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www.correiobraziliense.com.br CORREIO BRAZILIENSE LONDRES, 1808, HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA. BRASÍLIA, 1960, ASSIS CHATEAUBRIAND BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, QUARTA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2023 CLASSIFICADOS: 3342.1000 • ASSINATURA / ATENDIMENTO AO LEITOR: 3342.1000 • assinante.df@dabr.com.br • GRITA GERAL: 3214.1166 NÚMERO 22.087 • 26 PÁGINAS • R$ 4,00 Na lista de demissões quase certas para a entrada do Centrão no governo, Ana Moser, do Esporte, foi ao Planalto falar com Lula, mas a troca não foi anunciada e ela segue no cargo por pelo menos mais um dia. Mudanças na Esplanada devem ser anunciadas hoje. PÁGINA 3 Ministros aposentados do STF condenaram a sugestão do presidente da República de que votos dos ministros deveriam ser secretos. Celso de Mello e Marco Aurélio Mello exaltaram a transparência dos atos da Corte. “Democracia não tolera o mistério”, escreveu Celso. Lula também recebeu forte contestação do Legislativo. Atleta olímpico, Caio Bomfim inaugurou, ontem, as novas pistas de atletismo da UnB. O complexo Mário Ribeiro Cantarino Filho tem padrão internacional e pode receber competições oficiais. Esplanada pronta — Um megaesquema de segurança será acionado de hoje a sexta-feira, para garantir a tranquilidade dos eventos do 7 de Setembro. Além do tradicional desfile, haverá exposições e show aéreo. Confira outras opções para o feriadão. PÁGINAS 13 E 18 Proteção à mulher No CB.Poder, Ricardo Vale (PT), vice-presidente da CLDF, falou sobre leis para combater a violência. PÁGINA 14 Executivo local envia à Câmara Legislativa proposta para regularização fiscal, com redução de juros e parcelamento em 120 vezes. Pessoas físicas e jurídicas podem aderir. Tributos como ICMS, IPTU, IPVA e ITBI estão na lista PÁGINA PÁGINA 2 Novo Refis do GDF busca renegociar R$ 35 bi em tributos Reforma ministerial vira novela confusa Críticas a Lula por defender sigilo no Supremo EUA alertam Coreia do Norte sobre apoio à Rússia PÁGINA 9 PÁGINA 15 Denise Rothenburg Luiz Carlos Azedo Ana Maria Campos Sem arrecadação, Lula não libera emendas. PÁGINA 4 Mesmo isolado, Bolsonaro tem força política. PÁGINA 3 Lei para o carbono mobiliza Leila Barros (PDT). PÁGINA 14 Câmara determina limite para juros do cartão de crédito PÁGINA 7 PÁGINA 5 Ciclone tropical provocou fortes chuvas, onda de granizo e aumento repentino no nível do Rio Taquari e seus afluentes, causando inundações em cidades, e pelo menos 21 mortes no Rio Grande do Sul, nas últimas 48 horas. O Rio Guaíba, que corta Porto Alegre, está sendo monitorado.Devastação no Sul A vitória é azul PÁGINA 20 Amido combate doença hepática Cientistas desenvolvem suplemento que pode reduzir triglicerídios no órgão humano. PÁGINA 12 Maurício Tonetto/Secom Prefeitura de Passo Fundo /Divulgação Minervino Júnior/CB/D.A Press Minervino Júnior/CB/D.A Press Kayo Magalhães/CB/D.A Press INÊS249 2 • Correio Braziliense • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 Política Editor: Carlos Alexandre de Souza carlosalexandre.df@dabr.com.br 3214-1292 / 1104 (Brasil/Política) No meio político, a declaração do presidente Lula também pro- vocou reação. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afir- mou que, caso os votos dos mi- nistros do STF sejam secretos, “o princípio da transparência, que é tão exigido no televisionamento das decisões, vai ficar ofuscado”. O deputado disse não enten- der a razão para a fala de Lula. “Longe de mim saber quais são os motivos que foram tratados pa- ra (o presidente) dar uma decla- ração como essa”, acrescentou. Parlamentares da oposição aproveitaram para atacar o go- verno. “Não tem proposta, é só um devaneio presidencial. A questão da segurança dos mi- nistros é relevante. Há medidas que podem ser debatidas e ado- tadas, mas não essa”, comentou o senador e ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro (União-PR). Já o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) relembrou outra fa- la polêmica do petista, de que o conceito de democracia seria “re- lativo” e teria significados dife- rentes para cada pessoa. “A transparência em todas as esferas públicas é uma das ba- ses da democracia. Se acatada, essa proposta do presidente tra- rá um enorme retrocesso ao país. O próximo passo será defender o retorno do voto secreto no Con- gresso? Para preservar os parla- mentares?”, declarou. O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), por sua vez, que in- tegra a base de Lula no Congres- so Nacional, ironizou. Disse que a fala merece destaque no “con- curso de frase mais tosca do ano”. “Caro Lula, a democracia exige justamente o contrário, ou seja, máxima publicidade. Vale a lição histórica de que ‘a luz do sol é o melhor desinfe- tante’”, pontuou. “Debate válido” Já o ministro da Justiça e Segu- rança Pública, Flávio Dino, pro- curou justificar a declaração de Lula, embora tenha evitado se posicionar sobre a mudança — ele é cotado a uma vaga no STF, mas tenta permanecer abaixo do radar nessa disputa. Dino argu- mentou que algumas Supremas Cortes, como a dos Estados Uni- dos, seguem o modelo de não divulgar os votos individuais de cada magistrado, apenas o resul- tado final do julgamento. Para o ministro, esse é um “debate váli- do”, mas que não será feito agora. Questionado se uma even- tual medida nesse sentido não reduziria a transparência do Ju- diciário, ele negou. “Não, porque a decisão é comunicada de um modo transparente. Apenas há a primazia do colegiado sobre as vontades individuais. É um modelo possível”, respondeu. Perguntado sobre sua posição em relação ao assunto, driblou: “Não tenho elementos para di- zer que um modelo é melhor do que o outro. Apenas acen- tuar que, em ambos, há trans- parência”. “Volto a dizer: não é um debate para agora, para es- te governo, para este Congresso, mas, em algum momento, é um debate importante para esta na- ção”, completou. (VC) Reações até na base aliada Lira: eventual medida ofuscaria o princípio da transparência Discussão e votação de propostas. Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira PODER Ministros aposentados do STF criticam Lula Celso de Mello e Marco Aurélio Mello rebatem sugestão do presidente da República de que os votos dos integrantes da Corte sejam secretos. Segundo ressaltam os magistrados, a transparência é uma das bases de uma sociedade democrática M inistros aposentados do Supremo Tribunal Fe- deral (STF) dispararam críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suge- rir que os votos dos magistrados da Corte sejam secretos. O ministro Celso de Mello emitiu uma nota na qual enfati- zou que a sociedade deve acom- panhar os fundamentos do voto dos magistrados, e a democracia não tolera o mistério. “Não se pode negar ao cida- dão, em uma sociedade estrutu- rada em bases democráticas, o di- reito de conhecer os motivos que levam um magistrado a proferir seu julgamento, pois, nesse domí- nio, há de preponderar, sempre, um valor maior, representado pe- la exposição ao escrutínio público dos processos decisórios em cur- so no Poder Judiciário”, declarou. Segundo o ministro aposen- tado, a transparência dos atos do poder público só é quebra- da em regimes totalitários. “Os estatutos do poder numa Repú- blica fundada em bases demo- cráticas não podem privilegiar o mistério, porque a supressão do regime visível de governo, que tem na transparência a condi- ção de legitimidade dos próprios atos, sempre coincide com tem- pos sombrios e com o declínio das liberdades fundamentais. A Constituição da República não privilegia o sigilo! Ao contrário, ela dessacralizou o mistério co- mo ‘praxis’ governamental, nota- damente no âmbito do Poder Ju- diciário”, acrescentou, em nota. Ao Correio, o também minis- tro aposentado Marco Aurélio Mello ressaltou não haver pos- sibilidade de voto sigiloso na Constituição Federal. Quando presidiu a Corte, uma de suas ações foi a criação da TV Justiça, em 2002, justamente para au- mentar a transparência eveicu- lar os julgamentos do STF. O mi- nistro, porém, disse não acredi- tar que Lula realmente defenda a possibilidade do voto secreto. “Atribuo essa fala a um ato fa- lho, e ele se expressou como se expressou. É um conceito bási- co da Constituição Federal que o serviço público se baseia na pu- blicidade. Não se coaduna com a nossa democracia, com a Cons- tituição, o voto sigiloso”, frisou. » RENATO SOUZA » VICTOR CORREIA O presidente Lula durante a live semanal: “A sociedade não tem que saber como é que vota um ministro da Suprema Corte” Ricardo Stuckert/PR O magistrado ainda comen- tou a afirmação do ministro da Justiça, Flávio Dino, de que a Suprema Corte norte-americana não divulga os pareceres indivi- duais de seus integrantes, apenas o resultado final do julgamento. O argumento de Dino teve por objetivo justificar a fala de Lula. Marco Aurélio Mello, porém, rebateu: “A Suprema Corte é nor- teada pela Constituição. A nossa Constituição prevê a publicida- de. Se nos Estados Unidos o sis- tema é outro, o sistema é deles. Enquanto estivermos com essa Constituição, não há voto sigilo- so”, apontou. “Não há espaço pa- ra uma era de trevas”, emendou. “Animosidade” Lula deu a declaração, ontem, na live Conversa com o Presidente. Ele sustentou que a medida dimi- nuiria a “animosidade” e as pres- sões contra os integrantes da Cor- te. “Se eu pudesse dar um conse- lho, é o seguinte: a sociedade não tem que saber como é que vota um ministro da Suprema Corte. Acho que o cara tem que votar, e ninguém precisa saber. Votou a maioria 5 a 4, 6 a 4, 3 a 2. Aí, cada um que perde fica com raiva, cada um que ganha fica feliz”, ressaltou. Na opinião de Lula, os magistra- dos do Supremo sofrem hostilida- des na rua em razão dos votos que proferem. “Para a gente não criar animosidade, acho