Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Casos clínicos de tonturas, otites médias e externas 1) Paciente de 5 anos, com queixas de dificuldade de aprendizagem e baixo desempenho escolar. Mãe acha que filho não ouve bem. Dorme de boca aberta e ronca eventualmente. Realizou nasofibroscopia que mostrou hiperplasia adenoideana de 70%. Abaixo imagem da otoscopia direita. Diagnóstico: Otite média serosa/secretora. Etiopatogenia: Disfunção da tuba auditiva com acúmulo de secreção serosa em caixa timpânica. Tratamento: Timpanotomia para colocação de tubo de ventilação. Obs: secreção bilateral esperam- se 3 meses o catarro sair. Caso não saia em 3 meses, realiza-se timpanotomia para colocação de tubo de ventilação e retirada da adenoide. Secreção unilateral esperam-se 6 meses o catarro sair. Curva timpanométrica → B Audiometria tonal com perda condutiva a direta Otite média secretora A otite média secretora (OMS) caracteriza-se pela efusão na orelha média, do tipo seroso ou mucoso, sem perfuração da membrana timpânica e sem processo infeccioso agudo, por período de 3 meses. Determina perda auditiva condutiva e, ocasionalmente, mista ou sensorioneural. A OMS, é uma doença frequente na infância, na idade pré- escolar e escolar (acima de 3 anos de idade); idades estas de grande importância na aquisição da linguagem falada e escrita. O principal sintoma da OMS é a diminuição da audição, que ocorrendo nestes períodos da vida da criança, compromete a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, acarretando mau aproveitamento escolar e repercussão social negativa. Tem como sinonímia os termos otite serosa, otite catarral e glue ear. Entretanto, otite média com efusão é o termo mais correto é mais abrangente aos vários tipos de secreções patológicas possíveis na orelha média. Etiopatogenia: Pode-se considerar a OMS como resultado da combinação de alguns fatores: Disfunções tubárias que causem hipoventilação e distúrbio de drenagem do ouvido médio. Inflamação pós-infecciosa da mucosa da orelha média. Patência tubária, ou seja, propriedade da tuba se abrir mais do que o normal, propiciando passagem de secreções da nasofaringe para a cavidade timpânica. O acúmulo da secreção favorece a colonização bacteriana, consequente recorrência de infecções na fenda auditiva, levando ao fechamento do círculo: otite média aguda (OMA) → otite secretora → OMA. Tanto a hipertrofia adenoideana quanto sua infecção, podem ter causas mecânicas de bloqueio e/ou contaminação do tórus e óstio tubários na infância. A otoscopia é o exame essencial para o diagnóstico da OMS. A membrana timpânica perde a translucidez, apresentando-se mais opaca e sem brilho. A trama vascular está aumentada, muitas vezes excedendo sobre a porção adjacente ao conduto auditivo externo. A audiometria tonal limiar revelará a perda auditiva condutiva em média de 25 a 40 dB. Na imitânciometria, curvas do tipo B são características de secreção na orelha média. Para a confirmação, a nasofibroscopia ou o exame radiológico da região do cavum ou TC confirmam a hipertrofia de adenoides ou de tumorações na rinofaringe, além de confirmarem os processos inflamatórios dos seios paranasais. Antibióticos, corticosteroides e medicação nasal são as medicações prescritas para o tratamento da OMS. A miringotomia/ timpanotomia com aspiração da secreção do ouvido médio é o procedimento mais indicado no sentido de restabelecer a audição de imediato. A instalação de drenos de ventilação tem por finalidade evitar a cicatrização da miringotomia, promover aeração prolongada das cavidades timpânica, drenar as secreções que possam ser formadas e restabelecer a fisiologia tubária. A coleta da secreção para posterior estudo bacteriológico é aconselhável. Assim, desde que haja indicação de instalação de tubos de ventilação em uma criança com OMS e adenoides hipertrofiadas e/ou infectadas é recomendada a adenoidectomia no mesmo ato cirúrgico. 2) Paciente chega à UPA com quadro de tontura acentuada há 2 dias, com piora na manhã de hoje. Apresenta, ainda, náuseas e vômitos. Ao exame físico otorrinolaringológico, otoscopia sem alterações. Apresenta nistagmo espontâneo simétrico horizontal, para a direita, com redução do nistagmo quando solicitado para olhar para um objeto posicionado à sua frente. Romberg positivo, com queda para direta. A história e o exame físico sugerem fortemente: Tontura de origem periférica. 