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A carta de São Paulo aos Romanos

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A carta de São Paulo aos 
ROMANOS 
, 
CADERNOS DE ESTUDO BIBLICO 
A carta de São Paulo aos 
ROMANOS 
Com introdução, comentários e notas de 
Scott Hahn e Curtis Mitch 
e questões para estudo de 
Dennis Walters 
Tradução de Giuliano Bonesso 
ECCLESIAE 
A carta de São Paulo aos romanos: Cadernos de estudo bíblico 
ia edição - julho de 2016 - CEDET 
Título original: Catholic Study Bible: The Letter of Saint Paul to the Romans - © Ignatius Press. 
Os direitos desta edição pertencem ao 
CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico 
Rua Ângelo Vicentin, 70 • CEP: 13084-060 - Campinas - SP 
Telefone: 19-3249-0580 
e-mail: livros@cedet.com.br 
Editor: 
Diogo Chiuso 
Editor-assistente: 
Thomaz Perroni 
Tradução: 
Giuliano Bonesso 
Revisão: 
Roger Campanhari 
Editoração: 
Virgínia Morais 
Capa 
J. Ontivero 
Conselho Editorial: 
Adelice Godoy 
César Kyn d'Ávila 
Diogo Chiuso 
Silvio Grimaldo de Camargo 
Thomaz Perroni 
� ECCLESIAE - www.ecclesiae.com.br 
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer 
meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio. 
SUMÁRIO 
I N T RODUÇÃO A E S T E E S TUDO • 7 
Inspi ração e i n errân cia bíblica • 8 
Auto ridade b íb lica • 9 
Os sen tidos da Sagrada Escritu ra • I o 
Critérios para a i n terp retação da bíblia • I 3 
Usando este estudo • I 5 
Colocando tudo em perspectiva • I 7 
Uma n o ta final • I 7 
I N T R ODUÇÃO À CA RTA DE SÃO PAULO AOS RO M A N O S • I 9 
Auto ria e data • I 9 
Destinatários • I 9 
Finalidade • 20 
Temas e ca racterís ticas • 20 
E S QUEMA DA CARTA DE SÃO PAULO A O S RO MAN O S • 23 
A CA RTA DE S ÃO PAULO A O S RO MAN O S • 2 5 
Estudo da palav ra: J u s t i fi cado ( Rm 2 , 1 3 ) • 32 
Estudo da palavra: F i g u r a ( Rm 5 , 1 4 ) • 42 
Estudo da palavra: Res t o ( Rm 1 1 , 5 ) • 5 9 
Ensa io s ob re u m tóp ico: A sa lvação de t o d o o I s rae l • 63 
Mapa: A i n fl u ê n c i a de São Paulo • 7 5 
QUE S TÕES PA RA E S TUDO • 79 
INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO 
Você está se aproximando da "palavra de Deus" . Esse é o título mais freqüente­
mente atribuído à Bíblia pelos cristãos e é uma expressão rica em significado. Esse é 
também o título atribuído à segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Deus Filho 
- Jesus Cristo, que se encarnou para a nossa salvação "e é chamado pelo nome de 
Palavra de Deus" (Ap 19, 13; cf. Jo 1, 14) .' 
A palavra de Deus é a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus é Jesus. Essa associa­
ção sutil entre a palavra escrita de Deus e sua Palavra eterna é intencional e presente 
na tradição da Igreja desde a primeira geração de cristãos. "Toda a Escritura divina 
é um único livro, e este livro é Cristo, 'já que toda Escritura divina fala de Cristo, 
e toda Escritura divina se cumpre em Cristo"" (CIC 134) . Isto não significa que a 
Escritura é divina da mesma maneira que Jesus é divino. Ela é, antes, divinamente 
inspirada e, como tal, é única na história da literatura universal, assim como a En­
carnação da Palavra eterna é única na história da humanidade. 
Podemos dizer ainda que a palavra inspirada assemelha-se à Palavra encarnada 
em muitos e importantes aspectos. Jesus Cristo é a Palavra de Deus encarnada; em 
sua humanidade, Ele é como nós em todas as coisas, exceto no pecado. A Bíblia, 
enquanto obra escrita pelo homem, é como qualquer outro livro, exceto pelo fato 
de não conter erros. Tanto Cristo quanto a Sagrada Escritura nos são dados "para 
nossa salvação" ,3 diz o Concílio Vaticano II, e ambos nos fornecem a revelação defi­
nitiva de Deus. Portanto, nós não podemos conceber um sem o outro - a Bíblia sem 
Jesus, ou Jesus sem a Bíblia. Um é a chave interpretativa do outro. É por que Cristo 
é o sujeito e o assunto de toda a Escritura que São Jerônimo afirma que "ignorar as 
Escrituras é ignorar a Cristo" 4 (CIC 133) . 
Ao aproximarmo-nos da Bíblia, então, nós nos aproximamos de Jesus, a Palavra 
de Deus; e para que o encontremos de fato, devemos abordá-lo através de um estudo 
devoto e piedoso da palavra inspirada de Deus, a Sagrada Escritura. 
]o l, 14: "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, 
cheio de amor e fidelidade". A traduçáo brasileira dos textos bíblicos utilizada ao longo de todo este estudo é a da Bíblia 
da CNBB-NE. 
2 Cf. Hugo de Sáo Vítor, De arca Noe, 2, 8: PL 176, 642; cf. ibid., 2, 9: PL 176, 642-643. 
3 Cf. Dei Verbum, 11. 
4 Dei Verbum, 25; cf. S. Jerônimo, Commentarii in !saiam, Prologus: CCL 73, 1 (PL 24, 17). 
7 
Cadernos de estudo bíblico 
INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA BÍBLICA5 
A Igreja Católica faz afirmações admiráveis em relação à Bíblia. É essencial para 
nós, se quisermos ler a Escritura e aplicá-la à nossa vida do modo como a Igreja pre­
tende que o façamos, que reconheçamos essas afirmações e as admitamos. Não basta 
que simplesmente concordemos, acenando positivamente com a cabeça, quando 
lemos as palavras "inspirada" , "únicà' ou "inerrante" . É preciso que saibamos o que 
a Igreja quer dizer com esses termos e, depois, nos é necessário tornar pessoal essa 
compreensão. Afinal de contas, a forma como cremos na Bíblia influenciará inevita­
velmente o modo como vamos lê-la. E o modo como lemos a Bíblia, por sua vez, é 
o que determina o que nós "tiramos" de suas páginas sagradas. 
Esses princípios são válidos independentemente do que estamos lendo - uma 
reportagem de jornal, um aviso de "procura-se" , uma propaganda, um cheque, uma 
prescrição médica, uma nota de despejo . . . O modo como lemos essas coisas (ou até, 
se as lemos ou não) depende muito de nossas noções pré-conceituadas a respeito 
da autoridade e confiabilidade de suas fontes - e também do potencial que têm de 
afetar diretamente nossa vida. Em alguns casos, a má interpretação da autoridade 
de um documento pode levar a conseqüências terríveis; noutros casos, pode nos im­
pedir de desfrutar certas recompensas das quais temos o direito. No caso da Bíblia, 
tanto as conseqüências quanto as recompensas envolvidas têm valor definitivo. 
O que quer dizer a Igreja, então, ao endossar as palavras de São Paulo - "Toda 
Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3, 16) ? Uma vez que, nessa passagem, o termo 
"inspiradà' pode ser entendido como "soprada por Deus" , segue-se então que Deus 
soprou sua palavra na Escritura assim como você e eu sopramos ar quando falamos. 
5 Na linguagem cotidiana, o termo "errante" costuma significar "andar a esmo", "andar sem rumo" ou "vaguear"; "iner­
rante'', nesse sentido, se diria de algo que "anda com propósito", "com destino certo". No entanto, o termo é empregado 
aqui no sentido estrito de "sem erros", mesmo. Poder-se ia dizer "infalível", porém o autor faz uma clara distinção entre 
esses dois termos - "inerrante" e "infalível" - quando diz, mais à freme, que "o mistério da inerrância bíblica é de âmbito 
ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade". A distinção esclarece que o autor está se referindo à escrita da Bíblia 
como inerrante, enquanto que se refere à interpretação do que foi escrito como infalível - dois adjetivos distintos para 
duas etapas distintas da relação com o texto sagrado: a escrita e a interpretação da escrita. Ambas são feitas pelo próprio 
Espírito Santo e, portanto, não podem falsear. 
Na Carta Encíclica Divino Ajflante Spiritu, de setembro de 1943, o Papa Pio XII diz da doutrina da inerrância bíblica: 
"O primeiro e maior cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques 
contrários. Por isso em graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo, falando de coisas 
físicas, 'se atém ao que aparece aos sentidos; como escreveu o Angélico [Sto. Tomás de Aquino], exprimindo-se 'ou de modo 
metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação 
ordinária mesmo pelos maioressábios'. De fato, 'não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por 
eles falava - são palavras de Sto. Agostinho -, ensinar aos homens essas coisas - isto é, a íntima constituição do mundo visível 
- que nada importam para a salvação'. [ ... ] Nem pode ser acusado de erro o escritor sagrado, 'se aos copistas escaparam algumas 
inexatidões na transcrição dos códices' ou 'se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo'. Enfim, é absolutamente vedado 
'coarctar a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou; pois 
que a divina inspiração 'de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma necessidade com que 
Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja" - NE. 
8 
A carta de São Paulo aos romanos 
Isso significa que Deus é o autor primordial da Bíblia. Certamente Ele se serviu tam­
bém de autores humanos para essa tarefa, mas não é que Ele simplesmente os assistiu 
enquanto escreviam, ou então aprovou posteriormente aquilo que tinham escrito. 
Deus Espírito Santo é essencialmente o autor da Escritura, enquanto que os escritores 
humanos o são instrumentalmente. Esses autores humanos escreveram francamente 
tudo aquilo - e somente aquilo - que Deus queria: é a palavra de Deus nas exatas 
palavras de Deus. Esse milagre da dupla-autoria se estende a toda a Escritura e a 
cada uma de suas partes, de modo que tudo o que os seus autores humanos afirmam, 
Deus também afirma através de suas palavras. 
O princípio da inerrância bíblica decorre logicamente do princípio de sua divina 
autoria. Afinal de contas, Deus não mente, e nem erra. Sendo a Bíblia divinamente 
inspirada, nela não pode haver erro algum quanto àquilo que seus autores, tanto o 
divino quanto os humanos, afirmam ser verdadeiro. Isso quer dizer que o mistério 
da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade 
- a saber, o de que é garantido que a Igreja sempre nos ensinará a verdade em tudo 
aquilo que disser respeito à fé e à moral. É claro que o manto da inerrância sempre 
cobrirá também o campo das questões de fé e moral, mas ele se estende para mais 
longe ainda, no sentido de nos assegurar de que todos os fatos e eventos da histó­
ria de nossa salvação estão apresentados de modo exato na Escritura. A inerrância 
bíblica é a nossa garantia de que as palavras e os feitos de Deus narrados na Bíblia 
são verdadeiros e lá estão unificados, declarando numa só voz as maravilhas de seu 
amor salvífico. 
A garantia da inerrância bíblica não quer dizer, no entanto, que a Bíblia é uma 
enciclopédia universal, que serve a todos os propósitos e cobre todos os campos 
de estudo. A Bíblia não é, por exemplo, um compêndio das ciências empíricas - e 
não deve ser tratada como tal. Quando os autores bíblicos relatam fatos de ordem 
natural, podemos ter a certeza de que estão falando de modo puramente descritivo 
e "fenomenológico" , de acordo com a maneira como as coisas se apresentaram aos 
seus sentidos. 
