA DE ENSINO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO MÉDIO PROFESSORA Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2193 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. RIBEIRO, Maria Rosânia Mattiolli . Prática de Ensino das Matérias Pedagógicas do Ensino Médio. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro. Maringá - PR: Unicesumar, 2020. Reimpresso em 2023. 184 p. “Graduação - EaD”. 1. Prática 2. Pedagógicas 3. Ensino Médio. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Marcia Maria Previato de Souza Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Henrique Coppola Cole Design Educacional Giovana Vieira Cardoso Revisão Textual Diego Delavega Marques de Oliveira Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 371.26 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-2058-8 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2005) - Área de Concentração: Aprendizagem e Ação Docente. Possui graduação em Pedagogia pela Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (1983). Atualmen- te é professora do Curso de Pedagogia a Distância da Unicesumar (fevereiro de 2009 até o presente momento). Atuou no curso de pedagogia presencial na mesma Insti- tuição de Ensino Superior (fevereiro de 2008 a junho de 2015). Atuou, também, como professora do Curso de Pós-Graduação em EaD, na disciplina: “Docência no Ensino Superior”. Exerceu função de professora e pedagoga no Instituto de Educação Esta- dual de Maringá pela Rede Pública do Estado do Paraná, hoje aposentada da rede Pública Estadual. Tem experiência no Ensino Fundamental e Médio na Modalidade Normal: Formação de Professores em nível médio. As áreas de trabalho profissional têm ênfase nos seguintes temas: Formação de Professores, Práticas Pedagógicas, Formação Humana, Políticas Públicas, Estágio e Prática de Ensino, Metodologias de Ensino e Estrutura e Funcionamento do Ensino Brasileiro. http://lattes.cnpq.br/2027532985668964 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A PRÁTICA DE ENSINO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO MÉDIO Que prazer, meu caro(a) licenciando(a)! O material que propomos a você foi desenvolvido com a finalidade de subsidiar a Disciplina de Prática de Ensino das Matérias Pedagógicas do Ensino Médio. Uma disciplina importante, já que retrata uma das áreas de atuação profissional que é a docência no curso de Formação de Docentes em Nível Médio. A formação para a docência se dá a partir de propósitos e intencionalidades, portanto, na Pedagogia, ela propicia ao(à) licenciando(a) possibilidades de conhecer as disciplinas específi- cas que orientam para a formação profissional e que muito contribuem para a compreensão acerca da realidade educacional do Curso de Formação de Docentes em Nível Médio. Desse modo, nosso objetivo, neste material, é fazer com que você compreenda as especifi- cidades do respectivo curso, pois quem se formará, neste sentido, para a docência em Nível Médio nas disciplinas específicas, será você, futuro(a) pedagogo(a)! Sendo assim, a Pedagogia reflete as intencionalidades didático-pedagógicas visando à formação do e para o humano. Em razão disso, é preciso que compreenda, a partir dos conteúdos expostos, os processos históricos, legais, estruturais e teórico-metodológicos bem como busque uma aproximação maior possível da realidade com a qual irá trabalhar. Antes de entrarmos, diretamente, nas unidades, uma questão faz-se necessária para você, futuro(a) pedagogo(a): trataremos, nesta disciplina, das matérias pedagógicas do Curso de Formação de Docentes em Nível Médio - Modalidade Normal. Muito bem! Esse curso acontece em Nível Médio, mas não em sua forma regular, ou seja, é um curso de Nível Médio porque os alunos (futuros docentes) que frequentam são egressos do Ensino Fundamental. Além disso, ele é de cunho profissionalizante, ou seja, oferece a formação para a docência em Nível Médio. O aluno, ao concluir o Ensino Fundamental, faz a opção entre o Ensino Médio regular e o Curso Profissionalizante em Nível Médio, neste caso, Formação de Docentes, haja vista que são muitas as opções para a profissionalização em Nível Médio. D A D I S C I P L I N AA P R E S E N TA Ç Ã O Na Unidade 1, estudaremos a trajetória do curso de Pedagogia; por isso, é essencial que conheçamos a história com seus desdobramentos, as discussões em torno da educação e a luta para avançar nos processos de formação do(a) pedagogo(a). É, nesta perspectiva, que convidamos você a conhecer,, historicamente, o curso de Pedagogia, estabelecendo relações com a formação de professores no atual contexto social. Nesta unidade, também buscare- mos apresentar as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, no sentido de mostrar as áreas de atuação possíveis para o(a) profissional licenciado(a). Outra questão, não menos importante, é a compreensão da dimensão dos saberes e conhecimentos apropriados ao exercício profissional docente. Na Unidade 2, chamaremos sua atenção para a realidade educacional brasileira, pois busca-se discutir o enfoque democrático que faz parte do discurso sobre aeducação na sociedade contemporânea. Os discursos neoliberais, presentes nas propostas educacionais, é outra temática que requer nossa atenção, no sentido de percebermos a dinâmica que envolve en- sinar e aprender em uma sociedade de conflitos e desafios constantes. Torna-se importante, nesse sentido, estabelecer relações entre as políticas implementadas e a formação para a consciência crítica e política dos indivíduos. Nesta unidade, ainda, traremos o processo de descentralização da educação e a perspectiva de construção da identidade profissional do(a) pedagogo(a), uma construção que deve acontecer à medida que a consciência sobre o papel social se estabelece. Na Unidade 3, provocaremos você a refletir sobre a especificidade da Modalidade Normal com os fundamentos e as concepções que embasam a profissionalização docente. Para isso, é importante a compreensão acerca da formação inicial de docentes em Nível Médio e a sua contribuição no suprimento do quadro educacional brasileiro, o que você perceberá na segun- da aula desta unidade. Destaca-se, ainda, que, quando pensamos a formação do docente em Nível Médio na Modalidade Normal, é preciso reconhecer que o compromisso ético-político deve ser uma característica fundamental para o exercício do magistério. A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A Na Unidade 4, traremos os princípios que norteiam, embasam e orientam a ação pedagógica nos cursos de Formação de Docentes em Nível Médio, pois os princípios orientadores condu- zem à melhor direção do trabalho pedagógico. Na segunda aula desta unidade, apresentamos os Fundamentos da Educação e Metodologias de Ensino a fim de conduzi-lo(a) à apropriação da dimensão dialética que permeia os conhecimentos científicos. Ainda, provocaremos você, nesta unidade, a analisar a relação indissociável entre teoria e prática para a efetivação da práxis no trabalho com a formação dos sujeitos. Na nossa última unidade, Unidade 5, traremos um tema bastante significativo na formação de docentes, que é o Estágio Supervisionado. Para situar as práticas existentes na trajetória dos cursos de formação para o magistério, reportar-nos-emos às práticas das antigas esco- las normais depois do magistério, e, ainda, no atual contexto, à Formação de Docentes em Nível Médio — Modalidade Normal. Chamaremos a atenção para às questões que permeiam a teoria e a prática nos diferentes contextos. Também, apresentaremos, nesta unidade, o estágio como vivência da experiência docente, pois isso implica na busca por uma postura ética e política da profissão docente. O estágio também, favorece o crescimento intelectual dos futuros docentes, por meio das observações sistemáticas na realidade escolar, quando temas surgem como necessidades investigativas, propiciando, dessa forma, a pesquisa. Observe que, em cada unidade, você terá a oportunidade de desenvolver leituras, estudos e atividades sobre os temas apresentados, possibilitando, sempre, mais enriquecimento de seus conhecimentos. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando Ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO CURSO DE PEDAGOGIA E O PEDAGOGO: O SEU CONTEXTO E SUAS INFLUÊNCIAS NA FORMAÇÃO HUMANA 10 A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO 43 71 HISTÓRICO, PERSPECTIVAS E CONTEXTO DA FORMAÇÃO DE DOCENTES EM NÍVEL MÉDIO 100 PRESSUPOSTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS QUE FUNDAMENTAM O CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES EM NÍVEL MÉDIO 134 A RELAÇÃO PRÁTICA DE ENSINO E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES 171 CONCLUSÃO GERAL O CURSO DE PEDAGOGIA E O PEDAGOGO: O SEU CONTEXTO E SUAS INFLUÊNCIAS na formação humana PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O Curso de Pedagogia e seu con- texto histórico • Diretrizes Nacionais do Curso de Pedagogia: as áreas de atuação possíveis ao licenciado • Saberes e conhecimentos pertinentes à profissionalização do pedagogo. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer historicamente o curso de Pedagogia, estabelecendo relações com a formação de docentes no atual contexto social. • Refletir sobre as Diretrizes Curriculares do curso de Pedagogia, reconhecendo as áreas de atuação possíveis para o profissional licenciado. • Compreender a dimensão dos saberes e conhecimentos apropriados ao exercício profissional e da docência PROFESSORA Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro INTRODUÇÃO Seja bem-vindo(a), aluno(a), para nossa primeira unidade. Queremos des- pertar em você, em relação ao curso de Pedagogia, o conhecimento e a consciência crítico-política em relação às finalidades e aos objetivos desta ciência, que nos permite ter a dimensão do conhecimento da área edu- cacional e da formação humana dos sujeitos. Nossa intenção é levá-lo(a) à compreensão o quão importante é a função do docente para atingir os propósitos maiores da educação. Por meio do contexto apresentado nesta unidade, conheceremos os limites, os avanços e recuos da nossa educação, a partir do processo histórico da Pedagogia. Cabe-nos destacar que, a partir da historicidade que a envolve, insere-se a formação de professores com questões relevantes sobre os aspectos didático-pedagógicos. A finalidade desta primeira unidade é situar o campo da Pedagogia como espaço de formação para a atuação profissional docente, tendo em vista as reformas e as discussões trazidas por educadores e documentos que orientam os processos de formação. Assim, focaremos nas Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, e na Resolução CNE/CP n. 2, de julho de 2015, para com- preender como se dá, hoje, essa formação, a considerar que as mudanças são decorrentes de fatores sociais, políticos e econômicos, o que influencia o âmbito da escola e, consequentemente, a formação de professores. Traremos, nesse contexto, o princípio ético como elemento impres- cindível no encaminhamento da ação pedagógica do pedagogo cuja normatividade funda-se na emancipação humana. Assim, os saberes produzidos estarão representados nos conteúdos das disciplinas, com o objetivo de propiciar a articulação entre teoria e prática, tão necessária para atingir a práxis. A partir desse momento, convidamos você, futuro(a) pedagogo(a), a envolver-se nas leituras e reflexões para compreender a Pedagogia enquan- to ciência, que forma e profissionaliza em dimensão geral, a qual exige a educação. U N ID A D E 1 12 1 O CURSO DE PEDAGOGIA E O SEU CONTEXTO HISTÓRICO Caro(a) aluno(a), para traçarmos um caminho de entendimento acerca do pro- cesso histórico da Pedagogia no Brasil, faz-se necessário reportar-nos à coloniza- ção. Quando os primeiros colégios jesuítas foram criados, em 1540, instaurou-se uma Pedagogia de cunho catolicista, a Pedagogia denominada Brasílica, uma proposta do padre Manoel da Nóbrega, a qual era adaptada para atender às ne- cessidades específicas da colônia. Dessa forma: “ [...] Ao longo dos primeiros séculos, de 1549 a 1759, data da ex- pulsão dos jesuítas,a pedagogia cristã, de orientação católica, gozou de uma hegemonia incontrastável no ensino brasileiro. Portanto, a teoria da educação que orientou as primeiras ativi- dades pedagógicas em nosso território corresponde à pedagogia derivada da concepção humanista tradicional na sua vertente religiosa (SAVIANI, 2008a, p. 86). O autor enfatiza que o plano de instrução de Nóbrega tinha início na escola onde se ensinava a leitura e a escrita, o português e a doutrina católica. As atividades eram estendidas para o canto orfeônico e os instrumentos musicais, aproveitan- do-se as habilidades dos pequenos. Os respectivos estudos, denominados ele- mentares, eram correspondentes à instrução primária. U N IC ES U M A R 13 No nível secundário, o plano previa o aprendizado de ofícios mecânicos ou agrícolas para os filhos dos trabalhadores colonos, pois estes deveriam contribuir para o crescimento da colônia e, para outros alunos (parte menor), um grupo selecionado permitia-se estudar gramática latina, porquanto, esses eram enviados para as universidades europeias, Coimbra ou Espanha, a fim de serem formados novos jesuítas para dar continuidade à obra missionária. Assim declarou Nó- brega, segundo Saviani (2008a, p. 86), “ eu pretendia aos de maiores habilidades en- sinar também latim e, depois de desbastados aqui um pouco, poderem em Espanha apren- der letras e virtudes, para voltarem depois, homens de confiança. Parafraseando Saviani (2008a), com o plano desenvolvido, pretendia-se,, também,, formar padres que pudessem colaborar com a missão proposta pelos jesuítas, em que três aspectos ar- ticulavam-se: a filosofia da educação,, com ideias de máxima generalidade, considerando a concep- ção cristã do mundo, do homem e da formação humana; a teoria da educação, uma perspectiva de organização dos meios – recursos materiais e procedimentos de ensino cujas estratégias valori- zavam as tradições e os costumes da colônia; e a prática pedagógica, por meio da qual aconteciam o ensino e a aprendizagem. Ressalta-se que foi o Padre José de Anchieta (1534-1597), um jesuí- ta espanhol, pertencente à Ordem Religiosa da Companhia de Jesus, quem propiciou, com mais clareza, as ideias pedagógicas, superando o caráter das ideias educacionais de Nóbrega, com a criação de métodos e de procedi- mentos na realização de finalidades próprias à filosofia da educação. A teoria da educação (Pedagogia), trabalhada no primeiro século da colo- nização, traduziu a concepção religiosa tradicional, ou seja, a filosofia proposta pela educação católica, com ajustes à nova colônia. Em razão de oposições na U N ID A D E 1 14 Figura 1 - Marquês de Pombal. Ordem Jesuítica, surgiu o plano geral de estudos Ratio Studiorum, com início de elaboração datado de 1584, porém com publicação em 1599. Esse plano cor- responde ao que conhecemos por “pedagogia tradicional na vertente religiosa” (SAVIANI, 2008a, p. 90). Em 1759, tem-se a reforma pombalina, os jesuítas são expulsos e o trabalho edu- cacional é organizado na forma de aulas régias, disciplinas avulsas ministradas por um professor pago pela Coroa Portuguesa a partir de recursos do subsídio literário (um imposto português criado para subsidiar a instrução pública). As aulas régias, apesar de serem propostas por Marquês de Pombal em 1759, foram implantadas no ano de 1772. Essa reforma tem, como referência de instrução, ideias pautadas no Iluminismo lusitano, de caráter laico e com responsabilidade do Estado. A Família Real veio para o Brasil em 1808 e, a partir desse momento, instituiu-se o ensino mútuo, oficializado, aprovado pela lei das Escolas de Primeiras Letras, em 1827. O respectivo método, também, de- nominado monitorial ou lancasteriano, foi proposto e difundido por Andrew Bell, que era pastor da Igreja Anglicana, e Joseph Lancaster, da seita dos Quakers. De acordo com esse processo de ensino, os alunos com desempenho melhor auxiliavam os professo- res nas turmas com maior número de alunos. Uma característica era o acompanhamento do professor em uma posição mais elevada da sala, assim, poderia supervisionar o trabalho dos alunos e de seus moni- tores. A avaliação do aproveitamento escolar, bem como do comportamento do aluno, fazia parte do sistema escolar (SAVIANI, 2008a). O método mútuo, após a primeira metade do sé- culo XIX, perdeu espaço, pois novos procedimentos didático-pedagógicos foram construídos. O novo procedimento de ensino baseava-se no método intuitivo, re- ferência na Primeira República, conhecido como “lições de coisas” ou “ensino in- tuitivo”. Segundo o método intuitivo, o ensino deveria partir de uma percepção sensível, a qual envolvia a observação e a percepção do aluno. Portanto, objetos e figuras constituíam-se em meios importantes para o aprendizado. Conforme Saviani (2008b, p. 94), Caetano de Campos tomou esse método “como base da organização das escolas-modelo e dos grupos escolares na reforma da instrução U N IC ES U M A R 15 pública paulista empreendida na última década do século XIX”. O autor relata que a Pedagogia do método intuitivo manteve-se como referência, “ [...] durante a Primeira República, sendo que, na década de 1920, ganha corpo o movimento da Escola Nova, que já irá influenciar várias das reformas da instrução pública efetivadas no final dessa década. Entretanto, a difusão da Escola Nova irá encontrar resis- tência na tendência tradicional representada, na década de 1930, hegemonicamente, pela Igreja Católica (SAVIANI, 2008b, p. 140). O espaço acadêmico do Brasil constituiu-se, a partir da Faculdade de Educação, Ciências e Letras, ressalvado pelo Estatuto das Universidades Brasileiras, em 1931, um decreto de iniciativa do ministro Francisco Campos, que cria o curso de Pedagogia, em 1939. É nesse contexto que se tenta construir uma Pedagogia voltada a formar profissionais “de base científica e como uma área de investigação específica, com objeto e métodos próprios” (SAVIANI, 2008b, p. 98). Em relação à criação da Faculdade de Educação, Ciências e Letras, seu idea- lizador, Francisco Campos, na década de 30, deixava indícios de suas finalidades: os cursos deveriam ter caráter de cunho utilitário e prático em detrimento de conhecimentos voltados a atender ao aspecto humano. “ Assim, conforme o seu idealizador, Francisco Campos, a nova fa- culdade não seria apenas um órgão de alta cultura ou de ciência pura e desinteressada, mas deveria ser, antes de tudo e eminen- temente, um instituto de educação cuja função precípua seria a formação de professores, sobretudo os do ensino normal e secun- dário (SAVIANI, 2008a, p. 23). Ainda, de acordo com o autor: “ [...] As disciplinas dessa nova faculdade, em todas as suas seções, co- bririam os conhecimentos necessários à docência em todos os ramos do ensino secundário. E seu currículo seria organizado de acordo com o sistema eletivo que permitiria aos candidatos escolher o ramo que melhor correspondesse aos seus intuitos culturais ou às suas ne- cessidades técnicas e profissionais (SAVIANI, 2008a, p. 23-24). U N ID A D E 1 16 Figura 2 - Primeiras instalações da FFCL/USP na Faculdade de Medicina. Em 1934, é criada a Universidade de São Paulo (USP), a qual se denominou Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, com proposta de integração dos conhe- cimentos que visavam à formação humana. Portanto, deveria contemplar todas as dimensões do conhecimento. Apregoava-se um ensino que preparasse para um conhecimento sólido, consistente, que permitisse aos sujeitos a formação exigida pela profissão escolhida. No entanto paralelo às Faculdades de Filoso- fia, Ciências e Letras, havia as faculdades profissionalizantes que demonstravam certa resistência em relação às faculdades de filosofia. Por meio do Decreto-Lei n. 1.190, de 4 de abril de 1939: “ [...] Se dá a organização definitiva à Faculdade Nacional de Filo- sofia, cuja orientação e organização se contrapõem tanto à ideia inicial que presidiuà proposta de criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, quanto, principalmente, à Universidade do Distrito Federal. Enquanto nesta, a formação profissional é an- corada no desenvolvimento de estudos e pesquisas e na observação e no exercício prático das escolas-laboratório, naquela, separa-se o profissional do cientista, deslocando-se o eixo das atividades uni- versitárias para a formação profissional (SAVIANI, 2008a, p. 37-38). U N IC ES U M A R 17 É nesse enfoque que se institui um currículo pleno para o curso específico de Pedagogia. Ainda, de acordo com o Decreto n. 1.190/39, pode-se destacar a oferta das disciplinas na Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências, Letras e Pedagogia, com a inclusão, ainda, da Didática, um modelo que contemplava o bacharelado com três anos de duração, e a licenciatura, em mais um ano. Os cursos de Pedagogia, definidos como bacharelado, poderiam formar o peda- gogo para assumir a função técnica em educação e, assim, também, obter a licenciatura e assumir a função de professor, além de cursar didática, ofertada em um ano, o que deu origem ao conhecido “3+1”. O professor cursando, por- tanto, a Pedagogia, poderia assumir as disciplinas das Escolas Normais, pois, estas estariam voltadas à formação específica de uma profissão, respaldada pela Lei Orgânica do Ensino Normal, sofrendo alterações com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n. 4.024/61. Destaca-se, nesse ensejo, a criação de algumas instituições que, ainda, vigo- ram e que organizam os espaços do ensino, da educação, da pesquisa e da exten- são universitária, dentre eles: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e os Centros Regionais de Pesquisa Educacional (CRPE). O Parecer n. 252/69, do Conselho Federal de Educação (CFE), e a Resolução n. 2/69 fixaram os conteúdos mínimos e a duração de quatro anos para o curso de Pe- dagogia. Neste caso, o currículo compunha uma parte comum e outra diversificada. Nesse currículo, havia, ainda, as habilitações profissionais: Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar. O habilitado, também, poderia lecionar as disciplinas pedagógicas nos cursos de formação de professores, nesse período, na Escola Normal. Nesta perspectiva, acontecia tanto a formação do generalista quanto do especialista no mesmo curso de graduação. Essa forma de organização permaneceu até depois da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n. 9.394/96, sendo alterada com as novas diretrizes curriculares nacionais do Curso de Pedagogia de 2006. Foram muitas mudanças! Brzezinski (2002, p. 82) enfatiza o pacote de medidas aprovadas pelo Conselho Fe- deral de Educação (CFE), estimulando o movimento dos educadores, os quais, se- gundo ela, “eram contra as possíveis mudanças que, em sua essência, propugnavam U N ID A D E 1 18 Em nível global, a necessidade de formação docente fora preconizada por Comenius, no século XVII, sendo que o Seminário dos Mestres, instituído por São João Batista de La Salle, em 1684, foi o primeiro estabelecimento de ensino destinado à formação de professores. Mas, somente após a Revolução Francesa, mais precisamente no final do século XVIII, iniciou-se o processo de valorização da instrução escolar, período em que foram criadas as Escolas Normais com a finalidade de formar professores. Assim, nas- ceu a necessidade de universalizar a instrução elementar e, para tanto, a urgência de organização dos sistemas nacionais de ensino. Na visão de Saviani (2009), foi a partir daí que se introduziu a distinção entre Escola Normal Superior para formar professores de nível secundário e a Escola Normal simplesmente, também chamada de Escola Normal Primária, para preparar professores do ensino primário. Fonte: Borges, Aquino e Puentes (2011). explorando Ideias a extinção do curso de pedagogia e descaracterizavam ainda mais a profissão de pedagogo, que paulatinamente seria extinta” (BRZEZINSKI, 2002, p. 82). Ao tratar do movimento de educadores nas questões relativas ao problema da formação dos profissionais da educação, destaca-se que esse movimento articulou-se ao final da década de 1970, materializando-se em razão da I Conferência Brasileira de Educação, em 1980, na cidade de São Paulo. Foi, neste período, que se criou o Comitê Pró-Participação na reformulação dos cursos de Pedagogia e Licenciatu- ra. O comitê organizou-se na forma de comissões regionais, transformou-se, em 1983, em Conarcfe, que, por sua vez, em 1990, constituiu-se em Anfope, a qual está, ainda, em atividade nos dias atuais. U N IC ES U M A R 19 2 DIRETRIZES NACIONAIS DO CURSO DE PEDAGOGIA: ÁREAS DE ATUAÇÃO POSSÍVEIS AO LICENCIADO No decorrer do curso de Pedagogia, você deve perceber que as mudanças na for- mação de professores são decorrentes de questões sociais, políticas e econômicas, muitas já mencionadas, na primeira aula desta unidade. Portanto, ao discutirmos essas mudanças, tornam-se necessários, para nossa reflexão, dois modelos que marcaram o curso e que se configuraram a partir da década de 1980. O primeiro refere-se ao modelo tradicional, o qual licenciava e habilitava para o exercício da docência nos cursos de formação de professores em nível médio, nas disciplinas pedagógicas. Os habilitados, ainda, poderiam exercer a função de especialistas nos sistemas de ensino: supervisores, orientadores, administradores escolares e inspetores de ensino.O segundo modelo caracterizava-se pela formação para o exercício do magistério dos anos iniciais do Ensino Fundamental e, em alguns casos, da Educação Infantil e das disciplinas pedagógicas dos cursos de forma- ção de professores em Nível Médio; tanto um modelo quanto o outro estavam respaldados pelo Parecer do CFE n. 252/69. U N ID A D E 1 20 “ A implantação desse novo modelo por diferentes instituições de ensino superior foi acolhida pelo CFE, que autorizou as primeiras experiências e, posteriormente, pelo CNE, através de Pareceres es- pecíficos. Ocorre que todas as perspectivas inovadoras que marcam a trajetória dos Cursos de Pedagogia nos últimos quinze anos foram ignoradas pelos reformadores oficiais que instauraram uma nova ordem para a educação do país, a partir da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases (FORUMDIR, 2003, on-line)1. Em 1996, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), a qual possibilitou a criação dos Institutos Superiores de Educação (ISEs) e o Curso Normal Superior (CNS), o que levou os educadores a debates sobre a legalidade desses cursos. “ A caracterização legal dos ISEs, que atribuíram a responsabilida- de da formação de todos os professores para a Educação Básica sob a justificativa de integração espacial e pedagógica no processo formador, mostrou sua precariedade em termos de constituição e titulação acadêmica de seu corpo docente, tornando-os inaptos para o desenvolvimento da pesquisa (FORUMDIR, 2003, on-line)1. Nessa perspectiva, ficou evidenciada a separação entre atividades de formação e de produção de conhecimentos essenciais à docência, as quais devem se de- senvolver de forma concomitante na universidade, favorecendo a aquisição dos conhecimentos teóricos da educação. Nesse ponto de vista, percebe-se, claramen- te, o dualismo que caracteriza, ainda, o modelo vigente. O currículo do curso de Pedagogia, nesse sentido, mesmo alimentando um currículo integrado, não foi U N IC ES U M A R 21 suficiente para que os Institutos Superiores de Educação ultrapassassem a bar- reira do meramente prático e técnico em detrimento dos fundamentos teóricos que orientam e dão base à prática efetiva do professor. As universidades têm compromisso com o trabalho que envolva ensino, pes- quisa e extensão e isto significa que, ofertando a formação de professores emNível Superior, devem fomentar o conhecimento como forma de elevação da cultura teórica, epistemológica, portanto, científica, pois quando ele não atendem a essas questões, as instituições têm dificuldade para garantir sua dimensões teórico- -epistemológica, necessária à formação humana como um todo, ou seja, tendem a cair em um reducionismo pedagógico. Essa questão ficou entendida quando houve a abertura do Curso Normal Superior e Instituto Superior de Educação. Os cursos ofertados por essas instituições, tal como os cursos de Pedagogia das universidades, têm como finalidade formar professores para atuarem nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil, em um primeiro momen- to; no entanto faz-se necessário preserve o rigor teórico-metodológico pautado na pesquisa, nos procedimentos investigativos, nas situações que contribuem para o conhecimento e desenvolvimento humano. Os educadores, continuamente, discutem e debatem as licenciaturas, especificamente, o curso de Pedagogia, desde o Parecer n. 252/69 até os nossos dias, e essa é uma prática constante. Os momentos incessantes de reflexão possibilitaram, “ [...] a implementação de inúmeras experiências praticadas nas di- versas instituições de ensino superior universitária que formam o pedagogo, além da produção de novos conhecimentos através da pesquisa realizada em contextos escolares e não escolares. Esses movimentos de experimentações e de pesquisas possibilitaram que chegasse a uma clara explicitação da identidade dos cursos de pedagogia e do pedagogo (FORUMDIR, 2003, on-line)1. Nesse ponto de vista, podemos enfatizar que a graduação em Pedagogia visa a ofertar uma formação integrada, o que oportuniza ao pedagogo exercer, no futu- ro, a docência, e tem em vista, finalidades e intencionalidades educativas baseadas no rigor científico. O compromisso da formação está presente nas Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia (DCNs), instituído pela Resolução CNE/ CP n. 1, de 15 de maio de 2006, no seu Art. 1º: U N ID A D E 1 22 “ A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura, definindo princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem observados em seu planejamento e avaliação, pelos órgãos dos sistemas de ensino e pelas instituições de educação superior do país, nos termos explicitados nos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006 (BRASIL, 2006, p.1). Sobre as áreas de atuação do(a) pedagogo(a), as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia (2006) do CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, trazem a formação pautada na licenciatura para a docência na Educação Infantil, anos Iniciais do Ensino Fundamental, na alfabetização/fase I do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos, nas matérias/disciplinas pedagógicas dos cursos de Formação de Professores em Nível Médio, e em outras atividades as quais se fizerem necessárias, sejam estes ambientes escolares e/ou não escolares. Nesse aspecto da formação, podemos observar, no Art. 2º, a ênfase dada à aplicação da docência. A profissão docente, portanto, está designada ao: “ Exercício na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamen- tal, nos cursos de Ensino Médio - Modalidade Normal, em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, ou em outras áreas em que estejam previstos conhecimentos pedagógicos (BRASIL, 2006, p.1). No parágrafo 1º do Art. 2º está destacada a docência como ação educativa e processo pedagógico, o que requer procedimento metódico e intencional. São consideradas as relações sociais construídas, relações étnico-raciais e produtivas, as quais “ [...] influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científi- cos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo (BRASIL, 2006, p.1). U N IC ES U M A R 23 A questão da formação e da função do(a) pedagogo(a), conforme o Parágrafo Único do Art. 4º, destaca, na sequência dessa discussão, que “as atividades docen- tes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino” (BRASIL, 2006, on-line). As atividades as quais referem-se ao respectivo parágrafo contemplam: “ I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e ava- liação de tarefas próprias do setor da Educação; II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; III - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares (BRASIL, 2006, p. 2). Nessa questão, embora percebamos o propósito de formar para a docência, já que a Pedagogia, de acordo com as Diretrizes, é uma licenciatura, está claro que esta dá abertura para a formação na área da gestão, ou seja, o(a) licenciado(a) em Pedagogia pode assumir função pedagógica de assessoramento, planejamento, avaliação e coordenação, isto é, atividades afins que se caracterizam no trabalho que envolve o ensino e a aprendizagem. Olha, você, aluno(a) da Pedagogia, deve buscar conhecer a escola e sua função social, pois isso é fundamental. O professor necessita ter consciência da função que exerce enquanto docente ou como gestor que trabalha, bem como visar à transfor- mação dos sujeitos que passam pela escola. Na sua formação, é preciso que aprenda elementos que indiquem caminhos para uma prática consciente, ética e compro- metida, objetivando uma sociedade diferente, mais justa e igualitária. Por isso, o professor deve, assim, zelar, educar e cuidar das crianças com responsabilidade e compromisso diante da função que assumiu quando optou pela profissão docente. U N ID A D E 1 24 Deve perceber que o trabalho pedagógico torna-se fundamental para o de- senvolvimento da criança, ou seja, esta deve ser educada em todos os aspectos (físico, psicológico, intelectual e social) e deve-se trabalhar pela aprendizagem, inclusive daqueles que não tiveram condições de estudar ou de continuar seus estudos. É interessante ressaltar, aqui, que esses últimos referem-se aos jovens e adultos sem escolarização, demanda esta também de responsabilidade do(a) pedagogo(a), embora não retratada nas Diretrizes de forma direta. O licenciado(a) em Pedagogia deve, de acordo com o Art. 5°, Inciso 5° das Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, “reconhecer e respeitar as ma- nifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas” (BRASIL, 2006, p. 2). Ainda conforme o Art. 5°, Inciso 6°, “ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às dife- rentes fases do desenvolvimento humano” (BRASIL, 2006, p. 2). Além da aplicabilidade da Pedagogia, têm-se, de acordo com os Parágrafos 1º e 2º, algumas especificidades em que o pedagogo poderá assumir enquanto professor, conforme região, localidade e necessidade. “ § 1º No caso dos professores indígenas e de professores que venham a atuar em escolas indígenas, dada a particularidade das populações com que trabalham e das situações em que atuam, sem excluir o acima explicitado, deverão: I - promover diálogo entre conhecimentos, valores, modos de vida, orientações filosóficas, políticas e religiosas próprias à cultura do povo indígena junto a quem atuam e os provenientes da sociedade majoritária; II - atuar como agentes interculturais, com vistas à va- lorização e o estudo de temas indígenas relevantes. § 2º As mesmas determinações se aplicam à formação de professores para escolas de remanescentes de quilombos ou que se caracterizem por receber populações de etnias e culturas específicas (BRASIL, 2006, p. 2). Fica evidenciado que o(a)pedagogo(a) tem possibilidades de se inserir em um contexto no qual são exigidos os conhecimentos aprendidos no processo de for- mação acadêmica, dentro da área, certamente, de atuação, conforme descrito nas DCNs do Curso, seja na Modalidade da Educação de Jovens e Adultos, Educação Indígena ou Quilombola. U N IC ES U M A R 25 Nesta unidade e nesta aula, trazemos para nossos estudos, ainda, a Resolução n. 2, de 1º de julho de 2015. Nesta, estão definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos de for- mação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e a formação continuada. Diretrizes estas que se adequam à Diretriz do Curso de Pedagogia do Conselho Pleno de 2006, porém que trata as licenciaturas de modo geral. É importante destacar, aqui, a estrutura que compõe a formação do (a) pedagogo(a). Podemos observar, nas DCNs (Art. 6º), (BRASIL, 2006, p. 3) e na Resolução n. 2 (Art. 12), (BRASIL, 2015, p. 9), a orientação e o respeito à diversidade nacional bem como a autonomia pedagógica das instituições, as quais devem constituir-se de: “ I - núcleo de estudos de formação geral, das áreas específicas e in- terdisciplinares, e do campo educacional, seus fundamentos e me- todologias, e das diversas realidades educacionais [...]. II - núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos das áreas de atuação profissional, incluindo os conteúdos específicos e peda- gógicos, priorizadas pelo projeto pedagógico das instituições, em sintonia com os sistemas de ensino [...]. III - núcleo de estudos integradores para enriquecimento curricular [...]