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Introdução ao Direito Penal


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Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CADERNO DO MONITOR 
 
INTRODUÇÃO 
 
CONCEITO DE DIREITO PENAL 
 
Direito Penal é o ramo do ordenamento jurídico que define crime e contravenção 
penal e comina pena e medida de segurança. Para Claus Roxin, Direito Penal é o 
conjunto de preceitos que regulam os pressupostos e consequências de uma conduta 
cominada com pena ou medida de segurança. 
Os crimes são definidos por meio da descrição da conduta proibida. Por exemplo, 
ao definir o crime de homicídio, nosso Código Penal descreve a conduta proibida de 
matar: art. 121: matar alguém. Essa descrição é chamada de tipo penal. 
A pena é a resposta estatal à violação da norma penal. Porém, somente é aplicada 
a quem pode ser reprovado face o Direito, ou seja, a quem é imputável. Algumas pessoas, 
por falta de sanidade mental ou por menoridade, não são reprováveis (são inimputáveis) 
e, portanto, não estão sujeitas à pena. Aos doentes mentais que praticam alguma conduta 
criminosa são aplicadas medidas de segurança, que pode ser um tratamento ambulatorial, 
por exemplo. Já os menores de 18 anos não estão sujeitos ao Direito Penal e sim ao 
Direito da Criança e do Adolescente, regulado pelo ECA (Estatuto da Criança e do 
Adolescente). Quando um menor pratica algum fato análogo a crime, isto é, um ato 
infracional
1
, contra ele é imposta uma medida socioeducativa. 
No Brasil, a pena mais grave é a privativa de liberdade (prisão) de 30 anos. A 
medida socioeducativa mais grave é uma internação de 3 anos. Esse limite legal não 
 
1
 Art. 103 do ECA: Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
FACULDADE DE DIREITO 
DEPARTAMENTO DE DIREITO E PROCESSO PENAL 
PROGRAMA DE MONITORIA 
DIREITO PENAL I 
Professor Orientador: Luís Augusto Sanzo Brodt 
Monitor: Wilson Alves Ferreira 
Semestre: 2019/1 
 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 2 
 
existe nas medidas de segurança, que podem ser impostas enquanto for necessário, o que 
é problemático, haja vista a vedação constitucional à pena perpétua. 
 
 DIREITO PENAL OU DIREITO CRIMINAL? 
 
Parte da doutrina defende a terminologia Direito Criminal e critica que Direito 
Penal enfatiza demasiadamente a pena, que não é a única resposta estatal à prática de 
crime, haja vista que existe também a medida de segurança. Além disso, o crime é a 
forma mais grave de violação da norma jurídica penal. No entanto, a doutrina majoritária, 
como a de Fernando Galvão, defende que Direito Penal é mais adequado porque o crime 
não é a única infração penal, sendo que o ordenamento jurídico estabelece também as 
contravenções penais. Ademais, a pena é a consequência normal da infração penal e as 
medidas de segurança são aplicadas somente quando o agente é psicologicamente 
incapaz de compreender o caráter ilícito da conduta criminosa. 
Para Nilo Batista, a melhor expressão é Direito Penal porque a pena é condição de 
existência jurídica do crime e que mesmo a medida de segurança constitui-se com caráter 
retributivo, possuindo, portanto, um matiz penal. No Brasil adotou-se Direito Penal. A 
expressão Direito Criminal vigorou aqui somente com o Código Criminal de 1930. 
 
DIREITO PENAL, CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL 
 
 
Direito Penal e Criminologia 
 
 O Direito Penal criminaliza condutas, mas não se pergunta sobre o ser destas condutas, 
o que elas representam na biografia do sujeito, da problemática geral das condutas criminosas 
na vida social etc. A Criminologia é a ciência que estuda a criminalidade do ponto de vista 
biopsicossocial, estudando, portanto, a conduta criminosa e seu autor. 
 
Criminologia clássica: Os postulados consagrados pelo Iluminismo, que de certa forma 
foram sintetizados no “Dos delitos e das penas”, de Cesare de Beccaria, serviram como 
fundamento básico para essa doutrina, que buscava impedir as torturas e desrespeitos à 
condição humana no sistema penal. Segundo esta doutrina, o fundamento do direito de 
punir do Estado está em um contrato social e a punibilidade é fundada no livre-arbítrio do 
agente. 
Criminologia positivista: Se opondo à concepção individualista da Escola Clássica, essa 
doutrina se colocou na tarefa de defender mais o corpo social contra condutas 
delinquentes. A criminologia aqui é entendida como uma ciência causal-explicativa do 
delito, ou seja, que trata de explicar as causas da conduta criminosa. Nesse campo, se 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 3 
 
conformam a Antropologia Criminal e a Sociologia Criminal, que constituem o 
Paradigma Etiológico da criminologia. A Antropologia Criminal surge com o médico 
italiano Cesare Lombroso, que procurou explicar a causa do comportamento criminoso 
por meio de estigmas físicos (assimetria do rosto, dentição anormal etc) e psíquicos do 
agente: a causa do crime é identificada no próprio criminoso. A Sociologia Criminal se 
consolida com Enrico Ferri, que sustentou a teoria sobre a inexistência do livre-arbítrio, 
considerando que a pena não se impunha pela capacidade de autodeterminação da pessoa, 
mas pelo fato de ser um membro da sociedade. 
Criminologia da reação social: Superado o paradigma etiológico, surge o Paradigma da 
Reação Social, que analisa a criminalidade a partir da interação entre indivíduo e 
sociedade. Segundo esta doutrina, infringir a norma penal, por si só, não faz uma pessoa 
ser criminosa, é necessário também que o agente esteja dentro do grupo perseguido pelo 
aparato estatal, ou seja, que o indivíduo esteja “rotulado” ou “etiquetado”. Geralmente, 
esse grupo é formado por pessoas pobres e negras, estigmatizadas pelo sistema penal. 
Essa perspectiva da reação social explica mais adequadamente os “crimes de colarinho 
branco”, termo introduzido por Edwin Sutherland para se referir aos crimes praticados 
por ricos. Destarte, a criminalidade é comum a todas as classes sociais, mas o Estado 
rotula apenas uma, a dos pobres. 
Criminologia crítica: essa vertente, que emana do paradigma da reação social, utiliza os 
postulados marxistas para demonstrar que o Direito Penal se concentra na classe 
trabalhadora como estratégia de controle e vigilância da classe dominante para proteger 
seus bens. 
 
Direito Penal e Política Criminal 
 A política criminal é um capítulo da política geral relativo ao fenômeno criminal. 
É a arte ou a ciência de governo que trata da questão criminal. A política criminal guia 
decisões tomadas pelo poder político ou proporciona os argumentos para criticar essas 
decisões, cumprindo então funções de guia e de crítica. Segundo Eugenio Zaffaroni, 
política criminal é a ciência ou a arte de selecionar os bens que devem ser tutelados 
jurídica e penalmente, e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que implica a 
crítica dos valores e caminhos já eleitos. Para Nilo Batista, a política criminal é composta 
por princípios e recomendações para a reforma da legislação penal e dos órgãos 
encarregados por sua aplicação. 
 
 ACEPÇÕES DO TERMO DIREITO PENAL 
 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 4 
 
Direito Penal objetivo: É o conjunto de normas jurídicas que regulam a atividade estatal 
de definir crimes e cominar as respectivas sanções. É constituído, assim, pelo Código 
Penal e por leis penais extravagantes (leis penais fora do Código Penal). 
Direito Penal subjetivo: É o jus puniendi, ou seja, o direito de punir, cuja titularidade 
pertence exclusivamente ao Estado. Praticado o crime por alguém, nasce para o Estado 
esse jus puniendi. Alguns doutrinadores são críticos a essa ideia, como Nilo Batista, que 
prefere falar em poder de punir e não direito de punir. Vale ressaltar que o art. 22, I, da 
Constituição Federal, define que cabe privativamente à Uniãolegislar sobre Direito 
Penal. 
Dogmática Penal (Ciência Penal): O termo Direito Penal também diz respeito ao saber 
da Ciência Penal, que desempenha papel de analisar valorativa e criticamente o texto 
legal da norma penal, sendo o sistema de interpretação da legislação penal, que recebe 
também o nome de Dogmática Penal. O método dogmático se completa com as seguinte 
fases: Reunião do conjunto de leis do Direito Penal objetivo > Interpretação deste 
conjunto > Construção de conceitos e institutos > Organização dos institutos e formação 
do sistema penal. 
Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo: Esta distinção já não vigora mais 
em nossa dogmática, mas sempre é lembrada por nossos doutrinadores. Direito Penal 
substantivo, também chamado de direito penal material, seria o direito penal 
propriamente dito, composto por normas que definem crimes e cominam as respectivas 
sanções. Direito Penal adjetivo, ou formal, seria o direito processual penal, que determina 
a forma como deve ser aplicado o direito penal, sendo o instrumento de aplicação do 
direito penal substantivo. 
Direito Penal comum e Direito Penal especial: O Direito Penal comum é aquele cujas 
normas podem ser aplicadas através da Justiça Comum. Já o Direito Penal especial é 
aquele cujas normas somente são aplicadas por órgãos da Justiça Especial. Assim, no 
Brasil há dois ramos do Direito Penal especial: o Direito Penal Militar e o Direito Penal 
Eleitoral, que são aplicados pela Justiça Militar e pela Justiça Eleitoral, respectivamente. 
É necessário destacar que essa distinção não pode ser confundida com legislação penal 
comum (o Código Penal) e legislação penal especial, também conhecida como legislação 
extravagante, que é constituída por leis penais fora do Código Penal. 
Direito de Execução Penal (penitenciário): A execução da pena apresenta uma grande 
complexidade, sobretudo quando se trata de penas privativas de liberdade, o que vem 
fazendo que seja cada vez mais regulamentada em lei, especialmente na Lei de Execução 
Penal (LEP). Essa regulamentação fez surgir um ramo acessório do Direito Penal, 
chamado de Direito de Execução Penal, Direito Penitenciário ou Direito Penal Executivo. 
O Direito Penal fixa o objetivo geral da pena, de prevenção, e o direito penitenciário 
regula a forma em que deve realizar esta tarefa preventiva. Esse ramo regula, por 
exemplo, o regime de cumprimento da pena privativa de liberdade. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 5 
 