AUTORIDADE BÍBLICA 
Implícito nessas doutrinas6 está o desejo de Deus de se fazer conhecido por todo 
o mundo e de estabelecer uma relação de amor com cada homem, mulher e criança 
que Ele criou. Deus nos deu a Escritura não apenas para nos informar ou nos moti­
var; mais do que tudo, Ele quer nos salvar. É este o principal propósito que perpassa 
cada página da Bíblia - e cada palavra sua, na verdade. 
6 As doutrinas da inspiração, da inerrância e da dupla-autoria da Bíblia - NE. 
9 
Cadernos de estudo bíblico 
No intuito de se revelar, Deus usa aquilo que os teólogos chamam de "acomoda­
ção" . Às vezes Ele se inclina para se comunicar conosco por "condescendência'' - ou 
seja, Ele fala à maneira dos homens, como se Ele tivesse as mesmas paixões e fraque­
zas que nós temos (por exemplo, quando Deus diz que "se arrependeu" de ter feito 
o homem sobre a Terra, em Gn 6, 6) . Noutras vezes, Ele se comunica conosco por 
"elevação" - ou seja, dotando as palavras humanas de um poder divino (por exem­
plo, através dos profetas) . Os inúmeros exemplos de acomodação divina na Bíblia 
são a expressão do modo sábio e paternal de proceder de Deus. Com efeito, um pai 
sensitivo fala com seus filhos tanto por condescendência, usando um palavreado in­
fantil, ou por elevação, trazendo o entendimento do filho a um nível mais maduro. 
A palavra de Deus é, portanto, salvífica, paternal e pessoal. Justamente porque 
fala diretamente conosco, nós nunca devemos ser indiferentes ao seu conteúdo; afi­
nal de contas, a palavra de Deus é, ao mesmo tempo, objeto, causa e sustento da 
nossa fé. Ela é, na verdade, um teste para a nossa fé, uma vez que nós só vemos na 
Escritura aquilo que nossa fé nos faz ver. Se nosso modo de crer é o mesmo da Igreja, 
vemos na Escritura a revelação salvífica e inerrante de Deus, feita por Ele mesmo. Se 
cremos de modo distinto, vemos um livro totalmente distinto. 
Esse teste é válido e aplicável não só aos fiéis leigos, como também aos teólogos da 
Igreja e até aos seus membros da mais alta hierarquia - inclusive para o seu Magisté­
rio. Recentemente, o Concílio Vaticano II enfatizou que a Escritura deve ser "como 
que a alma da sagrada teologia" .7 O Papa Emérito Bento XVI, ainda enquanto Car­
deal Ratzinger, ecoou esse ensinamento com as próprias palavras, insistindo que "os 
teólogos normativos são os autores da Sagrada Escritura'' (grifo nosso) . Ele nos lembra 
que a Escritura e o ensinamento dogmático da Igreja estão entrelaçados de forma tão 
firme ao ponto de serem inseparáveis: "O dogma é, por definição, nada mais que a 
interpretação da Escritura''. Os dogmas já definidos de nossa fé, portanto, guardam 
em si a interpretação infalível da Igreja daquilo que está na Escritura, e a teologia é 
uma reflexão posterior sobre eles. 
OS SENTIDOS DA SAGRADA ESCRITURA 
Como a Bíblia é, ao mesmo tempo, de autoria divina e humana, é necessário, 
para lê-la coerentemente, que dominemos um tipo de leitura distinto daquele ao 
qual estamos acostumados. Primeiramente, temos que lê-la de acordo com seu sen­
tido literal, ou seja, do mesmo modo como lemos qualquer outro escrito humano. 
Neste estágio inicial, devemos nos empenhar na descoberta do significado originário 
que tinham as palavras e expressões usadas pelos escritores bíblicos à época em que 
primeiramente foram escritas e recebidas por seus contemporâneos. Isso quer dizer, 
7 Cf. Dei Verbum, 24. 
IO 
A carta de São Paulo aos romanos 
entre outras coisas, que não devemos interpretar tudo que lemos "literalmente" , 
como se a Escritura nunca falasse de forma figurada ou simbólica (porque freqüen­
temente fala!) . Pelo contrário: a lemos de acordo com as regras de escrita que go­
vernam seus diferentes gêneros literários, que variam dependendo do que estamos 
lendo - se é uma narrativa, um poema, uma carta, uma parábola ou uma visão 
apocalíptica. A Igreja nos exorta a ler os livros sagrados dessa maneira a fim de nos 
fazer compreender, com segurança, o que os autores bíblicos estavam se esforçando 
para explicar ao povo de Deus a cada texto. 
O sentido literal, no entanto, não é o único da Escritura; nós interpretamos suas 
sagradas páginas também de acordo com seus sentidos espirituais. Dessa forma, bus­
camos compreender o que o Espírito Santo está tentando nos dizer para além daqui­
lo que afirmaram conscientemente os escritores humanos. Enquanto que o sentido 
literal da Escritura descreve realidades históricas - fatos, ensinamentos, eventos -, os 
sentidos espirituais desvelam os profundos mistérios abrigados através das realidades 
históricas. Os sentidos espirituais são para o literal o que a alma é a para o corpo. 
Você é capaz de distingui-los; porém, se tentar separá-los, a conseqüência imediata 
é fatal. São Paulo foi o primeiro a insistir nisso e já alertava para as conseqüências: 
"Deus [ . . . ] nos tornou capazes de sermos ministros de uma aliançanova, não aliança 
da letra, mas do espírito; pois a letra mata, e o Espírito é que dá a vidà' (2Co 3, 5-6) . 
A tradição católica reconhece três sentidos espirituais que se erguem sobre o ali­
cerce do sentido literal da Escritura (cf. CIC 115) : 
Alegórico. O primeiro é o alegórico, que revela o significado espiritual e profético da 
história da Bíblia. As interpretações alegóricas expõem como as personagens, os eventos 
e as leis da Escritura podem apontar para além deles mesmos, em direção ou a grandes 
mistérios ainda por vir (como no caso do Antigo Testamento) , ou aos frutos de mistérios 
já revelados (como no Novo Testamento) . Os cristãos freqüentemente lêem o Antigo 
Testamento dessa forma para descobrir de que modo o mistério da Nova Aliança do 
Cristo já estava contido no da Antiga - e também de que modo a Antiga Aliança foi 
manifestada plena e finalmente na Nova. A compreensão alegórica é também latente no 
Novo Testamento, especialmente no relato da vida e da obra de Jesus nos evangelhos . 
Sendo Cristo a cabeça da Igreja e a fonte de sua vida espiritual , tudo aquilo que foi reali­
zado por Ele enquanto viveu no mundo antecipa aquilo que Ele continua realizando em 
seus membros através da Graça. O sentido alegórico fortalece a virtude da fé. 
Moral. O segundo sentido espiritual da Escritura é o moral, ou tropológico, que revela 
como as ações do povo de Deus, no Antigo Testamento, e a vida de Jesus , no Novo, nos 
incitam a criar hábitos virtuosos em nossa própria vida. Nesse sentido, da Escritura se 
tiram alertas contra vícios e pecados , assim como nela se encontra a inspiração para se 
perseguir a pureza e a santidade. O sentido moral fortalece a virtude da caridade. 
I I 
Cadernos de estudo bíblico 
Anagógico. O terceiro sentido espiritual é o anagógico, que nos ascende à glória celeste: 
mostra-nos como um incontável número de eventos contidos na Bíblia prefigura nos­
sa união final com Deus na eternidade; revela-nos como as coisas visíveis na Terra são 
imagens das coisas invisíveis do Céu. O sentido anagógico leva-nos a contemplar nosso 
destino e, portanto, é próprio para o fortalecimento da virtude da esperança. 
Junto do sentido literal, esses sentidos espirituais extraem a totalidade daquilo 
que Deus quer nos dizer através de sua Palavra e, portanto, abarcam o que a antiga 
tradição chamava de "sentido total" da Sagrada Escritura. 
Tudo isso significa que os feitos e eventos narrados na Bíblia são dotados de um 
sentido que vai além do que é imediatamente aparente ao leitor. Em essência, esse 
sentido é Jesus Cristo e a salvação que, morrendo, Ele nos concedeu. Isso é correto 
sobretudo nos livros do Novo Testamento, que explicitamente proclamam Jesus; 
porém é também verdadeiro para o Antigo Testamento, que fala de Jesus de um 
modo mais camuflado e simbólico. Os autores humanos do Antigo Testamento nos 
revelaram tudo que lhes era possível revelar, mas eles não podiam, à distância em 
que estavam, ver claramente que forma tomariam os eventos futuros. Só o Espírito 
Santo, autor divino da Bíblia, podia predizer a obra salvífica do Cristo (e assim o 
fez) , da primeira página do livro do Génesis adiante. 
O Novo Testamento, portanto, não aboliu o Antigo. Ao contrário, o Novo cum­
priu o Antigo e, assim o fazendo, levantou o véu que mantinha escondida a face da 
noiva do Senhor. Uma vez removido o véu, vemos de súbito o mundo da Antiga 
Aliança cheio de esplendor. Água, fogo, nuvens, jardins, árvores, montanhas, pom­
bas, cordeiros - todas essas coisas são detalhes memoráveis na história e na poesia 
do povo de Israel. Mas agora, vistas à luz de Jesus Cristo, são muito mais que isso. 
Para o cristão que sabe ver, a água simboliza o poder salvífico do batismo; o fogo é 
o Espírito Santo; o cordeiro imaculado, o próprio Cristo crucificado; Jerusalém, a 
cidade da glória celestial. 
Essa leitura espiritual da Escritura não é novidade alguma. De fato, logo os pri­
meiros cristãos já liam a Bíblia dessa maneira. São Paulo descreve Adão como sendo 
um "tipo" que prefigurava Jesus Cristo (Rm 5, 14) .8 Um "tipo" é algo, ou alguém, ou 
um lugar ou um evento - reais - do Antigo Testamento que prenuncia algo maior 
do Novo Testamento. É desse termo que vem a palavra "tipologià', referente ao es­
tudo de como o Antigo Testamento prefigura Cristo (CIC 128-130) . Em outro tre-
8 Rm 5, 14: "Ora, a morte reinou de Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não haviam pecado, cometendo uma 
transgressão igual à de Adão, o qual é figura daquele que devia vir" (grifo adicionado). As traduções deste trecho (não só 
as brasileiras) preferem o termo figura à palavra tipo, que aparece em algumas traduções inglesas. O termo latino encon­
trado na Vulgata é forma. Aqui, mantém-se o termo tipo pela associação imediata que se faz com o conceito de tipologia 
- NE. 
12 
A carta de São Paulo aos romanos 
cho, São Paulo retira significados mais profundos da história dos filhos de Abraão, 
declarando: "Isto foi dito em alegorià' (Gl 4, 24) .9 Ele não está sugerindo que esses 
eventos distantes nunca aconteceram de fato; ele está dizendo que os eventos não só 
aconteceram mesmo como também significam algo maior ainda por vir. 
O Novo Testamento, depois, descreve o Tabernáculo da antiga Israel como sendo 
a "imitação e sombra das realidades celestes" (Hb 8 , 5) e a Lei Mosaica como "uma 
sombra dos bens futuros" (Hb 10, 1) . São Pedro, por sua vez, nota que Noé e sua 
família foram "salvos por meio da águà' que, de certo modo, "representavà' o sacra­
mento do Batismo, "que agora salva vocês" (lPd 3, 20-10) . É interessante saber que 
a palavra grega que aí foi traduzida para "representavà' é originalmente um termo 
que denota o cumprimento ou contrapartida de um antigo "tipo" . 