que era preciso começar a pensar se não é o jeito de a gente mudar o que está acon- tecendo no Brasil, porque do jeito que vai, daqui a pouco, um minis- tro da Suprema Corte não pode mais sair na rua, não pode mais passear com a sua família, por- que tem um cara que não gostou de uma decisão dele”, completou. O presidente não esclareceu como seria o modelo que está sugerindo, mas não deixou dúvi- das de que trata-se dos votos in- dividuais dos magistrados, e não de uma alteração na transmissão das sessões, difundidas ao vivo pela TV Justiça e pela internet. O petista defendeu o voto se- creto em meio a críticas contra o ministro Cristiano Zanin, recém -empossado na Corte por indi- cação do petista, de quem foi ad- vogado na Lava-Jato. Zanin vem sendo atacado, até mesmo pelo PT, por seus votos conservado- res, como o contrário à descri- minalização da maconha. Não se pode negar ao cidadão, em uma sociedade estruturada em bases democráticas, o direito de conhecer os motivos que levam um magistrado a proferir seu julgamento” Celso de Mello, ministro aposentado do STF É um conceito básico da Constituição Federal que o serviço público se baseia na publicidade. Não se coaduna com a nossa democracia, com a Constituição, o voto sigiloso” Marco Aurélio Mello, ministro aposentado do STF Entidades repudiam Organizações que defendem o combate à corrupção no país criticaram o presidente Lula. Em nota, a Transparência Interna- cional Brasil e o Instituto Não Aceito Corrupção (Inac) refor- çaram que a publicidade dos jul- gamentos é essencial para a ma- nutenção da democracia, e clas- sificaram a proposta como um retrocesso. Na nota da Transparência In- ternacional Brasil, assinada pe- lo diretor-executivo Bruno Bran- dão, a organização afirma que o Poder Judiciário é o mais eli- tista e menos transparente dos Três Poderes, e que a introdução do sigilo o tornará “ainda mais opaco e distante da sociedade” e na “direção contrária a qual- quer projeto de democratização”. “Conquistas como a TV Jus- tiça cumprem verdadeiro papel de pedagogia constitucional, aju- dando a enfrentar o déficit histó- rico de cidadania em nosso país. Ao contrário do que Lula sugeriu, o Brasil precisa discutir e tratar com urgência as profundas de- sigualdades no acesso à Justiça. O que demanda mais, não menos transparência”, frisou. A TV Justiça também foi acla- mada pelo Instituto Não Aceito Corrupção, que apontou que a sua criação, em 2002, permitiu que a sociedade acompanhasse o trabalho feito pelos ministros. Segundo o Instituto, a fala de Lu- la causou “uma profunda perple- xidade” e a sua sugestão não en- contra amparo na Constituição. “A proposição, sem respal- do constitucional, vem na con- tramão da necessária constante prestação de contas de cada um dos integrantes dos Três Poderes à sociedade, exceção natural ób- via a temas judiciais que digam respeito à intimidade, que terão individualmente o sigilo decre- tado, caso a caso, se necessário”, afirmou a organização. INÊS249 Correio Braziliense • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 • Política • 3 luizazedo.df@dabr.com.br A antropologia explica a resiliência de Bolsonaro Teólogo católico maldito, Leonardo Boff é um crítico dos fundamentalismos. Segundo ele, todos os sistemas culturais, científicos, políticos, econômicos e artísticos que se apresen- tam como portadores exclusivos da verdade e da solução úni- ca para os problemas são fundamentalistas. Ex-frade francis- cano, considerado um dos fundadores da chamada Teologia da Libertação, suas críticas aos dogmas religiosos o levaram ao confronto com Roma. Nascido em Santa Catarina, seu no- me de batismo é Genézio Darci Boff. Os conceitos de Boff no livro Igreja, Carisma e Poder provo- caram forte reação da Congregação para a Doutrina da Fé, en- tão dirigida por Joseph Ratzinger, que viria a ser o Papa Bento XVI. Condenado ao “silêncio obsequioso”, Boff foi proibido de difundir suas ideias renovadoras sobre a relação da Igreja Ca- tólica com o povo, por colocar “em perigo a sã doutrina da fé”. À época, os padres católicos que adotaram a Teologia da Li- bertação criaram as chamadas comunidades eclesiais de base, que estimulavam a população católica das periferias e grotões a lutarem por seus direitos. Com a punição de Boff, os que de- fendiam suas ideias passaram a ser isolados pela própria hie- rarquia da Igreja, o que acabou contribuindo para afastar do catolicismo grande parcela da população pobre do nosso país. O anticlericalismo da esquerda brasileira, que estava sendo amortecido pelas comunidades eclesiais de base, voltou-se con- tra a Igreja Católica, que havia desempenhado um importante papel na luta contra o regime militar. Ao mesmo tempo, os se- tores mais conservadores do clero ampliaram a sua influência. Essa visão anticlerical da esquerda é dogmática e incapaz de compreender a importância da religião na vida da sociedade. Desde sempre, os mitos e ritos religiosos existem como for- ma de representação da nossa humanidade. Em diversos mo- mentos, foram fatores de profunda divisão, com guerras san- grentas, como aconteceu entre católicos e protestantes e, ho- je, ainda acontece entre muçulmanos sunitas, xiitas e funda- mentalistas. No século passado, por isso mesmo, os antropó- logos franceses passaram a dedicar muita atenção às religiões. A antropologia das religiões parte da ideia de que a huma- nidade e sua cultura são realidades complexas e precisam ser estudadas com base em paradigmas mais científicos, para se- rem compreendidas e respeitadas, como pensamento simbó- lico. Não são manifestações apenas psicológicas, preenchem necessidades e revelam aspirações legítimas. O antropólogo francês Lévi-Strauss, que lecionou na Uni- versidade de São Paulo, realizou uma notável pesquisa sobre as estruturas de parentesco, ao estudar a vida dos índios nam- biquaras, caingangues e bororos, que ainda hoje é uma refe- rência. Sua distinção entre a ordem vivida, cuja base é a rea- lidade objetiva, e a ordem concebida, que é a representação dessa mesma realidade, é consagrada. Evangélicos É pacífico que a estrutura dossistemas de representações e práticas religiosas tendem a assumir a função de instrumento de imposição e legitimação. O campo religioso não somente cumpre funções estritamente religiosas, mas se vincula a de- mandas propriamente ideológicas. É aí que os evangélicos le- vam vantagem. Desde quando os irmãos John e Charles Wes- ley, clérigos anglicanos, inspirados em Martinho Lutero, im- pactados pela extrema pobreza e as terríveis condições de saúde e de trabalho da Revolução Industrial, concluíram que a religião deveria adotar uma mensagem de “santidade social”, publicamente engajada nas questões sociais. Os “evangelistas” passaram a levar a mensagem cristã aos mercados, campos e casas. Acreditaram no poder da transfor- mação pessoal e social do cristianismo, combateram o tráfico de escravos, defenderam a educação gratuita e ajudaram a or- ganizar os sindicatos ingleses. Seus seguidores passaram a se chamar metodistas. Com o tempo, essa forma de atuação se tornou uma característica das diversas igrejas e denominações evangélicas, sejam as mais tradicionais, sejam as pentecostais, que ocuparam o espaço vazio deixado pela desmobilização das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica no Brasil. Bolsonaro capturou o apoio da maioria dos evangélicos ao se opor sistematicamente às pautas identitárias da esquerda, que são vistas como um ameaça à preservação da família uni- celular patriarcal. Esse apoio foi consolidado por sua aliança com a bancada evangélica no Congresso, um nó que o presi- dente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tenta desatar. Esse apoio evangélico explica em grande parte a resiliência eleitoral do ex-presidente da República. Tem um viés antropológico, que a ciência política não explica. A nova relação entre religião e política no Brasil está muito cristalizada. A perda dos direitos políticos por oito anos e o isola- mento a que Bolsonaro está sendo submetido no Congresso, após a tentativa de golpe de 8 de janeiro, não estão tendo o impacto que se imaginava na sua base eleitoral. Bolsonaro ainda mantém grande capacidade de transferir votos nas eleições municipais. Mesmo o desgaste provocado pelo caso das joias que rece- beu de presente da Arábia Saudita, e resolveu passar nos cobres, em vez de destinar ao patrimônio da União, ainda não abalou o prestígio popular de Bolsonaro como seus adversários espe- ravam. De igual maneira, a desmobilização dos radicais de ex- trema direita, cujos líderes estão sendo investigados e punidos por causa das invasões do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo tribunal Federal (STF), também não desbaratou o bolsonarismo, que continua muito ativo nas redes sociais. NAS ENTRELINHAS Por Luiz Carlos Azedo O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a reforma mi- nisterial a substituições de joga- dores feitas por um técnico du- rante um jogo de futebol. Ele também disse que é difícil co- municar demissões de ministros. Lula está nas últimas tratati- vas para abrigar o Centrão no go- verno. O bloco será representado por Silvio Costa Filho (Republica- nos-PE), que deve assumir Por- tos e Aeroportos, e André Fufuca (PP-MA), que deverá comandar uma versão turbinada do Minis- tério dos Esportes. O principal entrave à reforma é o que fazer com Márcio França, atual ministro dos Portos e Aero- portos. Ele tem demonstrado re- sistência a deixar o cargo. “É sempre muito difícil cha- mar alguém para dizer: ‘Olha, eu vou precisar do ministério por- que fiz um acordo com um par- tido político e preciso atender’, mas essa é a política”, declarou o presidente da República. Ele disse que o governo preci- sa construir uma maioria de vo- tos no Congresso para aprovar seus projetos prioritários. A par- tilha de poder por meio da no- meação de ministros é uma das formas de obter apoio dos parti- dos no Legislativo. A entrada de PP e Republica- nos no governo é negociada há meses. Auxiliares de Lula deram os anúncios como iminentes di- versas vezes no período, mas o presidente vem adiando a de- cisão. Há a expectativa de que o chefe do Executivo resolva o ca- so até amanhã, quando embarca para a Índia depois do desfile do Dia da Independência. O petista falou no programa Conversa com o Presidente, uma espécie de live semanal de Lula produzida pela Empresa Brasilei- ra de Comunicação (EBC). Difícil como demitir técnico de futebol A prometida reforma mi- nisterial virou um im- bróglio que se arrasta há meses, mas há a expec- tativa de que seja resolvido hoje. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue na busca por ampliar a base de apoio na Câmara, mas a articulação do governo enfren- ta tanto a voracidade do Centrão quanto as queixas de aliados de primeira hora, que não querem perder espaço na Esplanada. O Progressistas (PP) sinalizou ao Planalto o descontentamen- to com a possibilidade de assu- mir o Ministério dos Esportes. A situação deve ser contornada se houver uma turbinada na pasta, com a incorporação da secreta- ria que vai cuidar da arrecadação de jogos e teria um incremen- to orçamentário de R$ 2 bilhões em 2024 — a área estava prevista para integrar o Ministério da Fa- zenda. Essa medida, porém, tem de ser aprovada pelo Congresso. A ministra dos Esportes, Ana Moser, foi chamada para uma re- união, ontem, com Lula. Ela can- celou compromissos, e especula- va-se que o encontro marcaria a demissão da ministra. Sem decla- rações oficiais, fontes do Planalto afirmaram que o encontro termi- nou com a titular da pasta ainda no cargo. “Hoje (ontem), não foi demitida, mas isso não significa que ela necessariamente seguirá (no cargo de ministra)”, disse uma fonte palaciana. Já no Congresso, um importante líder do governo afirmou, sem rodeios, o contrá- rio: “Se não foi (demitida), será”. No processo de negociação, o que se diz na Câmara é que o go- verno preferiu, antes de divulgar a reforma, aguardar a aprovação do texto-base do programa De- senrola, que estabelece a rene- gociação de dívidas e passou na Câmara por 360 votos a favor e 18 contra. Pessoas ligadas ao mi- nistério sustentaram que Lula PODER » HENRIQUE LESSA » EVANDRO ÉBOLI » MAYARA SOUTO Edilson Rodrigues/Agência Senado Reforma ministerial deve ser anunciada hoje teria pedido mais um dia para Ana Moser, tempo em que o go- verno deve tentar resolver o im- passe com o PP. Porém, mesmo com os alia- dos de primeira hora, a reforma ministerial sofre resistências. O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, disse a interlocu- tores que preferia sair do gover- no do que ir para um Ministério de Pequenas e Médias Empre- sas, que seria criado para aco- modar o socialista. Nessa nego- ciação, o vice-presidente Geral- do Alckmin, do PSB, mesmo par- tido de França, entrou no jogo para acalmar os ânimos. Interlocutores apontam que Lula teria desistido de criar esse ministério porque ninguém se interessou, mas como o Portos e Aeroportos segue sendo a pasta cotada para ser entregue ao de- putado federal Sílvio Costa Fi- lho (Republicanos-PE), fala-se na possibilidade de França assumir a Indústria e Comércio, hoje com Alckmin. O vice-presidente dei- xaria de ser ministro, mas assu- miria o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômi- co e Social, o Conselhão. “Quimera” O deputado André Fufuca (PP- MA), líder do Progressistas na Câmara e principal cotado pa- ra ocupar a pasta de Moser, até a noite de ontem não se entendia como ministro. A pessoas próxi- mas, tem dito que 90% do que sai na imprensa não procede e que o ministério “turbinado” é, até ago- ra, uma “quimera”. Fufuca caminhava, ontem, pelo Salão Verde da Câmara quando foi abordado, logo na entrada do plenário, pelo cole- ga Antônio Brito, líder do PSD e primeiro vice-líder do maior bloco da Casa, formado por le- gendas do Centrão. “Ministro! Espera, ministro. Se não está atendendo agora, imagina de- pois que assumir”, disse sorrin- do Brito a Fufuca, no diálogo observado pelo Correio. Fufuca voltoue negou: “Não tem nada disso”. E mostrou ao colega um papel com alguma in- formação que apenas Brito viu e nenhum dos dois quis revelar à reportagem. A interlocutores, tem dito que nada lhe foi apre- sentado, e ir ou não para o gover- no ainda deve passar por uma úl- tima conversa com sua bancada. A expectativa é de que, ao lon- go do dia de hoje, Lula se reúna com Alckmin e Fufuca para bus- car uma solução que agrade a to- dos. Flávio Dino, ministro da Jus- tiça e Segurança Pública, também comentou ontem sobre reforma ministerial. Disse que “todos fica- rão felizes” com a decisão. Ques- tionado sobre quando a “novela” acabaria, afirmou que seria en- tre hoje (ontem) e amanhã (hoje). Articulação do governo enfrenta tanto a voracidade do Centrão quanto as queixas de aliados de primeira hora, que não querem perder espaço na Esplanada A ministra dos Esportes, Ana Moser, balança no cargo: ela teve reunião, ontem, com o presidente O ministro da Justiça e Segu- rança Pública, Flávio Dino, fez, ontem, um gesto de aproximação entre a Polícia Federal e as For- ças Armadas, ao convidar o mi- nistro da Defesa, José Múcio, e o comandante do Exército, general Tomás Paiva, para a cerimônia de formatura de alunos da PF. Ao discursar, Dino agradeceu a presença dos dois e frisou que ambas as instituições são “coir- mãs” e devem atuar em sincro- nia. Por exemplo, no combate a crimes na região amazônica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também compareceu, as- sim como o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. A relação entre PF e milita- res vem sofrendo desgastes des- de o início do governo, especial- mente após operações policiais que miraram militares envolvi- dos nos ataques de 8 de janeiro e na trama golpista para interferir no resultado das eleições do ano passado. A jornalistas, Dino des- tacou que a “busca da concór- dia” é maior do que eventuais di- vergências entre as instituições. “Destaco o alto significado da presença de Vossas Excelências aqui, uma vez que demonstra que, mais do que amigos, somos coirmãos. E as Forças Armadas e a Polícia Federal são instituições coirmãs, a serviço do Brasil, dos brasileiros e das brasileiras”, de- clarou Dino, no encerramento da celebração. Segundo a pasta, for- maram-se ontem 241 policiais fe- derais, sendo 116 agentes, 89 es- crivães e 36 delegados. Atuação integrada O ministro conversou com jornalistas após o fim da ceri- mônia e comentou o tema. De acordo com Dino, a presença de Múcio e Paiva “mostrou o princi- pal: são instituições que têm pa- péis diferentes, mas nós temos que atuar juntos”. “Eventuais divergências oca- sionais, que possam ter existido, não são maiores do que a busca da concórdia. Então a PF, tenho certeza, ficou muito feliz com a presença das Forças Armadas aqui representadas, porque sig- nifica que nós caminhamos jun- tos, independentemente de epi- sódios que estão em andamen- to”, acrescentou. Gesto de conciliação entre PF e FAs » VICTOR CORREIA Dino e Múcio na cerimônia de formatura de alunos da PF Tom Costa/MJSP 4 • Política • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 • Correio Braziliense Brasília-DF DENISE ROTHENBURG deniserothenburg.df@dabr.com.br Empresários lutam contra “chuva de impostos” Último prazo para apresentação de emendas à proposta que impõe cobrança de imposto de renda aos incentivos concedidos nos estados, esta quarta-feira mobiliza todo o empresariado. A ideia é que se apresente, no mínimo, um “refis” para que eles possam pagar a perder de vista o que chamam de “chuva de impostos”. A avaliação de muitos que consultaram advogados é de que o caso de cobrança de IR nessas subvenções vai terminar na Justiça. A não ser que se chegue a um acordo quando a proposta for a voto. Da parte do governo, a ordem é pressionar os parlamentares no seguinte sentido: se não houver aprovação das propostas relativas à arrecadação, vai ficar difícil cumprir a liberação de emendas parlamentares. Porém, muitos congressistas se sentem pressionados por todos os lados, porque se taxar quem produz, a criação de emprego e crescimento econômico ficará comprometida. CURTIDAS Alô, ICMBio! Alô, Ibama!/ Quem pretende passar o feriadão no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros pode se preparar: logo na chegada, o visitante terá que assistir um vídeo onde está dito com todos as letras: “Você é o único responsável pela sua segurança”. E mais: o parque não tem serviço de resgate. Qualquer problema, o visitante é obrigado a contactar o Corpo de Bombeiros. Também não há ambulância nem socorrista. Alô, fiscalização!