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TJSP - 2031991-72 2014 8 26

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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Gabinete da Presidência
Registro: 2014.0000311851
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo Regimental nº 
2031991-72.2014.8.26.0000/50000, da Comarca de Ribeirão Preto, em que é 
agravante DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravado 
JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE RIBEIRÃO 
PRETO.
ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São 
Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO 
REGIMENTAL. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este 
acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores 
RENATO NALINI (Presidente), EROS PICELI, ELLIOT AKEL, GUERRIERI 
REZENDE, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, XAVIER DE AQUINO, 
ANTONIO LUIZ PIRES NETO, FERREIRA RODRIGUES, PÉRICLES PIZA, 
EVARISTO DOS SANTOS, MÁRCIO BARTOLI, JOÃO CARLOS SALETTI, 
ROBERTO MORTARI, LUIZ AMBRA, ROBERTO MAC CRACKEN, PAULO 
DIMAS MASCARETTI, LUIS GANZERLA, VANDERCI ÁLVARES, ARANTES 
THEODORO, TRISTÃO RIBEIRO, ANTONIO CARLOS VILLEN, ADEMIR 
BENEDITO, LUIZ ANTONIO DE GODOY E RUY COPPOLA.
São Paulo, 14 de maio de 2014
RENATO NALINI
PRESIDENTE E RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Gabinete da Presidência
Agravo Regimental nº 2031991-72.2014.8.26.0000/50000 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 21.467
Natureza: Agravo Regimental
Processo n. 2031991-72.2014.8.26.0000/50000 
Agravante: Defensoria Pública do Estado de São Paulo 
Agravado: Juízo de Direito da 1ª Vara da Fazenda 
Púbica de Ribeirão Preto 
Voto n. 21.467
Agravo Regimental Deferimento do pedido de suspensão 
dos efeitos da liminar concedida em ação civil pública 
Presença dos pressupostos legais Agravo não provido.
Vistos, etc.
Irresignada com a decisão que deferiu o 
pedido de suspensão dos efeitos da liminar concedida nos 
autos do processo da ação civil pública nº 
4006140-65.2013.8.26.0506, a Defensoria Pública do 
Estado de São Paulo interpôs agravo regimental e alegou, 
em síntese, a ilegalidade da medida judicial, o risco de 
lesão grave à ordem, à saúde e à segurança públicas dela 
decorrente e a falta de encaminhamentos administrativos 
eficazes para sanar a situação.
É uma síntese do necessário.
Sem embargo de zelo e cuidado que se 
reconhece na atuação dos ilustres subscritores, o recurso 
não comporta provimento.
O pedido de suspensão de liminar é 
medida excepcional, constitucionalmente admitida, de todo 
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Agravo Regimental nº 2031991-72.2014.8.26.0000/50000 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 21.467
modo, se comprovado o manifesto interesse público ou 
flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à 
saúde, à segurança e à economia públicas, conforme a 
pacífica compreensão de nossos tribunais, em especial do 
STF (SS n.º 432-8 AgR/DF, rel. Min. Sidney Sanches, j. 
11.3.1992; SS n.º 1.149-9 AgR/PE, rel. Min. Sepúlveda 
Pertence, j. 3.4.1997; ADC n.º 4-6/DF, rel. p/ acórdão 
Min. Celso de Mello, j. 1.10.2008).
A controvérsia guarda relação com a 
implementação de políticas públicas direcionadas à tutela 
do direito à saúde, particularmente, no caso, daquele afeto 
à população carcerária da Penitenciária Masculina de 
Ribeirão Preto, em favor de quem se buscou, com a decisão 
parcialmente suspensa, garantir atendimento por duas 
equipes mínimas de saúde, a ficarem naquele 
estabelecimento sediadas. 
In concreto, o Poder Judiciário não está a 
formular, tampouco a criar política pública vocacionada à 
realização do direito subjetivo à saúde, direito social de 
natureza prestacional que, é natural, exige ações estatais 
dirigidas a sua concretização: com efeito, determinou-se o 
cumprimento de política pública existente, idealizada 
especificamente no plano infraconstitucional pela CIB 
(Deliberação CIB n.º 62/2012), órgão deliberativo ligado à 
Secretaria Estadual de Planejamento.