. (BRASIL, 2015). A prática de ensino por meio das disciplinas pedagógicas (Fundamentos da Edu- cação e Metodologias de Ensino) bem como o Estágio Supervisionado, marcam a U N ID A D E 1 26 formação de professores no sentido de propiciar a leitura, a reflexão e a análise dos condicionantes históricos, políticos e sociais da licenciatura em Pedagogia. Dessa forma, o Art. 13 das Diretrizes Curriculares de 1º de julho de 2015, destaca que: [...] Os cursos de formação inicial de professores para a educação básica em nível superior, em cursos de licenciatura, organizados em áreas especializadas, por componente curricular ou por campo de conhecimento e/ou interdisciplinar, considerando-se a complexida- de e multirreferencialidade dos estudos que os englobam, bem como a formação para o exercício integrado e indissociável da docência na educação básica, incluindo o ensino e a gestão educacional, e dos processos educativos escolares e não escolares, da produção e difusão do conhecimento científico, tecnológico e educacional, estruturam-se por meio da garantia de base comum nacional das orientações curriculares. § 1º Os cursos de que trata o caput terão, no mínimo, 3.200 (três mil e duzentas) horas de efetivo trabalho acadêmico, em cursos com duração de, no mínimo, 8 (oito) semestres ou 4 (quatro) anos, compreendendo: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricu- lar, distribuídas ao longo do processo formativo; II - 400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, na área de formação e atuação na educação básica, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto de curso da instituição; III - pelo menos 2.200 (duas mil e duzentas) horas dedicadas às ativida- des formativas estruturadas pelos núcleos definidos nos incisos I e II do artigo 12 desta Resolução, conforme o projeto de curso da instituição; IV - 200 (duzentas) horas de atividades teórico-práticas de aprofun- damento em áreas específicas de interesse dos estudantes, conforme núcleo definido no inciso III do artigo 12 desta Resolução, por meio da iniciação científica, da iniciação à docência, da extensão e da monitoria, entre outras, consoante o projeto de curso da instituição. § 2º Os cursos de formação deverão garantir nos currículos conteú- dos específicos da respectiva área de conhecimento ou interdisci- U N IC ES U M A R 27 plinares, seus fundamentos e metodologias, bem como conteúdos relacionados aos fundamentos da educação, formação na área de políticas públicas e gestão da educação, seus fundamentos e meto- dologias, direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de Sinais (Li- bras), educação especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. § 3º Deverá ser garantida, ao longo do processo, efetiva e concomi- tante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos para o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários à docência. § 4º Os critérios de organização da matriz curricular, bem como a alocação de tempos e espaços curriculares, se expressam em eixos em torno dos quais se articulam dimensões a serem contempladas, como previsto no artigo 12 desta Resolução. § 5º Nas licenciaturas, curso de Pedagogia, em educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental a serem desenvolvidas em pro- jetos de cursos articulados, deverão preponderar os tempos dedica- dos à constituição de conhecimento sobre os objetos de ensino, e nas demais licenciaturas o tempo dedicado às dimensões pedagógicas não será inferior à quinta parte da carga horária total. § 6º O estágio curricular supervisionado é componente obrigatório da organização curricular das licenciaturas, sendo uma atividade específica intrinsecamente articulada com a prática e com as demais atividades de trabalho acadêmico (BRASIL, 2015, p. 13). Nesse enfoque, torna-se essencial o conhecimento sobre as determinações legais e pedagógicas que orientam sua formação acadêmica, caro(a) pedagogo(a), para, assim, compreender a dinâmica do ensinar e do aprender em uma perspectiva de emancipação. Para isso, deve-se fazer valer o disposto no Art. 8º das DCNs (2006), propicia, possibilidades de integrar os estudos por meio de: I - disciplinas, seminários e atividades de natureza predominante- mente teórica que farão a introdução e o aprofundamento de es- tudos, entre outros, sobre teorias educacionais, situando processos de aprender e ensinar historicamente e em diferentes realidades socioculturais e institucionais que proporcionem fundamentos U N ID A D E 1 28 para a prática pedagógica, a orientação e apoio a estudantes, gestão e avaliação de projetos educacionais, de instituições e de políticas públicas de Educação; II - práticas de docência e gestão educacional que ensejem aos li- cenciandos a observação e o acompanhamento, a participação no planejamento, na execução e na avaliação de aprendizagens, do en- sino ou de projetos pedagógicos, tanto em escolas como em outros ambientes educativos; III - atividades complementares envolvendo o planejamento e o desenvolvimento progressivo do Trabalho de Curso, atividades de monitoria, de iniciação científica e de extensão, diretamente orien- tadas por membro do corpo docente da instituição de educação superior decorrentes ou articuladas às disciplinas, áreas de conhe- cimentos, seminários, eventos científico-culturais, estudos curri- culares, de modo a propiciar vivências em algumas modalidades e experiências, entre outras, e opcionalmente a educação de pessoas com necessidades especiais, a educação do campo, a educação indí- gena, a educação em remanescentes de quilombos, em organizações não-governamentais, escolares e não-escolares públicas e privadas (BRASIL, 2006, p. 4). Portanto, procure observar que há uma extensão enorme de possibilidades que visam à aquisição de conhecimentos sobre a realidade escolar e de formação. O tempo acadêmico propicia a aprendizagem de conceitos, concepções, teorias e práticas que favorecerão a construção significativa de posturas, de trabalhos e de conhecimentos pautados na pluralidade e diversidade cultural, salvaguardando o campo da ciência e da tecnologia. É por isso que,a aula seguinte, busca-se trazer, para reflexão e análise, os saberes e conhecimentos próprios do(a) pedagogo(a). Não deixe de acompanhar as leituras das próximos aulas. U N IC ES U M A R 29 3 SABERES E CONHECIMENTOS PERTINENTES À PROFISSIONALIZAÇÃO DO PEDAGOGO Nessa aula, buscamos priorizar os saberes e conhecimentos pertinentes ao(à) pedagogo(a). Por que falamos em saberes e conhecimentos? A resposta é: porque o(a) licenciado(a) em Pedagogia deve possuir, para além dos conhecimentos acadêmicos, de formação específica, científica, os saberes acumulados no co- tidiano, que se juntam a partir da vivência, com os aprendidos de forma sis- temática, cientificamente, gerando um repertório plural capaz de transformar dialeticamente conceitos espontâneos em científicos. Dessa forma, na formação em Pedagogia, há que se atentar para os saberes e conhecimentos pertinentes ao futuro profissional. Cabe-nos, então, indagar: o que o(a) pedagogo(a) precisa conhecer, saber, aprender para ter uma atuação profissional adequada, de quali- dade, relevante, coerente e fundamentada? Muito bem, elencaremos, nesta aula, alguns pressupostos, fundamentos e posturas que condizem com o que se espera do(a) profissional de Pedagogia e que, certamente, farão a diferença em diversos contextos e etapas escolares. Já é de conhecimento que a Pedagogia é uma ciência cujo campo teórico-in- vestigativo do conhecimento, valores, os princípios e as concepções são salva- guardados em razão da sua especificidade. Nesse sentido, as atividades orientadas pelas diretrizes curriculares garantem a reflexão crítica do profissional em relação ao planejamento, à execução e à avaliação das ações desenvolvidas. Da mesma forma, tem-se “a aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, U N ID A D E 1 30 de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental- -ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural” (BRASIL, 2006, p. 1). As Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia (Art. 3º), (BRASIL, 2006). orientam-nos sobre o repertório de informações que se traduz nos fundamentos que caracterizam o campo científico da ciência didático-pedagógica e dos profis- sionais que dão efetividade ao trabalho com os conteúdos. Neste repertório, tem-se: “ [...] uma pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja con- solidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamen- tando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética. (BRASIL, 2006, p. 1). Como você pode observar, há, nesse campo, uma abrangência enorme dos conhe- cimentos requeridos à profissionalização do(a) pedagogo(a), os quais se destacam no Parágrafo Único do Art. 3°: “ I - o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; II - a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investiga- ções de interesse da área educacional; III - a participação na gestão de processos educativos e na or- ganização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino (BRASIL, 2006, p. 1). Os saberes e fazeres da Pedagogia possuem uma base teórico-epistemológica que se constituem de forma integral e inseparável. Nesse sentido, deixa explícita a expressão da práxis, a qual é movida por intencionalidades pertinentes à for- mação humana e profissional. Para isso, é preciso ficar claro o conceito sobre a representação de trabalho na vida dos sujeitos. O trabalho pedagógico, na área da Pedagogia, deve privilegiar o conhecimento, tendo em vista a abordagem episte- mológica e sociológica de análise da realidade pedagógica. Esta possibilidade leva o profissional a compreender o sentido da práxis na ação educativa, “destacando sua relação essencial com o saber situado em contexto pedagógico-didático. Sig- nifica igualmente compreender os processos de aprendizagem como interações de sujeitos em contexto de cognição situada”. U N IC ES U M A R 31 “ A noção de práxis destaca o trabalho do profissional de peda- gogia focalizando os seus fins, ou seja, sua função mediadora de construção de saberes junto a outros sujeitos em processos de formação que, de modo reflexivo, têm acesso ao conhecimento tornando-se igualmente sujeitos transformadores. Trata-se de uma função eminentemente profissional fundada em uma con- cepção de educação como ciência objetivando os processos de aprendizagem para a emancipação social e profissional do ser humano (FORUMDIR, 2003, on-line). Nessa perspectiva, você precisa entender a práxis como princípio norteador e orientador da ação educativa, compreendendo sua abordagem dialética, prática, teoria e prática. Este conhecimento faz-se necessário, haja vista que a dimensão epistemológica do conhecimento reflete a postura do profissional e sua função social, que é transmitir conhecimentos, contribuindo para a formação humana dos sujeitos escolares. Não podemos deixar de mencionar, aqui, que saberes e fazeres docentes pos- suem natureza pedagógica, pois as atividades referentes à profissão são vinculadas a objetivos e intencionalidades que prezam pela formação humana em todos os seus aspectos. Para atingir tais objetivos e intencionalidades, o Documento do Forumdir (2003, on-line)1 enfatiza os “processos metodológicos e organizacionais de apropriação, reelaboração e produção de saberes e modos de ação”, os quais U N ID A D E 1 32 são mobilizados por meio de conteúdos, desenvolvimento de habilidades tanto de pensamento quanto de ação, o que leva à construção da autonomia e cida- dania plena, além dos valores éticos e de compromisso político tão necessário à profissionalização pedagógica. Na compreensão de que a formação do(a) pedagogo(a) deve habilitá-lo(a) para a ação pedagógica, docência e a gestão educacional, faz-se importante pensar os conteúdos dessa formação. Esta questão nos mostra que o trabalho como prá- xis só tem sentido se este estiver vinculado ao sujeito da ação intencional. Nesse aspecto, podemos observar, por meio do Fórum de Diretores das Universidades Públicas (FORUMDIR, 2003, on-line)1 que: “ [...] O currículo de formação, compreendido como conjunto de atividades, disciplinas e posturas, graças às quais ele pode incor- porar, desenvolver e se apropriar de conteúdos formativos. Isso induz à concepção de um profissional com uma tríplice relação do seu trabalho ao saber: o pedagogo é um profissional que domina determinados saberes, que, em situação, transforma e dá novas configurações a esses saberes e, ao mesmo tempo, assegura a di- mensão ética dos saberes que dão suporte à sua práxis no cotidia- no do seu trabalho. Como é possível constatar, há uma tríade importante, a qual se mostra insepará- vel nos processos de formação do(a) pedagogo(a): domínio de saberes, transfor- mação de saberes e atuação ética, elementos fundamentais para demonstrar uma postura em que o conhecimento didático-pedagógico tenha solidez e manifeste a transformação nos sujeitos que buscam esta profissionalização. Você se lembra de que, no início desta aula, destacamos o(a) profissional de Pedagogia como aquele(a) que deve estar munido(a) de saberes e conhecimentos capazes de transformar a dinâmica educativa? Pois bem, estes constituem a base dos conhecimentos, os quais implicam na dimensão plural dos saberes, que são cons- truídos e produzidos, historicamente, pelos sujeitos no decorrer da humanidade. Isso significa o repertório de conhecimentos que o profissional da educação deve aprender para o exercício consciente da sua profissão. São saberes que possibilitam a leitura de mundo, tendo em vista o que produz a ciência. São os saberes constituí- dos na relação entre as teorias da educação e da Pedagogia com as outras ciências; como exemplo, podemos mencionar os fundamentos históricos, antropológicos, U N IC ES U MA R 33 filosóficos, sociológicos, psicológicos, os da linguagem, das ciências exatas e da na- tureza. O(a) pedagogo(a), mesmo não sendo um profissional formado nas respec- tivas áreas, deve ter conhecimento sobre estas, pois ele(a) atuará como professor(a) dessas áreas nos cursos de formação de docentes em Nível Médio, nas disciplinas pedagógicas ou, até mesmo, para trabalhar as dimensões do conhecimento com os pequenos. Têm-se, ainda, os saberes que orientam, caracterizam e fundamentam o ensino e a aprendizagem, por exemplo, as concepções teórico-metodológicas e as questões legais necessárias ao exercício da docência; os conhecimentos da gestão educacional, relacionados ao ato de planejar, coordenar, acompanhar e avaliar os sistemas de en- sino; os processos da educação escolar e não escolar; bem como participar da elaboração de documentos voltados às políticas públicas na área educacional. Outros saberes próprios ao(à) pedagogo(a) são aqueles integrados aos demais saberes já apontados, ou seja, as várias áreas do conhecimento. Assim, a docência nas áreas de atua- ção do(a) pedagogo(a) exige conhe- cimentos que permeiam as áreas de fundamentos da educação, das meto- dologias de ensino e de aprendizagem, dos conteúdos e métodos e, tudo isso junto, constituirá o lócus da práxis. Ou seja, o(a) pedagogo(a), à medida que exercita, no seu cotidiano, a sua função pedagógica, amplia suas experiências por meio da reflexão, da pesquisa, do entendimento e da compreensão acerca da realidade, como podemos perceber: “o pedagogo exercita cotidianamente sua função pedagógica e amplia seu reservatório de experiências - seu saber experien- cial aplicado à reflexão na pesquisa do cotidiano” (FORUMDIR, 2003, on-line)1. Observe, meu(a) caro(a) licenciando(a), que, por meio das disciplinas de for- mação específica, vistas, estudadas e aprendidas no curso de Pedagogia, você deve atentar para demandas também específicas, como: educação de jovens e adultos; ou de alunos que apresentam deficiência; educação em sistemas sociais, empre- sariais, prisionais, entre outras. A formação relacionada às respectivas demandas U N ID A D E 1 34 poderá ser aperfeiçoada em cursos de pós-graduação, após a conclusão do curso de Pedagogia. Não se pode deixar de mencionar os saberes da experiência, que faz parte da história de vida social, da cultura, da formação acadêmica adquirida e do trabalho como atividade que transforma a vida em sociedade. Ainda, faz-se importante ressaltar que você, pedagogo(a), além de trabalhar com os saberes já construídos, também pode contribuir na produção de outros saberes, à medida que trabalha com processos investigativos diante das inda- gações que surgem no cotidiano, que, normalmente, necessitam de respostas e/ou soluções. Isso porque, ao desenvolver o processo de mediação na ação de ensinar, estabelece-se uma relação com quem aprende caracterizando, assim, um momento de produção do conhecimento a partir da realidade apresentada pelo sujeito que aprende. Para isso, é preciso estabelecer relações com o conhe- cimento elaborado construído pela humanidade, pois isso possibilita o novo conhecimento. Portanto, a formação inicial, juntamente com a formação conti- nuada do(a) profissional investigativo e pesquisador, propicia o desenvolvimento e a disciplina da reflexão individual e coletiva que favorecerá, certamente, uma prática transformadora. A ética é um elemento que complementa a base de seus conhecimentos como profissional da educação. O trabalho docente e a ação pedagógica envolvem ques- tões complexas, como insegurança, incertezas, intervenções, conflitos, direciona- mentos, tomadas de decisão, e para a superação dessas questões, são requeridas posturas e atitudes éticas compatíveis com o exercício da profissão. Diante disso, podemos afirmar que, se há consciência sobre o papel social que deve exercer o(a) profissional pedagogo(a), este deverá ter a ética como princípio a ser seguido. “ A ação pedagógica situada conjuga três modalidades de elementos: os saberes de uma ação objetiva definida pelo objeto de aprendiza- gem ou de gestão; os saberes de uma ação estratégica que o contexto de tomada de decisão condiciona; e os saberes de uma ação intera- tiva de sujeitos que inclui subjetividades e individualidades a serem respeitadas. A autonomia relativa do pedagogo no encaminhamento da ação pedagógica encontra seus limites na normatividade ética fundada na emancipação humana (FORUMDIR, 2003, on-line)1. U N IC ES U M A R 35 Nesse pensamento, você, futuro(a) pedagogo(a), deverá compreender e reco- nhecer o princípio ético do trabalho pedagógico, presente no Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição escolar, firmado no compromisso assumido e desenvolvido tanto no âmbito coletivo quanto no individual, à medida que cada um desenvolve o seu papel social. Os saberes e os conhecimentos do(a) pedagogo(a) se explicitam a partir de pressupostos, como já pudemos constatar, baseados na construção do co- nhecimento. Assim, devemos considerar a pesquisa como parte integrante dos processos educativos justamente, porque há observações e ações investigativas, ao mesmo tempo, em que são ensinados os conhecimentos ao aluno. Esta ideia propõe uma formação integrada quando os conhecimentos são transmitidos nas suas múltiplas dimensões, favorecendo, dessa forma, o estabelecimento de relações e articulações necessárias, à aquisição do conhecimento sistematizado. É essencial que você, estudante de Pedagogia, na sua prática pedagógica, refli- ta, continuamente, sobre a necessidade de articulação entre teoria e prática para a efetividade da ação didático-pedagógica dos saberes e fazeres docentes. A Pedagogia se ocupa, de fato, com a formação escolar de crianças, com processos educa- tivos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso, ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. (José Carlos Libâneo) pensando juntos U N ID A D E 1 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) acadêmico(a), a Pedagogia deve ser entendida como prática cul- tural, atividade intencional de produção e internalização de significados. Em razão disso, trabalha e expressa ações materializadas nos currículos. Assim, vimos que a educação é uma prática social que busca realizar, nos sujeitos humanos, as características de humanização plena. Porém toda educa- ção se dá em meio a relações sociais. Em uma sociedade, na qual estas relações acontecem entre grupos sociais diversos, com diferentes interesses, a educação deve ser crítica. Isto significa que a Pedagogia está relacionada ao fenômeno educativo enquanto expressão de interesses sociais em conflito na sociedade em que vivemos. Normalmente, os cursos que formam professores passam por reformula- ções que atendam às necessidades surgidas a partir de diferentes contextos. Em razão disso, conhecer a história da Pedagogia, perceber as mudanças decorren- tes de fatores sociais, econômicos e políticos, saber quais as áreas de atuação do(a) pedagogo(a) e, ainda, os saberes docentes, são de relevância significativa para compreender a dinâmica que envolve a formação dos sujeitos, a escola e o sentido de ensinar e aprender. Destaca-se que, no campo dos saberes do(a) profissional da Pedagogia, os fundamentos pertinentes ao exercício da docência, os quais articulam as di- versas áreas do conhecimento no sentido de propiciarem uma prática melhor contextualizada, são essenciais, pois, ao teorizar os conhecimentos, reflete-sem o sentido da aprendizagem. Como observamos, as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia (2006) explicitam as atribuições do(a) pedagogo(a), suas responsabilidades e compromissos diante da formação recebida. Assim, você pôde, também, perce- ber, por meio dos estudos realizados nesta unidade, os objetivose as finalidades da educação bem como pôde entender um pouco a natureza pedagógica do processo educativo. 37 na prática 1. O currículo do curso de Pedagogia compreende o conjunto de atividades, disciplinas e posturas que levam futuros professores a desenvolverem e a se apropriarem de conteúdos formativos para o exercício profissional. Isso envolve, segundo as Dire- trizes Curriculares (2006), uma tríplice relação. Sobre isso, analise as afirmativas a seguir e considere (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) O(a) pedagogo(a) é um profissional que domina determinados saberes, transforma e dá novas configurações a esses saberes e, ao mesmo tempo, assegura a dimen- são ética dos saberes que dão suporte a sua práxis no cotidiano do seu trabalho. ( ) O(a) pedagogo(a) necessita desenvolver práticas fundadas, somente, na realidade, nos saberes da experiência, nas situações concretas do cotidiano. ( ) O profissional da Pedagogia deve fundamentar-se nas orientações pragmáticas do conhecimento, saber fazer e aplicar os conteúdos independentemente dos fundamentos teóricos aprendidos. ( ) Os saberes próprios (específicos) do(a) pedagogo(a), integrados, organica- mente, aos demais, correspondem ao repertório de conhecimentos a que o pedagogo deve dispor. A sequência correta para a resposta da questão é: a) V, F, F, V. b) F, F, V, V. c) V, V, F, F. d) F, V, F, V. e) V, V, V, F. 38 na prática 2. O trabalho do profissional de Pedagogia tem, como ponto de partida, os fins, o que exige uma função mediadora, a qual contribui para a aquisição de saberes junto a outros sujeitos, de modo a torná-los, também, sujeitos com capacidade de trans- formar pelo conhecimento. Considerando a função social da Pedagogia e do(a) profissional pedagogo(a), avalie as afirmativas a seguir que correspondem aos pressupostos orientadores dos sa- beres docentes. I - A natureza pedagógica da atividade docente é vinculada a objetivos educativos de formação humana, a processos metodológicos que implicam em organização, apropriação, (re)elaboração, produção de saberes e formas de ação. II - A função, eminentemente profissional, é fundada na concepção de educação como ciência, a qual objetiva os processos de aprendizagem para a emancipação social e profissional do ser humano. III - Princípios éticos e políticos, no trabalho com a docência, são essenciais, haja vista que estes devem explicitar posturas e atitudes fundadas na perspectiva da humanização dos sujeitos. IV - O trabalho do pedagogo é impregnado de intencionalidade, pois visa à formação humana por meio de conteúdos e habilidades de pensamento e ação, implican- do em escolhas, valores e compromissos éticos. Está correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) II e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 39 na prática 3. O profissional licenciado em Pedagogia, após a sua formação, necessita de conhe- cimentos sobre a realidade escolar, ou seja, deve reconhecer os fins educacionais e ter consciência acerca de sua função mediadora na produção de saberes junto a outros sujeitos. Nesse sentido, e considerando a atividade e os saberes docentes, analise e descreva o princípio da práxis docente na formação dos indivíduos. 4. A Pedagogia trabalha com a cultura geral e com a formação específica, mas trabalha, também, de forma sistemática, por meio do currículo, da preparação didático-peda- gógica, assegurando ao(à) futuro(a) pedagogo(a) saberes essenciais sobre a função de ensinar. Considerando o Documento Forumdir (2003, on-line)1, e a proposta para as Dire- trizes Curriculares do Curso de Pedagogia (2006), responda, em forma de texto, os itens que seguem: a) O perfil profissional do licenciado em Pedagogia. b) Conhecimentos pertinentes ao(à) pedagogo(a): gerais e específicos. c) Preparação didático-pedagógica: o que significa? Justifique sua resposta. 5. A dimensão ética é essencial na formação do(a) pedagogo(a). É preciso compreender e reconhecer que essa dimensão do trabalho pedagógico tem raízes no compro- misso coletivo e faz parte do processo de elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, da escola ou do curso, assumido, individualmente, por todo educador. Emerge aí o compromisso político do(a) pedagogo(a) com a escrita da história de cada sujeito. Considerando o texto apresentado, escreva sobre o sentido da expressão “compro- misso ético e político do pedagogo”. 40 aprimore-se ENTENDENDO UM POUCO MAIS O CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO E DA PEDAGOGIA A Constituição Federal de 1946 apregoava a necessidade de a União fixar as diretrizes e ba- ses da educação nacional e, em 1947, foi montada uma comissão para sua elaboração. Era o apogeu da Pedagogia Nova. Nesse período, o Ministro da Educação era Clemente Mariani, o qual convidou para integrar essa comissão, o padre Leonel Franca e Alceu Amoroso Lima, representantes católicos, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Almeida Jú- nior, Farias Góis, representantes escolanovistas cujo projeto de lei enaltece e faz prevalecer os ideais renovadores da Escola Nova. Esta perspectiva provoca uma reação católica, em que, ao final da década de 50, consiste no conflito entre escola pública e escola particular. Enfim, a Lei n. 4.024/61 é sancionada, a primeira lei da educação brasileira, que separava o ensino primário do ginasial, com exames de admissão para o ensino ginasial. Cabe ressaltar que, ao final da década de 1950 e início dos anos 1960, aumenta o pro- cesso de educação popular, surge a Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, que propõe um método com direção pautada na valorização do conhecimento do aluno, mostrando tendências com ideário renovador. A concepção pautada na produtividade é influenciada pela Lei n. 5.540/68, Lei da Reforma Universitária, do Decreto n. 464/69, e pela repercussão da Lei n. 5.692/71, dez anos depois da primeira, que institui o ensino de primeiro e segundo graus, uma perspectiva pautada nos princípios do capital humano. Em 1959, Santiago Dantas, que presidia a sessão da Câmara dos Deputados, “preconizou a organização do sistema de ensino em estreita vinculação com o desenvolvimento econômico do país” (SAVIANI, 2008a, p. 109). Nas leis n. 5.540/68 e 5.692/71, essa concepção ficou evidenciada nos princípios da racionalidade e produtividade. O que se buscou, na verdade, foi o máximo nos resultados com o mínimo de despesas possível. Na teoria do capital humano, a educação é um bem de produção; e, assim, manifesta-se a Pedagogia Tecnicista. Pode-se perceber que, de acordo com a Lei n. 5.692/71, os cursos de segundo grau eram todos profissionalizantes, ou seja, seguiam às exigências da sociedade cujo objetivo era formar pessoas com capacidades técnicas que pudessem suprir às necessi- dades do mercado de trabalho, o que é alterado com a Lei n. 7.044/82, quando a respectiva lei deixa como opcional a profissionalização no segundo grau. Um dos motivos é a formação em massa de técnicos em nível de segundo grau. 41 aprimore-se Nesse sentido, a escola deveria formar mão-de-obra para atender às demandas do mer- cado. Esta questão é analisada por Gentili (2002, p. 50): “ O processo de escolaridade era interpretado como um elemento funda- mental na formação do capital humano necessário para garantir a capa- cidade competitiva das economias e, consequentemente, o incremento progressivo da riqueza social e da renda individual. Após a década de 1970, mantém-se a ideia de que a educação é a forma de atingir o meio econômico e produtividade, pois é, pela oferta educacional, que se chega ao objetivo de aumentar a competitividade. O que se percebe, nessa dinâmica, é que: “ [...] Passou-se de uma lógica da integração em função de necessidades e demandas de caráter coletivo (a economia nacional, a competitividade das empresas, a riqueza social etc.) para uma lógica econômica estrita- mente privada e guiada pela ênfase nascapacidades e competências que cada pessoa deve adquirir no mercado educacional para atingir uma melhor posição no mercado de trabalho (GENTILI, 2002, p. 51). Nesse contexto, torna-se evidente a participação do indivíduo no processo de escolha, para adquirir os meios de que necessita para enfrentar o mercado, cada vez mais, competitivo. A educação passa a ser uma forma de conquista de status social, visando atingir à empregabi- lidade. Tem-se, dessa forma, a educação como investimento em capital humano individual, que habilita os sujeitos para a competitividade em empregos disponíveis. Nesse sentido, segundo Saviani (2008a, p. 113), o acesso a diferentes graus de escolarida- de amplia as condições de empregabilidade do indivíduo, o que, entretanto, não lhe garante emprego pelo simples fato de que, na forma atual do desenvolvimento capitalista, não há emprego para todos. Para o autor, a economia pode crescer, inclusive, com o grande de- semprego e com o excesso de população excluída do sistema, tanto no âmbito social quanto educacional ou em outros setores. Fala-se, em inclusão continuamente, mas o que se tem é um contingente de cidadãos excluídos. Fonte: a autora. 42 eu recomendo! História das Idéias Pedagógicas no Brasil Autor: Dermeval Saviani Editora: Autores Associados Sinopse: o livro apresenta, cronologicamente, os fatos e acon- tecimentos que marcaram a história da educação brasileira e a Pedagogia. Indicado para o trabalho com a disciplina de História da Educação, mas fundamental para professores em processo de formação (Pedagogia). Por meio dessa obra, podemos compreender as mudan- ças na área educacional, principalmente, no tocante à formação de docentes, des- de o surgimento das escolas Normais no Brasil, mudanças essas com influências, sociais, culturais, políticas e econômicas. livro 2 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A realidade educacional brasi- leira e a democratização da escola • Formação humana: a consciência crítica e política dos indivíduos • A descentralização da educação e a construção da identidade profissional do(a) pedagogo(a). OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer a realidade educacional brasileira e o discurso democrático que permeia a educação na sociedade contemporânea • Analisar os discursos neoliberais presentes nas propostas educacionais, a fim de estabelecer relações entre as políticas implementadas e a formação para a consciência crítica e política dos indivíduos • Refletir sobre o processo de descentralização da educação e a perspectiva de construção da identidade profissional do(a) pedagogo(a). A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE profissional do pedagogo PROFESSORA Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro INTRODUÇÃO Olá, caríssimo(a)! Nesta unidade de estudos, traremos uma reflexão acerca da realidade educacional brasileira, considerando o discurso democrático que permeia a educação na nossa sociedade. Trata-se, ainda, pensar ques- tões fundamentais, como as de ordem histórica, social, política e cultural que implicam no trabalho escolar e docente. Refletir sobre as questões que permeiam a educação é um objetivo da Pedagogia. Tratar a educação sob o aspecto do discurso democrático é considerar a complexidade educacional e as alterações ocorridas na escola e na formação de professores. Diante desse contexto, refletiremos sobre o conhecimento teórico-prático que permeia a formação inicial de docentes, tanto nas universidades (nos cursos de Pedagogia) quanto na Modalidade Normal em Nível Médio. É importante perceber, nesses cursos, a necessi- dade de trabalhar o conteúdo científico, superando o esvaziamento teórico. Traremos, para nossas reflexões, os desdobramentos da educação na con- cepção neoliberal, presente nas propostas educacionais desde meados da década de 90, o que nos leva a pensar as relações entre as políticas implemen- tadas e o que se acredita como formação necessária para a atuação profissio- nal. Neste entendimento, deve-se discutir a necessidade de uma consciência crítica e política capaz de superar o caráter da adaptação às condições postas pelo liberalismo excludente e trabalhar a possibilidade de emancipação dos sujeitos em uma perspectiva de análise crítica da realidade. Os cursos de formação de docentes se caracterizam por sua especifi- cidade pedagógica e propiciam aos futuros profissionais os fundamentos, as concepções e as teorias que orientam a atuação docente, possibilitando perceber como se dá a busca pela identidade profissional. Portanto, situa- remos o desenvolvimento da formação profissional vinculado a valores, conteúdos e significados, exigências que impulsionam e apontam para o perfil do profissional que se faz necessário no atual momento histórico. U N IC ES U M A R 45 1 A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA e a democratização da escola A educação brasileira, desde o seu princípio, a considerar sua historicidade, já pas- sou por muitos desdobramentos, como se pôde constatar na primeira unidade deste material. O processo de democratização aconteceu a partir do início do século XX. Nesse sentido, são percebidas mudanças significativas que influenciam tanto questões pedagógicas quanto políticas, como, por exemplo, a centralização de ações pautadas, em um momento, no professor, e, em outro, no aluno ou, ainda, nos meios. Quando se trata da formação do professor, as exigências refletem os anseios da sociedade. Esta formação, porém, é, também, uma preocupação, haja vista a notória situação de desvalorização e descaracterização do profissional do ensino no atual contexto. A escola, por sua vez, reflete o espaço onde é possível resolver os conflitos e as mazelas sociais, pois é chamada, a todo tempo, a esta tarefa. Dessa forma, ela perde, também, sua função social, que é a de ensinar conteúdos sistematicamente. Outra questão é a qualificação profissional do docente, a qual é exigida, mas que esbarra em questões de ordem burocrática, atendendo às propostas do Es- tado, sem regulação efetiva dessa instância, no sentido de buscar os mecanismos de formação e avaliação que visem à qualidade esperada. No Brasil, a questão da formação e qualificação profissional tem sido discutida por instâncias edu- cacionais que se preocupam com a educação e a formação docente. É preciso compreender a dinâmica de mudanças na educação, as diferentes concepções didático-pedagógicas bem como os condicionantes sociais que interferem em U N ID A D E 2 46 diferentes contextos. Torna-se importante refletir sobre as condições mais ade- quadas para atender à diversidade cultural. Ao tratarmos da diversidade cultural, devemos considerar que ao(à) profes- sor(a) pedagogo(a) cabe compreender a realidade educacional brasileira, para, en- tão, desenvolver o trabalho pedagógico que respeite as diferenças, aponte e oriente caminhos uma sociedade mais justa e democrática. Esta perspectiva, certamente, contribui para a transformação, de modo a superar a exclusão a atingir a igualdade de condições do ponto de vista dos direitos e oportunidades sociais e educacionais. Nesse sentido, é interessante ressaltar que as críticas em relação aos proce- dimentos didáticos da escola tradicional acabam por trazer contradições acerca da sua efetividade, pois, embora fosse considerado mecânico, baseado na me- morização, ensinava-se o conteúdo. A leitura e a escrita, mesmo trabalhadas de forma mecânica nessa escola, pos- sibilitaram que os sujeitos pudessem desenvolver habilidades para a vida, a exemplo disso, temos os intelectuais da educação que tanto contribuem com suas pesquisas e seus escritos, favore- cendo os nossos conhecimento e en- riquecimento pessoais e profissionais. Quando havia o predomínio da Pedagogia Tradicional, de acordo com Saviani (2009), os livros didáticos tra- ziam rigor teórico, centravam-se nos conteúdos e despertavam para o desenvolvimento intelectual dos alunos,além disso, como não é segredo, a capacidade de memorização era exigida, pois esta é considerada necessária do ponto de vista da apreensão e sistematização do conhecimento. A Escola Nova surgiu com o propósito de superar o caráter memorístico da perspectiva tradicional e teve início, no Brasil, na década de 30, precisamente em 1932, com o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. A respectiva proposta mudou o foco das atenções, antes no professor e, agora, no aluno, principal agente do processo, para uma dinâmica individualizada. Portanto, na concepção peda- gógica escolanovista, a individualidade passou a ser um elemento importante para a promoção da aprendizagem, porquanto importa que cada criança faça ou U N IC ES U M A R 47 desenvolva conforme os seus interesses. Na Pedagogia da Escola Nova, os livros didáticos mudam suas características, tornam-se mais coloridos, com muitas ilustrações, porque, assim, chamam mais a atenção de quem está aprendendo. Nesse sentido, tem-se um aluno que se dedica mais tempo vislumbrando as ilustrações com menos texto para leitura e reflexão sobre os conteúdos. Nessa perspectiva de análise, o objetivo é promover a apren- dizagem por meio do incentivo para executar as atividades cujo predomínio dessa concepção pôde ser percebido até os anos 60. Ainda podemos ressaltar que, nessa dinâmica de ensinar e aprender, tanto o pragmatismo quanto o psicologismo tornaram-se bastante evidenciado nas práticas pedagógicas. Nas décadas de 60 e 70, novas mudanças aconteceram no cenário educacio- nal brasileiro. Devido às exigências do mercado, construiu-se uma ideia pau- tada na produtividade. Nesse período, o tecnicismo foi colocado e se fortale- ce com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 5.692/71. Coube à escola, nesse enfoque, formar pessoas qualificadas para atender às de- mandas do mercado por meio dos cur- sos de segundo grau. É preciso que você saiba que o ensino de segundo grau, de acordo com a Lei n. 5.692/71, deveria propiciar a formação técnica profissio- nalizante, a qual foi obrigatória nas ins- tituições públicas de todo território nacional. Nesse contexto, a ênfase estava nos meios educacionais e o planejamento de ensino era direcionado ao cumprimento de metas estabelecidas, uma concepção pautada na “técnica de fazer”. Buscou-se, também, abordar o livro didático a partir dos pressupostos que orientassem a vertente tecnicista. Os livros tornaram-se, de acordo com Saviani (2009), “descartáveis”, apresentando atividades denominadas “testes” e questões de múltipla escolha. Outra forma apresentada para a explicitação do fazer peda- gógico é a instrução programada. Já em relação à formação de professores, seu direcionamento foi marcado pelo aligeiramento e pela precariedade. O Ensino Superior, em boa parte do século XX, valorizou uma estrutura que buscava articu- lar, nos cursos de formação para a docência, o domínio de conteúdos específicos U N ID A D E 2 48 da área a ser ensinada. Esta era a tarefa atribuída aos institutos ou às faculdades específicas que deveriam desenvolver, assim, o conteúdo pedagógico-didático. Na década de 80, devido ao acentuado índice de evasão e repetência, o que representou grande obstáculo no processo educacional, à escola atribuiu-se o cumprimento da sua função equalizadora. Dessa forma, ela deveria responder como instituição social, revendo valores e conteúdos, na tentativa de contribuir com a democratização educacional. No Brasil, as questões de instrução e for- mação foram pensadas, organizadas e estruturadas para atenderem às seguintes demandas: uma escola para atender à elite da sociedade e outra para atender à classe menos abastada da população. Esta dualidade sempre marcou a nossa educação. Da mesma forma, sentimos a seguinte questão dual em relação ao Ensino Médio: geral ou técnico-profissional? Ou, para superar essa dualidade, um Ensino Médio compreendendo tanto a formação geral, humana, quanto as áreas específicas, na sua forma integrada? Veja! Hoje, ainda, vive-se a luta pela ampliação de vagas para atender à grande demanda escolar, porque isto está assegurado na legislação brasileira: garantir à população acesso e permanência na escola bem como propiciar uma educação de qualidade efetiva e sistematizada. Mas, então, por que ainda existem pessoas fora da escola? Por que ainda vivemos a dualidade no ensino? O discurso da democra- tização existe, mas ela, de fato, se efetiva? Estas questões levam-nos a pensar sobre a complexidade educacional do trabalho escolar, da formação de professores, do en- sino e da aprendizagem, mas amplos foram as lutas, os debates e as discussões para que a educação fosse um direito de todos os cidadãos. Assim, podemos observar: U N IC ES U M A R 49 “ [...] A luta dos educadores, a partir do final dos anos 70 e início da década de 1980, no quadro do movimento mais geral da demo- cratização da sociedade, trouxe contribuições importantes para a educação e para a forma de olhar a escola e o trabalho pedagógico, ao colocar em evidência as relações de determinação existente entre educação e sociedade e a estreita vinculação entre a forma de orga- nização da sociedade, os objetivos da educação e a forma como a escola se organiza (FREITAS, 2002, p. 139). As lutas às quais nos referimos são movimentos sociais, greves e debates, por meio de fóruns organizados por educadores, professores da Rede Pública de Ensino, universidades, por intelectuais da educação do país. Nesse sentido, Oliveira (2002, p.135) reforça a ideia de que “os trabalhadores da educação marcaram definitivamente essa década com as greves que promoveram nos finais dos anos 70 e início dos 80”. Portanto, no movimento de democrati- zação das relações sociais na escola e no país, os docentes iniciaram uma longa trajetória de organização da categoria do magistério e, como podemos perceber, o Brasil ingressou em um processo de (re)democratização a partir de meados da década de 80, quando houve o enfraquecimento e a deses- tabilização do processo político até então vigente – a Ditadura Militar. O lema “diretas já” foi direcionado, positivamente, para a mudança e a sonhada democracia. Foi uma década marcada por muitas conquistas, em particular, para a educação pública brasileira. U N ID A D E 2 50 Observe, aluno(a), o que Ciavatta e Ramos (2011, p. 30) nos orientam sobre a luta dos educadores: “ Ao longo dos anos 1980, a luta dos educadores comprometidos com a educação pública e a superação das desigualdades de classe em todas as suas expressões e, particularmente, na educação, foi pela defesa da educação unitária, omnilateral e politécnica. No confronto das forças políticas vitoriosas no Congresso Nacional e a eleição de Fernando Henrique Cardoso, aprovou-se a Lei nº 9.394/96 cuja tônica não foi mais a de preparação para o trabalho e sim para a vida, ressaltando uma falsa dicotomia só explicável pelo estigma escravocrata de nossa sociedade. Sob esse ideário, preparar para a vida significaria desenvolver nas pessoas competências genéricas e flexíveis, de modo que elas pudessem se adaptar facilmente às incertezas do mundo contemporâneo. Nesse sentido, destacam-se os sindicatos que, a partir da organização das dife- rentes categorias de trabalhadores, consolidaram-se as Conferências Nacionais de Educação e os Congressos Estaduais que mobilizaram “professores e espe- cialistas de educação para amplos debates sobre as questões educacionais e da escola” (DALBEN, 2008, p. 50). O movimento geral da educação contempla os níveis de ensino nas univer- sidades cuja intenção é a melhor integração com a escola básica por meio da ampliação dos cursos de pós-graduação nas Faculdades de Educação. Esses níveis compreendem as etapas da Educação Básica, a Educação Profissional e a Forma- ção de Professores, ou seja, a universidade deve ensinar aos profissionais o que estes deverão ensinar a outros sujeitos, preparando-os paraa vida em sociedade. Podemos destacar, nesse sentido, que as discussões, os debates e estudos em torno dessas questões são promovidas e desenvolvidas por meio de instâncias representativas na área educacional, quais sejam: Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE); Associação Nacional de Pós-Graduação e Pes- quisa em Educação (ANPEd); Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) e Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). As instâncias citadas mobilizam para o processo de democratização, o que contribui para a conquista das condições educacionais, sociais, econômicas, políticas e culturais. Esta perspectiva, sem dúvida, possibilita U N IC ES U M A R 51 que o(a) profissional possa caminhar na direção de uma participação mais efetiva em relação às decisões que esses segmentos propagam e promovem. Ao analisar as questões educacionais da década de 80, é importante regis- trarmos a ruptura no pensamento de cunho tecnicista, até então predominante. É pensada, para a formação do educador, uma perspectiva baseada no caráter sócio-histórico. Assim, surgiu a Pedagogia Histórico-Crítica com a proposta de pensar a formação para a transformação. Considerando a ideia de pensar a educação e o ensino, a escola passou a ser vista como espaço onde se repro- duzem as relações e as contradições sociais, um lugar de lutas, de resistências e aquisição de cultura e conhecimento. Estes elementos favoreceram a emanci- pação social e política dos sujeitos, o que os levam a repensar as desigualdades impostas pelo atual modelo de sociedade capitalista. Portanto, a década de 80 representou, nesse contexto de discussões e mudanças, um marco significativo na definição e redefinição da educação no país. Foi um perío- do considerado de extrema importância, haja vista sua contribuição para o processo de politização do trabalho do professor, das formas como a escola está organizada e das questões pertinentes à gestão escolar. Tem-se, nesse período, os fundamentos da teoria marxista e a discussão sobre o capitalismo excludente. U N ID A D E 2 52 [...] O campo do educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos lugares e sob variadas modalidades: na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política, na escola. De modo que não podemos reduzir a educação ao ensino e nem a Pedagogia aos métodos de ensino. Por consequência, se há uma diversida- de de práticas educativas, há também várias pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação etc., além, é claro, da pedagogia escolar[...] [...] Podemos dizer, então, que a toda educação corresponde uma pedagogia. Mas o que entendemos sobre esse termo que denominamos educação ou prática educativa?