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Aula 8 geografia politica

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CEDERJ - CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
Curso: Licenciatura em Geografia 
Disciplina: Geografia Política 
Autor: Ivaldo Lima 
 
 
AULA 8 
O Nacionalismo e o Regionalismo em foco 
 
Meta 
Apresentar as noções de nação, nacionalismo e regionalismo no âmbito das 
relações socioespaciais. 
 
Objetivos 
1. Definir a relação formada entre as noções de Estado, nação e 
nacionalismo; 
2. Identificar uma tipologia e teorias de nacionalismos; 
3. Discutir a relação formada entre região e regionalismo; 
4. Distinguir os termos região, regionalização, regionalidade e 
regionalismo. 
 
Introdução: a dimensão político-geográfica do nacionalismo e do 
regionalismo 
 
O debate sobre as nações e os nacionalismos, sobre as regiões e os 
regionalismos é de extrema importância para a análise geográfica e, 
notadamente, para a geografia política. Isso porque os nacionalismos e 
regionalismos implicam movimentos sociopolíticos com uma clara referência 
espacial. Há territórios em jogo quando se fala das dinâmicas nacionalista e 
regionalista – os territórios nacional e regional, respectivamente –, o que 
equivale a dizer que esse jogo é disputado com referência à defesa desses 
territórios. Em outras palavras, há posições políticas assumidas por atores 
sociais em cada uma dessas dinâmicas, o que faz delas objeto de interesse 
político-geográfico, uma vez que essas posições podem conduzir – e quase 
sempre conduzem – a divergências em relação ao uso do espaço. 
 
Segundo Joan Nogué e Joan Rufí (2006), 
 
Qualquer território – e neste caso o território que reclama para si a condição de suporte 
da nação reivindicada – possui uma delimitação, ocupa uma porção da superfície da 
terrestre. Neste sentido, a primeira questão que se delineia, implícita ou explicitamente, 
em qualquer movimento nacionalista é até onde chega territorialmente a nação; quais 
são os seus limites ou, na maioria dos casos, quais deveriam ser esses limites, e a 
partir de que critérios são estabelecidos. São, certamente, questões elementares, mas 
de uma grande transcendência, porque, como lembra Raffestin (1980), “o limite 
provoca a diferença, ou, se preferirmos, a diferença suscita limite”. É um fato evidente 
que o discurso nacionalista necessita, antes de mais nada, esclarecer este ponto. 
 
O ponto a ser esclarecido é aquele referente aos limites territoriais da nação, 
ou seja, o alcance geográfica nacional. Mas, o que é uma nação? 
 
1. A nação e o nacionalismo: das definições à tipologia 
 
 Vejamos as considerações de López Trigal a esse respeito. 
 
Grupo de pessoas unido por vínculos étnicos, linguísticos ou culturais (em latim, natio), 
ainda que não necessariamente compartam o mesmo território. Noção enunciada 
primeiramente na tradição francesa (Rousseau, Sièyes, Renan) que representa uma 
comunidade histórica estável com consciência própria e cultura, valores e símbolos 
comuns, unida por vínculos contratuais que manifestam sua vontade de viver sob as 
mesmas leis. Um grupo de população unificado, cultural e politicamente, dotado de um 
elevado sentimento de participação em valores e instituições, do que decorre a 
prevalência de determinados interesses nacionais, trasladado á ideia da tradição alemã 
do Volksgeist [espírito de um povo] que considera a nação como um órgão ou ser vivo, 
que cresce e se desenvolve graças a ação inconsciente de uma força superior ou gênio 
nacional e que inspirou a escola de geografia política alemã a partir de Ratzel (LÓPEZ 
TRIGAL, 2013: 219). 
 
Joan Nogué (1998:17), nos alerta de que 
 
Os ideólogos do nacionalismo, apoiando-se às vezes em estudos teóricos sobre o 
tema, costumam apresentar o nacionalismo como uma força imanente, eterna, 
inamovível, autônoma, como uma força irracional arraigada em sentimentos atávicos e 
transcendentais. (...) Convenhamos que esta não é melhor maneira de enfocar o tema. 
(...) O nacionalismo não é um fenômeno natural nem nasce acidentalmente. (...) os 
nacionalismos funcionam atrelados a uma racionalidade política e ideológica, assim 
como a umas origens sociais que são analisáveis. Por mais complexas que sejam. 
 
Um os símbolos nacionais mais evidenciados é a bandeira de um país. Ela 
serve, antes de mais nada para identificar uma diferenciação territorial: uma 
nação territorializada. 
 
A marca nacional e seus símbolos 
 
Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/-
bwUggud4iZo/UJvDzjD7W3I/AAAAAAAACFo/pqZ7ELwKWGM/s1600/487042_4222680445013
07_1367147484_n.jpg. Acesso em: 15 maio 2017. 
 
Segundo o geógrafo Joan Nogué (1998:18), o nacionalismo é “um conjunto de 
expressões ideológicas que tentam fazer com que uma comunidade seja 
reconhecida como um todo e que se identifique a si mesma e em relação ao 
‘outro’ como diferente, através da adesão a um conjunto de símbolos, valores e 
tradições”. Na perspectiva da geografia política – que valoriza o território como 
base e recurso político do processo de construção nacional num mundo 
constituído por Estados –, este autor vê os nacionalismos como uma forma 
territorial de ideologia, ou, como se queira, “uma ideologia territorial” (esta 
última expressão foi empregada por Benedict Anderson em seu livro 
Comunidades imaginadas, de 1983). 
 
Um dos aspectos mais característicos da ideologia e do movimento 
nacionalista é, na ótica de Joan Nogué, sua habilidade de redefinir o espaço, 
politizando-o e tratando-o como um território histórico distinto. “Os movimentos 
nacionalistas interpretam e se apropriam do espaço, do lugar, do tempo, a 
partir dos quais constroem uma geografia e uma história alternativas” (NOGUÉ, 
1998:38). Em outras palavras, para o Autor, os movimentos nacionalistas 
expressam suas reivindicações em termos territoriais e, acrescentaríamos, 
vinculam-se, direta ou indiretamente, ao Estado territorial. 
 
ATIVIDADE 1 
Atividade 1 (Atende ao objetivo 1) 
 
Uma ideia para nossa reflexão: 
 
As origens do nacionalismo como fenômeno moderno estão, 
inextricavelmente, vinculados ao nascimento do Estado-nação (DUPRÉ, 
2011:187). 
 
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RESPOSTA COMENTADA 
As origens do nacionalismo estão condicionadas à ideia de uma nação que se 
reconhece como tal e de um Estado que lhe corresponda, culminando na 
fórmula Estado-nação. Essa fórmula política se desenvolve por meio dos ideais 
de afirmação de um Estado face aos demais, o que implica a seguinte situação: 
quanto mais coesa for a nação, mais forte será o Estado a ela correspondente. 
Desde as suas origens, o nacionalismo é, pelo exposto, uma prática política 
vinculada inseparavelmente às figuras do Estado e da nação. 
 
 
 
Podem ser identificados vários tipos de nacionalismos. Essa tipologia segue, 
aproximadamente, uma sequência histórica de diversos nacionalismos. Assim, 
com base na obra de A. Orridge, os geógrafos Peter Taylor e Colin Flint (2002) 
identificam cinco tipos fundamentais de nacionalismos, a saber: 
protonacionalismo; nacionalismo de unificação, nacionalismo de separação, 
nacionalismo de liberação e nacionalismo de renovação. Sistematizaremos, a 
seguir, a contribuição desses geógrafos. 
 
1. Protonacionalismo. É o nacionalismo de Estados centrais originais, ou 
seja, os Estados de tamanho médio da Europa Ocidental. O geógrafopolítico Jean Gottmann, por exemplo, chega a mencionar a ideia de pro 
paria mori (morrer pela pátria) em trono de 1300. As afirmações do 
“nacionalismo” inglês que se encontram nas obras de Shakespeare, do 
final do século XVI e início do XVII, são exemplos mais conhecidos 
deste tipo de “patriotismo” precoce. Contudo, esses são exemplos de 
lealdade à monarquia, ao Estado ou até mesmo ao país, mas não à 
ideia coletiva de um povo que integra todas as regiões e classes sociais. 
A consequência disso foi o que Orridge denomina de “Estados 
protonacionais”. O povo começava a fazer parte da política, mas o 
nacionalismo como ideologia não se desenvolveu de todo até a chegada 
do século XIX; em consequência, podemos dizer que a nação precedeu 
ao nacionalismo. 
2. Nacionalismo de unificação. Na Europa Central as pressões 
contraditórias dos Estados pequenos (à escala da cidade) e os grandes 
impérios multiétnicos haviam impedido que se desenvolvessem Estados 
de tamanho médio como aqueles da Europa Ocidental. Alemanha e 
Itália, por exemplo, eram mosaicos em que se mesclavam pequenos 
Estados independentes com províncias de impérios maiores. No 
exemplo germânico, o nacionalismo era, então, a justificação para que, 
sob o comando prussiano, se pudesse unir a maior parte da área cultural 
germânica em um novo Estado-nação; e que se pudesse transformar 
Itália a partir de uma mera “expressão geográfica” em um Estado-nação 
italiano. Esses são os dois principais focos originais dessa ideologia 
nacionalista de unificação. 
3. Nacionalismo de separação. A maioria dos nacionalismos que 
trinfaram supuseram a desintegração dos Estados soberanos que os 
precederam. No século XIX e começo do XX, este tipo de nacionalismo 
esteve por trás da criação de um grande número de Estados a partir dos 
impérios austro-húngaro, otomano e russo. Na Europa Oriental, nos 
Bálcãs e na Escandinávia, novos Estados surgiram a partir desse tipo de 
nacionalismo. São exemplos os países: Albânia, Bulgária, Grécia, 
Finlândia, Hungria, Noruega, Polônia e Romênia. Também, há esse tipo 
de ideologia nacionalista nas tentativas de independência que ocorrem 
na Escócia, País Basco, Córsega, Québec e Valônia. 
4. Nacionalismo de liberação. Aqui, falamos de desintegração dos 
impérios ultramarinos europeus. Quase todos os movimentos de 
independência nesses impérios foram “movimentos de liberação 
nacional”. O primeiro de todos foi o dos colonos estadunidenses em 
1776, com a sua Guerra de Independência em relação à Inglaterra. 
Podem ser considerados movimentos nacionalistas liberais. No século 
XX, esses movimentos foram invariavelmente movimentos nacionalistas 
socialistas em suas diferentes versões: desde as mais moderadas, como 
a da Índia, até as mais revolucionárias, como a do Vietnã. Também, 
poderíamos tipologizar esses movimentos entre aqueles que se 
basearam nos grupos colonos europeus, como nos Estados Unidos, na 
América Latina, no Canadá, na Austrália, África do Sul e Nova Zelândia, 
bem como aqueles que se basearam nos povos indígenas, como em 
vários Estados Africanos e asiáticos. 
5. Nacionalismo de renovação. Esse tipo tem a ver com as comunidades 
étnicas que lhe dão sustentação. Trata-se de uma renovação nacional 
para recuperar a grandeza perdida. Esse novo tipo de nacionalismo se 
converte, então, em um “grito de guerra”. Identifica-se no Irã, com a sua 
Revolução Islâmica, de 1978, por exemplo; ou na Turquia que, depois 
de perder seu império otomano na Primeira Guerra Mundial, se 
concentrou na sua essência étnica turca. Os casos clássicos desse tipo 
de nacionalismo se encontram no século XX na China e no Japão, dois 
impérios-mundo que foram incorporados intactos ao sistema-mundo 
moderno já a partir do século XIX. Israel é um caso muito característico 
desse tipo de nacionalismo de renovação, baseando-se no sentido 
inverso da diáspora sionista para formar um novo Estado no Oriente 
Médio. 
 
Podemos concluir, parcialmente, a partir dessa tipologia, que o nacionalismo é 
uma prática política com vários matizes, ou seja, que há variações no que 
denominamos de nacionalismo. Poderíamos, acompanhando as considerações 
de López Trigal (2013:221), acrescentar os tipos: a) nacionalismo regional 
(países árabes) e b) nacionalismo moderado ou soberanista (seguindo o 
discurso de forças políticas da Catalunha e do País Basco). Há, igualmente, 
uma ambiguidade fundamental que é o fato de o nacionalismo poder ser 
considerado algo bom, uma força positiva na história do mundo, quando se 
associa aos movimentos de liberação que se livra do domínio estrangeiro, ou 
algo desagradável, uma força negativa associada com o nacional-socialismo e 
com os fascismos na Europa, bem como com as ditaduras na periferia e na 
semiperiferia, como na América Latina, Ásia e África. 
 
 
ATIVIDADE 2 
Atividade 2 (Atende ao objetivo 2) 
 
Observe a imagem de manifestação independentista na Catalunha. 
 
 
Disponível em: https://obeissancemorte.files.wordpress.com/2014/10/catalu1.jpg. Acesso em: 
15 maio 2017. 
 
Explique a frase: 
 
Québec, Catalunha, Escócia e País Basco são exemplos 
contemporâneos de nacionalismo por separação. 
 
 
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RESPOSTA COMENTADA 
Os movimentos independentistas que se verificam atualmente no Canadá (no 
exemplo do Québec), na Espanha (nos exemplos do País Basco e da 
Catalunha) e no Reino Unido (no exemplo da Escócia) expressam claramente o 
nacionalismo de separação que defende a criação de um novo Estado-nação, 
dotado de território soberano. O Estado de origem ver-se-ia, desse modo, 
alijado de uma parte sociopolítica e territorial para dar lugar ao nascimento de 
uma nova entidade político-geográfica, isto é, de um novo país. 
 
 
 
Teoricamente, podemos sistematizar os nacionalismos entre i) aqueles que 
surgem de cima para baixo, ii) aqueles que surgem de baixo para cima e iii) 
aqueles que surgem de uma negociação de ideias. Essas variações nos 
permitem analisar os casos particulares da manifestação geo-histórica dos 
nacionalismos. Para tanto, apenas advertimos que os nacionalismos nunca 
ocorrem como fatos isolados, mas sempre vinculados a processos estruturais 
mais amplos que devem ser contemplados. É assim que Benedict Anderson, 
em seu livro mencionado há pouco, fala de comunidade imaginada para se 
referir à nação, ou seja, àquilo que poderá levar aos nacionalismos, como 
comunidades geradas a partir de um sistema cultural abrangente e, inclusive, 
anterior ao próprio nacionalismo, sem cair em posturas eurocêntricas, por 
exemplo. 
A frase mencionada por Gottmann – “morrer pela pátria” – expressa muito bem 
o sentimento de patriotismo. Para muitos autores, como Ben Dupré (2011), o 
nacionalismo é uma espécie de “primo-irmão” desse sentimento patriota, pois, 
com frequência, exige uma devoção fanática que exclui os outros e que pode 
alimentar um sentimento de superioridade sobre eles. Para Dupré, o caráter 
nacional que defende o nacionalismo pode ser, como apontou o filósofo alemão 
Schopenhauer em 1851, “somente outro nome para a forma que a pequenez, a 
perversidade e a vileza da humanidade adotam em cada país”. O Autor 
menciona Albert Einstein. Quando este afirma que o nacionalismo é uma 
“enfermidade infantil da humanidade”, pois o nacionalismo teria sido a causa 
fundamental dasGuerras Mundiais do século XX, e em tempos recentes, teria 
estado diretamente implicado nos fatos de violência espantosa e na grotesca 
“limpeza étnica” em lugares como Ruanda e os Bálcãs. 
 
Para Dupré (2011:184-5)): 
 
O nacionalismo vai mais além do amor ao país – o orgulho por seus 
sucessos e a preocupação por seu bem-estar – que é a base do 
patriotismo. Mais intencionado e mais intelectualizado que essa simples 
emoção, o nacionalismo costuma ter um componente ideológico ou 
político, que combina o sentimento patriótico com um programa para a 
mudança e o reconhecimento internacional. Em geral, a aspiração 
primordial de um programa nacionalista é conseguir um Estado próprio, 
um novo status que implique a independência e a soberania para uma 
comunidade cujos membros têm algumas razões para crer que formam 
uma “nação”. 
 
Dupré (2011) também nos indica que um aspecto característico dos 
nacionalismos é acreditar que seu próprio país é único (e, portanto, superior 
aos demais); assim como a convicção de que existe uma identidade ou caráter 
peculiar, o “gênio de uma nação”. Acredita-se, desse modo, em origens 
comuns, língua comum, mitos compartilhados, valores e memórias coletivas 
que funcionariam como fatores formadores da nação – essa “comunidade 
imaginada”, para relembrarmos, uma vez mais, as palavras de Benedict 
Anderson. 
 
 
2. Região, regionalismo e regionalidade: uma distinção necessária 
 
Os termos geográficos região, regionalismo e regionalidade exigem uma 
distinção que esclareça o significado de cada um, bem como as vinculações 
entre eles. Isso porque esses termos estão implicados num processo 
geográfico bem mais amplo que é a regionalização, ou seja, um processo que 
define realidades e perfis regionais. A regionalização pode ser considerada 
simplificadamente como o processo de formação de regiões. Mas isso, embora 
correto, é apenas um começo, já que se trata de um processo bem mais 
complexo. 
A região é uma porção diferenciada do espaço geográfico. Muitos 
esclarecimentos já foram apresentados por geógrafos a esse respeito, como os 
livros de Sandra Lencioni (Região e Geografia) e de Roberto Lobato Corrêa 
(Região e Organização Espacial). Portanto, nesta aula, nosso objetivo não será 
tanto o de aprofundar o debate teórico-conceitual sobre o termo região, mas 
sim, partir de uma definição simples como a que foi mencionada, para pensar o 
regionalismo. 
A regionalidade pode ser conceituada como a identidade regional, ou seja, o 
sentimento de pertencimento entre uma sociedade e sua região. Desse modo, 
logo se percebe que as noções de região e de regionalidade nos servirão para 
pensar o regionalismo com mais clareza. Por quê? Porque o regionalismo é, 
antes de tudo, uma reivindicação política de caráter territorial que se refere a 
uma região. Essa referência é frequentemente reforçada pelo sentimento de 
pertença à região, ou seja, pela regionalidade. Assim, temos uma formulação 
político-geográfica extremamente interessante e complexa, qual seja: o 
regionalismo refere-se a uma região especificada por uma regionalidade. 
 
Regionalização 
Esse termo, aparecido na França por volta de 1960 no quadro das políticas de 
administração do território [aménagement du territoire], designa os esforços 
destinados a contrabalançar o papel considerado excessivo da aglomeração 
parisiense, visando favorecer o desenvolvimento econômico de grandes 
regiões. Essas últimas não tinham, todavia, uma existência oficial, devido ao 
retalhamento do território nacional, desde 1790, em um grande número de 
departamentos. Era necessário então reagrupá-los progressivamente numa 
vintena de regiões e essa foi a primeira etapa de uma política de 
regionalização. Foi necessário, em seguida, escolher em cada região uma 
capital regional (o que deu lugar às rivalidades entre as cidades) e financiar 
em cada uma dessas regiões os equipamentos coletivos (sobretudo do 
terciário superior) para que cada uma pudesse responder melhor às 
demandas da população do novo conjunto regional. Essa foi a segunda etapa 
da regionalização. Foi necessário, enfim, dotar cada região de um poder 
regional que tomaria a iniciativa de novas realizações, sem depender, 
portanto, de decisões tomadas na capital [Paris]. A lei de descentralização de 
1982 conferiu novos poderes aos conselhos regionais e decidiu enfim as 
eleições com base no sufrágio universal. Mas, pouco depois, em 1984, os 
poderes dos departamentos, pelo menos aqueles dos conselhos gerais, foram 
reforçados. Em 2003, a descentralização na França foi ainda acentuada por 
uma reforma da Constituição, notadamente fazendo com que crescessem os 
poderes de cada um dos conselhos regionais das 22 regiões. Contudo, isso 
suscita as rivalidades com os conselhos gerais departamentais ou com as 
grandes comunidades urbanas, os quais dispõem, frequentemente, de meios 
financeiros mais importantes do que aqueles das regiões onde eles se situam. 
As políticas de regionalização levadas na França ou em outros Estados 
revelam a geopolítica, pois tratam das rivalidades de poderes no território. 
 
Regionalismo 
Movimento geopolítico que se impõe ao centralismo de um Estado-nação e 
que reivindica a outorga [concessão] de vantagem de poder aos 
representantes de uma região em razão de suas particularidades culturais, 
notadamente da persistência de uma língua regional. Os movimentos 
regionalistas que, frequentemente, são minoritários na sua região, podem 
lentamente se tornar autonomistas e depois separatistas, a fim de romper com 
o Estado-nação e transformar a identidade regional naquela da nação 
independente, onde a língua (mesmo se ela for muito marginal) é, a seus 
olhos, a comprovação real. 
Extraído de: LACOSTE, Y. De La géopolitique aux paysages. Dictionnaire de 
la géographie. Paris: Armand Colin, 2003, pp. 326-327. 
 
 
 
 
 
 
Segundo a geógrafa Iná de Castro (1992:29 e ss.), a região é o território da 
ação política e deve ser vislumbrada, obrigatoriamente, nas reflexões cobre o 
regionalismo que à região se refere. Para a Autora: 
 
Como não há regionalismo sem substrato regional, a compreensão do 
primeiro supõe a necessidade de discutir e conceituar a região, 
enquanto base territorial para expressão do fato político. A análise do 
espaço regional pressupõe, então, o conhecimento do espaço como um 
nível de generalização maior, ou seja, como produto da transformação 
da natureza pelo trabalho social. (...) A região, portanto, é a escala 
socioespacial, que possui uma especificidade funcional, definida nos 
processos sociais, que condicionam e são condicionados por espaços 
diferenciados.(...) A região é o espaço da sociedade local, em interação 
com a sociedade global, porém configurando-se de forma diferenciada. 
(...) A região, é então, uma fração estruturada do território (...), é o 
espaço vivido, ou seja, o espaço das relações sociais mais imediatas e 
da identidade cultural. 
 
E sobre o regionalismo, Castro (1992: 40), o define como “a mobilização 
política de grupos dominantes numa região em defesa de interesses 
específicos frente a outros grupos dominantes de outras regiões ou ao próprio 
Estado”. Para a Autora, “[o] regionalismo, portanto, é um conceito 
eminentemente político, vinculado, porém, aos interesses territoriais (...), [ele] 
constitui a expressão das relações políticas entre as regiões ou destas com o 
poder central”. 
 
No seu dicionário de Geografia Política, López Trigal (2013) faz interessantes 
considerações sobre o regionalismo. Vejamos algumas delas. 
 