Não é preciso, no entanto, que busquemos justificar a leitura espiritual da Bíblia 
considerando apenas os discípulos. Afinal de contas, o próprio Jesus lia o Antigo 
Testamento assim. Ele se referia a Jonas (Mt 12, 39) , a Salomão (Mt 12, 42) , ao 
Templo Oo 2, 19) e à serpente de bronze (Jo 3, 14) como "sinais" que apontavam 
para ele mesmo. Vemos no evangelho de Lucas, quando Cristo conversa com os 
discípulos no caminho para Emaús, que "começando por Moisés e continuando por 
todos os Profetas, Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura 
que falavam a respeito dele" (Lc 24, 27) . Foi precisamente essa interpretação espiri­
tual do Antigo Testamento que causou um profundo impacto nesses viajantes, antes 
tão desencorajados, e deixou seus corações "ardendo" dentro deles (Lc 24, 32) . 
CRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 
Nós também devemos aprender a discernir o "sentido total" da Escritura e o 
modo como nele estão incluídos o sentido literal e os espirituais. Contudo, isso não 
significa que devemos "exagerar na interpretação" , buscando significados na Bíblia 
que não estão de fato nela. A exegese espiritual não é um vôo irrestrito da imagina­
ção. Pelo contrário, é uma ciência sagrada que procede de acordo com certos prin­
cípios e permanece sob a responsabilidade da sagrada tradição, o Magistério, e da 
ampla comunidade de intérpretes bíblicos (tanto os vivos quanto os mortos) . 
Na busca do sentido total de um texto, sempre devemos evitar a forte tendência 
de "espiritualizá-lo demais" , de modo que a verdade literal da Bíblia seja minimizada 
ou até negada. Santo Tomás de Aquino, muito ciente desse problema, asseverou: 
"Todos os sentidos da Sagrada Escritura devem estar fundados no literal" (cf. CIC 
9 Gl 4, 24: "Simbolicamente isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças [ . . . ]" (grifo adiciona­
do). Novamente há divergências terminológicas: as traduções ora utilizam o termo simbolicamente, ora o termo alegoria. 
O termo latino encontrado na Vulgata é allegoriam. A tradução brasileira aqui escolhida, especificamente para este caso, 
é a da Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002; assim, mantém-se o termo alegoria no sentidode concordar com a 
uniformidade terminológica do restante da introdução - NE. 
r 3 
Cadernos de estudo bíblico 
116) .10 Por outro lado, jamais devemos confinar o significado de um texto em seu 
sentido literal, indicado pelo seu autor humano, como se o divino Autor não inten­
cionasse que aquela passagem fosse lida à luz da vinda do Cristo. 
Felizmente, a Igreja nos deu diretrizes de estudo da Sagrada Escritura. O caráter 
único e a autoria divina da Bíblia nos clamam a lê-la "com o espírito" . " O Concílio 
Vaticano II delineou de forma prática esse conselho direcionando-nos a ler a Escri­
tura de acordo com três critérios específicos: 
1 . Devemos "prestar muita atenção 'ao conteúdo e à unidade da Escritura inteirà" (CIC 
1 1 2) ; 
2. Devemos "ler a Escritura dentro 'da Tradição viva da Igreja inteira' " (CIC 1 1 3) ; 
3 . Devemos "estar atento[s] 'à analogia da fé"' (CIC 1 1 4; cf. Rm 1 2 , 6) . 
Esses critérios nos protegem de muitos perigos que iludem alguns leitores da 
Bíblia, do mais novo estudante ao mais prestigiado erudito. Ler a Escritura fora de 
contexto é uma tremenda armadilha, provavelmente a mais difícil de escapar. Num 
desenho animado memorável dos anos 50, um jovem garoto, debruçado sobre as 
páginas da Bíblia, dizia à sua irmã: "Não me perturbe agora; estou tentando achar 
um versículo da Escritura que fundamente meus preconceitos" . Não há dúvida de 
que um texto bíblico, privado de seu contexto original, pode ser manipulado a dizer 
algo completamente diferente daquilo que seu autor realmente intencionava. 
Os critérios da Igreja nos guiam justamente porque definem em que consistem 
os "contextos" autênticos de cada passagem bíblica. O primeiro critério dirige-nos 
ao contexto literário de cada verso, no que se inclui não apenas as palavras e pará­
grafos que o compõem e o circundam, mas também todo o corpo de escritos do 
autor bíblico em questão e, ainda, toda a extensão dos escritos da Bíblia. O contexto 
literário completo de qualquer parte da Escritura inclui todo e qualquer texto desde o 
Gênesis até o Apocalipse - já que a Bíblia é um livro unificado, não uma coleção de 
livros separados. Quando a Igreja canonizou o livro do Apocalipse, por exemplo, ela 
reconheceu que ele seria incompreensível se lido separadamente do contexto mais 
amplo de toda a Bíblia. 
O segundo critério posiciona firmemente a Bíblia no contexto de uma comuni­
dade que valoriza sua "tradição vivà'. Tal comunidade é o Povo de Deus através dos 
séculos. Os cristãos viveram sua fé por bem mais que um milênio antes da invenção 
da imprensa. Por séculos, só alguns fiéis possuíam cópias dos evangelhos e, aliás, só 
poucas pessoas sabiam ler. Ainda assim, eles absorveram o evangelho - através dos 
10 Cf. Sto. Tomás de Aquino, Summa Theologiae I, !, 10, ad 1. 
11 Cf. Dei Verbum, 12. 
14 
A carta de São Paulo aos romanos 
sermões dos bispos e clérigos, através de oração e meditação, através da arte cristã, 
através das celebrações litúrgicas e através da tradição oral. Essas eram as expressões 
de uma "tradição viva'', de uma cultura de viva fé que se estende da antiga Israel à 
Igreja contemporânea. Para os primeiros cristãos, o evangelho não podia ser enten­
dido à parte dessa tradição. Assim também é conosco. A reverência pela tradição 
da Igreja é o que nos protege de qualquer tipo de provincianismo cultural ou cro­
nológico, como alguns modismos acadêmicos que surgem, arrebatam uma geração 
inteira de intérpretes e logo são rejeitados pela próxima geração. 
O terceiro critério coloca a Escritura dentro do quadro da fé. Se cremos que a 
Escritura é divinamente inspirada, temos de crer também que ela é internamente 
consistente e coerente com todas as doutrinas nas quais os cristãos crêem. É impor­
tante relembrar que os dogmas da Igreja (como o da Presença Real, o do papado, 
o da Imaculada Conceição) não foram adicionados à Escritura; eles são, de fato, a 
interpretação infalível da Escritura feita pela Igreja. 
USANDO ESTE ESTUDO 
Este estudo foi projetado para conduzir o leitor pela Escritura dentro das di­
retrizes da Igreja - fidelidade ao cânon, à tradição e ao credo. Os princípios in­
terpretativos usados pela Igreja, portanto, é que deram forma unificada às partes 
componentes deste livro, de modo a fazer com que o estudo do leitor seja eficaz e 
recompensador tanto quanto possível. 
Introduções. Nós fizemos uma introdução ao texto bíblico que, na forma de ensaio , 
abarca as questões sobre sua autoria, a data de sua composição, seus objetivos e propó­
sitos originais e seus temas mais recorrentes . Esse conjunto de informações históricas 
ajuda o leitor a compreender e a se aproximar do texto nos seus próprios termos. 
Comentários. Os comentários feitos em toda página ajudam o estudante a ler a Escritu­
ra com conhecimento. De forma alguma eles esgotam os significados do texto sagrado, 
mas sempre providenciam um material informativo básico que auxilia o leitor a encon­
trar o sentido do que lê. Freqüentemente, esses comentários servem para deixar explícito 
aquilo que os escritores sagrados tomavam por implícito. Eles também trazem um gran­
de número de informações históricas, culturais , geográficas e teológicas pertinentes à 
narrativa inspirada - informações que podem ajudar o leitor a suprimir a distância entre 
o mundo bíblico e o seu próprio. 
Notas e referências. Junto do texto bíblico e de seus comentários, em cada página são 
listadas numerosas notas que fazem referência a outras passagens da Escritura relaciona­
das àquela que o leitor está estudando. Essas notas de acompanhamento são essenciais 
para todo e qualquer estudo sério. São também um ótimo meio de se ver como o con-
15 
Cadernos de estudo bíblico 
teúdo da Escritura "se encaixà' numa unidade providencial . Junto às notas e referências 
bíblicas, os comentários também apontam a determinados parágrafos do Catecismo da 
Igreja Católica (CIC) . Eles não são "provas doutrinais" , e sim um auxílio para que a 
interpretação da Bíblia por parte do estudante esteja de acordo com o pensamento da 
Igreja. Os parágrafos do Catecismo mencionados ou tratam diretamente de algum texto 
bíblico ou tratam, então, de um tema mais amplo da doutrina que lança uma luz essen­
cial ao texto bíblico relacionado. 
Ensaios sobre tópicos, Estudos de palavras e Quadros. Esses recursos trazem ao leitor 
um entendimento mais profundo a respeito de determinados detalhes . Os ensaios sobre 
tópicos abordam grandes temas no sentido de explicá-los de modo mais minucioso e 
teológico do que o que se usa nos comentários gerais , relacionando-os com freqüência 
às doutrinas da Igreja. Os comentários, inclusive, são ocasionalmente complementados 
de um estudo de palavras que coloca o leitor em contato com as antigas linguagens da 
Escritura. Isso deveria ajudar o estudante a apreciar e a entender melhor a terminologia 
que foi inspirada e que percorre todos os textos sagrados. Também neste livro estão in­
cluídos vários quadros que resumem muitas informações bíblicas "num piscar de olhos" . 
Ícones . Os seguintes ícones, intercalados ao longo dos comentários, correspondem cada 
qual a um dos três critérios de interpretação bíblica promulgados pela Igreja. Pequenas 
bolas pretas (•) indicam a que passagem (ou a que passagens) cada ícone se aplica. 
fT1 Os comentários marcados pelo ícone do livro relacionam-se ao primeiro critério 
LlU interpretativo, o do "conteúdo e unidade" da Escritura, a fim de que se torne ex­
plícito o modo como determinada passagem do Antigo Testamento ilumina os mistérios 
do Novo. Muitas das informações contidas nesses comentários explicam o contexto ori­
ginal das citações e indicam a maneira e o motivo pelos quais aquele trecho tem ligação 
direta com Cristo e com a Igreja. Por esses comentários, o leitor é capaz de desenvolver 
sua sensibilidade à beleza e à unidade do plano salvífico de Deus, que perpassa ambos os 
Testamentos. 
� Os comentários marcados pelo ícone da pomba relacionam-seao segundo crité­
.. rio interpretativo e examinam as passagens em questão à luz da "tradição viva" da 
Igreja. Como o mesmo Espírito Santo foi quem inspirou os sentidos espirituais da Escri­
tura e é quem guia agora o Magistério que a interpreta, as informações contidas nesses 
comentários seguem essas duas vias da interpretação. Por um lado, referem-se aos ensi­
namentos doutrinais da Igreja da maneira como são apresentados por vários papas e 
concílios ecumênicos; por outro lado, eles expõem (e parafraseiam) as interpretações 
espirituais de vários Padres Antigos, Doutores da Igreja e santos. 
m Os comentários marcados pelo ícone das chaves relacionam-se ao terceiro critério 
W interpretativo, o da "analogia da fé" . Neles é possível decifrar como um mistério 
1 6 
A carta de São Paulo aos romanos 
da fé "desvendà' e explica outro. Esse tipo de comparação entre alguns pontos da fé 
cristã evidencia a coerência e unidade dos dogmas definidos , ou seja, da interpretação 
infalível da Escritura feita pela Igreja. 