 FUNÇÃO DO DIREITO PENAL 
 
A doutrina majoritária defende que o Direito Penal serve para garantir o convívio 
em sociedade por meio da proteção dos bens jurídicos mais importantes. Argumenta-se 
que ao criminalizar condutas que violem bens jurídicos, o Direito Penal dá a eles a 
proteção necessária, pois coibiria aquelas condutas. 
Claus Roxin define bem jurídico como circunstâncias reais dadas ou finalidades 
necessárias para uma vida segura e livre, que garanta a todos os direitos humanos e civis 
de cada um na sociedade ou para o funcionamento de um sistema estatal que se baseia 
nestes objetivos. 
Na criminalização de condutas (e consequente proteção dos bens jurídicos), o 
legislador deve levar em consideração os aspectos de fragmentariedade e subsidiariedade 
do direito penal. A fragmentariedade significa que somente podem ser punidas condutas 
que lesem, ou ameacem de lesão, de forma grave os bens jurídicos mais importantes. O 
direito penal deve se ocupar apenas dos casos mais graves de violação dos bens jurídicos 
mais importantes. A subsidiariedade significa que o direito penal somente pode atuar 
quando outros ramos do ordenamento jurídico não forem capazes de dar a devida 
proteção ao bem jurídico. O direito penal tem caráter subsidiário em relação aos outros 
ramos do Direito. Quando determinadas condutas puderem ser suficientemente proibidas 
pelo Direito Administrativo ou Direito Civil, a intervenção do Direito Penal deve ser 
dispensada. 
Vale ressaltar, no entanto, que uma doutrina minoritária, como a de Juarez Cirino, 
aduz que o direito penal é uma forma grave de controle social, servindo para conter a 
classe explorada (trabalhadora) de condutas que possam ameaçar os privilégios da classe 
dominante. Para ele, essa é a função real do Direito Penal, mas que é oculta em face ao 
objetivo tradicional e declarado, defendido pela doutrina majoritária. 
Outra doutrina isolada é a de Gunther Jakobs, que desenvolveu a teoria do 
funcionalismo sistêmico e a ideia de “Direito Penal do inimigo”. Para Jakobs, o Direito 
Penal serve para reafirmar a vigência da norma. Em razão disso, divide o Direito Penal 
em Direito Penal do cidadão e Direito penal do inimigo. O Direito Penal do cidadão é 
dirigido às pessoas que violaram a norma penal ao praticar crimes, mas que têm a 
oportunidade de reestabelecer sua vigência. O Direito Penal do inimigo é aplicado à 
pessoa que já violou demais a norma penal, passando a ser então inimiga do Estado, 
como é o caso de terroristas, pois o objetivo de reestabelecer a vigência da norma já não é 
mais alcançável neste caso. 
 
 
 
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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 O CÓDIGO PENAL 
 
O Código Penal brasileiro foi estabelecido pelo Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de 
dezembro de 1940, tendo sua Parte Geral reformada pela Lei nº 7.209, de 11 de julho 
1984. O Código se estrutura em duas partes, uma geral e outra especial. De seus 361 
artigos, do art. 1º até o art. 120 trata-se da Parte Geral e do art. 121 até o art. 361, da Parte 
Especial. A Parte Geral do Código Penal é ocupada pelas teorias da norma, do crime e da 
pena, que orientam toda a Parte Especial, que traz os crimes em espécie. 
Na história brasileira, tivemos ainda o Código Criminal do Império de 1830, o 
Código Penal de 1890 e o Código Penal de 1969
2
, este, porém, teve sua vigência adiada 
por várias vezes até quando foi revogado pela Lei nº 6.578/78. 
 
 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE DIREITO PENAL 
 
O Direito Penal é regido por princípios estabelecidos explícita ou implicitamente 
na Constituição Federal. Em um Estado Democrático de Direito, esses princípios 
representam garantias da liberdade individual dos cidadãos face ao poder punitivo do 
Estado. 
A doutrina costuma divergir sobre a lista ou nomenclatura dos princípios 
constitucionais, mas há um certo consenso acerca dos seguintes princípios: legalidade, 
humanidade, culpabilidade, intervenção mínima, lesividade (ofensividade), 
fragmentariedade, insignificância, proporcionalidade, individualização da pena, 
pessoalidade, adequação social e non bis in idem. 
 O princípio da legalidade é a garantia aos indivíduos de que a intervenção 
punitiva estatal só tem autorização nos estreitos limites da lei. A legalidade exprime-se 
sob a fórmula latina de Feuerbach “nullum crimem, nulla poena sine lege praevia” e 
impõe a estrita observância da reserva legal para a definição de crimes e aplicação de 
penas. A Constituição Federal e o Código Penal preveem de forma expressa esse 
princípio: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia 
cominação legal (art. 5º, XXXIX, da CF e art. 1º do CP). Desse modo, somente pode ser 
considerado crime a conduta anteriormente definida como tal em lei. Em decorrência 
disso, existem quatro importantes limitações do poder punitivo: 
 Proibição da retroatividade da lei penal in malam partem 
 
“A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (art. 5º, XXXL, CF). Uma 
lei penal somente incide sobre uma conduta se estava vigente no momento da 
ação ou omissão. Todavia, existe uma exceção, que é quando a nova lei de 
 
2
 Curiosidade: esse Código é o exemplo da mais longa vacatio legis de que se tem notícias. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art1Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 7 
 
qualquer modo beneficia o réu, aí ela retroage (in bonam partem) e atinge fatos 
ocorridos mesmo antes de sua entrada em vigor. 
 Proibição do costume como fonte da lei penal in malam partem 
 
Apenas a lei em sentido estrito é fonte formal do Direito Penal, ou seja, apenas a 
lei pode definir crimes e cominar penas. Entretanto, o costume também pode ser 
admitido in bonam partem para beneficiar o réu. Embora exista divergência, o 
exemplo comum é o do crime de casa de prostituição, que foi praticamente 
abolido pela existência generalizada de motéis (costume). 
 Proibição de analogia da lei penal in malam partem 
 
Analogia significa a aplicação da lei penal a fatos não previstos, mas semelhantes 
aos previstos. É proibida a analogia quando constitui prejuízo para o réu. Ao 
contrário, se for in bonam partem, é permitida. É necessário ressaltar que analogia 
se distingue de interpretação analógica, que é uma interpretação extensiva 
autorizada pela própria norma, como por exemplo o art. 121, §2º, I, do CP, que 
define o crime homicídio qualificado pelo motivo (“se o homicídio é cometido 
mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe”. O 
“motivo torpe” é um termo genérico, o que permite uma interpretação de forma 
extensiva para incluir outros motivos torpes não expressamente previstos). 
 Proibição da indeterminação da lei penal 
 
Esta proibição veda o estabelecimento de incriminações vagas e imprecisas, ou 
seja, a lei penal deve ser taxativa, evitando assim interpretações idiossincráticas. 
A conduta proibida e sua consequência devem ser definidas na lei, e não inferidas 
dela. 
 
O princípio da humanidade é deduzido da dignidade da pessoa humana como 
fundamento do Estado Democrático de Direito (art. 1º, III, CF). Esse princípio sustenta 
que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa 
humana ou que lesione a constituição físico-psíquica dos condenados. Os direitos 
humanos devem receber proteção jurídica a fim de evitar que o ser humano seja vítima de 
atos de barbárie. Sob o enfoque deste princípio, a justiça criminal não pode ser 
exageradamente repressiva, devendo se preocupar mais com as consequências sociais da 
incriminação e punição. Assim, em nosso ordenamento jurídico são expressamente 
proibidas as penas de morte (salvo em caso de guerra), perpétuas, de trabalho forçado, de 
banimento e cruéis (art. 5º, XLVII, CF). São penas incompatíveis com o princípio da 
humanidade. Ainda como consequência desse princípio, temos a garantia da integridade 
física e moral dos presos (art. 5º, XLIX, CF e art. 38, CP). Na prática de nosso sistema 
penitenciário, esse princípio é diariamente violado. 
O princípio da culpabilidade limita a punição da pessoa condenada pela realização 
do fato-crime. Somente se pode aplicar pena à pessoa quando e na medida em que se 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 8 
 
possa reprová-la e, assim, toda pena pressupõe a culpabilidade de seu destinatário (nulla 
poena sine culpa). A Constituição estabelece que “ninguém será considerado culpado até 
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória” (art. 5º, LVII, CF). A intervenção 
punitiva, portanto, somente será legítima quando da definitiva consideração de culpa
3
. No 
Direito Penal, culpabilidade tem um triplo sentido: 
 Culpabilidade como fundamento da pena: refere-se ao fato de ser possível ou não 
a aplicação de uma pena ao autor de um crime. Isso porque a culpabilidade é 
elemento do conceito analítico de crime, entendida como a reprovação jurídica 
sobre o sujeito ativo do crime. Esta reprovação, como juízo, pressupõe que o 
indivíduo detinha o poder de conter-se diante dos impulsos determinantes da 
prática do ilícito e não o fez. Assim, são necessários alguns requisitos para a 
reprovação do agente: capacidade de culpabilidade, consciência de ilicitude e 
exigibilidade da conduta diversa. 
 
