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Origem e evolução dos artrópodes
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Há evidências fósseis de que artrópodes primi-
tivos, ancestrais das espécies atuais, viveram no 
mar há mais de 570 milhões de anos. Um grupo de 
artrópodes marinhos primitivos hoje extintos, os 
trilobites, deixou um registro fóssil relativamente 
abundante em rochas dessa idade. Um dos grupos 
atuais de artrópodes, os crustáceos, permaneceu no 
mar, enquanto outros, como os quelicerados e os 
insetos, empreenderam a conquista do ambiente de 
terra firme. (Fig. 13.7)
Figura 13.7 Fósseis de trilobites, artrópodes primitivos 
extintos, abundantes nos mares entre 570 milhões e 
250 milhões de anos atrás. O tamanho das diversas espécies 
variava desde uns poucos milímetros até mais de 50 cm.
Hábitat e hábitos dos crustáceos 
A maioria dos crustáceos vive em ambientes aquáticos, marinhos ou de água doce. Entre as 
poucas espécies de terra firme, destacam-se os tatuzinhos-de-jardim (gêneros Porcellio e Arma-
dillium, que vivem escondidos sob pedras ou troncos apodrecidos), os tatuzinhos-de-praia, ou ta-
tuíras (por exemplo, Emerita brasiliensis, que se enterra na areia das praias), e as baratas-de-praia 
(por exemplo, Ligia exotica, que vive em ambientes rochosos do litoral marinho). Há caranguejos 
capazes de carregar água nas câmaras branquiais, o que lhes permite suportar longos períodos 
fora da água, como o Ocypode albicans, caranguejo de cor clara popularmente conhecido como 
“maria-farinha”, que cava tocas na areia.
Os modos de explorar o ambiente variam nos diversos grupos de crustáceos. Há espécies sésseis 
como cracas, que vivem fixadas a rochas e outros substratos submersos, e espécies de vida livre, 
que caminham sobre o fundo marinho, como os siris e os camarões. Lagostas são crustáceos de vida 
livre que, em geral, passam o dia em esconderijos entre as rochas do fundo do mar. (Fig. 13.6)
Figura 13.6 Variedade de 
crustáceos. A. Camarão- 
-imperador, uma espécie 
comensal, sobre pepino-do-mar. 
B. Tatuzinho-de-jardim. 
C. Barata-de-praia. Esses 
dois últimos são crustáceos 
adaptados a ambientes 
úmidos de terra firme.
A B C
Os artrópodes têm estreitas relações de parentes-
co evolutivo com os anelídeos. A maior evidência disso 
é a segmentação metamerizada do corpo. Artrópodes 
primitivos, hoje extintos, apresentavam o corpo 
nitidamente dividido em metâmeros semelhantes. 
Apesar de a metameria ser menos evidente nas for-
mas adultas dos artrópodes atuais, devido à fusão 
e à especialização dos metâmeros, a organização 
metamerizada está presente nas fases embrionárias 
de todas as espécies do grupo.
Em 1980 descobriu-se um novo grupo de crustá-
ceos — Remipedia — cujo corpo é formado por 32 
metâmeros, cada um com apêndices semelhantes 
aos parápodes dos anelídeos poliquetos, reforçan-
do ainda mais a relação evolutiva entre artrópodes 
e anelídeos. Outro indício dessa relação é fornecido 
pelos onicóforos — filo Onycophora —, animais 
que apresentam características nitidamente in-
termediárias entre artrópodes e anelídeos (veja 
a seguir).
Apesar da concordância dos cientistas quanto ao 
parentesco entre anelídeos, onicóforos e artrópodes, 
continua o debate sobre a classificação e a filogenia 
desses animais. Alguns cientistas defendem a ideia 
de que o filo Arthropoda é monofilético, isto é, que 
todos os grupos do filo descendem de um ancestral 
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Annelida
Onychophora
Trilobita
Chelicerata
Crustacea
Myriapoda
Hexapoda
Snodgrass, 1938
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Annelida
Trilobita
Chelicerata
Crustacea
Onychophora
Myriapoda
Hexapoda
Tiegs e Manton, 1958
C
Annelida
Onychophora
Trilobita
Chelicerata
Crustacea
Myriapoda
Hexapoda
Cisne, 1974
B
Trilobita
Chelicerata
Crustacea
Annelida
Onychophora
Myriapoda
Hexapoda
Manton, 1964; Anderson, 1973
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Figura 13.9 Árvores 
filogenéticas que 
mostram diferentes 
hipóteses de parentesco 
evolutivo entre anelídeos, 
onicóforos e artrópodes. 