COLOCANDO TUDO EM PERSPECTIVA 
Talvez tenhamos deixado por último o mais importante aspecto de todo este 
estudo: a vida interior individual do leitor. O que tiramos ou deixamos de tirar da 
Bíblia depende muito do modo como a abordamos. Se não mantivermos uma vida 
de oração consistente e disciplinada, jamais teremos a reverência, a profunda humil­
dade ou a graça necessária para ver a Escritura como ela de fato é. 
Você está se aproximando da "palavra de Deus" . Mas, por milhares de anos - des­
de muito antes de tecer-lhe no ventre de sua mãe -, a Palavra de Deus se aproxima 
de você. 
UMA NOTA FINAL 
O livro que tem nas mãos é apenas uma pequena parte de um trabalho muito 
maior que ainda está em andamento. Guias de estudo como este estão sendo prepa­
rados para todos os livros da Bíblia e serão publicados gradualmente, à medida que 
forem sendo finalizados. Nosso maior objetivo é publicar um grande estudo bíblico 
que, num único volume, inclua o texto completo da Escritura junto de todos os 
comentários, quadros, notas, mapas e os outros recursos encontrados nas páginas 
seguintes. Enquanto isso não acontece, cada livro será publicado individualmente, 
na esperança de que o povo de Deus possa já se beneficiar deste trabalho antes mes­
mo que esteja completo. 
Aqui incluímos ainda uma longa lista de questões de estudo, ao final , para deixar este 
formato o mais útil possível, não apenas para o estudo individual , mas também para 
discussões em grupo. As questões foram projetadas para fazer o estudante tanto compre­
ender quanto meditar a Bíblia, aplicando-a à própria vida. Rogamos a Deus para que faça 
bom uso dos seus e dos nossos esforços para renovar a face da Terra! 
17 
INTRODUÇÃO À CARTA DE SÃO PAULO AOS 
ROMANOS 
AUTORIA E DATA 
Tanto os estudiosos antigos quanto os modernos concordam que o autor da Carta 
aos Romanos é o apóstolo Paulo. Além de ter seu nome na própria carta (1, 1) , o con­
teúdo da obra é concordante com o que conhecemos do ministério e do pensamento 
de Paulo no livro dos Atos dos Apóstolos e em suas outras epístolas do NT. É tam­
bém consenso que Paulo escreveu essa carta nos últimos meses de sua terceira jornada 
missionária (At 18, 23-21, 16) , provavelmente durante o inverno, no final do ano 
57 d.C. , ou em meados de 58 d.C. . Essa afirmação tem como base informações de 
Rm 15, onde Paulo menciona seus esforços para arrecadar fundos na Macedônia e na 
Acaia (atual Grécia) "para os santos de Jerusalém que estão na pobreza" (15, 26) . De 
acordo com At 20, 1-3, Paulo passou por essas regiões logo antes de partir a Jerusalém 
para oferecer sua coleta em 58 d.C. . A carta foi provavelmente enviada da cidade Acaia 
de Corinto, ou do seu porto mais próximo, a Cencréia (Rm 16, 1) . 
DESTINATÁRIOS 
Na época de Paulo, Roma era a capital do Império Romano e a metrópole mais 
populosa do mundo mediterrâneo. Embora predominantemente pagã e notória por 
sua imoralidade, a cidade também abrigava mais de uma dúzia de sinagogas judai­
cas. O nascimento do cristianismo em Roma é um dos muitos enigmas da História 
que ainda não foram esclarecidos. O evangelho deve ter chegado primeiro à cidade 
por meio de peregrinos judeus que retornavam de Jerusalém (At 2, 10) . A Tradição 
também nos relembra que o apóstolo Pedro pregou o evangelho na capital do Im­
pério nos anos 40 do primeiro século (ver nota em nosso estudo bíblico sobre os 
Atos dos Apóstolos, 12, 17) . Independentemente de qual foi o primeiro contato de 
Roma com o evangelho, a cidade já havia adquirido uma reputação radiante por 
causa de sua fé na época em que Paulo escreveu à comunidade cristã (Rm 1, 8) . 
Pistas espalhadas por toda a carta sugerem que a igreja de Roma nesse período era 
composta por um misto de fiéis judeus (2, 17; 7, 1) e gentios (II, 13; 15, 15-16) . 
Os gentios compunham provavelmente a maioria, já que grande parte dos nomes 
citados no capítulo 16 é greco-romana e apenas uma pequena parcela é de origem 
1 9 
Cadernos de estudo bíblico 
semítica. Mesmo assim, muitos acadêmicos sustentam que a igreja de Roma ainda 
estava muito associada às comunidades das sinagogas locais, onde aparentemente 
criou suas primeiras raízes. 
FINALIDADE 
A Carta aos Romanos tem como base três objetivos principais. (1) Paulo escre­
veu-a para apresentar-se e apresentar seu ensinamento aos cristãos romanos que se 
preparavam para receber sua visita já anunciada (1, 11-13) . A igreja em Roma foi 
um dos poucos locais para os quais Paulo escreveu antes de fazer uma visita. (2) Pau­
lo esperava usar a igreja romana como plataforma para uma nova etapa missionária 
de evangelização. Tendo completado seu trabalho na região Leste do mediterrâneo, 
Paulo estava agora pronto para direcionar sua atenção e seus esforços à Espanha, no 
Oeste (15, 23-24) . A carta é a tentativa inicial de Paulo de engajar os romanos para o 
suporte e a viabilização de seus novos planos apostólicos. (3) Paulo também esperava 
aliviar as tensões que estavam impedindo a unidade e irmandade da própria igreja 
romana. A vanglória, ao que parece, era um problema tanto para os judeus quan­
to para os gentios: os judeus se vangloriavam das bênçãos e privilégios da Antiga 
Aliança (2, 1-3, 20) ; e os gentios afirmavam que haviam substituído Israel e agora 
eram o novo povo dileto de Deus (11, 13-32) . Por esse motivo, Paulo argumenta 
longamente sobre a unidade e eqüidade de todos os povos pela fé em Jesus Cristo 
(3, 28-30) e exorta os fiéis de cada nação a receberem uns aos outros como servos e 
adoradores do mesmo Senhor (10, 12; 15, 7-12) . 
TEMAS E CARACTERÍSTICAS 
A Carta aos Romanos é uma obra de profunda reflexão teológica. Como tal, ela 
provavelmente influenciou o pensamento e a história cristã mais do que qualquer 
outra epístola paulina. É sua carta mais longa e, aos olhos de muitos, a mais madura. 
De fato, Paulo pregou e defendeu o evangelho por duas décadas antes de escrevê-la, 
nos deixando um trabalho marcado por sua sabedoria, profundidade, e vigor espiri­
tual. Ainda mais do que em seus outros escritos, no entanto, a Carta aos Romanos 
é repleta de "coisas difíceis" de entender (2Pd 3, 16) . Seu estilo é mais formal que o 
de costume, e seus pensamentos vão e voltam numa rede complexa de mistérios te­
ológicos sobre pecado, juízo, retidão, justificação, santificação, salvação, sofrimento, 
lei, graça, filiação, eleição, misericórdia, sacrifício, e sobre a trindade e unidade de 
Deus. Se alguma epístola do NT pode ser considerada um tratado de teologia, essa 
epístola é a Carta aos Romanos. 
O corpo da Carta aos Romanos pode ser dividido com precisão em três partes 
principais. (!)Salvação em Cristo (l, 16-8, 39) . A carta tem início com uma vasta 
20 
A carta de São Paulo aos romanos 
acusação à humanidade, que declara o mundo culpado diante de Deus. Aqui Paulo 
afirma que o câncer da rebelião humana, que se espalhou ferrenhamente entre os 
pagãos (1, 18-32) , também contaminou Israel (2,1-3, 20) . Como resultado disso, 
todas as nações, sem distinção, ficaram escravas dessa condição vergonhosa: emara­
nhadas no pecado e em desesperada necessidade de salvação (3, 23) . Deus responde 
a essa tragédia enviando seu Filho, Jesus Cristo, cuja morte e ressurreição resgatam a 
família decaída de Adão e a reconciliam com Deus (5, 1-21) . Em muitas passagens 
dessa seção Paulo reflete profundamente sobre o mistério do pecado (6, 12-23; 7, 
7-25) e sobre a salvação que vivenciamos em Cristo e através do Espírito (8, 1-39) . 
(2) Restauração de Israel (9, 1-11, 39) . A seção central da carta examina o lugar do 
povo de Israel na nova economia da graça. Embora muitos em Israel tivessem repu­
diado o evangelho, Paulo insiste que Deus não abandonou o povo de sua aliança, 
mas planeja salvar "todo o Israel" em Cristo (11, 26-27) . Esse fato, de acordo com 
Paulo, repete o padrão das relações de Deus com Israel nas Escrituras. Esses capítu­
los também examinam como os gentios estão ligados a Israel como ramos enxerta­
dos no tronco de uma oliveira (11, 17-24) . (3) A vida cristã e Epílogo (12, 1-16, 
23) . Os capítulos finais da Carta aos Romanos são uma aplicação prática da teologia 
exposta nos capítulos anteriores. Aqui Paulo discorre sobre as obrigações do fiel na 
Igreja e na sociedade. Sua catequese segue os principais contornos dos ensinamentos 
de Jesus nos evangelhos (12, 9-21) . Nesta seção encontramos as instruções mais ex­
plícitas de Paulo sobre como deve ser a relação dos cristãos com o Estado (13, 1-7) 
e sobre a necessidade dos fiéis de exercitar a liberdade cristã com prudência, para 
prevenir que causem a queda uns dos outros (14, 1-23) . 
21 
ESQUEMA DA CARTA DE SÃO PAULO AOS ROMANOS 
1. Prólogo (1, 1-15) 
1. Saudação (1, 1-7) 
2. Ação de graças (1, 8-15) 
II. Salvação em Cristo (1, 16-8, 39) 
1. Tema: a justificação pela fé (1, 16-17) 
2. Condenação: a corrupção universal dos gentios e judeus (1, 18-3, 20) 
3. Justificação: a graça e do perdão pela fé (3, 21-5, 11) 
4. Jesus Cristo: Adão pecador, Cristo salvador (5, 12-21) 
5. Santificação: morte e vida com Cristo (6, 1-8, 11) 
6. Glorificação: o Espírito, a filiação e o sofrimento (8, 12-39) 
III. Restauração de Israel (9, 1-11, 36) 
1. Eleição de Israel (9, 1-29) 
2. Rejeição de Israel do evangelho (9, 30-10, 21) 
3. Ressurreição e salvação de Israel (1l, 1-36) 
IV. A vida cristã (12, 1-14, 23) 
1. Conduta cristã na Igreja (12, 1-21) 
2. Cidadania cristã (13, 1-7) 
3. O amor confirma a lei de Deus (13, 8-14) 
4. Irmandade e flexibilidade cristãs (14, 1-23) 
V. Epílogo (15, 1-16, 23) 
1. Admoestação ( 15, 1-7) 
2. Sumário da epístola (15, 8-13) 
3. Ministério e projetos de viagem de Paulo (15, 14-33) 
4. Saudações pessoais (16, 1-23 [24]) 
VI. Doxologia final (16, 25-27) 
2 3 
A CARTA DE SÃO PAULO AOS 
ROMANOS 
1 Saudação - 1Paulo, servo do Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de 
Deus, 2evangelho que Deus prometeu por meio de seus profetas, nas Sagradas Escrituras, 3a respeito 
de seu Filho. Este, segundo a carne, era descendente de Davi, 4mas, segundo o Espírito de santidade 
foi declarado Filho de Deus com poder, desde a ressurreição dos mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor. 5Por 
ele recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de trazermos à obediência da fé, para a glória de 
seu nome, todas as nações; 6entre as quais também vós, chamados a pertencer a Jesus Cristo. 7 A vós todos 
que estais em Roma, amados de Deus e santos por vocação: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de 
nosso Senhor, Jesus Cristo. 