3) Paciente de 65 anos, branco, sexo masculino, com quadro de otalgia à direta há 30 dias. Procurou farmácia de seu bairro, tendo usado cerumin gotas, sem melhora. Foi à UPA, tendo sido prescrito amoxicilina por 7 dias, também sem melhora. Relata DM2, de longa data, fazendo uso irregular de glifage. Ao exame apresentou secreção fétida e com áreas de tecido de granulação (granuloma piogênico) em conduto auditivo externo ipsilateral. Glicemia de jejum 370mg/dL. Diagnóstico: Otite externa necrotizante (maligna). Etiopatogenia: infecção da pele do conduto auditivo externo em paciente diabético. Tratamento: internamento, antibiótico endovenoso, drenagem cirúrgica da secreção purulenta. Otite externa maligna É uma infecção invasiva e necrotizante do meato acústico externo, pouco frequente, que acomete principalmente idosos, diabéticos e imunodeprimidos. As culturas dos tecidos infectados revelam, na maioria, Pseudomonas aeruginosa. Os sintomas iniciais são prurido, otalgia e hipoacusia e a instalação da infecção inicial é insidiosa e restrita ao meato acústico externo assemelhando-se a uma otite externa difusa infecciosa resistente ao tratamento usual. É necessário tratamento local e sistêmico, podendo exigir internação do paciente. Institui-se antibioticoterapia sistêmica antipseudomonas (ciprofloxacino ou cefalosporinas de 3ª geração), por período de seis semanas. O controle do diabete, se presente, é indispensável. Obs: Situações em que se deve tratar otite externa com ATB sistêmico, juntamente com o ATB local: febre, linfadenomegalia, diabetes e pericondrite. 4) Paciente de 67 anos, sexo feminino com quadro de tontura de longa data. Informa que passava períodos sem crises, mas esses episódios têm ocorrido mais frequentemente nos últimos meses. Geralmente, a tontura é rápida, poucos segundos, geralmente quando está deitada e gira-se na cama. Acha que é quando gira para a esquerda. Nega queixas de hipoacusia ou zumbido. Relata hipertensão arterial controlada. Nega diabetes melitus. Relata hipotireoidismo, tratado com reposição de hormônio tireoideano. Audiometria e imitanciometria normais. Vectoeletronistagmografia normal. Manobra de Dix- Halpike positiva para esquerda. Diagnóstico: VPPB Mecanismo fisiopatológico: liberação de carbonato de cálcio de otocônicas degeneradas - Mais comum no canal semicircular posterior. Conduta: Manobra de Epley ou Semont. 5) Paciente de 32 anos, dor de ouvido acentuada há 10 dias, sem febre. Relata ter tomado banho de mar no último feriado, há cerca de 5 dias. Procurou UPA de seu bairro, tendo sido avaliada por um clínico que lhe prescreveu amoxicilina 500mg de 8/8h por 7 dias e nimesulida 100mg 12/12h por 3 dias. Relata ter diminuído a dor durante o uso de nimesulida, porém quando encerrou esta medicação a dor retornou. Nega DM. Não apresenta linfadenopatia ou sinais de pericondrite. Diagnóstico: otite externa difusa aguda. Etiopatogenia: infecção da pele do conduto auditivo externo. Tratamento: gotas otológicas. Otite externa difusa aguda A otite externa infecciosa bacteriana difusa aguda é uma dermatite de parte ou de todo o meato acústico externo causada por agentes bacterianos. É a doença mais comum a afetar o meato acústico externo durante o verão, principalmente devido a altas temperaturas e umidadedo ambiente. O aumento das atividades aquáticas faz com que a população esteja mais exposta ao maior número de fatores desencadeantes e favorecedores da doença e é ainda mais frequente em atletas de alto rendimento em esportes aquáticos ou naqueles que usam máscaras ou tampões auriculares devido ao aumento e à retenção de suor local. Os agentes bacterianos mais comumente encontrados são: Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus haemolyticus, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis. O quadro clínico caracteriza- se por dor, hipoacusia, prurido, plenitude auricular e desconforto que marcam o estágio pré- inflamatório da otite. Na otoscopia: eritema e edema de pele, secreção serosa ou purulenta, algumas vezes fétida, restos epiteliais com obstrução total ou parcial do meato acústico externo. O tratamento local com gotas otológicas contendo antibióticos e corticosteroides