[...] [...] A educação é, assim, uma prática humana, uma prática social, que modifica os seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá uma configura- ção à nossa existência humana individual e grupal [...]. Fonte: Libâneo (2001, p. 4-7). explorando Ideias Nesse sentido, as discussões giraram em torno da ideia de uma escola democráti- ca, trazendo o direito e a inclusão como referências para as políticas, principalmente, por meio da Constituição Federal de 1988, nosso documento maior. Ao considerarmos o processo de democratização da escola, uma das pre- missas relevantes é a garantia de acesso e permanência do aluno no espaço educativo até a conclusão da educação básica, da mesma forma, a reflexão sobre a ideia de que a educação é para todos. Assim, pensa-se a gestão escolar como instância capaz de orientar meios que garantam a participação de todos os segmentos, ou seja, da equipe de direção, professores, funcionários, alunos e pais, visando a atingir esta finalidade. É importante destacar que os educadores, ao se envolverem nos movimen- tos sociais e sindicais, podem contribuir para outro olhar sobre a escola e a formação. Este envolvimento, certamente, desperta para outra visão política sobre o segmento escolar, ou seja, a de uma escola unitária, democrática que avance no trabalho pelo caráter humano. U N IC ES U M A R 53 2 FORMAÇÃO HUMANA: A CONSCIÊNCIA crítica e política dos indivíduos Caro(a) aluno(a), na aula anterior, tratamos de questões importantes desencadea- das na década de 80 e, claro, dentre outras questões que permearam a educação e a escola. O espaço institucionalizado do conhecimento, a escola, enquanto or- ganização social, é o lugar onde se transmite a cultura humana, e isso requer que cada indivíduo assuma o seu papel em um processo de participação que vislum- bre o desenvolvimento de propostas efetivas. Nesse contexto, tem-se a figura do gestor, responsável por uma política de atendimento, pautada nas necessidades dos integrantes de toda a comunidade escolar. Na década de 90, a gestão escolar passou a ser objeto de discussões nas diversas instâncias da sociedade, porém em outra perspectiva teórica. Estamos nos referindo à concepção neoliberal, introduzida a partir das reformas educacionais desse pe- ríodo, implementadas com o intuito de modernização dos sistemas educacionais. Este quadro ficou evidenciado a partir dos documentos oficiais da educação, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e os Referenciais Curriculares Na- cionais da Educação Infantil (RCNEI). Nesse sentido, exigiu-se das escolas e dos profissionais o pensamento e a discussão dos reflexos dessas reformas em relação à qualidade da escola e do ensino, dos princípios e finalidades da educação. U N ID A D E 2 54 A Lei n. 9.394/96 foi sancionada e trouxe a regulamentação das diretrizes gerais para a educação brasileira e, consequentemente, para os sistemas de ensino, promoveu mudanças e os orienta sobre os princípios constitucionais quando esses apregoam o direito à escolarização e à inclusão. A Lei n. 9.394/96 apresen- tou ainda, o resultado da redefinição do papel do Estado sobre essa questão. Para compreendermos melhor essa redefinição, torna-se necessário falar, aqui, um pouco mais sobre o neoliberalismo. Esta vertente ideológica mostra-nos uma mudança no papel do Estado, que passa de provedor de bens e serviços para o de avaliador e controlador da qualidade da educação oferecida. Neste momento, vive-se uma concepção pautada em mecanismos advindos da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os quais têm ênfase no ensino ba- seado em competências e habilidades em detrimento de um ensino pautado nos conteúdos e objetivos da educação. Nesse sentido, cabe, então, um desafio: requerer processos políticos pedagó- gicos, no sentido de efetivar uma dinâmica educacional coerente que permita a escola cumprir a sua função social com o propósito maior da educação: a for- mação humana dos sujeitos. Na concepção neoliberal, a ideologia dominante que reitera a abertura de mer- cado e propaga princípios contra-hegemônicos ocasiona desmontes de setores pú- blicos como: educação, saúde, transporte, cultura, moradia, dentre outros aspectos. Essa perspectiva trabalha pela definição de estratégias neoliberais; assim, as políticas: “ Acentuam duas grandes exigências gerais e complementares: priva- tizar empresas estatais e serviços públicos, por um lado; por outro, “desregulamentar”, ou antes, criar novas regulamentações, um novo quadro legal que diminua a interferência dos poderes públicos so- bre os empreendimentos privados. O Estado deveria transferir ao setor privado as atividades em que devidamente se metera e deixar a cargo da disciplina do mercado as atividades regulatórias que em vão tentara estabelecer (MORAES, 2001, p. 35). Isso significa pensar que as conquistas da década de 80 foram desconsideradas, principalmente, em razão dos ajustes na economia, o que implica em mecanismos próprios de uma política elitizada. A desregulamentação, a descentralização, a flexibilização e a privatizaçãosão, nesse sentido, palavras de ordem que orientarão todos os setores da atividade humana. U N IC ES U M A R 55 Considera-se que, diante desse contexto, há um empobrecimento teórico, principalmente, no tocante ao conteúdo trabalhado, tanto nas universidades quanto nas escolas da educação básica. Discute-se, nessa perspectiva, o redu- cionismo no campo teórico-investigativo do conhecimento, haja vista que essas instituições valorizam a prática em detrimento da teoria. A política neoliberal coloca-se na contramão dos propósitos da educação pública. A formação humana, principal objetivo da escola, é comprometida nesse contexto. O trabalho pautado no ensino, na pesquisa e na extensão reitera a fun- ção da universidade, que deve continuar exercendo seu papel de formadora da cultura e para a vida profissional. No entanto, ainda, percebem-se dificuldades no trabalho pedagógico, na unidade entre teoria e prática cuja dicotomia necessita ser superada para evitar, assim, a fragmentação dos saberes, afinal, a educação representa nosso bem maior. Nesse período de conflitos e mudanças, foram implementados projetos edu- cacionais, aflorando novas possibilidades para o processo de escolarização. Sur- giram as avaliações institucionais externas à escola com o intuito de controle do rendimento escolar, assim como as mudanças curriculares, as quais deixaram o professor sem direção teórico-metodológica capaz de fazer avançar o processo de ensino e aprendizagem. Na perspectiva da formação crítica e política, tem-se um sujeito preparado para a emancipação, ou seja, com autonomia para o enfrentamento dos desafios impostos, que possa colocar-se diante dos conflitos e propor mudanças a partir do contexto que se insere. Por outro lado, em uma vertente ideológica, em que U N ID A D E 2 56 o conhecimento passa a ser uma mercadoria, muda-se o foco do trabalho da escola, principalmente, do Ensino Médio e das universidades. Deve-se preparar o trabalhador para o trabalho simples. Isto significa pensar que os sujeitos não necessitam de muito conhecimento para exercerem suas funções, a fragmentação e a descontextualização do conhecimento não seria, nesse sentido, um problema. Torna-se importante salientar que a concepção neoliberal contrapõe-se ao paradigma pautado no diálogo entre os sujeitos, na construção de uma perspec- tiva inclusiva e de direitos. Essa questão é sentida pelo enfoque da seletividade, da produtividade e do interesse individual. A escola passa, portanto, a ter um caráter de formar para as necessidades de ordem técnica em relação às políticas implementadas cuja perspectiva favorece, certamente, a classe privilegiada da sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (n. 9.394/96) nos orienta para dois eixos básicos que revelam uma questão importante: a flexibilização e a avaliação institucional. A flexibilidade é uma palavra para refletir algumas situa- ções políticas, representadas pela descentralização, desregulamentação, dentre outros aspectos, inclusive, “ [...] possibilidades de desoficialização ou mesmo de desescolari- zação dos sistemas; se a lei dá força aos chamados ‘projetos peda- gógicos’ das escolas, ao direito à diferença, ao valor da diversidade cultural e à gestão democrática, ela traz, também, com a maior força, o eixo da avaliação externa desenvolvida pelo próprio Estado (ar- tigo 8, parágrafo único, e incisos VI, VIII e IX do artigo 9), em um processo de regulação e controle com características objetivistas, tecnocráticas, quantitativas e produtivistas, sempre vinculadas às leis de mercado (DALBEN, 2008, p. 61). É percebido um discurso político de inclusão, a considerar as várias formas de participação dos sujeitos, porém, ao mesmo tempo em que se utiliza esse discurso, percebe-se uma sociedade, cada vez mais, excludente. Para trabalhar como docentes conscientes do exercício profissional, tendo em vista uma sociedade inclusiva, justa e igualitária, os cursos de Formação de U N IC ES U M A R 57 Docentes, tanto em nível superior (Pedagogia) quanto na modalidade normal em Nível Médio, devem pautar-se em uma formação para a consciência crítica e política. Freitas (2006, p. 94) chama a atenção para os interesses do capital. Segundo ela, o Estado “[...] sabe que os professores são peças fundamentais na reestruturação da escola e, sem o envolvimento destes, qualquer reformulação está condenada ao insucesso – daí seu permanente esforço para cooptá-lo”. A au- tora denomina neotecnicismo o movimento que representa, em outras palavras, uma recuperação do tecnicismo dos anos de 1970, porém sob novas nuances. O que se percebe é um jogo de interesses, ao mesmo tempo em que há um discurso baseado na centralidade das decisões, no âmbito do coletivo das escolas, por meio de projetos pedagógicos; o que se constata é a fragmentação presente na lógica das relações sociais, políticas e econômicas. Nesse sentido, temos visto, ain- da, muitas práticas autoritárias, regulamentos e regras definidos, externamente, pelos órgãos de coordenação bem como de avaliação das políticas educacionais. As mudanças trazem incertezas, inseguranças aos profissionais do ensino. Os modismos surgidos na educação trouxeram algumas marcas que, ao longo dos anos, foram sendo percebidas e parece que a ausência de método na esco- larização, principalmente, na alfabetização, foi uma delas. Neste pensamento, observa-se que: “ Nos anos setenta, em plena ditadura, o discurso da autonomia e da responsabilidade pelo projeto pedagógico da escola se apresentava, contraditoriamente, como uma possibilidade, e muito foi criado e construído. E, em outros tempos de democratização, muito foi desconsiderado e desvalorizado a partir de decisões intempestivas em nome do novo e do que deveria ser considerado bom. O mesmo se repete quando, em processos de gestão democrática, aqueles que assumem o lugar de poder, decidem deixar as suas marcas sem pre- cisar, necessariamente se estariam ou não reproduzindo as relações autoritárias tão criticadas (DALBEN, 2008, p. 64). Podemos situar, nesse contexto, as discussões sobre o curso de Pedagogia e o processo de construção de identidade do professor, questão a ser discutida na próxima aula. U N ID A D E 2 58 3 A DESCENTRALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E A CONSTRUÇÃO da identidade profissional do pedagogo Se nos remetermos ao conteúdo histórico da educação brasileira, perceberemos que o centralismo, em torno das decisões, permeou, por muito tempo, a educação e a escola. Esse centralismo apresentou-se, de forma mais contundente, “ [...] na formação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a qual, embora tenha contado com a participação da sociedade civil em um dos momentos de sua discussão, pecou por ignorar a uni- versidade e as pesquisas sobre currículo e não contemplou, desde o início de sua elaboração, o debate com a sociedade educacional (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 141). Essa política centralizadora das decisões e elaborações fica mais evidenciada quando se obriga a escola a trabalhar com propósitos e finalidades contrários às decisões tomadas no âmbito do coletivo, com a participação dos envolvidos no processo. Na verdade, o que deveria sempre existir é uma política pensada e discutida com profissionais em torno da educação, profissionais com conheci- mento sobre a realidade, podendo, dessa forma, fazer as intervenções necessárias, discutidas, acordadas entre pares. U N IC ES U M A R 59 A questão da centralização/descentralização deve ser pensada na história da própria formação brasileira e das tendências econômico-sociais presentes em cada período histórico. Nesse sentido, o processo da descentralização e demo- cratização da educação escolar não pode ser discutido se não considerar o modo como é visto e percebido o exercício do poder político do país, quando “ [...] uma das formas de descentralização política é a municipa- lização, que consiste atribuir aosmunicípios a responsabilidade de oferecimento da educação elementar. A municipalização foi proposta por Anísio Teixeira, na década de 1930, para o estabe- lecimento do ensino primário de quatro anos de duração, não como reforma administrativa, mas com o caráter de reforma po- lítica, uma vez que isso significaria reconhecer a maioridade dos municípios e discutir a necessidade de democratização e de des- centralização do exercício do poder político do país (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 141). O grande problema é que se instaura um processo de descentralização sem as condições necessárias para que ela, de fato, efetive-se, como aconteceu com a Lei n. 5.692/71, que repassou a tarefa aos municípios de administrar o Ensino Fun- damental sem, ao menos, oferecer as condições técnicas e financeiras para este fim. É, a partir da Constituição Federal de 1988, que os municípios ganharam a legitimação administrativa do Ensino Fundamental. Esta realidade começou a se delinear com a Lei n. 9.394/96 e, depois, com a aprovação do Plano Nacional de Educação, em 2001, que amplia o Ensino Fundamental, passando de oito para nove anos de escolarização. Tratando-se do Ensino Superior, na atual conjuntura social, vislumbra-se uma educação pautada na perspectiva da emancipação, seguindo os pressupostos da Pedagogia Crítica. Já é sabido que, desde o início dos anos de 1980, o curso de Pedagogia tem passado por momentos de indefinição quanto a sua especifici- dade, ou seja, muitas ambiguidades repercutem na formação dos profissionais de Pedagogia. Nesse sentido, Libâneo (2000, p. 91) relata que as universidades: U N ID A D E 2 60 “ [...] Formam meios futuros professores [...] os professores saem des- preparados para o exercício da profissão, com um nível de cultura geral e de informação extremamente baixo, o que resulta em um segmento de profissionais sem as competências pessoais e profis- sionais para enfrentar as mudanças gerais que estão ocorrendo na sociedade contemporânea. Essa questão aparece, particularmente, em relação à formação teórico-prática dos cursos, implicando nos saberes fragmentados e descontextualizados transmiti- dos. Não se pode desconsiderar, para essa análise, a sociedade atual cujo enfoque está na globalização, quando o incentivo à competitividade modifica padrões de produção e consumo, principalmente, com a introdução de novas tecnologias de comunicação, informação e produção. Nesse sentido, a própria relação de trabalho e de profissão é afetada. Todas essas relações foram constituídas por novas exigências educacionais, com a necessidade de um perfil de profissional diferente daquele, até então, pen- sado. Com isso, os educadores, por meio de reivindicações e organizações sociais, continuam a luta pela valorização profissional de forma incessante, na tentativa de avançar nas questões pertinentes à formação necessária ao campo de atuação. Mesmo com lutas e mobilizações em torno dessa questão, Libâneo (2000) des- taca que pouco ou quase nada se conseguiu, principalmente, no que diz respeito à abordagem epistemológica da Pedagogia, da teoria educacional e da investigação pedagógica. O autor, ainda, afirma que: “ A primeira regulamentação do curso de Pedagogia no Brasil, em 1939, prevê a formação do bacharel em Pedagogia, conhecido como ‘técnico em educação’. A legislação posterior, em atendimento à Lei n 4.024/61 (LDB), mantém o curso de bacharelado para a formação do pedagogo (Parecer CFE 251/62) e regulamenta as licenciaturas (Parecer CFE 292/62). O Parecer CFE 252/69 – a última regulamen- tação existente – abole a distinção entre bacharelado e licenciatura, mas mantém a formação de especialistas nas várias habilitações, no mesmo espírito do Parecer CFE 251/62. Com suporte na ideia de ‘formar o especialista no professor’, a legislação em vigor estabelece que o formado no curso de Pedagogia recebe o título de licenciado (LIBÂNEO, 2000, p. 38). U N IC ES U M A R 61 Libâneo (2000) destaca que eram discutidas questões pertinentes às licenciaturas; por esse motivo, o Parecer CFE 252/69 foi mantido, ou seja, a não diferenciação entre a formação do professor e a do especialista. Os cursos ofertavam as ha- bilitações: administração escolar, inspeção de ensino, orientação educacional e supervisão escolar. Muitas discussões, em torno da formação dos profissionais da educação, fo- ram decisivas para a reformulação dos cursos. A Associação Nacional pela For- mação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), na década de 80, representou o movimento de relevância que culminou na elaboração de documentos que favorecessem a abordagem de concepções teóricas relevantes. Mesmo assim, não se alcançaram os objetivos esperados em relação à questão acadêmica dos cursos de Pedagogia e das licenciaturas em geral. Em meados da década de 90, as Faculdades de Educação centraram-se em um currículo voltado à formação de professores para atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental (utilizando a nomenclatura atual) bem como continuaram a ofertar a formação para atuação nos cursos de magistério (matérias pedagógicas). A suspensão das habilitações demonstra a divisão do trabalho e do controle, um modelo de administração capitalista. A Pedagogia, no Brasil, identifica-se com a própria história da escola pública. Já representou a ciência da prática, mas foi construindo sua identidade a partir da apropriação de concepções teórico-metodológicas e epistemológicas, porém, encontramo-nos novamente, no momento atual, em uma situação de preocupa- ção em relação à formação e à construção da identidade do(a) pedagogo(a). Aí perguntamos: como se constrói a identidade? Ela se constrói na sua trajetória profissional. Porém, em relação à profissão, é, no processo de formação, que se consolidam as opções e intenções que o próprio curso tem, como finalidade, legitimar. Pimenta e Lima (2004, p. 67) explicitam que: “ [...] Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da signifi- cação social da profissão, da revisão constante dos significados sociais da profissão, da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práti- cas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. Constrói-se, também, pelo significado U N ID A D E 2 62 que cada professor, enquanto ator e autor, confere à atividade docente em seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor. Assim como a partir de sua rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros agrupamentos. A questão da identidade profissional do(a) pedagogo(o), portanto, insere-se a partir de um contexto amplo de significados, construções e posturas assumi- dos diante da profissão escolhida. Seu fortalecimento bem como as convicções presentes no exercício da profissão relacionam-se “às condições de trabalho e ao reconhecimento e valorização conferida pela sociedade à categoria profissional” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 66). A identidade do(a) pedagogo(a) está relacionada à formação profissional, pois, no decorrer da sua trajetória, em busca dos saberes necessários à sua atuação, desenvolve capacidade para trabalhar a mediar os conhecimentos teórico-práti- cos, de forma consciente e coerente com os princípios e concepções que regem o ensino e a aprendizagem. Os cursos de formação de professores devem trabalhar com uma ampla base de conteúdos que possam expressar os saberes necessários à formação docente. O(a) pedagogo(a) deve dominar os conhecimentos, as teorias, as concepções que orientaram a educação e a formaçãode professores historicamente. Esta consciência sobre o papel social que ele(a) deve exercer contribui para a cons- trução da identidade profissional, haja vista que a postura assumida, a forma como desenvolve as ações intencionais na formação dos sujeitos, a preocupação em saber e fazer bem o que escolheu enquanto profissãobem como o aprofun- damento teórico-prático que busca para aprimorar as práticas fazem com que o(a) profissional pedagogo(a) compreenda sua importância na vida dos sujeitos. Nesse aspecto, o(a) pedagogo(a), por meio da reflexão sistemática dos seus saberes e fazeres pedagógicos, transforma o conhecimento. Logo: “ O exercício da atividade docente requer preparo. Preparo que não se esgota nos cursos de formação, mas para o qual o curso pode ter uma contribuição específica enquanto conhecimento sistemático da realidade do ensino-aprendizagem na sociedade historicamente situada, enquanto possibilidade de antever a realidade que se quer (estabelecimento de finalidades, direção de sentido), enquanto U N IC ES U M A R 63 Não há sociedade sem práticas educativas. Pedagogia diz respeito a uma reflexão siste- mática sobre o fenômeno educativo, sobre as práticas educativas, para poder ser uma instância orientadora do trabalho educativo. Ou seja, ela não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso conjunto de outras práticas. (José Carlos Libâneo) pensando juntos identificação e criação das condições técnico-instrumentais pro- piciadoras da efetivação da realidade que se quer. Enfim, enquanto formação teórica (onde a unidade teoria e prática é fundamental) para a práxis transformadora (PIMENTA, 2006a, p. 105). A autonomia profissional é uma característica do profissional que domina os saberes teóricos em articulação com a prática. Essa autonomia, também, repre- senta um aspecto identitário do(a) pedagogo(a) à medida que este compreende as necessidades da escola e de seus alunos; busca soluções para resolver os conflitos existentes; toma decisões sobre ações relevantes que podem mudar o quadro educacional, o qual se apresenta cheio de contradições; e enfrenta os problemas de forma consciente, sem perder de vista a conduta ética profissional. Dessa forma, pensar e tornar objetiva a reflexão favorecem a produção de conhecimentos necessários aos saberes e fazeres pedagógicos, uma vez que o compromisso profissional implica na seriedade da busca pela qualidade do ensi- no tão propagada nos nossos dias, mas um pouco distante, ainda, pois esbarra-se na falta de recursos e financiamento para a educação, de estrutura pedagógica e tecnológica, de formação continuada para os docentes, dentre outros aspectos. Não podemos deixar de mencionar que muitas iniciativas aconteceram no sen- tido de se repensar ou reformular o curso de Pedagogia e as licenciaturas. O que pensamos ser a Pedagogia, hoje? Um espaço de formação que deve ser caracterizada pela articulação entre teoria e prática, que considere a dimensão da práxis, e isto im- plica em pensar a formação tendo em vista a ideia de totalidade do conhecimento. U N ID A D E 2 64 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), no estudo desta unidade, refletimos acerca de algumas questões que permeiam a realidade educacional brasileira, no que diz respeito ao processo de democratização da sociedade, da escola e da formação docente. Observamos que a década de 80 foi marcante e significativa, pois repre- sentou um momento de lutas e de movimentos em prol de uma educação de qualidade bem como a busca para uma formação acadêmica que pudesse dar conta da realidade educacional sob o âmbito da abordagem didático-pedagó- gica. O movimento dos trabalhadores em educação foi imprescindível para a conquista de uma escola democrática. Observamos, também, a ausência de políticas que valorizassem a Pedagogia enquanto ciência e espaço de apro- priação do conhecimento científico. A respectiva unidade proporcionou-nos a possibilidade de entendermos que a totalidade dos conhecimentos se dá por meio do trabalho com as disciplinas teórico-práticas cuja finalidade é propiciar a formação integral e humana do professor. Faz-se, então, necessário que a escola identifique as diferenças existentes nas propostas de cunho capitalista e progressista e propicie aos cidadãos a possibi- lidade de enfrentamento dos desafios que surgem continuamente. As institui- ções de ensino devem objetivar a consciência crítica e política que, certamente, impede a exploração dos sujeitos no capitalismo. Promover a valorização do(a) profissional docente é uma necessidade. As políticas públicas deveriam dispor subsídios teóricos acerca dos conteúdos curriculares, dando condições para o(a) pedagogo(a) desenvolver seu trabalho com a qualidade didático-pedagógica a fim de atender às intencionalidades educativas. É, neste caminho de lutas, conquistas e reflexões, que situamos o(a) peda- gogo(a) e a sua identidade profissional. Uma construção que decorre da forma- ção e atuação consciente de seu papel social na formação dos sujeitos. Situamos também, a importância da autonomia do professor e da sua autoridade profis- sional, o que, também, contribui para pensar sua identidade. Apropriar-se dos conhecimentos científicos é uma exigência para ser professor, portanto, é um compromisso profissional que se caracteriza na dinâmica de ensinar e aprender. 65 na prática 1. O ensino e a aprendizagem são processos que acontecem nas relações mediadas pela interação humana e têm, como princípio, o método dialético. Este se faz e se refaz, tendo em vista a abordagem coletiva de apropriação dos conteúdos escolares. Considerando o excerto anterior e destacando a relação dialética do ato de ensinar e aprender, avalie as seguintes afirmativas: I - O professor necessita ter o domínio do conteúdo a ser ensinado nas múltiplas dimensões do saber. II - O rigor científico deve permear a prática docente no processo de ensino e apren- dizagem. III - A elaboração da ação docente, a problematização e a instrumentalização dos saberes escolares são momentos importantes, pois implicam na direção peda- gógica do ato de ensinar e aprender. IV - A tarefa docente consiste em trabalhar o conteúdo científico, mas sem contras- tá-lo com o cotidiano. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II e IV, apenas. 66 na prática 2. Acerca do curso de Pedagogia, em relação ao campo da fundamentação que orienta para a profissão docente, observa-se uma questão interessante: a identificação dos pilares sobre os quais se efetua o cotidiano do processo educacional. Nesse sentido, os elementos básicos que expressam esses pilares são os conteúdos que caracteri- zam esse campo científico e os profissionais que lhe dão efetividade. Portanto, orientados por esta afirmação, avalie os mecanismos que podem relacio- nar-se ao campo de atuação e profissionalização do(a) pedagogo(a): I - Os conteúdos das disciplinas que orientam para a formação específica do pro- fissional da educação. II - A formação integral, entendendo que a identidade do profissional da Pedagogia se constrói nos saberes e fazeres docentes. III - O que determina o(a) profissional docente são, somente, os conhecimentos específicos contidos nas disciplinas específicas de formação. IV - A efetividade do trabalho docente se dá na prática de sala de aula, não há relação com os conhecimentos aprendidos na formação em Pedagogia. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II e IV, apenas. 3. O tecnicismo esteve presente na década de 70. Nesta tendência, a valorização estava nas palavras de ordem: racionalidade técnica, eficácia, eficiência e produtividade. As finalidades giravam em torno da produção para atender ao mercado e, consequente- mente, ao consumo. Nessa dinâmica, ainda, surgem novas exigências na instituição escolar, na educação e no ensino.Discorra sobre a questão apresentada e aponte as consequências da tendência tecnicista na formação de professores. 67 na prática 4. A docência possui uma natureza pedagógica. Essa natureza está vinculada aos pro- pósitos da educação e formação humana. Nesta perspectiva, os processos teóri- cometodológicos de apropriação, reelaboração e produção de saberes bem como modos de ação articulam-se no redimensionamento dos saberes que devem ser trabalhados. Nesse sentido, responda em forma de texto: qual o papel do professor diante da perspectiva de formação humana e profissional? 5. O pedagogo possui atribuições que perpassam o campo da docência como um todo, mas também vai além dessa condição. Nesse sentido, assessorar professores no planejamento, atender os alunos nas suas dificuldades, promover situações de aprendizagem e pensar em critérios avaliativos contribuem para uma atuação com- pleta nesta profissionalização. Dessa forma, considere as atribuições elencadas e responda às questões, a seguir, em forma de texto discursivo: ■ Quais as atribuições do pedagogo na sociedade contemporânea? ■ O que implica dizer que há a necessidade de recuperar a identidade da Peda- gogia e do pedagogo? ■ Como o pedagogo poderá contribuir para maior consciência acerca da reali- dade social? 68 aprimore-se A BASE DE CONHECIMENTOS E A ATUAÇÃO DO(A) PEDAGOGO(A) A base do conhecimento do(a) pedagogo(a), sua participação na produção do co- nhecimento e sua atuação ética são o que o(a) tornam um profissional com caracte- rísticas para o exercício do trabalho pedagógico. A sistematização do conhecimen- to é uma condição da escola. Portanto, é preciso conhecer como se dá a prática docente, desenvolver atividades coletivamente, em um trabalho voltado a atender os objetivos da educação. A contextualização das práticas escolares é um processo multilateral, pois deve estar relacionado ao contexto social mais amplo. O(a) professor(a) formado(a) em Pedagogia é um pesquisador(a): volta sempre para a realidade, a fim de entendê-la; deve saber que a educação transita por inú- meras instâncias sociais; e perceber que o trabalho intenciona processos de emanci- pação social. Dessa forma, refletir sobre as práticas é fundamental para reavaliá-las. O(a) profissional do ensino e da aprendizagem necessita analisar processos de intervenção, à medida que surgem situações problematizadoras no percurso de sua atuação. Sua função é complexa, pois exige o conhecimento teórico-prático dos pro- cessos investigativos. Suas ações devem permear caminhos diversos para atender à demanda com a qual atua. Portanto, trabalhar na diversidade, agir a partir de princípios éticos e compromisso político são necessários para a construção de uma identidade profissional. O(a) pedagogo(a) que atua na perspectiva de professor(a) pesquisador(a) tem pos- sibilidade de tecer análises sobre os condicionantes históricos e sociais dos saberes e fazeres docentes para intervir, conscientemente, sobre a realidade. Nesse sentido, ainda, deve ser alguém que se preocupa com o desenvolvimento cultural, com a atua- ção direta nos projetos e processos educativos. É importante destacar que: 69 aprimore-se Dominar conhecimentos não se refere apenas à apropriação de dados objetivos pré-elaborados, produtos prontos do saber acumulado. Mais do que produtos, tra- ta-se de processos, ou seja, da própria produção dos conhecimentos. Todo conteú- do do saber é resultado de uma construção de conhecimento e, portanto, ensino e aprendizagem constituem-se, em última análise, em um processo de pesquisa (FORUMDIR, 2003, on line)1. O curso de Pedagogia configura-se, na pesquisa, como princípio formativo; as- sim, objetiva levar os licenciandos a investigarem a realidade, seja no ambiente es- colar, seja em outros espaços em que a educação acontece. Dessa forma, é preciso oportunizar ao(à) futuro(a) pedagogo(a) espaços para a vivência da experiência do- cente, ao mesmo tempo em que se garante a familiaridade com práticas científicas e tecnológicas para maior compreensão da realidade concreta. Nessa perspectiva, o(a) pedagogo(a) deve exercer, criticamente, sua função e tra- balhar, tendo em vista o desenvolvimento de atitudes e valores cujo objetivo é a cidadania plena. O currículo dos cursos que formam o(a) profissional de Pedagogia deve, portanto, garantir o aprofundamento da metodologia da pesquisa, propiciar a participação em seminários bem como sua elaboração, discussões acerca de temá- ticas surgidas nos trabalhos realizados e análises das práticas desenvolvidas. Fonte: a autora. 70 eu recomendo! Democratização da Escola Pública: A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos Autor: José Carlos Libâneo Editora: Edições Loyola Sinopse: o autor discute questões que permeiam o movimen- to de educadores em torno do processo de democratização da escola pública. Um esforço coletivo na busca por uma escola que atenda às reais necessidades da população mais pobre. Destaca, ainda, a importância do trabalho docente e a relevância da teoria e da pesquisa à prática pedagógica dos professores. Propõe ideias que possam orientar um pensar e um fazer pedagógico na perspectiva crítica, contribuindo, dessa forma, para um redimensionamento didático acerca das diferentes áreas do conhecimento. livro 3 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Ensino Médio Profissional: a For- mação de Docentes em questão • A Formação de Docentes em Nível Médio e o trabalho com a criança da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental • O compromisso ético-político do(a) pedagogo(a) na Formação de Docentes em Nível Médio. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Analisar a especificidade da Modalidade Normal, seu contexto histórico, os fundamentos e as concep- ções que embasam a profissionalização docente • Refletir sobre a formação inicial de professores em Nível Médio e a sua contribuição no suprimento do quadro educacional brasileiro • Reconhecer, no processo de formação docente, o compromisso ético-político necessário a uma atuação profissional consciente. HISTÓRICO, PERSPECTIVAS E CONTEXTO DA FORMAÇÃO DE DOCENTES em nível médio PROFESSORA Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta unidade, trataremos de um assunto importante, pois envolve um pensar acerca da especificidade do curso de formação de professores em Nível Médio, especificidade que, em razão da oferta desta formação, no nível superior, tem se descaracterizado nos últimos anos. Tal temática, também, oportuniza compreender a diferença existente entre cursos que formam para a docência e outros que profissionalizam, também, em Nível Médio e que formam para outras profissões. Como parte da formação básica, as duas primeiras etapas da escolariza- ção requerem investimentos em todos os seus aspectos: financeiros, estru- turais e pedagógicos. Não se pode conceber uma educação de qualidade, se não houver políticas educacionais que se preocupem com essa formação. Nesta unidade, procuraremos apontar algumas questões para a reflexão sobre a organização e propostas pedagógicas na tentativa de atentar para situações que envolvem as crianças como seres sociais, sujeitos históri- cos, que possuem anseios, desejos e convicções inerentes ao próprio ser humano. Assim, o currículo, como um todo, e o conteúdo representam especificidades da escola que necessitam ser revistos, considerando os do- cumentos e as propostas educacionais. Isso tudo com o olhar crítico no que se refere aos princípios e às concepções que pensamos como fundamentais na formação integral dos alunos dessas etapas de ensino. A avaliação é um dos elementos do planejamento do professor que merece atenção especial, por sua posição ser mediadora nos processos for- mativos. Mediadora por possuir característica de acompanhamento e de intervenção das práticas escolares. Não se pode deixar de destacar o compromissoético-político do peda- gogo que trabalha na formação de professores em Nível Médio, um profis- sional que necessita de conhecimentos para atuar na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, reconhecendo que o rigor teó- rico-metodológico é fundamental para a apreensão de saberes próprios à formação dos pequenos. U N IC ES U M A R 73 1 ENSINO MÉDIO PROFISSIONAL: A FORMAÇÃO DE docentes em questão A Educação Profissional é, hoje, uma modalidade de ensino, mas já foi ofertada na forma de cursos técnicos, conforme a Lei n. 5.692/71, quando a profissionalização era obrigatória nas escolas públicas, sendo modificada pela Lei n. 7.044/82, a qual tornou a profissionalização, no segundo grau, opcional às escolas que a ofertavam. Na década de 90, o término da etapa do Ensino Médio passou a ser condição de ingresso para os cursos profissionalizantes, questão retratada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n. 9.394/96, e, principalmente, no Decreto n. 2.208/97. O Art. 40 da Lei n. 9.394/96, Capítulo III, afirma que “a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estraté- gias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho” (BRASIL, 1996, on-line). Nesse período, o Ensino Médio foi implantado em uma concepção de educação cuja marca está na fragmentação dos saberes escolares, voltada para o desenvolvimento de competências e habilidades, refor- çando o individualismo e a competitividade. Dessa forma, o conteúdo científico e cultural cuja função de sua transmissão está na escola é substituído por um ensino baseado em formar competências. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) retratam este enfoque, haja vista sua elaboração e produção, advindas de um momento histórico que contemplava os processos de regulamentação exacerbados do sistema capitalista nos diversos setores da sociedade e com consequências significativas em relação à educação. U N ID A D E 3 74 Nesse momento, a educação é vista como bem material e simbólico e passa a ser considerada como mercadoria, praticamente retomando o caráter da ra- cionalidade técnica, da produtividade, eficácia e eficiência da década de 70. Isto posto, a educação não é mais ofertada como direito social, mas como um bem que pode ser comprado. Portanto, a busca pela identidade do Ensino Médio torna-se objetivo colocado em pauta das discussões dos educadores que trabalham com uma visão de totalidade nesta etapa da educação básica, visão esta que se explica a partir da educação denominada integrada. A formação integrada representa o conhecimento visto na sua totalidade, isenta dos fragmentos que impedem a compreensão das dimensões que estão implícitas nos conteúdos curriculares ensinados na escola. Isso significa “[...] superar a redução da preparação para o trabalho ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conheci- mentos que estão na sua gênese cientí- fico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social” (CIAVATTA, 2005, p. 85). Isso significa que é preciso consi- derar uma formação completa, ampla, integral, ou seja, os indivíduos necessi- tam do conhecimento permeado por todas as dimensões, o qual permite estabelecer relações, articular os con- ceitos aprendidos e pensar o conhe- cimento sob o ponto de vista amplo, abrangente, não fragmentado. No Brasil, hoje, temos uma infinidade de cursos profissionalizantes em Ní- vel Médio, cursos técnicos que propiciam condições aos sujeitos de adquirirem uma profissão antes mesmo da universidade. Na rede pública, a maioria destes cursos apresentam as duas bases do currículo: o núcleo comum, que traz as disciplinas obrigatórias em âmbito nacional, e a parte específica do currículo, que orienta sobre as especificidades da profissão. Quando ofertada atendendo às duas bases, dizemos que a formação é integrada, justamente porque integra as duas bases do currículo. U N IC ES U M A R 75 A Educação Profissional como modalidade de ensino faz parte da educação básica, a qual é ofertada por meio dos cursos técnicos profissionalizantes. Na sua forma integrada, ela tenta garantir a formação geral científica e básica (específica de cada curso), com duração de quatro anos, e destina-se aos alunos egressos do Ensino Fundamental. É ofertado, ainda, para alunos com 18 anos ou mais, o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional na Modalidade Educação de Jovens e Adultos. Ainda existem os Cursos Técnicos na forma subsequente, os quais se destinam àqueles alunos concluintes do Ensino Médio, que desejam a complementação dos estudos a fim de obter a profissionalização, geralmente, com duração de um a dois a anos, conforme a Lei n. 11.741, de 2008. O curso de Formação de Docentes é ofertado em Nível Médio, na forma integrada para alunos egressos do Ensino Fundamental e profissionaliza para a docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. No referido curso, o(a) pedagogo(a) pode atuar nas disciplinas pedagógicas (específicas), ou seja, na área de Fundamentos da Educação, Metodologias de Ensino e Estágio Supervisionado. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em seu Art. 62, enfatiza que a formação mínima exigida para atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental é o magistério em Nível Médio, porém recomenda a formação de professores em Nível Superior. Portanto, algumas se- cretarias de educação admitem profissionais formados no magistério em Nível Médio por meio de concursos públicos para preencher vagas em escolas. A meta 15 do Plano Nacional de Educação (PNE), sobre os professores, prevê que os respectivos profissionais tenham a formação em Nível Superior, nas áreas em que atuam até o ano de 2024, ano de vigência do PNE. No que se refere aos profissionais da educação, o PNE destaca que: “ Um quadro de profissionais da educação motivados e comprometi- dos com os estudantes de uma escola é indispensável para o sucesso de uma política educacional que busque a qualidade referenciada na Constituição Brasileira. Planos de carreira, salários atrativos, condi- ções de trabalho adequadas, processos de formação inicial e conti- nuada e formas criteriosas de seleção são requisitos para a definição de uma equipe de profissionais com o perfil necessário à melhoria da qualidade da educação básica pública (BRASIL, 2014, p. 12-13). U N ID A D E 3 76 2 A FORMAÇÃO DE DOCENTES EM NÍVEL MÉDIO E O TRABALHO com a criança da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental Dessa forma, uma política que valoriza os profissionais da educação e do ensino nas redes ou sistemas de ensino torna-se essencial para que se tenha uma edu- cação forte e de qualidade. A carreira docente precisa fazer parte da política de valorização do profissional. Os cursos de magistério sempre representaram o mais importante espaço de formação a professores com qualificação para atuação nas séries iniciais. Embora reconheça-se a formação em Nível Superior como ideal, questão apontada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394/96, a formação de Nível Mé- dio deve ser valorizada por sua trajetória no contexto da formação de professores. Quando nós consideramos a história da formação de professores no Brasil, reportamo-nos à oferta dos cursos profissionalizantes com habilitação para o magistério, os quais tiveram importância significativa na formação de profissio- nais para atuarem nas quatro séries do antigo Ensino Primário (Lei n. 4.024/61), depois, nos primeiros anos do Ensino de Primeiro Grau (Lei n. 5.692/71) e, ainda, nos primeiros anos do Ensino Fundamental (Lei n. 9.394/96). U N IC ES U M A R 77 Até que os cursos de Pedagogia se propagassem nas faculdades e univer- sidades, eram os cursos de magistério em Nível Médio que formavam profes- sores qualificados para o trabalho com as crianças. Assim, podemos afirmar que os cursos demagistério muito têm contribuído na formação de crianças, jovens e adultos, na melhoria dos procedimentos didático-pedagógicos nas escolas, salvaguardando sempre seu caráter científico e profissional. Pois bem! Não é segredo que o trabalho com crianças, pouco a pouco, foi considerado uma tarefa de complexidade, justamente por seu caráter educa- tivo e de cuidados. Assim, as funções de educar e cuidar das crianças passam a exigir profissionais com domínio das teorias pedagógicas que possam dar sustentação às práticas desenvolvidas. Desse modo, cabe destacarmos, aqui, alguns movimentos e concepções que desencadearam mudanças na formação de docentes, para, então, compreendermos a dinâmica que permeia os cursos que formam e profissionalizam para a docência. Acompanhemos esta traje- tória: nas décadas de 60 e 70, no Brasil, a tendência pedagógica, baseada no tecnicismo, tinha como ênfase os conceitos pautados na racionalidade técnica, na eficiência e na produtividade, devido ao sistema de produção capitalista e às novas exigências de mercado, que, por sua vez, provocam novas exigências da Instituição Escolar; portanto, um tecnicismo aplicado à educação. O pres- suposto que embasou esta Pedagogia “ [...] está na neutralidade científica, inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade. Buscou-se a objetiva- ção do trabalho pedagógico da mesma maneira que ocorreu no trabalho fabril. Instalou-se na escola a divisão do trabalho sob a justificativa de produtividade, propiciando a fragmentação do processo e, com isso, acentuando as distâncias entre quem planeja e quem executa (VEIGA, 1994, p. 34-35). Dessa forma, percebe-se um empobrecimento do caráter humanista do ensino presente nos currículos das antigas escolas normais. Assim, em meados da década de 80 até o seu final, tem-se um período de transição democrática, com perspectivas de mudanças no quadro social. A ideia de democracia e cidada- nia traduz os anseios da sociedade no sentido de atingir a igualdade social e, portanto, o direito bem como o acesso da população ao conhecimento escolar. U N ID A D E 3 78 Vivenciam-se fortes movimentos para a conquista da tão sonhada democra- cia, movimentos estes que marcariam a sociedade em todos os aspectos, pois os direitos sociais precisariam, de fato, tornar-se uma realidade. Eles demandaram muitos esforços da classe trabalhadora, dos professores e dos sindicatos bem como de outras instâncias cujas lutas expressavam os desejos de uma sociedade mais justa e igualitária, apesar de ainda representar uma utopia nos dias atuais, porquanto ainda lutamos para a concretização destes valores imprescindíveis para a efetivação do sujeito verdadeiramente livre. Os anseios da sociedade ma- nifestados pela população brasileira resultaram: “ [...] Na elaboração da Constituição Brasileira de 1988, nas eleições estaduais e municipais marcadas por vitória dos partidos de oposi- ção ao regime militar, notadamente pelo PMDB, no renascimento de práticas coletivas demonstradas nos movimentos de massa, na organização de diversos fóruns de debate sobre a educação pública brasileira (PARANÁ, 2006, p. 16). À medida que eram discutidos os processos de democratização em relação aos direitos sociais da população brasileira, também discutiam-se as iniciativas de reformas educacionais nos âmbitos municipais e estaduais, rompendo com uma estrutura organizacional e uma cultura instaladas a partir do regime militar. Isso porque, no início da década de 80, inúmeros processos de reformulação curri- cular de todos os níveis de ensino foram iniciados, sendo estes concluídos entre 1989 e 1990, com implantação entre 1990 e 1991 (PARANÁ, 2006, p. 16). As experiências da nova reformulação curricular perduraram por quatro ou cinco anos e foram revistas com base no contexto político, social e econômico para (re)dimensionamento a partir de um novo ciclo de reformas definidas pelas políticas do Ministério da Educação e Cultura (MEC), as quais foram implanta- das de forma pioneira no estado do Paraná, com orientações contrárias àquelas estabelecidas na década de 80. A concepção crítica de educação é disseminada a partir da I Conferência Brasileira de Educação, realizada em Curitiba, no ano de 1927, um marco de bastante relevância na história da educação brasileira cujo evento constituiu-se em espaço para discussão das questões educacionais em uma dimensão dialética, considerando o ser humano como ser concreto, histórico e que faz parte de uma sociedade continuamente em transformação. U N IC ES U M A R 79 O Curso de Formação de Docentes de Nível Médio-Modalidade Normal, por contemplar princípios pautados na compreensão do ser humano como ser histórico, requer uma política educacional que direcione para essa finalidade. Assim, as propostas pedagógicas para a formação de professores necessitam valorizar a formação humana. As discussões sobre a reformulação dos cursos de ma- gistério iniciou-se na década de 80. A crítica ao processo de ensino na formação de professores até então minis- trado estava no excesso da tendência tecnicista, que re- sultava na superficialidade do trabalho realizado em três anos, e por seguir uma concepção positivista em relação à escola e à sociedade. Foram várias tentativas para a superação do tecnicis- mo, do psicologismo e positivismo presentes nos cursos de formação para o magistério até, praticamente, mea- dos da década de 80. Muitas propostas foram discutidas para a alteração do currículo nos cursos de formação de docentes em Nível Médio, chegando, principalmente, ao consenso sobre a duração do curso, que passaria para quatro anos cuja aprovação dá-se por meio da Delibe- ração n. 2/90 do Conselho Estadual de Educação (CEE). Em relação ao novo processo de formação docente, várias experiências foram apontadas como positivas no nas escolas que o ofertavam, tais como: “ contato dos alunos desde as primeiras séries do curso de magistério com a realidade educativa, aprofundamento dos conteúdos de fundamentos, esforço para mudar as metodologias e concepções de ensino por meio dos estágios, entre outras (PA- RANÁ, 2006, p. 21). Constatando os aspectos positivos da proposta, podemos destacar algumas dificuldades nas práticas pedagógicas, es- pecialmente, no enfoque tradicional de ensino e avaliação, apesar de muitos professo- res usarem o discurso de mudanças em suas concepções de ensino e aprendizagem. U N ID A D E 3 80 Na década de 90, precisamente, após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação entrar em vigor, muitas mudanças no contexto da educação aconteceram. O Brasil vivia uma política neoliberal em que as questões econômicas ditavam as regras e esta perspectiva adentrou na escola e na formação. Os cursos técnicos profissiona- lizantes até então ofertados deixariam de existir, do mesmo modo que os cursos de Formação de Docentes deveriam cessar suas atividades por também terem o caráter profissionalizante. Tanto no caso dos cursos técnicos quanto no caso dos cursos de formação para a docência em Nível Médio, a cessação aconteceria gradativamente. Esta realidade foi bastante evidenciada no estado do Paraná, mas a política era nacional. Foi implantado o Programa de Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio (PROEM), em 1996. Nesse sentido, o Ensino Médio seria oferta- do como educação geral. Por sua vez, a Educação Profissional passaria a ser uma modalidade específica. O programa, financiado pelo Banco Mundial, propôs uma educação atendendo aos interesses do capitalismo, diga-se de passagem, excludente. A partir daí, quem almejasse um curso profissionalizante deveria cursar o chamado Pós-Médio. O curso de Formação de Docentes estava amparado por uma legislação es- pecífica: a Deliberação n. 2/90 do Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná (CEE). Em razão disso, muitas escolas e Institutos de Educação puderam recorrer e manter seus cursos em funcionamento, mas a maioria das instituiçõesque ofertavam os cursos de magistério cessaram suas atividades, perdendo este espaço de formação. Até mesmo alguns dos Institutos de Educação do estado do Paraná cuja especificidade era formar professores para atuarem no antigo Ensino Primário, depois, Séries Iniciais do Ensino de Primeiro Grau, hoje, Ensino Funda- mental, perderiam as características próprias dessa formação. Diante dessas questões, o que estava acontecendo era uma perspectiva de pri- vatização. O Programa Ensino Médio Público (PROEM) representou um projeto U N IC ES U M A R 81 com orientações do Banco Mundial e, dessa forma, atendia à expectativa gover- namental daquele momento histórico, assim, o que houve foi uma expansão de cursos profissionalizantes na perspectiva do ensino privado, descaracterizando a formação profissional técnica da educação pública. Outra questão estava no financiamento. As escolas que não aderissem ao PROEM, provavelmente, não receberiam os recursos destinados às reformas e ben- feitorias, recursos específicos do programa. Nesse sentido, o papel fundamental de diretores, coordenadores e professores dos cursos de Formação de Docentes deve ser ressaltado pela luta que enfrentaram a fim de manterem os respectivos cursos. A defesa dos profissionais na luta pela manutenção dos cursos era que as esco- las de formação de professores de Nível Médio contribuíram e contribuem enor- memente para a efetivação do quadro de professores cuja habilitação específica de atuação engloba as crianças no início da sua escolaridade. O fato de algumas escolas manterem seus cursos fez com que ganhassem credibilidade por parte das comunidades escolares e da sociedade em geral. Destaca-se que, com a Educação Infantil fazendo parte da primeira etapa da educação básica, conforme a Lei n. 9.394/96, ela é contemplada na matriz curricular. Assim, possibilita ao professor atuar na Educação Infantil, e esta for- mação, durante as décadas de 80 e 90, dava-se por meio dos Estudos Adicionais. A nomenclatura utilizada, a partir de então, é Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na Modalidade Normal, em Nível Médio. A LDB 9.394/96 traz a estrutura da educação básica contemplada em três eta- pas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O docente formado em Nível Médio pode lecionar na primeira etapa (Educação Infantil) enos primei- ros anos da segunda etapa, ou seja, do 1° ao 5° ano. A organização dessas etapas da escolarização cabe aos municípios. U N ID A D E 3 82 Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Funda- mental: área de atuação do(a) pedagogo(a) Considerando a área de atuação do(a) pedagogo(a), pode-se destacar a Educação Infantil (zero a cinco anos de idade) e os anos iniciais do Ensino Fundamental (seis a dez anos de idade)cujas etapas trataremos na respectiva sequência. A Educação Infantil O direito da criança pequena à escolarização é reconhecido a partir de seu nasci- mento até a entrada no ensino obrigatório por lei. Direito esse expresso na Cons- tituição Federal de 1988, reafirmado, posteriormente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990 e, principalmente, pela LDB (1996). Assim, podemos afirmar que a Constituição Federal de 1988 representou um momento importante para a Educação Infantil no país, quando um novo olhar para esta fase da infância foi lançado, haja vista que até a promulgação da Lei Maior, a educação das crianças pequenas não era, ainda, pensada como um direito. A Constituição Federal explicita, no Art. 208, Inciso IV, “o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de [...] atendimento em creche e pré-escola às crian- ças de zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1988, on-line). As Instituições de Educação Infantil devem exercer o papel de cuidar e educar as crianças de zero a seis anos de idade, necessitando organizar suas questões pe- dagógicas e administrativas, a começar pelo currículo. Em 2016, as crianças com quatro anos de idade passaram a fazer parte do ensino obrigatório, ou seja, todas as crianças nesta faixa etária deveriam estar matriculadas na escola. A Lei n. 12.796 foi sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff, em 2013, contemplando o já disposto na LDB n. 9.394/96 no que diz respeito à obrigatoriedade e à gratuidade do ensino básico. Os tempos e espaços da formação das crianças devem compor a preocupação maior no sentido de, a partir desses, pensar o quê, o como e o para que ensinar esses pequenos nessa etapa de escolarização. Em uma proposta de democratização do ensino, de gestão democrática e de legitimação de uma escola que atenda aos anseios da população, o Projeto Político Pedagógico (PPP) reforça as possibilidades de participação e atuação da comuni- dade escolar, visando, estabelecer uma relação de confiança e reciprocidade entre os envolvidos. A instituição educativa é situada socialmente, possui historicidade. U N IC ES U M A R 83 Dessa forma, os sujeitos envolvidos com o processo educativo possuem inten- cionalidades, pois compartilham crenças, valores e concepções. Esta perspectiva nos leva a pensar e a entender a dinamicidade da escola. Os princípios assegurados pela legislação e pelo projeto da escola garantem um trabalho direcionado, com caminhos cujos objetivos são o trabalho peda- gógico e o atendimento integral à criança pequena. Visando à constituição do PPP da Educação Infantil, Dias (2008) propõe elementos importantes na sua elaboração, muitos dos quais aparecem, segundo a autora, nas regulamentações dos Conselhos de Educação: ■ História da Instituição e de seu PPP. ■ Contexto sociocultural no qual a instituição se insere. ■ Concepções norteadoras do trabalho. ■ Finalidades e objetivos. ■ Organização e gestão do trabalho. Dentro da organização do trabalho, Dias (2008) diz que as atividades com grupos de estudos direcionados a professores do Curso de Formação de Docentes-Mo- dalidade Normal aponta que várias são as prioridades que devem estar contem- pladas no atendimento das necessidades pedagógicas: ■ Organização do currículo. ■ Organização dos tempos. ■ Organização dos espaços, equipamentos e materiais. ■ Organização das crianças. ■ Organização das metodologias de trabalho. ■ Organização dos instrumentos de trabalho do professor. ■ Organização dos profissionais e das suas condições de trabalho. ■ Organização do trabalho com a família e com a comunidade. ■ Organização das formas de articulação da Educação Infantil com o En- sino Fundamental. ■ Organização das formas de gestão institucional. Acredita-se que estes elementos têm a finalidade de aproximar duas instâncias: a instituição educativa e a comunidade escolar, no sentido de buscar a superação para os conflitos existentes, em uma relação de coletividade. Nesse aspecto, pensar um currículo supõe romper com algumas práticas tradicionais de atendimento à criança pequena, entendendo que ela é um sujeito de direitos e, como tal, necessita U N ID A D E 3 84 de um trabalho voltado à emancipação desse sujeito como ser histórico, que tem aspirações, anseios e desejos. Nesse entendimento, a relevância do currículo voltado para a Educação In- fantil está em se pensar quem é a criança desta modalidade, que conceito de infância se tem para então indagar, que educação se pretende desenvolver com essa criança e para qual sociedade formá-la enquanto sujeito histórico. Nos últimos anos, os termos adotados para expressar a necessidade da esco- larização da criança na Educação Infantil está no cuidar e no educar. Supõe-se que as duas situações aconteçam concomitantemente, entende-se, também, que esta articulação representa um processo de crescimento e conhecimento de si e das coisas que rodeiam a criança. Portanto, a organização dos espaços representa uma prática que incentiva a busca de momentos singulares e, ao mesmo tempo, coletivos para a criança, o que solidifica um fazer de sentidos e significados.Desta forma, “[...] oportunizar-lhes vivências de situações que lhes permitam entender isto é auxiliá-las também a serem mais independentes em relação ao adulto” (DORNELLES; HORN, 2004, p. 19). Ainda, para as autoras, “ [...] o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é o que denominamos rotina, onde podemos prever os horários de funcionamento da instituição e que propostas serão interessantes fazer às crianças, pensando em como elas são, o que preferem fazer, o que é possível planejar no espaço que dispomos dentro e fora da sala de aula, que materiais temos à disposição (DORNELLES; HORN, 2004, p. 19). Pensando nessas questões e considerando a análise das autoras, há que se atentar para as diferentes idades ao elaborar as propostas para a Educação Infantil, ob- servar que cada grupo requer um tempo para executar as atividades propostas, que cada situação implica em uma aprendizagem, sendo necessária a mediação do professor, mesmo nas atividades que envolvem os “passeios”. Estes representam boa oportunidade para os alunos adquirirem o hábito de observar. Os procedi- mentos adotados para as saídas dos espaços escolares requerem planejamento e intencionalidades. Dessa maneira, é importante o professor ter clareza em relação ao que ele pretende que os alunos “aprendam” com esta atividade. U N IC ES U M A R 85 A avaliação é um processo cuja intencionalidade deve indicar mudanças significativas no fazer pedagógico em sala de aula. A avaliação concebida como processo tende a aproximar educador e educando, contribuindo para uma relação recíproca de confiança e respeito que modifica os rumos anteriormente tomados para atingir os objetivos propostos. “ [...] O que se diz sobre uma criança, as ‘verdades’ enunciadas, preci- sam ser sempre repensadas, transformando-se em hipóteses a serem permanentemente investigadas por meio da observação e diálogo com as crianças, o que exige estudo e reflexão teórica. [...] a avalia- ção não pode ser considerada uma descrição de comportamentos observados ao longo de um período (HOFFMANN, 1996, p. 48). A pré-escola, até o início da década de 80, “assumia um caráter preparatório para o ensino fundamental, indicando reflexos de concepções elitistas e discriminatórias do ensino escolar” (HOFFMANN, 1996, p. 62). Nessa concepção de avaliação, é preciso estarmos atentos para a urgência em “resgatar o sentido essencial de acompanha- mento do desenvolvimento infantil, de reflexão permanente sobre as crianças em seu cotidiano como elo da continuidade da ação pedagógica” (HOFFMANN, 1996, p. 48). A criança se desenvolve em ritmo próprio; dessa forma, cabe ao educador me- diar a ação educativa de modo a perceber as lacunas, a trabalhar para a superação das dificuldades e estar consciente de que a tarefa de ensinar implica em perceber que nem sempre as crianças respondem às situações vividas de forma refletida. Porém acredita-se que a continuidade do trabalho pedagógico, a rotina e a dinâmica in- vestigativa do professor podem propiciar o desenvolvimento da criança de maneira a organizar seu pensamento nos aspectos que ela ainda não conseguiu estruturar. Os registros são bastante significativos, pois orientam, continuamente, a apro- priação dos conteúdos trabalhados e as possibilidades de avanços. Assim, a avalia- ção da criança no espaço educativo passa a ser documentada e indica as trajetórias, as dificuldades, os avanços, sinalizando os pontos que ainda necessitam ser traba- lhados ou revistos pelo professor. O processo avaliativo compõe o plano didático do docente, o que exige que esse momento seja pensado com seriedade e muito cuidado para não incorrer em práticas avaliativas classificatórias e seletivas. Por meio da escuta e da observação, percebe-se, nas crianças: como elas inte- ragem entre si, sobre o que conversam, que perguntas fazem, do que brincam, o U N ID A D E 3 86 que representam nas brincadeiras do faz de conta, enfim, esses momentos repre- sentam boas oportunidades para os registros avaliativos. Nesse contexto, estarão presentes as diferentes linguagens adquiridas pelas crianças na atividade educati- va, que contribuirão para o desenvolvimento de percepções acerca da realidade vivida e concebida em um processo contínuo de crescimento acadêmico. O professor pode registrar todos os aspectos que julgar significativos em cada criança, acumulando elementos e informações que propiciarão a elaboração dos pareceres avaliativos, os quais indicarão a trajetória dessa criança no decorrer de todo o processo de ensino e aprendizagem. Na sequência, abordaremos os aspec- tos legais e pedagógicos referentes à primeira parte do Ensino Fundamental, o que corresponde aos anos iniciais (1º ao 5º ano). O Ensino Fundamental: o currículo e as implicações pedagógicas No Brasil, o interesse e a possibilidade de aumento no tempo da escolaridade obrigatória sempre foram assunto de discussões e debates. A Lei n. 4.024/61 es- tabelecia quatro anos letivos, o antigo ensino primário. Por intermédio do acordo de Punta Del Leste e Santiago, a proposta seria de seis anos para o ensino primário cujo cumprimento se daria até 1970. No entanto, neste tempo, houve a aprovação da Lei n. 5.692, de 1971, que estendia a obrigatoriedade para oito anos letivos, ou seja, o que antes era ensino primário e ginasial passou a ser um único grau de ensino, o ensino de Primeiro Grau. Em 1996, com a LDB (Lei n. 9.394/96), foi sinalizado um ensino que contem- plasse maior tempo na escolarização obrigatória: de oito passaria para nove anos. Esta escolarização se iniciaria aos seis anos de idade, tornando-se o grande obje- tivo da educação nacional pela Lei n. 10.172/2001, que aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE). Segundo o Art. 9º, inciso III da LDB 9.394/96, cabe à União: U N IC ES U M A R 87 “ [...] Prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercen- do sua função redistributiva e supletiva [...](BRASIL, 1996, on-line). E, no inciso IV, a Lei n. 9.394/96 reforça que à União cabe: “ [...] Estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, as competências e diretrizes para a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum (BRASIL, 1996, on-line). Portanto, a lei deixa claro, nesses incisos, as responsabilidades da União no to- cante à escolaridade obrigatória. Conforme o Plano Nacional de Educação aprovado em 2001, a organização do Ensino Fundamental passou a ser de nove anos letivos, sendo distribuídos de acordo com a Resolução n. 3/2005 do Conselho Nacional de Educação (CNE), da seguinte forma: cinco anos iniciais (1º ao 5º ano) e quatro anos finais (6º ao 9º ano), podendo, ainda, ser definida esta organização em anos, séries ou ciclos. Muitos estudos e reflexões ainda necessitam acontecer no sentido de perceber possibilidades, viabilidades para promover um trabalho que atenda às demandas correspondentes à faixa etária dessa etapa da educação básica. Entendendo que os alunos são sujeitos sociais situados em um tempo e espaço vividos e que requerem o compromisso daqueles que pensam, organizam, elaboram e regulamentam as leis a fim de atenderem a população nesse direito. O ingresso da criança no Ensino Fundamental é de seis anos de idade, a Reso- lução CNE/CEB n. 3/2005, em seu Art. 1º, estabelece que “a antecipação da obri- gatoriedade de matrícula no Ensino Fundamental aos seis anos de idade implica a ampliação da duração do Ensino Fundamental de nove anos” (BRASIL, 2005, p. 1). O Parecer CNE/CEB n. 6/2005, aprovado em 08/06/2005, define que: “[...] os sistemas de ensino deverão fixar as condições de matrícula de crianças de 6 anos no Ensino Fundamental quanto à idade cronológica: que tenham seis anoscompletos ou que venham completar 6 anos no início do ano letivo” (BRASIL, 2005, p. 10). Quando retratamos a realidade educacional, faz-se necessário analisar os pro- cessos de descontinuidade que existem entre a Educação Infantil, os anos iniciais e U N ID A D E 3 88 os anos finais do Ensino Fundamental. Isso traz resultados negativos para o proces- so de ensino e aprendizagem, porquanto a fragmentação dos conhecimentos leva a uma deficiência nos processos formativos dos cidadãos, dificultando o trabalho contextualizado capaz de modificar a prática social dos sujeitos. Conhecimento, aprendizagem e trabalho pedagógico devem compor um todo na atividade docente, porque isso demanda uma formação que atenda a essa necessidade pedagógica. Os fundamentos teóricos-metodológicos da prática educativa devem estar respaldados em concepções voltadas à perspectiva crítica de educação. O primeiro ano do Ensino Fundamental não se destina, exclusivamente, à alfabetização; o traba- lho poderá estar voltado a conteúdos e atividades com estímulos que apontem para este fim. Porém o objetivo é propiciar à criança a possibilidade de de- senvolver diferentes expressões bem como ter co- nhecimentos das diversas áreas do saber científico. Outra questão relaciona-se à idade de ingresso da criança na segunda etapa da educação básica. O fato de a criança entrar com seis anos no Ensino Fun- damental não representa acelerar sua saída, mas ofe- recer a ela maiores possibilidades de aprendizagem. As relações estabelecidas entre os conteúdos trabalhados nas duas primeiras etapas da escola- rização representam a base da continuidade do pensamento da criança e do jovem adolescente no processo formal de escolarização. Mediar essas re- lações significa um desafio por parte dos docentes, e os conteúdos selecionados e as metodologias ado- tadas caminham para aproximar professor e alunos, propiciando clima favorável à aprendizagem. Estes questionamentos apontam para uma reflexão sobre “o que ensinar” às crianças, por isso, o currículo deve demonstrar a expressão das concepções de mundo, de sociedade, de educação, de ser humano, de ensino e aprendizagem. A intencionalidade pedagógica necessita permear todo o movimento de seleção e organização dos conteúdos na composição do currículo escolar. Este pode ser situado como um produto histórico, resultado de ações sociais, políticas, culturais e pedagógicas, o qual expressa e organiza os saberes e conhecimentos que devem U N IC ES U M A R 89 ser propostos nas práticas escolares. Outra questão é a de ordem metodológica, isto é, “o como ensinar”. As inter- venções do professor na sua prática docente contribuem para o conhecimento e a percepção sobre as dificuldades dos alunos, buscando os subsídios teóricos que indiquem caminhos para a superação dos desafios. Pensar as diferentes áreas do currículo é estabelecer uma conduta voltada à “práxis”. Neste enfoque, a inserção da criança no processo voltado a uma dimensão sócio-político-pedagógica da escola requer comprometimento daqueles que direcionam, planejam e trabalham em uma perspectiva de emancipação desse sujeito cujo foco é a atenção nos conhecimentos pertinentes a cada momento dessa formação, a começar pelo primeiro ano do Ensino Fundamental. O contato com a natureza e as diferentes tecnologias traz informações rele- vantes para o processo de construção de conceitos pertinentes à realidade em que o aluno se insere, pode promover oportunidades de indagações, questiona- mentos possíveis de análises mais críticas sobre os conteúdos trabalhados. Para Corsino (2007, p. 63), “o desenvolvimento dos conceitos científicos não é fruto de memorização ou de imitação”. Para a autora: “ [...] Uma proposta pedagógica que envolva as diferentes áreas do cur- rículo de forma integrada se efetiva em espaços e tempos, por meio de atividades realizadas por crianças e adultos em interação. [...] são as interações que qualificam o espaço (CORSINO, 2007, p. 67). Ao considerarmos o currículo e os planos de trabalho docente, outro questio- namento permeia a ação pedagógica: “o para quê” se ensina. As indagações, tra- dicionalmente apontadas por diversos autores no campo da Didática, reforçam a necessidade de clareza para o sentido a que se propõe a escola, que é “ensinar”. Esta finalidade deve ser alimentada pela práxis a partir do conteúdo proposto no currículo escolar. Em relação à avaliação da aprendizagem, a escola deve ter, como princípio, assegurar a aprendizagem, a considerar que esta é diagnóstica, formativa e pro- cessual, que tem, como objetivos, redimensionar a ação pedagógica, os instru- mentos e as formas de observar, registrar e refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem, rompendo com práticas tradicionais conhecidas e limitadas à verificação da aprendizagem simplesmente, a resultados finais com aferição de notas e/ou conceitos preestabelecidos, com finalidade classificatória. U N ID A D E 3 90 O trabalho pedagógico ganha materialidade nas ações que o viabiliza: no planejamen- to da escola em geral e do currículo em particular, no processo de ensinar e aprender propriamente dito e na avaliação do trabalho realizado, seja com relação ao conjunto da escola seja com relação à avaliação dos resultados da aprendizagem. Fonte: Souza et al. (2011, p. 15). explorando Ideias Dar-se-ão os critérios de avaliação pela decisão dos próprios sistemas de en- sino, considerando o disposto na LDB 9.394/96, Art. 24, inciso V. A verificação do rendimento escolar observará os critérios de avaliação contínua, cumulativa do rendimento do aluno, em que prevaleça os aspectos qualitativos sobre os quanti- tativos, quando, também, sejam considerados os resultados ao decorrer do tempo escolar sobre as provas finais. Os alunos com atraso escolar poderão passar por processo de aceleração de estudos, possibilitando avanços nos cursos e nas séries mediante a verificação do aprendizado, aproveitamento de estudos, recuperação de estudos paralela, obrigatória para os que não tiveram aproveitamento satisfatório. Para superar os desafios pedagógicos, faz-se necessária uma avaliação diagnós- tica e sistemática durante todo o processo de ensino e aprendizagem, contrapon- do-se às práticas avaliativas excludentes que vêm acontecendo, apesar de tantos estudos nessa área. É importante ressaltar que a avaliação realizada, como forma de verificação e medição da aprendizagem e/ou como medida, caracteriza-se mais pelos aspectos quantitativos que não conduzem a avanços significativos para o crescimento intelec- tual das crianças. Diante deste quadro, a avaliação é concebida como um instrumento que compõe o plano do professor, sem uma reflexão sobre sua relevância para o enfrentamento das dificuldades e dos desafios que decorrem do processo de ensino e aprendizagem, a qual deve ser de estratégia para a mudança das práticas em sala de aula. Conforme Leal, Albuquerque e Morais (2007, p. 101), “a mudança das práticas de avaliação é então acompanhada por uma transformação do ensino, da gestão da aula, do cuidado com as crianças e os adolescentes em dificuldade”. Assim, reforça- se a necessidade de que o ensino deve envolver conhecimentos contextualizados, fundamentados, proporcionando a reflexão sobre o que, como e para que se ensina ao aluno a compreensão sobre o que aprende. U N IC ES U M A R 91 3 O COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO DO(A) PEDAGOGO(A) na formação de docentes em nível médio A Pedagogia, enquanto ciência, representa o fundamento que caracteriza o co- nhecimento sistematizado; etimologicamente, este termo vem da Antiga Gré- cia: paidós (criança) e agogé (condução). Conforme o significado conceitual no período da Antiguidade, a Pedagogia quer dizer “condução da criança”. Esta era feita por um preceptor, também denominado mestre, ou ainda, guia. Esta função, geralmente, era desenvolvida por um escravo. As origens desta palavra: “ [...] Confunde-se com as origensdo próprio homem. Na medida em que o homem se empenha em compreendê-la e busca intervir nela de maneira intencional, vai constituindo um saber específico que, desde a Paideia grega, passando por Roma e pela Idade Média, chega aos tempos modernos fortemente associado ao termo “pedagogia” (SAVIANI, 2008c, p. 1). Esse conceito está intimamente relacionado à docência. Portanto, na perspectiva da teoria da educação, a Pedagogia organiza e orienta a práxis educativa. Quando se analisa o conhecimento e a educação em sentido amplo, observa-se a Peda- gogia como forma de educação mesmo antes da institucionalização da escola enquanto espaço do conhecimento formal. A concepção moderna da Pedagogia data do século XVIII. A condução da criança, neste momento já não tem o sentido, somente, da educação de modo am- plo, mas de direcionamentos que conduzem para o aprendizado sistemático do U N ID A D E 3 92 conhecimento. Assim, é necessário problematizar o sentido de ensinar e aprender, caracterizando o espírito de humanização dos indivíduos. Você se recorda? Na Unidade 1, tratamos da Pedagogia enquanto ciência. Aqui, podemos afirmar que a reflexão tem esta característica, pois favorece para a mudança, para a retomada do processo educativo, da ação docente. Ao consi- derarmos que a prática educativa é social para o encaminhamento pedagógico da docência, tomamos, como ponto de partida, a prática social dos indivíduos. Nesse sentido, destacamos que a docência concretiza-se “ na condução pedagógica das aprendizagens sistemáticas, em que se correlacionem os temas previstos no plano de ensino com as respectivas tramas conceituais com que são tratados na sequência exigida pela dinâmica curricular. A questão fundamental da do- cência é, assim, a de explicitarem-se as bases conceituais em que assenta processo que consiste em traduzir o plano da pseudoreali- dade vivida para o plano da idealidade dos conceitos e, em seguida, retraduzir o plano conceitual ao campo da vida cotidiana onde se fazem concretas as relações tematizadas (MARQUES, 1995, p. 151). Quando o docente em Nível Médio trabalha os conteúdos, partindo dos conhe- cimentos prévios ou do cotidiano do aluno e, em seguida, estabelece conceitos elaborados sobre os temas trabalhados, ele volta à fase inicial e compreende que o conhecimento não é mais o mesmo, porém foi transformado, o que modifica a prática social do início do processo. Esta questão está diretamente relacionada ao que Gasparin (2002) orienta quando ele se refere aos conhecimentos teórico-práticos do processo educativo. Para o autor, “o conhecimento teórico adquirido pelo educando retorna à prática social de onde partiu, visando agir sobre ela com entendimento mais crítico, ela- borado e consistente, intervindo em sua transformação” (GASPARIN, 2002, p. 8). Caro(a) aluno(a), já pudemos constatar, nos nossos estudos, que a docência configura-se na prática movida pela reflexão e não há docência se não houver aprendizagem por parte dos alunos, ou seja, “o professor não ensina senão na medida em que os alunos aprendem” (MARQUES, 1995, p. 154). Ensinamos e aprendemos nas relações mediadas pela interação humana, em um processo dia- lógico, em uma perspectiva coletiva de apropriação do objeto. No processo da docência, o(a) docente(a) necessita ter o domínio do conteú- do a ser ensinado nas múltiplas dimensões do saber para proporcionar a com- U N IC ES U M A R 93 preensão, o entendimento e o consenso por parte dos estudantes. Dessa maneira, o rigor científico deve permear a prática docente no processo de ensino e aprendi- zagem, por meio da problematização e instrumentalização dos saberes escolares. Os elementos da Didática da Pedagogia Histórico-Crítica são passos propostos para a abordagem teórico-prática da ação docente, os quais contribuem para a mudança de postura em relação ao pensar e ao fazer docente; dessa forma: “ [...] A problematização é um desafio, ou seja, é a criação de uma necessidade para que o educando, por meio de sua ação, busque o conhecimento. [...] representa o momento do processo em que essa prática social é posta em questão, analisada, interrogada, levando em consideração o conteúdo a ser trabalhado e as exigências sociais de aplicação desse conhecimento (GASPARIN, 2002, p. 36). “ [...] A instrumentalização é a fase na qual os conceitos científicos se estruturam, é de vital importância conhecer o processo mental de construção desses conceitos [...]