Ação de graças - 8Primeiramente, dou graças ao meu Deus, por meio de Jesus Cristo, por todos vós, 
pois no mundo inteiro se faz o elogio de vossa fé. 9Deus, a quem presto um culto espiritual, servindo ao 
evangelho do seu Filho, é testemunha de que constantemente faço menção de vós, 10pedindo sempre em 
minhas orações que eu possa, enfim, fazer uma boa viagem até vós, de acordo com a vontade de Deus. 1 1 Pois 
desejo vivamente estar convosco, para vos mediar alguma dádiva espiritual, a fim de serdes confirmados, 
12ou melhor, a fim de que todos nós sejamos reconfortados, eu por vós e vós por mim, graças à fé que nos é 
comum. 13 Aliás, irmãos, deveis saber que, muitas vezes, me propus ir até vós, mas até agora fui impedido de 
realizar este propósito. Na verdade, desejo colher algum fruto, tanto entre vós como entre as demais nações. 
14Sou devedor tanto aos gregos quanto aos bárbaros, tanto aos letrados quanto às pessoas sem instrução. 
1 5Daí o meu ardente desejo de anunciar o evangelho também a vós, que estais em Roma. 
l, l: Ar 9 , 1 5 ; 1 3 , 2 ; ! Cor I, 1; 2Cor 1 , l ; GI 1, 1 5 . l, 5: At 26, 1 6- 1 8 ; Rm 1 5 , 1 8 ; GI 2 , 7. 9. l, 7: ! Cor 1 , 3; 2Cor 1 , 2 ; GI l, 3 ; Ef l , 2 ; FI 
l, 2 ; CI 1 ,2 ; l Ts l , 2 ; 2Ts 1. 2 ; ! Tm l, 2; 2Tm 1 . 2 ; Tt l, 4; Fm 3 ; 2Jo 3. 1, 8: Rm 1 6 , 1 9 . l, 10: Rm 1 5 , 23. 32; At 1 9, 2 1 . 
COMENTÁRIOS 
1, 1 -7: Paulo adapta e expande a intro­
dução convencional usada nas epístolas de 
seu tempo ("De A para B, saudações") pre­
enchendo-a com elementos cristãos . Soma­
do ao seu nome ( 1 , 1 ) e ao do destinatário 
( 1 , 7), ele adiciona seu chamado divino ao 
apostolado ( 1 , 1), introduz o evangelho ( 1 , 
2-5) e substitui a saudação costumeira, de 
desejar saúde, desejando agora graça e paz a 
seus destinatários ( 1 , 7). 
� 1 , 1 "Paulo" - Sobrenome romano 
a. usado com freqüência pelo apóstolo 
desde os primeiros dias de seu minis­
tério (At 1 3 , 9). Anteriormente ele respondia 
pelo nome hebraico "Saulo" . Assim como 
Paulo, muito judeus dos tempos do NT usa­
vam dois nomes, um semítico e um greco­
-romano (At 1, 23; 9, 36; 1 2 , 1 2 ; 1 3 , 1). 
"Servo": Ou "escravo" . Paulo não usa 
esse termo para dizer que sua submissão a 
Cadernos de estudo bíblico 
Cristo é degradante ou desumana. Paulo 
quer dizer que fez de sua vida um presente 
a Cristo , colocando todos os seus talentos e 
forças a serviço da missão que lhe foi confe­
rida (CIC 876). 
"Apóstolo": Um emissário ou mensagei­
ro enviado pelo Jesus ressuscitado para di­
vulgar o evangelho ( l Cor 9, 1 ; Gl 1 , 1 ). 
• Logo no início da carta Paulo se designa 
apóstolo, não para insuflar sua autoridade, 
mas para convencer seus leitores , de modo 
que lessem a carta com mais atenção e serie­
dade. (Teodoreto de Cirro, Interpretação de 
Romanos). 
"Separado": Mesmo antes de seu nasci­
mento, Paulo já havia sido consagrado para 
sua missão apostólica (Gl 1 , 1 5). 
1, 2: "nas Sagradas Escrituras" - A 
mensagem do evangelho é a mensagem da 
própria Bíblia. Foi profetizada e prevista há 
muito tempo nas escrituras hebraicas ( 1 5 , 4; 
1 6, 26) . Essa convicção de Paulo é vastamen­
te confirmada na Carta aos Romanos, onde 
Paulo apela ao AT mais de 60 vezes ao longo 
dos seus 1 6 capítulos (CIC 1 2 1 -23). 
1, 3-4: Possivelmente um excerto de al­
gum hino ou credo da Igreja Antiga. Essa 
passagem não está fazendo uma referência à 
dupla natureza de Cristo, humana e divina, 
mas delineia duas fases de sua vida encarna­
da, como homem (2Tm 2, 8). A linha que 
divide essas duas fases é a Ressurreição: Jesus 
descendeu da linhagem real de Davi segundo 
a carne (Rm 1 , 3), e então, ao levantar dos 
mortos, sua humanidade renasceu para uma 
vida celestial - o reinado eterno, conferido 
pelo poder do Espírito( l , 4). Esses versículos 
foram compostos com base nos conceitos da 
tradição judaica sobre o messias, encontra­
dos nos escritos da época. 
fT11, 3 "a respeito de seu Filho" - Suge­
W re que Paulo tivesse em mente passa­
gens específicas do AT sobre o "Filho" . 
• Duas passagens se encaixam na descrição: 
2Sm 7, 1 4 e SI 2, 7. Ambas se referem ao Rei 
davídico. Na antiga Israel, os reis da linha­
gem de Davi recebiam o título de "filhos" de 
Javé no dia de sua posse, segundo um decreto 
de adoção real. Paulo vê esse padrão elevar­
-se a um novo patamar na manhã da Páscoa, 
quando a humanidadede Jesus, descendente 
de Davi, é ungida e transformada para rece­
ber uma parte na glória da filiação divina - o 
reinado eterno (At 1 3 , 33-34) . Esse aconteci­
mento, que culmina na entronização de Jesus 
no Céu, cumpriu a profecia de Javé, feita na 
Aliança, de estabelecer o reino eterno de Davi 
(SI 89, 3-4; 1 32, 1 1 ; Lc 1 , 32-33; At 2, 29-36) . 
1 , 4: "declarado" - Ou "determinado" . 
Paulo não está dizendo que Jesus se tornou o 
filho divino de Deus somente depois de sua 
ressurreição, mas que a glória de sua filiação 
divina foi agora manifestada em sua huma­
nidade ressuscitada (CIC 445 , 648). 
1, 5: "obediência da fé" - Provavelmen­
te significa "a obediência que é a fé" ou "a 
obediência que nasce da fé" . A expressão, 
que tem uma reincidência no final da carta 
( 1 6, 26) , é o ponto de partida e de retorno 
da Carta aos Romanos. Ela mantém toda a 
epístola unida em torno do tema central da 
fé, que é o ato de confiar e se confiar a Deus . 
A fé inspira o amor (Gl 5 , 6) e é a base indis­
pensável para uma relação viva com Cristo 
(Rm 1 , 1 7; Hb 1 1 , 6 ; CIC 1 43 ; 1 8 1 4). 
"Todas as nações": Paulo foi feito após­
tolo tanto para os "pagãos" ( 1 1 , 1 3) quanto 
para os "israelitas" (At 9, 1 5). 
1 , 8: "no mundo inteiro" - A igreja de 
Roma já era amplamente admirada e reco­
nhecida no mundo inteiro como um exem­
plo vivo da fé cristã ( 1 6, 1 9) . Sua reputação 
continuou a crescer depois que Pedro e Pau­
lo pregaram, ensinaram e sofreram o martí­
rio na cidade, na década de 60 do primeiro 
século. Esses acontecimentos moveram a 
atenção dos primeiros cristãos de Jerusalém 
A carta de São Paulo aos romanos 
para Roma, que se tornou o novo centro de 
tradição e autoridade apostólica. Ver nota 
em nosso estudo bíblico sobre os Atos dos 
Apóstolos , 1 2 , 1 7 . 
1 , 1 1 : "desejo vivamente estar convos­
co" - Um desejo que foi cumprido quando 
Paulo chegou a Roma como prisioneiro por 
volta de 60 d.C. (At 28, 14- 1 6) 
O poder do evangelho - 1 6Eu náo me envergonho do evangelho, pois ele é a força salvadora de Deus 
para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego. 17Nele se revela a justiça de 
Deus, que vem pela fé e conduz à fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé". 
A ira de Deus contra a perversão dos homens - 18Ao mesmo tempo revela-se, lá do céu, a ira de Deus 
contra toda impiedade e injustiça humana, daqueles que por sua injustiça reprimem a verdade. 19Pois o 
que de Deus se pode conhecer é a eles manifesto, já que Deus mesmo lhes deu esse conhecimento. 20De 
fato, as perfeições invisíveis de Deus - náo somente seu poder eterno, mas também a sua eterna divindade 
- são percebidas pelo intelecto, através de suas obras, desde a criação do mundo. Portanto, eles não têm 
desculpa: 2 1 apesar de conhecerem a Deus, náo o glorificaram como Deus nem lhe deram graças. Pelo 
contrário, perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu. 22Alardeando 
sabedoria, tornaram-se tolos23e trocaram a glória do Deus incorruptível por uma imagem de seres 
corruptíveis, como: homens, pássaros, quadrúpedes, répteis. 24Por isso, Deus os entregou, dominados 
pelas paixões de seus corações, a tal impureza que eles desonram seus próprios corpos. 25Trocaram a 
verdade de Deus pela falsidade, cultuando e servindo a criatura em lugar do Criador, que é bendito para 
sempre. Amém. 
26Por tudo isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: tanto as mulheres substituíram a relaçáo natural 
por uma relaçáo antinatural, 27como também os homens abandonaram a relaçáo sexual com a mulher e 
arderam de paixáo uns pelos outros, praticando a torpeza homem com homem e recebendo em si mesmos 
a devida paga de seus desvios. 28E, porque não aprovaram alcançar a Deus pelo conhecimento, Deus os 
entregou ao seu reprovado modo de pensar. Praticaram entáo todo tipo de torpeza: 29cheios de injustiça, 
iniqüidade, avareza, malvadez, inveja, homicídio, rixa, astúcia, perversidade; intrigantes, 30difamadores, 
abominadores de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, tramadores de maldades, rebeldes aos pais, 
3 1 insensatos, traidores, sem afeiçáo, sem compaixão. 32E, apesar de conhecerem o juízo de Deus que declara 
dignos de morte os autores de tais ações, não somente as praticam, mas ainda aprovam os que as praticam. 
l, 13: Rm 1 5 , 22 . 1 , 14: ! Cor 9, 1 6. l, 16: ! Cor 1 , 1 8 . 24. l, 17: Rm 3, 2 1 ; GI 3, l l ;FI 3, 9; Hb 10 , 38; Hab 2, 4. l, 18: Ef S. 6; CI 3. 6. l , 
20: 51 1 9, l -4. l , 2 l : Ef 4, 1 7 - 1 8 . l , 23: At 1 7, 29. 