/ Não tem ambulância, mas há um serviço de van interno que cobra R$ 25 na ida e R$ 40 na volta da área das cachoeiras, fora os R$ 40 do ingresso do parque. E mais: os comprovantes oficiais de matrícula com QR code ou código de barras, válidos para cinemas e shows, não são aceitos. A Parquetur, concessionária do parque, só aceita a carteirinha da UNE, que não é mais obrigatória. A reclamação está geral. A la Judiciário/ O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas (foto), decidiu seguir o modelo que o Poder Judiciário adotará para o feriado: sem ponto facultativo. Seja hoje ou na sexta-feira. Marco Maciel/ O jornalista Magno Martins autografa seu mais novo livro, O Estilo Marco Maciel, em 26 de setembro, no Salão Nobre do Senado, com histórias inéditas sobre como o ex-vice-presidente da República encarava a política. N a sessão do Conselho de Ética de ontem, mais um relator de processo por quebra de decoro parla- mentar mudou de opinião e de- fendeu o arquivamento da ação, desta vez, contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Josenildo Abrantes (PDT-AP), que relatou o caso, afirmou que ia pedir o seguimento da ação con- tra o filho de Jair Bolsonaro, mas admitiu que, diante de vários ca- sos julgados e arquivados, de par- lamentares da esquerda e da di- reita, iria tomar a mesma decisão. Eduardo é acusado de quebra de decoro por ter disparado xin- gamentos pesados contra o de- putado Marcon (PT-RS) em uma reunião da Comissão de Traba- lho. Marcon disse que a facada que Bolsonaro levou em Juiz de Fora (MG), em 2018, foi “fake”. Foi o suficiente para Eduardo partir para cima dele e o ofender com impropérios com “seu via- do”, “seu puto” e outros. “No primeiro momento, quan- do fiz o voto, estava encaminhan- do pela admissibilidade (aceita- ção da ação). Entretanto, com o julgado de vários casos da opo- sição e da situação, e observan- do as falas de alguns integrantes experientes aqui, entendo que Eduardo agiu sob o calor da emo- ção”, disse Josenildo no seu voto. O caso só não foi arquiva- do porque o deputado Chico Alencar (PSol-RJ) pediu vista, ou seja, adiou a votação do pa- recer do relator. Deputados bol- sonaristas tentaram demovê-lo da ideia e até ameaçaram que- brar o clima de entendimento, dizendo que, a partir de agora, agiriam da mesma forma con- tra representados governistas de partidos de esquerda. “Agora que não vou mudar de opinião mesmo. Não estou nes- se toma lá, dá cá que alguns es- tão praticando aqui. Deixou cla- ro que jamais duvidei da facada que o Bolsonaro levou. Foi algo criminoso, horrível”, enfatizou Alencar. “Mas acho que o depu- tado Eduardo Bolsonaro deve- ria estar aqui para explicar o que aconteceu (se referindo ao bate -boca com o petista).” Eduardo não compareceu ao conselho porque está em missão oficial. Ele foi representado por uma advogada, que argumen- tou que suas ofensas se deram no “calor da emoção”. Até agora, três conselheiros já mudaram seus pareceres e, em vez de pedir seguimento dos res- pectivos processos, mudaram de opinião e encaminharam pelo ar- quivamento das denúncias con- tra os bolsonaristas Carla Zam- belli (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL -MG) e José Medeiros (PL-MT). Outros dois casos contra depu- tadas da oposição também foram arquivados hoje, no conselho, e livraram as deputadasTalíria Pe- trone (PSol-RJ) e Juliana Cardoso (PT-SP) de responder por quebra de decoro parlamentar. Farra no Conselho de Ética No colegiado, deputado Josenildo Abrantes segue “acordão” entre governo e oposição e pede arquivamento da ação contra Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, acusado de quebra de decoro por xingar colega » EVANDRO ÉBOLI Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados Eduardo Bolsonaro não participou da sessão do Conselho de Ética porque está em viagem oficial PODER / Agora que não vou mudar de opinião mesmo. Não estou nesse toma lá, dá cá que alguns estão praticando aqui” Chico Alencar (PSol-RJ), deputado A Polícia Federal (PF) vascu- lhou 53 endereços em sete esta- dos no âmbito da 16ª etapa da Operação Lesa Pátria, que inves- tiga financiadores e fomentado- res dos atos golpistas de 8 de ja- neiro, que depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. As diligências foram cum- pridas em São Paulo (12), Ma- to Grosso do Sul (2), Paraná (6), Santa Catarina (3) Tocantins (2), Ceará (2) e Minas Gerais (26), por ordem do ministro Ale- xandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro determinou o blo- queio de bens, ativos e valores dos investigados, ressaltando que os danos causados ao patri- mônio público possam chegar a R$ 40 milhões, segundo as esti- mativas de investigadores. A Operação Lesa Pátria inves- tiga supostos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação crimino- sa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. Na semana que vem, o STF co- meça a julgar os primeiros extre- mistas bolsonaristas que atenta- ram contra a democracia. Os jul- gamentos estão marcados pa- ra os dias 13 e 14. Em seguida, a Corte vai se debruçar sobre mais três processos. Esses primeiros julgamentos são de vândalos classificados co- mo executores das quebradeiras. Até agora, somente seis proces- sos foram liberados para apre- ciação em plenário. Os presentes recebidos por Jair Bolsonaro durante o pe- ríodo na Presidência da Re- pública e que o Tribunal de Contas da União (TCU) deter- minou que o ex-chefe do Exe- cutivo os devolva, chegaram a ser catalogados na página ofi- cial do Palácio do Planalto. E seguem lá até hoje. O representante do Minis- tério Público junto ao TCU, o procurador Lucas Furtado, listou 11 presentes e reco- mendou ao tribunal reque- rer imediatamente a devolu- ção desses itens. No site oficial do Planalto, esses presentes aparecem co- mo “bens públicos”, e no ma- terial estão descritas as leis, decretos e também um acór- dão do próprio TCU, que dei- xaram claro que essas peças, recebidas em cerimônias ofi- ciais e com chefes de Esta- do, pertencem ao patrimô- nio da União. Alguns deles foram presentados a Bolso- naro na posse, em 1º de ja- neiro de 2019. Os presentes foram catalo- gados pela Diretoria de Docu- mentação Histórica da Presi- dência da República, que cui- da do acervo durante a vigên- cia do mandato presidencial. O texto oficial reforça que apenas presentes de “natureza personalíssima” podem ser le- vados pelo ex-presidente, e cita roupas, alimentos e perfumes. Dessa lista, o item mais ca- ro, uma maquete do templo do Taj Mahal, está avaliado em R$ 59,4 mil. (EE) Radicais têm bens bloqueados Presentes registrados A hora da verdade I A senadora Tereza Cristina (PP-MS) está com um pedido pronto para promover uma audiência pública na Comissão Relações Exteriores do Senado. Ela quer chamar as autoridades para saber por que o governo Lula não dá sinais de que quer vencer os impasses para a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia. A hora da verdade II Os negociadores europeus virão ao Brasil, na próxima semana, para uma reunião no Itamaraty a fim de tentar resolver os impasses — especialmente em torno das cláusulas ambientais. Acontece que o governo brasileiro tem colocado, também, a abertura das compras governamentais como parte desses entraves. Pau que dá em Chico... ... dá em Francisco. Da mesma forma que os europeus poderão participar de licitações para fornecer produtos ao governo brasileiro, o acordo pode abrir um mercado de R$ 1 trilhão para os produtos brasileiros. E a reforma, hein? Conforme esta coluna antecipou há vários dias, o PP receberá o Ministério dos Esportes, reforçado por programas voltados à juventude e ao empreendedorismo. É o governo Lula se rendendo à realidade de que não se administra sozinho, nem sem atender aos novos aliados que têm votos no Congresso. Ed A lv es /C B/ DA .P re ss INÊS249 5 • Correio Braziliense • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 Brasil Editor: Carlos Alexandre de Souza carlosalexandre.df@dabr.com.br 3214-1292 / 1104 (Brasil/Política) Fenômeno trouxe fortes chuvas e ondas de granizo, o que provocou o aumento violento e rápido no nível dos cursos d’água. Do município de Muçum, que está praticamente inundado, foram retirados 15 corpos. Defesa Civil monitora o Rio Guaíba CLIMA / Ciclone varre RS e deixa pelo menos 21 mortos U m ciclone extratropical deixou pelo menos 21 mortos no Rio Grande do Sul, nas últimas 48 horas. O fenômeno aumentou vertigi- nosamente o nível do Rio Taqua- ri, que inundou várias cidades que estão ao longo do seu curso — veja a lista das mais atingidas no quadro ao lado. Fortes raja- das de vento também puderam ser verificadas nesses municípios, deixando um rastro de destruição. Segundo a Defesa Civil do es- tado, o número de desabrigados no Rio Grande do Sul chegou a aproximadamente 1.650 pes- soas e são pouco mais de 4,5 mil os desalojados. Muitas casas so- freram danos por conta da venta- nia, da chuva forte e da queda de granizo. Houve falta de energia em dezenas de cidades e ainda há muitos pontos de alagamento. O ciclone desencadeou uma série de fortes chuvas, que fez com que os níveis do Rio Taquari e de afluentes subissem muito e rapi- damente. Somente no município de Roca Sales, um dos mais atin- gidos, a cheia foi de mais de 13m em menos de 12 horas. A prefeitu- ra alertou à população, pelas redes sociais, que a Defesa Civil e o Cor- po de Bombeiros não conseguiam auxiliar todos os que precisavam. Por isso, recomendou que os mo- radores que tivessem condições se refugiassem nos telhados das casas à espera de resgate. 