. A tarefa docente consiste em trabalhar o conteúdo científico e contrastá-lo com o cotidiano, a fim de que os alunos, ao executarem inicialmente a mesma ação do professor, através das operações mentais de analisar, comparar, ex- plicar generalizar etc., apropriem-se dos conceitos científicos e neles incorporem os anteriores, transformando-os também em científi- cos, constituindo uma nova síntese mais elaborada (GASPARIN, 2002, p. 36-37). Não há como abordar os passos apresentados sem se referir a um elemento fun- damental no processo de apropriação do conhecimento científico, que é a media- ção, a qual, conforme o autor citado, “realiza-se de fora para dentro” à medida que o professor atua como agente externo e possibilita ao educando o contato com a realidade científica. À vista disso, o aluno é desafiado a pensar de forma mais elaborada, argumentando sobre as possibilidades e as dúvidas em um processo dialógico, no qual o professor e os alunos interagem reciprocamente, no sentido de atingirem a intencionalidade do ato educativo: o conhecimento. A docência constitui-se no exercício da prática pedagógica em que a atuação do profissional docente se dá em sala de aula, na função direta de ensino e apren- dizagem cuja inserção na prática social implica na formação do e para o humano. Esta perspectiva denota que a responsabilidade e o compromisso da profissão e a U N ID A D E 3 94 atuação implicam, diretamente, na dimensão ético-política presente na postura e na conduta profissionais docentes. A escola e os profissionais da educação contribuem para a formação dos in- divíduos por anos. Ao passar pelas etapas da educação básica até a sua conclusão, os alunos devem aprender os conteúdos que servirão para a vida e a continuidade dos estudos. Daí a importância dos docentes serem bem formados, principal- mente aqueles que atuarão na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que é a base do processo de escolarização. Durante todo o período em que os indivíduos permanecem na escola, são trabalhados conteúdos produzidos, organizados e sistematizados no sentido de atingir os objetivos do ensino. Portanto, o compromisso ético-político envolve a tomada de decisão, conduz ao direcionamento pedagógico de forma consciente, possibilita intervenções na realidade, ou seja, requer uma conduta de respeito às concepções de vida dos sujeitos envolvidos. Portanto, o profissional da Pedagogia pode contribuir enormemente com o desenvolvimento humano, pois o compromisso ético que assume junto a seus pares, perante os alunos e sua aprendizagem e, até mesmo, em relação à comuni- dade escolar, possibilita o despertar desses para uma consciência ético-política acerca do papel que cada um tem na sociedade. Visando à preparação de professores para as escolas primárias, as Escolas Normais pre- conizavam uma formação específica. Logo, deveriam guiar-se pelas coordenadas peda- gógico-didáticas. No entanto, contrariamente a essa expectativa, predominou nelas a preocupação com o domínio dos conhecimentos a serem transmitidos nas escolas de primeiras letras. O currículo dessas escolas era constituído pelas mesmas matérias ensi- nadas nas escolas de primeiras letras. Portanto, o que se pressupunha era que os profes- sores deveriam ter o domínio daqueles conteúdos que lhes caberia transmitir às crianças, desconsiderando-se o preparo didático-pedagógico. A via normalista de formação docente, embora adotada já a partir de 1835, além de so- mente adquirircerta estabilidade após 1870, permaneceu ao longo do século XIX como uma alternativa sujeita a contestações. Ilustra isso a posição de Couto Ferraz, que consi- derava as Escolas Normais muito onerosas, ineficientes qualitativamente e insignificantes quantitativamente, pois era muito pequeno o número de alunos formados. Para saber mais, leia o texto na íntegra: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/ v14n40a12.pdf. Fonte: adaptado de Saviani (2009, p. 144). explorando Ideias http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf U N IC ES U M A R 95 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, buscou-se relatar questões relacionadas à Educação Profissional em Nível Médio, compreendendo-a como uma modalidade de ensino que englo- ba diferentes cursos e, em especial, o curso de Formação de Professores. A concepção de formação humana, em uma perspectiva de desenvolvimento integral das crianças, deve abranger conteúdos que contemplem a diversidade de conhecimentos produzidos historicamente pelos sujeitos. Assim, os objetivos e as finalidades da educação, nas duas etapas destacadas, direcionam para um pensar sobre o trabalho educativo voltado para a concepção de mundo, de sociedade e de ser humano que se quer formar, questões estas que constituem o PPP e a própria Proposta Pedagógica Curricular da instituição de ensino. As finalidades indicam as ações intencionais do processo educativo, visando à formação humana. Como já discutimos, os objetivos referem-se tanto às in- tenções mais gerais, em relação ao cuidar e ao educar, quanto às especificidades do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças nessa primeira etapa da educação básica. As metodologias requerem reflexão sobre como as crianças aprendem e se desenvolvem a partir dos conteúdos trabalhados. As interações estabelecidas representam formas de apropriação de conhecimentos prévios acerca da reali- dade, favorecendo para as indagações, questionamentos, dúvidas, despertando a curiosidade em aprender. O profissional que forma o professor em Nível Médio deve agir com com- promisso ético e político, deve ter um olhar crítico diante da realidade de forma a exercer a docência. No tocante à avaliação, constata-se que esta contribui para (re)pensar, (re)tomar e (re)planejar os novos rumos à ação educativa. Como ele- mento fundamental do plano de trabalho docente, a avaliação exige observação e reflexão, possibilitando novos encaminhamentos pedagógicos. 96 na prática 1. No Brasil, hoje, temos uma infinidade de cursos profissionalizantes em Nível Médio, cursos técnicos que propiciam condições aos sujeitos de adquirirem uma profissão antes mesmo da universidade. Na rede pública, a maioria desses cursos apresenta as duas bases do currículo, o núcleo comum, que traz as disciplinas obrigatórias em âmbito nacional, e a parte específica do currículo, que orienta sobre as especi- ficidades da profissão. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela que contempla, corretamente, a for- mação que é ofertada atendendo às duas bases (núcleo comum e parte específica). a) Concomitante. b) Paralela. c) Integrada. d) Específica. e) Técnica. 2. A Lei n. 12.796, sancionada em 2013, contempla o já disposto na LDB 9.394/96, sobre o que diz respeito à obrigatoriedade e gratuidade do ensino básico. O docu- mento ajusta a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) à Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009, que torna obrigatória a oferta gratuita de educação básica a partir dos 4 anos de idade (BRASIL, 2013, on-line). Diante do exposto, registre a forma de organização do tempo escolar para a Educa- ção Infantil (4 e 5 anos) a partir da Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013. 3. Na escola, a avaliação sempre foi um assunto complexo, interminável. Já representou caráter classificatório, punitivo, e, ainda, existem práticas que se conduzem nesta vertente. Nesse sentido, explique, de forma argumentativa, a concepção de avaliação que fundamenta o trabalho pedagógico na escola, a partir da perspectiva crítica. 97 na prática 4. O profissional docente tem uma importante tarefa. Ensinar o conhecimento científi- co aos alunos e cumprir, assim, a função social da escola. De acordo com Gasparin (2002, p. 36-37), “a tarefa docente consiste em trabalhar o conteúdo científico e contrastá-lo com o cotidiano, a fim de que os alunos, ao executarem inicialmente a mesma ação do professor, através das operações mentais de analisar, comparar, explicar, generalizar etc., apropriem-se dos conceitos científicos e neles incorporem os anteriores, transformando-os também em científicos, constituindo uma nova síntese” [...]. Explique como pode ser o trabalho do professor a partir da perspectiva dialética do conhecimento. 5. Para Corsino (2007, p. 67): “[...] uma proposta pedagógica que envolva as diferentes áreas do currículo de forma integrada se efetiva em espaços e tempos, por meio de atividades realizadas por crianças e adultos em interação. [...] São as interações que qualificam o espaço”. Esta afirmativa está relacionada ao currículo e às implicações pedagógicas e administrativas do Ensino Fundamental. Considerando o currículo e as diversas convicções e manifestações culturais e sociais presentes nos contextos do Ensino Fundamental, destaque as finalidades e concep- ções que orientam o trabalho com os espaços e tempos escolares. 98 aprimore-se CURSO DE PEDAGOGIA: ATUAÇÃO, PERSPECTIVAS E DESMEMBRAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS O curso de Pedagogia, na sua questão legal, possui uma função social, que é a formação de profes- sores para a atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, no trabalho com as matérias pedagógicas nos cursos de Formação de Docentes na Modalidade Normal (for- mação em nível médio) e as atividades que envolvem produção e difusão do conhecimento nos campos científico e tecnológico. O currículo do curso de Pedagogia oportuniza ao acadêmico em processo de formação um núcleo de estudos básicos que orientem para o exercício do magistério, estudos que integrem a cultura, a identidade profissional e institucional e, ainda, as concepções pedagógicas pertinentes à formação. Assim sendo, o(a) pedagogo(a) necessita desenvolver atividades para além das aulas, deve realizar estudos individuais e coletivos que propiciem aprofundamento teórico-prático dos sa- beres e fazeres docentes. Deve discutir e debater questões pertinentes à ação pedagógica a fim de compreender a realidade e de intervir, de forma consciente, sobre ela, oportunizando mudanças. O(a) professor(a) formador(a) necessita alargar suas experiências, de modo a proporcionar o conhecimento que se consolida a partir de estudos e elaborações científicas. O legado resultante das perspectivas históricas e culturais que envolvem a formação de professores sempre foi per- meado de mudanças, avanços, recuos e retrocessos, sempre na perspectiva de propiciar o ensino de qualidade. O(a) pedagogo(a), na função de docente, precisa pensar a sua função social diante da formação dos sujeitos e, nesse sentido, os profissionais que se formam necessitam compreender como se processam os mecanismos orientadores da formação docente e da atuação em outras demandas escolares e não escolares. A função social do(a) pedagogo(a), no seu trabalho escolar, dentre tantas possibilidades, é pro- piciar aos envolvidos com o processo educacional momentos de reflexão acerca das práticas de- senvolvidas. Mas, para isso, faz-se necessário que o(a) pedagogo(a) estude as teorias que possam fundamentá-las. O(a) profissional da Pedagogia pode e deve subsidiar, teoricamente, as ideias, os saberes e fazeres do grupo de trabalho, fornecendo a todos a possibilidade de revisão e/ou de mudança, no sentido de enriquecer mais as ações didático-pedagógicas do trabalho escolar. Fonte: a autora. 99 eu recomendo! Educação Infantil:pra que te quero? Autor: Carmem Craidy e Gládis E. Kaercher Editora: Artmed Sinopse: nesta obra, o olhar está voltado para os educadores que atuam nas creches e pré-escolas. O que se busca são as dimen- sões que envolvem a educação e o cuidado nas práticas desen- volvidas. Busca-se, ainda, refletir sobre as concepções de infância e Educação Infantil, como se dá a organização do tempo e do espaço. O livro orienta sobre questões que os educadores infantis podem se apropriar com a finalidade de trabalhar uma educação que favoreça o desenvolvimento das crian- ças de forma positiva, qualitativa. livro 4 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Princípios orientadores da forma- ção docente • Prática de ensino das matérias pedagógicas em nível médio: o currículo e a formação para a docência • Prática de ensino: a articulação entre teoria e prática. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Refletir sobre os princípios que norteiam e orientam a ação pedagógica nos cursos de formação de docentes em Nível Médio • Compreender os fundamentos da educação e as metodologias de ensino a fim de se apropriar da dimensão dialética que permeia os conhecimentos científicos• Analisar a relação indissociável entre teoria e prática para a efetivação da práxis no trabalho de formação dos sujeitos. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS QUE FUNDAMENTAM O CURSO DE FORMAÇÃO de docentes em nível médio PROFESSORA Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro INTRODUÇÃO Nesta unidade, busca-se trazer algumas reflexões sobre a realidade peda- gógica dos cursos de formação de docentes, em Nível Médi, na Modalidade Normal, no tocante às orientações teórico-metodológicas, que permeiam o ensino e a aprendizagem, e aos princípios que visam a embasar a formação em uma perspectiva crítica. Pretende-se mostrar, nesse contexto da formação de docentes para atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que a atividade docente é uma prática social mobilizadora da práxis, ou seja, é preciso compreendê-la na sua dimensão dialética. A Pedagogia, en- quanto ciência da educação, trabalha e estuda a docência, nos aspectos do exercício da profissão e da sua organização pedagógica. Baseando-se em uma Proposta Pedagógica para o Curso de Forma- ção de Docentes em Nível Médio, apresenta-se o exemplo de uma matriz curricular com suas respectivas disciplinas pedagógicas, para que você, futuro(a) pedagogo(a), tenha noções acerca do trabalho com as respectivas disciplinas, no exercício do magistério. O exercício da atividade docente requer planejamento e preparo, por isso, o profissional que se forma, nesta área, necessita ter consciência da sua função e desempenhá-la com responsabilidade e compromisso social, contribuindo para a formação dos sujeitos. Assim, podemos (re)afirmar que os conhecimentos pertinentes à do- cência não se esgotam nos cursos de formação, mas sim, na prática respal- dada pela teoria que a sustenta, na reflexão contínua dos saberes e fazeres docentes, na conduta profissional consciente (práxis). É na unidade teórico-prática que se impõem os significados do que se ensina e do que se aprende. Nesse sentido, a construção dos conceitos, a compreensão das concepções de ensino e aprendizagem são resultantes do trabalho consciente do profissional docente que atua, tendo em vista a transformação do senso comum em conhecimento científico. U N ID A D E 4 102 1 PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA formação docente Em nossos dias, percebemos muitas contradições no que diz respeito às formas de pensar o ensino, a aprendizagem, a formação dos sujeitos e a profissionalização do- cente. Historicamente, deparamo-nos com concepções que orientaram a educação escolar. Convicções de ordem política, econômica, social e cultural marcaram os currículos escolares e formação de professores. As convicções ideológicas, sempre, estiveram presentes nos contextos das disciplinas ensinadas, como forma de perpe- tuar o que está posto pela classe dominante. Considerando, no entanto, os diferentes contextos em que a educação se insere, reportamo-nos àqueles que repercutiram de forma significativa nos processos de formação de professores. As tendências pedagógicas deram impulso às mudanças curriculares, tanto em relação ao trabalho com a formação de professores quanto ao trabalho com crianças, adolescentes, jovens e adultos. Nesse sentido, pensar o tra- balho como forma de transformação social nos leva a refletir, intensamente, sobre a produção humana do conhecimento. O trabalho como princípio educativo, portanto, passa a ser um princípio dialético que nos permite compreender o processo de pro- dução e transformação humana da natureza, em benefício da existência do homem. Ao pensarmos, coerentemente, nos propósitos da formação inicial dos professo- res na contemporaneidade, elencamos os princípios que devem nortear o trabalho pedagógico na formação de docentes em Nível Médio, na Modalidade Normal bem como na formação em Pedagogia. U N IC ES U M A R 103 O trabalho como princípio educativo O referencial teórico-metodológico, na perspectiva de que o indivíduo, ao agir sobre a natureza, transforma-a em razão da existência humana, deve orientar a organização pedagógica, escolar de formação, por ser a educação o elemento fundamental de trabalho intencional para a humanização dos sujeitos. Este pen- samento tem sua raiz na dialética, princípio filosófico que se traduz na prática social que, transformada pela mediação, gera outra prática, mais elaborada pelo conhecimento científico. O trabalho é uma ação que visa a suprir necessidades que são construídas pelo ser humano, como explica Vázquez (1977, p. 141): “o homem é um ser de necessi- dades, e exatamente por isso produz para satisfazê-las”. E é assim que o trabalho é tomado como categoria de análise das relações. À medida que o indivíduo cria as suas necessidades, ele busca os meios para satisfazê-las em um processo dialético. O princípio do trabalho, na ação educativa, implica no rigor teórico-meto- dológico, capaz de desenvolver a consciência crítica dos sujeitos. Na educação formal, para os conhecimentos da prática social se tornarem científicos, é pre- ciso que o professor ensine, oriente, instigue e mostre o caminho que deseja chegar, ou seja, o objetivo desejado. O rigor metodológico, nesse sentido, é fundamental para a apreensão da consciência crítica acerca da realidade. Desse modo, o trabalho como eixo do processo educativo considera o movimento da sociedade, incorporando a própria história da formação humana. Então, como refletir sobre a educação, em meio às contradições postas, em um sistema em que o capitalismo dita as regras? Muito bem! Pensar a educação na sua forma mais ampla é o ponto de partida. À vista disso, é possível incorporar as dimensões educativas decorrentes das rela- ções sociais que implicam na formação humana, cujos objetivos são os aspectos sociopolíticos e produtivos. Quando o profissional docente adota a postura teó- rico-metodológica, pautada no trabalho como princípio educativo, ele percebe a mudança frente à realidade, tanto no aspecto social quanto no educacional, pois pensar a atividade humana é pensar nas mudanças decorrentes dessa atividade. A escola constitui-se, historicamente, como a forma de inserção consciente dos indivíduos em sociedade. É no espaço escolar que encontramos a materiali- zação das relações entre trabalho e produção. Os saberes escolares são sistema- tizados e, para atender às suas finalidades, são necessárias ações que incidam na transformação. Nesse sentido, trabalho e produção são atividades que correspon- U N ID A D E 4 104 dem à necessidade de conteúdo e forma. As práticas não podem ser descoladas da realidade, fragmentadas; devem, sim, servir-se dela (realidade) para, então, pensar formas de intervenção e mudança. Ao considerarmos o conteúdo e a forma, devemos nos reportar ao currí- culo da escola, poisé ele que reflete questões maiores da cultura universal, ou seja, aquilo que foi produzido pelos indivíduos historicamente. Assim, temos o conteúdo que, para ser compreendido, necessita ser visto a partir do movimento de contradição da sociedade e, para atingir esse fim, é preciso que se definam as formas mais adequadas. Portanto, o trabalho é atividade humana, a produção é re- sultado dessa atividade. Na educação, o trabalho é visto como princípio educativo: “ [...] não é apenas uma técnica didática ou metodológica no processo de aprendizagem, mas um princípio ético-político. Dentro desta perspectiva, o trabalho é, ao mesmo tempo, um dever e um direito. O que é inaceitável e deve ser combatido são as relações sociais de exploração e alienação do trabalho em qualquer circunstância e idade (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p. 18). É preciso superar as relações de exploração nos processos de trabalho, no capita- lismo; construir projetos que demandem uma consciência crítica e política, nas relações que permeiam as condições de trabalho. Ao discutir o trabalho como princípio educativo, Kuenzer (1988, p. 126) destaca que “a finalidade da escola que unifica cultura e trabalho é a formação de homens desenvolvidos multilateralmente, que articulem a sua capacidade produtiva às capacidades de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige”. A autora nos orienta que a finalidade da escola é propor a formação dos indivíduos multilateralmente, ou seja, pensamento e produção são processos inerentes ao ser humano, portanto, no mínimo, é preciso formar para refletir, conhecer, compreender, interpretar, intervir, dirigir ou, ainda, controlar quem dirige pela consciência política. Nesse aspecto, Ciavatta (2005, p. 1) explicita que o ser humano, na relação com a natureza, produz sua existência, aperfeiçoa-se e constrói conhecimentos, cultura e, à medida que se relaciona com os outros, constitui a vida social. Neste pensamento, tem-se o trabalho como atividade que possibilita a continuidade de existência do indivíduo. U N IC ES U M A R 105 Ao estudar a história, podemos perceber como se modificaram as formas de trabalho, como os indivíduos começaram a apropriar-se dos instrumentos e dos produtos resultantes deles. Assim, tem-se, ao longo do tempo, diferentes relações, diferentes formas de trabalho e de produção. Desse modo, Ciavatta (2005) pro- voca-nos a refletir sobre as condições em que se dá o processo de trabalho. Há duas vertentes que se contrapõem, uma que envolve nosso pensar, nosso sentir e agir em relação ao trabalho e, ainda, “as manifestações que adquirimos a partir do ideário cultural impostos pela sociedade” (CIAVATTA, 2005, p. 2). Para a autora: “ Uma dessas vertentes tem origem no pensamento religioso, segundo o qual o trabalho dignifica, valoriza e enobrece o homem, ao mesmo tempo em que disciplina o corpo e eleva o espírito. De outra parte, no Brasil, como em outros lugares do mundo, temos conhecimento e repudiamos as condições de trabalho de milhões de trabalhadores, condições que são de privação da vida pessoal, na vida familiar e nas demais instâncias da vida social (CIAVATTA, 2005, p. 2). O ser humano passa por muitas privações nas condições de trabalho. Questões de exploração, como já mencionamos antes, de alienação e de expropriação dos saberes e conhecimentos que, disponibilizados aos sujeitos, promovem a digni- dade humana. “ O curso de formação de professores, em qualquer nível, seja na modalidade normal em nível médio ou na graduação por meio do curso de Pedagogia ou ainda no Ensino à Distância, tem um papel fundamental no processo formativo dos futuros docentes da Educa- ção Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, necessita levar à compreensão sobre a dimensão histórica dos processos humani- zadores do homem por meio do trabalho, formar a consciência para interpretar as condições pelas quais se dão as formas, as relações de trabalho e, assim, constituir novas relações e novas formas de pensar a sociedade e o trabalho, a função da escola e do futuro profissional da educação (RIBEIRO; GOZZI, 2009, p. 5). De acordo com a Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes em Nível Médio-Modalidade Normal, o trabalho como princípio edu- U N ID A D E 4 106 cativo “implica compreender a natureza da relação que os homens estabelecem com o meio natural e social, bem como as relações sociais em suas tessituras institucionais, as quais desenham o que chamamos de sociedade” (PARANÁ, 2006, p. 23). Por meio do trabalho, garante-se a continuidade da existência humana. À me- dida que transforma a natureza, as coisas, as ideias, o indivíduo transforma a si mesmo em um processo dialético, possibilitando, assim, a apropriação da realidade. A práxis como princípio curricular e a sua dimen- são reflexiva O futuro docente da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Funda- mental necessita de formação teórico-prática, pautada na dimensão política da ação humana, que só terá sentido se for pensada a partir da práxis. Então, para atingir às intencionalidades pedagógicas de ensinar e aprender, em um processo de apropriação e transformação, é preciso que a atividade docente contemple a unidade entre prática e teoria, no princípio dialético do conhecimento. Nesse sentido, Pimenta (2006a, p. 83) nos provoca a pensar que: U N IC ES U M A R 107 “ A atividade docente é práxis. A essência da atividade (prática) do professor é o ensino-aprendizagem. Ou seja, é o conhecimento téc- nico prático de como garantir que a aprendizagem se realize como consequência da atividade de ensinar. Envolve, portanto, o conhe- cimento do objeto, o estabelecimento de finalidades e a intervenção no objeto para que a realidade (não aprendizagem) seja transfor- mada, enquanto realidade social. Ou seja, a aprendizagem (ou não aprendizagem) precisa ser compreendida enquanto determinada em uma realidade histórico-social. A dimensão política representa o sentido, a finalidade, a intencionalidade do saber e fazer educativo. Compreender essa dinâmica nos torna sujeitos conscientes do nosso papel social, enquanto cidadãos, haja vista que os conhecimentos que adqui- rimos, sejam da prática social, sejam cientificamente, por meio da escola, precisam ser pensados como produtos resultantes das interações e relações estabelecidas humanamente. Nessa perspectiva, “a formação do professor em si mesma já é uma práxis, porque é uma atividade social prática [...]” (PARANÁ, 2006, p. 25). Ao tratarmos do sentido da práxis, faz-se importante mencionar que esta poderá ser alienada ou consciente e isso dependerá da forma como o conheci- mento será desenvolvido. Será alienado quando a teoria e a prática não forem articuladas, ou seja, se representam a unidade pedagógica e acontecem de forma dissociada, a práxis não oportuniza a ideia de totalidade do conhecimento. A fragmentação impede a apropriação das múltiplas possibilidades do co- nhecimento e dificulta a dimensão política consciente. Ao contrário, quando a práxis se efetiva conscientemente, é porque o conhecimento proposto no trabalho pedagógico atingiu as finalidades educativas transformadas, pensamento e ação se entrecruzam, originando novas atitudes, novas posturas em relação aos saberes e fazeres docentes e discentes. O conceito de práxis necessita ser refletido, pois, na pedagogia dialética, não é a prática pela prática, o fazer pelo fazer, a técnica pela técnica, mas o saber e o fazer como unidade fundamental para a apropriação do conhecimento, o qual deve ser visto na visão mais ampla possível, ou seja, quando se possibilita estabelecer relações, dimensionar, inferir, analisar, argumentar e propor formas de intervenção, buscando alternativas para a superação das problemáticas que surgem. Pimenta (2006a) busca a explicação do conceito de práxis a partir dos pressupostos marxistas e enfatiza: “práxis é a atitude (teórico-prática) humana detransformação da natureza e da sociedade. Não basta conhecer e interpretar U N ID A D E 4 108 o mundo (teórico), é preciso transformá-lo (práxis)” (PIMENTA, 2006, p. 86). Na discussão do conceito de práxis, não se pode deixar de mencionar, no trabalho educativo, os conteúdos que necessitam atingir sua cientificidade. So- bre essa questão, Manacorda (1996), reportando-se a Engels e a Marx, nos traz explicações a respeito dos conteúdos científicos. Segundo o autor, “os conteúdos ‘científicos’ entendidos como elementos de rigor objetivo ou como conteúdos integrais permitem uma compreensão geral do mundo natural e humano”. (MA- NACORDA, 2006, p. 110). Essa possibilidade reforça, portanto, a consciência de que teoria e prática constituem a dimensão política. A prática não se pode alimentar, somente, das questões úteis do seu acontecer, quando o imediatismo fica mais evidenciado, isto é, quando somente os resultados interessam. O que necessita ser refletido é como se dá o processo, a aquisição do conhecimento elaborado, produzido, e como os futuros professores se apropriam desse conhe- cimento, superando a fragmentação. Nesse sentido, é preciso compreender que teoria e prática confundem-se na atuação pedagógica, justamente em razão da sua indissociabilidade. Ao discutirmos a teoria e a prática e pensarmos a abordagem da atividade humana, podemos considerar os pressupostos de Vázquez (1977), que nos traz o conceito sobre a práxis em Marx: “ A relação teoria e práxis é, para Marx, teórica e prática; prática, na medida em que a teoria, como guia da ação, molda a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionária; teórica, na me- dida em que essa relação é consciente (VÁSQUEZ, 1977, p. 117). A questão apresentada por Vazquéz (1977) é, também, explicitada por Pimenta (2006). A autora continua o pensamento sobre a relação teoria e prática, descre- vendo que “a atividade humana se caracteriza como produto da consciência, a qual prefigura as finalidades da ação (atividade teórica)”. (VÁZQUEZ, 1977, p. 88). Essas finalidades traduzem a posição que o sujeito toma diante da realidade, pois: “ A finalidade é a expressão de certa atitude do sujeito em face da realidade – é o objetivo que o sujeito estabelece a partir do modo como lê e interpreta a realidade. E “pelo fato de propor-se objetivos, o homem nega uma realidade efetiva, e afirma outra que ainda não existe” (VÁZQUEZ, 1977, p. 189). U N IC ES U M A R 109 Considerando o pensamento do autor, é preciso deixar claro, nos Cursos de For- mação de Docentes em Nível Médio-Modalidade Normal, que as nossas ações, no sentido de pensar o processo de formação humana por meio da ação educa- tiva, move-se a partir de intencionalidades e finalidades, imprescindíveis para a humanização dos sujeitos. Intencionalidades e finalidades se efetivam por meio da práxis; assim, pode- mos ver em Vázquez (1977, p. 185) uma expressão muito interessante, que nos leva a refletir melhor sobre isso, segundo o autor: “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. Isso significa que algumas atividades não acrescen- tam conhecimento; é a prática pela prática, o fazer pelo fazer, sem teoria que dê sustentação a essa prática, a esse fazer, ou seja, não contribui para a mudança, para a transformação. O professor planejou o conteúdo moradia. Os alunos que aprenderão este con- teúdo são do segundo ano do Ensino Fundamental. A princípio, o professor ques- tiona as crianças sobre o que sabem em relação ao assunto planejado. Elas, por sua vez,, respondem que moradia é onde as pessoas moram, como casa, apartamento, barraco, entre outras possibilidades. Este momento representa a prática social das crianças que, mesmo pequenas, já possuem. O professor ouve e instiga para que haja quantas respostas forem possíveis, problematiza o conteúdo e desenvolve a media- ção, diminuindo, dessa forma, a distância entre o senso comum e o conhecimento científico. Explica o que é uma moradia, quais tipos existem, fala sobre os limites que as pessoas têm para conseguir comprar uma casa, pode, também,dizer que muitas pessoas pagam aluguéis por não terem uma casa própria. Questiona a situação das pessoas que vivem e dormem na rua, em barracos, por exemplo, se hoje existem prédios com muitos apartamentos, sobrado etc. Ou seja, faz parte do trabalho do professor problematizar, teorizar, instigar, envolver, questionar, explicar. Enfim, tudo isso para que a criança se aproprie do conhecimento elaborado e possa mudar suas atitudes na realidade. Veja que, no exemplo citado, a práxis está presente, à medida que o professor, partindo da realidade, transforma esta por meio do conhecimento mediado e en- sinado. Podemos pensar, então, que o princípio da práxis, na ação intencional, tem, como ponto de partida, a realidade que, ao ser problematizada e transformada, por meio de teorias e conceituações, modifica-se em um processo dialético. U N ID A D E 4 110 “ A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a ativida- de prática transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação; tudo isso como passagem indispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que se materializa, através de uma série de mediações, o que an- tes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou ante- cipação ideal de sua transformação (VÁZQUEZ, 1977, p. 206-207). A teoria, portanto, só se faz na prática, a partir da materialização do plano das ideias, e este acontecimento se efetiva por meio de mediações, de ações concretas, reais. Pimenta (2006a, p. 92), seguindo este pensamento, ressalta que a atividade teórica “é que possibilita de modo indissociável o conhecimento da realidade e o estabelecimento de finalidades para sua transformação. Mas para produzir tal transformação, não é suficiente a atividade teórica; é preciso atuar praticamente”. Em relação ao plano teórico e epistemológico, nos cursos que formam profes- sores e, se tratando da profissionalização docente, Frigotto (1996) provoca-nos a refletir sobre os desafios, hoje, na formação e na profissionalização do educador. O autor ressalta que: “ Sem uma sólida base teórica e epistemológica, a formação e profis- sionalização do educador reduzem-se a um adestramento e a um atrofiamento das possibilidades de, no âmbito ético-político e so- cioeconômico, analisar as relações sociais, os processos de poder e de dominação, e, portanto, de perceber a possibilidade de trabalhar na construção de uma sociedade alternativa. (FRIGOTTO, 1996, p. 95). O autor enfatiza que os sujeitos, no seu processo de formação, necessitam não só do domínio técnico e científico, mas também, da capacidade de dirigir. Para isso, a formação teórica e epistemológica deve compor o currículo das instituições que formam e profissionalizam. Nesse enfoque, o currículo U N IC ES U M A R 111 “ deverá ser organizado de forma a cumprir com sua função de mu- dança nas condições de trabalho pedagógico voltado a atingir a prá- xis, entendendo que a atividade humana está condicionada ao modo de produção capitalista predominante na sociedade atual, porém, a partir da dimensão política, se poderá compreender as condições postas por esta sociedade bem como os seus condicionantes, pro- movendo o compromisso com a transformação social, haja vista, que os fenômenos e objetos do mundo não são um amontoado de coisas acabadas, mas, que estão em constante transformação (RI- BEIRO; GOZZI, 2009, p. 8). Na operacionalização do currículo do curso de formação de docentes, deve-se atentar para a compreensão da prática docente como práxis, fundamento essen- cial para umaatuação pautada na ideia de transformação. São os subsídios teó- rico-metodológicos que nortearão posturas, condutas éticas do saber e do fazer educativos. Neste aspecto, seus estudos já lhe permitem pensar que “ a natureza dos fenômenos e objetos podem ser materiais, relacio- nados à realidade objetiva que fica fora da nossa consciência e dos fenômenos que se produzem internamente na nossa consciência. Nesse pensamento, cabe a nós, portanto, compreendermos a nature- za dos fenômenos e objetos, pois, é dela que partirá toda a noção de realidade para o professor, essa realidade que supomos sempre, pode ser transformada a partir de nossas ações didático-pedagógicas no fazer docente (RIBEIRO; GOZZI, 2009, p. 8). É por meio da prática-teoria-prática que podemos definir a essência da práxis, no processo da educação formal. Assim, pensar as concepções de educação, de ensi- no e de aprendizagem é fundamental na formação de professores. O(a) futuro(a) professor(a) deve perceber que sua função é elevar o nível de conhecimento de seus alunos do senso comum para o conhecimento científico e, para isso, é reque- rido rigor no trabalho realizado. O rigor teórico-metodológico já foi destacado nesta unidade, o qual faz com que o professor que atua, que forma, busque suporte pedagógico para dar qualidade a seu trabalho, tendo, em vista que cumprir sua função social de transformação é o objetivo maior da docência. Portanto, U N ID A D E 4 112 “ o objeto da atividade prática é a natureza, a sociedade ou os ho- mens reais. A finalidade dessa atividade é a transformação real, objetiva, do mundo natural ou social para satisfazer determinada necessidade humana. E o resultado é uma nova realidade, que sub- siste independentemente do sujeito ou dos sujeitos concretos que a engendraram com sua atividade subjetiva, mas que, sem dúvida, só existe pelo homem e para o homem como ser social (VÁZQUEZ, 1977, p. 194). Como já mencionado anteriormente, o autor orienta-nos sobre a importância da materialização do plano das ideias e, nesse sentido, temos que atentar, enquanto educadores e professores, para a dimensão do trabalho educativos, observando sempre que: “o que não se objetiva materialmente não pode ser considerado como práxis” (VÁZQUEZ, 1977, p. 194). Portanto, para o conhecimento tornar-se ob- jetivo, concreto, prático, é preciso sair da sua subjetividade. O direito da criança ao processo de escolarização A educação é um direito que compreende a todos os sujeitos, mas a partir da Constituição Federal de 1988 e por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394/96, temos a criança como sujeito de direitos, o que impli- ca pensar o compromisso e a responsabilidade com os pequenos. As questões políticas e legais sobre o direito educacional das crianças estão ratificadas nos documentos que orientam a demanda da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse sentido, é possível compreender a importância da formação inicial de professores, haja vista que estes desenvolverão a docência na faixa etária que corresponde à primeira etapa e, também, à primeira parte da segunda etapa da educação básica. A formação de professores em Nível Médio corresponde à formação mínima exigida, já retratada anteriormente, para a atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e, dessa forma, deve-se cumprir com os determinantes legais e pedagógicos, primando uma formação de qualidade. Na perspectiva do atendimento escolar à criança, tem-se, de acordo com a Lei n. 9.394/96, o cuidado e a educação desta. Hoje, há a preocupação com o desen- volvimento da Educação Infantil, o qual pode ser garantido por meio de política U N IC ES U M A R 113 de intervenção pedagógica, de responsabilidade dos municípios, respaldados pelo estado. Sabemos que o trabalho escolar com a criança precisa ser conside- rado nos aspectos social, afetivo, emocional, cognitivo e cultural. Portanto, essas questões denotam que as especificidades, conforme as faixas etárias, precisam ser garantidas no espaço escolar. Na formação de docentes, faz-se necessário trabalhar conceitos que per- meiam a realidade dos pequenos. Considerando-se as especificidades das crian- ças e visando à formação para a cidadania, os pressupostos devem embasar-se nos seguintes princípios: ■ Respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas di- ferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc. ■ Direito das crianças de brincar, como forma particular de expressão, pen- samento, interação e comunicação infantil. ■ Acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o de- senvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética. ■ Socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma. ■ Atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao de- senvolvimento de sua identidade (BRASIL, 1998, p. 13). O atendimento escolar à criança, sempre, foi entendido a partir do caráter assis- tencialista. Sair dessa condição exige conhecimentos que vão além do cuidado, porquanto, é preciso assumir que a concepção de infância e de educação infantil, hoje, deve ser pensada na sua especificidade: a criança necessita ser educada e cui- dada, mas, como criança, há que se resguardar a sua condição, que brinca, fantasia e aprende. Portanto, o docente que atua na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental necessita estar preparado para os desafios, os quais ele encontrará na sua prática docente. Respeitar a criança, propiciar condições de aprendizagem, cuidar, proteger são funções da escola e do profissional que atua. Assim, diante da realidade que envolve os pequenos, no espaço escolar, é pre- ciso valorizar a formação de professores, privilegiando os conceitos de cuidado e educação e, trabalhar questões como: a criança e a aprendizagem, o brinquedo, a brincadeira, as diferentes linguagens e expressões, como formas de respeitar a condição de criança com o objetivo de aprendizagem e desenvolvimento. U N ID A D E 4 114 O trabalho pedagógico não está centrado no professor ou no aluno, mas na questão cen- tral da formação do homem. O professor é valorizado no seu papel de autoridade que orienta e favorece o processo de ensinar e de aprender. (Ilma Passos Alencastro Veiga) pensando juntos 2 PRÁTICA DE ENSINO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS EM NÍVEL MÉDIO: currículo e formação para docência Caro(a) aluno(a), não se pode deixar de destacar, neste material de estudo, a especificidade da nossa disciplina, o trabalho com as disciplinas pedagógicas no âmbito da formação de professores em Nível Médio. No curso de Pedagogia, algumas indagações necessitam ser respondidas, tais como: o que é a formação de docentes em Nível Médio? Esta formação prepara para quê? O(a) aluno(a), no curso de formação de docentes, trabalha somente com as disciplinas específicas? Com quais disciplinas o(a) pedagogo(a) trabalhará? São as mesmas disciplinas do curso de Pedagogia? Quais as vantagens do(a) aluno(a) egresso do Ensino Fundamental em buscar a profissionalização docente no Ensino Médio? A formação de docentes, em Nível Médio, é denominada de formação inicial porque profissionaliza o futuro docente para atuar na Educação Infantil e nos U N IC ES U M A R 115 anos iniciais do Ensino Fundamental (1° ao 5° ano). Historicamente, houve várias denominações para o respectivo curso: Escola Normal, que formava a(o) norma- lista para a atuação no antigo Ensino Primário, que abrangia do 1° ao 4° ano (Lei n. 4.024/61); Magistério (Lei n. 5.692/71); e Formação de Docentes, para atuar na Educação Infantil e nos anos iniciais do ensino Fundamental. Este último, hoje, até o 5° ano (Lei n. 9.394/96). Têm-se, na atual conjuntura educacionale de formação, muitos desafios a serem enfrentados no que diz respeito à formação de docentes em nível médio, curso este que sempre representou o espaço de formação para a docência, cujo objetivo é aten- der à escolaridade básica nos anos iniciais e, depois, também, a Educação Infantil, a partir da Lei n. 9.394/96. No início da década de 1990, à Pedagogia coube, também, formar para a atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Funda- mental, uma vez que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) reforçou a ideia de que, após a sua década, ou seja, a partir de 2006, os profissionais da educação deveriam ter ou estar em cursando Ensino Superior. A formação de docentes em Nível Médio contempla, em sua matriz curri- cular (2014), o princípio da formação integrada. Isso significa que o(a) aluno(a) estuda as disciplinas do Núcleo Comum, referente ao Ensino Médio (Arte, Edu- cação Física, Filosofia, Sociologia, Biologia, Matemática, Física, Química, História, Geografia, Língua Portuguesa, ainda, a Língua Estrangeira Moderna – o Inglês), disciplinas essas de responsabilidade dos professores das diferentes licenciaturas, e as disciplinas específicas de formação profissional, as quais são trabalhadas pelo(a) professor(a) pedagogo(a). Dessa forma, trazemos, para nosso estudo, um exemplo conforme a Matriz e a Proposta Pedagógica do Curso de Formação de Docentes em nível médio – Modalidade Normal do Estado do Paraná (2014), por considerar que esta é uma proposta coerente, consistente teoricamente, cuja elaboração deu-se de forma coletiva pelos profissionais do curso, no ano de 2014, sendo a mesma implemen- tada em 2015. Importante mencionar, ainda, que a matriz curricular de um curso de formação de docentes em Nível Médio –Modalidade Normal, em relação às disciplinas específicas de formação, pode variar conforme a realidade de outros estados e/ou localidades brasileiros. Nesse sentido, nosso objetivo é mostrar a você, caro(a) licenciando(a), as dis- ciplinas da matriz e a proposta pedagógica, a qual nos referimos anteriormente (PARANÁ, 2014). Para que você tenha noção sobre essa área de atuação, apre- sentamos as matérias pedagógicas, por meio do quadro a seguir. U N ID A D E 4 116 Disciplinas pedagógicas: Curso de Formação de Docentes em Nível Médio - Modalidade Normal Concepções Norteadoras da Educação Especial Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação Fundamentos Históricos da Educação Fundamentos Históricos e Políticos da Educação Infantil Fundamentos Psicológicos da Educação LIBRAS Literatura Infantil Metodologia da Alfabetização Metodologia do Ensino de Arte Metodologia do Ensino de Ciências Metodologia do Ensino de Educação Física Metodologia do Ensino de Geografia Metodologia do Ensino de História Metodologia do Ensino de Matemática Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Organização do Trabalho Pedagógico Trabalho Pedagógico na Educação Infantil Prática de Formação (Estágio Supervisionado) Quadro 1 - Representação da matriz curricular do Curso de Formação de Docentes em nível médio-Modalidade Normal (Exemplo) / Fonte: Paraná (2014, p. 14). U N IC ES U M A R 117 As disciplinas que mencionamos são de formação específica nos cursos de for- mação de docentes em Nível Médio-Modalidade Normal. Cada disciplina possui sua especificidade, mas todas têm relações em seus conteúdos, pois a forma de trabalho com as mesmas caracteriza-se por dimensões afins, quais sejam: his- tóricas, sociais, políticas, éticas, econômicas, religiosas e culturais. Saberes estes necessários ao processo de profissionalização dos docentes. Nesse aspecto, a práxis norteia e orienta as ações docentes e o trabalho com as respectivas disciplinas. Portanto, problematizar, teorizar e estabelecer o diá- logo entre o sujeito e o conhecimento fazem com que a realidade se transforme dialeticamente. Os conceitos, as concepções, os fundamentos das mais diferentes áreas do conhecimento específico necessitam fazer parte do currículo e permear as discussões e os debates em torno da formação e profissionalização docente. O referencial teórico-metodológico adotado nos cursos de formação para a docência deve contemplar as concepções históricas, sociológicas, antropológi- cas, filosóficas e psicológicas, e buscar desenvolver o conhecimento necessário à atuação profissional. Neste material, trazemos a base do conhecimento, situado na sua historicidade, a partir do materialismo histórico e dialético, considerando o tempo e o espaço em que as relações e a produção humana acontecem, em meio a conflitos e desafios que, a todo instante e em qualquer tempo, busca-se a superação. Na respectiva abordagem, os conteúdos planejados no Plano de Trabalho Docente do professor necessitam ser sistematizados, problematizados e instrumentalizados para atingirem o objetivo maior: o conhecimento científico. O curso de formação de docentes em Nível Médio-Modalidade Normal, também, trabalha com conhecimentos sobre a Educação Especial, pois, com a perspectiva inclusiva, os professores, à medida que atuarão na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, certamente, necessitarão conhecer a realidade que envolve os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem ou algum tipo de deficiência. Portanto, contemplar estudos nesta área é fundamental. Mais do que estudar os tipos de deficiências, é importante ter contato com elas nas instituições que ofertam atendimento às várias especificidades, o que pode ser possível por meio do estágio, quando os alunos vão às instituições, a fim de conhecerem a realidade que envolve a demanda especial. Nessa sequência, destacamos a disciplina de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), embora a matriz, a qual trazemos como exemplo, não a destaque nessa ordem. Buscamos trazê-la, para que, pensando as “Concepções que Norteiam a Educação Especial”, você, aluno(a), possa refletir sobre as necessidades que sur- U N ID A D E 4 118 gem para atender às demandas da nossa sociedade. A LIBRAS surge na formação de docentes, justamente, em razão do processo de inclusão e deve ser trabalhada no referido curso para que os futuros profissionais possam ter subsídios que propiciem melhores condições de trabalho, em sala de aula, a fim de atender as particularidades do aluno com necessidades educativas especiais, nesse caso, dos alunos que apresentam surdez. Sendo a comunicação e a linguagem vitais para construção da identidade de uma pessoa, quanto mais cedo acontecer o contato entre o adulto surdo e a criança surda, mais cedo, a identidade e a cultura surda serão transmitidas, naturalmente, à criança: “ Em contextos escolares, o estudante deve ter assegurado o direito do bilinguismo, LIBRAS – Língua Portuguesa para que se efetivem os processos de ensino e de aprendizagem na perspectiva da educação inclusiva (PARANÁ, 2014, p. 34). Essa perspectiva denota a importância da LIBRAS no curso de formação de do- centes, e, para trabalhar essa disciplina, é preciso que o professor tenha a Língua Brasileira de Sinais. A profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais está regulamentada pela Lei n. 12.319/10 e, para exercer a respectiva pro- fissão, é preciso ter cursado o Nível Médio, com certificado de curso profissio- nalizante, de nível universitário, ou, ainda, de curso de formação continuada, oferecido por universidades ou instituições credenciadas para tal fim. O(a) pedagogo(a) deve compreender que o profissional docente formado em Nível Médio-Modalidade Normal necessita de conhecimentos das disciplinas U N IC ES U M A R 119 obrigatórias do currículo (Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, enfim, das disciplinas estudadas em todo Ensino Médio regular, principalmente, as específicas, que fazem parte da formação para a profissão) relacionados aos fundamentos da educação, das metodologias de ensino, do trabalho pedagógico, envolvendo planejamento,metodologia, avaliação, entre outros. Essa dinâmica que envolve os conhecimentos faz com que o(a) futuro(a) docente tenha cons- ciência sobre seu papel social, que é ensinar. Os fundamentos da educação são essenciais na formação crítica da realidade, pois esta realidade é política, social, econômica e cultural, o que exige posicio- namentos, tomada de decisões e análises, favorecendo uma postura consciente acerca do papel social que cada um exerce no seu meio. Outra questão, em rela- ção à área de fundamentos é a de que estes nos levam ao entendimento sobre a articulação existente entre as áreas e os conhecimentos trabalhados nos cursos que formam professores em Nível Médio-Modalidade Normal. É preciso com- preender que as disciplinas não se esgotam por si mesmas, não são estáticas, justamente, por haver relações e articulações entre elas. Quando pensamos a área de fundamentos da educação, temos os conheci- mentos que permeiam o campo de investigação sobre o tempo e o espaço, pro- piciando estudo sobre o âmbito da sociedade, as construções teóricas e elabora- ções científicas que dão base para pensarmos a sociedade contemporânea. Uma questão é importante: no trabalho com os conteúdos, nas respectivas áreas do conhecimento, deve-se evitar os reducionismos e a fragmentação, pois, como já mencionado, há relações que podem ser estabelecidas para se ter o conhecimento visto na sua totalidade. Os cursos de formação em nível médio passaram a ofertar disciplinas relacio- nadas ao trabalho com a Educação Infantil para atender à demanda desta faixa etária, incluindo, na formação em Nível Médio-Modalidade Normal, especificida- des da infância e da criança. É sabido que, com a ideia de educar e cuidar, torna-se relevante a figura do docente para o atendimento à criança de zero a cinco anos de idade. É preciso refletir sobre questões de ordem teórico-metodológica para a atuação consciente dos profissionais habilitados para esse atendimento. Pode-se, aqui, destacar que concepções de infância, criança, família, desen- volvimento e aprendizagem são requisitos fundamentais de apropriação para os futuros docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamen- tal. Os diferentes contextos históricos deverão ser abordados pelos profissio- nais docentes que formam outros profissionais docentes. Não se pode, também, U N ID A D E 4 120 deixar de mencionar o conhecimento da diversidade cultural. Os fundamentos da educação devem oportunizar aos alunos do curso de formação de docentes estudos sobre História e Cultura Afrodescendentes, indígenas, quilombolas, de populações ribeirinhas e de campo. Os Fundamentos Históricos e Políticos da Educação Infantil possibilitam estu- dos com autores que perpassam diferentes áreas do conhecimento: “Antropologia, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia (Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Montes- sori, Decroly, Freinet, Piaget, Vygotsky, Wallon e outros)” (PARANÁ, 2014, p. 28). Destaca-se que, na formação de docentes em Nível Médio–Modalidade Normal, faz-se necessário que o professor tenha clareza do referencial teórico- -metodológico a ser adotado. Nossos estudos, neste material, caro(a) aluno(a), pautam-se no materialismo histórico e dialético, por isso, tem-se, no tocante aos Fundamentos Psicológicos da Educação, a Psicologia Histórico-Cultural (Vygot- sky) que embasa os encaminhamentos pedagógicos. Estudos sobre o desenvolvimento humano são de extrema importância na apropriação de conceitos e concepções sobre aprendizagem e desenvolvimento. O que está posto, na abordagem que fazemos, pauta-se na Pedagogia Crítica, mas os futuros docentes precisam conhecer as abordagens não crítica para, então, estabelecerem relações, inferirem conclusões e interpretarem o que está presente nos documentos curriculares oficiais. Dessa forma, intenciona-se uma leitura baseada na reflexão sobre a realidade. A literatura infantil propicia relações que permeiam questões históricas: tem- po e espaço. As obras infantis contribuem para despertar a sensibilidade, a afeti- vidade, a fantasia, a imaginação e a criatividade, elementos que, certamente, farão diferença na vida das crianças. O(a) pedagogo(a) que trabalhar com a disciplina de Literatura Infantil necessita compreender que o trabalho com a análise de fatos e acontecimentos deve ser incluído no ensino, analisar, criticamente, os diferentes gêneros literários; conhecer técnicas para a contação de histórias; desenvolver ati- vidades em que possa haver dramatizações, pois trabalhar a ludicidade contribui enormemente para ações pedagógicas coerentes e relevantes na aprendizagem e no desenvolvimento dos alunos. As metodologias de ensino propiciam a base do conhecimento escolar, pois, a partir das respectivas matérias, são retomados conteúdos das etapas de ensino, áreas de atuação do futuro docente. A perspectiva dialética possibilita a contextualização, a retomada de conteúdos das diferentes áreas, conteúdos estes referentes à Educação Infantil e aos anos iniciais do Ensino Fundamental. U N IC ES U M A R 121 A Metodologia da Alfabetização dá condição para que o futuro(a) docente conheça a história da escrita e, nesse sentido, perceba sua importância para a evolução da sociedade. A alfabetização deve ser desenvolvida concomitan- temente ao letramento. Portanto, pensar no encaminhamento metodológico para atingir o objetivo é fundamental. As metodologias da Arte, Ciências, Educação Física, História, Geografia, Ma- temática e Língua Portuguesa possibilitam conhecimentos específicos de cada área. Importante ressaltar que os pressupostos teórico-metodológicos devem orientar sempre para a visão crítica. A Metodologia do Ensino da Arte deve ser contextualizada e trabalhada a considerar as diferentes representações artísticas, independentemente de serem relacionadas às artes visuais, à música, à dança e ao teatro. O trabalho com essa metodologia oportuniza analisar períodos históricos, conhecer artistas clássicos das diversas representações artísticas e pensar para além do conceito de belo, trazendo a ideia de que a arte favorece à humanização dos sujeitos. Por outro lado, na Metodologia do Ensino de Ciências é trabalhada a ciência enquanto elemento da cultura, uma matéria que analisa causas e fenôme- nos, conceitos e significados necessários à formação para que os alunos possam exercer, conscientemente, os conteúdos. A Metodologia do Ensino de Educação Física é uma prática que favorece ao indivíduo e as condições da vida cotidiana em sociedade. Esta área objetiva trabalhar os conteúdos, considerando os pressupostos: “ Da cultura corporal que devem emergir da realidade dinâmica e concreta do mundo do aluno; os conteúdos devem promover uma concepção científica de mundo, e por último, a formação e a mani- festação de possibilidades para conhecer a natureza e a sociedade (PARANÁ, 2014, p. 53). No que se refere à Metodologia do Ensino de Geografia, as práticas pedagógi- cas deverão contemplar elementos conceituais sobre os conteúdos de Geografia correspondente à Educação Infantil e aos anos iniciais do Ensino Fundamental. A Metodologia do Ensino de História visa a trabalhar a história no seu processo de formação e construção das relações humanas. Nesse sentido, o trabalho é a condição para pensar a construção da sociedade na sua forma mais abrangente, espaço e tempo, relações de trabalho e produção da cultura, da mesma forma que as relações de poder são conhecimentos específicos dessa área. U N ID A D E 4 122 A Metodologia do Ensino da Matemática favorece a apreensão do processo de mudança dessa ciência, por meio de situações - problema que permeiam o cotidiano, e também conceitos mais elaborados para o ensino dessa área. O princípio da práxis é o eixo orientador para uma prática significativa do en- sino de Matemática, pois os alunos vivenciam, na sua realidade cotidiana e a todo instante, números, quantificações e agrupamentos, e podem, a partirdas mediações em sala de aula, apropriar-se dos conceitos elaborados sobre essa área, passando para um nível mais elevado do conhecimento. A Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa torna-se fundamental no trabalho com a formação de docentes em nível médio, pois as diferentes lin- guagens como forma de expressão, a leitura e a escrita, a análise e a interpreta- ção são atividades que implicam em prática social e, portanto, sua organização e elaboração sistemática precisam passar por encaminhamentos que possibili- tem o trabalho consciente dessa área. Nesse sentido, apresenta-se a disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico cuja concepção teórico-metodológica pauta-se na perspectiva dialética do conhecimento e orienta quanto às formas de elaboração dos planos de trabalho docente e as possibilidades de apreensão dos conteúdos, tendo em vista a unidade entre teoria e prática. A Organização do Trabalho Pedagógico possibilita a estrutura da aula e do trabalho a ser realizado, instrumentaliza o docente com conhecimentos e sequência didática sobre o que (conteúdo) para que (objetivos) e como (me- todologia/instrumentalização). Nessa perspectiva, o aluno em formação para a docência deverá constituir suporte teórico-metodológico, visando ao apro- fundamento dos conteúdos que ele deverá trabalhar na respectiva matéria ou disciplina, como o Plano de Trabalho Docente (planejamento). O Trabalho Pedagógico na Educação Infantil traduz-se nos conhecimentos pertinentes à organização e à sistematização dos conteúdos relacionados à ação docente, ao processo de planejar a ação pedagógica, tendo em vista as especifi- cidades das diferentes faixas etárias. Por meio da respectiva disciplina, o futuro U N IC ES U M A R 123 Para pensarmos a relação prática-teoria-prática e sobre a dimensão da práxis como prin- cípio filosófico, consideramos importante trazer a reflexão como mecanismo para elabo- ração do pensamento: A reflexão filosófica é radical, pois vai à raiz do pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos, também, seres que agem no mundo, que se relacionam com outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem e dos gestos como por meio de ações, comportamentos e condutas. “[...] A atitude filosófica dirige-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. É um saber sobre a realidade exterior ao pensamento”. “[...] A reflexão se dirige ao pensamento, à linguagem e à ação. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade de conhecer, falar e agir próprias dos seres humanos [...]” Fonte: adaptado de Chauí (2005, p. 25-26). explorando Ideias professor pode compreender, sistematizar, elaborar formas didáticas de atuação. A Prática de Formação ou o Estágio Supervisionado é uma disciplina que orienta para a efetividade da vivência e da experiência docente. Normalmente, esta etapa da atividade, nos processos de formação, implica em três momentos: observação e conhecimento do espaço escolar, onde se realizará essa vivência; a participação, quando são organizadas atividades em que o futuro docente poderá contribuir, de alguma forma com a escola ou com o professor, e a docência, quando, por meio de um plano proposto e elaborado o plano de trabalho, se experiencia a docência. Percebaque os momentos apresentados são únicos e fazem parte da for- mação docente como um todo, portanto, faz-se necessário que os respectivos tempos e espaços sejam orientados e supervisionados pelo(a) professor(a) res- ponsável. O acompanhamento didático-pedagógico do docente traduz-se em responsabilidade e em compromisso, visando, sempre, a atingir os objetivos da U N ID A D E 4 124 3 PRÁTICA DE ENSINO: ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA formação. A princípio, partimos da ideia filosófica que envolve a teoria e a prática. Gramsci (1978) explicita em Obras escolhidas que é preciso procurar, analisar e criticar diversas formas sob as quais se apresentou, na história das ideias, o conceito de unidade entre teoria e prática, já que parece estar fora de dúvida que cada con- cepção do mundo e da filosofia se preocupa com esse problema. Analisando este pensamento, Gramsci (1978, p. 55) traz a afirmação de um mestre da escolástica: “[...] Intellectus speculativus extensione fit practicus – a teo- ria, por simples extensão, faz-se prática – isto é, afirmação da necessária conexão entre a ordem das ideias e da ação [...]”. A esta expressão filosófica do sentido da teoria e da prática de acordo com a perspectiva gramsciana, acrescenta-se: “ [...] Já que toda a ação é o resultado de vontades diversas, com di- verso grau de intensidade, de consciência, de homogeneidade, com todo o complexo de vontade coletiva, é claro que também a teo- ria correspondente e implícita será uma combinação de crenças e pontos de vista igualmente desarticulados e heterogêneos. [...] Se o problema de identificar teoria e prática se coloca, coloca-se nes- te sentido: construir sobre uma determinada prática uma teoria U N IC ES U M A R 125 que, coincidindo e identificando-se com os elementos decisivos da própria prática, acelere o processo histórico em curso tornando a prática mais homogênea, mais coerente, mais eficiente em todos os seus elementos, isto é, potenciando-a ao máximo; ou, dada uma certa posição teórica, organizar o elemento prático, indispensável para se pôr em funcionamento [...] (GRAMSCI, 1978, p. 56). Por que estudar o ponto de vista filosófico dessa questão? Trazer uma ideia de cunho filosófico nos induz a pensar as reflexões mais consistentes acerca dos papéis que assumimos em nossa profissionalização docente. Constata-se, no pensamento gramsciano, que a própria identificação da teo- ria e da prática implica em uma questão problematizadora prática, indicando a necessidade de construir, sob, esta, uma teoria que a explique. Por isso, a pro- blemática que envolve estes elementos constituidores da práxis são tão com- plexos do ponto de vista dos educadores que atuam nas escolas e salas de aulas. Considerando a indissociabilidade entre teoria e prática, há de se destacar que as experiências diferenciadas no campo da formação propiciam a apropriação sistemática do conhecimento. Não há disciplinas, somente, teóricas ou, somente, práticas, porque as disciplinas são teórico-práticas ao mesmo tempo. A questão fundamental, conforme Pimenta (2006, p. 24): “ [...] É a necessidade de se construir teorias fertilizadoras da práxis dos professores no sentido da transformação das persistentes con- dições de ensino e aprendizagem seletivas e excludentes; da gesta- ção de práticas pedagógicas capazes de criar, nos âmbitos escolares, as condições de emancipação e desenvolvimento social, cultural e social dos alunos pertencentes aos segmentos desfavorecidos da sociedade e que, por isso, sofrem o processo de marginalização nas nossas escolas. Diante do pensamento da autora, faz-se necessária a análise crítica das experiên- cias concretas e problemas reais para que, assim, possa se propor novas ações e práticas pedagógicas. A prática social deve ser a base de estudos e discussões no meio educacional e, principalmente, nos cursos que formam professores em Nível Médio. Refletir e repensar as práticas por meio das teorias e concepções pedagó- gicas favorece para a mudança de postura frente à realidade. O que consideramos, neste pensamento, é a consciência crítica necessária aos profissionais docentes. U N ID A D E 4 126 Os estudos, atualmente, desenvolvidos, no tocante à formação de professores, mostram-nos que a atividade do professor é teórico-prática, ou seja, a profissão docente serve-se de fundamentos teóricos para a explicação das práticas reais. Nesta perspectiva de análise das situações que envolvem as práticas docentes, destacamos o currículo do curso de formação de professores. Ele deve propor o que se pretendeatingir na formação para a docência: superar modismos e ideologias dominantes; enfrentar desafios na formação e na profissionalização do educador; buscar formas avaliativas condizentes com uma proposta de for- mação emancipatória. É preciso, também, deixar para trás formas classificatórias que excluem, dentre tantos aspectos, o que o currículo deve contemplar, visando à qualificação dos futuros docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A integração dos conteúdos e das disciplinas propostos no currículo para o curso de Formação de Docentes em Nível Médio-Modalidade Normal deve possibilitar o entendimento sobre a realidade. Por meio da operacionalização das ações, pode-se mudar a realidade. Os subsídios teórico-metodológicos pro- piciam os conceitos necessários para pensar os problemas e buscar as alternativas possíveis para transformar situações reais. Pimenta e Lima (2004, p. 41) trazem a ideia de que a ausência da unidade entre teoria e prática provoca o empobrecimento das práticas pedagógicas das escolas, pois os conteúdos são fragmentados, trabalhados de forma descontex- tualizada, o que dificulta a aquisição dos conhecimentos científicos. U N IC ES U M A R 127 “ Ao contrastar teoria e prática, o futuro docente viverá a práxis no trabalho pedagógico, demandando a partir daí, momentos trans- formadores na ou da ação docente. As práticas pedagógicas se constituem no eixo articulador que busca a superação dos saberes fragmentados das disciplinas. Os saberes (conteúdos) necessitam ser contextualizados historicamente a fim de evitar a fragmenta- ção, a qual dificulta a compreensão na sua totalidade (RIBEIRO; GOZZI, 2009, p. 10). O conceito de ação docente exposto por Pimenta e Lima (2004, p. 41) se explicita da seguinte forma: “a profissão de educador é uma prática social”. Conforme as autoras, é por meio do conhecimento que o indivíduo pode intervir na realidade social e, dessa forma, modificá-la. O professor na sua função social, portanto, pode promover mudança ou levar os indivíduos a permanecerem passivos. A finalida- de da escola é despertar para a consciência crítico-política, assim, “a noção de ação é sempre referida a objetivos, finalidades e meios, implicando a consciência dos sujeitos para essas escolhas supondo certo saber e conhecimento” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 4). As atividades pedagógicas requerem orientação, organização, estruturação e planejamento para o cumprimento de suas finalidades educativas. Neste aspecto, o compromisso ético com os saberes e fazeres escolares denota a essência do trabalho com as disciplinas e conteúdos curriculares. U N ID A D E 4 128 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar a formação de docentes em Nível Médio-Modalidade Normal, campo de atuação dos futuros licenciados em Pedagogia, representa um desafio na formação inicial desses. Conhecer a dinâmica que perpassa a realidade educa- cional, hoje, no Brasil, é uma necessidade didático-pedagógica, pois a história produzida faz perceber como, em cada momento, alteram-se as condições, os meios e os fins da educação. Para formar professores, são requeridos subsídios teórico-metodológicos que possam fundamentar as práticas existentes para, então, produzir outras práticas, transformadas, sustentadas por referenciais teóricos que trazem a possibilidade de compreensão da realidade. As mudanças na educação, decorrente do contex- to histórico da sociedade, coloca-nos em situação de alerta, em relação à nossa atuação, enquanto profissionais, exigindo que tenhamos nova postura diante dos desafios propostos a todo instante. Devemos reconhecer que trabalhar uma educação para a humanização do indivíduo requer propiciar os fundamentos necessários para a reflexão sobre os processos que constituem as ações, as atitudes bem como os movimentos sociais, políticos, econômicos e culturais que envolvem a população. Os anseios da socie- dade em relação a essas questões precisam ser compreendidos pelos educadores. Perceber as contradições existentes na sociedade e na educação, tendo em vista as questões legais e pedagógicas, impulsionam-nos a repensar a dinâmica da escola e da sala de aula. Os princípios pedagógicos que acreditamos como determinantes na atuação docente devem perpassar o discurso teórico do pro- fessor, levando-o a construir novas práticas enriquecidas de subsídios teóricos. Os princípios da Proposta Pedagógica do Curso de Formação de Docentes, em Nível Médio, são fundamentais para que se tenha direção didático-pedagó- gica na relação de ensinar e aprender. Dessa forma, o conhecimento necessita ser contextualizado, esgotado nas suas múltiplas dimensões, considerando as suas historicidade e dinamicidade. 129 na prática 1. Ao escolhermos a profissão de pedagogo(a), devemos ter claro que esta atividade re- quer conhecimentos fundamentados cientificamente. Esta questão é a razão de ser do(a) pedagogo(a). O(a) profissional dessa área tem a responsabilidade e o compro- misso de transformar o senso comum do(a) aluno(a) em conhecimento elaborado, científico. Assim, os conhecimentos pedagógicos da área educacional, escolar dão possibilidades para a análise das condições do ensino e da aprendizagem existente, no campo de trabalho, para que intervenções sejam realizadas, buscando, sempre, a qualidade do trabalho pedagógico. Com isto em mente, leias as afirmações a seguir. I - Na escola, o(a) professor(a) pedagogo(a) é quem ensina, e a atividade de ensinar é um ato pedagógico que exige organização na sua elaboração. II - A profissão de pedagogo(a) exige que esse profissional tenha conhecimentos que perpassam várias áreas do conhecimento, dentre elas, podemos elencar: histórica, cultural, ético-política, econômica e social. III - É na sala de aula que o ensino e a aprendizagem têm sua efetividade pedagó- gica, podendo, também, acontecer em outros espaços organizados para este fim, dentro da escola. IV - O senso comum, na nossa sociedade atual, prevalece sobre o conhecimento científico, por representar a prática social dos indivíduos. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) I, II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 130 na prática 2. “A prática docente, quando considerada como prática social, historicamente cons- truída, condicionada pela multiplicidade de circunstâncias que afetam o docente, a instituição, o momento histórico, o contexto cultural e político, realizar-se-á como práxis, em um processo dialético que, a cada momento, sintetiza as contradições da realidade social em que se insere e, assim, se diferenciará de uma prática organizada de forma a-histórica, como sucessão de procedimentos metodológicos. A prática como práxis traz, em sua especificidade, a ação crítica e reflexiva do sujeito sobre as circunstâncias presentes e, para essa ação, a pesquisa é inerentemente um processo cognitivo que subsidia a construção e mobilização dos saberes construídos ou em construção” (FRANCO, 2012, p. 203-204). Considerando o texto anterior e a existência das relações que podem ser estabele- cidas entre a prática docente e a práxis, avalie as afirmações a seguir e considere V para verdadeiro e F para falso. I - A prática docente se faz tendo em vista a consciência crítica e política das rela- ções humanas. II - A prática docente e práxis representam a dimensão do ato pedagógico em uma perspectiva de mudança. III - A prática docente, para ser coerente e transformar a realidade, necessita ser pensada no princípio da práxis. IV - A prática docente, para apresentar sentido ao ensino e à aprendizagem, deve caracterizar-se em um processo dialético. A sequência correta para a resposta da questão é: a) V, V, F e F. b) V, V, V e F. c) V, F, V e F. d) F, V, V e F. e) V, V, V e V. 131 na prática 3. Nas práticas desenvolvidas, o referencial teórico-metodológico torna-se fundamental para o direcionamento da prática pedagógica, pois subsidia a fundamentaçãodos conteúdos curriculares, tanto na Pedagogia quanto nos cursos que formam docen- tes no âmbito do Ensino Médio – Modalidade Normal. Nesse sentido, explique a abordagem dos conteúdos, a partir do materialismo his- tórico e dialético. 4. Pensar o trabalho como princípio educativo é organizar o processo de ensino, tendo a referência de que o trabalho é o centro da formação humana, ou seja, “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente, pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2005, p. 13). Isso significa afirmar que o trabalho é o eixo do processo educativo. Baseando-se nesta afirmativa, comente o sentido do trabalho para a transformação do divíduo e da sociedade. 5. A autora Kuenzer (1988, p. 126), em estudo sobre formação e trabalho, destaca que “a finalidade da escola deveria ser a de unificar cultura e trabalho, pois, nesse sentido, cumpriria sua função social de formar homens multilateralmente desenvol- vidos. Formar para a capacidade produtiva e para as capacidades de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige”. Considerando o posicionamento da autora, discorra sobre o sentido da expressão em destaque. 132 aprimore-se A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE DIDÁTICA A Pedagogia Histórico-Crítica valoriza a especificidade do pedagógico, procurando situá-lo dentro de uma perspectiva globalizadora. Isso significa reconhecer que uma proposta críti- ca de formação de professores pode, efetivamente, contribuir para mudanças quando está comprometida com o processo de transmissão-assimilação-elaboração do conhecimento, quando desvela as contradições sociais ao invés de mascará-las e quando propicia ações educativas que levem os futuros professores a compreenderem, analisarem e interpreta- rem criticamente as realidades social e educacional. [...] Não se trata apenas de transmitir teorias para guiar o fazer pedagógico, mas trata- -se de empregar o saber sistematizado para explicar os problemas levantados no cotidiano da sala de aula. Não se trata apenas de transmitir conteúdos críticos, mas é preciso viven- ciar, refletir e sistematizar junto com o aluno o que ocorre no interior das salas de aulas, ou seja, o processo ensino-aprendizagem [...]. [...] É imprescindível que se tome a escola como espaço por excelência da formação do professor, acreditando nela e tentando mudá-la por dentro. Compreender a escola en- quanto realidade concreta e inserida no contexto histórico-social. Tomar como ponto de partida a dinâmica da sala de aula e as implicações advindas daí para a prática pedagógica do futuro professor. Apreender o processo de ensino como ele é e a possibilidade de recriá- -lo em uma perspectiva crítica; detectar os problemas de aprendizagem, analisando suas causas para uma intervenção adequada e efetiva, se for o caso. Enfim, uma reflexão sobre as dimensões técnica e política da Didática, ou seja, a organização do ensino, a disciplina, o manejo de classe, a relação pedagógica, as formas de trabalho, o controle que o professor exerce sobre o aluno e sobre o conhecimento, as decisões tomadas pelos professores e alunos no dia a dia da sala de aula etc. É a dimensão técnica pensada de forma mais ampla e articulada com as dimensões humana e política da prática pedagógica perpassadas pela intencionalidade. Desta forma, a Didática procura compreender o processo de ensino em suas múltiplas determinações, a fim de atender aos seus objetivos de instrumentar, teórica e praticamente, o futuro professor. Fonte: Veiga (1994, p. 165-168). 133 eu recomendo! O material tem como conteúdo a Proposta Pedagógica Curricular para o curso de Formação de Docentes em nível médio. Nesse sentido, traz reflexões acerca dos pressupostos teórico-metodológicos que embasam o curso e orienta quanto às disciplinas que compõem a matriz curricular, com suas ementas, metodologias e bibliografias, oportunizando ao futuro docente o pensar a realidade escolar e de formação. http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/ppc_formacao_ docentes_2014.pdf conecte-se http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/ppc_formacao_docentes_2014.pdf http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/ppc_formacao_docentes_2014.pdf 5 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Contextualização histórica do Estágio Supervisionado • Práticas curriculares: o estágio como vivência para a experiência docente • O estágio curricular: a metodologia pautada na pesquisa e a consciência crítico-política a ser construída na postura do professor. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Refletir sobre o contexto histórico que envolve o Estágio Curricular, considerando a necessidade de pensar a unidade entre teoria e prática a partir da práxis • Reconhecer o Estágio Supervisionado como a vivência da experiência docente, buscando construir uma postura ético-política e crítica acerca da realidade educacional • Desenvolver possibilidades de apreensão, por meio do Estágio Supervisionado, das temáticas problematizadoras, buscando ações investigativas para as respectivas respostas. A RELAÇÃO PRÁTICA DE ENSINO E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO contexto da formação de professores PROFESSORA Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a)! Quando tratamos da prática de formação e Estágio Supervisionado, situamos a unidade existente entre a teoria e a prática. Busca-se, portanto, no presente texto, realizar uma breve recuperação his- tórica das práticas pedagógicas que permearam os cursos de formação de professores: primeiro, com a denominação de Escola Normal, depois, Magistério e, hoje, Formação de Docentes – Modalidade Normal. A recu- peração histórica toma, como base, estudos que contemplem esta especi- ficidade curricular. O estágio curricular é o componente do curso de formação de profes- sores que se destina às atividades que envolvem a observação, a partici- pação e a docência. Nos três momentos, é preciso preparação, mediação e intervenção, no espaço escolar e na sala de aula, no momento da vivência docente. Entendido como o conjunto de atividades que os alunos devem realizar durante o curso, ele corresponde ao exercício experiencial para o futuro campo de trabalho. O estágio, normalmente, é entendido como a parte prática do curso, contrapondo-se às demais disciplinas, consideradas teóricas. Ao se pensar a preparação para a docência, emerge a discussão sobre o que é a prática e se questiona o seu entendimento para o curso de Formação de Docentes em Nível Médio-Modalidade Normal. É entendido, também, como objeto de in- vestigação, o que requer pensar a prática pedagógica como forma de elevação do nível de conhecimento a partir de questões problematizadoras da prática. É preciso considerar, nesta unidade, a importância do professor que forma e que orienta o Estágio Supervisionado. Este deve refletir com seus alunos sobre as experiências vivenciadas, ressignificando as práticas com base nas teorias consagradas. Nesse sentido, faz-se importante destacar que as teorias fundamentam a prática. As práticas devem ser sustentadas pelas teorias e, por isso, é preciso pensá-las a partir de uma unidade. U N ID A D E 5 136 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO ESTÁGIO supervisionado Para que possamos tratar das especificidades do Estágio Supervisionado, busca- mos trazer um pouco dos desdobramentos históricos desta atividade, haja vista que, por meio dela, o docente, em processo de formação , pode vivenciar momen- tos de experiência da sua profissão. O estágio curricular envolve situações em que os futuros docentes em Nível Médio – Modalidade Normal deverão vivenciar nos espaços futuros de trabalho (as escolas). Essa prática deve acontecer no decorrer do curso de formação. No curso de Formação de Docentes em nível médio – Modalidade Normal,faz-se necessário repensar as práticas existentes, rever conceitos e concepções que permeiam o Estágio Supervisionado Curricular para formar docentes coerentes e conscientes com os propósitos da educação formal. O estágio, sempre, foi con- siderado a parte prática do curso de Formação de Docentes, em detrimento das disciplinas consideradas teóricas. Pimenta (2006a, p. 22) nos traz o entendimento acerca dessas questões, por meio de momentos representativos da história da formação de docentes: U N IC ES U M A R 137 “ [...] O primeiro refere-se ao período que cobre os anos 30 com as leis estaduais. O segundo refere-se aos períodos da Lei Orgânica do Ensino Normal (1946) e anos subsequentes. O terceiro refere-se aos anos 70, posteriores à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5692/71. Por último, [...] um quarto período a que estamos denominando “O movimento dos educadores dos anos 80”. Muito bem! Como mencionado neste material, anteriormente, o curso de Forma- ção de Docentes teve diferentes nomenclaturas. Até a lei n. 5.692/71, a denomi- nação era “Escola Normal”, após a lei, o termo utilizado passou a ser “Habilitação para o Magistério”. As primeiras Escolas Normais foram criadas, no Brasil, a partir de 1833 e, neste período, havia uma legislação nacional única. Na década de 30, cada estado possuía uma legislação própria e as práticas variavam de estado para estado. Destacamos, aqui, como exemplo para nossa reflexão, a realidade do es- tado de São Paulo. Pimenta (2006a, p. 24-25) nos orienta que: “ De acordo com a consolidação das leis do ensino de 1912, encon- trava-se no currículo da Escola Normal a disciplina “Exercícios de Ensino”. Até 1930, ocorreram várias modificações legais, inclusive com a criação do Instituto de Educação (1933) e da Escola Normal Modelo Caetano de Campos (1938). Em todas havia a disciplina de “Prática de Ensino”. No Instituto de Educação havia também a dis- ciplina “Matérias de Ensino”, que, por hipótese nossa, deveria tratar dos conteúdos das disciplinas a serem ensinadas no primário. Na reforma de 1938 foram substituídas por “Metodologia de Ensino Primário e Pré-Primário”. A autora ressalta que são necessárias algumas considerações em torno da reali- dade dos estados, no que diz respeito aos cursos de formação de professores, con- sequentemente, sobre as práticas desenvolvidas. Na sua análise, Pimenta (2006a, p. 25) constata que a primeira consideração refere-se à organização e à duração dos cursos em todos os estados, que se davam no nível secundário, ou seja, após o ensino primário, em quatro anos. Em algumas situações, o curso era prolongado em mais um ano para a formação técnico-profissional. U N ID A D E 5 138 “ Nos Estados do Sul e São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, havia também a formação ao nível do colegial. Era um curso específico e realizado após o secundário, com duração de 2 anos. Em São Paulo, a duração era de 3 anos e abarcava a formação de professores para o ensino primário, a especialização para o Pré-Primário e, ainda, a formação de professores para o ensino secundário (uma vez que a formação destes em nível superior havia recém-iniciado em 1934, com a criação da Universidade de São Paulo (PIMENTA, 2006a, p. 25-26). Explicitando a segunda consideração, os estados deveriam incluir alguma prática, seja como disciplina, trabalhada explicitamente, seja em forma de recomendação, que seria um conselho ou uma sugestão sobre o que poderia ser realizado, uma orientação ou outra forma qualquer. Mas era preciso conter essa atividade, visando ao campo profissional, o então ensino primário. A terceira consideração apontada por Pimenta (2006a, p. 26) refere-se “ao uso impreciso de terminologia para desig- nar as disciplinas que tenham proximidade com a prática profissional”, variando, também, conforme o estado. Assim, neste contexto, as disciplinas se apresentam: “Didática, Didática da Educação Física, Metodologia, Metodologia Geral e Meto- dologia Especial, Prática de Ensino, Metodologia e Prática de Ensino, Metodologia e Prática do Ensino Primário e Pré-Primário, Metodologia e Prática de Ensino Primário, Matérias e Prática de Ensino Primário” (PIMENTA, 2006a, p. 26). Na continuidade deste pensamento, na década de 40 e nos anos seguintes, o Decreto-Lei n. 8.530/46 deu origem à Lei Orgânica do Ensino Normal e corri- giu, dessa forma, as disparidades, as diferenças existentes nas Escolas Normais dos estados. A lei estabeleceu um currículo único para todo o território nacio- nal, deixando aos estados a autonomia somente para acrescentar disciplinas ou realizar desmembramentos das já existentes. Foram habilitados três tipos de estabelecimentos para a oferta do Ensino Normal: o Curso Normal Regional, a Escola Normal e o Instituto de Educação. Como você pode perceber, no Brasil, a Escola Normal ampliou-se e conso- lidou-se nos anos de 1930, quando a frequência, nessas escolas, passou a ser, em sua maioria, de mulheres e com uma especificidade: mulheres de classes mais fa- vorecidas da sociedade. O objetivo era uma formação para que a mulher pudesse exercer sua função social, de esposa e mãe de família. Nesse sentido, o magistério tornou-se uma profissão, majoritariamente, feminina e, com isso, refletiu a ideia de que o trabalho com a infância cabia à mulher, por ser a escola um prolonga- mento do lar (TANURI, 2000, p. 66). Em uma visão secundária a este propósito, U N IC ES U M A R 139 tem-se, então, a preparação para exercer o magistério, haja vista que as mulheres que não se casassem poderiam assumir esta função. É, ainda, neste período, que as políticas públicas educacionais, a começar pela Constituição de 1934, davam ênfase à expansão do ensino primário, exigindo que houvesse a prática curricu- lar, pois o estágio, até então, não era considerado, porquanto entendia-se, neste contexto, que o trabalho com a criança era inerente à mulher. Dessa maneira, dispensava-se práticas de aprendizagem, visando a esta finalidade. Nas décadas de 1950 e 1960, o processo de industrialização favorece a neces- sidade de a mulher contribuir com a renda familiar. Nesta perspectiva, o sentido da formação e profissão se delineia de forma mais abrangente. Em relação às práticas da Escola Normal, esperava-se que fosse ensinado à professora “como ensinar”, de acordo com os padrões já consagrados como bons. Pimenta (2006, p. 35) destaca que “ a prática profissional como componente de formação, sob a forma de um estágio profissional, não se colocava como necessária, uma vez que, de um lado, não tínhamos propriamente uma profissão e, de outro, a destinação das alunas da Escola Normal não era neces- sariamente o exercício do magistério. A questão que envolve as práticas passa a ser uma preocupação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Órgão dirigido, inicialmente, por Lourenço Filho, um dos pioneiros da Educação Nova. Ele era responsável por administrar os recursos do Fundo Nacional do Ensino Primário, os quais seriam destinados à construção de escolas e à preparação de professores. Esse órgão foi o difusor de estudos e pesquisas que envolviam os Ensinos Primário e Normal. Houve grande contribuição dos pioneiros da Educação Nova no sentido de buscar uma concepção teórica e política, pautada na análise crítica da realidade. O INEP contribuía, dessa forma, para as reflexões e debates em torno das dificul- dades nos cursos de formação de professores, visava a uma proposta que articulasse teoria e prática, promovendo, assim, melhor preparação do magistério, haja vista que aumentava o número de escolas e não havia professores primários suficientes com formação, para atender à demanda que crescia significativamente. Nesse período, portanto, muitos cargos foram ocupados por professores leigos, realidade que, ainda, hoje, em algumas regiões, persiste. U N ID A D E 5 140 Sobre as práticas, estas deveriam ser reproduzidas, umaperspectiva que se efe- tivou, mais precisamente, da terceira década do século XX até a década de 1960, e foi uma proposta baseada na imitação de modelos, ou seja, as posturas e os perfis profissionais deveriam servir de base para a apreensão do exercício docente. Dessa forma, constata-se que as normalistas em processo de formação poderiam reco- nhecer na prática docente, pela observação, os modelos profissionais que deveriam reproduzir. Pimenta e Lima (2004, p. 36) orientam que o estágio: “ [...] Nessa perspectiva, reduz-se a observar os professores em aula e imitar esses modelos, sem proceder a uma análise crítica fundamen- tada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino se processa. Assim, a observação se limita à sala de aula, sem análise do contexto escolar, e espera-se do estagiário a elaboração e execução de aulas-modelo. As autoras destacam que o exercício de qualquer profissão é prático. A função do professor também tem, na prática, sua referência inicial ou seu ponto de partida. Esta perspectiva foi consolidada por meio “da observação, imitação, reprodução e, às vezes, reelaboração dos modelos existentes na prática consagrados como bons” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 35). Com a Lei n. 5.692/71, a estrutura do ensino primário, secundário e colegial foi modificada para 1° e 2° graus. O Ensino Normal foi transformado em uma das habilitações profissionais do 2° grau cuja profissionalização passou a ser obrigató- ria, porém ele representou um apêndice na formação, devido à conjuntura política daquele momento. Sobre a prática curricular da Habilitação Magistério, o Parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) n. 349/72 orienta que: “ A Didática fundamentará a Metodologia de Ensino, sob o tríplice aspecto de planejamento, de execução do ato docente/discente e de verificação da aprendizagem, conduzindo à Prática de Ensino e com ela identificando-se sob a forma de Estágio Supervisionado. Deverá a Metodologia responder às indagações que irão aparecer na Prática de Ensino, do mesmo modo que a Prática de Ensino tem que respeitar o lastro teórico adquirido na metodologia. U N IC ES U M A R 141 O Parecer n. 349/72 destacava que a prática de ensino deveria ser realizada nas esco- las da comunidade na forma de estágio supervisionado, não fazia referências sobre qual escola, mas deixava entender que poderia ser na rede pública ou nas escolas privadas. Dessa forma, o futuro professor poderia conhecer as possibilidades, mas também, os limites dos espaços educativos escolares. Nesta perspectiva, o modelo e a reprodução, ainda, eram elementos relevantes na condução das práticas. Pimenta (2006a, p. 48) ressalta que o Parecer do CFE n.349/72 trazia, em seu conteúdo nor- teador, que “o estágio é prática, a Didática é a teoria prescritiva da prática”. Observa-se que a dissociação entre a prática e a teoria foi mantida. O tecnicismo foi uma tendência que propiciou o trabalho direcionado à aplica- ção de técnicas de ensino, incorrendo na ausência de conteúdo teórico que pudesse dar respaldo à realidade concreta. No Brasil, com a Lei n. 5.692/71, essa tendência tornou-se ainda mais efetiva, pois, com a profissionalização obrigatória no 2° grau, que se estendeu até 1982, quando a lei n. 7.044/82 deixou opcional a profissiona- lização neste grau de ensino, a instrumentalização técnica se sobrepunha aos fun- damentos teóricos de análise da realidade. As questões colocadas eram de que o curso de magistério nem formava teoricamente, nem considerava a prática como referência para o entendimento teórico, ou seja, havia carência de teoria e prática, o que justificava a expressão: “na prática, a teoria é outra”. Nesse intuito, tem-se um professor com habilidades instrumentais, mas carente de conhecimentos que ex- pliquem a realidade. Na Pedagogia Tecnicista, quando a instrumentalização técnica era a finalidade maior nos processos de formação, os planejamentos de ensino contemplavam os meios como mais importantes em detrimento dos fins. Entretanto, havia ausência do conhecimento científico, em razão do “fazer simplesmente”. Nesta perspectiva de análise, Pimenta e Lima (2004, p. 37) enfatizam que “o profissional fica reduzido ao ‘prático’: não necessita dominar os conhecimentos científicos, mas tão somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas”. As habilidades instrumentais fundamentais ao desempenho da ação docente poderiam ser vivenciadas e aprendidas por meio das atividades de microensino. Nesta vertente, o professor deveria desenvolver habilidades para fazer uso adequado das técnicas de ensino em situações diversas bem como construir novas técnicas. No tecnicismo, o professor é um: U N ID A D E 5 142 “ mero executor de objetivos instrucionais, de estratégias de ensi- no e avaliação. Compete-lhe a efetivação da prática. Acentua-se o formalismo didático, através dos planos elaborados segundo nor- mas pré-fixadas, visando à consecução de objetivos a curto prazo (VEIGA, 1994, p. 61). O movimento dos educadores da década de 1980 reconheceu que a escola, como instância formativa, necessitava superar os desafios que decorriam de fatores so- ciais, políticos, econômicos e, até mesmo, culturais. Portanto, a luta pela superação dos desafios existentes possibilitou que educadores, pesquisadores universitários e demais profissionais da educação organizassem fóruns, congressos e seminários a fim de discutir, debater e propor mecanismos de avanços para a educação. Neste pensamento, a Pedagogia Histórico-Crítica coloca-se de forma a trazer um novo olhar, uma nova forma de pensar a educação, a escola e a formação de professores. Uma das questões a ser discutida é a de que a escola, como espaço privilegiado do conhecimento científico, necessita ser pensada em relação à sua finalidade maior, a de transmissão do conhecimento sistematizado, e todos os cidadãos devem ter oportunidades de frequentar, aprender e ter uma formação humana capaz de levar à compreensão e à interpretação do mundo, com possibilidades de transformação. A escola tem sido: “ [...] Privilégio das camadas sociais dominantes e luta para torná-la acessível às camadas sociais dominadas. Para isso entende que a escola precisa traduzir nos seus mecanismos internos de trabalho as condi- ções propiciadoras da aprendizagem social por parte dessa população, a aprendizagem do conhecimento e o desenvolvimento das habilida- des para uma inserção crítica PIMENTA, 2006a, p. 58). Como pode-se observar, a partir dos movimentos e mobilizações dos educadores em prol da democratização da educação e da escola é que se buscou nos cursos de Formação de Professores a superação também da dicotomia entre teoria e prática, na perspectiva dialética do ensinar e aprender. A prática social representa o ponto culminante para o processo de ensino e aprendizagem. Essa coloca-se como ponto de partida e de chegada à prática educativa. Você, meu caro(a) aluno(a), precisa compreender que a Pedagogia Crítica surge como forma de superação do quadro social, político e econômico a qual busca uma U N IC ES U M A R 143 forma de recuperar sua função primeira, que é propiciar um ensino que difunda o conhecimento produzido e elaborado e que possa transformar a sociedade. Nesse sentido, nos orienta Veiga (1994, p. 67): “ O trabalho pedagógico não está centrado no professor ou no aluno, mas na questão central da formação do homem. O professor é valori- zado no seu papel de autoridade que orienta e favorece o processo de ensinar e aprender. É pela presença do professor que se torna possível uma ruptura entre a experiência pouco elaborada e dispersa dos alu- nos em direção aos conteúdos culturais universais permanentemente reavaliados face às realidades sociais. Portanto, nessa perspectiva, o trabalho pedagógico deve se colocar para além dos métodos e das técnicas, articulando a escola com a sociedade concreta, a teoria e a prática, em um movimento dialético. Tendo em vistaas finalidades da escola e o trabalho que possa, de fato, mudar o quadro político pedagógico das instituições for- madoras, chamamos a atenção para as posturas profissionais, que muito podem con- tribuir para que a aprendizagem do conhecimento possa chegar a todos os alunos no processo de formação. Nesse sentido, é preciso superar a dicotomia existente entre o saber e o fazer, o que, normalmente, reflete a prática pela prática, o fazer pelo fazer, a técnica pela técnica, sem a devida reflexão teórica que dá embasamento a esses fazeres. Um exemplo disso são as oficinas pedagógicas que, normalmente, trabalham com a confecção de materiais, cujo objetivo é expor e/ou demonstrar resultados da prática (fazer), esta, por sua vez, é bastante desenvolvida como atividade de estágio. O Estágio Supervisionado nos cursos de magistério, portanto, no contexto apre- sentado, segue a orientação crítica, ou seja, por meio da observação e da regência nas escolas concedentes, o(a) estagiário(a) deve conhecer a realidade e refletir sobre ela, visando a perceber como foi gerada essa realidade, para, então, pensar, possíveis intervenções. Pimenta (2006a, p. 71) nos provoca a pensar que: “ O estágio como ponto de contato entre as escolas de magistério e as de 1° grau será um canal com dupla direção, de modo a permitir que a ob- servação e a análise da prática possam reverter em aprimoramento dessa prática e aprofundamento das questões ligadas aos conteúdos do cur- so de magistério. A reflexão sobre a prática, sua análise e interpretação constroem a teoria que retorna à prática para esclarecê-la e aperfeiçoá-la. U N ID A D E 5 144 Por meio da Pedagogia Histórico-Crítica, tenta-se, ainda, superar os reducionis- mos existentes nas práticas anteriores dos cursos de formação de professores, no que diz respeito ao estágio curricular. Parafraseando Veiga (1994, p. 75), busca-se trazer, para nossos estudos, o que os campos da Didática e das Metodologias de Ensino tentam, na abordagem crítica, superar no intelectualismo formal da Peda- gogia Tradicional, lutar contra o espontaneísmo da vertente escolanovista e colo- car-se no combate à orientação desmobilizadora de cunho tecnicista, recuperando, assim, o caráter pedagógico mobilizador da práxis. Veja! As disciplinas, com seus respectivos conteúdos, representam o saber sistematizado que possibilita orientar a atuação profissional. Os objetivos pensados como determinantes para o processo formativo dos futuros docentes necessitam ser absorvidos para favorecer ações transformadoras bem como desenvolver uma consciência crítica em relação ao papel social dos futuros docentes. A partir da concepção de ensino pautada na Pedagogia Histórico-Crítica, tem-se o método didático/pedagógico para a apropriação da realidade, quando professor e aluno encontram-se na mesma direção, a da prática social, mas, com posições distintas. É uma relação que propicia a compreensão e busca para a solução dos problemas surgidos na prática social (realidade). Perceber as situações e problema- tizá-las favorece a curiosidade e instiga a aprendizagem. Cabe, assim, ao professor dispor dos instrumentos teórico-práticos que orientem ações mobilizadoras da práxis (instrumentalização), viabilizando a construção e reconstrução dos conhe- cimentos por parte dos alunos, de forma que estes possam incorporá-los na sua própria vida (catarse). Há que se destacar, aqui, uma questão importante para nossa reflexão. Veja! Con- trariamente à década de 1980, a de 1990, após a sua primeira metade, apresentou recuos e retrocessos, o que ficou evidenciado na desestabilização da escola e dos profissionais docentes, no sucateamento da educação, na formação inicial e continuada dos profes- sores e do ensino. A partir da Lei n. 9.394/96, da perspectiva neoliberal, adentrando os espaços educacionais, a Pedagogia Histórico-Crítica continua se a impor, porém esbarra nos documentos legais de cunho neoliberal, como os Parâmetros Curricula- res Nacionais (PCNs), os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI), enfim, em uma legislação não condizente com a educação pública do país. Nesse sentido, a proposta presente nas literaturas indicadas na formação aca- dêmica, em concursos públicos e na Formação dos Docentes em Nível Médio – Modalidade Normal, pautava-se no ideário baseado em competências e habilidades que a escola deveria ensinar. O aprender a aprender ficou como uma marca, que, U N IC ES U M A R 145 de certa forma, descaracterizou a função do professor. Esse ideário surge, na ver- dade, a partir do disposto pelo Consenso de Washington, em 1989, o qual gerou acordos econômicos entre vários países e teve, como grande articulador, o Banco Mundial, influenciando o setor educacional e a formação profissional. Em relação às universidades, até meados da década de 1990, os cursos de Pedagogia ofertavam as habilitações profissionais. Desse modo, os cursos de Formação de Docentes em Nível Médio – Modalidade Normal, ainda, representavam o espaço privilegiado de formação para atuação com as crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamen- tal, sendo, logo depois, no início da pri- meira década do século XXI, também, incorporada a formação para atuação na Educação infantil. Sobre o Estágio Supervisionado, a Lei n. 11.788 de 25 de setembro de 2008 modifica o Art. 82 da Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96, que passa a vigorar com a se- guinte redação: “Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio em sua jurisdição, observada à lei federal sobre a matéria” (BRASIL, 2008, on-line). A ideia de estágio supervisionado adquiriu sua origem na educação pro- fissional, constitui-se em uma atividade curricular, a qual tem como finalidade levar o(a) aluno(a) a aplicar os conhe- cimentos aprendidos no decorrer da sua formação. À medida que atua nessa vivência, pode relacionar a teoria e a prática, haja vista que o estágio é prática na medida da ação, mas, é teoria ao mesmo tempo, quando relações são estabelecidas entre os conhecimentos; quando fundamenta essa prática de forma consciente, teori- zando, problematizando, sempre na busca pela reflexão e compreensão da realidade. São os conflitos percebidos na ação que propiciam os conceitos e concepções que explicam a realidade e que possibilitam intervenções para mudanças. U N ID A D E 5 146 Não se pode perder de vista, a partir dos desdobramentos legais e pedagógicos das práticas desenvolvidas nos estágios, que adotar mecanismos que busquem a re- flexão crítica, construtiva sobre os saberes e fazeres docentes implica na responsabi- lidade e no compromisso político do docente que atua com a formação de docentes em Nível Médio – Modalidade Normal. As disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado devem ser organi- zadas a fim de propiciar, ao futuro professor, consciência tanto de sua função histó- rica, de suas finalidades, da estrutura da sociedade capitalista e da função da escola nessa sociedade quanto das condições objetivas de trabalho e das possibilidades de transformação. Portanto, a prática de formação e o estágio não devem possuir caráter instrumental, mas devem considerar, sim, os objetivos amplos da educação e do ensino, por meio da problematização em torno dos embates que ocorrem nas relações com o mundo. Nos dias atuais, o estágio obrigatório dos cursos de formação está respaldado pela Lei n. 11.788/2008, em que, no seu Capítulo I, Art. 1º, menciona: “ Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produ- tivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de en- sino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino funda- mental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (BRASIL, 2008, on-line). O estágio está, também, referenciado no Art,2º, parágrafo 1º: “é definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obten- ção de diploma” (BRASIL, 2008, on-line). Portanto, o Estágio Supervisionado aparece nos currículos dos cursos de formação de docentes em Nível Médio – Modalidade Normal e nas demais licenciaturas, como disciplina e requisito fundamental para a formação profissional. Isso nos mostra, caríssimo(a), que as questões que permearam e permeiam a realidade escolar e a formação de docentes, em nível médio – Modalidade Normal, aparecem em diferentes con- textos. Considerando os estágios, estes podem estar relacionados a elaborar e a executar planejamentos; a dar direcionamento e respaldo pedagógico aos acadêmicos e a contribuir para a apropriação do processo investigativo, por meio da vivência no meio educacional. U N IC ES U M A R 147 A história só existe como história feita pelos homens, e estes só existem produzindo uma nova realidade com sua práxis produtiva, e produzindo-se a si mesmos num processo que não tem fim. (Adolfo Sanchez Vázquez) pensando juntos Nesse sentido, ao tratar de questões relacionadas ao campo de estágio, discute-se, como já vimos, a importância da unidade entre teoria e prática na construção de uma prática que seja mobilizadora da práxis pedagógica, o que, certamente, fará sentido na construção dos saberes necessários à atuação docente. Sobre a relação teoria e prática e a prática do estágio, Pimenta e Lima (2004, p. 45) trazem um pen- samento interessante. Vejamos: “ O estágio, ao contrário do que se propugnava, não é atividade prática, mas teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendida esta como atividade de transformação da realidade. Nesse sentido, o está- gio curricular é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta, sim, objeto da práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá. Neste entendimento, é preciso considerar a prática social como ponto de partida para a realização das práticas docentes. Pimenta (2006a) nos traz a reflexão de que é preciso recuperar as discussões que orientem para as práticas de estágio, o que deve acontecer no sentido de superar o caráter de fragmentação dos conhe- cimentos. Também observamos, em Gonçalves e Pimenta (1990), a finalidade do estágio. Para os autores, ele deve propiciar aos alunos mais aproximação na realidade em que atuarão. U N ID A D E 5 148 2 PRÁTICAS CURRICULARES: O ESTÁGIO como vivência para a experiência docente O aluno que cursa a Formação de Docentes em Nível Médio – Modalidade Nor- mal desenvolve seu estágio em Instituições de Educação Infantil e nos anos ini- ciais do Ensino Fundamental, portanto, os estágios acontecem nas duas etapas da Educação Básica. Também fazem parte das atividades de estágio o conhecimento, a vivência e a experiência nas Instituições de Educação Especial e em turmas de Jovens e Adultos. Os professores que atuam na disciplina de Estágio Supervi- sionado deve entrar em contato com as escolas concedentes e, em um primeiro momento, apresentar seu projeto de estágio para, então, iniciar a atividade. Uma das questões fundamentais para a atividade inicial do estágio é o co- nhecimento das escolas campo de estágio. É preciso conhecer os espaços, o Pro- jeto Político Pedagógico (PPP) e a Proposta Pedagógica Curricular (PPC), bem como o funcionamento da gestão, dos setores e instâncias escolares. No tocante ao trabalho com os momentos do estágio, ao professor cabem a organização, a preparação e a mediação das atividades a serem desenvolvidas, conforme o pro- jeto de estágio pensado e orientado para cada série ou etapa de aprendizagem. O estágio nos cursos de Formação de Docentes em Nível Médio – Modalidade Normal deve seguir uma estrutura condizente com os estudos realizados nas disciplinas curriculares conforme suas especificidades. Lembra-se de que na quarta unidade deste material, foi possível perceber, no item “Aprimore-se” que o referido curso possui quatro anos de duração e, em U N IC ES U M A R 149 cada ano, algumas temáticas e atividades são direcionadas com o propósito de contemplar os conteúdos trabalhados nas disciplinas afins? A prática de forma- ção por meio do Estágio Supervisionado destacada, neste material de estudos, organiza-se conforme as Orientações Curriculares para o Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio - Modalidade Normal. Ressaltamos que, para nossos estudos, buscou-se trazer um exemplo de Matriz Curricular, elaborado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Assim, na continuidade das nossas reflexões sobre Estágio Supervisionado e considerar a importância da vivência da experiência docente, trouxemos uma síntese explicativa da estrutura do estágio na perspectiva da Formação de Do- centes em Nível Médio - Modalidade Normal, ressaltando que, em cada ano, conforme Proposta da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PARANÁ, 2014), são duzentas 200 horas de Estágio Supervisionado. Ressalta-se, ainda, que pode ser diferente essa carga horária, dependendo da região e da localidade em que a oferta do curso se dá. Vejamos, então, essa organização, nas próximas linhas. Na primeira série do curso, o aluno em processo de formação necessita perceber, em um primeiro momento, o sentido e o significado de “ser professor”, o perfil do profissional que faz a opção por esta profissão. O enfoque do estágio está na observação dos espaços, na estrutura, na realidade escolar e no trabalho docente. O aluno, futuro professor, poderá conhecer as diferentes modalidades de ensino e trabalhar com as dimensões do conhecimento, as quais são importantes no processo de formação. Na respectiva série, os alunos, futuros docentes, podem fazer visitas e de- senvolver observações em creches, pré-escolas e anos iniciais do Ensino Fun- damental e, também, em salas de alfabetização, tanto em escolas que trabalham com o regime seriado como aquelas que se organizam por ciclos em instituições públicas e/ou privadas. Na segunda série do curso de formação de docentes, a partir das disciplinas desenvolvidas, organizam-se as temáticas que compõem o projeto de estágio: a diversidade cultural, as questões relacionadas às desigualdades sociais e à edu- cação como forma de humanização dos sujeitos. Os alunos podem desenvolver suas atividades em escolas que ofertam a Educação Especial ou em escolas regu- lares, as quais ofertam a respectiva modalidade de ensino, como também podem trabalhar com projetos de pesquisa, envolvendo outras temáticas relacionadas às modalidades de ensino, já que estas tratam das especificidades culturais diversas U N ID A D E 5 150 e não são acessíveis em todas as localidades, onde há a oferta da formação de docentes em Nível Médio - Modalidade Normal. Os aspectos ligados à infância permeiam os trabalhos da terceira série do curso de preparação para a docência. As disciplinas têm, como conteúdos, os fundamentos que orientam a realidade social e histórica da infância e da crian- ça. Sendo assim, os alunos podem trabalhar com pesquisas, utilizando temas que vão ao encontro dos conteúdos estudados nas disciplinas, como: conceito de família no tempo, a Edu- cação Infantil no Brasil, concepções de infância e de educação, e não se pode deixar de considerar, sempre, o contexto histórico das relações e de sociedade. O professor deve distribuir a carga horária entre a atividade de estudo e a de organização, elabora- ção, planejamento, entre outras, com a atividade direta em sala de aula, quando o futuro professor desenvol- verá as etapas do estágio, conforme o projeto do curso e do Estágio Super- visionado. A terceira série deve apli- car (reger) o estágio em turmas de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental (nos anos que correspondem à alfabetização), umavez que, no primeiro ano, os futuros docentes conhecem a realidade que permeia a respectiva demanda e, neste momento, podem vivenciar a atividade docente. Na quarta série do curso, os futuros professores têm sua carga horária des- tinada a planejar, a organizar e a executar a atividade docente (regência). Apren- dem, no decorrer do curso, que as práticas pedagógicas devem ser historicizadas, contextualizadas. É o momento que, efetivamente, vivenciarão a prática de sala de aula, a partir do planejamento elaborado com os conteúdos curriculares da U N IC ES U M A R 151 escola concedente, o qual deve ser mediado pela professora de estágio e, anteci- padamente, apresentado ao(à) professor(a) regente da turma e da escola, onde acontecerá a aplicação (regência) dos conteúdos. Destaca-se, aqui, a importância do estudo dos conteúdos a serem aplicados, para que seja evidenciado o domínio destes por parte dos alunos estagiários. Assim, ensino e aprendizagem poderão ocorrer de forma efetiva, segura e coerente com os propósitos previstos no Projeto Político Pedagógico e na Proposta Pedagógica Curricular. Em qualquer dos momentos de estágio e/ou da série que o professor esteja orientando, o acompanhamento, como já mencionado, é necessário, haja vista que o próprio nome diz: Estágio Supervisionado. Isso significa que o professor deve fazer-se presente durante a observação e participação de seus alunos na institui- ção campo de estágio, pois eventualidades acontecem; então, é preciso estar junto (na escola), caso seja necessário intervir. E, nos momentos da docência (regência), ele deve estar em sala de aula para acompanhar e avaliar seus alunos. Da mesma forma, é preciso que o(a) professor(a) regente permaneça na sua turma, quando os estagiários desenvolverem suas atividades, seja observando, seja participando ou regendo, pois afinal, ele também participa dos processos de formação e avalia- ção do futuro professor e tem, certamente, muito a contribuir com sua formação. Como você pode perceber, o Estágio Supervisionado acompanha todo o curso, por isso, a necessidade do planejamento e do acompanhamento dessa atividade, de forma que o futuro(a) docente formado(a) em Nível Médio possa, à medida em que desenvolve a prática de formação, reconhecer a dinâmica que articula “o ensinar e o aprender”. Refletir sobre os fundamentos e as metodologias que devem orientar as prá- ticas pedagógicas é importante a todo tempo, são elas que darão consistência às ações implementadas, durante a vivência docente nos estágios bem como os conteúdos de todas as disciplinas são fundamentais na articulação teórico-prá- tica das atividades a serem desenvolvidas. Somente a prática do estágio não fundamentará a ação do futuro docente após a conclusão do curso, podendo ter dificuldades e inseguranças ao assumir uma sala de aula. O envolvimento e o compromisso com as disciplinas, as leituras, os estudos e as reflexões são ele- mentos imprescindíveis para o enriquecimento dos conhecimentos, portanto, assumir a opção “ser professor” é assumir um compromisso político-social de transformação humana. As disciplinas que compreendem a Prática de Ensino, ou seja, as da área de Fundamentos da Educação, das Metodologias de Ensino, a Organização do Tra- U N ID A D E 5 152 balho Pedagógico, entre outras citadas no exemplo da matriz apresentada na Unidade 4, devem favorecer uma compreensão articulada entre o conteúdo de ensino e a prática social, enquanto pressuposto e finalidade da educação. Dessa forma, a formação docente contemplará a cultura, tendo em vista a formação humana dos indivíduos e as formas de chegar a este objetivo. Sobre esta questão, Saviani (2008c, p. 13) nos aponta que: “ [...] o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e, concomitantemente, à descoberta das formas mais adequa- das para atingir esse objetivo. Portanto, observe! É preciso definir o estágio como a atividade que propicia a vi- vência da experiência docente, momento em que teoria e prática se entrecruzam na unidade pedagógica, ou seja, os saberes e fazeres são mostrados por meio das ações docentes, observadas, academicamente, pelos estagiários em sala de aula. É nessa dinâmica de experiência vivida e sentida que se concretiza a possibilidade de apreensão da realidade. Reafirma-se, neste enfoque, que o trabalho com os conteú- dos selecionados como importantes, durante o curso de formação para a docência, deverão contribuir para a prática pedagógica crítica, que, para Veiga (1994, p. 21): “ [...] Se traduz por um trabalho a ser realizado pelo professor e pelo aluno, atuando de acordo com um objetivo comum. Implica na presença do sujeito crítico capaz de desenvolver uma prática pe- dagógica que procura, de um lado, superar a relação pedagógica autoritária, paternalista e, de outro, busca uma ação recíproca entre professor e aluno. Trazendo essa reflexão para o campo das dimensões que envolvem o ensino e a aprendizagem, tem-se a formação dos profissionais, pensada a partir de pres- supostos que orientem para um raciocínio mais elaborado, pois estes, na sua atuação, devem contribuir na transformação de outros sujeitos a partir do co- nhecimento. Na continuidade desse pensamento, é interessante reforçar que os conhecimentos escolares, para que se tornem científicos, deverão partir da prática social. De acordo com Gasparin (2002, p. 37), U N IC ES U M A R 153 “ [...] o processo ensino-aprendizagem [...] está em função das ques- tões levantadas na prática social e retomadas de forma mais pro- funda e sistematizada pelo conteúdo escolar. De acordo com essa proposta teórico-metodológica, as grandes questões sociais prece- dem a seleção dos conteúdos. Assim, entende-se que a sistematização dos conteúdos transmitidos exige a me- diação, ação pedagógica que favorece a apropriação dos conhecimentos científi- cos por parte dos alunos. Gasparin (2002, p. 40), ainda, complementa que “[...] a maior dificuldade para os docentes não se encontra no aspecto conceitual-cien- tífico do conteúdo, que de certa forma dominam, mas nas outras dimensões que, provavelmente, não foram trabalhadas em seus cursos de graduação”. Na análise dessa perspectiva, o autor faz referência aos formados nos cursos de graduação, nas licenciaturas, pois é este profissional que trabalhará na Mo- dalidade Normal. Por isso, sugerimos retomar à Unidade 4, quando se tem o destaque na práxis como princípio curricular. O que se espera é que fique clara a ideia de que esse princípio muito contribui para garantir que os conteúdos disci- plinares, nas suas múltiplas dimensões, sejam apropriados de forma a contribuir para a transformação da realidade. Portanto, os conhecimentos trabalhados na formação dos futuros docentes, estudantes da Modalidade Normal, necessitam pautar-se no respectivo princípio dialético: prática-teoria-prática. Torna-se, as- sim, possível a compreensão do produto da atividade humana, partindo dos co- nhecimentos produzidos e acumulados no decorrer da história pelos indivíduos. Neste pensamento, ainda, podemos inferir que, na Modalidade Normal, o trabalho pedagógico de formação deve levar os futuros professores da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental a pensarem e a repensarem as dimensões que envolvem o conhecimento, para que se descarte a possibilidade de fragmentação dos saberes, pois os conhecimentos precisam ser apropriados pelos estudantes, na sua totalidade. Essa possibilidade leva o futuro docente a perceber o sentido social do seu trabalho bem como o significado de “ser docente”, quando trabalha com os conteúdos específicos na formação de outros sujeitos. Os compromissos com uma educação profissional adequada aos interesses dos que vivem do trabalho devem implicar na ideia de que os conhecimentos se articulam; têmrelações; não são estanques, isolados de outros contextos. O trabalho é o fundamento que indica a ação humana para humanizar. É preciso, nesse sentido, considerar sólida formação científica e tecnológica, sustenta- da em conhecimentos sociais e históricos que possam conduzir à efetivação U N ID A D E 5 154 da práxis. Isso significa que o currículo deve contemplar a teoria e a prática, valorizar os fundamentos e concepções que regem os saberes e fazeres didáti- co-pedagógicos. Nesse sentido, o conhecimento científico deve ser pensado e trabalhado na sua historicidade, incorporando as diferentes tecnologias, visan- do o processo de trabalho no atual contexto social e educacional. Ao tratar dos elementos fundamentais de apropriação do conhecimento cien- tífico, Saviani (2008) ressalta que é função da escola garantir que sejam transmi- tidos os elementos culturais fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvi- mento dos sujeitos. O autor nos faz refletir que a escola não pode perder de vista o que é essencial para que isso aconteça. Dessa forma, explicita que: “ Trata-se de distinguir entre o essencial e o acidental, o principal e o secundário, o fundamental e o acessório, enfatiza ainda que pa- rece de grande importância, em pedagogia, a noção de “clássico”. O clássico não se confunde com o tradicional e também não se opõe, necessariamente, ao moderno e muito menos ao atual. O clássico é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial. Pode, pois, constituir-se num critério útil para a seleção dos conteúdos do trabalho pedagógico (SAVIANI, 2008c, p. 13-14). O autor, ao referir-se ao clássico, chama a atenção para a função social da escola, a qual necessita trabalhar com os elementos culturais essenciais, ou seja, a leitura, a escrita e o cálculo, fundamentais no processo educativo bem como tudo o que origina destes saberes. A historicidade deve permear os conteúdos ensinados, haja vista seu caráter epistemológico e formativo, o que possibilita o crescimento pessoal, intelectual e profissional dos cidadãos. Os conteúdos que fazem parte de cada disciplina do currículo têm, como base, além dos princípios já elencados na unidade de estudos anterior, o referencial teó- rico-metodológico cujo eixo norteador é o materialismo histórico e dialético. Essa vertente teórico-metodológica é respaldada na concepção marxista, a qual propicia- -nos pensar o processo de humanização dos indivíduos a partir da sua historicidade, compreendendo que o conhecimento é histórico, é social, elaborado e construído pelos indivíduos para dar continuidade à sua existência. Isso significa caminhar para avanços nos processos de formação como um todo, considerando o ponto de partida e o ponto de chegada da ação educativa e do trabalho com o conteúdo. Na concepção da Pedagogia, conforme a abordagem histórica, segundo Saviani (2005, p. 78), o professor: U N IC ES U M A R 155 “ Deve antever com certa clareza a diferença entre o ponto de par- tida e o ponto de chegada sem o que não será possível organizar e implementar os procedimentos necessários para se transformar a possibilidade em realidade. Diga-se de passagem, que esta capacida- de de antecipar mentalmente os resultados da ação é a nota distin- tiva da atividade especificamente humana. Não sendo preenchida essa exigência, cai-se no espontaneísmo. E a especificidade da ação educativa se esboroa. Saviani (2005) nos mostra que, se não houver rigor metodológico no trabalho de for- mação para a docência, as ações pedagógicas podem sofrer um esvaziamento teórico que dificulta a apreensão do saber sistematizado. Assim, as práticas de vivência da experiência docente devem ser organizadas, com critérios estabelecidos para esse fim. Nesse momento de nossos estudos, busca-se trazer uma breve apresentação de três momentos pelos quais o Estágio Supervisionado é, tradicionalmente, con- cebido, mas que, certamente, possui outros sentidos, na atual conjuntura forma- tiva: observação, participação