1, 14: "gregos" - Povos cultos do me­
diterrâneo que tinham como língua mãe o 
grego. 
"Bárbaros": Povos do mediterrâneo que 
falavam outras línguas que não o grego e se-
guiam seus próprios costumes nativos. Para 
mais encontros de Paulo com bárbaros, ver 
notas em nosso estudo bíblico sobre os Atos 
dos Apóstolos , 14 , 8- 1 8 e 27, 1 - 1 0 . 
1 , 16: "eu não me envergonho" - Pau-
27 
Cadernos de estudo bíblico 
lo não tinha receio nem vergonha de pregar 
o evangelho. Era necessária muita coragem 
para enfrentar a oposição endurecida de ju­
deus e gregos que consideravam sua mensa­
gem escandalosa e até mesmo ridícula ( 1 Cor 
1 , 23) . Paulo adquiriu essa coragem através 
do próprio evangelho, quando testemunhou 
seu poder vigoroso de salvação penetrando 
nas vidas dos fiéis ( 1 Cor 1 , 1 8) . 
"Primeiro para o judeu, mas também 
para o grego": Paulo pregava aos j udeus e 
aos gregos a igualdade, mas uma igualdade 
que seguia uma ordem. Essa convicção de 
que o povo de Israel deveria ser o primeiro 
a receber as bênçãos do Messias era a mes­
ma que Jesus (Mt 1 5 , 24) e Pedro (At 3, 26) 
tinham. Ver nota em nosso estudo bíblico 
sobre os Atos dos Apóstolos, 1 3 , 5 . 
fT'l 1 , 17 "a justiça de Deus" - Um dos 
LlU temas pilares da Carta aos Romanos. 
A expressão possui dois significados que se 
relacionam. (1 ) Denota a fidelidade de Javé à 
Aliança, revelada na história e nas escrituras 
de Israel . Deus se mostra justo quando man­
tém suas promessas e cumpre seus compro­
missos jurados na Aliança - abençoar os jus­
tos e mover maldições sobre os perversos (Ne 
9, 8; Sl 50, 6; 1 43 , 1 1 ; Dn 9 , 1 4; Zc 8, 8 ) . 
(2) Também denota uma graça infusa, que 
estabelece o fiel numa relação correta com 
Deus na Aliança (5 , 1 7 ; Fl 3, 9) . Esses dois 
significados trabalham juntos na Carta aos 
Romanos , especialmente em 3, 2 1 -26. Ver 
Estudo da Palavra: justificado neste estudo, 
2, 1 3 . 
"Que vem pela fé e conduz à fé": Do 
princípio ao fim, o avanço da vida cristã se 
dá por meio da fé. A expressão que Paulo 
utiliza aqui sugere que ele previa um cresci-
mento consistente na fé dos fiéis (as mesmas 
preposições são usadas na mesma seqüência 
na versão grega de Sl 84, 7 e Jr 9 , 3) . 
"O justo viverá pela fé": Uma citação de 
Hab 2, 4. 
• Habacuque, depois de se queixar a Deus e 
suplicar por justiça, recebe uma mensagem 
de esperança. Javé, embora estivesse enviando 
hordas de babilônios para punir o povo de 
Israel por causa de seus pecados, prometeu 
poupar os homens justos que mantivessem 
sua fidelidade. Recebido com fé, o evangelho 
pregado por Paulo oferece a mesma esperança 
de salvação diante do julgamento futuro (2, 
5- 1 1 ) . 
1 , 18-3, 20: Paulo pavimenta com as 
más notícias do pecado humano o caminho 
que leva às boas novas. Ele declara todas as 
nações culpadas diante de Deus : os gentios 
por rejeitarem a revelação natural de Deus 
nas coisas criadas ( 1 , 1 8-32) ; e o povo de Is­
rael por desprezar a revelação sobrenatural de 
Deus nas Escrituras (2, 1-3,20; CIC 40 1 ) . 
1 , 18-32: Paulo reflete sobre a deprava­
ção moral e espiritual dos gentios. Deus dei­
xou a si e sua lei ao alcance da razão humana 
( 1 , 1 9) , mas os gentios viraram-se obstina­
damente contra Ele , perdendo-se em pen­
samentos fúteis e insensatos ( 1 , 2 1 ) até que 
seus pecados sufocassem a Verdade em suas 
consciências ( 1 , 1 8) .Essa é a causa implícita 
de seus costumes insensatos e idólatras . 
• O diagnóstico de Paulo da corrupção se as­
semelha com a análise feita em Sb 1 1 - 1 4 . 
1 , 18: "a ira de Deus" - Não um rom­
pante de ódio que se apodera de Deus, mas a 
constante resposta ou reflexo da divina santi­
dade ao pecado. 
� 1 , 20: "perfeições invisíveis de Deus" 
.. - Paulo argumenta que nossa mente 
pode conhecer o poder e divindade de Deus 
por meio da reflexão sobre o esplendor do 
mundo (Sb 13 , 5; At 1 7, 26-28) . Falhar nessa 
compreensão é um erro inescusável, visto que 
Deus deixou-a ao alcance de todos os povos e 
em todas as épocas (CIC 1 1 47) . O ateísmo e 
a idolatria são de fato problemas morais e ape­
nas secundariamente intelectuais (CIC 2 1 25) . 
• O Concílio Vaticano 1 decretou em 1 870 
que a existência de Deus pode certamente ser 
inteligida pela razão humana (Dei Filius, cap. 
2) . Esse decreto confirma séculos de tradição 
teológica, que desenvolveu numerosos argu­
mentos filosóficos para provar a existência do 
ser supremo (CIC 3 1 -35 ) . 
1 , 21 : "seu coração insensato se obscu­
receu" - A persistência no pecado tem efei­
tos nocivos às faculdades humanas: a razão 
turva-se gradativamente até chegar ao ponto 
de cegueira intelectual, e o coração vai endu­
recendo até ficar insensível ao amor e à lei de 
Deus (Ef 4, 1 7- 1 8) . 
rT1 l , 23 "trocaram a glória" - A idola­
LJ.U tria é o erro mais evidente do paganis­
mo. É o pecado de adorar criaturas no lugar 
do Criador ( 1 , 25 ; Sb 12 , 1 0) . Os gentios do 
período bíblico adoravam imagens de ho­
mens (gregos) e animais (egípcios; CIC 
2 1 1 2- 1 4) . 
• Paulo alude a S I 1 06 , 2 0 para relembrar 
sutilmente que Israel também tropeçou no 
caminho da idolatria. Embora Javé tivesse es­
tritamente proibido Israel de construir escul­
turas (Ex 20, 4), a nação, em seus momentos 
de maior fraqueza, também venerou imagens 
de homens (Ez 1 6, 1 7) , bestas (Ex 32, 4) e 
répteis (2Rs 1 8 , 4) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 , 24: "Deus os entregou" - Deus não 
guarda seu julgamento somente para o final 
dos tempos, mas o manifesta também na His­
tória (Sl 8 1 , 1 2; Ar 7, 42) . Uma forma muito 
severa de punição divina consiste em permi­
tir que pecadores obstinados continuem pe­
cando. As graças que moveriam os pecadores 
ao arrependimento são negadas, e, em con­
seqüência disso, seu senso moral fica entor­
pecido, dando vazão a desejos desordenados. 
Paulo vê essa espécie de punição em vigor en­
tre os gentios, aos quais Deus permitiu que 
se entregassem a milhares de obscenidades e 
pecados contra a natureza ( 1 , 26. 28) , porque 
eles não O aceitaram nem à sua verdade ( 1 , 
2 1 . 25 . 28 . 32) . Em outras palavras, Deus diz 
a eles: "façam do jeito que bem entenderem" . 
1 , 27: "paixão uns pelos outros" - A prá­
tica homossexual é expressamente condenada 
no AT (Lv 1 8 , 22; 20, 1 3) , como também 
no NT ( l Cor 6, 9; lTm 1 , 1 0) . É um grave 
distúrbio que vitima homens e mulheres e os 
afasta uns dos outros e de sua complementa­
ridade natural . Para Paulo, a rebelião sexual 
contra a natureza ( 1 , 26) é apenas um sinto­
ma de uma rebelião espiritual contra Deus 
(CIC 2357-59) . 
l , 28-32: Uma das muitas listas de vícios, 
comuns nas obras de Paulo (1 Cor 6, 9- 1 O; 
Gl 5, 1 9-2 1 ) . Aqui Paulo nos descreve como 
o caos desponta nas famílias e na sociedade 
quando a relação de Deus com os homens é 
quebrada (CIC 1 8 52-53) . 
1 , 32: "conhecerem o juízo de Deus" -
Mesmo os pagãos possuem o juízo moral do 
certo e do errado. Por causa disso, eles não 
podem negar a responsabilidade sobre sua 
perversão e alegar ignorância da existência 
de Deus ( 1 , 2 1 ; CIC 1 776; 1 954) . 
Cadernos de estudo bíblico 
''Aprovam os que as praticam": Os gen- Enaltecer os pecadores encoraja-os a conti­
tios são acusados de adulação, ou seja, o pe- nuarem com seus maus costumes, e por isso 
cada de elogiar os outros por seus maus atos. é considerado um ato pecaminoso. 
2 O justo julgamento de Deus - 1Ó homem, quem quer que sejas, tu que julgas, não tens desculpa. 
Pois julgando os outros condenas a ti mesmo, já que fazes as mesmas coisas, tu que julgas. 2Üra, 
sabemos que o julgamento de Deus se exerce segundo a verdade, contra os que praticam tais coisas. 
3Ó homem, tu que julgas os que praticam tais coisas e, no entanto, as fazes também tu, pensas que 
escaparás ao julgamento de Deus? 40u será que desprezas as riquezas de sua bondade, de sua tolerância, 
de sua paciência, não entendendo que a bondade de Deus te convida à conversão? 5Por causa de teu 
endurecimento e de teu coração impenitente, estás acumulando ira para ti mesmo, no dia da ira, quando se 
revelará o justo juízo de Deus, 6que retribuirá a cada um segundo as suas obras. 7Àqueles que, perseverando 
na prática do bem, buscam a glória, a honra e a incorruptibilidade, Deus dará a vida eterna. 8Para aqueles, 
porém, que por rebeldia desobedecem à verdade e se submetem à iniqüidade, estão reservadas a ira e a 
indignação. 9'fribulação e angústia para todo aquele que faz o mal, primeiro para o judeu, mas também 
para o grego, 1 0glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu, mas também 
para o grego, 1 1 pois Deus não faz acepção de pessoas. 12Todos os que pecaram sem a Lei perecerão também 
sem a Lei; e todos os que pecaram sob o regime da Lei serão julgados de acordo com a Lei. 13Pois não são 
justos diante de Deus os que se contentam de ouvir o ensino da Lei, mas somente aqueles que observam a 
Lei é que serão justificados por Deus. 14Quando os pagãos, embora não tenham a Lei, cumprem o que a Lei 
prescreve, guiados pelo bom senso natural, esses que não têm a Lei tornam-se Lei para si mesmos. 1 5Por sua 
maneira de proceder, mostram que a Lei está inscrita em seus corações: disso dão testemunho igualmente 
sua consciência e os juízos éticos de acusação ou de defesa que fazem uns aos outros. 16É o que se verá no dia 
em que Deus vai julgar, segundo meu evangelho, por 
.