 Culpabilidade como elemento de medição da pena: a culpabilidade também 
funciona como limite da pena, impedindo que a pena imposta seja aquém ou além 
do necessário. Também surte efeitos na dosimetria da pena (individualização da 
pena), quando esta deve ocorrer na medida da culpabilidade. 
 
 Culpabilidade como conceito contrário à responsabilidade objetiva: o princípio da 
culpabilidade impede que a responsabilidade penal seja objetiva, é necessário que 
o agente tenha culpa ou dolo na prática do fato criminoso. 
 
Por fim, vale ressaltar que em decorrência do princípio da culpabilidade, a 
responsabilidade penal é pelo fato (direito penal do fato) e não pelo autor (direito penal 
do autor). 
O princípio da intervenção mínima (da ultima ratio) significa que a 
intervenção do direito penal deve restringir-se ao mínimo necessário à manutenção da 
harmonia social. Não se pode admitir exagero na incriminação ou punição. O direito 
penal deve interferir o menos possível na vida das pessoas em sociedade, somente 
devendo ser solicitado quando os demais ramos do direito (como o Direito Civil e o 
Direito Administrativo, chamados de extrapenais) não forem capazes de proteger aqueles 
bens jurídicos considerados de maior importância. A atividade punitiva é a última razão 
(ultima ratio) de um direito que respeita a dignidade da pessoa humana, nunca a primeira. 
O princípio da lesividade (da ofensividade) vincula o direito penal ao objetivo 
de proteger materialmente o bem jurídico. Sem lesão ou ameaça concreta de lesão ao bem 
jurídico não pode haver intervenção punitiva. O direito penal reprova somente aquelas 
condutas que atinjam ofensivamente os bens jurídicos tutelados. Por isso, vários 
doutrinadores defendem a inconstitucionalidade dos chamados crimes de perigo abstrato, 
pois em um Estado Democrático de Direito admite-se punição apenas quando há efetivo, 
real e concreto perigo de lesão a um bem jurídico determinado. Ainda segundo esse 
 
3
 O STF lamentavelmente ignorou a literalidade do texto constitucional para admitir o cumprimento provisório da pena. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 9 
 
princípio, somente pode ser objeto de punição a conduta humana que afete o direito de 
outras pessoas, ou seja, não autolesão não pode(ria) ser criminalizada. 
O princípio da fragmentariedade estabelece que o direito penal tem caráter 
fragmentário em relação à proteção de bens jurídicos. A proteção jurídico-penal é parcial 
e nunca integral. O direito penal protege apenas os bens jurídicos mais importantes da 
sociedade e aqueles que foram ofendidos de forma mais grave. A proteção nunca é 
exaustiva. 
O princípio da insignificância (da bagatela) impede a punição de lesões 
insignificantes aos bens jurídicos. Com isso, lesões ínfimas ao bem jurídico não podem 
ser materialmente criminosas, ou seja, a insignificância do bem jurídico exclui a 
tipicidade material da conduta. Uma pessoa que subtrai para si um bombom, por 
exemplo, não pode ser punida por furto, haja vista que mesmo a pena mínima desse crime 
seria um exagero. Na análise do caso concreto, determinar se a lesão foi ou não 
insignificante é difícil, mas a jurisprudência estabeleceu alguns parâmetros. De acordo 
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), a aplicação do princípio da 
insignificância exige a verificação dos seguintes critérios: 
a) a mínima ofensividade da conduta; 
b) nenhuma periculosidade social da ação; 
c) o reduzido grau de culpabilidade e 
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda estabelece como requisitos a condição 
econômica da vítima e o valor econômico do objeto material. Em relação aos crimes 
contra a administração pública, o STJ considera inaplicável o princípio da bagatela
4
. Em 
relação ao crime de roubo, em razãoda violência ou grave ameaça, a jurisprudência dos 
Tribunais Superiores é pacífica no sentido da inaplicabilidade do princípio também. Por 
fim, cabe ressaltar que os tribunais têm entendido que no crime de descaminho, o critério 
para insignificância é o valor de R$ 20.000,00. 
 
O princípio da proporcionalidade dirige-se tanto ao legislador quanto ao juiz. O 
primeiro deve estar atento, ao definir crime e cominar pena, à natureza e extensão do 
dano social produzido pelo crime. Assim, aos fatos mais graves devem ser cominadas 
penas também mais graves, ou seja, proporcionais. Já o juiz deve julgar os casos 
concretos com proporcionalidade entre o caso concreto e a pena, sempre dentro dos 
limites esculpidos por lei. Entretanto, não se pretende com esse princípio invocar a “lei 
do talião”. Logo, mesmo nos crimes de homicídio a sanção não pode ser uma pena de 
morte. Essa limitação ao princípio da proporcionalidade é dada pelo princípio da 
 
4
 Súmula 599 do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 10 
 
razoabilidade, que exerce uma função controladora. Razoável é aquilo que tem aptidão 
para atingir os objetivos a que se propõe, sem, contudo, representar excesso algum. 
O princípio da pessoalidade (da intranscedência da pena) foi expressamente 
garantido em nossa Constituição Federal ao definir que “nenhuma pena passará da 
pessoa do condenado” (art. 5º, XLV, primeira parte, CF). Nesse sentido, a 
responsabilidade penal não pode passar (transcender) das pessoas que praticaram o crime, 
porque esse princípio proíbe a extensão da pena para além do condenado. Assim, 
nenhuma pessoa pode responder criminalmente pelos atos de outra. 
O princípio da individualização da pena é a garantia de que a pena deve estar 
em conformidade estrita com as peculiaridades do fato e da pessoa que é apenada, 
respeitando todas as suas individualidades. A Constituição Federal o prevê 
expressamente: “a lei regulará a individualização da pena” (art. 5º, XLVI, primeira 
parte, CF). O princípio é materializado pela dosimetria da pena, quando a pena é aplicada 
de acordo com circunstâncias judiciais e legais que envolvem o delinquente e o fato 
delituoso. Nesse contexto, o STF julgou inconstitucional a imposição legal de 
cumprimento inicial da pena privativa de liberdade em regime fechado. Para a Corte, a 
definição do regime inicial da pena deve levar em consideração as individualidades do 
caso concreto. 
O princípio da adequação social afasta a tipicidade material de condutas que 
estejam dentro dos limites ético-sociais da sociedade e que sejam usuais e necessárias ou 
admitidas. O Professor Brodt dá o exemplo da mãe que perfura as orelhas de seu bebê 
para colocar brincos. A conduta configura formalmente o tipo de lesão corporal leve, mas 
não pode ser considerada materialmente típica porque é socialmente adequada. 
O princípio do non bis in idem impede que uma pessoa sofra pena duas vezes 
por um mesmo fato. Nosso Código Penal expressa esse princípio ao tratar da pena 
cumprida no estrangeiro. Se uma pessoa cumpre pena por um crime cometido no 
estrangeiro e vem ser punida no Brasil pelo mesmo crime, deve-se levar em conta o non 
bis in idem nos seguintes termos “a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta 
no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas” 
(art. 8º do CP). Assim, quando as penas aplicadas ao agente no estrangeiro e no Brasil 
forem diferentes, como no caso em que lá se aplica ao fato cometido pena restritiva de 
direito e aqui, privativa de liberdade, então a pena cumprida no estrangeiro diminui a 
pena a ser imposta no Brasil. Se, porém, as penas previstas para o fato são iguais (em 
ambos os países se aplica a privativa de liberdade, por exemplo), então a pena cumprida 
no estrangeiro é computada naquela a ser cumprida no Brasil. Exemplificando: Mévio 
cumpre 2 anos de reclusão no estrangeiro. No Brasil, pelo mesmo fato é condenado a 3 
anos de reclusão. Logo, Mévio deverá cumprir apenas 1 ano de pena no Brasil. 
 
 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 11 
 
TEORIA DA NORMA 
 
Norma penal é o comando imperativo que o Estado dirige aos cidadãos na matéria 
específica que se refere ao poder punitivo. A norma penal em sentido estrito 
(incriminadora) é formada pelo tipo penal, o preceito primário e a sanção penal (preceito 
secundário). O tipo descreve a conduta proibida. O preceito primário expressa o 
imperativo de proibição ou comando, ou seja, a vontade estatal de estender a 
determinados bens jurídicos a proteção penal, proibindo ou ordenando atos. A sanção, 
também chamada de preceito secundário, ameaça de punição a violação do preceito 
primário (coercibilidade). 
Modernamente, adota-se uma especial técnica legislativa quanto às normas 
incriminadoras: o preceito primário está geralmente implícito na norma penal, o que vem 
expresso é o tipo e a sanção penal. Exemplificando: o crime de homicídio simples está 
definindo da seguinte forma no CP: art. 121. matar alguém. Pena: reclusão, de 6 a 20 
anos. O tipo penal do referido crime é “matar alguém”, que é pressuposto do preceito 
primário “não matar alguém”, que é a vontade estatal de proibição, e a sanção é a pena de 
reclusão de 6 a 20 anos. 
 
