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Aula corporativismo Brasil e Espanha

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CORPORATIVISMO. BRASIL E ESPANHA
Túlio de Oliveira Massoni
Segundo Mihail Manoilesco, “a revolução Francesa dissolveu os quadros corporatistas, reduzindo a sociedade a uma poeira humana formada pelos indivíduos isolados”, sendo que o a concepção corporatista do Estado “representa hoje o futuro, do mesmo modo que o princípio liberal era o futuro em 1789. Não é uma doutrina conservadora, ao contrário, por introduzir o elemento organização em lugar do conceito de lucro individual, único regulador da economia capitalista, implica a substituição da preponderância do capital pela ascendência do trabalho e da faculdade conservadora 
O Século do Corporativismo – Doutrina do corporativismo integral e puro.Trad. Azevedo Amaral. José Olimypio Editora. Rio de Janeiro: 1938.
 
INTRODUÇÃO: premissas do corporativismo
Segundo Mihail Manoilesco, “a revolução Francesa dissolveu os quadros Manoilesco critica o individualismo e o comunismo.”O Estado democrático não significa somente a falta de organização; é também a desorganização... a existência de muitos partidos, que disputam entre si o poder público, arrasta a intervenção contínua dos mesmos no próprio mecanismo do Estado.”O Estado democrático, incapaz de organização, mas sobrecarregado de encargos múltiplos, está fatigado.... a descentralização corporatista é o único sistema que pode aliviar realmente o Estado. O pluralismo é também da essência do corporativismo, mas ai ele apresenta um aspecto legal e ordenado, consistindo na divisão das funções do Estado e não um pluralismo ilegal e anárquico, como o criado pelos partidos... O Estado como objeto de disputa entre os partidos não se mostra adequado a tornar-se o grande organizador da vida nacional, como o exige a época.
 
No comunismo critica Manoilesco “o exagero da submissão do indivíduo e o sacrifício da geração presente na esperança de realizar no futuro uma sociedade melhor” (tendência á organização sem freios), observando que não basta abolir o capital particular, é preciso que a produção não se paralise.
 
“Enquanto na doutrina individualista, o indivíduo é ao mesmo tempo a origem e o objeto último do Estado, no corporativismo a coletividade nacional representa uma entidade superior... Esta coletividade nacional colima os fins que lhe são próprios e que excedem aos dos indivíduos. O Estado é, pois, a expressão suprema da coletividade nacional e aparece como um instrumento, não ao serviço do indivíduo, mas ao de uma finalidade, que o ultrapassa...Segundo esta concepção, o Estado não pode ser considerado neutro, indiferente e agnóstico. O Estado é sempre a encarnação de um ideal.” O indivíduo preenche assim a função de instrumento ao serviço do Estado. O Estado não é um instrumento para a conservação dos indivíduos e para permitir-lhes atingirem seus objetivos; são ao contrário os indivíduos que se tornam um meio, um instrumento da vida do Estado (não têm direitos, como no Estado liberal e individualista, mas deveres). 
Fórmula de Mussolini: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”.
 
INTRODUÇÃO
Na visão de Leôncio Martins Rodrigues, o corporativismo é uma forma de organização das classes sociais pela ação reguladora do Estado, integrativa das forças produtivas (os grupos profissionais e econômicos) em organizações verticais e não conflitivas, cujas associações, para terem existência legal, dependem do reconhecimento do Estado, do qual recebem a delegação do exercício de funções públicas, sendo detentores do monopólio de representação no interior de sua respectiva categoria. 
 
Nesse sentido, Amauri Mascaro Nascimento acrescenta que o corporativismo destruiu a espontaneidade do sindicato, pois partiu da premissa de que cabe ao Estado disciplinar as relações coletivas de trabalho, pois nestas se exercitariam interesses públicos e não interesses individuais ou de grupos.
 
INTRODUÇÃO
Há vários corporativismos, que assumiu feições diferentes em cada ordenamento jurídico e conforme cada realidade.
Mas há alguns aspectos comuns a todos, do ponto de vista político:
 - são transclassistas, fenômenos de massa e buscam coesão, integração – visão harmônica e orgânica (ideário quase católico medieval), “corpos harmônicos” e não conflituais ; “representava a incorporação das massas de forma integral e não conflitual no interior do Estado, como superação da democracia parlamentar liberal.
 - hipertrofia do Poder Executivo e a premissa de que o parlamento é ineficaz para a resolução dos problemas da nação industrial; supremacia do Executivo sobre os demais, seja por sua função não especificada, seja por sua agilidade e rapidez, “sempre presente, sempre operante e sempre vigilante”.
 - personificação de supremo guias da Nação para saída de crises (econômicas, políticas, sociais), tais como Duce, Fuhrer, “Pai dos pobres”, “Salvador da Pátria”, mito de um Poder redentor
 - crise da democracia liberal e questionamentos de liberdades individuais das revoluções iluministas
 - nova visão de cidadania: indivíduo subordina-se ao coletivo/público – “cidadania regulada”
 - ideia de que partidos políticos segregam e dividem a Nação
 - noção do trabalho como dever em relação à Pátria – crimes de “vadiagem” e noção de trabalho não como direito subjetivo
 - ideia de incorporação ao trabalhador à democracia
 - negação de conflitos, sobretudo conflitos coletivos laborais
INTRODUÇÃO
 - E o plano das relações coletivas? 
É central objeto de controle e lugar privilegiado de análise pois personifica o “conflito de classes”. Logo, objeto de minuciosa regulação
 - sindicato absorvido para a esfera de direito Público (natureza quase autárquica)
 - reconhecimento oficial das entidades sindicais
 - poder “tributário” para arrecadar (imposto sindical)
 - eficácia “erga omnes” dos contratos coletivos de trabalho: suposta delegação do poder legislativo do Estado aos organismos sindicais, patronais e obreiros, em virtude da qual esses, como órgãos estatais e mediante um acordo coletivo, formulam a lei profissional (...) e o fundamento de sua obrigatoriedade está na decisão do poder legislativo autêntico ao outorgar aos sindicatos o encargo de redigir regulações de trabalho dentro do âmbito profissional.(como “leis delegadas”)
Controle sobre a vida dos sindicatos – vedação ideologias sectárias, dever de colaboração com o Estado; “domesticação”
 - greve proibida, entendida como algo nocivo e contrário aos superiores interesses da Nação
 Justiça do Trabalho e poder normativo – forma de controle e de resolução publica e disciplinada dos conflitos coletivos
INTRODUÇÃO
Na opinião de Mário Grandi, “o desenvolvimento das liberdades sindicais (e dos direitos sindicais) é um efeito paralelo dos processos de maturação dos sistemas de liberdade, como também de liberalização ou de democratização dos ordenamentos autoritários ou totalitários “
Todo processo de transição política significa a instauração de uma nova ordem. Em tais momentos, a construção de instituições é sempre uma dimensão desses processos, resulte ela da reforma ou da supressão de instituições previamente existente.
 Há diferença entre “liberalização” e “consolidação” democrática......
Riscos de reversões autoritárias.
O estudo da transição processada em outros países – o que coloca o tema da liberdade sindical no centro dos debates - permitirá a compreensão das razões da permanência de características essenciais do modelo corporativista no Brasil e, fundamentalmente, das possibilidades e caminhos de sua superação e transformação. 
As experiências italiana e espanhola evidenciam a ligação entre a democracia nas relações de trabalho e a democracia política. 
Na Itália, a derrota na Segunda Guerra Mundial levou à completa reformulação do modelo político e trabalhista. 
Na Espanha, o mesmo ocorreu na segunda metade da década de 1970, havendo sido conjugadas, para tanto, a concertação política e a concertação social. 
POR QUE ESTUDAR AS TRANSIÇÕES POLÍTICAS E SINDICAIS
Afinal, como ocorreram as transiçõespara a plena liberdade sindical na Itália, na Espanha, em Portugal, na Alemanha?
Quais dificuldades enfrentadas? Que novas teorias e fundamentos democráticos para fundamentar institutos do direito coletivo? Como fundamentar eficácia das normas coletivas e a relação entre elas e o ordenamento estatal? Qual a concepção de autonomia privada coletiva e de pluralismo jurídico e condições de eficácia da norma coletiva negociada? Quais os níveis de negociação coletiva e eventuais regras de interação entre eles (por ex: CCT e ACT e outros...)
Quais os problemas práticos de liberdade sindical, pluralidade e unidade sindical espontâneas? A que servem critérios de representatividade, quem os cria e quais os mais adequados e para que fim? Amplitude do direito de greve em variadas formas? Quais os limites de greve em atividades e serviços essenciais? Quais as formas de resolução de conflitos coletivos de trabalho em bases democráticas? Que concepção do papel dos sindicatos na ordem democrática? Dialogo social e práticas de concertação social (tripartismo e neocorporativismo)? Quais proteções e mecanismos de tutela de atos antissindicais? Quais formas de custeio e de financiamento? Que legislação de fomento e de apoio para a estrutura sindical, em seus pilares de liberdade associativa, negociação coletiva e greve?
São todos problemas sensíveis e que merecem respostas democráticas (e não mais autoritárias), sob um suposto fundamento de que o “povo ainda não está preparado para a liberdade sindical).
POR QUE ESTUDAR AS TRANSIÇÕES POLÍTICAS E SINDICAIS
A década de 30 e o pensamento autoritário: Alberto Torres, Oliveira Vianna e outros. Sobre o período: Angela Castro Gomes, Maria Célia Paoli.
“Interpretações do Brasil “: Brasil como uma Nação a se construir; “somos o latifúndio”
A visão do Estado colonial na obra de Oliveira Vianna sublinha os seguintes aspectos: (i) a sociedade colonial desarticulada, consistindo em ‘nódulos sociais’ isolados, baseados e delimitados no latifúndio auto-suficiente; (ii) a fragmentação da autoridade pública dissolvida no período colonial, com o poder nas mãos de ‘caudilhos locais’; (iii) as Câmaras Municipais como expressão do poder dos clãs rurais; (iv) as instituições político-administrativas como fortalecedoras do clã e do poder local, e nunca apoiadores do ‘homem comum’ contra a violência, o arbítrio e a ilegalidade. 
noção de “favor”, mecanismo de mediação entre os homens livres no Brasil
 República Velha: a questão social como “caso de polícia”
 o país era essencialmente rural e agrário, apesar do surgimento de algumas fábricas e do aumento da população urbana. A situação era a de predomínio da atividade agropecuária sobre a indústria. 
Isso explica o Decreto n. 979, de 06.01.1903, sobre sindicalização de profissionais de agricultura e indústrias rurais de qualquer gênero, que não teve efeito prático quase que nenhum e que atesta a singularidade do Brasil de começar a legislar sobre sindicatos rurais, “da maneira pela qual a grande maioria dos países termina” (CATHARINO, José Martins. Tratado elementar de direito sindical. São Paulo: LTr, 1977.). sentido cooperativista, das funções assistenciais das entidades em benefício dos sócios.
Lei n. 1.641, de 07.01.1907, conhecida como “Lei Adolfo Gordo” já previa a expulsão de operários estrangeiros envolvidos em agitações ao declarar em seu artigo 1º que “o estrangeiro que, por qualquer motivo, comprometer a segurança nacional ou a tranqüilidade pública pode ser expulso de parte ou de todo o território nacional.”
Em abril de 1906, no Rio de Janeiro, realizou-se o 1º. Congresso Operário Brasileiro, no qual foi fundada a Confederação Operária Brasileira (CBO), com motivação política, empenhando-se em greves e campanhas populares. Mencione-se ainda, uma ampla greve no setor têxtil de 1917 ocorrida na capital do país
No plano normativo, a Constituição de 1891 foi omissa quanto à greve. Todavia, o Código Penal de 1890 previa os delitos de coalizão e greve, ainda que pacíficas (arts. 205 e 206)
BRASIL: pré-30 e pensamento conservador
à Lei de Acidentes de Trabalho, votada em 1919, vieram juntar-se em 1923, o Projeto que aprovou as Caixas de Aposentadoria e Pensões aos ferroviários (Lei Eloy Chaves), concedendo direitos a este setor organizado do movimento operário.
Washington Luiz, candidato ao período 1926-1930 já revelava em seu programa aspectos interessantes na abordagem da questão social, que desde a 1ª Guerra Mundial, passaria a ser mencionada com maior freqüência nas plataformas eleitorais. Em sua declaração como candidato à Presidência da República em 1926, defendia que “a questão operária é uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem social”. 
Vésperas da Revolução de 1930
 Havia efetivamente um certo consenso de paternalismo e da noção de favor que era assumido por empresários já na primeira fase da industrialização. Tratava-se de uma atitude paternalista representada pela expressão “pai dos pobres”.
Emblemático o diagnóstico de Maria Célia Paoli: tratava-se de “um horizonte simbólico que despachava os trabalhadores pobres a um mundo do favor, da dependência, da hierarquia excludente; uma figura que, para ser incluída na ordem das coisas, necessitava ser um habitante silencioso e sem interioridade, constituído por obra benemérita das elites”.
BRASIL
Em discurso proferido no primeiro ano de governo, Vargas assim declarou: “O Ministério (do Trabalho) mantém estreito contato com as indústrias e comércio, sem falar nos representantes das classes operárias, procurando assisti-los em todos os seus interesses. A sua norma de ação consiste em substituir a luta de classes, negativa e estéril, pelo concreto orgânico e justo de colaboração entre as classes, com severa atenção às condições econômicas do país e aos reclamos da justiça social”.
 