Sob esse enfoque, nada havia a objetar 
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Agravo Regimental nº 2031991-72.2014.8.26.0000/50000 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 21.467
em relação ao controle judicial desencadeado, inclusive na 
trilha de recentes pronunciamentos do Supremo Tribunal 
Federal (Ag. Reg. na SL n.º 47/PE, rel. Min. Gilmar 
Mendes, j. 17.3.2010; Ag. Reg. no RE n.º 603.575/SC, rel. 
Min. Eros Grau, j. 20.4.2010; Ag. Reg. no RE n.º 
559.646/PR, rel. Min. Ellen Gracie, j. 7.6.2011).
Nada obstante, sob outro prisma, 
justificou-se, na hipótese vertente, a suspensão dos efeitos 
da liminar impugnada, no ponto que trata da 
implantação de duas equipes mínimas de saúde, diante 
das peculiares condições fáticas e jurídicas, premissas 
definidoras do mínimo existencial, este pressuposto da 
intervenção judicial saneadora.
Ao concentrar-se em única unidade 
prisional, situada, ademais, em Município que não aderiu 
aos termos da Deliberação CIB N.º 62/2012, e, assim, com 
desconsideração da situação global, do cenário encontrado 
nos demais cárceres localizados no Estado de São Paulo, a 
providência estatal determinada expõe a risco grave a 
ordem pública, compreendida aqui como ordem 
administrativa.
Nessa linha, a propósito, decidiu a 
Presidência deste Tribunal de Justiça, em hipótese similar, 
relativa a unidades prisionais localizadas em Tremembé, 
no mês de dezembro de 2013, no pedido de suspensão n.º 
0203907-48.2013.8.26.0000.
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Agravo Regimental nº 2031991-72.2014.8.26.0000/50000 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 21.467
A liminar compromete a normal e regular 
implementação da política pública em curso no Estado de 
São Paulo, a sua ordenação, enfim, o desenvolvimento das 
funções da Administração, com evidente potencial 
replicador, multiplicador, porque é inegável que, se 
preservada sua eficácia, servirá de paradigma para 
situações relacionadas com outros estabelecimentos 
prisionais.
Vale dizer, para afastar o sério risco 
concreto de desestabilização do próprio plano estatal 
concebido para a promoção e proteção da saúde, cuja 
efetivação depende de organização e procedimento, o 
deferimento da suspensão se mostrou prudente, e portanto 
justificado pelo princípio constitucional da 
proporcionalidade. 
O contexto legitimador da suspensão foi 
potencializado, por outro lado, pela exiguidade do prazo 
estabelecido para fins de implementação das equipes 
mínimas de saúde: o lapso temporal de 45 dias é, sem 
dúvida, curto para a concretização das ações estatais 
exigidas, especialmente se valorado a escassez de 
recursos humanos, elemento também alcançado pela 
chamada reserva do possível.
A observância do prazo, certamente, 
levaria ao desfalque de outras unidades prisionais; forçaria 
o deslocamento de médicos e, reflexamente, emascularia a 
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Agravo Regimental nº 2031991-72.2014.8.26.0000/50000 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 21.467
proteção de direitos fundamentais de presos abrigados em 
outros cárceres do Estado de São Paulo.
Não se pode desprezar, por fim, que o 
Estado, ao que consta, não tem mantido-se inerte; 
promove seguidos concursos buscando o provimento dos 
cargos vagos de médicos, dentistas, enfermeiros e 
auxiliares de enfermagem; regulou parcerias entre Estado 
e Municípios (Deliberação CID n.º 62/2012); e presta, 
conforme informação da SAD - Secretaria de 
Administração Penitenciária, atendimento médico aos 
reclusos na Penitenciária Masculina da Comarca de 
Ribeirão Preto.
Lá, esclareceu, há três enfermeiros com 
jornada de trabalho de 30 horas semanais, um cirurgião 
dentista com jornada de 20 horas e dois auxiliares de 
enfermagem com jornada de 30 horas semanais; além 
disso, assegura, atendimento de emergência e com 
especialistasna unidade de Pronto Atendimento de 
Ribeirão Preto.
E tais circunstâncias, diante da base 
excepcional em que se dá a intervenção judicial em casos 
como o ora em discussão, autorizaram, igualmente, a 
suspensão, que foi escorada, no mais, em um juízo mínimo 
de delibação, indispensável, e admitido pela 
jurisprudência.
Por estes fundamentos, nega-se 
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provimento ao agravo regimental.
RENATO NALINI
Relator
		2014-05-26T14:53:35+0000
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