 CLASSIFICAÇÃO 
 
 Normas penais incriminadoras: definem crime e contravenção penal e cominam pena e 
medida de segurança. 
 Proibitivas: o tipo é comissivo, ou seja, descreve um “fazer algo”, cujo 
preceito é um “não fazer algo”, uma proibição! Exemplo: art. 121 do 
CP (homicídio). 
 Mandamentais (preceptivas): o tipo é omissivo, ou seja, descreve um 
“não fazer algo”, cujo preceito é um “fazer algo”, um mandamento! 
Exemplo: art.135 do CP (omissão de socorro). 
 
 Normas penais não incriminadoras: dispõem sobre a aplicação, interpretação e limites 
das normas incriminadoras, além de completarem o sistema penal com seus princípios 
gerais. 
 De aplicação: indicam qual norma prevalece em circunstâncias 
específicas de tempo e lugar. Ex.: art. 2 º do CP. 
 Explicativas: esclarecem o conteúdo de normas incriminadoras. Ex.: art. 327 do 
CP. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 12 
 
 Permissivas: são as que permitem, excepcionalmente, que se pratique 
uma conduta proibida. Podem ser justificantes ou exculpantes
5
: 
 
i) Justificantes: afastam a ilicitude da conduta. Ex.: art. 25 do CP 
(legítima defesa). 
ii) Exculpantes: afastam a culpabilidade do agente. Ex.: art. 26 do 
CP (doente mental inteiramente incapaz de entender o caráter 
ilícito do fato). 
 Diretivas: são as normas penais que definem os princípios gerais de direito 
penal. Ex.: art. 1º do CP (princípio da legalidade). 
 
 Normas penais em branco: são aquelas de tipo incompleto, em que a descrição 
das circunstâncias elementares do fato tem de ser completada por outra 
disposição, legal ou administrativa, existente ou futura, podendo ser uma lei, um 
decreto ou um regulamento. Podem ser homogêneas ou heterogêneas: 
 
 Homogêneas (impróprias ou em sentindo amplo): são aquelas normas 
penais em branco em que seu complemento é oriundo da mesma fonte de 
produção. Ex.: Art. 237 do CP (norma penal em branco) e art. 1.521 do 
CC (complemento). Ambas as normas têm a mesma origem, o Congresso 
Nacional. 
 Heterogêneas (próprias ou em sentido estrito): são aquelas em que o 
complemento é oriundo de uma fonte de produção diversa. Ex.: Art. 269 
do CP (norma penal em branco) e Portaria do Ministério da Saúde que 
define doenças cuja notificação é compulsória (complemento). A norma 
penal é oriunda do Poder Legislativo e o complemento, do Poder 
Executivo. 
 
 FONTES DO DIREITO PENAL 
 
Fonte significa lugar de origem. Fonte do Direito Penal significade onde emanam 
as normas penais. As fontes do Direito Penal podem ser classificadas em 
 Fontes materiais (de produção): se relaciona com a origem do direito. O Estado 
(União) é a única fonte material do Direito Penal. O art. 22, I, da CF, define que 
compete privativamente à União legislar em matéria penal. Alguns doutrinadores 
ainda se referem a uma fonte material remota, que seria os valores éticos-sociais 
dominantes que resultam na lei que criminaliza a conduta. 
 Fontes formais (de conhecimento ou cognição): refere-se às formas de manifestação 
das normas. A lei formal, norma geral e abstrata oriunda do Congresso Nacional, é a 
única fonte formal imediata (direta) do direito penal. São fontes formais diretas do 
 
5
 No Brasil, o crime é um fato típico, ilícito e culpável. Assim, para a configuração do crime são necessários três 
elementos: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. Tipicidade é a adequação da conduta ao tipo penal. Ilicitude é a 
contrariedade da conduta com o ordenamento jurídico. Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal sobre o sujeito ativo 
da conduta. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 13 
 
direito penal: o Código Penal, a Lei de Contravenções Penais e outras leis penais 
extravagantes. 
 
As fontes formais indiretas (mediatas) são os costumes, a doutrina, a jurisprudência 
e os princípios gerais do direito, como veremos a seguir. No entanto, já vale ressaltar que 
nenhuma dessas fontes mediatas pode resultar na criação ou imposição de pena não 
prevista em lei em razão do princípio da legalidade. 
Costume é a reiteração constante e uniforme de uma regra de conduta. Para valer 
juridicamente é necessário um aspecto subjetivo, que é a convicção de sua necessidade 
jurídica. 
Doutrina é o resultado da atividade intelectual dos doutrinadores, isto é, o resultado da 
produção científica de cunho jurídico-penal realizada pelos pesquisadores em Direito, 
que pode facilitar o trabalho dos aplicadores da lei. 
Jurisprudência é a repetição de decisões judiciais nos Tribunais de Justiça e Tribunais 
Superiores em um mesmo sentido sobre casos concretos semelhantes. 
Princípios gerais do direito são as normas que não estão escritas, mas estão presentes 
em todo o sistema jurídico, orientando o ordenamento jurídico em sua interpretação e 
integração. Ex.: ideal de justiça. 
 
LEI PENAL NO TEMPO 
 A norma penal entra em vigor e passa a produzir efeitos no dia por ela indicado ou, na 
falta de indicação, 45 dias após sua publicação (art. 1º da Lei de Introdução ao Direito Brasileiro). A 
partir do momento que entrar em vigor, a lei será aplicada, em regra, aos fatos praticados durante sua 
vigência. 
 Assim, basta saber quando o crime foi praticado e aplicar a lei vigente à época do fato 
(tempus regit actum). Mas como saber quando o crime foi praticado? Para isso, é necessário recorrer 
ao art. 4º do CP, que dispõe o seguinte: 
 
 
 A disposição acima significa que nosso ordenamento jurídico adotou a Teoria da Atividade
6
 
para definir o tempo do crime. Segundo esta teoria, o momento do crime é aquele em que o sujeito 
ativo realizou a conduta proibida, o que importa é o tempo da ação ou omissão e não do resultado. 
 
6
 Existem, ainda, outras duas teorias: 
i. Teoria do Resultado: o momento do crime é aquele em que o resultado foi produzido. 
ii. Teoria da ubiquidade (mista): o momento é tanto aquele da ação ou omissão quanto o do resultado. 
Art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do 
resultado. 
 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 14 
 
Exemplifiquemos: Diego, nascido em 10/12/2000, quer matar seu desafeto Lúcio e então desfere 
diversos disparos contra ele em 09/12/2018. A vítima é hospitalizada, mas morre em 20/12/2018. 
Neste caso, para analisar a responsabilidade penal de Diego, é necessário observar a teoria da 
atividade. No momento da ação, ele tinha 17 anos (um dia antes de completar 18 anos). Assim, ainda 
que à época da morte da vítima ele já seja maior de 18 anos, não poderá sofrer pena (e sim medida 
socioeducativa) em razão de sua inimputabilidade no momento da ação, pois o que importa é o tempo 
da ação e não o do resultado. 
 Como dito, em regra, a lei penal é aplicável ao fato praticado durante sua vigência em razão 
da máxima tempus regit actum. No entanto, pode haver sucessão de leis no tempo que excepcionam 
essa regra, sendo necessária atenção para saber qual norma aplicar. 
 Nesse sentido, a Constituição prevê princípio da irretroatividade da lei penal maléfica (art. 
5º, XL, CF). Assim, a lei penal que de qualquer modo prejudicar o agente (seja ele investigado, 
indiciado, denunciado, réu, condenado ou preso) não pode retroagir. Portanto, é expressamente 
proibida a retroatividade lei penal prejudicial. Ademais, o art. 5º, XL, da CF, ainda determina que a 
lei penal benéfica retroagirá, ou seja, impõe a retroatividade da lei penal benéfica. 
 
 
 Diante disso, podemos ter as seguintes situações de choque entre leis no tempo: 
 Abolitio criminis: é a o caso em que um crime é abolido do ordenamento jurídico, ou seja, o fato 
anteriormente descrito como crime deixa de o ser. Em outras palavras, o fato é descriminalizado. 
O exemplo mais citado é o do crime de adultério, que era previsto no art. 240 do CP e foi 
revogado pela Lei 11.106/05. Neste caso, a lei nova que revoga o tipo penal é retroativa e deve 
ser aplicada a todos os fatos ocorridos anteriormente. Essa hipótese é prevista no art. 2º, caput, do 
CP, que diz o seguinte: 
 
 
Assim, é importante assinalar as consequências da abolitio criminis. Primeiro, trata-se de uma 
causa extintiva de punibilidade (art. 107, III, CP), ou seja, o Estado perde o jus puniendi (direito 
de punir) sobre aquele fato, mesmo se tiver sido praticado quando ainda era considerado crime. 
Em consequência disso, se uma pessoa estiver executando pena por fato que não é mais crime, a 
execução deve ser imediatamente cessada. Além disso, todos os efeitos penais da sentença 
condenatória também devem ser cessados. Nesse ponto, é preciso atenção, pois a sentença penal 
condenatória tem efeitos penais e civis. Os efeitos penais somem, assim, por exemplo, a anotação 
do crime é retirada da Folha de Antecedentes Criminais do agente. Já os efeitos civis 
permanecem, como por exemplo, a obrigação civil de reparar o dano provocado pelo fato. 
 Novatio legis incriminadora: uma nova lei passa a considerar como crime fato anteriormente não 
incriminado. Portanto, é irretroativa, por força do art. 5º, XL, da CF. Recentemente, a Lei 
Art. 5º, XL. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. 
 
