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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 91 C ap ít u lo 4 • H eb re us , f en íc io s e pe rs as DOC. 3 Escavação na rocha, aproximadamente 1000 d.C. Parque Nacional de Saguaro, Arizona, Estados Unidos. Foto de 1990. DOC. 4 Spiral Jetty, escultura ambiental de Robert Smithson, obra de 1970. Great Salt Lake, Estados Unidos. A arte do Neolítico As mudanças que se percebem na arte rupestre refletem a verdadeira revolução que o Neolítico significou para a huma- nidade. De caçadores nômades, os seres humanos passaram, progressivamente, a ser agricultores e pastores sedentários. Os ritos se organizaram, e o homem passou a conceber uma separação cada vez maior entre o seu mundo, o mundo dos vivos, e o sobrenatural. Segundo essa hipótese, o naturalismo na representação dos animais teria sido substituído pela ten- tativa de expressar apenas uma ideia geral de seus principais atributos, de sua essência. Mas a crença no poder mágico da imagem persistia. Provavelmente, a representação de cenas de pastoreio tinha a função de manter o controle do homem sobre a natureza e assegurar um rebanho abundante. No continente americano, também existem exemplos impor- tantes de arte rupestre na forma de desenhos e gravuras na rocha, realizados por diversos povos ameríndios, como os produzidos pela antiga cultura Hohokam e encontrados no Parque Nacional de Saguaro, no estado norte-americano do Arizona [doc. 3]. Figuras geométricas como linhas, pontos e espirais são muito usadas, indicando os princípios de uma simbologia espiritual e da grafia da escrita dessa cultura indígena norte-americana. Esses monumentos a céu aberto do Neolítico parecem ter servido de inspiração para que, na década de 1960, nos Estados Unidos, alguns artistas fundassem o que ficou conhecido como land art. Robert Smithson foi um dos mais importantes criadores do movimento, e a sua obra Spiral Jetty [doc. 4], uma verdadeira instalação ao ar livre, feita com rocha basáltica negra, cristais de sal e terra, era uma tentativa de libertar a obra de arte do espaço confinado dos museus e inseri-la na paisagem, ao mesmo tempo que ecoava aquela antiga função ritualística da arte. HIST_PLUS_UN_A_CAP_04.indd 91 18.08.10 14:29:55 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 92 U n id ad e A • D a P ré -h is tó ri a às p ri m ei ra s ci vi liz aç õe s do O ri en te DOC. 5 Cena de trabalho agrícola em pintura mural do túmulo de Nakht, c. século XIV a.C. Tebas, Egito. DOC. 6 Pintura mural no túmulo de Nefertari, esposa do faraó Ramsés II, século XIII a.C. A arte egípcia e a crença na vida após a morte Tudo indica que a crença no poder mágico das imagens esteve presente nos diversos períodos da ci- vilização egípcia antiga. Porém, enquanto os homens da Pré-história pareciam querer, por meio da arte, influenciar a natureza para garantir sua sobrevivência, os egípcios desenvolveram uma arte voltada princi- palmente para a morte (ou para o pós-morte), sendo conformada pela crença numa continuidade da vida no outro mundo. Para assegurar essa continuidade, eram necessários inúmeros ritos, entre os quais a realização de pinturas nas paredes dos túmulos, nas quais se representavam cenas da vida cotidiana do falecido para que, depois da morte, seu duplo, ou ka, pudesse se reconhecer nelas e levar uma existência semelhante [doc. 6]. Na imagem do doc. 5, podemos ver uma pintura mural desse tipo, presente no túmulo de Nakht, um alto funcionário real da XVIII dinastia. Nela, Nakht é retratado à direita, supervisionando o trabalho dos camponeses, que aram a terra, colhem e separam os grãos. Acredita-se que a intenção, ao retratar o seu cotidiano em vida, era possibilitar que, após a morte, continuasse executando as mesmas funções. A arte egípcia não é naturalista, e o fato de a figura de Nakht ser representada em tamanho maior do que o dos trabalhadores se justifica, provavelmente, pela sua posição hierárquica de alto dignitário real. Assim, a imagem traduz seu status social elevado. HIST_PLUS_UN_A_CAP_04.indd 92 18.08.10 14:29:57 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 93 C ap ít u lo 4 • H eb re us , f en íc io s e pe rs as DOC. 7 Pintura mural no túmulo de Ramsés I, da XIX dinastia, c. 1290 a.C. Luxor, Egito. DOC. 8 Foto atual do Templo de Ramsés II, construído por volta de 1265 a.C. Abu-Simbel, Egito. C ap ít u lo 4 • H eb re us , f en íc io s e pe rs as A rigidez das formas artísticas egípcias e a monumentalidade Para realizar a finalidade mágica de garantir a imortalida- de ao retratado, as cenas pintadas tinham de seguir certos modelos fixos. A repetição intensa de poses e estratégias de representação acabou formando um rígido cânone na arte egípcia, que permaneceu estável durante praticamente toda a sua longa história. A principal regra do cânone egípcio ficou conhecida como “lei da frontalidade”, de acordo com a qual a figura humana era sempre mostrada com o tronco inteiramente voltado para a frente, enquanto as pernas e o rosto eram colocados de perfil. Na pintura do doc. 7, o faraó Ramsés I e Anúbis, o deus com cabeça de chacal, são repre- sentados de acordo com essa lei. Os faraós costumavam, nas paredes de seus túmulos, ser retratados na companhia das divindades, porque eles próprios eram considerados deuses vivos que, ao morrer, voltariam a conviver com seus pares divinos. Outro importante aspecto da arte egípcia é a monumentali- dade, sobretudo no que se refere à arquitetura. O doc. 8 mostra a fachada do Templo de Ramsés II em Abu-Simbel, no Egito. Há quatro enormes esculturas desse faraó na entrada do templo, com pelo menos vinte metros de altura cada uma. Nesse caso, as dimensões humanas eram extrapoladas para acentuar a grandeza e a origem divina do faraó. Provavelmente também, a arquitetura egípcia tinha como pressuposto sobreviver ao tempo, servindo de testemunho da magnificência de deuses e reis por toda a eternidade. • Cânone. Norma, modelo, padrão. HIST_PLUS_UN_A_CAP_04.indd 93 18.08.10 14:30:00