Os diagramas A e B 
apresentam a hipótese 
de que todos os 
artrópodes atuais e os 
trilobites tiveram um 
ancestral em comum 
exclusivo (ponto 
vermelho); nos dois 
casos, Arthropoda seria 
um grupo monofilético. 
No diagrama C, os 
artrópodes seriam 
difiléticos. 
No diagrama D, a 
hipótese é de que os 
artrópodes tiveram 
diferentes ancestrais, o 
que significa dizer que 
esse grupo é polifilético 
(segundo Gonzalez 
Giribet, 1999).
comum exclusivo. Outros, com base em estudos de ribossomos e de DNA mito-
condrial, afirmam que os artrópodes formam um grupo polifilético e que deveriam 
ser separados em diversos filos. (Fig. 13.9)
Os hábitos alimentares dos crustáceos também são variados. As cracas, por exemplo, são 
animais filtradores, retirando da água partículas alimentares em suspensão. Certos caranguejos 
são herbívoros, alimentando-se de algas. Outros são carnívoros, alimentando-se de animais vivos 
ou mortos. Camarões, siris e alguns caranguejos são detritívoros, alimentando-se de todo o tipo 
de detritos orgânicos que encontram.
Importância econômica e ecológica dos crustáceos 
Crustáceos como camarões, lagostas, siris e caranguejos são largamente empregados na 
alimentação humana. Eles também desempenham papel importante na cadeia alimentar de mares 
e grandes lagos. Nesses ambientes, a luz solar é captada primariamente pelos seres fotossin-
tetizantes do fitoplâncton, algas e bactérias. Os seres do fitoplâncton servem de alimento aos 
do zooplâncton, entre os quais os mais abundantes são microcrustáceos, quase invisíveis a olho 
nu, principalmente os copépodes. Essa comunidade de seres flutuantes, o plâncton, constitui a 
base alimentar da maior parte da fauna aquática. (Fig. 13.8)
Figura 13.8 Micrografia de 
microcrustáceos do zooplâncton de 
água-doce ao microscópio óptico. 
Acima, à direita, Daphnia sp.; abaixo, 
Branchinecta sp.
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O filo Onycophora (onicóforos)
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O camarão como exemplo de crustáceo 
Camarões são fáceis de encontrar e, por isso, os escolhemos para exemplificar as caracterís-
ticas principais dos crustáceos. Espécies comuns no Brasil são: o camarão-sete-barbas (Xiphope-
naeus kroyeri), o camarão-branco (Litopenaeus schmitti) e o camarão-rosa (denominação popular 
de duas espécies do gênero Farfantepenaeus, F. brasiliensis e F. paulensis). (Fig. 13.10)
Figura 13.10 Aspecto externo de um camarão. O esquema mostra apenas os 
apêndices de um dos lados; as maxilas e os dois primeiros maxilípedes não estão 
mostrados. (Representação sem escala, cores-fantasia.)
Rostro
Olho 
composto
Cefalotórax
1a antena
3a maxilípede
2a antena Pereiópodes
1o 2o
3o
4o
5o
Pleópodes
Branquiostegito 
(carapaça sobre 
as brânquias)
Abdome
Urópodes
Télson
Os onicóforos têm características tanto de anelídeos quanto de artrópodes e, 
no passado, já foram classificados no subfilo Uniramia, junto com os hescápodes 
e os miriápodes. Atualmente, eles são classificados em um filo independente, 
Onycophora (do grego onychos, unha, garra, e phoros, portador).
Os onicóforos têm corpo alongado, entre 5 e 10 cm de comprimento, pele 
aveludada, de cor marrom ou acinzentada, e numerosos pares de pernas curtas 
e grossas, que terminam em pequenas garras afiadas. O nome do filo refere-se 
exatamente à presença dessas garras.
Na cabeça dos onicóforos há um par de antenas. Há também um par de 
papilas secretoras de muco, com as quais o animal pode lançar um fino jato 
gosmento que imobiliza suas presas. Os onicóforos são carnívoros e capturam 
insetos, vermes e lesmas, que devoram com o auxílio de seus dentes quitinosos 
e afiados.
Os fósseis indicam que a organização básica do corpo dos onicóforos pouco 
mudou nos últimos 500 milhões de anos. Atualmente são conhecidas apenas 70 
espécies, que vivem em ambientes muito particulares emflorestas tropicais da 
África, Ásia, Austrália, América do Sul e América Central. Onicóforos vivem em 
locais úmidos e, nos períodos secos, escondem-se em buracos na terra ou sob 
troncos podres e folhas caídas, como maneira de se proteger da perda de água. 