Cristo Jesus, as intenções e ações ocultas das pessoas. 
2, 1: Rm 1 4 , 22. 2, 4: Ef l, 7; 2 , 7; Fl 4, 1 9 ; Cl 1, 27. 2, 6: Mt 1 6, 27; ! Cor 3 . 8 ; 2Cor 5. 1 0; Ap 22, 1 2 . 2, l i : Dr 1 0, 1 7; 2Cr 19 , 7; Gl 2 , 
6; Ef 6, 9 ; Cl 3 . 25 ; I Pd I . 1 7. 2, 12: Rm 3 . 1 9 ; l Cor 9. 2 1 . 2, 13: Tg I . 22-23. 25 . 2, 1 6: Ec l 1 2 , 14 ; Rm 16 , 25 ; ! Cor 4, 5 . 
2, 1-3, 20: Paulo agora restringe sua 
acusação contra o mundo, concentrando­
-se nos erros de Israel . Ele acusa os judeus 
(3, 9) , que, mesmo possuindo a Torá para 
organizar sua adoração e sua conduta, co­
metiam os mesmos pecados que os gentios. 
Estilísticamente, Paulo emprega nesta seção 
uma técnica de escrita chamada "diatribe" , 
que consiste em emular um debate entre o 
escritor (Paulo) e um leitor hipotético (um 
judeu, em 2, 1 7) . Escritores da antigüidade 
grega usavam esse recurso de pergunta e res­
posta para explicar suas idéias já antecipan­
do objeções de seus leitores e ouvintes. Essa 
técnica é utilizada ao longo de toda a epístola 
(2, 1 7-23; 3, 1 -9 . 27-29; 4, l ; etc.) . 
2, 3: "escaparás ao julgamento de 
Deus?" - A presunção era uma tentação para 
muitos judeus do período bíblico, que acre­
ditavam que sua filiação à Antiga Aliança e 
descendência israelita iriam isentá-los do jul­
gamento de Deus (Mt 3, 9; ]o 8, 33) . Paulo 
ataca essa mentalidade e a conduta arrogante 
conseqüente dela. 
n 2, 4 "tolerância'' - o tempo que 
.. Deus confere para que o pecador se 
arrependa é uma graça (Sb 1 1 , 23; 2Pd 3 , 9) . 
Fazer pouco dessa dádiva é demonstrar des­
prezo à Sua misericórdia. 
• Tolerância se diferencia de paciência. Deus 
tolera aqueles que pecam por fraqueza, mas 
suporta com pac1encia aqueles que pecam 
deliberada e descaradamente. Essa paciência 
tem limites, como podemos ver quando Deus 
afoga uma geração inteira no dilúvio para 
destruir os ateus de Sodoma (Orígenes, Co­
mentáriosobre Romanos 2, 3 ) . 
2, 6: "segundo suas obras" - Paulo olha 
à frente, para o último dia, quando a vida de 
cada pessoa será completamente escancarada 
diante de Deus, e cada pensamento ( 1 Cor 
4, 5 ) , palavra (Mt 12 , 36) e ação (2Cor 5 , 
1 0) será pesado na balança da justiça divina. 
A doutrina de que Deus irá determinar seu 
veredicto com base nas obras humanas tem 
origem no AT (SI 62, 1 2; Pv 24, 1 2) . Foi 
mais tarde confirmada por Jesus (Mt 1 6, 27) 
e reiterada pelos apóstolos (2Cor 5, 1 O; 1 Pd 
1 , 1 7) . Paulo está ressaltando aqui que tanto 
os judeus quanto os gentios serão julgados 
segundo o mesmo padrão (CIC 682) . 
2, 1 1 : "Deus não faz acepção de pesso­
as" - Os judeus não podem esperar nenhum 
favoritismo de Deus no Juízo Final (At 1 O, 
34-35) . O que é preciso é que os homens se 
arrependam do mal a tempo, de modo que 
A carta de São Paulo aos romanos 
possam submeter suas vidas a Deus (2, 7) e 
não mais a si próprios e às suas ambições su­
pérfluas (2, 8) . 
2, 13: "os que se contentam de ouvir" -
A salvação é garantida, não para todos judeus 
que ouvem a Torá na sinagoga (Ar 1 5 , 2 1 ) , 
mas para aqueles que põem em prática o que 
ouvem (Tg 1 , 22-25) . 
� 2, 14: "cumprem o que a lei prescre­
.. ve [ . . . ] bom senso natural" - A expres­
são grega pode ser entendida de duas manei­
ras. (1) Se mantivermos, como na tradução, o 
verbo "cumprem" ,significa que os gentios se­
guiam a lei natural, inscrita por Deus em seus 
corações (CIC 1 954; 2070) ; (2) Se modificar­
mos o verbo para "têm" , significa queos gen­
tios não tinham sido privilegiados desde o 
nascimento pela lei de Moisés. Esse é o senti­
do aplicado em 2, 27 (ter fisicamente) . 
• Quando Paulo diz que os gentios "man­
têm por bom senso natural" a Lei, ele está 
se referindo não à natureza separada da graça 
[enquanto corrompida pelo pecado original] , 
mas à que agora é curada e restaurada pela 
graça (Sto. Agostinho, O espírito e a letra, 47) . 
Os judeus e a Lei - 1 7Tu te chamas judeu e colocas na Lei tua segurança, e em Deus, a tua glória; 1 8tu 
aprendeste da Lei qual é sua vontade e sabes discernir o que é realmente imporrante; 19tu estás convencido 
de ser guia dos cegos, luz dos que se acham nas trevas, 20instrutor de ignorantes, mestre de pessoas simples, 
porque tens na Lei a lídima expressão do conhecimento e da verdade . . . 21 Como, então, ensinas aos outros 
e a ti mesmo não ensinas? Pregas que não se pode roubar e tu mesmo roubas? 22Dizes que não se pode 
cometer adultério e tu mesmo cometes? Detestas os ídolos e, no entanto, roubas os templos? 23Tu, que 
te glorias da Lei, desonras a Deus com tuas transgressões da Lei? 24De faro, como está escrito, "o nome 
de Deus é blasfemado entre as nações por causa de vós!"25Por um lado, a circuncisão é útil, se cumpres a 
Lei . Por outro lado, se transgrides a Lei, mesmo com tua circuncisão não passas de um incircunciso. 26Se, 
porranto, o incircunciso observar as prescrições da Lei, não será ele tido como circunciso? 27Mais ainda: o 
incircunciso que cumpre a Lei te condenará a ti, que transgrides a Lei, embora possuas as Escrituras e sejas 
circuncidado. 28Não é verdadeiro judeu o que parece tal apenas pelo exterior, nem é verdadeira circuncisão 
uma simples incisão na carne. 29Verdadeiro judeu é o que se distingue como judeu por seu interior, e 
verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o espírito e não segundo a letra. Esta é que recebe o louvor, 
não dos homens, mas de Deus . 
2, 18: FI l , 1 0. 2, 20: Rm 6, 1 7 ; 2Tm 1 , 1 3 . 2, 2 1 : Mr 23, 3-4. 2, 24: Is 52. 5. 2, 25: Jr 9, 25 . 2, 26: 1 Cor 7, 1 9 ; Ar 1 0 , 35 . 2, 27: Mt 1 2 . 
4 1 . 2, 28: Mr 3. 9; ]o 8. 39; Rm 9. 6-7; GI 6. 1 5 . 2, 29: 2Cor 3. 6; FI 3. 3; CI 2, 1 1 ; 1 Pd 3. 4. 
Cadernos de estudo bíblico 
2, 17-29: Paulo fulmina o judeu que se ção (2, 4) , ele agora é acusado de hipocrisia 
gaba de possuir a Torá, mas não a põe em (2, 23) . 
prática. Anteriormente acusado de presun-
ESTUDO DA PALAVRA: }USlJFICADO (RM 2, 13) 
D 
ikaioo (grego) : O verbo significa "absolver" , "vindicar" ou "declarar justo" , 
e é usado 1 5 vezes na Carta aos Romanos e 24 vezes no resto do NT. 
Pode ser usado para descrever como os homens fazem para parecerem 
justos diante dos outros (Lc 1 6, 1 5) e também como uma forma de expressar o 
reconhecimento da justiça de Deus (Lc 7, 29) . Em um contexto jurídico, um juiz 
j ustifica um inocente quando o absolve de acusações sem p rova (Ex23, 7; Dt 25 , 
1 ; l Cor 4, 4) . Esse termo recebe grande significância teológica quando Deus é 
aquele que justifica. Principalmente nos escritos de Paulo o termo é usado para 
descrever como Deus estabelece o homem em uma relação apropriada com Ele em 
sua aliança. Essa adequação tornou-se possível com a morte do Cristo (Rm 5, 9) , 
que nos liberta do pecado (At 1 3 , 39; Rm 6, 7) pelo dom gratuito da graça (Rm 
3, 24) . Essa graça é recebida por meio da fé (Rm 3, 26; 5, 1 ) e ocorre no Batismo 
( 1 Cor 6, 1 1 ) . Quando Deus absolve o pecador, Ele também o adota como um 
de seus próprios filhos, tornando-o herdeiro da vida eterna (Tt 3, 7) . Para Paulo, 
o decreto justificador de Deus opera em nós uma transformação interior que nos 
faz santos e justos à sua vista (Rm 5 , 1 9; CIC 654; 1 987-95 ) . 
llJ 2 , 1 9 "luz [ . . . ] nas trevas" - O povo de 
Israel foi convocado a compartilhar 
sua sabedoria com todas as nações como tes­
temunha viva dos caminhos da justiça. 
• Esse chamado à atividade missionária tem 
raízes no Pentateuco (Dt 4, 5-8) e alcança sua 
plenitude em Isaías (Is 42, 6; 49, 6) . Paulo 
acusa os j udeus de não terem respondido a 
essa convocação: Em vez de serem luz para os 
povos gentios, transgrediram obstinadamente 
a Lei se tornaram como eles. 
llJ 2, 24 "O nome de Deus" - Uma ci­
tação da versão grega de Is 52 , 5 . 
• Isaías relembra o povo de Israel que devido 
às suas iniqüidades, que os levaram ao exí­
lio, espalhando-os entre as nações, o próprio 
nome de Javé foi desonrado, manchando sua 
reputação por todo o mundo. Para Paulo, a 
contínua infidelidade dos judeus à Torá per­
petuou esse legado vergonhoso. 
2, 29: "verdadeira circuncisão" - A cir­
cuncisão física era o sinal visível da aliança 
de Abraão ( Gn 1 7, 9- 14) e o rito de iniciação 
para o ingresso na família de Israel (Lv 1 2 , 
3) . Entretanto, a própria Torá ensina que a 
circuncisão do corpo aponta para uma ne­
cessidade mais profunda: a de circuncidar o 
coração , consagrando-o a Deus e talhando 
suas inclinações à rebeldia (Lv 26, 4 1 ; Dt 
1 0 , 1 6) . Deus circuncida o coração dos fi-
3 2 
éis no Batismo (Cl 2, 1 1 - 1 2) , como havia 
prometido a Moisés que o faria nos tempos 
do restabelecimento (Dt 30, 6) . Como resul­
tado disso, na nova economia da graça esse 
procedimento espiritual torna desnecessário 
o procedimento literal ( l Cor 7, 1 9 ; Gl 6, 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 5 ; Fl 3, 3) . 