associado à lavagem com solução fisiológica morna promove o alívio da dor e do processo inflamatório, removendo os detritos acumulados que preenchem a luz do meato, e propiciando maior contato entre a medicação e a superfície da pele. Em muitos casos, é necessária antibioticoterapia sistêmica, com antibióticos de amplo espectro. Além disso, devem ser evitados os fatores colaboradores ou causadores da doença, com especial atenção à proteção auricular da água. 6) Mãe traz seu filho de 9 anos com queixas de roncos noturnos, respiração bucal, sialorreia noturna, desatenção, dificuldade de aquisição da linguagem e que tem aumentado o volume da televisão nos últimos meses. Otoscopia mostra membrana timpânica com retração tanto na parte flácida como na parte tensa. Diagnóstico: otite média secretora (OMC com membrana timpânica íntegra). Curva timpanométrica: C (retração). Tratamento: expectante com acompanhamento do paciente e indicação de aparelho (não há mais espaço para colocar o tubo de ventilação). 7) Paciente, 5 anos, dor de ouvido acentuada há 3 dias, febre de 38,5º C. relata ter tido um resfriado há cerca de 5 dias. Diagnóstico: otite média aguda (Pneumococo, Haemophilus e Moraxela). Etiopatogenia: disfunção da tuba auditiva com acúmulo de secreção catarral em caixa timpânica. Tratamento: antibiótico oral, lavagem nasal, antitérmico, analgésico. Otite média aguda OMA caracteriza-se por processo inflamatório agudo da mucosa de revestimento da orelha média que leva a lesões anatomopatológicas inflamatórias agudas do revestimento conjuntivo epitelial das cavidades da orelha média, com sintomatologia inflamatória aguda. A OMA acomete com maior frequência crianças com quadro de infecção das vias aéreas superiores e que evoluem para otalgia. Nas crianças menores que não sabem localizar a dor, apresentam choro constante, irritação geral ou letargia, diminuição do apetite, podendo apresentar vômito ou diarreia. A febre é frequente. A dor aumenta durante os movimentos de deglutição. Em crianças maiores e nos adultos, a sensação de plenitude auricular, sensação de ruídos pulsáteis síncronos com a pulsação traduzem secreções na orelha média. A otoscopia revela membrana timpânica congesta, hiperemiada, com perda de brilho e às vezes abaulada. Em alguns casos, se observam bolhas na superfície da membrana do tímpano, nos quadros virais, conhecidos como miringite bolhosa. Em alguns casos, nota-se acúmulo de secreção no conduto auditivo externo, que após a adequada remoção, visualiza-se uma perfuração na membrana timpânica, por onde a secreção é drenada. Quando a membrana timpânica encontra-se abaulada, podendo este abaulamento ser de grande intensidade, pode-se fazer uma drenagem pela perfuração espontânea da membrana, seguida de grande alívio da dor. Esta perfuração tem tendência ao fechamento em um período de 7 a 14 dias. A OMA simples geralmente não leva a sequelas no sentido infeccioso e funcional, quando devidamente tratada. A amoxicilina (90 mg/kg/dia por 10 dias) em altas doses é a droga de escolha para o tratamento da OMA, é bem tolerada, segura e com espectro de ação correto e adequado. Na falha com tratamento com amoxicilina ou uso recente há menos de 30 dias ou OMA recorrente, a diretriz recomenda amoxicilina com clavulanato (90 mg/kg/dia) ou cefalosporinas de segunda ou teceira geração ou clindamicina (6,5 mg/kg). A ceftriaxona deve ser considerada de uso reservado para as complicações, podendo ser associado à clindamicina em casos refratários ao tratamento. Medicação adicional inclui analgésicos, antipiréticos e calor local. O uso de descongestionantes orais melhora a congestão nasal, porém quando usados em doses não adequadas podem aumentar a viscosidade da secreção por desidratação da mesma, com consequente piora de sua drenagem. Em casos indicados, deve-se ter em conta que a corticoterapia associada à antibioticoterapia promove efeito anti-inflamatório, facilita a penetração dos antibióticos nas mucosas, promovendo também efeito analgésico. Referência Bibliográfica BENTO, R. F.; FONSECA, A. C. O.; PEREIRA, L. V. Doenças da orelha. In: Clínica médica, volume 6: doenças dos olhos, doenças dos ouvidos, nariz e garganta, neurologia, transtornos mentais. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2016.
Compartilhar