A demonstrar a sintonia entre o Governo Federal e o Ministério do Trabalho e Emprego da época basta atentar para as palavras do então Ministro do Trabalho Lindolfo Collor, em discurso proferido no Rotary Club em 30.12.1930: “... a regularização jurídica das relações entre o capital e o trabalho obedecerá, pois, entre nós, ao conceito fundamental da colaboração de classes. Não há nenhuma classe, seja proletária, seja capitalista, que possa pretender que seus interesses valham mais que os interesses da comunhão social. O Brasil primeiro, depois os interesses de classe”.
 
O modelo sindical implantado, como se infere, foi resultado da política corporativista empreendida por Vargas, cuja tarefa era “incorporar o sindicalismo no Estado e nas Leis da República”.
 
BRASIL: revolução de 1930
Revolução de 1930 como “modernização conservadora”
Na precisa análise de Luiz Werneck Vianna, o capitalismo brasileiro seria, pois, politicamente orientado, uma “modalidade patológica” de acesso ao moderno, implicando uma “modernização sem prévia ruptura com o passado patrimonial”, o qual, ademais, continuamente se reproduzia, na medida em que as elites, identificadas com ele, deteriam o controle político do processo de mudança social.
O governo que se formaria reservava para si a liberdade de selecionar as reivindicações que atenderia e os problemas sociais deveriam ser incorporados ao mecanismo estatal para pacificá-los, domando-os entre extremismos, com a reforma do aparelhamento, não só constitucional, mas político-social
“Revolução pelo alto” ; “modernização conservadora”; “Revolução de superfície”; “revolução conservadora”; “revolução passiva”: movimento acomodatício entre as antigas classes rurais e as novas classes burguesas.
 