80% alagado Somente no município de Muçum, na região do Vale do Ta- quari, foram localizados 15 cor- pos. Mais de 80% da cidade ficou alagada. “É o maior volume de mortes em um evento climático no estado do Rio Grande do Sul. Centenas de pessoas se mobili- zaram em uma rede proteção e salvamos milhares de vidas. Mas, infelizmente, 21 vidas não pude- ram ser salvas”, lamentou o go- vernador Eduardo Leite (PSDB), depois de visitar Lajeado, outro município muito afetado. As equipes de resgate estão concentradas na região do Vale do Taquari, onde os impactos do ciclone foram grandes. Os pio- res saldos são de Muçum e Ro- ca Sales, cujas comunidades es- tão mais de 80% submersas. Nos dois municípios, todo o comér- cio do centro, a prefeitura e as escolas estão debaixo d’água — além disso, há regiões rurais que estão completamente isoladas, uma vez que não têm energia elé- trica e serviço de telefonia. “Em algumas comunidades, onde a água chegou a um volume que nunca tivemos um preceden- te como este, muitas pessoas não entenderam que os alertas eram para valer e a água subiu rapida- mente”, explicou o governador. De acordo com o coronel Mar- cus Vinícius Gonçalves Oliveira, da Defesa Civil do estado, ao me- nos 18,5 mil pessoas foram afe- tadas diretamente pelo ciclone e seus efeitos. Ele destacou que solicitou apoio do Ministério da Defesa. Afirmou, ainda, que o Rio Guaíba, que corta Porto Ale- gre, também está sendo monito- rado, em razão da possibilidade de um pico de elevação no nível nas próximas horas — recebe as águas de vários afluentesque, hoje, estão vertendo a subida ex- pressiva de volume. Nas redes sociais, o presiden- te Luiz Inácio Lula da Silva la- mentou a situação e disse que todo o aparato federal está à disposição do governo gaúcho. (Com Agência Estado) *Colaboraram Marina Dantas e Leticia Torres, estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi Equipes tiveram dificuldades para resgatar feridos pela passagem do ciclone em municípios ao longo do Taquari Mauricio Tonetto/GRS Informe Publicitário Em cerimônia ontem no Pa- lácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demar- cou dois territórios indígenas na Amazônia. Um é o de Rio Gregó- rio, em Tarauacá (AC), com mais de 187,1 mil hectares e que per- tence aos povos katukina e ya- wanawá. O outro é a comunida- de de Acapuri de Cima, em Fon- te Boa (AM), com 18,3 mil hecta- res e no qual está o povo kokama. As duas reservas foram definidas para marcar o Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro. “A União tem na Amazônia Legal nada menos que 50 mi- lhões de hectares de terras pú- blicas. É o equivalente a uma Espanha inteira em meio à flo- resta”, comentou o presidente, ressaltando a importância de o governo dar um “destino cla- ro” para esses territórios. Em abril, outras seis áreas destina- das aos povos originários foram demarcados no Acre, em Ala- goas, no Rio Grande do Sul, no Ceará, em Goiás e no Amazonas. O presidente aproveitou a oportunidade para anunciar a destinação de terras da União e do Instituto Nacional de Coloni- zação e Reforma Agrária (Incra) aos povos indígenas, quilombo- las, pequenos agricultores, além de destinar parte delas à preser- vação ambiental. Lula também retomou a Câmara Técnica de Destinação e Regularização Fun- diária de Terras Públicas Fede- rais Rurais — que será coman- dada pelo Ministério do Desen- volvimento Agrário e Agricultu- ra Familiar. Será este colegiado que terá a atribuição de destinar as terras selecionadas pelo Incra. Ao Correio, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reforçou a importância das demarcações. “Com esses atos, estamos tra- balhando a agenda de regula- rização fundiária e dos investi- mentos nas atividades produti- vas sustentáveis, que é um tri- lho do Plano de Ação para Pre- venção e Controle do Desmata- mento na Amazônia Legal (PP- CDAm)”, salientou. » MAYARA SOUTO AMAZÔNIA Lula demarca novas reservas Joênia Wapichana (presidente da Funai) com aviso de demarcação Ricardo Stuckert/PR 3003-2433 (o custo é de uma ligação local em qualquer região do País, mesmo que solicite o DDD) www.ciee.org.br para Um encontro para trocar experiências e mostrar como a educação transforma vidas. Com esse propósito, a Fisia - distribuidora da Nike no Brasil - e a associação Somos CIEE realizaramumevento para reunir os 19 jovens bolsistas autodeclarados pretos e pardos que estão desde 2022 no ensino superior. Tambémparticipou desse bate-papoa campeãolímpica de vôlei, FernandaGaray. durante o períodode formaçãopara custeio dematerial, transporte e alimentação, BrasíliaAno IV - nº 631 Somos CIEE e Nike reúnem jovens bolsistas para bate-papo sobre suas experiências r Atendimento por WhatsApp 11 3003 2433 www.ciee.org.br “O Somos CIEE contribui efetivamente para a inclusão no mundo do trabalho. do CIEE. Acesse 6 • Brasil • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 • Correio Braziliense TRAGÉDIA STJ anula júri da Boate Kiss Ministros concordam com decisão do TJRS. Mais de 10 anos depois, nenhum dos acusados pela morte de 242 frequentadores foi punido A 6ª turma do Superior Tri- bunal de Justiça (STJ) de- cidiu, ontem, manter a anulação do tribunal do júri que condenou quatro pes- soas pela tragédia da Boate Kiss — na qual morreram 242 pessoas e 636 pessoas feridas, em 27 de ja- neiro de 2013. Após 10 anos, até o momento ninguém foi responsa- bilizado pela justiça. A Corte de- cidiu pela suspensão por 4 x 1 e as famílias das vítimas lamentaram o resultado, que classificaram co- mo “decepcionante”. Com a decisão, as condena- ções dos réus — Elissandro Spohr e Mauro Londero Hoffmman, só- cios da casa noturna, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bo- nilha Leão, integrantes da banda Gurizada Fandangueira — foram anuladas. O Ministério Público (MP) pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas um novo júri está previsto para acon- tecer daqui a três meses. O STJ reconheceu as seguin- tes nulidades: irregularidades na escolha dos jurados; reali- zação de uma reunião privada entre juiz e jurados; ilegalida- de na elaboração dos quesitos; e suposta inovação da acusação na fase da réplica. Os advoga- dos dos réus pediram a anula- ção do julgamento. Em agosto de 2022, por 2 x 1, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) anulou o júri, ocorrido em dezembro de 2021. O MP re- correu ao STJ para que a decisão do julgamento fosse mantida. Em junho, o ministro relator Rogerio Schietti defendeu o res- tabelecimento das condenações, pois considerou que os pontos levantados pelas defesas dos réus não influenciaram o julgamento. O magistrado ainda elogiou o juiz Orlando Faccini Neto, que presi- diu o júri dos quatro responsabi- lizados pela tragédia. Os ministros Antonio Saldanha Palheiro, Sebas- tião Reis, Jesuíno Rissato e Lau- rita Vaz discordaram do relator e mantiveram a anulação decidida pela 1ª Câmara Criminal do TJ-RS. Divergência Palheiros, Reis e Saldanha apontaram a reunião do juiz Fac- cini Neto com os jurados como “completamente irregular e anô- mala”. Para o ministro Saldanha, a reunião “traz uma influência que não tem como salvar o pro- cedimento”. “Uma opinião do magistrado traz uma influência que não tem como salvar o pro- cedimento. A própria incomuni- cabilidade dos juros fica compro- metida”, destacou. Rissato também foi crítico em relação à reunião entre o juiz e os jurados. “Como essa Corte é uma Corte de precedentes, não podemos admitir que em qual- quer comarca, em qualquer juí- zo deste país, o presidente do tribunal do júri resolve suspen- der o júri para ter uma reunião a sós com os jurados sem par- ticipação das partes”, criticou. A Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) lamentou a de- cisão. “Mais uma decepção com o Judiciário. Com isso, os quatro réus continuam em liberdade e um novo julgamento será mar- cado. Até quando a impunida- de vai servir à injustiça? Foram 242 vidas roubadas, 636 jovens que sobreviveram àquela noi- te marcada pela ganância e pe- lo horror. São famílias destruí- das, pais e mães que, 10 anos depois, lutam e esperam pe- la justiça”, criticou a entidade. Elissandro Spohr, Mauro Hof- fmman, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha foram sentenciados a penas de 18 a 22 anos de prisão. Com a tragédia, houve mudan- ças na legislação do Rio Grande do Sul, com normas de preven- ção e combate a incêndios a todos os imóveis não considerados co- mo unifamiliares exclusivamen- te residenciais. Com a chamada “Lei Kiss”, edifícios passaram a ser classificados como de baixo, mé- dio ou alto risco de chamas. *Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi Quando a tragédia fez 10 anos, em janeiro, parentes ergueram um memorial na Kiss Interior da boate se mantém tal como na noite em que os jovens perderam a vida Tomaz Silva/Agência Brasil Renan Mattos/Esp.CB/D.A Press » ISABEL DOURADO* Já assentou a poeira das elei- ções e de início de governo e che- gou setembro, o nono mês da atual administração federal. Na porta de setembro estão batendo prefeitos, principalmente os do Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorio- so. Das janelas da Faria Lima, em São Paulo, já se vêem rostos sur- presos, apreensivos e, talvez, ar- rependidos por terem assinado a tal Carta pela Democracia. No Congresso, o calor da elei- ção já baixou e perdeu-se a opor- tunidade de agir sob a força de votos ainda frescos. A picanha não secoletivizou e essa pode ser a pior parte. A favor do governo, não há restrições de pandemia e o fato de a mídia ser sempre anti -Bolsonaro, desde que ele entrou na política e, por consequência, agir pró-Lula. Isso gera notícia em favor do governo e emudece a saudável crítica. No entanto, números não são opiniões, mas fatos. Em julho, os crescentes gastos do governo fe- deral já superaram a decrescen- te arrecadação em R$ 36 bilhões. Para o ano que vem, ano eleito- ral, faltam R$ 168 bilhões. Cla- ro que quem pagará isso somos nós. O Arcabouço FIscal — eufe- mismo para o arrombamento do teto de gastos — vai permitir, em 2024, um acréscimo de R$ 129 bi- lhões nas despesas. O governo quer uma refor- ma tributária que o permita ar- recadar mais. Anuncia que vai cobrar dos ricos, mas o cobra- do por cima se derrama para baixo. O consumidor vai pagar o imposto que estará embutido nos preços. Quer cobrar do as- salariado três vezes mais de im- posto sindical para garantir a boa vida das cúpulas sindicais que apoiam o governo. Como não se saiu bem na eleição para deputados e sena- dores, o governo os atrai com liberação de emendas e oferta de cargos. E tudo tem um cus- to, inclusive o de ampliar o mi- nistério. E a mexida agrada uns e desagrada outros. Trocar PT por Centrão tem ônus políti- co-eleitoral. Assim como voltar ao antigo sistema de contratar publicidade estatal em troca de apoio. Aliás, a propaganda é a alma do governo. Na Câmara, é grande a ani- mação em torno de uma refor- ma administrativa que limite o inchaço do Estado. O governo não quer porque sua ideologia é a do Estado grande se impondo a uma nação fraca e obediente. Lula já expressou sua admiração ao sistema chinês, onde o gover- no fala e o povo cala. E não con- seguiu impedir