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reflexão, que disserta sobre um outro discurso, o discurso literário de José de Alencar. A seguir, apresentamos dois poemas que falam sobre a poesia, constituindo exemplos de metalinguagem literária ficcional. VERSÃO TEXTUAL 02 - Desencanto Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... Remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. ─ Eu faço versos como quem morre. (BANDEIRA, 1993, p. 43) 03 - O texto ao lado apresenta uma concepção de poesia. Para o eu- lírico, seus versos são altamente subjetivos, contêm alta dose de emoção e são fruto do sofrimento do poeta. Vejamos agora um outro texto que fala sobre o fazer poético, do poeta português contemporâneo Herberto Helder. 04 - O poema Um poema cresce inseguramente na confusão da carne. Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou sombra de sangue nos canais do ser. Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol. Fora, os corpos genuínos e inalteráveis do nosso amor, rios, a grande paz exterior das coisas, folhas dormindo o silêncio — a hora teatral da posse. E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. 05 - E já nenhum poder destrói o poema. Insustentável, único, invade as casas deitadas nas noites e as luzes e as trevas em volta da mesa e a força sustida das coisas e a redonda e livre harmonia do mundo. — Em baixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério. — E o poema faz-se contra a carne e o tempo. (HELDER, 2004, p.28) 29