Art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude 
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
 
 
 
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13.718/18 criou alguns crimes, como o crime de divulgação de cena de estupro e de cenas de sexo 
e de pornografia não autorizadas. Por ser uma lex gravior, aplica-se somente aos fatos praticados 
após sua entrada em vigor. 
 Novatio legis in mellius: A lei nova, apesar de não descriminalizar a conduta, melhora a situação 
do agente. É uma lex mitior, devendo retroagir e atingir também os fatos praticados antes de sua 
vigência. Um exemplo muito recente é o da Lei 13.654/18, que modificou o art. 157 do CP (crime 
de roubo) e passou a desconsiderar o emprego de arma branca como causa de aumento de pena do 
crime de roubo (passou a prever que somente o “emprego de arma de fogo” aumenta a pena). 
Assim, se uma pessoa foi condenada por roubo majorado pelo emprego de faca (arma branca), ela 
agora tem direito a ver reduzida a sanção penal sofrida.A previsão está no parágrafo único do art. 
2º do CP: 
 
 
 
 Novatio legis in pejus: A lei nova que prejudica de qualquer forma o agente é irretroativa, 
aplicando-se somente aos fatos praticados após sua entrada em vigor. Um exemplo é o da Lei 
13.718/18, que agravou a pena no caso de estupro coletivo. 
 
EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL NO TEMPO 
 Nos casos em que lei agrava de qualquer modo a situação do agente, a lei anterior terá ultra-
atividade, ou seja, será aplicada aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo depois de 
revogada. Assim, podemos concluir que a lei penal possui extra-atividade no tempo, podendo ser 
retroativa ou ultra-ativa a depender do caso. 
 
 Com a retroatividade, a lei penal benéfica atingirá todos os fatos, mesmo aqueles praticados 
antes de sua vigência. Podemos representá-la da seguinte forma: 
 
 retroatividade 
 
 
 1940 2018 (lex mitior) atual 
Extra-atividade 
Retroatividade 
Ultra-atividade 
Art. 2º, parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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 Para entender a ultra-atividade, vamos utilizar o exemplo do tráfico ilícito de entorpecentes. 
Em 2006, entrou em vigor a Lei de Tóxicos, que revogou a Lei 6.368/76 e, dentre outras alterações, 
aumentou a pena para o crime de tráfico ilícito de entorpecentes. Assim, a nova lei é uma lex gravior, 
pois agravou a situação de quem praticar esse crime. Por ser uma novatio legis in pejus, a Lei 
11.343/16 é irretroativa, aplicando-se somente aos fatos praticados durante sua vigência (tempus regit 
actum). 
 Por outro lado, a Lei 6.368/76, embora revogada, será aplicada aos fatos praticados durante 
sua vigência. Assim, se uma pessoa praticou tráfico ilícito de entorpecentes em 2005, mas somente 
foi julgada em janeiro de 2007, será condenada à pena prevista na lei que vigorava à época do fato, 
mesmo tendo sido revogada. É o que chamamos de ultra-atividade da lei penal. 
 
 1976 2006 (lex gravior) atual 
 
 ultra-atividade 
 
 ULTRA-ATIVIDADE DAS LEIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS 
 Em regra, a ultra-atividade é benéfica, mas o legislador previu duas hipóteses em que a lei 
revogada terá ultra-atividade ainda que seja mais gravosa, que é nos casos das leis temporárias e leis 
excepcionais, nos termos do ar. 3º do CP. 
 
 
 A lei excepcional é criada parar reger circunstâncias anormais e vigora enquanto elas 
subsistirem. Assim, a lei excepcional é sujeita a uma condição, ou seja, sua revogação depende de um 
evento futuro e incerto. Exemplo: é criada uma lei para ser aplicada durante uma grave situação de 
calamidade pública. Neste caso, a lei será revogada quando a calamidade se encerrar. 
 A lei temporária é criada para reger fato certo e temporário, sendo sujeita a um termo, ou seja, 
sua revogação tem uma data futura e certa. Por exemplo, uma lei é criada para ser aplicada durante a 
Copa do Mundo de Futebol, que se inicia em 01/06/2022 e se encerra em 01/07/2022. 
 Nos dois casos, a consequência será a mesma, a lei penal será aplicada aos fatos praticados 
durante sua vigência, mesmo depois de revogadas e ainda que a lei posterior seja benéfica ao agente 
(exceção à regra da retroatividade da lei penal benéfica). 
LEI INTERMEDIÁRIA 
Art. 3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as 
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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 A lei intermediária é aquela que entrou em vigor após a data do fato e já não estava mais 
vigente na data do julgamento. Neste caso, embora o fato não tenha sido praticado durante sua 
vigência, a lei intermediária será aplicada no momento da sentença, mesmo depois de revogada, se 
for a mais benéfica dentre as três leis. 
LEX TERTIA 
 A lex tertia é a conjugação de leis penais no tempo, aplicando-se ao mesmo fato pontos 
positivos de uma lei vigente e da lei revogada. Exemplo: a antiga lei de drogas previa a pena de 
reclusão de 3 a 12 anos para o crime de tráfico ilícito de entorpecentes. A Lei 11.343/06 revogou a lei 
anterior e cominou a pena de 5 a 15 anos de reclusão para o referido crime. Porém, a lei nova possui 
uma parte benéfica que não existia na lei anterior, que é uma causa de diminuição da pena de um 
sexto a dois terços. Assim, cabe o questionamento: é possível aplicar a pena da lei anterior e a causa 
de diminuição da lei posterior? A resposta é NÃO
7
. Não é possível a conjugação de leis no tempo 
(lex tertia) no Direito brasileiro, porque, na prática, estaria se criando uma nova lei, o que violaria o 
princípio da separação dos poderes (art. 2º da CF). 
LEI PENAL NO TEMPO E OS CRIMES CONTINUADOS E PERMANENTES 
 Especial atenção é necessária em relação aos crimes continuados e aos crimes permanentes no 
que diz respeito à aplicação da lei penal no tempo. Antes de prosseguir, temos que definir esses 
crimes: 
 Crime permanente: é que aquele crime cuja consumação se prolonga no tempo. O crime de 
sequestro o exemplifica bem, enquanto os sequestradores mantêm a vítima restrita de liberdade, o 
crime está se consumando. Há uma continuidade temporal da consumação, que não se encerra 
num dado momento. 
 Crime continuado: ocorre “quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica 
dois ou mais crimes da mesma espécie, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e 
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro” (art. 71, 
caput, CP). Exemplo: uma pessoa furta 10 reais todos os dias no caixa do supermercado onde 
trabalha. Neste caso, todos os furtos serão tratados como um crime único em continuidade 
delitiva. 
 
 Pois bem. Nestes casos, aplica-se a Súmula 711 do STF, in verbis: 
 
 
 
 Assim, se os sequestradores mantêm a vítima presa por meses e neste ínterim uma lei entra 
em vigor aumentando a pena do crime de sequestro, ela será aplicada ao fato. Da mesma forma, no 
 
7
 Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da incidência das suas 
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei 6.368/76, sendo vedada a 
combinação de leis. 
Súmula 711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é 
anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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exemplo supracitado de crime continuado, se uma lei aumenta a pena do crime de furto e a pessoa 
continua furtando naquelas circunstâncias, a lei penal gravosa será aplicada. 
 
LEI PENAL NO ESPAÇO 
 
Em princípio, a lei penal produz efeitos nos limites territoriais de cada Estado 
soberano. Porém, tendo em vista que a criminalidade hoje transcende os limites do 
Estado nacional, legislações passaram a prever que, em certos casos, a lei penal 
ultrapassa aqueles limites para encontrar o criminoso onde quer que se encontre. 
A definição do lugar do crime, segundo o legislador brasileiro, orienta-se pela 
Teoria da Ubiquidade
8
. 
 
