Buscar

DPOC: Definição, Fatores, Fisiopatologia

Prévia do material em texto

Leticia Frei 
 
1. Definição 
 
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), é uma condição pulmonar heterogênea caracterizada por 
sintomas respiratórios crônicos (dispneia, tosse, produção de escarro, exacerbação) devido a anormalidade 
das vias aéreas (bronquite, bronquiolite) e/ou alvéolos (enfisema) que causam persistência, muitas vezes 
progressiva, obstrução de fluxo de ar. 
 
2. Fatores de risco 
 
-Tabagismo passivo 
-Poluição urbana 
-Queima de biomassa e combustivel fossil (lenha, carvão). 
-Exposição ocupacional 
-Condições socioeconomicas 
-Tuberculose 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leticia Frei 
3. Fisiopatologia 
 
 
 
Leticia Frei 
 
Os agentes nocivos inalados desencadeiam uma resposta inflamatória crônica com a ativação de varias células, 
com a liberação de mediadores inflamatórios. Tal processo tem suas consequencias amplificadas pelo estresse 
oxidativo e excesso de proteinases, levando ao circulo vicioso de dano e reparação com consequente alteração 
estrutural nas vias aéreas e parênquima pulmonar, determinando: 
 
-Doença das pequenas vias aéreas 
-Destruição da parede alveolar 
-Destruição da rede vascular 
-Perda da elasticidade 
 
Como consequencia desses agravos, há o desenvolvimento de: 
 
-Limitação ao fluxo aéreo expiratório pela diminuição do recuo elástico e aumento da resistência das vias 
aéreas. 
-Aprisionamento aéreo em razão da lentificação do esvaziamento pulmonar 
-Alterações das trocas gasosas, resultando em hipoxemia e hipercapnia 
-Hipersecreção mucosa, ocasionando tosse crônica produtiva 
-Hipertensão pulmonar nas fases avançadas da doença, decorrente da destruição do leito vascular e 
vasoconstrição hipóxica. 
 
4. Quadro clinico 
Sintomas 
 
-Tosse crônica (pode ser seca evoluindo para produtiva) 
-Dispneia (iniciando em grandes esforços e depois para menores esforços). 
-Sibilancia* 
-Aperto no peito* 
-Emagrecimento* 
-Anorexia* 
 
Sinais: 
 
-Taquipneia 
-Aumento do volume torácico (tórax em “barril”). 
-Diminuição dos murmúrios vesiculares 
-Sibilancia 
-Uso de musculatura acessória 
-Cianose de extremidades* 
-Estase jugular bilateral* 
-Hepatomegalia* 
-Edema de MMII* 
-Emagrecimento* 
 
Fenótipos clínicos: 
 
Pink-puffer (PP): “soprador rosado” 
Blue-bloater (BB): “inchado azul” 
 
Leticia Frei 
 
PP: 
-Magro e longilíneo 
-Tem dispneia precoce, progressiva e grave 
-Lábios e pele bem corados (sem cianose) 
-Torax acentuadamente insuflado 
-Capacidade física muito reduzida 
-Predomonio do fenômeno de destruição dos septos alveolares (enfisema pulmonar). 
-Na radiografia de tórax, há redução da trama vascular, hipertransparencia difusa, aumento do diâmetro 
anteroposterior do tórax e retificação diafragmática. 
-Gasometria arterial próxima da normalidade. 
 
BB: 
-Compreição brevilinea com tendencia ao ganho de peso 
-Dispneia menos acentuada, intermitente 
-Tosse produtiva e exacerbação infecciosas frequentes 
-Cianose labial 
-Sonolência 
-Predomonio dos sintomas inflamatórios (bronquite crônica) 
-Na radiografia de tórax, alterações mais discretas, com possível aumento da trama broncovascular. 
-Gasometria arterial demonstrando tendencia a hipoxemia e hipercapnia. 
 
 
 
5. Diagnostico 
Radiografia de tórax 
Embora o diagnóstico de DPOC nunca deva ser firmado apenas com as alterações radiológicas, os seguintes 
achados, dentro de um contexto clínico adequado e espirometria compatível, são altamente sugestivos: 
hiperluscência pulmonar bilateral, presença de bolhas, evidências de hiperinsuflação pulmonar e rebaixamento 
das cúpulas diafragmáticas. É um procedimento essencial na investigação dos diagnósticos diferenciais e 
condições associadas, como neoplasia, pneumonia e insuficiência cardíaca crônica. Na radiografia em perfil, 
deve-se procurar aumento do ar retroesternal e retificação das cúpulas diafragmáticas que sugerem 
hiperinsuflação. 
 
Gasometria arterial 
A presença de hipoxemia arterial deve ser investigada em todo paciente com VEF1 < 50% do previsto e/ou 
capacidade de difusão pulmonar abaixo de 70% do previsto. Embora a oximetria de pulso possa ser útil para 
afastar hipoxemia clinicamente significativa (SpO2 < 90%), a prescrição de oxigenoterapia crônica domiciliar 
só pode ser realizada após confirmação gasométrica. A presença de hipercapnia com retenção crônica de 
bicarbonato indica doença avançada. 
 
Mensuração dos níveis séricos de alfa-1-antitripsina 
 
Tomografia computadorizada 
A tomografia computadorizada (TC) auxilia nos casos duvidosos ou para definir melhor em qual polo 
(bronquítico ou enfisematoso) determinado paciente pode ser mais bem enquadrado. Também é de grande valia 
na investigação de processos neoplásicos e na avaliação pré-operatória de ressecções pulmonares. 
 
 
 
Leticia Frei 
Volumes pulmonares estáticos 
A DPOC pode estar associada com o aumento dos volumes pulmonares (capacidade pulmonar total) e com o 
aprisionamento aéreo (elevação do volume residual e da razão entre este e a capacidade pulmonar total). Os 
volumes pulmonares têm importante papel no acompanhamento dos pacientes com doença mais avançada ou 
naqueles com investigação para intervenção cirúrgica, como cirurgia redutora de volume. 
 
Teste de caminhada de 6 minutos 
 
Espirometria 
Depois do quadro clínico compatível (distúrbio ventilatório obstrutivo que não normaliza com broncodilatador), 
a espirometria é o exame que define o diagnóstico de DPOC. Ela vai ser um teste que avalia a capacidade 
pulmonar do paciente, quantificando o volume de ar que a pessoa consegue inspirar e expirar, além da 
velocidade com que isso ocorre. Ela ainda auxilia na definição da gravidade da DPOC, o que ajuda na escolha do 
tratamento. 
Também é conhecida por outros nomes, como prova de função pulmonar, prova ventilatória ou teste do sopro. 
Basicamente, para sua realização, o paciente sopra em um tubo conectado ao espirômetro, e este aparelho 
recebe o ar e o analisa. O exame é rápido (menos de 30 minutos), não invasivo e indolor, não causando 
desconforto algum pro paciente. 
Obs! Em locais onde a espirometria possa ser feita, não se justifica fazer o diagnóstico de DPOC sem ela. 
Porém, se tivermos um paciente com história típica de DPOC + exame físico e RX compatíveis e que afastam a 
outras doenças + se está em um local onde a espirometria não é possível, o tratamento de DPOC deve ser 
iniciado! 
Durante o exame, o paciente fica sentado, com um clipe nasal é sobre o nariz para impedir a passagem do ar 
ali. Posiciona-se, na boca, um tubo com bocal descartável, conectado ao espirômetro (que recebe e analisa os 
resultados), é por ali que ele sopra. 
De início, deve-se respirar normalmente. Depois, deve-se encher o pulmão e soprar com força e rapidez – tão 
rápido e forte quanto for possível, e esse movimento deve ser feito por pelo menos 6 segundos, até esvaziar os 
pulmões. Disso são obtidos pelo menos 3 gráficos aceitáveis. 
O exame pode ser repetido na sequência, agora com a aplicação de broncodilatador, normalmente por spray. 
 