BRASIL: Revolução de 1930
A doutrina de Oliveira Vianna, o arquiteto
Populações meridionais do Brasil, escrita entre 1916 e 1918, e publicada em 1920, Oliveira Viana
A crítica aos idealistas utópicos
Em sua opinião, não existia unidade no Brasil, país que era muito mais uma “unidade a se constituir”, ambiente no qual, antes da liberdade, seria necessária a construção da autoridade.  
o Estado não deveriaser tomado como a principal ameaça à liberdade civil, mas como sua única garantia. Entre nós, justificava Vianna, “liberalismo significa, praticamente e de fato, nada mais do que caudilhismo, local ou provincial.
BRASIL: Revolução de 1930
A doutrina de Oliveira Vianna, o arquiteto
 “Dar consistência, unidade, consciência comum a uma vasta massa social ainda em estado ganglionar, subdividida em quase duas dezenas de núcleos provinciais, inteiramente isolados entre si materialmente e moralmente (...) realizar, pela ação racional do Estado, o milagre de dar a essa nacionalidade em formação uma subconsciência jurídica, criando-lhe a medula da legalidade; os instintos viscerais da obediência à autoridade e à lei (...) Problema, como se vê, de estruturação e ossificação da nacionalidade (...) cuja solução só seria possível pela ação consciente da força organizada. Quer dizer: pela instituição de um Estado centralizado, com um governo nacional poderoso, dominador, unitário, incontrastável, provido de capacidades bastantes para realizar, na sua plenitude os seus dois grandes objetivos capitais: a consolidação da nacionalidade e a organização da sua ordem legal.
A utopia do autoritarismo instrumental
É de Wanderley Guilherme dos Santos a expressão “autoritarismo instrumental”. O dilema, para Oliveira Vianna (e desta corrente de pensamento autoritário) é que não existira sistema político liberal sem uma sociedade liberal. No Brasil a sociedade era parental, clânica e autoritária.
BRASIL: Revolução de 1930
A doutrina de Oliveira Vianna, o arquiteto
Após ser nomeado consultor jurídico do Ministério do Trabalho, em 1932, inteirou-se de todas as teses sobre sindicalismo, corporativismo, direito do trabalho, direito social e a partir deles emergiu com nitidez a “receita” que propôs, “o modelo de organização para o mundo com que sonhava”. Conformado com o fato de que o mundo moderno era o da indústria, do operariado, das classes sociais sua indagação e inquietação teórica era como organizar este mundo dentro da utopia de uma sociedade harmônica, incorporadora, cooperativa; e “o corporativismo, o sindicalismo, a legislação social vinham trazer a resposta” como alternativa política de poupar ao Brasil dos dramas causados pela industrialização capitalista, ainda incipiente, e de “lançar-nos na direção de uma nova sociedade harmoniosa” e, “segundo ele, democrática, pois envolveria através de sindicatos e corporações, o grosso da população na direção política do país”.( CARVALHO, José Murilo de. A utopia de Oliveira Vianna. In: BASTOS, Elide Rugai; MORAES, João Quartim (Orgs.). O pensamento de Oliveira Viana. Campinas: Unicamp, 1993).
 Em sua obra Direito do Trabalho e Democracia Social Oliveira Vianna afirma: “Eis aí a obra da política social da Revolução. O povo, que estava ausente do Estado, foi chamado a ele: vários setores da vida econômica e da vida social da Nação foram entregues às classes organizadas, que as administram e os disciplinam diretamente, por meio dos seus representantes imediatos. O povo participa, destarte, cada vez mais da administração pública e das atividades legislativas e pré-legislativas do governo: há, pois, uma tendência visível e definida do Estado a identificar-se com o povo e do povo a identificar-se com o Estado”. (VIANNA, Oliveira. Direito do trabalho e democracia social: o problema da incorporação do trabalhador no Estado. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. p. 98.)
  Em verdade o sucesso do sindicalismo corporativista era entendido como condição mesma para o próprio exercício das funções do Estado moderno no Brasil. Por tal razão é que era fundamental para a proposta de Oliveira Vianna que o sindicato fosse único, exercesse prerrogativas de autoridade pública, sendo por isso sujeito à tutela do Estado. O monopólio da representação (unicidade e reconhecimento) era tão essencial ao modelo quanto o controle estatal.
BRASIL: Revolução de 1930
Vargas e a legislação trabalhista e sindical: a construção do edifício corporativista
 O intervencionismo concretizou-se sobretudo por meio de Decretos, haja vista que o Decreto n. 19.398, de novembro de 1930, que instituiu o Governo Provisório, também o autorizou a legislar mediante decretos, concentrando o governo em suas mãos - tanto o Poder Executivo quanto o Legislativo. No plano constitucional, ainda estava em vigor a Constituição de 1891, a qual seria substituída apenas em 1934. 
Enquanto isto, a normatização dos principais aspectos da vida social e econômica do país era conduzida a pulso firme por meio de decretos. Em meados da década de 30, sem que as diversas facções políticas percebessem, o aparelho estatal hipertrofiado e centralizador comandava a vida das instituições do país. Menos de um mês após Vargas ter tomado posse, foi editado o Decreto n. 19.433, de 26 de novembro de 1930, criando o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. É sintomático.
o discurso do então ministro do Trabalho Lindolfo Collor alguns meses após a Revolução de 30: “É o Ministério do Trabalho, especificamente, o Ministério da Revolução. À mentalidade do governo deposto, de que as questões sociais são meras questões de polícia, suscetíveis de solução pela última ratio das medidas repressivas já opusera, de há muito, a consciência liberal da nação o mais justificado e peremptório dos protestos (...) Volto a dizer, (...) que a existência da questão social entre nós nada tem de grave ou de inquietador: ela representa um fenômeno mundial, é demonstração de vida, de progresso. O que de inquietador aparece no Brasil é a preocupação de ignorar oficialmente a existência de problemas dessa natureza e desse alcance”.
A conhecida Lei dos Dois Terços (Decreto 19.482, de 12 de dezembro de 1930) fixava que todas as empresas urbanas deveriam contar com a referida taxa de brasileiros natos no conjunto de seu pessoal.
A tese política dominante no período pós-Revolução era precisamente a negação do conflito de classes, tido por estéril e anti-social, substituindo-o pela integração social dentro do Estado, bem aos moldes corporativistas. Em discurso proferido no Rotary Club em 26 de dezembro de 1930, Lindolfo Collor assim expressava tal postura: “Não há nenhuma classe, seja proletária, seja capitalista, que possa pretender que os seus interesses valham mais que os interesses da comunhão social. O Brasil primeiro, depois os interesses de classe”
BRASIL: Revolução de 1930
O Decreto n. 19.770, de 1931 abria a era da subjugação do sindicato pelo poder público, eis que fazia dele um órgão do Estado (Magano); marcadamente intervencionista, sindicalismo apolítico e voltado para a integração das classes produtoras (Amauri Mascaro). Admitiu a faculdade de os sindicatos celebrar convenções coletivas (função regulamentar), desde que ratificadas pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; função de colaborar com o Governo; função política (art. 1º, f) de abstenção de propaganda de ideologias sectárias; função assistencial de fundar caixas beneficentes, agências de colocação, serviços hospitalares.
 SINDICALISMOS ASSISTENCIALISTA, NÃO CONFLITUAL, DEVER DE COLABORAÇÃO E SÓ OS SINDICALIZADOS TERIAM ACESSO À LEI TRABALHISTA
 Fiel a tais princípios, o Estado expediu em 19 de março de 1931 o Decreto n. 19.770, introduzindo na ordem jurídica uma linha sindical marcadamente intervencionista, de um sindicalismo “apolítico e voltado para a integração das classes produtoras”.
Apolítico no sentido de absterem-se de toda e qualquer propaganda de ideologias sectárias, de caráter social, político ou religioso” (art. 1º, f). A maioria dos associados, dois terços no mínimo, deveria ser constituída de brasileiros, o mesmo valendo para os cargos de administração, concedida a brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos (art. 1º, “b” e “c”). Evidentemente aqui transparece a preocupação com militantes anarco-sindicalistas, o que vem reforçado no art. 12, ao vedar qualquer vinculação a associações de classe internacionais, seja dos associados,seja da própria entidade sindical.
Também o artigo 5º, caput, desse Decreto assegura que as entidades constituídas de conformidade com os ditames legais sejam consideradas “órgãos consultivos e técnicos no estudo e solução, pelo Governo Federal, dos problemas que, econômica e socialmente”, fossem relacionados com os respectivos interesses de classes. Neste ponto nitidamente prevalece a função assistencialista
No que concerne à greve, ainda na vigência da Constituição de 1891, o governo Vargas aprovou o Decreto n. 21.396, de 1932, que criou as comissões mistas de conciliação com a finalidade de solucionar conflitos coletivos de trabalho e previu a punição de grevistas que não se submetessem à apreciação prévia destas. Visava-se, sem dúvida, coibir o recurso à greve.
Ocorre que os direitos individuais reconhecidos estavam condicionados ao ingresso dos trabalhadores aos sindicatos oficiais criados dentro do sistema daquele decreto. Assim, os membros dos sindicatos autônomos, além de reprimidos, não teriam acesso a benefícios sociais. Mas convém uma análise da lógica subjacente a este mecanismo concebido para a relação entre a classe trabalhadora e o Ministério do Trabalho. A Lei de sindicalização de 1931 não obrigava a filiação ao sindicato reconhecido pelo Ministério, mas a esta filiação estavam condicionados os direitos sancionados pela legislação social. Com a instituição das carteiras de trabalho, criava-se também um instrumento de controle que era estimulado e propalado como símbolo de cidadania e de ingresso na vida pública.
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BRASIL: DEC. 19770, DE 1931
Decreto n. 24.694 de 1934, expedido 4 dias antes da CF/1934, continuou a trilhar o caminho do corporativismo. Por esse motivo colidiu frontalmente com a Constituição de 34, que estabelecia o pluralismo sindical. Todavia, e estranhamente, a lei 26694/34 foi considerada como recepcionada pela Constituição de 34.
 
Constituição Federal de 1934. O artigo 120 da Carta Constitucional declarou a pluralidade e a autonomia sindicais, por influência do pensamento católico brasileiro
Tratou-se de um hiato, meramente formal e curto, no período intervencionista. Isto porque o Decreto n. 24.694, expedido 4 dias antes da Constituição de 1934 foi declarado recepcionado pelo Supremo Tribunal Federal, a despeito de ter sido aprovado antes da Constituição e de contrariar os princípios nela consagrados.
O termo ‘classe’, que aparecia no Decreto anterior (19.770) foi substituído pelo termo ‘categoria’, indicando o cuidado de negar antagonismos sociais oriundos do próprio conflito capital e trabalho. O novo decreto foi minucioso no regramento da estrutura interna do sindicato, seus órgãos, regras de funcionamento das assembléias. A grande parte do estatuto já vinha pré-estabelecida pela lei. Reiterou a vedação de ideologias sectárias, mantendo o poder de censura do Estado sobre as entidades (art. 13). As eleições estavam sob a vigilância do Ministério (art. 22) a quem a entidade deveria encaminhar informações pormenorizadas da ata, dos eleitos etc. Prosseguiu-se com o incentivo à sindicalização à entidade oficial por meio de concessão de benefícios (art. 29 a 33) ao se assegurar aos trabalhadores sindicalizados nos moldes oficiais “a preferência, em igualdade de condições, para a admissão nos trabalhos de empresas que explorem serviços públicos, ou mantenham quaisquer contratos com os poderes públicos”.
BRASIL: DEC. 24.694, DE 1934
Constituição de 1937: Corporativismo como regime oficial. Segundo Amauri, em 1937 o Estado restabeleceu as diretrizes de 1931, liquidou o modelo do pluralismo (ineficaz) de 1934 e aumentou o dirigismo na ordem sindical .
Tratou a greve e o lock out como “recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção.” E considerou os sindicatos órgãos do Estado, devendo-lhe colaboração para a realização de sua política social e econômica, exercida através de delegação, e recebendo, em contrapartida, assistência e proteção (abraço amigo).
A Constituição autorizava o Presidente da República a legislar por meio de decretos-lei. O parlamento passaria a ocupar segundo plano e o Poder Executivo, hipertrofiado, torna-se-ia legislador. Em diversos dispositivos o corporativismo estatalista reverbera na Constituição de 1937. Os artigos 57 e 59, que tratam do Conselho da Economia Nacional, fixam que o mesmo é composto de representantes dos vários ramos da produção nacional designados, dentre pessoas qualificadas pela sua competência especial, pelas associações profissionais ou sindicatos reconhecidos em lei. A tal Conselho caberia promover a organização corporativa da economia nacional, estabelecer normas relativas à assistência prestada pelas associações, sindicatos ou institutos e editar normas reguladoras dos contratos coletivos de trabalho entre os sindicatos da mesma categoria da produção ou entre associações representativas de duas ou mais categorias.
Os interesses individuais deveriam se submeter aos interesses da Nação, representados pelo Estado (art. 135) e o trabalho aparece não como um direito, mas como um dever social (art. 136). O artigo 137 consagra diversos direitos sociais, na mesma tradição da Constituição de 1934, e os contratos coletivos de trabalho só poderiam ser firmados por associações legalmente reconhecidas, as quais ficariam incumbidas de prestar aos seus associados auxílio e assistência. De maneira saliente o seu artigo 140 sintetiza a filosofia do sistema de identificação da sociedade com o Estado: 
“A economia da população será organizada em corporações, e estas, como entidades representativas das forças do trabalho nacional, colocadas sob a assistência e a proteção do Estado, são órgãos destes e exercem funções delegadas de poder público”. 
No plano específico das relações coletivas tais pressupostos vêm consagrados no artigo 138 com o seguinte teor: “A associação profissional é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de poder público”.
 