a prorrogação da desoneração da folha. Giros internacionais Na política externa, há mui- tas viagens. Mas só isso. A des- ta semana é a 13ª e vai à Índia. A ideologia está atrapalhando. Até a Human Rights Watch cri- ticou o governo Lula por suas omissões ante as agressões aos direitos humanos na Vene- zuela, Cuba, Nicarágua, Chi- na e Rússia. A tentativa de im- por Nicolás Maduro na reunião regional em Brasília pegou mal até ante o esquerdista chileno Gabriel Boric. As declarações do presidente sobre o conflito Rússia-Ucrânia têm sido desastrosas. Enfim, ter- minam-se as preliminares e já é tempo de medir resultados. No- ta-se muita propaganda e um si- nuoso rumo político, junto com a inglória tentativa de fechar con- tas com gastos inchando. Ao chegar setembro, as ex- pectativas criadas começam a gerar frustrações pela consta- tação que o governo atual es- tá menos parecido com os dois mandatos passados de Lula e mais semelhante aos períodos de Dilma Rousseff. O CONSUMIDOR VAI PAGAR O IMPOSTO QUE ESTARÁ EMBUTIDO NOS PREÇOS. QUER COBRAR DO ASSALARIADO TRÊS VEZES MAIS DE IMPOSTO SINDICAL PARA GARANTIR A BOA VIDA DAS CÚPULAS SINDICAIS QUE APOIAM O GOVERNO ALEXANDRE GARCIA (cartas: SIG, Quadra 2, Lote 340 / CEP 70.610-901) Chegou setembro As operações de combate ao trabalho em situação análoga à escravidão registraram um no- vo recorde, em agosto, de pes- soas retiradas dessa condição. A Operação Resgate III libertou 532 pessoas que eram mantidas cati- vas, segundo o Ministério do Tra- balho e Emprego (MTE). Os estados com mais pes- soas resgatadas são Minas Ge- rais (204), Goiás (126), São Paulo (54), Piauí e Maranhão (42 cada). O maior número de vítimas foi re- tirada da área rural. O cultivo de café lidera a lista das denúncias de manutenção de trabalhado- res em condições análogas à es- cravidão (98), seguida do cultivo de alho (97) e de batata e cebola (84). Durante a operação, tam- bém foram resgatadas 26 crian- ças e adolescentes submetidos ao trabalho infantil — seis delas em situação de servidão. Segundo o ministro do Tra- balho e Emprego, Luiz Marinho, entre as razões para o aumen- to dos casos de escravidão foi o afrouxamento da fiscalização no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, somado ao modelo da reforma trabalhista. Para ele, a alteração na lei sobre a terceiri- zação de trabalhadores, aprova- da no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2017, contribuiu para o cenário de ex- ploração de mão de obra. “O que foi feito na última re- forma trabalhista em relação ao item terceirização, infelizmente respaldado pelo Supremo Tribu- nal Federal, é o grande responsá- vel pelo que estamos assistindo no trabalho análogo à escravi- dão”, criticou Marinho. Entre os casos destacados pelo ministro está o de uma mulher de 90 anos que tra- balhava como doméstica no Rio de Janeiro. Esteve nesta condição por aproximadamen- te 50 anos antes de ser resgata- da pela força-tarefa. Marinho ressaltou que o com- bate ao trabalho escravo precisa não apenas da colaboração dos órgãos públicos, mas, também, da indignação de toda a socie- dade “contra essa iniquidade que existe em toda a parte do mundo”. Ele destacou que os números confirmam o problema e que to- dos precisam se mobilizar contra a exploração do trabalho. “Esta- mos admitindo que existe o pro- blema e queremos mostrá-lo pa- ra resolver”, salientou. Como resultado da fiscaliza- ção, os trabalhadores resgata- dos receberam, até o momento, cerca de R$ 3 milhões em ver- bas rescisórias. Foram pagos, ainda, outros R$ 2 milhões em multas por danos morais coleti- vos. Mas segundo o ministério, este montante tende a crescer, pois muitos pagamentos ainda estão em processo de negocia- ção com os empregadores ou serão judicializados. Segundo o MTE essa foi a maior ação conjunta de comba- te ao trabalho escravo e tráfico de pessoas no Brasil. A ação envol- veu, além do Trabalho, o Ministé- rio Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU), a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). » HENRIQUE LESSA TRABALHO ESCRAVO 532 pessoas tiradas da exploração em agosto Em Minas, precariedade e falta de higiene de alojamento de trabalhadores mantidos em servidão na cultura do café Secom/MTE O que foi feito na última reforma trabalhista em relação ao item terceirização, infelizmente respaldado pelo Supremo Tribunal Federal, é o grande responsável pelo que estamos assistindo no trabalho análogo à escravidão” Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego 7 • Correio Braziliense — Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 Economia Editor: Carlos Alexandre de Souza carlosalexandre.df@dabr.com.br 3214-1292 / 1104 (Brasil/Política) 0,56% Nova York Euro R$ 5,303 Comercial, venda na terça-feira CDB 12,93% Prefixado 30 dias (ao ano) Salário mínimo R$ 1.320 Inflação IPCA do IBGE (em %) Março/2023 0,71 Abril/2023 0,61 Maio/2023 0,23 Junho/2023 -0,8 Julho/2023 0,12 Dólar Na terça-feira Últimos R$ 4,974 (+ 0,82%) 30/agosto 4,869 31/agosto 4,951 1/setembro 4,940 4/setembro 4,935 Ao ano CDI 13,15% Bolsas Na terça-feira 0,38% São Paulo Pontuação B3 Ibovespa nos últimos dias 31/8 1/9 4/9 5/9 115.742 117.331 CARTÕES DE CRÉDITO Câmara aprova limite para juros Projeto dá prazo de 90 dias para governo definir teto, caso contrário encargos não podem ultrapassar 100% do valor original da dívida. Texto, que ainda precisa ser examinado pelo Senado, ratifica também o programa Desenrola A Câmara dos Deputados aprovou ontem, em vo- tação simbólica, proje- to de lei que determina a fixação de um limite para os juros do cartão de crédito, uma estratégia para proteger consu- midores do rotativo do cartão de crédito que, atualmente, ul- trapassa 400% ao ano. O texto incorpora também o Desenro- la, programa de renegociação de dívidas que havia sido ins- tituído por medida provisória pelo governo. O projeto segue agorapara o Senado. A proposta dá um prazo de 90 dias, a partir da publicação da lei, para que emissoras de car- tão de crédito estabeleçam uma regulamentação, que deverá ser aprovada, ainda, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Se isso não ocorrer, o total de juros e encargos não poderá ultrapas- sar o valor da dívida original, ou seja, passará a valer um limite de 100% para os encargos. O texto aprovado é um substitutivo do relator, deputado Alencar Santa- na (PT-SP), para o Projeto de Lei 2685/22, do deputado Elmar Nas- cimento (União-BA). Apenas o partido Novo e o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) foram contrários à pro- posta. “Se você facilita dema- siadamente a vida do credor, prejudica o sistema financeiro. Somos contra o governo tabe- lar juros, regulando o dinheiro » ÂNDREA MALCHER Proposição foi aprovada por ampla maioria dos deputados na sessão de ontem, tendo recebido apenas dois votos contrários Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados alheio”, pontuou Gilson Mar- ques (Novo-SC). Para o relator, o projeto mos- tra o compromisso do parlamen- to com o povo brasileiro. “Que possamos ter uma condição mais justa e adequada nos juros pra- ticados sobre o cartão de crédito no país”, disse Santana. O crédito rotativo é uma modalidade acionada quando o cliente não paga o total da fatura do cartão de crédito. O projeto também permite a por- tabilidade do saldo devedor do cartão, uma forma de estimu- lar a competição e a redução da taxa de juros. Desenrola Alencar Santana também in- cluiu no projeto todo o texto da Medida Provisória 1176/23, que criou o Programa Desenrola Brasil a fim de incentivar a renegociação de dívidas, ofertando garantia pa- ra aquelas de pequeno valor (até R$ 5 mil). Além de bancos, o tex- to prevê que clientes renegociem dívidas com varejistas, bem como contas como água, luz e telefonia. O texto da MP foi apensa- do a uma proposta de teor simi- lar de autoria de Elmar Nasci- mento (União-BA) após negocia- ções entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) em uma tentativa de não descontinuar o programa, já que a MP iria ca- ducar. “Foi tudo negociado, e não à toa que, ontem, o requerimento de urgência foi aprovado com 360 votos favoráveis”, comentou Elmar antes da votação do texto-base. A Fazenda estima que o De- senrola pode beneficiar até 70 milhões de brasileiros endivida- dos. Em julho, na primeira etapa do programa, a atenção foi vol- tada para as dívidas bancárias. Os bancos limparam automa- ticamente o nome daqueles que deviam até R$ 100 e contaram com benefícios regulatórios pa- ra renegociar dívidas de pessoas com renda de até R$ 20 mil men- sais, sem limitação para o valor. “Há informações de que mais de 10 milhões de pessoas já foram beneficiadas — números expres- sivos”, destacou o relator. A segunda etapa deve come- çar no fim deste mês, visando a população de baixa renda, com garantia do Tesouro. Poderão ser contemplados inadimplentes com renda de até dois salários mínimos e dívidas de até R$ 5 mil. O relator acatou somente uma das oito emendas apresentadas ao projeto, a que inclui a obrigatorie- dade da Caixa e do Banco do Brasil prestarem instruções aos devedo- res que tiverem dificuldades com a plataforma do programa, de auto- ria de Leo Prates (PDT-BA). Todos os destaques, sugestões pontuais ao texto base, foram rejeitados. Pressionado pelo presiden- te da Câmara, deputado Arthur Lira (PP–AL), o governo deci- diu criar um Grupo de Traba- lho (GT) para elaborar uma pro- posta de reforma administra- tiva. Esta foi a deliberação da reunião realizada ontem entre os ministérios da Gestão e Ino- vação, da Fazenda, do Planeja- mento e da Casa Civil. Na reunião, a ministra da gestão, Esther Dweck, apre- sentou aos colegas uma rela- ção de projetos que tramitam no Congresso ou que estão em formulação no âmbito de seu ministério, visando à moder- nização do Estado. Ao sair do encontro, o ministro da Fazen- da, Fernando