 
Assim, tanto o lugar da ação ou omissão quanto o lugar do resultado são 
considerados o lugar do crime. Imagine o exemplo de pessoa que é alvejada no Brasil 
próximo da fronteira com o Uruguai, mas é neste país que a vítima morre. O crime foi 
praticado nos dois lugares. Há, neste caso, umcrime plurilocal. 
Princípio da territorialidade 
Alguns princípios regulam a extensão da validade da lei penal no espaço. O 
primeiro é o princípio da territorialidade, que determina a aplicação da lei brasileira, sem 
prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no 
território nacional (art. 5º do CP). É um princípio mitigado ou temperado, pois não é 
absoluto, uma vez que o Código admite algumas exceções. O conceito jurídico-penal de 
território nacional é mais abrangente do que o geográfico. Juridicamente, o território se 
estende por todo o espaço físico sobre o qual o poder político se exerce. Este espaço 
compreende a porção terrestre, o mar territorial
9
, o espaço aéreo, o subsolo e a extensão 
do território nacional. 
Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional (ficção 
jurídica) as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do 
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as 
 
8
 Existem, ainda, outras duas teorias: 
i. Teoria da Atividade: o lugar do crime é aquele em que foi realizada a ação ou omissão. 
ii. Teoria do Resultado: o lugar do crime é em que o resultado foi produzido. 
9
 O material brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar 
do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no 
Brasil (art. 1º, caput, da Lei 8.617/93) 
Art. 6º. Considera- se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte, 
bem como onde se produziu o resultado ou deveria produzir-se o resultado. 
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 19 
 
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, 
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar
10
 (art. 5º, §1º, CP). 
É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou 
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no 
território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar 
territorial do Brasil (art. 5º, §2º, CP). 
 Princípio da extraterritorialidade 
O segundo princípio é o da extraterritorialidade (art. 7º do CP), em que a 
jurisdição penal do Estado é estendida para além do seu território. A extraterritorialidade 
pode ser incondicionada, condicionada ou hipercondicionada. 
A extraterritorialidade incondicionada opera independentemente de qualquer 
condição por se aplicar a crimes de grande de relevância para o Estado. Assim, a lei penal 
brasileira se aplica aos crimes listados no art. 7º, I, do CP, embora praticados no 
estrangeiro. Neste caso, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido 
ou condenado no estrangeiro (art. 7º, §1º, CP). Vejamos quais são os crimes. 
 Crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de 
Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de 
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
 
 
 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
 
 
As três primeiras previsões acima (art. 7º, I, a, b, c) têm fundamento no princípio real 
(da defesa, de proteção) em que se tutela determinados bens jurídicos que o Estado 
considera essenciais, buscando então punir a violação a esses bens onde quer que tenha 
ocorrido. A quarta previsão (art. 7º, I, d) se fundamenta no princípio da universalidade ou 
cosmopolita (ou justiça universal), que aduz que as leis penais devem ser aplicadas onde 
quer que se encontrem os agentes quando os crimes são de relevância internacional e há 
cooperação entre os Estados para coibi-los. 
A extraterritorialidade condicionada opera somente com algumas exigências legais. 
Assim, a lei penal brasileira se aplica aos crimes listados no art. 7º, II, do CP, desde que 
 
10
 Alto-mar é o “mar de ninguém”, ou seja, aquela faixa do mar não submetida à soberania de qualquer país. 
Princípio da 
proteção (ou 
real ou da 
defesa) 
Princípio da 
universalidade 
(cosmopolita) 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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se verifique a presença das condições previstas no art. 7º, §2º, do CP. Os crimes sujeitos 
à extraterritorialidade condicionada são os seguintes: 
 
 
 
 Crimes: 
 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir 
 
 
 
b) praticados por brasileiro 
 
 
 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou 
de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não 
sejam julgados 
 
O primeiro caso (art. 7º, II, a) é orientado pelo princípio da universalidade, já 
explicado. O segundo caso (art. 7º, II, b) se fundamenta no princípio da personalidade 
ativa (ou nacionalidade ativa), que diz que o Estado tem o direito de exigir que o seu 
nacional no estrangeiro tenha comportamento de acordo com seu ordenamento jurídico. 
O último caso (art. 7º, II, c) se trata de crimes em que o agente está sujeito à soberania do 
Estado estrangeiro (as embarcações e aeronaves são privadas e estão no estrangeiro). 
Então, temos aqui o princípio da representação ou da bandeira, que tem caráter 
subsidiário, ou seja, se o Estado estrangeiro não aplicar sua lei, o Brasil está autorizado a 
fazê-lo. 
Bem, como dito, a extraterritorialidade condicionada somente opera com o 
emprego das condições previstas no art. 7º, §2º, ou seja, apenas se aplica a lei penal 
brasileira se estas condições estiverem presentes no caso concreto. São elas: 
b) entrar o agente no território nacional; 
c) ser o fato punível também no país em que foi praticado
11
; 
d) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
 
11
 A doutrina chama essa condição de “dupla tipicidade”, ou seja, o crime deve ser fato típico no estrangeiro e no Brasil. 
Princípio da 
universalidade 
(cosmopolita) 
Princípio da 
personalidade/ 
nacionalidade 
ativa 
Princípio da 
representação 
(bandeira) 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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e) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
f) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta 
a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
 
A extraterritorialidade hipercondicionada está prevista no do art. 7º, §3º, do CP, e 
é aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra o brasileiro fora do Brasil. Neste 
caso, o legislador reconheceu o princípio da personalidade passiva, segundo o qual o 
nacional de um país deve ser protegido contra a prática de crimes, onde quer que se 
encontre. É hipercondicionada porque nesta hipótese são inclusas mais condições, sendo 
necessárias todas as condições supracitadas e mais as seguintes (art. 7º, §3º, do CP): 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 
EXTRADIÇÃO 
É o instituto jurídico de que se valem os Estados para colaborarem entre si na 
execução da pena. Extraditar significa entregar a outro país um indivíduo, que se 
encontra refugiado, para fins de ser julgado ou cumprir a pena que lhe foi imposta. No 
Brasil, este instituto é previsto na Constituição Federal (art. 5º, LI e LII) e na Lei de 
Migração (Lei 13.445/17). 
O art. 82 da Lei de Migração define que a extradição não será concedida quando: 
I- o indivíduo cuja extradição é solicitada aoBrasil for brasileiro nato; II- o fato que 
motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente; III- o 
Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando; 
IV- a lei brasileira impuser pena de prisão inferior a 2 anos; V- o extraditando estiver 
respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo 
em que se fundar o pedido; VI- a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a 
lei brasileira ou a do Estado requerente; VII- o fato constituir crime político ou de 
opinião; VIII- o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal 
ou juízo de exceção; IX- o extraditando for beneficiário de refúgio ou asilo territorial. 
O art. 83 da referida lei ainda define que a extradição somente pode ser 
concedida, no caso de condenado, se a pena imposta for privativa de liberdade, ou seja, o 
Brasil não concede a extradição se o condenado for sofrer pena de morte, por exemplo. 
 A Constituição Federal estabelece que nenhum brasileiro nato poderá ser 
extraditado. Em relação ao brasileiro naturalizado, é possível a extradição em caso de 
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em 
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (art. 5º, LI, CF). 
 A Constituição ainda estabelece que não será concedida extradição de estrangeiro 
por crime político ou de opinião (art. 5º, LII, CF), disposição reproduzida no inciso VII do 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 22 
 
art. 82 da Lei de Migração. Crime de opinião é aquele que se aperfeiçoa quando alguém 
emite um conceito contra outro. Sobre crime político, a doutrina adota três teorias: 
objetiva, subjetiva e mista. Segundo a teoria objetiva, crime político é aquele cuja natureza 
do bem jurídico é política. Para a teoria subjetiva, o decisivo é o fim político perseguido 
pelo autor do crime. Segundo a teoria mista ou pura, que é adotada pelo STF, crime 
político é aquele cujo bem jurídico tem natureza política e que tem motivação política. 
São duas as fases para conceder extradição: 
 Judicial: O Supremo analisa a legalidade e a admissibilidade do pedido de extradição. 
 
 Político-administrativa: O Presidente da República decide sobre a concessão da 
extradição, após a decisão do STF. 
 
DEPORTAÇÃO E EXPULSÃO 
Extradição não se confunde com deportação e expulsão. A deportação é a medida 
que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória 
irregular em território nacional (art. 50 da Lei de Migração). A expulsão é a medida que 
consiste na retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, 
conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado (art. 54 da Lei de 
Migração). 
 
 LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS 
 
A norma penal vigente aplica-se a todas as pessoas que se encontram submetidas 
ao poder político do Estado. Porém, nossa ordem jurídica confere a algumas pessoas 
imunidade em relação à eficácia da norma, não em razão da pessoa, mas de alguma 
função que ela exerce. A imunidade é uma prerrogativa inerente à função pública. 
Veremos as imunidades diplomáticas e as parlamentares. 
 
IMUNIDADE DIPLOMÁTICA 
As imunidades diplomáticas estão previstas na Convenção de Viena de 1961, que 
estabelece para o diplomata imunidade de jurisdição penal, ficando sujeito à jurisdição do 
Estado que representa. Logo, se um diplomata brasileiro pratica um crime no estrangeiro, 
ele fica sujeito não à lei daquele país, mas a do Brasil. A imunidade se estende a todos os 
agentes diplomáticos e funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc), 
quando em serviço. Estão excluídos desse privilégio os empregados particulares dos 
agentes diplomáticos. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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Os cônsules, agentes administrativos que representam interesses de pessoas físicas 
ou jurídicas estrangeiras, têm imunidade penal também, mas somente pelos atos 
realizados em função das atividades consulares (Convenção de Viena de 1963). 
Mesmo não podendo aplicar a sua lei penal, o país em que se encontra o 
diplomata pode declará-lo “persona non grata”, obrigando que ele saia do país em prazo 
determinado. 
As imunidades pertencem ao Estado, não ao indivíduo, não podendo o diplomata 
renunciá-la, somente o Estado é que pode retirar sua imunidade. 
 