BRASIL: Constituição 1937
Da Exposição de Motivos da Comissão Elaboradora do Anteprojeto que se converteu no mencionado Decreto, toda a vida das associações profissionais deveria gravitar em torno do Ministério do Trabalho, onde nascerão, com ele crescerão, ao lado dele se desenvolverão e nele se extinguirão. 
 Foi com este Decreto Lei que a estrutura sindical oficial, que vinha se consolidando desde o início da década de 1930, chegou à sua configuração final. A fase final e acabada do corporativismo
 Os artigos 1º e 2º relativos à criação das entidades tornavam lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos interesses profissionais daqueles que, como empregados, empregadores ou trabalhadores por conta própria exercessem a mesma profissão ou profissões similares ou conexas. Tais associações poderiam ou não ser convertidas em sindicatos, o que dependia do reconhecimento e do registro no Ministério do Trabalho. O artigo 3º trata das prerrogativas dos sindicatos. Manteve aquelas já previstas pelo Decreto de 1934, quais sejam: representar associados e os interesses da profissão perante autoridades administrativas, fundar agências de colocação, firmar contratos coletivos de trabalho e colaborar com o Estado como órgãos técnicos e consultivos. Mas outras duas prerrogativas foram acrescidas: a de eleger representantes da profissão e a de impor contribuições a todos que integrassem as profissões ou categorias representadas. Tais contribuições seriam especificadas sistematicamente com o Decreto n. 2.377, de julho de 1940, que regulamentou o chamado imposto sindical, principal fonte de custeio do sindicalismooficial subordinado ao Estado. Interessante destacar o reverso da moeda. Ou seja: garantido por lei o imposto sindical, pelo poder tributário conferido a tais entidades, os artigos 38 a 42 do Decreto-Lei n. 1.402 exigiam dos sindicatos, federações e confederações a aprovação do orçamento de receita e despesa, inclusive podendo ser cassada a carta sindical por deficiência de receita, bem como podendo o governo determinar parcela dos recursos para atender a serviços de assistência aos representados. Logo se depreende que, embora os organismos sindicais tivessem aumentado muito sua renda financeira com as contribuições sindicais, a aplicação destas sofria rigoroso controle pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que determinava, em última instância, o destino das verbas arrecadadas.
No que se refere ao plano da administração sindical, além das minuciosas regras já previstas pelo Decreto de 1934, a grande inovação da norma de 1939 é a exigência de que dos estatutos constasse a afirmação de que a associação agiria como “órgão de colaboração com os poderes públicos e as demais associações, no sentido da solidariedade das profissões e da sua subordinação aos interesses nacionais”. (esaTtuto padrão)
E como condições de funcionamento, seguindo a trilha de um sindicalismo apolítico das leis de 1930 e de 1934, houve uma mudança sintomática. O artigo 10 do decreto-lei de 1939 era explícito ao determinar aos sindicatos “a abstenção de qualquer propaganda de doutrinas incompatíveis com as instituições e os interesses da Nação”. 
Enquadramento sindical, indispensável para o funcionamento do regime de unicidade sindical, foi previsto no art. 54 do Decreto-lei n.1.402 de 1939, surgindo dessa regra o princípio da bipolaridade sindical ou da correspondência sindical.
Noção ontológica da “categoria”, criada pelas mãos do Ministério do Trabalho e pela Comissão de Enquadramento Sindical
 