Haddad, defen- deu a aprovação do Projeto de Lei 6.726/2016, conhecido co- mo PL dos supersalários. “O PL dos supersalários po- de disciplinar uma coisa im- portante, colocar um fim a de- terminados privilégios e signifi- car uma economia robusta para o Estado brasileiro”, opinou Ha- ddad. Aprovado na Câmara em 2021, o PL está parado na Co- missão de Constituição e Justi- ça (CCJ) do Senado. As declarações de Haddad são uma resposta à provocação de Lira, que vem defendendo, des- de que o ministro anunciou o envio do projeto que taxa os su- per-ricos e os fundos offshore, a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32, formu- lada no governo de Jair Bolsona- ro, que prevê a reforma. “Regi- mentalmente, a PEC está pronta (para ir) para o Plenário. O que falta é apoio. É ter certeza de vo- tos, é ter certeza de texto. É a gen- te desmistificar as versões”, co- mentou Lira na semana passada. O presidente da Câmara rece- beu um manifesto assinado por presidentes de 23 Frentes Parla- mentares em apoio à proposta de colocar a PEC 32em votação. Não era desejo da equipe eco- nômica pautar esse assunto ago- ra. Mas, como o governo preci- sa aprovar matérias econômicas importantes, como a própria ta- xação dos fundos, os ministros acenaram com a criação do Gru- po de Trabalho. Na reunião de ontem, o úni- co titular ausente foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que foi representado por sua secretária executiva, Miriam Belchior. O GT será composto pelos mesmos in- tegrantes da reunião. » EDLA LULA FUNCIONALISMO Reforma administrativa: governo terá proposta Esther Dweck apresentou projetos para modernização do Estado Valter Campanato/Agencia Brasil Está cada vez mais difícil pa- gar contas atrasadas, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços (CNC). Com o acesso ao crédi- to dificultado por conta de ta- xas de juros elevadas, a inadim- plência registrou mais um re- corde no Brasil em agosto. Nes- se período, o índice de consu- midores brasileiros sem condi- ções de pagar dívidas atrasadas avançou para 12,7%, segundo a Pesquisa Nacional de Endivida- mento e Inadimplência do Con- sumidor (Peic), divulgada ontem. O aumento da inadimplência também se reflete na quantidade de pessoas com pelo menos um tipo de dívida atrasada. De julho para agosto, o número de brasi- leiros que passaram a conviver com esse tipo de situação saltou de 29,6% para 30%. Para o presi- dente da CNC, José Roberto Ta- dros, fatores que já vêm contri- buindo há algum tempo para o aumento da inadimplência no Brasil continuam influenciando a situação atual no país. “A taxa de juros elevada e o crédito caro ainda são empecilhos à melhoria da situação financeira dos brasi- leiros”, afirmou Tadros. Na comparação por faixa de renda, quem mais sofre é quem recebe menos. A pesquisa reve- lou que entre os consumidores que ganham até 3 salários míni- mos, a taxa de inadimplentes su- biu de 16,6% para 17,5%. Já pa- ra os que recebem de 3 a 5 salá- rios, o índice subiu de 10,6% para 10,9%. Sobre isso, a economista da CNC responsável pela Peic, Izis Ferreira, explica que é cada vez mais difícil para o consumi- dor que recebe menos, conseguir pagar todas as dívidas dentro do prazo de vencimento. “Isso mostra que, mesmo com uma inflação trazendo uma tré- gua para esse orçamento domés- tico, ainda é um desafio conse- guir negociar uma dívida ou pa- gar uma dívida que está atrasa- da há mais tempo e que sofre mais com esses juros altos que aumentam a despesa com juros e acabam tornando o valor da dívida muito significativo, e es- sa família não consegue pagar”, avalia a economista. Mesmo com o aumento da inadimplência, a pesquisa da CNC revelou que a quantidade de endividados (ou seja, quem possui qualquer tipo de dívida, independentemente do tempo) recuou no último mês. Na com- paração de julho o índice caiu de 78,1% para 77,4%, o menor pata- mar desde junhode 2022. Em relação aos tipos de dívida, o maior destaque da pesquisa foi a diminuição das contas atrasadas no cartão de crédito. Nesta modalida- de, houve uma redução de 0,4 ponto percentual entre julho e agosto, o que resultou em um recuo de 85,9% para 85,5%. É a segunda queda consecutiva desse indicador, que atingiu o menor nível 2023. *Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo Número de pessoas inadimplentes continua em alta » RAPHAEL PATI* 8 • Negócios • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 • Correio Braziliense Reprodu??o/Instagram Mercado S/A AMAURI SEGALLA amaurisegalla@diariosassociados.com.br Desde 2015, o país colocou para andar uma série de reformas que melhoraram tanto as contas públicas quanto o ambiente de negócios RAPIDINHAS » O biogás, um tipo de biocombustível produzido a partir de materiais orgânicos, está em alta no Brasil. De acordo com o Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás (CIBiogás), 114 unidades do tipo foram inauguradas no país em 2022, um acréscimo de 15% em relação ao ano anterior. Atualmente, 936 plantas operam no país. » Até Warren Buffett está de olho em energia renovável. O megainvestidor americano, famoso por seus investimentos no pouco sustentável mercado de óleo e gás, desembolsou US$ 500 milhões em projetos ligados a fontes solares. Depois de dizer que “estudou a fundo o assunto”, Buffett decidiu se render à nova era ambiental. » A rede de academias Smart Fit assinou contrato com o Comitê Olímpico Brasileiro para patrocinar o “Time Brasil” nas principais competições esportivas, incluindo a Olimpíada de Paris, em 2024. A empresa pretende acelerar seu plano de expansão. No primeiro semestre, o número de unidades abertas avançou apenas 4% diante de igual período de 2022. » A alta demanda dos brasileiros levará a Qatar Airways a aumentar a frequência de voos diários que conectam São Paulo a Doha. Serão três, e não mais duas decolagens por dia. As viagens internacionais estão em alta: em julho, os brasileiros gastaram US$ 1,3 bilhão no exterior, o maior patamar para o mês desde 2019. O Brasil se tornou o país das reformas — e isso é ótimo Os economistas tendem a olhar para o Brasil com pessimismo, mas é preciso fazer justiça aos avanços alcançados nos últimos anos. Desde 2015, o país colocou para andar uma série de reformas que melhoraram tanto as contas públicas quanto o ambiente de negócios. Entre elas, para citar apenas as mais visíveis, estão as novas regras trabalhistas e previdenciárias e os marcos regulatórios que destravaram investimentos em áreas sensíveis como saneamento. Também é preciso reconhecer que, a despeito da desconfiança da maioria dos economistas, o governo Lula, especialmente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem demonstrando algum nível de preocupação com a questão fiscal — o arcabouço está aí para confirmar tal percepção. Agora chegou a vez de a reforma tributária desatar o nó dos impostos, e parece haver disposição sincera em Brasília para levá-la adiante. É inegável que o Brasil tem sérios problemas a resolver, mas também se deve admitir que o horizonte ficou menos turbulento. Para gestor, Haddad é uma “voz dissonante no governo” O maior temor do mercado financeiro em relação à agenda econômica da gestão Lula diz respeito à situação fiscal. Segundo o gestor de um dos maiores fundos de investimentos do Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ser o único integrante do governo preocupado com a questão dos gastos públicos. “Haddad entendeu que, sem responsabilidade fiscal, não há crescimento”, diz “O problema é que ele tem sido uma voz dissonante em uma administração inclinada a gastar inclusive o que não tem.” Decolar e CVC crescem após crise da 123Milhas A crise da 123 Milhas, que entrou há alguns dias em recuperação judicial, deverá impulsionar os resultados da concorrência. A agência Decolar projeta agora crescer 20% em 2023 na comparação com 2022. Na CVC, maior operadora de turismo do país, as vendas aceleraram desde que o mercado descobriu os problemas da 123Milhas — a procura por pacotes para a Europa, por exemplo, aumentou 36%. Especialistas dizem que o episódio deverá levar os consumidores a buscar agências tradicionais. Produção industrial decepciona Se na semana passada o PIB trouxe uma surpresa positiva para a economia brasileira, desta vez o resultado da produção industrial causou certo desânimo e mostrou que o caminho para a plena recuperação será longo. Em julho, a produção das indústrias brasileiras caiu 0,6% em comparação com junho, conforme dados do IBGE. O desempenho foi pior do que o esperado pelos economistas, que previam queda de 0,4%. Na comparação anual, a performance foi ainda mais fraca, com recuo de 1,1%. Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil CVC/turismo 85 milhões de empregos deixarão de ser preenchidos até 2030 por falta de profissionais capacitados, segundo pesquisa da consultoria Korn Ferry Se faltar dinheiro, você certamente vai cancelar o serviço de streaming. No entanto, ninguém vai cancelar a água” Louise Barsi, economista, educadora financeira e filha de Luiz Barsi, um dos maiores investidores individuais da bolsa brasileira, explicando por que investe em ações de companhias da área de saneamento U m pedido de vistas cole- tivo adiou a votação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquéri- to (CPI) que investiga indícios de fraude nas Lojas Americanas. O prazo de funcionamento da CPI termina em 14 de setembro. In- satisfeitos com o teor do relató- rio apresentado pelo deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), al- guns parlamentares adiantaram que pretendem apresentar rela- tórios em paralelo. Chiodini não trouxe conclu- sões claras, em seu relatório, em relação aos culpados pela frau- de no balanço da empresa, que pode ter superado a R$ 20 bi- lhões. Embora reconheça a exis- tência da fraude, o texto diz que não foi possível “imputar a res- pectiva responsabilidade crimi- nal, civil ou administrativa a ins- tituições ou pessoas determina- das”. A jornalistas, o parlamen- tar afirmou que a prerrogativa do habeas corpus, que dá aos acusa- dos o direito de não responder a perguntas, prejudicou as oitivas. “É muito estranho uma CPI tomar depoimentos e, ao final, não conseguir chegar a nenhu- ma conclusão sobre um rombo de R$ 20 bilhões, indo para R$ 40, segundo informações de merca- do”, reclamou o deputado Mau- ro Benevides Filho (PDT-CE), um dos que disseram que farão um segundo relatório. Os deputados também pro- testaram diante da relutância do presidente da CPI, deputa- do Gustinho Ribeiro (Republica- nos- SE), em prorrogar o funcio- namento da comissão por mais 60 dias, conforme permite o re- gimento da Casa. Embora tenha havido requerimentos pela pror- rogação, Ribeiro não colocou o tema em votação. Assim co- mo não atendeu aos pedidos de convocação dos acionistas Jorge Paulo Lemann, Beto Sucupira e Marcel Hermann Telles. “Há motivos de sobra para serem ouvidos, numa CPI, o trio de acionistas”, apontou Fer- nanda Melchiona (Psol-RS). “Os maiores bilionários do país num roubo premeditado de R$ 40 bilhões nem sequer são pau- tados para serem ouvidos. Ti- nha requerimento para isso. O presidente não pode decidir, tem que ser o colegiado”, completou. Os deputados querem ou- vir também o ex-presidente da Americanas, Miguel Gutierrez, que na segunda-feira havia en- viado carta à CPI na qual diz que se tornou “bode expiatório” do caso para que “figuras notórias e poderosas do capitalismo brasi- leiro” fossem protegidas. A car- ta não foi tornada pública, mas o conteúdo vazou para o jornal Valor Econômico. Mechiona lembrou que a con- vocação de Gutierrez não seria um fator novo, uma vez que já há um requerimento solicitando o seu depoimento, ainda que por videoconferência, uma vez que o empresário está na Espanha. Ribeiro respondeu quepau- tar os requerimentos é uma atribuição do presidente da CPI e, por isso, não pautou. “Nós seguimos o fluxo de tra- balho do plano de trabalho do relator, que foi aprovado pelos membros da CPI. Aquilo que foi pautado, foi seguindo o flu- xo do que foi determinado an- teriormente”, disse, para justi- ficar a sua decisão. CASO AMERICANAS / CPI não aponta culpados Parecer do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC) não identifica responsáveis pela fraude de mais de R$ 20 bilhões no balanço da companhia. Insatisfeitos, parlamentares pretendem apresentar relatórios em separado Diretores da empresa usaram do direito de ficarem calados, e maiores acionistas não foram convocados Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press » EDLA LULA Após crescer 0,9% no segun- do semestre, sendo um dos des- taques do crescimento do Produ- to Interno Bruto (PIB) no período, a produção industrial brasileira mostrou perda de ritmo e apre- sentou retração de 0,6% em ju- lho. Segundo os dados da Pesqui- sa Industrial Mensal (PIM), divul- gada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na comparação com o mesmo perío- do do ano passado a queda foi de 1,1%. Com o resultado, a indústria acumula queda de 0,4% no ano e uma variação nula no acumula- do dos últimos 12 meses, ficando 2,3% abaixo do patamar pré-pan- demia, em fevereiro de 2020. O levantamento mostrou um perfil disseminado de taxas nega- tivas, com três das quatro grandes categorias econômicas e 15 dos 25 ramos pesquisados registrando recuo na produção. As principais influências negativas entre as ati- vidades foram dos setores de veí- culos automotores, reboques e carrocerias (-6,5%), indústrias ex- trativas (-1,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,1%) e máquinas e equipamentos (-5%). Para o analista da pesquisa, André Macedo, o programa de incentivo à indústria automotiva, subsidiado pelo governo, não foi capaz de alterar o cenário nas fá- bricas. “O que a pesquisa captou pelos dados de junho e julho é que, em um primeiro momento, esse estímulo rebate nas vendas porque o setor já tinha um nível alto de estoque”, explicou. Segundo Igor Cadilhac, econo- mista do PicPay, a queda veio em linha com as expectativas e com uma composição homogênea. “Após o setor de veículos surfar um bom momento com o incen- tivo do governo federal na aquisi- ção de carros populares, as con- dições conturbadas nas fábricas voltaram a predominar. Por outro lado, apesar do resultado negativo no mês, a indústria extrativa segue sendo o principal impacto positivo em termos anuais”, avaliou. Em nota, a Federação das In- dústrias do Estado do Rio de Ja- neiro (Firjan) ressaltou que a in- dústria continua sendo bastan- te afetada pela perda de tração da economia global e pelos juros elevados, que impactam as deci- sões de investimento e de con- sumo. “Desde março de 2021, a indústria nacional opera abaixo dos níveis pré-pandemia. Apesar disso, os índices de confiança dos industriais vêm demonstrando melhorias nos últimos meses. A perspectiva mais favorável está relacionada à queda nos preços e à expectativa de continuidade do ciclo de corte de juros”, disse. Apesar de ser dramática a situa- ção da indústria, o economista An- dré Perfeito afirmou que ainda há certo otimismo no setor para os próximos meses. “Foi apenas em agosto que se iniciou de fato o corte de juros e somente agora que se es- tabeleceu um melhor humor eco- nômico entre os agentes uma vez que a massa salarial segue em alta e os dados do PIB (Produto Inter- no Bruto) surpreendem”, avaliou. » RAFAELA GONÇALVES Indústria perde ritmo e cai 0,6% CONJUNTURA 9 • Correio Braziliense • Brasília, quarta-feira, 6 de setembro de 2023 Mundo Editora: Ana Paula Macedo anapaula.df@dabr.com.br 3214-1195 • 3214-1172 UCRÂNIA / Aliados de ocasião EUA avisam que a Coreia do Norte “pagará”, caso Kim Jong-un se encontre com o D e um lado, a Coreia do Norte, que sofre os im- pactos das sanções eco- nômicas impostas pelo Ocidente e um quase completo isolamento internacional. Tam- bém deseja fortalecer o seu pro- grama de mísseis balísticos. De outro, a Rússia, que enfrenta o risco de ver exaurir os seus ar- mamentos e munições em sua ofensiva à Ucrânia, além de ser alvo de retaliações do Ocidente. O anúncio sobre uma possível reunião entre o ditador norte- coreano, Kim Jong-un, e o pre- sidente russo, Vladimir Putin, acendeu o alerta do Ocidente e preocupou, principalmente, os Estados Unidos. As suspeitas são de que o Kremlin estaria interes- sado em receber armamentos de Pyongang. O governo da Rússia não confirma o encontro entre os dois líderes. “Não, não po- demos (confirmar), não temos nada a dizer sobre o tema”, de- clarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Não seria a primeira vez em que os dois países firmariam um acordo de defesa, mas a atual conjuntura, com a invasão ao território ucraniano, se impõe como um fator a mais de tensio- namento geopolítico. Em 2022, um relatório divulgado pela Or- ganização das Nações Unidas (ONU) destacou o papel que um diplomata norte-coreano teve em Moscou na aquisição de tec- nologias de mísseis balísticos e na tentativa de obter cerca de 3 mil quilos de aço para o progra- ma de construção de submari- nos de Pyongyang. Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Na- cional da Casa Branca, avisou que a Coreia do Norte enfren- tará consequências caso nego- cie armas com Putin. “Vão pagar um preço por isso na comunida- de internacional”, disse. O jornal The New York Times revelou que a Rússia tem o in- teresse em obter peças de arti- lharia e mísseis antitanque da Coreia do Norte, enquanto o re- gime de Kim Jong-un necessita de tecnologia avançada para sa- télites e submarinos nucleares, além de alimentos para seus 26 milhões de cidadãos. O ucrania- no Peter Zalmayev — diretor da organização não governamen- tal Eurasia Democracy Initiative » RODRIGO CRAVEIRO Vadimir Putin (D) e Kim Jong-un, durante a mais recente reunião entre ambos, no porto russo de Vladivostok, em 25 de abril de 2019 Rumores circulavam na Ín- dia de que autoridades preten- diam deixar de utilizar oficial- mente a denominação inglesa de seu país, Índia, ao mencionarem “Bharat” em um convite aos líde- res do G20 — os 20 países mais industrializados do mundo mais a União Europeia. No próximo fim de semana, Nova Délhi sediará uma cúpu- la do G20 e um jantar de Estado oferecido, segundo os convites, pelo “presidente do Bharat”. Bharat é um dos nomes ofi- ciais do país na Constituição in- diana e remonta a antigos tex- tos hindus escritos em sânscri- to. O primeiro-ministro, Naren- dra Modi, costuma utilizá-lo e os membros de seu partido, o BJP (nacionalista hindu), criticam a denominação “Índia”, imposta pelo Reino Unido. De acordo com a rede de te- levisão News18, fontes governa- mentais anônimas afirmaram que os deputados do BJP po- deriam apresentar uma resolu- ção para dar proeminência ao uso oficial de “Bharat”. Durante décadas, os governos indianos tentam apagar as marcas da era colonial britânica, renomeando ruas e até cidades. O Executivo de Modi mandou excluir nomes islâmicos de locais impostos sob o Império Mongol, que precedeu a colonização bri- tânica. Parte da população de- nunciou a medida como uma tentativa de estabelecer a supre- macia da religião hindu, majori- tária no país. Ambivalência Especialistas consultados pelo jornal The Hindu disseram existir ambivalência, no âmbito jurídi- co, sobre se seria necessária uma alteração constitucional para a eventual mudança de nome da Índia para “Bharat”. “O fato é que os termos Bha- rat e Índia podem ser usados de forma indistinta, especialmen- te tendo em vista a versão au- torizada em hindi da Constitui- ção indiana, mas o governo não ÍNDIA Rumores sobre mudança de nome Convite para jantar de Estado enviado aos líderes do G20: o uso da palavra “Bharat”
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