IMUNIDADES PARLAMENTARES 
Também para o exercício adequado de suas funções, os parlamentares têm 
imunidades material e formal, garantidas constitucionalmente (art. 53 da CF). A material 
refere-se à possível responsabilização penal por opiniões, palavras e votos dos 
parlamentares. A formal diz respeito à prisão, ao processo e à prerrogativa de foro. 
 Imunidade material: Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, 
por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos (art. 53, caput, CF). Logo, um 
parlamentar não pode sofrer sanção penal por crimes decorrentes de suas opiniões, 
palavras e votos (injúria, difamação, calúnia etc). Entretanto, é necessário que haja 
nexo de causalidade entre o que ele fala e seu mandato. Além disso, vale dizer que a 
eficácia dessa imunidade não está condicionada ao Congresso Nacional, ela vale em 
qualquer lugar. 
 Imunidade formal: Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão 
submetidos a julgamento perante o STF, ou seja, os parlamentares possuem 
prerrogativa de foro
12
. Além disso, eles não podem ser presos, desde a expedição do 
diploma, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos devem ser 
remetidos dentro de 24 horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de 
seus membros, decida se mantém ou não a prisão. Finalmente, quando o Procurador-
Geral da República oferece denúncia contra Senador ou Deputado Federal, por crime 
ocorrido após a diplomação, e o STF a recebe, a Corte deve dar ciência à Casa de 
que faz parte o parlamentar, que, por iniciativa de partido político nela representado 
e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o 
andamento da ação (o que também suspende a prescrição da pretensão punitiva 
enquanto durar o mandato). O pedido de sustação deve ser apreciado pela Casa no 
prazo improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. 
 
 
12
 O STF, em julgamento sobre Questão de Ordem suscitada na Ação Penal 937, decidiu restringir a prerrogativa de foro 
aos crimes relacionados à função exercida. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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Em razão do princípio da simetria (art. 27, §1º, CF), as imunidades materiais e 
formais de que gozam os senadores e deputados federais também são aplicáveis aos 
deputados estaduais. Contudo, segundo entendimento do STF, as imunidades dos 
deputados estaduais limitam-se às autoridades judiciárias dos respectivos Estados-
membros. Destarte, a prerrogativa de foro do deputado estadual será o Tribunal de Justiça 
respectivo e a competência para sustar o processo ou revogar prisão será da Assembleia 
Legislativa. 
Os vereadores também são invioláveis por suas opiniões, palavras ou votos no 
exercício do mandato e na circunscrição do Município para o qual foi eleito (art. 29, VIII, 
CF). Sendo assim, a imunidade do vereador é uma imunidade material limitada. 
 
CONTAGEM DO PRAZO 
 Nas matérias de direito material penal
13
, como os prazos de prisão, a contagem do 
prazo é definida no art. 10 do CP, segundo o qual o dia do começo inclui-se na contagem. 
Além disso, o referido dispositivo legal dispõe que os dias e os meses são contados de 
acordo com o calendário comum. O art. 11 do CP ainda define que desprezam-se, nas 
penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia e, na pena de 
multa, as frações de reais. 
 Sendo assim,em caso de pena privativa de liberdade, não importa o horário 
que o indivíduo começou a cumprir a pena. Se ele entrar na prisão às 23h59min, será 
considerado que cumpriu 1 dia de pena. Ademais, o último dia de cumprimento da pena 
é excluído, tendo em vista que o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. 
Exemplificando. Tício foi condenado à pena de detenção de 9 anos, 11 meses e 14 dias. 
Ele começou a cumprir a pena às 22h16min do dia 10 de janeiro de 2009. Quando ele 
cumprirá integralmente a pena? 
1º passo- some os anos: 10 de janeiro de 2009 + 9 anos = 10 de janeiro de 2018 
2º passo- some os meses: 10 de janeiro de 2018 + 11 meses = 10 de dezembro de 2018 
3º passo- some os dias: 10 de dezembro de 2018 + 14 dias = 24 de dezembro de 2018 
Como o dia do começo foi incluído na contagem, devemos excluir o último. Assim, a 
resposta de nosso exemplo é 23 de dezembro de 2018. 
Exemplificando 2. Mévio foi condenado à pena de reclusão de 8 anos, 10 meses e 14 
dias. Ele começou a cumprir a pena às 20h00min do dia 21 de março de 2010. Quando 
ele cumprirá integralmente a pena? 
1º passo- some os anos: 21 de março de 2010 + 8 anos = 21 de março de 2018 
 
13
 Os prazos de direito processual penal são contados de forma diversa do direito penal. Nas matérias de direito 
processual, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do vencimento (art. 798, §1º, do CPP). 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
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2º passo- some os meses: 21 de março de 2018 + 10 meses = 21 de janeiro de 2019 
3º passo- some os dias: 21 de janeiro de 2019 + 14 dias = 04 de fevereiro de 2019. 
Excluído o último dia, a resposta de nosso exemplo é 03 de fevereiro de 2019. 
 
 
 
TEORIA DO CRIME 
 No Brasil, adotamos o sistema bipartido
14
 de infrações penais, ou seja, nosso 
ordenamento jurídico admite duas espécies de infrações penais: crime (sinônimo de delito) e 
contravenção penal. Nos termos do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, crime e 
contravenção penal se diferenciam no campo da pena: se a infração é punida com reclusão ou 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa, está se 
falando de crime; se punida isoladamente com prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa 
ou cumulativamente, trata-se de contravenção penal. Sendo assim, sempre que punida com 
detenção ou reclusão, a infração será crime; sempre que punida com prisão simples ou apenas 
com multa será contravenção penal. 
 As contravenções penais são infrações com menor potencial ofensivo. Nelson Hungria 
as chamava de “crimes anões”. São disciplinadas pela Lei de Contravenções Penais (LCP). 
 Nos termos do art. 61 da Lei 9099/95, as contravenções penais e os crimes com pena 
máxima cominada de até 2 anos são infrações de menor potencial ofensivo. 
Diferenças entre as penas privativas de liberdade: 
 Reclusão: é a pena privativa de liberdade aplicada aos crimes mais graves e deve ser 
cumprida em regime inicial fechado, semiaberto ou aberto. Ex.: art. 121, caput, do CP 
(homicídio simples). 
 Detenção: é a pena privativa de liberdade aplicada aos crimes mais leves e deve ser 
cumprida em regime inicial semiaberto ou aberto. A diferença básica é que na detenção 
não cabe o regime inicial fechado, mas o condenado pode regredir de regime e ir para o 
fechado após o início do cumprimento. Ex.: art. 163, caput, do CP (dano simples). 
 Prisão simples: é a pena privativa de liberdade aplicada nos casos de contravenção penal. 
Ex.: art. 21 da LCP (vias de fatos). 
 
Conceitos de crime: 
 
14
 O ordenamento jurídico de outros países adota o sistema tripartido, como na França, onde crime e delito são infrações 
distintas. Crimes são as infrações penais com pena superior a 10 anos e os delitos são os infrações com pena inferior a 10 
anos. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 26 
 
 Formal: crime é a infração da norma penal. 
 Material: crime é a conduta que ofende os bens jurídicos importantes da sociedade. 
 Analítico: crime é o fato típico, ilícito e culpável. 
 
 No Brasil, nosso Código Penal adotou o conceito analítico de crime. Logo, para 
que uma conduta seja considerada crime é necessária a verificação de três elementos: 
tipicidade, ilicitude e culpabilidade. A análise do fato deve seguir esta ordem. Primeiro 
verifica-se se o fato constitui uma conduta penalmente relevante revestida de tipicidade, 
depois se é ilícita e, finalmente, se o agente é culpável. 
 No conceito analítico do crime, verifica-se inicialmente se a conduta é típica. 
Nesta fase, é necessário analisar todos os elementos do tipo, como a ação, o resultado, o 
nexo de causalidade e os elementos subjetivos, se existirem. Para um fato ser típico, 
primeiro devo verificar se é uma conduta penalmente relevante. Se não for, não há crime 
desde logo; se for, então é preciso a analisar a tipicidade, que é a adequação da conduta 
ao tipo penal, com todos os seus elementos. 
 Sendo típica a conduta, passa-se à análise da ilicitude, que é a contrariedade do 
fato típico com o ordenamento jurídico. É que embora a conduta seja típica, o 
ordenamento jurídico pode retirar a ilicitude da conduta. São causas legais excludentes de 
ilicitude a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento de dever legal 
e o exercício regular de direito. A doutrina ainda construiu uma causa supralegal 
excludente de ilicitude, que é o consentimento do ofendido. Nesse sentido, se uma pessoa 
mata outra em legítima defesa, o fato é típico de homicídio, mas não é ilícito, pois ela 
agiu em sua defesa. Assim, fica excluído o crime. Como visto, a análise aqui é feita por 
exclusão: se o agente não agiu em nenhuma das causas acima, o fato será típico e ilícito. 
 Superada a análise da ilicitude, finalmente se analisa a culpabilidade do agente, 
que é a reprovação pessoal que se faz sobre sua conduta. A culpabilidade pressupõe três 
requisitos: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta 
diversa. O crime existirá caso o agente que praticou fato típico e ilícito seja imputável e 
tenha potencial consciência da ilicitude do fato, além de ser exigível uma conduta diversa 
de sua parte. 
 Veremos com cuidado a seguir cada um desses elementos. 
 Como supracitado, a primeira análise do conceito analítico é aquela acerca da 
tipicidade do fato. Tipicidade significa a adequação da conduta ao tipo penal, que por sua 
vez é descrição da conduta proibida. Portanto, precisamos estudar cada espécie de tipo 
penal para dizer se o fato é típico ou não. 
 O tipo penal pode ser comissivo ou omissivo. O tipo comissivo descreve um 
“fazer algo”, como é o caso do tipo de furto (CP, art. 155. Subtrair para si ou para outrem 
coisa alheia móvel). O tipo omissivo descreve um “não fazer algo”, como é o caso do 
tipo de omissão de socorro (CP, art. 135. Deixar de prestar assistência...). O tipo penal, 
 
TIPO 
COMISSIVO 
 DOLOSO 
 CULPOSO 
 
TIPO 
OMISSIVO 
DOLOSO 
 CULPOSO 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 27 
 
sendo ele comissivo ou omissivo, pode ser classificado ainda em tipo doloso e tipo 
culposo. O tipo doloso é aquele que exige o dolo para sua configuração. O tipo culposo é 
aquele que exige a causação de um resultado com imprudência, imperícia ou negligência. 
 