BRASIL:DECRETO 1402/39
Consta da Exposição de Motivos do Projeto de Lei Orgânica da Justiça do Trabalho: “Teve o projeto que prever o regime repressivo contra os que, patrões ou empregados, suspendessem o trabalho em lock out ou em greve, ou se recusassem a obedecer às decisões dos tribunais de trabalho. Um e outro destes expedientes de luta de classe foram severamente condenados pela nova Constituição – e, na verdade, não se compreende o reconhecimento do direito à greve ou ao lock out, desde que a própria Constituição prevê, para a solução dos dissídios do trabalho, um aparelhamento jurisdicional especial e próprio, fácil, rápido, barato, posto ao alcance dos dois grupos interessados, patrões e empregados.
Na clássica obra “Problemas de Direito Corporativo” é que aparecem os pressupostos teóricos da Justiça do Trabalho e do Poder Normativo. Nela, Oliveira Vianna refuta as objeções do parlamentar Waldemar Ferreira ao projeto de criação do Judiciário Trabalhista.
 Sustenta Vianna que a criação da Justiça do Trabalho com prerrogativas de poder normativo não feria o princípio da separação de poderes consagrado na Constituição de 1934 (art. 3º). O problema consistia na demonstração da necessidade e da eficiência de organizações administrativas de um novo tipo, coordenadores e reguladores de caráter geral diante da expansão das funções estatais, sobretudo em matéria econômica e social -
Revolução na processualística: inspiração na Lei Rocco italiana de 1926 (“anéis da mesma cadeia”)
 Metodo, sentença normativa, cláusula rebus sic stantibus (coisa julgada)
Atrofia da negociação coletiva
BRASIL: JUSTIÇA DO TRABALHO E PODER NORMATIVO
A CLT e o legado de Vargas: sindicalismo de “cofres cheios e assembleias vazias” 
 A CLT seria o divisor de águas, “entre a fase encachoeirada das leis esparsas e a do seu represamento sistemático”
A estrutura sindical assentada ao longo da década de 1930 foi sistematizada pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), promulgada em 1º de maio de 1943. Tratou-se de um texto básico unificador das normas existentes. No plano coletivo nada de substancial inovou em relação aos textos já existentes. Limitou-se a incorporar, quanto à organização sindical, o Decreto-lei n. 1.402, de 1939; quanto ao enquadramento sindical, manteve o Decreto-lei n. 2.381, de 1940; a contribuição sindical prevista no Decreto-lei n. 2.377, de 1940, também foi absorvida. E a negociação coletiva igualmente não sofreu mudanças, apenas ficando explícita a sua aplicação em nível de categoria, na forma de convenção coletiva entre sindicatos, sendo que a figura do acordo coletivo em nível de empresa apenas foi admitido em 1967.
Logo se nota que os principais aspectos do sindicalismo corporativista do tipo estatal foram consagrados na CLT: a unicidade sindical por categoria, esta aprioristicamente ‘criada’ pelo Estado, o imposto sindical recolhido por todos os membros da categoria, filiados ou não à entidade sindical, inclusive com parcela deste destinada ao Ministério do Trabalho, o registro oficial no Ministério do Trabalho e Emprego como condição de existência jurídica do sindicato, o poder de intervenção ministerial na dinâmica interna do sindicato e a Justiça do Trabalho com seu poder normativo. 
Não há margem alguma para a noção de autonomia privada coletiva dos próprios interlocutores sociais, o que evidentemente se refletirá na própria efetivação dos direitos individuais que a mesma CLT simbolicamente consagraria.
BRASIL: CLT E LEGADO VARGAS NAS RELAÇÕES COLETIVAS
O mito da outorga generosa: o “roubo da fala”, “cidadania regulada”, a “invenção do trabalhismo”; “afogados em leis”.
 Em conferência realizada em 1939, com o tema “A política social da Revolução de 30”, Oliveira Vianna sublinhava que, desde 1931, a singularidade do método de ação da política social do governo, “que é o de ser ela uma iniciativa do Estado, uma outorga generosa dos dirigentes políticos - e não uma conquista realizada pelas nossas massas trabalhadoras. Essas não tinham em nosso país, até 1930, nenhuma ideologia dominante, nem também nenhuma solidariedade, nenhuma arregimentação, nenhuma organização que lhes desse força e prestígio bastantes para impor ao Estado uma orientação em seu favor”.
 Nesse sentido, observa Maria Célia Paoli que a ação do Estado “torna pública a sociedade, prevenindo as lutas e conflitos, isto é, o abuso do poder dos fortes e a explosão irrefreada dos fracos. Assim formulada, a questão social sob a égide do Estado incorpora as reivindicações operárias, mas tira-lhes a dimensão da conquista e o espaço de luta; incorpora as reivindicações patronais de limite às ações operárias, mas tira-lhes o poder de discipliná-las; e incorpora as discussões dos parlamentares, tirando-lhes a iniciativa de propô-las. Assim, o golpe militar de outubro de 1930 iria levar, para dentro do Estado, as demandas sociais nascidas das relações de trabalho e durante 30 anos levadas como luta entre os trabalhadores, os patrões e a sociedade”. 
estimulava a supressão da memória das classes subalternas, que apareciam como impotentes e incapazes de reivindicar seus direitos elementares por si sós. De outro, buscava incentivar uma inação, implícita na noção de que o Estado se constituía no guardião de seus interesses”, com o que se disfarçava o verdadeiro caráter da legislação getuliana – controladora e repressiva do comportamento operário.
As linhas básicas do modelo corporativista criado até 1939 foram incorporadas à CLT e permanecem em vigor até hoje, apesar da Constituição de 1988 ter feito avanços (proibição da intervenção estatal nos sindicatos, e.g.)
BRASIL: apreciações gerais
 A fase pré-corporativa (1873-1938) 
O QUE TÍNHAMOS ANTES DA Guerra Civil Espanhola de 1936-38?
De 1873 a 1917(ETAPA INICIAL DE LEGISLAÇÃO SOCIAL – ESPARSAS) 
Na segunda metade do século XIX, já havia um conflito de classes na Espanha e a questão social reclamava a intervenção estatal.
Boa parte da doutrina espanhola aponta o ano de 1873 como o marco da primeira legislação social
A Constituição de 1876 (art. 13) passou a autorizaro direito de associação (GENÉRICO) e, com base nele, novos sindicatos surgiram.
o direito do trabalho, em si mesmo considerado, inicia-se em 1900, eis que as disposições protetivas anteriores a esse ano eram fatos isolados, meras prescrições de política governamental desprovidas de um sentido de unidade e de coerência com outros diplomas. 
Em 1900 e nos anos imediatamente seguintes, promulgaram-se diversos outros diplomas normativos esparsos185, como o de proteção ao trabalho das mulheres e o de saúde no trabalho (1900), de acidentes de trabalho (1900), de inválidos no trabalho, de descanso dominical (1904), de jornadas de minas e indústria têxtil (1910 e 1913), dentre outras. 
O início do intervencionismo administrativo nas questões sociais se nota no Real Decreto de 05.12.1883 que criou a Comissão para o estudo das questões que diretamente interessavam à melhoria ou bem-estar das classes trabalhadores, tanto industriais como agrícolas, e que afetavam as relações entre capital e trabalho, denominada anos mais tarde, “Comissão de Reformas Sociais” (Real Decreto de 13 de maio de 1890). Era o início de um “intervencionismo científico” e racionalizador no conflito social e nas relações de trabalho
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 A fase pré-corporativa (1873-1938) 
Código Penal de 1822, que o considerava delito de coalizão. 
A Constituição de 1876, em seu artigo 13, reconhece a liberdade de associação genericamente, sem tratar da liberdade de sindicalização. 
Na análise de Bayon Chacon e de Perez Botija, até 1854, seguia-se um regime de proibição e perseguição; desse ano até 1868, persiste a proibição, mas com alguma intermitente tolerância; de 1868 a 1876, existe uma tolerância de fato, com alguns momentos de repressão; e, de 1876 a 1887, com a promulgação da Lei geral de Associações, há um regime de admissão e licitude, sem regulação legal, funcionando os sindicatos como associações de fato, eis que essa lei não se refere de modo específico aos sindicatos obreiros. Não obstante, inúmeros sindicatos, profissionais e patronais, surgiram com amparo nessa lei.
Liberalismo inicial que, por um lado, garantia a associação como qualquer outra atividade livre dos cidadãos, mas, por outro, os grupos intermediários de caráter profissional eram vistos com desconfiança....
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 De 1917 a 1930
 Este período tem relevância diante de diversos acontecimentos, externos e internos, que repercutiram na legislação espanhola, de que são exemplos a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a criação da OIT e as greves gerais na Espanha.
atividade embrionária pré-corporativista, com a criação das Juntas reguladoras das condições de trabalho, de caráter paritário (Real Decreto de 30.04.1919) e o intuito de se generalizar esse tipo de regime por meio de criação de comitês bipartites (Decreto Lei de 05.10.1922), bem como, na esfera administrativa, a criação do Ministério do Trabalho em maio de 1920. Em 1923, inicia-se o período da ditadura do general Primo de Rivera, que por meio de um golpe de Estado em setembro desse ano, governou o país até a sua destituição, em janeiro de 1930. 
No ano imediatamente após o golpe, em 1924, a partir do reforço da intervenção orgânica dos poderes públicos nas relações de trabalho, fortaleceu-se a Inspeção do Trabalho e se suprimiu o Instituto de Reformas Sociais, criando-se, em seu lugar, o Conselho de Trabalho, órgão consultivo que, ainda que desprovido de prerrogativas executivas, refletia a estrutura corporativa.
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 De 1917 a 1930
Por meio do Real Decreto-lei de 26 de novembro de 1926, introduziu-se uma reforma corporativa da indústria e comércio, criando-se a Organização Corporativa Nacional, baseada na ‘jurisdição graduada’ de Comissões e Comitês Paritários, integrados por patrões e trabalhadores, cujas funções se exerciam por delegação do Estado.
novembro de 1927, a Lei de Jurados Mistos altera a de Comitês Paritários e cria uma sala específica no Tribunal Supremo para recursos em matéria social. Tais marcos legais têm bastante relevância, por constituírem medidas nitidamente corporativistas. Significaram, antes mesmo da ditadura franquista, como afirma Alfredo Montoya Melgar, “a realização de velhas aspirações harmonicistas, desejosas de substituir o dogma marxista da luta de classes pelo princípio da pacífica colaboração entre elas”
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 De 1917 a 1930
Em verdade, já no século XIX, com o desenvolvimento da chamada “questão social”, começaram a surgir correntes críticas ao do individualismo moderno.
A importância atribuída ao trabalho, em sua configuração obrigacional de natureza humana, é constatada não apenas em exemplos fascistas, mas antes mesmo, durante a ditadura de Primo de Rivera, na Exposição de Motivos do Real Decreto de 22 de janeiro de 1926, que criou a Medalha do Trabalho, exaltando o trabalho como salvação da espiritualidade. 
Em 1928, o Código Penal tipificou como crime de sedição algumas condutas de autotutela, que eram enquadradas como crimes contra a ordem pública, contra a propriedade e contra a liberdade e segurança individuais.
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CONSTITUIÇÃO DE 1931 e Lei de Associações Profissionais de 1932 
Os juristas espanhóis são quase unânimes em identificar na II República o momento de consolidação do ‘direito do trabalho’ moderno, como autônomo e autosuficiente, em contraposição à ‘legislação do trabalho’ dos períodos anteriores, sobretudo em virtude da Constituição da República Espanhola, de 9 de dezembro de 1931, que se alinhou ao fenômeno do constitucionalismo social, ao incorporar direitos derivados das relações de trabalho no próprio texto constitucional.
Em seu artigo 1º, a Constituição definia a Espanha como “uma República democrática de trabalhadores de toda classe”. O trabalho era concebido como obrigação social e que gozaria de proteção legal, inclusive por meio de um programa em matéria de seguridade social (art. 46). Ainda no período republicano, foi promulgada a Lei de 21 de novembro de 1931, que regulou o contrato de trabalho de uma forma sistemática, definindo empregado e patrão, o conteúdo da prestação do trabalho e diversos outros aspectos;No plano das relações coletivas de trabalho, o artigo 39 da Constituição Republicana, pela primeira vez na história da Espanha, diferenciou o direito de associação do direito de livre associação sindical, ao declarar que “os espanhóis poderão associar-se ou sindicalizar-se livremente para os diversos fins da vida humana, conforme as leis do Estado. Os sindicatos e associações estão obrigados a se inscreverem no registro público correspondente, de acordo com a lei”. 
Alinhada ao texto constitucional, aprovou-se a primeira lei especificamente sindical da Espanha, a Lei de Associações Profissionais, de abril de 1932, que garantia o direito de associação aos patrões e trabalhadores “para a defesa dos interesses das classes respectivas” (art. 1º).
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 Nesse contexto de polarização política, em 1933, foi criada a Falange Espanhola, partido e movimento político liderado por José Antonio Primo de Rivera, filho do ex ditador Primo de Rivera. Em 1934, ao vincular-se ao movimento liderado pelo general Franco, receberia a denominação de Falange Espanhola das JONS – Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista. 
Inspirado em matrizes fascistas, o movimento propunha-se a superar a fórmula liberal-individualista por meio da integração do individuo e da sociedade civil no Estado. Era contra a direita, contra a esquerda, contra o comunismo, contra o capitalismo e em favor da Pátria, da Justiça e do interesse nacional. Exaltava o glorioso passado espanhol representado pelo império e suas conquistas ultramarinas.
O ponto XI da referida norma programática da Falange defendia o desaparecimento da concepção classista da sociedade, que opunha capital industriale trabalho de modo que “todos os que operam na produção constituem uma totalidade orgânica”. O Direito do Trabalho não mais se consideraria um direito de classes: “ao contrário, o novo Direito do Trabalho tem como missão política fundamental, não apenas fazer desaparecer a intriga da luta de classes, mas também apagar todo espírito de ódio social (...) O princípio político básico que perpassa o novo Direito laboral é o princípio de colaboração e de comunidade (...) e não é só o princípio de solidariedade nacional o único que passa do campo do Direito público ao direito laboral: o conceito alemão de comunidade e o espírito espanhol de irmandade transcendem desde a programática política até sua mais concreta realização no Direito do Trabalho.
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 Em 1936, houve a vitória da Frente Popular espanhola (composta por comunistas, anarquistas, republicanos e socialistas). O general Franco se rebela contra governo da Frente Popular. Desse modo tem-se o início da guerra civil espanhola e o fim da Segunda República.
 
Em 1938 Franco exerce o governo pela primeira vez. Nesse mesmo ano ele edita o Fuero del Trabajo (decreto de 9 de março de 1938), que forneceu os lineamentos básicos para a edificação do regime franquista, erigindo-se na condição de Lei Fundamental.
 