e docência (regência). Antes, atente para uma questão importante: nos cursos de formação de docentes na Modalidade Normal, o estágio é uma disciplina curricular; a diferença é que este acontece em horário contrário ao da aula regular. E, como disciplina, os professores e/ou coordenado- res do Estágio Supervisionado devem orientar as atividades desenvolvidas, seja para a aplicação nas escolas campos de estágio, seja na própria instituição, onde se dá a formação, na preparação das atividades propostas para a vivência docente. É certo que os(as) alunos(as) que se preparam para a docência precisam da mediação e intervenção de seus professores na elaboração dos saberes e fazeres da profissão. O não envolvimento dos responsáveis pelo estágio repercute, nega- tivamente, nas instituições concedentes, deixando à mostra o despreparo dos(as) estagiários(as) em relação à elaboração do planejamento, à execução das ativi- dades e, principalmente, no domínio do conteúdo a ser ensinado, o que implica, certamente, na postura do profissional responsável por esse(a) estagiário(a). Uma questão que necessita, ainda, ser superada. O estágio de observação, por exemplo, deve constituir-se em um momento importante de preparação para a docência, mas somente introduzir o aluno na escola para observar como ela funciona, não possibilita compreender sua comple- xidade. É preciso conhecer a realidade, entender como é produzida e, então, buscar formas de intervir e transformar, porquanto a escola possui uma complexidade que necessita ser desvendada. Destarte, os estágios de observação por si só não possi- U N ID A D E 5 156 bilitam aos futuros professores conhecerem e pensarem a realidade para, então, perceber como foram geradas as relações nela existentes. O estágio de participação compreende a momentos de envolvimento do estagiário em ações dentro da instituição concedente, por exemplo: participar de reuniões de pais organizadas pela escola, acompanhar eventos e, também, contribuir com sua organização, desenvolver tarefas solicitadas pelo professor regente, como atender ou auxiliar criança(s) com dificuldade(s) de aprendizagem, entre outras atividades. O estágio de docência (regência) configura-se na execução da atividade ou ação docente. Nesse caso, o(a) aluno(a) estagiário(a) já conhece a realidade da escola e as turmas nas quais desenvolverá a vivência da experiência docente, munido(a) do conteúdo apresentado pela coordenação pedagógica da escola ou pelo professor regente de sala, o(a) estagiário(a) estuda, planeja e organiza esse conteúdo a fim de desenvolvê-lo com as crianças. Dessa maneira, o(a) futuro(a) professor(a) ensinará, utilizando metodologias e recursos para que o conheci- mento torne-se acessível ao aluno e este possa se apropriar dos conteúdos ensi- nados. O projeto de estágio também não pode se configurar, simplesmente, em visitas ou em execução de atividades, meramente, técnicas e burocráticas, carentes de fundamentação teórica. Sem este condicionante, os conhecimentos tornam-se fragmentados e descontextualizados, o que contraria o pensamento pautado na dimensão histórico-político-social. É preciso considerar que todo ato educativo requer intencionalidade e que a reflexão crítica deve perpetuar-se no trabalho pedagógico desenvolvido nas práticas de formação. Isso significa que, após a realização das etapas do estágio, deve haver sempre a reflexão acerca do trabalho realizado, envolvendo as dificuldades percebidas, os problemas levantados, os desafios e conflitos em relação aos conteúdos, as questões disciplinares, enfim, uma forma de somar as experiências e buscar as formas mais adequadas para a superação das questões surgidas. Cabe, portanto, ao professor que atua no Estágio Supervisionado fazer infe- rências, explicar situações, buscar subsídios teórico-metodológicos para orientar as práticas realizadas por seus alunos, fundamentar os temas que eles trazem, após o retorno das atividades planejadas,orientar as posturas que devem tomar diante de determinadas situações, propor formas de intervenção, ou seja, o exercício da vivência docente na escola deve contribuir, certamente, para a formação da consciência crítica e política acerca do papel social que a tarefa de ensinar exige. U N IC ES U M A R 157 Pimenta e Lima (2004, p. 43) destacam que ao Estágio Supervisionado “compete possibilitar que os futuros professores compreendam a complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais como alternativa no preparo para sua inserção profissional”. Assim, podemos afirmar que o estágio curricular é um componente que deve favorecer a análise e a interpretação do fazer pedagógico e que não se restringe a perceber e a apontar as lacunas, os problemas sem a abordagem crítica, pois, sem esta, ele cai no reducionismo, no esvaziamento dos conhecimentos teóricos que sustentam o fazer. Sobre os conhecimentos pertinentes ao(à) pedagogo(a) que ensina, e contribuem para formação de outros docentes, buscou-se em Libâneo (2006, p. 115) a explicação de que este profissional: “ [...] Assume, precisamente, essa tarefa de orientar a prática educa- tiva de modo consciente, intencional, sistemático, para finalidades sociais e políticas cunhadas a partir de interesses concretos no seio da práxis social, ou seja, de acordo com exigências concretas postas à humanização em um determinado contexto histórico-social. Aos docentes em processo de formação, uma questão deve ficar clara: a prática deve ser sustentada pela teoria. É por meio dos fundamentos que buscamos com- preender a realidade, para, então, termos subsídios a fim de transformá-la. Esta perspectiva está relacionada ao tripé representativo da práxis, que deve ser estudado e refletido, continuamente, sempre, na busca da qualidade do trabalho docente. Nesse sentido, ao tratarmos dessa questão, não se pode perder de vista os conteú- dos escolares que necessitam ser problematizados, instrumentalizados para, então, saírem da condição espontânea, do senso comum, e atingir em outra dimensão: a do conhecimento científico. À medida que professor e aluno interagem com o conhecimento, em uma re- lação recíproca de comunicação, de indagações, eleva-se o nível de conhecimento apresentado no início do processo, dando origem a uma nova prática. É nesse senti- do, da prática social como ponto de partida, que se abre caminho para o pensamen- to mais elaborado, conceituado. É no conflito, na indagação e no questionamento que surge a possibilidade de avanços no conhecimento, os quais são de responsabi- lidade da escola. É pensando dessa forma que a prática pedagógica, como espaço de socialização do conhecimento, necessita ser refletida, tendo em vista as diferentes áreas: didáticas/metodológicas, antropológicas, históricas, psicológicas, sociológicas U N ID A D E 5 158 Quem ensina, ensina algo a alguém. O ensino se caracteriza, portanto, como uma ação que se articula à aprendizagem. Na verdade, é impossível falar de ensino desvinculado de aprendizagem. Rios (2001, p. 53) afirma que “se pensamos o ensino como gesto de socialização – construção e reconstrução – de conhecimentos e valores, temos que afirmar que ele ganha significado apenas na articulação – dialética – com o processo de aprendizagem”. Fonte: adaptado de Rios (2001, p. 53). explorando Ideias e filosóficas, pois, sem isso, a fragmentação continuará a existir. Portanto, você pôde acompanhar, caro(a) aluno(a), nesta aula, que o estágio, como vivência da experiência docente, deve promover a análise das questões estruturais e educacionais, das políticas públicas para a educação, dos processos de ensino e aprendizagem bem como deve vislumbrar uma postura profissional capaz de contribuir para uma sociedade melhor do ponto de vista social, edu- cacional, político e cultural. É preciso entender que a ação educativa é um ato político e que a educação não é e não pode ser neutra. U N IC ES U M A R 159 3 O ESTÁGIO CURRICULAR: A METODOLOGIA PAUTADA NA PESQUISA e a consciência crítico-política a ser construída na postura do professor O profissional docente, na sua essência, deve pesquisar sua prática a fim de buscar mecanismos de mudança, sempre, na direção teórico-metodológica do processo educativo. Ser professor é possibilitar ao aluno a aprendizagem dos conteúdos básicos, essenciais para o seu crescimento pessoal e intelectual. É aquele que es- tuda, continuamente, e se compromete com o ensino, visando uma aprendiza- gem significativa aos que que buscam a formação escolar. O docente é aquele que teoriza e problematiza a realidade a fim de entendê-la, para, então, intervir nela e modificá-la, além de dominar o conteúdo que ele se propõe a trabalhar, podendo, a partir dos conhecimentos, estabelecer relações que possibilitem um conhecimento geral sobre a realidade. Todo profissional da educação necessita pensar “o que é ser professor”. Esta questão passa pela necessidade de desenvolver algumas características que in- cidam na atuação comprometida e responsável, ao exercer o magistério. Tra- balhou-se pela superação dos modelos já propagados nos cursos de formação de professores, porém há que se considerar que algumas posturas profissionais docentes são exemplos para aqueles que buscam, também, essa formação. A ideia, nesta aula, é trazer algumas reflexões sobre a pesquisa no estágio, de modo a superar o caráter de observação dos modelos considerados bons de reprodução das práticas e que deveriam ser seguidos bem como considerar a re- flexão acerca das problemáticas como fundamentais na formação crítica e política U N ID A D E 5 160 dos(as) estagiários(as), futuros docentes da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Pimenta e Lima (2004, p. 46) dizem que a pesquisa como método de formação: “ [...] Se traduz pela mobilização de pesquisas que permitam a am- pliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam. Mas também e, em especial, na possibilidade de os estagiários desen- volverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situa- ções de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam. Esse estágio pressupõe outra postura diante do conhecimento, que passe a considerá-lo não mais como verdade capaz de explicar toda e qualquer situação observada, o que tem conduzido estágios e esta- giários a assumirem uma postura de irem às escolas e dizer o que os professores devem fazer. Supõe que se busque novo conhecimento na relação entre as explicações existentes e os dados novos que a realidade impõe e que são percebidas na postura investigativa. As autoras, ainda, discorrendo sobre a questão que envolve a pesquisa, trazem- -nos a ideia de que “ o movimento de valorização da pesquisa no estágio no Brasil tem suas origens no início dos anos 1990, a partir do questionamento que então se fazia no campo da didática e da formação de professores, sobre a in- dissociabilidade entre teoria e prática (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 15). Essa perspectiva incide no estágio como atividade teórica na formação de docen- tes em nível médio, haja vista sua instrumentalização, partir do princípio dialético e a considerar o trabalho investigativo, propondo, dessa forma, um novo modo de pensar o estágio curricular. Ao levar em conta a concepção do futuro docente formado em Nível Médio – Modalidade Normal como intelectual e “ a educação como um processo dialético de desenvolvimento do homem historicamente situado, abriu-se espaço para um início de compreensão do estágio como uma investigação das práticas peda- gógicas nas instituições educativas (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 15). U N IC ES U M A R 161 O que se almeja, com a metodologia pautada na pesquisa, é propiciar ao docente em processo de formação na Modalidade Normal uma abordagem mais ampla e contextualizada do estágio, para que ele possa pensar,refletir, analisar e provocar situações de mudança, a partir de seus estudos e procedimentos investigativos. Há que se considerar, nessa dinâmica, o caráter coletivo do trabalho investi- gativo. Ninguém consegue desenvolver qualquer trabalho de investigação e de pesquisa sem necessitar de alguém que oriente e que dê um norte, uma direção, que faça a mediação, e sem o auxílio de livros ou obras diversas que teorizem sobre o assunto a ser investigado; enfim, de pessoas que possam contribuir para o conhecimento. Os fundamentos teóricos devem favorecer os docentes e os futuros docentes com possibilidades de análise para compreender os diferentes contextos, em que se inserem as problemáticas que atingem a realidade escolar. Para isso, é preciso perceber, por meio de estudos, os condicionantes sociais, históricos, culturais, de organização, pois, dessa maneira, torna-se possível estabelecer relações e inferir conclusões na explicação das situações que ocorrem no espaço escolar. Conhecer o espaço onde se realiza o estágio possibilita ao futuro docente per- ceber lacunas, necessidades, dificuldades e condutas, perfis profissionais; tudo isso pode gerar temas para estudos investigativos. Tecer análises sobre os fatos que ocor- rem nas atividades de estágio propicia elaborar melhor o pensamento para constru- ção de hipóteses e generalizações. Dependendo da circunstância em que ocorrem os fatos, é preciso indagar condições materiais, situação socioeconômica familiar do(a) aluno(a), nível de formação do docente que atua, espaço escolar. Enfim, há uma infinidade de questões que precisam ser colocadas em pauta para estudo e investigação. Ou seja, Pimenta e Lima (2006, p. 17), neste pensamento, esclarecem: “ O desenvolvimento desse processo é possibilitado pela atividade de pesquisa, que se inicia com a análise e a problematização das ações e das práticas, confrontadas com as explicações teóricas sobre elas, com experiências de outros atores e olhares de outros campos de conhecimento, com os objetivos que se pretende e com as finalida- des da educação na formação da sociedade humana. Os(as) alunos(as) estagiários(as) podem levantar, a partir de suas observações no espaço escolar e nas salas de aula de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, bem como nos espaços que ofertam Educação Especial e U N ID A D E 5 162 Educação de Jovens e Adultos, temas como: avaliação, repetência, dificuldades diversas de aprendizagem, linguagens, entre outros. Trazer para a discussão coletiva, após o retorno da escola campo de estágio, esses temas, demonstra avanços significativos na apreensão dos sentidos e significados do que eles presenciam nos momentos de estágio. Dessa forma, podemos ressaltar que as discussões e debates decorrentes de situações das práticas desenvolvidas superam o caráter técnico, pragmático dos fazeres docentes e abrangem a complexidade das ações e posturas profissionais. Pimenta e Lima (2006) consideram alguns limites quando analisam a pesquisa no estágio. Conforme as autoras, são eles: “ [...] De natureza política: quais as condições que a escola públi- ca oferece para espaços de reflexão coletiva e de pesquisa por seus profissionais? É possível criar e desenvolver uma cultura de análise nas escolas cujo corpo docente é rotativo? Que interesse os sistemas públicos que adotam políticas com práticas autori- tárias e de desqualificação do corpo docente têm em investir na valorização e no desenvolvimento profissional dos professores? (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 17). “ Considerem-se, ainda, as limitações na formação inicial dos pro- fessores, que historicamente acumula índices precários devido à formação aligeirada e muitas vezes frágil teórica e praticamente (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 17). U N IC ES U M A R 163 “ São limites também de natureza teórico/metodológica: quais as pos- sibilidades efetivas de o professor pesquisar a prática? Quais apor- tes teóricos e metodológicos são necessários para que desenvolva pesquisas? Como as teorias são consideradas nessa perspectiva? A análise da prática está sendo realizada para além de si, criticamente, com critérios externos de validade do conhecimento produzido? (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 17). Não basta perceber os limites, é preciso buscar formas de trabalhar na superação deles. Para que isso aconteça, faz-se necessário pensar formas de mobilização por meio de pesquisas que possam ampliar o conhecimento sobre as situações ob- servadas e vivenciadas nas escolas e instituições concedentes do estágio. Projetos de estudos e pesquisas podem ser desenvolvidos de forma paralela ao estágio ou, até mesmo, após a conclusão da etapa ou do período de estágio. O estágio deve oportunizar uma visão contextualizada da realidade escolar. Nesse sentido, o papel da teoria é oferecer aos professores possibilidades de análi- ses e compreensão do contexto histórico em que estão inseridos. Desenvolvendo algumas práticas no Curso de Formação de Docentes em Nível Médio - Moda- lidade Normal, Maciel (2002) nos traz sua contribuição: a autora aponta para a necessidade de o professor estar instrumentalizado pela pesquisa. O trabalho pedagógico que envolve o estudo e a pesquisa reflete uma postura diferente, pois há a reflexão constante, o que faz a diferença na e para as ações escolares. A formação do(a) professor(a) deve pautar-se no ensino integrado. É no exer- cício da profissão que percebemos os sentidos e significados do que se ensina e do que se aprende. Destaca-se que o professor à medida que ensina, produz co- U N ID A D E 5 164 O ensino, atividade característica do professor, é uma prática social complexa, carregada de conflitos de valor e que exige opções éticas e políticas. Ser professor requer saberes e conhecimentos científicos, pedagógicos, educacionais, sensibilidade da experiência, in- dagação teórica e criatividade para fazer frente às situações únicas, ambíguas, incertas, conflitivas e, por vezes, violentas, das situações de ensino, nos contextos escolares e não escolares. É da natureza da atividade docente proceder à mediação reflexiva e crítica en- tre as transformações sociais concretas e a formação humana dos alunos, questionando os modos de pensar, sentir, agir e de produzir e distribuir conhecimentos na sociedade. Fonte: Franco (2012, p. 15). explorando Ideias nhecimentos, pois, utiliza-se de conhecimentos já produzidos e os reconstrói por meio de reflexões, problematizações e questionamentos. Por estabelecer relações a partir do contexto social e cultural, elabora e reelabora conhecimentos tendo em vista a sistematização e contextualização dialética destes. Nessa perspectiva, os educandos se apropriam dos conteúdos ensinados, trazendo, também, sentido para o que aprendem. Veja! No processo de trabalho, a educação acontece tanto para quem ensina como para quem aprende dialeticamente. É nesse sentido que a investigação e a pesquisa contribuem para a transforma- ção. Assim, os futuros docentes, para as atividades de estágio, devem orientar-se a partir das concepções teóricas e epistemológicas do processo educativo, porque, desse modo, eles atingem dimensões amplas do conhecimento e podem compreen- der mais as exigências que se relacionam à docência. Compreender a relação entre os saberes construídos e em construção é algo que a pesquisa no estágio propicia. A investigação no estágio, por meio da observação, favorece um pensar críti- co acerca da realidade. Seria essa uma possibilidade de superar a visão meramen- te linear, dicotômica, em nome de uma nova visão, a de síntese, de articulação entre teoria e prática. Os trabalhos sobre temas que os(as) alunas, futuros(as) docentes, trazem à tona a partir de suas observações nas escolas, possibilitam estudos e investigações por meio da pesquisa, o que leva à melhor compreensão das situações emblemá- ticas, de modo a problematizar, levantar hipóteses que surgem nos momentos de estágio. À medida que desenvolvema pesquisa dos temas diversos que surgem, eles aprendem, estabelecem relações, fazem inferências e, por consequência, pas- sam a construir sua identidade profissional e a consciência crítico-política tão necessária àquele que trabalha na formação de outros sujeitos. U N IC ES U M A R 165 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, buscou-se refletir sobre o contexto histórico do Estágio Super- visionado no curso de Formação de Docentes em Nível Médio – Modalidade Normal, de modo a entender que a nomenclatura atual surge após a Lei de Di- retrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96). Foram apresentados diferentes momentos históricos com relatos sobre práticas de formação para a docência bem como as nomenclaturas utilizadas. Importante, também, pensar na respectiva abordagem histórica, nas disciplinas, nas experiências vivenciadas com a intenção de aprender os conhecimentos básicos que o magistério requeria. Muitas iniciativas foram tomadas para que os cursos de Formação de Docen- tes na Modalidade Normal pudessem elevar seu nível de formação, utilizando-se de metodologias e práticas pedagógicas transformadoras. Porém a dissociação entre a prática de ensino e a prática do estágio supervisionado continuou a acon- tecer, apesar de esforços dos educadores. O estágio deve compor o momento de articulação entre os fundamentos teóricos e práticos da atividade docente. Assim, os espaços para a vivência da ex- periência profissional devem possibilitar o envolvimento do(a) futuro(a) docente, levando-o(a) a perceber qual o sentido do estágio para sua vida profissional em relação à sua prática pedagógica. Na terceira aula, apresentou-se o estágio como pesquisa para retratar a impor- tância da busca pelo conhecimento, a considerar que o(a) docente em processo de formação necessita desenvolver possibilidades de apreensão sistemática deste. Por meio de temáticas surgidas nas escolas campo de estágio, nas observações e atuações, ele(a) problematiza, estuda, investiga, busca respostas, o que, certamen- te, contribui para a qualidade de ensino. Portanto, pensar o campo de conhecimento do profissional, que atuará na educação e, particularmente, na sala de aula, implica na consciência sobre a fun- ção social da escola e do próprio professor e requer rigor teórico-prático dos saberes e fazeres docentes. 166 na prática 1. Maciel (2002) nos orienta que, no estágio supervisionado, faz-se necessário o profes- sor estar instrumentalizado pela pesquisa. Nesse sentido, a observação, a participa- ção e a regência são atividades propiciadoras de investigação. Afirma a autora que é preciso “[...] repensar a regência, objetivando romper com o modelo de formação do professor que firma e reafirma uma prática reprodutora de um saber que não atende mais às necessidades atuais” (MACIEL, 2002, p. 85). Considerando o posicionamento da autora sobre a atividade de regência e os mo- mentos do estágio de modo geral, avalie as afirmações a seguir. I - A observação deve corresponder a um trabalho pautado na investigação. II - A investigação é necessária à ação do professor, permitindo-lhe a reflexão e possibilitando-lhe romper com a perspectiva baseada em “modelos”. III - A observação, como mecanismo investigativo, rompe com a dicotomia entre teoria e prática. IV - A vivência da experiência docente, por meio da “regência de sala de aula”, permite perceber a unidade entre teoria e prática. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 2. O estágio deve permear todo o curso de Formação de Docentes em Nível Médio, na Modalidade Normal. Ao vivenciarem as experiências docentes, os futuros pro- fessores podem refletir sobre os diferentes contextos em que se dão o ensino e a aprendizagem. A partir de suas observações, podem tecer análises, inferir conclu- sões e apontar lacunas como forma de apropriação das situações que envolvem o ensino e a aprendizagem. 167 na prática Com base no texto anterior e considerando a relação entre a prática de ensino e o Estágio Supervisionado, avalie as afirmações a seguir. I - O Estágio Supervisionado é uma das etapas mais importantes dos cursos de formação para a docência. II - O estágio oportuniza aos futuros docentes a observação, a participação e a docência (regência de sala de aula). III - A prática docente envolve ações de planejar e avaliar o ensino e a aprendizagem. IV - O Estágio Supervisionado oportuniza pensar a relação das teorias e dos funda- mentos aprendidos na formação, confrontando-os com a realidade vivida em sala de aula. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I, II e III, apenas. c) I e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 3. O curso ofertado para o exercício da docência, na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental em nível médio trabalha com o ensino integrado, o que favorece as articulações teórico-práticas necessárias ao campo de atuação profis- sional. O professor, ao final da sua formação inicial, deve compreender: o que, para que e como ensinar. Considerando a formação de professores em Nível Médio, na modalidade normal, e as especificidades da profissão docente, avalie as afirmações que seguem: I - Planejar o trabalho docente, ministrar aulas, desenvolver uma dinâmica de sala de aula propicia à execução do trabalho pedagógico. II - Tomar consciência da intencionalidade educativa que permeia o espaço de formação (escola). III - Articular as diferentes áreas do conhecimento, reconhecendo as suas especificidades. IV - Dissociar teoria e prática, entendendo que, em cada momento do ensino e da aprendizagem, existe a teoria ou a prática. 168 na prática É correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) III e IV, apenas. 4. A partir das observações durante o estágio, podem surgir temáticas interessantes para trabalhos científicos. A pesquisa assume, nesse caso, uma possibilidade impor- tante na busca de elementos que expliquem a realidade apresentada nas instituições campos de estágio. Estar, por exemplo, em sala de aula, observando simplesmente, não constitui em momento tão produtivo se não houver um propósito, uma intencio- nalidade pedagógica. A metodologia e o referencial teórico que subsidiam a prática docente são questões que devem ser percebidas nas observações pelos estagiários. Considerando o estágio na perspectiva investigativa, explique sua importância na formação da consciência crítica e política do profissional docente. 5. Pimenta (2006a, p. 24) destaca que “o saber docente não é formado apenas da prática, sendo também nutrido pelas teorias da educação”. É nesse sentido que podemos afirmar que a “teoria e prática são indissociáveis”. Com base no pensamento da autora e reconhecendo a indissociabilidade entre teoria e prática, discorra sobre a importância das disciplinas pedagógicas para esse entendimento. 169 aprimore-se O ESTÁGIO COMO ATIVIDADE OBRIGATÓRIA DO CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES EM NÍVEL MÉDIO - MODALIDADE NORMAL O Estágio Supervisionado é uma disciplina que possibilita ao futuro profissional docente observar, conhecer e refletir sobre as instituições de ensino ou outros ambientes em que se dê o ensino e a aprendizagem. O aluno no estágio necessita perceber a realidade educacional e escolar, podendo enfrentar os desafios, munido das concepções e teorias aprendidas na sua formação. Dessa forma, as reflexões em torno dos problemas que observa, das experiências vivenciadas, podem confrontar- -se com os fundamentos aprendidos de forma a estabelecer relações, a construir possibilidades de solução para os problemas e, até mesmo, de intervenções no processo de ensino e aprendizagem. O futuro docente aprende, no seu processo de formação, elementos sobre o que significa ensinar e aprender. Portanto, ao desenvolver sua prática de estágio, consegueperceber dificul- dades, lacunas e avanços, podendo, inclusive, pensar em possibilidades de intervenção diante do quadro que se apresenta. Uma questão torna-se importante no processo de estágio: a reflexão e a análise crítica a respeito dos aspectos estruturais, organizacionais e pedagógicos, haja vista que um dos primeiros momentos do estágio é o conhecimento da instituição, da proposta que norteia a escola, as suas instâncias e o trabalho pedagógico. O estágio como imitação de modelos não procede no contexto atual. É preciso que haja reflexão e que o processo investigativo das práticas possam servir de subsídio para o aprofundamento teóri- co-metodológico, possibilitando, continuamente, a produção e a sistematização do conhecimento a ser trabalhado. Portanto, este momento importante na formação para a docência deve levar o futuro profissional à tomada de decisões, a confrontar práticas e teorias. Nesse sentido, a formação para a docência de qualidade deve se pautar na perspectiva investi- gativa, na qual a pesquisa, assumida como princípio científico e educativo, apresenta-se como uma proposição metodológica fundamental para o rompimento das práticas de reprodução (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 118). Assim, torna-se fundamental que os professores que atuam com o Estágio Supervisionado na formação de docentes, em Nível Médio, apresentem aos seus alunos, futuros professores, atividades que alimentem a reflexão, a análise e a síntese, não somente em relação ao conhecimento sistemati- zado, mas também, no que diz respeito à dimensão ético-política do acontecer didático-pedagógico. Fonte: a autora. 170 eu recomendo! O estágio na formação de professores: Unidade teoria e prática? Autor: Selma Garrido Pimenta Editora: Cortez Sinopse: o livro aborda a relação de unidade que deve existir en- tre teoria e prática, elementos articuladores da prática docente. Enfatiza o estágio como espaço de vivência da práxis, quando faz uma análise crítica da sua função na formação do professor. Leva-nos, ainda, a refletir sobre as práticas de estágio desenvolvidas no decorrer das décadas. livro 171 conclusão geral conclusão geral Chegamos ao final do nosso livro! Esperamos ter contribuído, de forma significativa, com o seu conhecimento. A Pedagogia, como ciência, possibilita ao(à) pedagogo(a) conhecimento vasto sobre as diferentes áreas, os processos de ensino, as diferentes demandas educacionais bem como as formas adequadas de ensinar. É por isso que, neste material, buscamos trazer questões emblemáticas dos pro- cessos de formação para a reflexão sobre as perspectivas sociais, políticas, econô- micas e culturais que interferem, diretamente, na educação e na formação para o exercício profissional, seja na Pedagogia, seja na Formação de Docentes, em Nível Médio – Modalidade Normal. Buscou-se, ainda, no presente estudo, apresentar os conhecimentos pertinentes ao pedagogo, haja vista que este trabalhará com a formação de docentes em Nível Médio e, por isso, necessita conhecer a realidade dessa formação, suas disciplinas, os referenciais teórico-metodológicos que orientam o trabalho com os conteúdos, a importância da práxis na construção dialética do conhecimento, nos encaminhamen- tos da prática de estágio, tendo em vista que, por meio dessa atividade, se constroem condutas e identidades. Enfim, é preciso pensar o sentido de “ser docente”. Outra questão que permeou nossos estudos diz respeito à indissociabilidade en- tre teoria e prática, a qual necessita ser superada nos cursos que formam para a docência. O conhecimento necessita ser pensado na sua dimensão teórica e episte- mológica em que saberes e fazeres se articulem no processo educativo. Finalizando, entendemos que, além da cultura geral e da formação específica na área de conhecimento correspondente, a instituição que formadora deverá assegu- rar, deliberadamente e de forma sistemática, por meio do currículo, a preparação pedagógica e didática aos professores em formação. conclusão geral conclusão geral anotações anotações anotações referências 175 BARREIRO, I. M. de F.; GEBRAN, R. A. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. BORGES, M. C.; AQUINO, O. F.; PUENTES, R. V. Formação de professores no Brasil: História, políti- cas e perspectivas. Revista HISTEDBR, Campinas, n. 42, p. 94-112, jun. 2011. BRASIL. Crianças terão de ir à escola a partir do 4 anos de idade. Ministério da Educação, [on- line], 2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/18563-crian- cas-terao-de-ir-a-escola-a-partir-do-4-anos-de-idade. Acesso em: 28 abr. 2020. BRASIL. 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Além des- ses conhecimentos, os conhecimentos específicos da sua área de atuação, os fundamentos, as concepções, as teo- rias que orientam a prática pedagógi- ca. À medida que o professor se aper- feiçoa para desenvolver o seu trabalho, que prepara sua aula, seu trabalho pe- dagógico, com a finalidade de ensinar, reconstrói, reelabora e produz conheci- mento. Isso permite que as ações didá- tico-pedagógicas aconteçam e que os alunos se apropriem dos conhecimen- tos trabalhados. 5. Pensar o compromisso político do pe- dagogo nos provoca a refletir sobre a prática pedagógica desse profissional. Esta qualidade do pedagogo remete à sua identidade, enquanto sujeito que pensa, elabora, reflete, direciona, pla- neja, executa, avalia, tendo em vista as ações necessárias para atingir seus ob- jetivos. O cumprimento responsável das suas ações e a sua consciência política o tornam comprometido com o traba- lho que transforma, certamente, a vida dos sujeitos. Nesse sentido, a ética é um princípio orientador da atuação profis- sional, o que favorece uma postura vol- tada à formação do humano, motivo e objetivo pelos quais a escola trabalha e luta, de forma incessante. UNIDADE 2 1. D. 2. B. 3. Na racionalidade técnica, a eficiên- cia e a produtividade são requisitos fundamentais em razão do sistema de mercado. Assim, em relação aos conhecimentos escolares e de forma- ção, tem-se a fragmentação do co- nhecimento científico, o que acentua a separação entre a teoria e a prática. Nesse sentido, percebe-se um empo- brecimento, ainda maior, do caráter humanista do ensino e, no caso dos cursos de formação de professores, nos currículos das antigas escolas normais. gabarito 182 4. O trabalho do pedagogo deve ser mo- vido a intencionalidades educacionais que visem à formação humana. Isso se dá por meio da transmissão dos conteúdos, de forma a desenvolver habilidades de pensamento e ação, implicando em escolhas, valores e compromissos éticos, ao mesmo tem- po em que procede a transformação pedagógico-didática dos conteúdos da ciência ou técnica que ensina. 5. Como o próprio enunciado nos orien- ta, o(a) pedagogo(a) é licenciado para atuar como docente em sala de aula, podendo atuar na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Funda- mental, nas disciplinas pedagógicas em nível médio em cursos de for- mação de professores – Modalidade Normal –, na alfabetização/anos ini- ciais do EF (primeiro ao quinto ano) na Educação de Jovens e Adultos, mas, para além dessas funções, ainda, pode assessorar professores no plane- jamento, na elaboração de critérios avaliativos, no atendimento a alunos e pais. Enfim, há uma gama enorme de possibilidades de trabalho. Recu- perar a identidade do(a) pedagogo(a)implica em fazer valer sua função so- cial e, também, adotar uma postura consciente e ética diante do trabalho que desenvolve. É assumir a função com responsabilidade e compromis- so social. O profissional da Pedagogia pode contribuir enormemente com o desenvolvimento humano, pois o compromisso ético que assume junto a seus pares, perante os alunos e a sua aprendizagem e, até mesmo, em rela- ção à comunidade escolar, possibilita o despertar desses para uma cons- ciência acerca do papel que cada um tem na sociedade. UNIDADE 3 1. C. 2. A Lei n. 12.796/2013 estabelece que a Educação Infantil contemple as crian- ças de 4 e 5 anos na pré-escola, e, com relação à carga horária de atividades, enfatiza que deve ser organizada com, no mínimo, 800 horas anuais, distribuí- das por, no mínimo, 200 dias letivos. A criança deve permanecer na insti- tuição escolar, no mínimo, por quatro horas diárias (no tocante ao ensino par- cial) e sete horas (para atendimento in- tegral), a mesma regra é válida para o Ensino Fundamental e Médio. 3. A avaliação é um mecanismo que pos- sibilita ao professor pensar o processo de ensino e aprendizagem. Não deve ser um momento somente de verifica- ção, mas sim, de apreensão da realida- de educativa em que se encontram os alunos. Essa prática já foi extremamen- te excludente, não que tenha deixado de ser, ainda há posturas profissionais que discriminam, excluem, punem pela avaliação, infelizmente. A avalia- ção do processo pode conduzir à supe- ração das lacunas existentes, por meio da retomada de conteúdos, quando a mediação acontece por parte do pro- fessor, incorporando ou recuperando gabarito 183 elementos significativos em relação aos conhecimentos propostos. Na perspec- tiva crítica, a avaliação se efetiva no de- correr do trabalho pedagógico. 4. O princípio dialético do conhecimento possibilita partir da realidade, transfor- mar essa dando origem à uma nova realidade, ou seja, o professor pode partir da prática social do aluno, do que ele já sabe, conhecimento do sen- so comum, do cotidiano e, após, deve trabalhar com os conceitos científicos baseando-se nos fundamentos, orien- tando-se nas dimensões para que o conhecimento se dê de forma elabo- rada. Em seguida, o aluno estabelece relações entre o que sabia, antes da mediação do professor, e o que apren- deu com a mediação (explicações do professor), para, então, ter nova prática, nova atitude em relação ao conteúdo aprendido, ou seja, a partir desse mo- mento, a prática será outra, mais elabo- rada, fundamentada, teorizada. 5. A finalidade da educação no Ensino Fundamental deve ser alimentada pelo princípio orientador da práxis pe- dagógica. Isso significa que esta per- meia o “para que” ensinar e “para que” aprender. Nesse sentido, no processo escolar, é preciso orientar-se nas con- cepções e convicções teórico-metodo- lógicas que influenciam o currículo. No currículo, tornam-se importantes, ainda, os aspectos sociais e culturais que abrangem toda a dimensão ins- titucional, possibilitando maior inte- gração de todas as instâncias e dos profissionais que contribuem para a efetividade do processo educativo. UNIDADE 4 1. C. 2. E. 3. O referencial teórico-metodológico que permeia a formação de docen- tes em Nível Médio - Modalidade Normal é o Materialismo Histórico e Dialético. Parte-se do pressuposto de que a realidade pode ser modi- ficada, a partir do processo de me- diação. Nesse sentido, a práxis faz-se presente, enquanto princípio que conduz o pensar e repensar a prática para transformá-la. O conhecimento não é algo estático, imutável, modi- fica-se e se transforma por meio das relações que se estabelecem. 4. É por meio da ação de trabalho que o homem se humaniza. Sendo a educa- ção um processo de trabalho, enten- de-se, então, que educação e trabalho são formas de humanização do ho- mem. Por meio do trabalho, constrói- -se e reconstrói a vida humana. E, para continuar esse processo, o homem ne- cessita continuar produzindo sua exis- tência. O conteúdo que se aprende na escola representa os conhecimentos produzidos pela humanidade, o que nos leva a refletir que o pensar e o pro- duzir (ação) do homem transforma su- jeitos e sociedade. gabarito 184 5. A autora enfatiza que a escola, a partir da sua função social, deve formar os sujeitos na sua dimensão mais ampla. Trabalho e cultura devem estar interli- gados e a escola, nesse sentido, tem o papel de formar para a vida produtiva e para o crescimento intelectual, pois o desenvolvimento e a aprendizagem devem permear toda a vida dos sujei- tos. As escolas devem, portanto, unifi- car cultura e trabalho. UNIDADE 5 1. E. 2. E. 3. A. 4. O trabalho que tem, como perspecti- va, a investigação, permite a formação de uma consciência crítica acerca da realidade que se apresenta. Propi- cia a mobilização de elementos que possibilitam a análise dos diferentes contextos educacionais, além de per- mitir uma postura baseada na refle- xão constante. À medida que reflete e analisa, o estagiário aprofunda co- nhecimentos, buscando sempre com- preender as questões que surgem, a partir de teorias já consagradas. O estagiário, em sala de aula, por meio da observação, pode perceber o refe- rencial teórico que subsidia a prática docente, estabelecendo relações com o que está posto no projeto da escola. 5. A teoria possibilita ao futuro pedago- go formas de pensar a educação e o ensino, com pontos de vista contex- tualizados em uma perspectiva de análise histórica, social, cultural em relação aos conteúdos do ensino. Isso quer dizer que as disciplinas devem se articular em um contexto de rela- ções, promovendo o conhecimento mais amplo. Mesmo o discurso com- preendido como “teórico” tem práti- ca, pois, há a experiência envolvida. Então, há prática e teoria e não teoria ou prática. As disciplinas pedagógi- cas propiciam um pensar sobre essa questão. Assim, o profissional em formação pode, nutrido desses co- nhecimentos, desenvolver sua práxis docente. O CURSO DE PEDAGOGIA E O PEDAGOGO: O SEU CONTEXTO E suas INFLUÊNCIAS na formação humana A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE profissional do pedagogo HISTÓRICO, PERSPECTIVAS E CONTEXTO DA FORMAÇÃO DE DOCENTES em nível médio PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS QUE FUNDAMENTAM O CURSO DE FORMAÇÃO de docentes em nível médio RELAÇÃO PRÁTICA entre conclusão geral _GoBack _GoBack Botão 1: