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Artigo Formicofilia Gabriel Becher e Giancarlo


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FORMICOFILIA: RELATO DE CASO 
 
Introdução 
 Apesar de a maioria dos seres humanos manter atividade sexual com adultos, 
vivos e em situação de consentimento, buscando prazer e/ou procriação, alguns 
indivíduos têm preferências tidas como não-convencionais.
1
 
A zoofilia é um Transtorno de Preferência Sexual (ou parafilia) que se 
caracteriza por fantasias, pensamentos e/ou práticas sexuais com animais
2,3
. Pela 
Classificação Internacional das Doenças, em sua 10ª edição (CID-10), a zoofilia está 
incluída em Outros Transtornos da Preferência Sexual (F65.8)
2
, já pelo Manual 
Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, 4ª edição – texto revisado (DSM-IV-
TR), faz parte das Parafilias Sem Outra Especificação (302.9)
3
. 
Popularmente, os zoófilos são provenientes de zonas rurais e possuem níveis 
de inteligência inferior à média e com educação precária, esse conceito não é 
referendado cientificamente.
4
 Eles costumam ser adaptados ao meio social e dotados 
de boas habilidades sociais interpessoais.
5
 Entretanto, os estudos sobre zoofilia são 
escassos.
6,7
 
 Por ser considerado um evento pouco prevalente na população ou por 
desconhecimento médico, geralmente é negligenciado na anamnese psiquiátrica 
habitual.
5,8
 
 A zoofilia é um fenômeno predominantemente masculino, mas há casos 
descritos no gênero feminino. Aparece precocemente
 9,10
; parece ser “descoberta”, e 
não ser “escolhida” por seu portador. Frequentemente, a atração pelos animais 
precede o envolvimento com práticas sexuais com eles, como um distúrbio do 
desenvolvimento que pode se antecipar à puberdade, evidenciando a importância das 
fantasias sexuais prévias na caracterização da zoofilia, assim como das demais 
parafilias.
9,10
 
A zoofilia é comumente comórbida a outras parafilias.
10
 
Objetivo 
Estudar caso raro de zoofilia (formicofilia). 
Método 
 Relato de caso do paciente (JCC) com discussão, relacionando teoria e 
terapêutica administrada. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Bioética do HC-
FMUSP. 
 
Relato de Caso (13/08/2007) 
Identificação 
 JCC, 53 anos, masculino, aposentado por invalidez (atua como sacristão de 
Igreja católica), solteiro (sem relacionamento afetivo e sem filhos), 1º grau incompleto, 
procedente de zona rural do Estado de São Paulo, Brasil. 
História clínica 
 Refere que por volta dos 14 anos de idade chamou sua atenção, no chão, um 
palito de sorvete coberto por formigas, despertando-lhe a curiosidade de como seria a 
sensação se no lugar do palito, estivesse seu pênis. Passou então a coletar formigas e 
levá-las para casa, colocando-as sobre o pênis e bolsa escrotal, comportamento este, 
que o deixava muito excitado e por vezes provocava orgasmo. Relata que a sensação 
de gratificação sexual adivinha de um misto de dor e prazer pelas picadas dos insetos. 
 Essas primeiras práticas sexuais impulsionaram-no a procurar formigueiros, 
nos quais introduzia o pênis e depois se masturbava. 
Nessa época, era ajudante da Igreja Católica da cidade. Considerava-se bem 
religioso e por isso sentia muita culpa associada a tais práticas. Porém, não conseguia 
evitar. A partir daí, passou a estudar sobre formigas, as espécies, suas características e 
quais lhe proporcionariam maior satisfação sexual. Desenvolveu preferência pelas 
formigas popularmente conhecidas como lavapés (gênero Solenopsis), que constroem 
grandes formigueiros, e cuja picada é particularmente dolorosa. 
Em decorrência dessa prática sexual teve infecção na região genital, 
especialmente no pênis, inclusive com sequelas. Refere receio de que esse 
comportamento seja descoberto, bem como das complicações urológicas. Fala que em 
uma consulta, há vinte anos, abordou o tema, mas não seguiu qualquer tratamento 
específico. 
Ao longo da vida, picadas de certas espécies de formigas chegaram a lhe causar 
cefaleias e febre. 
 Refere ser homossexual e ter dificuldade social por esta orientação, seu 
relacionamento afetivo mais duradouro foi com um homem por 7 anos e nega relações 
heterossexuais. 
 Com homens, diz ter desejo, excitação e orgasmo; mas se percebe frustrado 
por necessitar recorrer às práticas sexuais com formigas, mesmo quando tem a 
oportunidade de se envolver com pessoas. 
 Considera seu relacionamento familiar razoável, mas reside sozinho numa 
chácara e não tem envolvimento sexual e afetivo no momento. 
 Refere, ainda, atração sexual por cães e bodes, com os quais teve diversas 
práticas sexuais. Foi lambido e penetrado por cães até 2005. 
 Antecedentes pessoais e familiares: “Crises nervosas” desde os 20 anos. Foi 
afastado e aposentado por esse motivo. Não sabe especificar o diagnóstico e os 
tratamentos propostos. Nega epilepsia. Nega comorbidades e cirurgias prévias. Nega 
tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas. 
 Exame Psíquico: Bom aspecto geral, fácies e vestes adequadas, consciente, 
orientado alopsiquicamente, atenção e memória preservadas, eutímico. Curso, 
conteúdo e forma do pensamento sem alterações. Por meio da fala e comportamento 
nota-se certa timidez, mas colaborativo durante a entrevista. Apresenta alterações da 
conação – desejos parafílicos. Crítica, pragmatismo útil e inteligência preservados. 
Diagnósticos pela CID-10 
 Transtornos múltiplos de preferência sexual (zoofilia e masoquismo sexual). 
 Orientação sexual egodistônica. 
 Conduta Terapêutica 
 Encaminhado ao ambulatório de Transtornos de Preferência Sexual do 
Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do 
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-
FMUSP). 
 Prescrito paroxetina 20mg, 1 comprimido por dia, por tempo indeterminado e 
indicado psicoterapia individual. 
Evolução Clínica 
 Após o início do tratamento, em novembro de 2007, o paciente referiu 
diminuição do desejo e das práticas sexuais com formigas; como efeito colateral da 
medicação referiu leve sonolência, mas comentou estar satisfeito por ter remitido tal 
prática. Nessa ocasião foi-lhe sugerido aumentar a dose da para 40mg/dia e iniciar 
psicoterapia, que o paciente não pode fazer porque reside em outra cidade. 
Em março de 2008, passou a sentir sonolência exacerbada, retornando, por 
conta própria, à posologia inicial, ocasião na qual as fantasias com formigas 
reapareceram, sem prática associada, recomendado elevar a dose a 30mg/dia. 
Em maio de 2008, não ajustou a dose da medicação como combinado e 
mencionou práticas sexuais com cabras, passou a apresentar dor testicular, ocasião em 
que foi encaminhado para avaliação urológica realizada em setembro de 2008, que 
não evidenciou alterações físicas e laboratoriais, apesar da dor em bolsa escrotal, há 4 
meses. Foi indicado ao paciente uso de suspensório escrotal em consequência das 
infecções. 
 Entre agosto de 2008 a setembro de 2010 houve épocas que não fez uso 
adequado da medicação, em consequência dos sintomas colaterais, apresentou várias 
recaídas. 
 Desde então, foi associado divalproato de sódio 500mg/dia, referindo melhor 
estabilidade emocional, entretanto a sintomatologia não remitiu e o quadro não foi 
controlado. 
Discussão 
Com o advento da internet está sendo possível compreender melhor a prática 
zoofílica, comunidades de zoófilos estão cada vez mais disseminadas por meio da rede 
de computadores e pesquisas quantitativas puderam ser realizadas.
4
 Até então, a 
maioria dos estudos voltavam-se para relato de casos
5,6
, por outro lado, casos raros, 
como aqui descrito, são de difícil acesso por esse meio. 
A literatura questiona se, como em outras parafilias, a zoofilia envolve prejuízo 
funcional e ocupacional ao zoófilo e/ou à sociedade. A discussão distingue a situação 
em que a prática sexual com animal é realizada mesmo tendo a oportunidade de 
praticá-la com ser humano adulto e vivo
7
 , como podemos observar na história de JCC, 
que apesar de suaparafilia, apresenta boa inserção social e admite a preferência por 
animais que à humanos. 
A alternância entre o desejo sexual por animais e humanos pode criar, segundo 
os estudos, diferentes categorias para essa parafilia: desde indivíduos que se erotizam 
na presença de animais
7
 até outros que afirmam apresentar “disforia de espécie”
6 
(como se pertencessem a um corpo da espécie errada), JCC nega desejo de pertencer à 
outra espécie, mas é notória sua erotização frente às formigas, a sensação de dor 
associada ao prazer sexual provocado pelas picadas são posteriores ao interesse por 
elas. 
Conclusão 
 Paciente portador de pan-zoofilia cujo tratamento exclusivamente 
medicamentoso não remite a sintomatologia e não trabalha integralmente o desejo 
parafilico, resultando em cronificação do quadro. 
Referências 
1. Bhugra D, Popelyuk D, McMullen I. Paraphilias across cultures: contexts and 
controversies. J Sex Res.2010; 47(2): 242-56. 
2. Organização Mundial da Saúde. Classificação dos Transtornos Mentais 10a. Edição. 
1993. Porto Alegre: Artes Médicas. 
3. American. Psichiatry Association. Diagnostic and statistical manual of mental 
disorders DSM-IV-TR. 4th ed. (text version).2002.Washington: American Psichiatry 
Association 
4. Earls C M, & Lalumie`re M L . A case study of preferential bestiality.Arch Sex Behav. 
2009; 38(4): 605-9. 
5. Dittert S, Seidl O, Soyka M. Zoophilia between pathology and normality. 
Presentation of 3 case reports and an internet survey. Nervenarzt. 2005; 76(1): 61- 
6. Bhatia M S, Srivastava S, Sharma S. An uncommom case of zoofilia: a case report. 
Med Sci Law. 2005; 45(2): 174-5. 
7. Beetz A M. Bestiality/Zoophilia: A Scarcely Investigated Phenomenon Between 
Crime, Paraphilia, and Love. Journal of Forensic Psychology Practice. 2004; 4: 1-36. 
8. Marsh P J, Odlaug B L, Thomarios N, Davis A A, Buchanan S.N, Meyer C S, Grant J E. 
Paraphilias in adult psychiatric inpatients. Ann Clin Psychiatry. 2010; 22(2): 129-34. 
9. Hensley C, Tallichet S, Singer S D..Exploring the possible link between childhood 
and adolescent bestiality and interpersonal violence. Journal of Interpersonal 
Violence. 2006; 21: 910–23. 
10. Hensley C, Tallichet S E, Dutkievicz E L. Recurrent Childhood Animal Cruelty. 
Criminal Justice Review. 2008; 34(2): 248-57.