Negando textualmente as correntes de pensamento capitalista liberal e, por outro lado, do materialismo marxista, o Fuero del Trabajo visa afirmar a ideologia do fascismo como uma terceira via político-econômica para o desenvolvimento do país.
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 . O corporativisno franquista (1938-1975): quase quarenta anos
Entendo ser possível conceber o período franquista em duas grandes fases, tendo-se por critério a permissibilidade gradativa da negociação coletiva e dos conflitos, reflexos da autonomia privada coletiva e que podem servir de privilegiada perspectiva de análise. Isso significa que o reconhecimento paulatino do dissenso e da possibilidade de pluralidade (de idéias, de associações, de sindicatos) constitui, como se verá, pressuposto essencial para a transição à democracia e sua posterior consolidação. 
Nesse sentido, a primeira fase, denominada “autárquica”, teria início em 1938 e iria até 1958. Trata-se de um período totalitário, de forte intervenção estatal na economia e na iniciativa privada e, especialmente no plano sindical, caracterizado pela incorporação das matrizes ideológicas do corporativismo na construção e no aprimoramento do modelo do sindicalismo orgânico vertical, sem qualquer possibilidade de dissenso ou conflito. Essa fase terminará em meados de 1958, com o esgotamento do modelo autárquico e a crise econômica por ele precipitada. 
A segunda fase tem início com o advento da Lei de Convenções Coletivas (1958), a qual, como se verá, passou a admitir relativo espaço para a autonomia privada, abrindo-se espaço para a contratualização coletiva das relações de trabalho, ainda que de maneira reduzida, convivendo com as “ordenanças laborais”. Ainda nesse período, por muitos encarado como a fase de declínio do franquismo, surgiram novas entidades sindicais paralelas ao sindicalismo vertical oficial as quais, gradativamente, precipitaram a abertura do regime, pressionando-o internamente, ao que se adicionaram críticas externas pela OIT. 
Finaliza-se o período com a morte de Franco em 1975, que ocasionará uma rápida liberalização política e sindical.
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 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
Terminada a Guerra Civil, uma das primeiras providências das forças franquistas foi estender as determinações do Fuero del Trabajo a todo o território nacional. Por meio da Ordem do Ministério de Organização e Ação Sindical, de 23 de maio de 1939, estabeleceu-se que “... terminada hoje gloriosamente a reconquista de todo o território nacional, está proibida a criação de sindicatos profissionais ou de classe”. 
Especificamente quanto às relações coletivas de trabalho, os bens e patrimônios dos antigos sindicatos livres, sobretudo da UGT e CNT, seriam confiscados e posteriormente absorvidos pelos novos sindicatos oficiais e verticais, conforme Decreto de 13 de setembro de 1936, Ordem de 10 de janeiro de 1937 e Lei de 23 de setembro de 1939
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 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
FUERO DEL TRABAJO:
O ponto sexto do programa do partido anunciava: “Nosso Estado será instrumento totalitário a serviço da integridade da pátria. Todos os espanhóis participarão por meio de sua função familiar, municipal e sindical. Ninguém participará por meio de partidos políticos. Abolir-se-á implacavelmente o sistema de partidos políticos com todas suas conseqüências: sufrágio inorgânico, representação por bandos em luta e parlamento de tipo conhecido”. No ponto nove, assim delineava o modelo sócio-econômico defendido, ao conclamar a classe trabalhadora no sentido de sua participação direta na grande tarefa do Estado nacional: “Concebemos a Espanha, no econômico, como um gigantesco sindicato de produtores. Organizaremos corporativamente a sociedade espanhola mediante um sistema de sindicatos verticais por ramos da produção, a serviço da integridade econômica nacional”.2 Diversas ideologias tradicionalistas convergiram para a fixação das bases do franquismo, sendo as mais importantes o organicismo, o corporativismo e o harmonicismo, filosofias com fortes pontos de contato entre si.
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 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
Empresa, trabalho e sindicatos no Fuero del Trabajo.
Fuero del Trabajo, aprovado pelo Decreto de 9 de março de 1938, obra jurídica de maior envergadura editada pouco antes do término da Guerra Civil e de clara inspiração na Carta Del Lavoro fascista de Mussolini. 
A empresa, no período franquista, passou a ser considerada uma “unidade de produção”, não sujeita ao arbítrio das vontades particulares e nem à dialética da luta de classes, subordinando-se ao “bem comum” (Declaração VIII, 2, do Fuero Del Trabajo). 
Patrões e trabalhadores integravam o mesmo grupo frente ao capital financeiro e à usura (Declaração IX, 2). O capital, portanto, figura como “instrumento da produção nacional” e o benefício da empresa deverá propiciar melhoria das condições de trabalho e de vida dos colaboradores (Declaração VIII, 1 e 4).
 O chefe da empresa assumirá a direção da mesma, sendo responsável perante o Estado (Declaração VIII, 3).
 O trabalho como dever, vale dizer, a obrigação de trabalhar, que já constava no artigo 46 da Constituição Republicana de 1931, passou a receber um tratamento de irresistível intensidade, sendo contemplado em diversas passagens do Fuero Del Trabajo. 
Na Declaração I, 1, definia-se o trabalho como “a participação do homem na produção mediante o exercício voluntariamente prestado de suas faculdades intelectuais e manuais, segundo a vocação pessoal em ordem ao decoro e folga de sua vida e ao melhor desenvolvimento da economia nacional”. 
Na Declaração 1, 5, do Fuero Del Trabajo, o trabalho constituía “um dever social” e seria exigido “inexcusavelmente, em qualquer de suas formas, de todos os espanhóis não impedidos, como tributo obrigatório ao patrimônio nacional”. E prosseguia a Declaração I, 6, conjugando o trabalho com a noção de hierarquia: “O trabalho constitui um dos mais notáveis atributos de hierarquia e de honra”. E, finalmente, a Declaração I, 7, completava o conceito ao afirmar que “serviço é o trabalho que se presta com heroísmo, desinteresse e abnegação, com ânimo de contribuir ao bem superior que a Espanha representa”.
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 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
Fuero del trabajo e sindicatos
Consta da Declaração XIII, 5, do Fuero Del Trabajo: “O Sindicato Vertical é instrumento a serviço do Estado, através do qual realizará sua política econômica. Ao sindicato compete conhecer os problemas da produção e propor soluções, subordinando-as ao interesse nacional. O SindicatoVertical poderá intervir por intermédio de órgãos especializados na regulamentação, vigilância e cumprimento das condições de trabalho”. 
Sua natureza jurídica de direito público era explicitamente reconhecida na Declaração XIII, 3 e 7, que definia o Sindicato Vertical como organismo corporativo de caráter público, ordenado hierarquicamente sob a direção do Estado. Nas disposições do Fuero del Trabajo, houve uma subversão da noção do sindicato como fenômeno social espontâneo. Deu-se ao próprio Estado uma organização nacionalsindicalista (Declaração XII, 1) e objetivou-se que a institucionalização sindical fosse a base da estrutura estatal. Bayon Chacon e Perez Botija mostram, de forma sintética, que a nova ordem sindical responderia a uma lógica contrária à do sindicalismo anterior, rompendo com a herança do passado e opondo: “a) ao espírito de classe dos sindicatos, a superação da luta de classes; b) ao princípio de independência, o de hierarquia; c) ao princípio de liberdade, o de totalidade, e d) ao princípio de contestação o de participação integrativa ou funcional”.
As atividades sindicais submetiam-se aos interesses do Estado ‘nacionalsindicalista’, o qual se valia instrumentalmente dos sindicatos para a melhor realização de seus fins. 
E para que o Estado atingisse seus fins, os sindicatos eram criados e regidos pelos princípios de unidade, totalidade e hierarquia. Tais diretrizes implicavam que os sindicatos teriam caráter misto, agrupando conjuntamente empresas e trabalhadores e, ainda, de forma que só poderiam existir os sindicatos verticais (Declaração XIII, 2). O enquadramento sindical, como se depreende desse mesmo artigo, era obrigatório e automático, independentemente da vontade de manifestação do trabalhador ou do empresário, bastando situarem-se em determinado ramo de produção. Os dirigentes deveriam ser militantes da Falange e a entidade sindical tinha como missão – subordinada, obviamente - a realização da política econômica ditada pelo Estado. O corporativismo franquista, a partir de sua concepção autoritária-comunitária do trabalho, criminalizará a greve, a liberdade de sindicalização e a negociação coletiva, considerados instrumentos de uma guerra civil econômica.
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
Fuero del trabajo e sindicatos
Consta da Declaração XIII, 5, do Fuero Del Trabajo: “O Sindicato Vertical é instrumento a serviço do Estado, através do qual realizará sua política econômica. Ao sindicato compete conhecer os problemas da produção e propor soluções, subordinando-as ao interesse nacional. O Sindicato Vertical poderá intervir por intermédio de órgãos especializados na regulamentação, vigilância e cumprimento das condições de trabalho”. 
Sua natureza jurídica de direito público era explicitamente reconhecida na Declaração XIII, 3 e 7, que definia o Sindicato Vertical como organismo corporativo de caráter público, ordenado hierarquicamente sob a direção do Estado. Nas disposições do Fuero del Trabajo, houve uma subversão da noção do sindicato como fenômeno social espontâneo. Deu-se ao próprio Estado uma organização nacionalsindicalista (Declaração XII, 1) e objetivou-se que a institucionalização sindical fosse a base da estrutura estatal. Bayon Chacon e Perez Botija mostram, de forma sintética, que a nova ordem sindical responderia a uma lógica contrária à do sindicalismo anterior, rompendo com a herança do passado e opondo: “a) ao espírito de classe dos sindicatos, a superação da luta de classes; b) ao princípio de independência, o de hierarquia; c) ao princípio de liberdade, o de totalidade, e d) ao princípio de contestação o de participação integrativa ou funcional”.
As atividades sindicais submetiam-se aos interesses do Estado ‘nacionalsindicalista’, o qual se valia instrumentalmente dos sindicatos para a melhor realização de seus fins. 
E para que o Estado atingisse seus fins, os sindicatos eram criados e regidos pelos princípios de unidade, totalidade e hierarquia. Tais diretrizes implicavam que os sindicatos teriam caráter misto, agrupando conjuntamente empresas e trabalhadores e, ainda, de forma que só poderiam existir os sindicatos verticais (Declaração XIII, 2). O enquadramento sindical, como se depreende desse mesmo artigo, era obrigatório e automático, independentemente da vontade de manifestação do trabalhador ou do empresário, bastando situarem-se em determinado ramo de produção. Os dirigentes deveriam ser militantes da Falange e a entidade sindical tinha como missão – subordinada, obviamente - a realização da política econômica ditada pelo Estado. O corporativismo franquista, a partir de sua concepção autoritária-comunitária do trabalho, criminalizará a greve, a liberdade de sindicalização e a negociação coletiva, considerados instrumentos de uma guerra civil econômica.
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
Fuero del trabajo : greve 
foram proscritas todas as manifestações de autotutela como greve ou quaisquer ações conflitivas. De acordo com a Declaração XI, 2, do Fuero del Trabajo, eram considerados delitos de “lesa pátria” os “atos individuais ou coletivos que, de algum modo, turbassem a normalidade da produção ou atentassem contra ela”. Alguns anos mais tarde, em 1944, a greve de trabalhadores seria tipificada como delito de sedição no artigo 222 do Código Penal de 1944. Igualmente abrangido pelo tipo penal estava o “lock out” (“cierre patronal”). 
O artigo 222, §2º, do diploma penal considerava que praticam sedição “os patrões e trabalhadores que, com o objetivo de atentar contra a segurança do Estado, prejudicar sua atividade ou perturbar sua normal atividade, suspenderem ou alterarem a regularidade do trabalho”.
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
Fuero del trabajo : negoc coletiva x ORDENANZAS LABORAIS
monopólio estatal na regulação do trabalho, como indica a Declaração II, 4, do Fuero del Trabajo, ao dispor que “o Estado fixará as bases para a regulação do trabalho, às quais se sujeitarão as relações entre trabalhadores e empresas. O conteúdo primordial de ditas relações será tanto a prestação do trabalho e sua remuneração, como o dever recíproco de lealdade, a assistência e proteção para os empresários e a fidelidade e subordinação para o pessoal”. 
Assim permanecerá ao longo de vinte anos durante os quais o Estado será a fonte única de normatização das condições de trabalho por meio de Ordenanças Laborais ou de Regulamentações de Trabalho. Como salienta Alfredo Montoya Melgar, nos idos de 1938, a Espanha praticamente desconhecia a negociação coletiva entre os próprios interessados, diante da “tradição estatalizadora herdada e levada a suas mais rigorosas conseqüências ao se promulgar o Fuero del Trabajo, que consagra o princípio do monopólio estatal em matéria normativa, em atitude claramente adversa ao contratualismo e, em especial, à negociação coletiva (Declarações III e XIII)”.
Essa situação de excessiva heteronomia trabalhista, como se verá, perduraria até 1958, ano de promulgação da Lei de Convenções Coletivas Sindicais, a qual, embora abrisse campo para a contratualização, também padecia de forte ingerência administrativa ministerial
