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(7) Decifra-me ou te mato “Essa é a radicalidade do consumismo. Viver é satisfazer imediatamente os desejos. Suzane Richthofen disse que, ajudada pelo namorado, matou por amor. O pai, um engenheiro, e a mãe, uma psiquiatra, não gostavam do namorado e estariam inviabilizando a relação. Como não conseguiu a autorização para manter o relacionamento e não queria fugir de casa - até porque não sabia como iria assegurar o padrão de vida-, optou pelo assassinato.” (Artigo de opinião – Gilberto Dimenstein). Em (7), o leitor recupera o sentido da informação que é atribuído a expressão a relação, porque cognitivamente detém o conhecimento de que esta palavra pressupõe relação afetiva, amorosa, entre ela e o namorado, que levou a jovem ao assassinato dos pais. Em resumo, as anáforas indiretas são, pois, mecanismos importantes de construção da textualidade capazes, inclusive, de proporcionar situações comunicativas de criatividade e beleza nas formas de expressão textual. LEITURA COMPLEMENTAR Para maior aprofundamento no assunto, leia o artigo REFERIR E ARGUMENTAR: DUAS FUNÇÕES DOS PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO INDIRETA NO TWITTER, [2] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) de Jaqueline Barreto Lé. A DÊIXIS A dêixis designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões dêiticas) que têm como função ‘apontar’ para o contexto situacional ou textual. Deste modo, essas palavras ou expressões, ao serem utilizadas num discurso, adquirem um novo significado, uma vez que o seu referente depende do contexto ou do cotexto. Em outras palavras, a dêixis pode ser definida como o conjunto de processos linguísticos que permitem inscrever nos enunciados as marcas da sua enunciação, que é única e irrepetível. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige (interlocutor), o tempo e o espaço da enunciação. O sujeito da enunciação/coenunciador é o ponto central a partir de quem se estabelecem todas as coordenadas do contexto enunciativo: eu - é aquele que diz eu no momento em que fala; tu é a pessoa, o interlocutor, a quem o eu se dirige; agora é o momento em que o eu fala; aqui é o lugar em que o eu se encontra, isto é, um objeto que se encontra perto do eu. Os tempos verbais indicam um tempo anterior, simultâneo ou posterior ao momento da enunciação (ex.: escrevi, escrevo, escreverei). Com efeito, é o sistema de coordenadas referenciais (EU/TU—AQUI—AGORA) da enunciação que possibilita a atribuição de sentidos referenciais. “A própria palavra dêixis, pelo seu sentido etimológico, está associada ao gesto de “apontar” [3]. 64