6. Deficiência de alfa-1-antitripsina: quando suspeitar 
 
A OMS recomenda que todos os pacientes com o diagnostico de DPOC sejam rastreados uma vez para 
deficiência de alfa -1 antitripsina especialmente em áreas com alta prevanlencia de AATD. 
 
-Ensisema basal panlobular 
-Pacientes mais velhos com enfisema apical centrolobular 
-Concentração baixa (<20% do normal) 
-Familiares de quem tem DPOC devem ser rastreados 
 
https://telemedicinamorsch.com.br/blog/prova-de-funcao-pulmonar
https://telemedicinamorsch.com.br/blog/o-que-e-espirometria-e-pra-que-serve
 
Leticia Frei 
 
Indicada para os pacientes com histórico familiar de doenças respiratórias, obstrução precoce de vias aéreas 
(normalmente abaixo de 40 anos) e predomínio de enfisema panlobular difuso. Valores de referência: 90 a 200 
mg/dL (por método imunonefelométrico). 
 
Faz-se o diagnósticoidentificando os níveis séricos de alfa-1 antitripsina < 80 mg/dL (< 15 micromol/L), se 
medido pelo método de imunodifusão radial, ou níveis < 50 mg/dL (< 9 micromol/L) se medido por nefelometria. 
Pacientes com níveis baixos devem ter confirmação por genotipagem. Para a doença pulmonar, geralmente há 
reposição de alfa-1 antitripsina. Tratamento: Cessação do tabagismo, uso de broncodilatadores e tratamento 
precoce das infecções respiratórias são particularmente importantes para os pacientes com deficiência de 
alfa-1 antitripsina e enfisema. 
 
 
7. Classificação 
 
Uma vez confirmado o diagnóstico de DPOC por espirometria, a fim de orientar a terapia, a avaliação da DPOC 
deve se concentrar na determinação dos seguintes quatro aspectos fundamentais: 
-Gravidade da limitação do fluxo aéreo 
-Natureza e magnitude dos sintomas atuais 
-História prévia de exacerbações moderadas e graves 
-Presença e tipo de outras doenças (multimorbidade). 
 
Na presença de relação VEF1/CVF < 0,7, a avaliação da gravidade da limitação do fluxo aéreo na DPOC (note que 
pode ser diferente da gravidade da doença) é baseada no valor pós-broncodilatador do VEF1 (% de referência). 
Os pontos de corte espirométricos específicos são propostos para fins de simplicidade. 
 
 
 
 
Leticia Frei 
 
 
 
8. Tratamento medicamentoso, classes de broncodilatadores e exemplos. 
Recomendação por classificação. Indicação do uso de corticoide inalatório. 
 
Quais medidas tem impacto na sobrevida do paciente: 
- Cessar tabagismo 
- O2 domiciliar (nos pacientes que tem necessidade) 
- Cirurgia de redução volumétrica pulmonar 
 
Tratamento não medicamentoso: 
- Cessação do tabagismo 
- Reabilitação pulmonar e fisioterapia respiratória (priorizando os pacientes com dispneia associada à baixa 
tolerância ao exercício ou restrição para atividades diárias 
- pontuação na escala mMRC > 2) melhora dispneia 
- Atividade física 
 
Tratamento medicamentoso: 
- Vacinação (influenza e pneumocócica) 
- Oxigenoterapia, nos casos 
- Broncodilatadores por via inalatória, de acordo com a gravidade e o perfil de risco da doença. 
 
Reabilitação pulmonar Pacientes em todos os estágios da DPOC se beneficiam em algum grau de reabilitação 
pulmonar, principalmente a partir do estágio moderado. Essa reabilitação proporciona redução do número de 
exacerbações, de hospitalizações e de dias de internamento, melhora a sensação de dispnéia, a qualidade de 
vida. 
 
 
Leticia Frei

Mais conteúdos dessa disciplina