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
No ano seguinte, em 23 de junho de 1941, o governo aprova a Lei de Classificação dos Sindicatos. Ela estabelece a classificação dos sindicatos nacionais em 24 (vinte e quatro), agrupados em ramos econômicos, que legalmente se refundem em quatro setores: agropecuária, industrial, de energia e de serviços. Os referidos sindicatos terão patrimônio próprio, oriundo essencialmente das cotas sindicais compulsórias previstas no Decreto de 2 de setembro de 1941, que fixa os valores e confere à nova estrutura sindical potestade de direito público, no caso, o poder tributário.
Outro diploma bastante emblemático do franquismo foi a Lei de Regulamentações do Trabalho, de 16 de outubro de 1942, maisconhecida como a Lei das Ordenanças Laborais. Por meio dela, a regulação das condições de trabalho constitui “função privativa do Estado, que a exercerá, sem possibilidade de delegação, pelo Departamento ministerial do Trabalho” (art. 1º). Tratava-se de uma regulação heterônoma das relações capital/trabalho, um veículo autoritário de normatização. O Ministério do Trabalho aprovava normas setoriais de regulação de condições de trabalho, originalmente designadas “regulamentações de trabalho”, e, a partir dos anos sessenta, conhecidas como “ordenanzas laborales”.
As ordenanças laborais emanadas não comportavam restrição ou elastecimento pela via negocial. No máximo seriam complementadas por regulamentos de empresa, os quais também dependiam da chancela ministerial. A lei de ordenanças laborais, como se verá, apenas seria revogada expressamente pelo Estatuto dos Trabalhadores de 1980. 
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
No ano seguinte, em 23 de junho de 1941, o governo aprova a Lei de Classificação dos Sindicatos. Ela estabelece a classificação dos sindicatos nacionais em 24 (vinte e quatro), agrupados em ramos econômicos, que legalmente se refundem em quatro setores: agropecuária, industrial, de energia e de serviços. Os referidos sindicatos terão patrimônio próprio, oriundo essencialmente das cotas sindicais compulsórias previstas no Decreto de 2 de setembro de 1941, que fixa os valores e confere à nova estrutura sindical potestade de direito público, no caso, o poder tributário.
Outro diploma bastante emblemático do franquismo foi a Lei de Regulamentações do Trabalho, de 16 de outubro de 1942, mais conhecida como a Lei das Ordenanças Laborais. Por meio dela, a regulação das condições de trabalho constitui “função privativa do Estado, que a exercerá, sem possibilidade de delegação, pelo Departamento ministerial do Trabalho” (art. 1º). Tratava-se de uma regulação heterônoma das relações capital/trabalho, um veículo autoritário de normatização. O Ministério do Trabalho aprovava normas setoriais de regulação de condições de trabalho, originalmente designadas “regulamentações de trabalho”, e, a partir dos anos sessenta, conhecidas como “ordenanzas laborales”.
As ordenanças laborais emanadas não comportavam restrição ou elastecimento pela via negocial. No máximo seriam complementadas por regulamentos de empresa, os quais também dependiam da chancela ministerial. A lei de ordenanças laborais, como se verá, apenas seria revogada expressamente pelo Estatuto dos Trabalhadores de 1980. 
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 FASE AUTÁRQUICA – 1938 A 1958
As ordenanças desempenhavam papel de estritos códigos laborais de âmbito setorial e, mais do que isso, ofereceu aos empresários um sistema de controle salarial materializado em baixíssimos níveis salariais, sendo certo que as interpretações de tais normas que se mostravam necessárias, feitas pelo Ministério do Trabalho, eram habitualmente restritivas para os trabalhadores.
Até 1958, portanto, prevaleceu a concepção da regulamentação das condições de trabalho como totalmente privativa do Estado por meio de ‘ordenanças laborais’, um dos traços mais característicos do franquismo, veículos de natureza autoritária que atualizavam a legislação e que conviveram com a lei do contrato de trabalho de 1944, suplantando espaços de autonomia da vontade não apenas no plano coletivo como também no plano individual.
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 O DECLÍNIO DO MODELO AUTÁRQUICO DE SINDICALISMO VERTICAL (1958-1975)
As ordenanças desempenhavam papel de estritos códigos laborais de âmbito setorial e, mais do que isso, ofereceu aos empresários um sistema de controle salarial materializado em baixíssimos níveis salariais, sendo certo que as interpretações de tais normas que se mostravam necessárias, feitas pelo Ministério do Trabalho, eram habitualmente restritivas para os trabalhadores.
Até 1958, portanto, prevaleceu a concepção da regulamentação das condições de trabalho como totalmente privativa do Estado por meio de ‘ordenanças laborais’, um dos traços mais característicos do franquismo, veículos de natureza autoritária que atualizavam a legislação e que conviveram com a lei do contrato de trabalho de 1944, suplantando espaços de autonomia da vontade não apenas no plano coletivo como também no plano individual.
ESPANHA: DO FRANQUISMO À LIBERDADE SINDICAL
 O DECLÍNIO DO MODELO AUTÁRQUICO DE SINDICALISMO VERTICAL (1958-1975)
a Lei de Convenções Coletivas de 1958, como data inicial dessa segunda etapa. Com efeito, essa lei revela a crise da primeira fase de política “autárquica” e do modelo nacional-sindicalista, que se mostrava incapaz de superar a crise econômica que ele próprio engendrou. Constituiu um marco significativo da segunda fase do franquismo por carregar consigo a virtualidade da ação coletiva na fixação das bases da contratação e, por conseguinte, de reivindicação.
Mas a própria lei de 1958 previa um procedimento de solução heterônoma em caso de eventuais impasses coletivos, e aprovação ministerial do conteúdo.
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 O DECLÍNIO DO MODELO AUTÁRQUICO DE SINDICALISMO VERTICAL (1958-1975)
Em 1967 a Lei Orgânica do Estado reformou alguns itens do “Fuero del Trabajo”: supressão da exigência de que as hierarquias sindicais fossem militantes da FET e das JONS; atenuação do caráter oficial do sindicato e supressão do qualificativo sindicato “vertical”. Essa abertura conduziu à aprovação de uma nova lei sindical (Lei n. 2, de 17 de fevereiro de 1971). 
A Lei sindical de 1971 revogou as leis mais importantes da organização sindical franquista vertical: a lei de unidade sindical (1940), a de Bases da Organização Sindical (1940) e a de classificação de sindicatos (1941). Contudo, a doutrina destaca que esse novo diploma não modificou substancialmente os princípios do sindicalismo vertical.
Esta lei de 1971 também criou a figura das “associações sindicais”, que se apresentavam como alternativas pluralistas, apesar da unicidade sindical.
embora inadmitidos grupos contrários e/ou paralelos à Organização Sindical Vertical (OSE), foram se formando núcleos de sindicatos. As Comissões Obreiras (CC.OO.) e a União Sindical Obreira (USO) se formaram em tais núcleos entre 1962 e 1964.
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 A transição democrática: 1975-1978
Os sindicatos foram parte ativa da transição política, de modo que, no caso da Espanha, em larga medida a própria democratização, que culminou com a Constituição de 1978, deveu-se ao movimento sindical, que substituiu a Organização Sindical Espanhola (OSE) por um sindicalismo plural no qual os conflitos de trabalho aparecem como elementos imanentes à própria noção de democracia
Digno de nota, nesse particular, é o artigo 9.2 da Carta Constitucional Espanhola, ao declarar que “cabe aos Poderes Públicos promover as condições para que a liberdade e a igualdade do indivíduo e dos grupos em que se integra sejam reais e efetivas; remover os obstáculos que impeçam ou dificultem sua plenitude e facilitar a participação de todos os cidadãos na vida política, econômica, cultural e social”.
. Desde os Pactos de Moncloa, a política de concertação social praticada foi a novidade mais significativa e de maior alcance na economia e política espanholas. A Lei 19/77, de abril, alinhada às Convenções 87 e 98 da OIT, abriu caminho para essa ação, mas os sindicatos chegaram em 1977 perante um marco de relações laborais inexistente e a necessidade de fortalecimento não era um problema simples, sobretudo diante da enorme dispersão da negociação coletiva e do grande percentual de trabalhadores que permaneciam excluídos da margem da contratação coletiva.258 A carência de estruturas sindicais de ramo de atividade ou de indústria indicavam a conveniência, pois, de uma nova ordenação da negociação coletiva na qual o sindicato figurasse como ponto de referência. Daí a tendência em direção aos “acordos marco”,bem como à centralização da negociação coletiva. 
política de concertação social, dos macro-acordos e da negociação coletiva centralizada constituíram-se então, nesse sentido, um marco referencial no qual os sindicatos foram os grandes protagonistas e ascenderam a um lugar de grande legitimação perante a sociedade civil.
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 A transição democrática: 1975-1978
Os sindicatos foram parte ativa da transição política, de modo que, no caso da Espanha, em larga medida a própria democratização, que culminou com a Constituição de 1978, deveu-se ao movimento sindical, que substituiu a Organização Sindical Espanhola (OSE) por um sindicalismo plural no qual os conflitos de trabalho aparecem como elementos imanentes à própria noção de democracia
Digno de nota, nesse particular, é o artigo 9.2 da Carta Constitucional Espanhola, ao declarar que “cabe aos Poderes Públicos promover as condições para que a liberdade e a igualdade do indivíduo e dos grupos em que se integra sejam reais e efetivas; remover os obstáculos que impeçam ou dificultem sua plenitude e facilitar a participação de todos os cidadãos na vida política, econômica, cultural e social”.
. Desde os Pactos de Moncloa, a política de concertação social praticada foi a novidade mais significativa e de maior alcance na economia e política espanholas. A Lei 19/77, de abril, alinhada às Convenções 87 e 98 da OIT, abriu caminho para essa ação, mas os sindicatos chegaram em 1977 perante um marco de relações laborais inexistente e a necessidade de fortalecimento não era um problema simples, sobretudo diante da enorme dispersão da negociação coletiva e do grande percentual de trabalhadores que permaneciam excluídos da margem da contratação coletiva.258 A carência de estruturas sindicais de ramo de atividade ou de indústria indicavam a conveniência, pois, de uma nova ordenação da negociação coletiva na qual o sindicato figurasse como ponto de referência. Daí a tendência em direção aos “acordos marco”, bem como à centralização da negociação coletiva. 
política de concertação social, dos macro-acordos e da negociação coletiva centralizada constituíram-se então, nesse sentido, um marco referencial no qual os sindicatos foram os grandes protagonistas e ascenderam a um lugar de grande legitimação perante a sociedade civil.
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 A transição democrática: 1975-1978
Como relatam os historiadores, em novembro de 1975, “a saúde política do franquismo estava tão deteriorada como a saúde física de Franco”.
A OIT adota como marco inicial de transição política a investidura do Rei Juan Carlos I, no outono de 1975, fato que marcou o início de uma liberalização progressiva, mas rápida do regime, e que propiciou que os sindicatos, de pronto, saíssem da clandestinidade, precipitando o reaparecimento de diversas Centrais Sindicais. E há razões que justificam essa escolha. Afinal, menos de dois anos após seria adotada a lei de 1º de abril de 1977 que reconhecia a liberdade sindical; pouco depois, em 14 de abril de 1977 foram ratificadas as Convenções 87 e 98 da OIT, as quais entraram em vigor em 20 de maio de 1978. (OIT. Informe de uma mision de la Oficina Internacional del Trabajo. Situacion sindical y relaciones laborales en España. Genebra: OIT, 1985.)
O Real Decreto Lei n. 17, de 4 de março de 1977, fixou diversos pontos de liberalização das relações de trabalho, sobretudo no campo sindical.
Essa lei introduziu três importantes avanços em matéria de negociação coletiva: a negociação coletiva fracassada pode dar azo à greve e as partes envolvidas têm a possibilidade de requerer a mediação de um órgão público (a magistratura do trabalho ou uma autoridade laboral); a segunda novidade foi possibilidade da greve de apoio à negociação coletiva, que permite exigir o cumprimento de cláusulas previstas no instrumento coletivo, pressionando o empregador no âmbito daquela convenção coletiva; a terceira novidade consiste em exaltar as convenções coletivas, relegando as “ordenanças laborais” a um segundo plano, vale dizer, a uma função residual, de modo que toda convenção celebrad posteriormente a aquelas terão preferência, em conjunto ou de forma isolada.
No aspecto da conflitividade, pode-se afirmar que o Decreto deixou a desejar, pois a liberdade sindical não funciona isoladamente, mas tem como necessário substrato um reconhecimento global e amplo das liberdades democráticas. E isso pressupõe o inevitável conflito de interesses entre empresário e o trabalhador, como a possibilidade, a conveniência e a necessidade de que esses conflitos possam ser resolvidos pelas próprias partes por meio de procedimentos adequados e que não excluem, caso seja necessário, a utilização dos meios de pressão diretos. Nesse sentido, já atentava Miguel Rodriguez Piñero em 1976: “ainda que pareça um paradoxo, o certo é que só é concebível o sindicato como agente negociador, quando ele não seja apenas um agente negociador”
 