Movimento político e cultural tendente a alcançar para uma região umacerta 
autonomia, o que supõe, de fato, reformar o Estado desde dentro, atendendo a tais 
demandas. Se ode entender, em certo sentido, enfrentando-se ao nacionalismo, 
enquanto que este não considera a região como uma comunidade territorial soberana, 
mas sim uma integrante da comunidade nacional que é aquele com supremacia política 
e administrativa. Na Espanha, o regionalismo aparece no final do século XIX, 
pretendendo afirmar a identidade e a personalidade histórica, cultural, econômica e 
social como também normativa e político-administrativa de algumas regiões no marco 
institucional de um Estado centralizado, reivindicando um “Estado regionalizado”. A 
depender das especificidades locais, tem-se um “regionalismo descentralizador” (para 
alguns, um regionalismo saudável como repulsa ao nacionalismo) e um “regionalismo 
desagregador” ou nacionalismo regional, tal como aparece atualmente na Europa 
(Catalunha, País Basco, Escócia, Flandres, Padania) com projetos favorecedores do 
reconhecimento de uma nação e com presença frequentemente entre as regiões mais 
desenvolvidas e dinâmicas de cada Estado, para os quais se considera o regionalismo 
como “um mero ajuste técnico do Estado”. 
 
Com essas considerações, pretendemos oferecer uma instrumentalização 
teórico-conceitual sobre os termos nacionalismo e regionalismo, 
principalmente. Essa instrumentalização deverá servir de preparação para 
análises concretas dos casos nacionalista e regionalistas vigentes e vindouros 
no mundo contemporâneo. 
 
Atividade Final 
Atividade Final (Atende ao conteúdo geral da aula) 
 
Analise atentamente o texto a seguir. 
 
Vemos que junto ao “nacionalismo” sempre encontramos 
“subnacionalismos” que estão dispostos a, mais dia menos dia, 
organizar os povos que pretendem representar na forma de um “Estado 
nacional” com leis, território e forças militares específicas. José Gil 
sintetiza de maneira magnífica o problema quando conclui que “tanto 
opressores quanto oprimidos desejam juntar-se em ‘comunidades 
nacionais’, os primeiros prontos a sacrificar as minorias às próprias 
ambições centralizadoras e os segundos defendendo a sua própria 
identidade. E, não raro, os oprimidos de hoje, tornam-se os opressores 
de amanhã” (MARTINS, 1992:63). 
 
As ideias do texto nos permitem considerar que mobilizações regionalistas 
podem se converter em nacionalismos ou “subnacionalismos”? Por quê? 

 
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Resposta comentada 
O texto é bastante esclarecedor quanto às dinâmicas político-territoriais 
internas de um Estado, sobretudo, às dinâmicas vinculadas às reivindicações 
autonomistas de caráter regionalista/nacionalista. Em outras palavras, as ideias 
do texto nos permitem deduzir que algumas mobilizações regionalistas, ao 
requerem mais autonomia regional, podem se converter em manifestações 
nacionalistas, posto que a ideia de comunidade regional pode vir a ser 
complexificada e passar a representar uma comunidade nacional. Este parece 
ser o caso atual da Catalunha, na Espanha, haja vista que, nessa região 
autônoma espanhaola, se expressa publicamente o desejo popular de se criar 
um Estado catalão independente. Percebe-se que a relação entre regionalismo 
e nacionalismo pode ser traçada por uma linha muito tênue e ultrapassada a 
depender da situação real em que se encontram as sociedades locais que 
reivindicam mais autonomia territorial. A luta política da região catalã é, pois, 
uma luta (sub)nacionalista, se acompanharmos as mencionadas ideias de José 
Gil. 
. 
 
Na próxima aula, trataremos de um assunto extremamente instigante e 
vinculado a esta Aula 8, que é o tema do Estado. Vamos averiguar de perto a 
relevância do estudo do Estado, dos limites e das fronteiras. Até lá! 
 
Resumo 
Nesta aula, propusemos uma sistematização básica dos termos nação, 
nacionalismo, região, regionalização, regionalismo e regionalidade, com ênfase 
maior no termo nacionalismo e, em segundo lugar, no termo regionalismo. Os 
objetivos visavam o esclarecimento conceitual dos termos, mas, sobretudo a as 
conexões que existem entre eles. Esperamos ter apresentado uma 
sistematização que permita ao futuro profissional da Geografia a capacitação 
para realizar análises dos fenômenos político-geográficos ligados a essa 
temática regional-nacionalista. 
 
 
Referências bibliográficas 
 
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