 
 
 
O mais importante dos tipos é o tipo comissivo doloso. Veja sua estrutura. 
 Elementos do tipo 
 
. 
 O tipo comissivo doloso é formado por elementos objetivos, que formam o tipo 
objetivo (ação, resultado e nexo de causalidade), e por elementos subjetivos, que formam 
o tipo subjetivo (dolo e elemento subjetivo especial). 
 Todos os tipos – seja comissivo ou omissivo – necessitam de uma conduta 
penalmente relevante, que pode seruma ação (caso em que o tipo será comissivo) ou uma 
omissão (caso em que o tipo será omissivo). Portanto, conduta é um gênero que desdobra 
em duas espécies: ação e omissão. Todavia, parte da doutrina chama conduta de ação em 
sentido amplo. Assim, ação em sentido amplo seria um gênero que se desdobraria em 
ação em sentido estrito (um fazer algo) e omissão (um não fazer algo). Estudaremos 
agora o conceito de conduta penalmente relevante. 
 
 CONDUTA PENALMENTE RELEVANTE 
A conduta é o que dá corpo ao fato punível constituindo o elemento central do seu 
conceito, é o suporte material sobre o qual assentam os elementos da tipicidade, ilicitude 
TIPO 
COMISSIVO 
DOLOSO 
CULPOSO 
-Ação 
-Resultado 
-Nexo causal 
-Dolo 
-Elemento subjetivo especial 
 
Tipo 
objetivo 
Tipo 
subjetivo 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 28 
 
e culpabilidade, integrantes do conceito analítico de delito. Existem diversas teorias que 
tentam conceituar conduta penalmente relevante. Vejamos. 
 
Teoria causalista 
Principalmente com contribuições de Franz von Liszt e também de Beling, entre 
os séculos XIX e XX, surge a Teoria Causalista, também chamada de causalismo. Esta 
teoria tem forte influência da filosofia positivista e naturalista. Assim, conduta 
penalmente relevante seria o movimento corporal voluntário que produz uma 
modificação no mundo exterior (conceito mecanicista). O movimento voluntário 
(voluntariedade) é aquele cujo não recai nenhuma circunstância externa que tenha 
compelido o agente. No Brasil, o causalismo vigeu em nosso ordenamento jurídico-penal 
até 1984, defendido por Nelson Hungria e Aníbal Bruno. 
 Crítica: se a conduta penalmente relevante é um movimento, como explicar então 
os crimes omissivos, que são uma abstenção de movimento? 
 
Teoria Finalista 
A Teoria Finalista, criada e desenvolvida por Hans Welzel e Maurach, consegue 
resolver a crítica exposto acima. Segundo essa teoria, conduta penalmente relevante é o 
exercício de uma atividade final. A conduta não é simplesmente uma série de causas e 
efeitos. Na realidade, é um comportamento dirigido pela vontade de quem atua. Quando a 
realiza, o agente se propõe a um fim, escolhe os meios necessários para atingi-lo e põe 
em função esses meios, ou seja, manifesta sua vontade. 
Os finalistas chamam a vontade do conceito causalista de “vontade cega”, pois lá 
basta que o comportamento do agente tenha sido voluntário no sentido de não ter sofrido 
interferência externa. A vontade no conceito finalista seria uma “vontade vidente”, pois o 
que importa a finalidade do agente. 
Crítica: o finalismo não consegue explicar os tipos culposos, pois neste caso a 
vontade não importa para a configuração do delito, o que importa é a causação do 
resultado sem a observância do dever objetivo de cuidado (com negligência, imprudência 
ou imperícia). Finalistas respondem, muito insatisfatoriamente, que nos crimes culposos 
há sim um exercício da atividade final. O agente propõe-se a um fim, escolhe o meio e 
manifesta a vontade. Entretanto, neste caso, o fim é lícito. Exemplo: pessoa propõe-se 
chegar em casa, escolhe o carro para isso e manifesta sua vontade ao ir para casa, porém, 
por uma imprudência, acabou matando alguém 
Teorias Sociais 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 29 
 
As Teorias Sociais da conduta foram desenvolvidas principalmente por Jescheck 
e Schmidt. Para essas teorias, conduta penalmente relevante seria o comportamento 
humano socialmente relevante. A crítica que se faz a esta concepção é que o conceito de 
conduta é demasiadamente amplo. 
A três teorias a seguir fazem parte das mais modernas teorias acerca da conduta. 
São as chamadas teorias funcionalistas, que se desdobram em três: funcionalismo 
teleológico (teoria pessoal), funcionalismo sistêmico e funcionalismo redutor. Vejamos. 
Teoria Pessoal. A Teoria Pessoal, também chamada de funcionalismo 
teleológico, foi criada por Claus Roxin e conceitua a conduta penalmente relevante como 
a manifestação da personalidade humana. 
Teoria Funcionalista Sistêmica. A Teoria Funcionalista Sistêmica, também 
chamada de funcionalismo sistêmico, foi criada por Gunther Jakobs e conceitua conduta 
como a causação individualmente evitável de um resultado. 
Teoria Funcionalista Redutora. A Teoria Funcionalista Redutora ou 
funcionalismo redutor foi criada por Eugenio Zaffaroni e conceitua conduta penalmente 
relevante como o comportamento humano que se exterioriza com efeitos em um 
contexto mundano. 
 
Segundo a doutrina e jurisprudência majoritárias, nosso Código Penal optou pela 
teoria finalista da conduta
15
. Portanto, em nosso Direito Penal, conduta penalmente 
relevante é o exercício de uma atividade final. Considerado esse conceito, existem 
algumas hipóteses de ausência de conduta penalmente relevante, que excluem a 
tipicidade da conduta. São elas: 
 Atos inconscientes: são os atos em que falta a consciência psíquica do agente, como nos 
casos de sonambulismo e hipnotismo. Vale ressaltar que a pessoa não pode ter se 
colocado intencionalmente no estado de inconsciência (como no caso de embriaguez 
preordenada
16
) e nem ter a possibilidade de prever o resultado (como no caso da mãe que 
sabe que tem um sono agitado e mesmo assim se deita com seu bebê e acaba o matando). 
 Atos reflexos: são atos que independem do controle e previsão humanos, ocorrem em 
decorrência de uma situação reflexa. Exemplo: Mévio tem um ataque epilético e lesiona 
Caio, em decorrência dos reflexos do ataque. 
 Coação física irresistível: o ser humano passa a ser apenas massa mecânica, um 
instrumento. A vontade é totalmente suprimida. Exemplo: Tício empurra Patrícia sobre 
uma vitrine, o que a quebra. Não se pode falar em conduta penalmente relevante de 
Patrícia sobre o crime de dano, pois seu corpo foi mero instrumento mecânico de Tício. 
 Força maior (ou força da natureza): ocorre quando um fato natural atua sobre alguém, 
suprimindo toda sua vontade. Exemplo: Uma tempestade provoca que Angélica, dentro 
 
15
 O art. 20, caput, do CP, é apontado como uma comprovação de que o legislador reconheceu a teoria finalista. 
16
 É o caso da pessoa que se embriaga para conseguir praticar o crime. 
 
 
Monitoria de Direito Penal I 
 Wilson Ferreira Página 30 
 
de seu carro, danifique a vitrine da loja de Caio. Não há conduta penalmente relevante 
aqui. 
 Parte da doutrina ainda inclui como hipótese de ausência de conduta penalmente 
relevante o caso fortuito, que ocorre quando o ato acontece ao acaso, sem dolo ou culpa. 
Exemplo: Mévio dirige seu carro em uma movimentada avenida quando um suicida se 
joga sobre seu veículo. 
 Os atos automáticos e os atos instintivos não excluem a relevância penal da 
conduta. Os atos automáticos são aqueles que, por serem adquiridos por mera repetição, 
são praticados de forma automática, como é o caso do ato de andar. Nada obstante, os 
atos automáticos em conjunto foram uma conduta final, ou seja, dirigida pela vontade, 
como é o caso de uma pessoa que decide caminhar até o parque. Os atos instintivos são 
aqueles dirigidos pelo instinto humano. 
 
 TIPICIDADE 
 
Analisada a conduta penalmente relevante, resta perquirir se ela se reveste de 
tipicidade, que é a adequação da conduta ao tipo penal. 
Se a conduta se adequar ao tipo, falamos que é típica. Exemplo: Tício matou 
intencionalmente Mévio na rua da Bahia. A conduta se adequa, em tese, ao tipo do art. 
121 do CP (matar alguém). Destarte, o fato é típico. Será atípica a conduta que não se 
adequa perfeitamente ao tipo ou simplesmente não é tipificada. 
Entretanto a verificação da tipicidade não é tão fácil assim quanto parece. Na 
verdade, é necessário que se faça um juízo de tipicidade, que significa verificar se no fato 
estão contidos todos os elementos exigidos pelo tipo.

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