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 A transição democrática: 1975-1978
Lei n. 19, de 1º de abril de 1977, regulando o direito de associação sindical. Conhecida como Lei de Associação Sindical (LAS), inaugurou um novo modelo de relações de trabalho, individuais e coletivas, aberto à contratualização e à autonomia da vontade sufocadas por várias décadas. É o que transparece em seu preâmbulo: “o novo marco político em direção ao qual caminha aceleradamente a nação aconselha uma profunda reforma normativa, inspirada no princípio de liberalização das relações de trabalho, em consonância com os sistemas jurídicos imperantes nos países da Europa ocidental de nosso mesmo contexto cultural”. Para Manuel Alonso Olea, esse diploma representou o ápice das medidas reformatórias que vinham sendo empreendidas por revogar, a partir de 1º de julho de 1977, a sindicalização obrigatória e única, característica do sistema anterior, e por suprimir a taxa compulsória, a qual foi convertida na cota sindical voluntária.
Em 14 de abril de 1977, foram ratificadas as Convenções 87 e 98 da OIT, as quais entraram em vigor em 20 de maio de 1978. Tais normas representam autêntica pedra de toque do alcance do princípio da liberdade sindical na ordem internacional como referência para as legislações nacionais. Desde 1956, data do reingresso da Espanha na OIT o país havia sofrido longas críticas a respeito do seu modelo sindical. E, finalmente, após a ratificação destas Convenções, os representantes de centrais democráticas espanholas, recentemente legalizadas, participaram em Genebra da Conferência Internacional do Trabalho.
Jurisprudencia foi conservadora no pre-Constitucional (diferente da italia)
 
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 A transição democrática: 1975-1978
Dos Pactos de Moncloa à Constituição de 1978 
A crise espanhola era sentida sob o aspecto econômico (debilidade da economia e crescimento do desemprego) e sob o aspecto político (uma grande oportunidade de construção democrática, mas com um difícil obstáculo: a indiferença e o descrédito da população). Essa situação conduziu à adoção de uma autêntica política de Estado que simultaneamente enfrentasse a crise econômica e estabelecesse uma democracia estável. Disso resultaram os chamados Pactos de Moncloa que definiram um novo parâmetro de relações trabalhistas para o país e, principalmente, implicaram um aumento da legitimidade das funções do sindicato, fortalecendo as centrais sindicais e abrindo caminho para o posterior Estatuto dos Trabalhadores e a própria Constituição de 1978.
Não foram poucas as dificuldades enfrentadas pela sociedade espanhola no período de transição. Alguns analistas referem-se a uma falta de “vertebração social” e a uma debilidade das estruturas sociais e de hábitos associativos após tantos anos de regime autoritário no plano civil e sindical.
No ano de 1978, houve um grande desenvolvimento da negociação coletiva: um total de 1.638 convenções coletivas negociadas abraçando 582.185 empresas

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