O fato de estarem amplamente distribuídos pelos continentes é um indício de 
que esses animais já foram mais comuns no passado.
As semelhanças entre onicóforos e anelídeos aparecem na organização da 
musculatura, no sistema excretor constituído por metanefrídios e na estrutura 
dos órgãos reprodutores. Os onicóforos assemelham-se aos artrópodes por terem 
sistema circulatório aberto e sistema respiratório traqueal. (Fig. 13.11)
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FACE 
ANTERIOR 
VENTRAL
“Antenas”
Papila oral
BocaPerna
Garra
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Apêndices cefálicos
Em um camarão adulto, a cabeça e o tórax são fundidos, constituindo o cefalotórax. A cabeça 
do camarão resulta da diferenciação dos seis metâmeros embrionários anteriores. O primeiro não 
tem apêndices; o segundo e o terceiro apresentam, cada um, um par de antenas, que desempe-
nham funções de equilíbrio, tato e paladar. No quarto metâmero há um par de mandíbulas fortes, 
utilizadas para mastigar e triturar o alimento. O quinto e o sexto metâmeros cefálicos apresentam, 
cada um, um par de maxilas, que manipulam o alimento e o encaminham para a boca. 
Apêndices torácicos
O tórax do camarão e de vários outros crustáceos é formado pela fusão de oito metâmeros 
embrionários. Os três primeiros apresentam, cada um, um par de apêndices denominados maxi-
lípedes; como o nome indica, esses apêndices são “pernas maxilares”, cuja função é manipular 
o alimento, passando-o para as maxilas e mandíbulas. Cada um dos outros cinco metâmeros 
torácicos apresenta um par de pereiópodes, adaptados para caminhar nos fundos submersos. 
Em certas espécies de camarão, o primeiro par de pereiópodes tem pinças, ou quelas, semelhan-
tes às das lagostas e caranguejos. Na base dos apêndices torácicos dos crustáceos geralmente 
há brânquias e, por isso, esses apêndices são denominados branquiopoditos. 
Apêndices abdominais
O abdome do camarão é formado por seis metâmeros. Cada um dos cinco primeiros apresen-
ta um par de apêndices denominados pleópodes, adaptados para nadar e caminhar. O último 
metâmero abdominal apresenta um par de apêndices achatados, os urópodes, que, juntamente 
com uma peça terminal afilada, denominada télson (ou telso), constituem a cauda do camarão, 
utilizada para nadar.
Os diversos apêndices dos crustáceos são bifurcados (birramosos), o que diferencia esses 
animais dos demais artrópodes que possuem apêndices não bifurcados (unirramosos).
VISTA LATERAL“Antenas”
Olho
Papila oral
Perna
A
Figura 13.11 A. Representação esquemática da 
parte anterior de um onicóforo em vista lateral. 
B. Representação esquemática da face anterior ventral 
do onicóforo mostrando a boca. (Desenhos sem escala, 
cores-fantasia.) C. Foto de onicóforo encontrado em 
Trinidad e Tobago (comprimento q 6 cm).
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2 Chelicerata (quelicerados)
Uma característica típica dos quelicerados é a presença de um par de quelíceras, estruturas 
afiadas que participam da captura de alimento. A maioria dos quelicerados tem o corpo dividido 
em dois tagmas — o cefalotórax, ou prossomo, e o abdome, ou opistossomo; eles apresentam 
quatro pares de pernas e não têm antenas. (Fig. 13.12)
Na classificação que adotamos, Chelicerata apresenta três classes — Arachnida, Merostomata 
e Pycnogonida —, compreendendo cerca de 80 mil espécies. A classe Arachnida (aracnídeos) tem 
o maior número de representantes atuais, reunindo aranhas, escorpiões, carrapatos e ácaros. 
A classe Merostomata (ou Xiphosura), com apenas cinco espécies atuais, reúne os caranguejos-
-ferradura, animais marinhos pouco conhecidos dos brasileiros, pois eles não são encontrados 
em nossos litorais. A classe Pycnogonida reúne as aranhas-do-mar, quelicerados marinhos com 
quatro (às vezes cinco ou seis) pares de pernas muito longas. (Tab. 13.2)
Figura 13.12 Variedade de 
quelicerados. A. Aranha 
(classe Arachnida). 
B. Caranguejo-ferradura 
(classe Merostomata), 
vista ventral. C. Carrapato 
(classe Arachnida). 
D. Ácaro (classe Arachnida). 
E. Escorpião (classe 
Arachnida).
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