"O louvor" - Uma brincadeira morfo­
lógica com o termo "judeus" , que deriva do 
nome hebraico "judá" , relacionado à idéia de 
"louvor" (Gn 29, 35) . 
3 'Então, qual a superioridade do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? 2Grande, e sob todos os 
pontos de vista. Primeiro, porque a eles, os judeus, é que foram confiados os oráculos de Deus. 3Que 
importa, se alguns não creram? Acaso a incredulidade deles vai anular a fidelidade de Deus? 4De modo 
algum. Seja Deus reconhecido veraz, e todo ser humano, mentiroso, como está escrito: "De modo que 
sejas reconhecido justo nas tuas palavras e saias vitorioso, quando fores julgado". 5Mas, se nossa injustiça 
realça a justiça de Deus, que diremos? Que Deus é injusto, quando em sua ira nos fere? (Estou falando em 
termos humanos.) 6De modo algum. Do contrário, como Deus iria julgar o mundo? 7No entanto, se, por 
minha falsidade, a veracidade de Deus sobressaiu para a sua glória, por que seria eu ainda condenado como 
pecador? 8E então, por que não faríamos o mal, para que daí resulteo bem, como alguns caluniosamente 
afirmam que nós dizemos? (Esses merecem a condenação!) 
3, 2: 51 1 47, 1 9 ; Rrn 9, 4. 3, 4: Sl 5 1 , 4 . 3, 5: Rrn 5, 9; 6, 1 9 ; 1 Cor 9, 8 ; Gl 3 , 1 5 . 3, 8: Rrn 6. 1 . 1 5 . 
COMENTÁRIOS 
3, 2: "os oráculos de Deus" - A Torá di­
tada a Moisés, escrita para o povo de Israel. A 
lei mosaica deu grandes vantagens ao povo da 
Aliança em comparação com o resto do mun­
do, pois organizou sua adoração, lhes forne­
ceu diretrizes claras para a conduta e convi­
vência cotidiana, e os aproximou de Deus. 
Um rol desses benefícios é listado em 9, 4-5 . 
3, 3: "fidelidade" - Apesar das trans­
gressões de Israel, Javé nunca renunciou seu 
compromisso com seu povo ou sua obriga-
ção de manter os acordos de suas alianças 
( 1 1 , 1 ) . 
lJJ 3 , 4 "que sejas reconhecido justo" 
- Uma citação de Sl 5 1 , 4 . 
No Salmo, Davi suplica pela misericórdia 
divina. Embora esmagado pelo peso de seus 
pecados, ele não ousa acusar Deus de iniqüi­
dade, mas insiste que o Senhor é perfeitamen­
te justo quando pune o pecador e o torna res­
ponsável por seu mau comportamento. 
3 3 
Cadernos de estudo bíblico 
Não há justo - 9Que diremos pois? Será que nós, judeus, levamos alguma vantagem? De modo algum! 
De fato, já denunciamos que todos, judeus e gregos, estão sob o domínio do pecado, 'ºcomo está escrito : 
"Não há justo, nem mesmo um só; "não há quem seja sensato, não há quem busque a Deus. 1 2 Todos se 
desviaram, degeneraram todos juntos. Não há ninguém que faça o bem, nem mesmo um só. 13 Um sepulcro 
aberto, sua garganta, suas línguas sempre a enganar; sob seus lábios, veneno de víbora; 14sua boca é cheia de 
imprecações e amargor;'5velozes são seus pés para derramar sangue, 16seus caminhos são cobertos de ruína e 
desgraça; 17 desconheceram o caminho da paz; 1 8diante de seus olhos não existe temor de Deus". 1 90ra, sabemos 
que tudo quanto diz a Lei, ela o diz para os que a ela estão sujeitos. Assim, toda boca se cala e todo o 
mundo se reconhece culpável diante de Deus, 2ºporquanto ninguém será justificado diante dele pela 
prática da Lei. Pois a Lei dá apenas o conhecimento do pecado. 
A retidão através da fé - 21Agora, sem depender da Lei, a justiça de Deus se manifestou, atestada pela Lei 
e pelos Profetas, 22justiça de Deus que se realiza mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem; 
pois não há diferença: 23todos pecaram e estão privados da glória de Deus . 24E só podem ser justificados 
gratuitamente, pela graça de Deus, em virtude da redenção no Cristo Jesus. 25É ele que Deus destinou a 
ser, por seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a fé. Assim, Deus demonstrou sua justiça, 
deixando sem castigo os pecados cometidos outrora, 26no tempo de sua tolerância. Assim também, ele 
demonstra sua justiça, no tempo presente, a fim de ser justo, e tornar justo todo aquele que se firma na fé 
em Jesus. 270nde fica então o orgulho? Fica excluído. Por qual lei? Pela lei das obras? Não, mas sim pela lei 
da fé. 28Pois julgamos que a pessoa é justificada pela fé, sem a prática da Lei. 29Acaso Deus é só dos judeus? 
Não é também Deus dos pagãos? Sim, é também Deus dos pagãos. 30De faro, Deus é um só: ele justificará 
os circuncisos em virtude da fé, e os incircuncisos, mediante a fé. 3 1Então, pela fé anulamos a Lei? De modo 
algum. Pelo contrário, a confirmamos. 
3, 9: Rm 1 , 1 8-32; 2 , 1 -29; 1 I . 32 ; 3, 23. 3, 10-12: SI 14 , 1 -3 . 3, 13: SI 5 , 9 ; 1 40, 3. 3, 14: SI 1 0 , 7 . 3, 1 5-17: Is 59, 7-8. 3, 18: SI 36, 1 . 3, 
19: Rm 2 , 1 2. 3, 20: SI 1 43 , 2 ; A< 1 3 . 39; GI 2 , 1 6 ; 3 . 1 1 ; Rm 7. 7. 3, 21 : Rm 1 , 1 7; FI 3 , 9 ; 2Pd l , ! . 3, 22: Rm 4, 5 ; 9, 30; 1 0, 1 2; Gl 2, 
1 6. 3, 23: Rm 3, 9 . 3, 24: Rm 4, 1 6; 5 , 9; Ef 2, 8 ; T< 3 , 7; Ef l, 7; Cl 1, 1 4 ; Hb 9 , 1 5 . 3, 26: l)o 2, 2 ; Cl I . 20. 3, 28: At 1 3 , 39; Rm 5 . l ; 
Ef 2, 9 . 3, 29: Rm 9 , 24; A< 1 0, 34-35 . 3, 30: Rm 4 , 1 1 - 1 2 . 1 6. 3 , 3 1 : Rm 8 , 4 ; M t 5 . 1 7. 
3, 8: "faríamos o mal, para que daí re­
sulte o bem" - Paulo foi acusado de ensinar 
que os fins justificam os meios. Ele refuta 
essa idéia vigorosamente, afirmando que 
nunca podemos fazer o mal na esperança de 
tirar dele algum bem. Tanto os atos (meios) 
quanto a intenções (fins) devem ser puros 
para que nossas obras sejam moralmente 
aceitáveis (CIC 1 789) . 
3, 9: "sob o domínio do pecado" - Pau­
lo atinge o clímax de sua argumentação com 
a acusação de que todas as nações estão es­
cravas do pecado e necessitam de salvação. 
Nem mesmo os judeus, que esbanjam tantas 
bênçãos e vantagens, conseguiram vencer 
sua natureza decaída e expulsar o pecado de 
suas vidas . Paulo dá testemunho dessa escra­
vidão espiritual de Israel citando passagens 
da Escritura nos próximos nove versículos. 
fT1 3, 10- 1 8 - Seis citações do AT con­
LlU firmam a acusação de Paulo de que a 
maldade havia florescido em Israel . Esta se­
qüência é composta por citações de SI 1 4 , 
3; SI 5 , 9 ; SI 1 40 , 3 ; SI 1 0 , 7; Is 59 , 7-8 ; e SI 
36, 1 . 
• Muitas das passagens citadas estão tratan­
do da distinção entre os justos e os perversos, 
o que sugere que Paulo não esteja acusando 
rodos os israelitas sem exceção. Paulo quer 
3 4 
alertar Israel de que o pecado tomou conta 
do povo da Aliança do mesmo modo que do 
resto do mundo. Ele também está mostran­
do que o pecado, que se espalhou por toda a 
humanidade, também se espalhou pelo corpo 
daqueles que fazem de seus membros instru­
mentos da maldade (6, 1 3) . Com apenas uma 
exceção, todas as passagens citadas fazem re­
ferência a membros do corpo humano (gar­
ganta, línguas, lábios em 3 , 1 3 , boca em 3 , 
1 4, pés em 3, 1 5 , olhos em 3 , 1 8) . 
3, 20: "prática da Lei" - Paulo aplica 
essa expressão oito vezes em seus escritos, 
duas vezes na Carta aos Romanos (3, 20. 28) 
e seis vezes na Carta aos Gálatas (Gl 2 , 1 6; 3 , 
2 . 5 . 1 0) . Estudiosos cristãos, antigos e mo­
dernos , a interpretam de maneiras diversas . 
(1 ) Alguns, como Sto. Agostinho, acreditam 
que a expressão se refere à observância de 
todo o conjunto da Lei de Moisés. Segun­
do essa interpretação, Paulo estaria alegando 
que nenhum ato de obediência aos manda­
mentos morais, cerimoniais, ou jurídicos 
da Torá garantiria a justificação do pecador. 
(2) Outros, como São Jerônimo, entendem 
que a expressão se refere somente às leis ce­
rimoniais de Moisés, como a circuncisão, 
as restrições de alimentos, os dias de festa, 
e as observâncias do Sábado. Segundo essa 
interpretação, Paulo estaria alegando que as 
obrigações rituais da Torá, que definiram a 
conduta dos judeus durante a era de Moi­
sés, haviam se tornado obsoletas na Nova 
Aliança e já não tinham relevância. As duas 
interpretações estão corretas , se colocadas 
em seu contexto adequado: a justificação do 
Batismo acontece independentemente de 
qualquer observância da Lei que seja (Tt 3 , 
A carta de São Paulo aos romanos 
4-7) , enquanto que a justificação do Juízo 
Final independe da parte cerimonial da Lei , 
mas não da observância de seus mandamen­
tos morais (Rm 2, 1 3 ; Mt 1 9 , 1 6- 1 9 ; l Cor 
7, 1 9 ; Tg 2 , 8- 1 3) . 
"Conhecimento do pecado": A Torá de­
fine o que é bom e mau, funcionando como 
um detector moral, que descobre e expõe os 
pecados do povo de Israel (2, 1 7-23; 7, 7; 
Hb 1 0 , 1 -3) . Ver ensaio sobre um tópico: As 
obras e a Leiem nosso estudo bíblico sobre a 
Carta de São Paulo aos Gálatas , 3 . 
3, 21-26: Paulo muda da trágica história 
do pecado ( 1 , 1 8-3, 20) para a obra reden­
tora de Cristo (3 , 2 1 -8, 39) . Nesses versí­
culos de transição, Paulo retoma seu discurso 
sobre a "justiça de Deus" , introduzido em 1 , 
1 6- 1 7 . 
3, 2 1 : "a Lei e os Profetas" - As Es­
crituras prepararam Israel para receber um 
Messias que iria vencer o diabo (Gn 3 , 1 5) , 
expiar o s pecados (Is 53 , 1 0- 1 2) e renovar o 
coração do homem (Ez 36, 25-27) pela fun­
dação de uma nova aliança (Jr 3 1 ,

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