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Aspecto Fisiologico do Movimento Humano


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Aspecto Fisiológico do 
Movimento Humano 
 
 
 
 
CAROLLINY MOURA DA SILVA 
MICHAEL FERNANDES DE ALMEIDA 
RENATO DE SOUSA ALMEIDA 
TIAGO CESAR BALIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTO FISIOLÓGICO DO 
MOVIMENTO HUMANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Taubaté 
Universidade de Taubaté 
2014 
 
 
Copyright©2014.Universidade de Taubaté. 
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser 
reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. 
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Revisão ortográfica-textual 
Projeto Gráfico e Diagramação 
Autor 
 Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino 
Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira 
Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto 
Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira 
Me.Benedito Fulvio Manfredini 
Carolliny Moura da Silva 
Michael Fernandes de Almeida 
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Tiago Cesar Balio 
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Horário de atendimento: 8h às 22h 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi 
Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU 
 
S586a Silva, Carolliny Moura da 
Aspecto fisiológico do movimento humano / Carolliny Moura da Silva; Michael Fernandes de 
Almeida; Renato de Sousa Almeida; Tiago César Balio. Taubaté: UNITAU, 2011. 
59p. : il. 
 Bibliografia 
1. Fisiologia do movimento humano. 2. Fisiologia do exercício físico. 3. Atividades físicas. 4. Educação 
Física escolar. I. Almeida, Michael Fernandes de. II. Almeida, Renato de Sousa. III. Balio, Tiago César. IV. 
Universidade de Taubaté. V. Título 
 
 
 
 
PALAVRA DO REITOR 
Palavra do Reitor 
 
 
Toda forma de estudo, para que possa dar 
certo, carece de relações saudáveis, tanto de 
ordem afetiva quanto produtiva. Também, de 
estímulos e valorização. Por essa razão, 
devemos tirar o máximo proveito das práticas 
educativas, visto se apresentarem como 
máxima referência frente às mais 
diversificadas atividades humanas. Afinal, a 
obtenção de conhecimentos é o nosso 
diferencial de conquista frente a universo tão 
competitivo. 
 
Pensando nisso, idealizamos o presente livro-
texto, que aborda conteúdo significativo e 
coerente à sua formação acadêmica e ao seu 
desenvolvimento social. Cuidadosamente 
redigido e ilustrado, sob a supervisão de 
doutores e mestres, o resultado aqui 
apresentado visa, essencialmente, a 
orientações de ordem prático-formativa. 
 
Cientes de que pretendemos construir 
conhecimentos que se intercalem na tríade 
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de 
forma responsável, porque planejados com 
seriedade e pautados no respeito, temos a 
certeza de que o presente estudo lhe será de 
grande valia. 
 
Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa 
leitura. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
Prof. Dr. José Rui Camargo 
Reitor 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
O livro-texto Aspecto Fisiológico do Movimento Humano inicialmente apresenta 
quatro grandes sistemas indispensáveis para equilíbrio das funções orgânicas humanas, 
de modo que o leitor possa compreender e relacionar os conceitos apresentados com a 
prática de exercícios físicos. 
Para que possamos contextualizar a temática Fisiologia do Exercício no âmbito escolar, 
é importante frisarmos que a Educação Física Escolar, durante muito tempo, foi vista 
como momento único e exclusivo de trabalho corporal, reforçando uma concepção 
dicotômica entre corpo e mente. 
Sendo assim, se faz necessário apresentar novas possibilidades de aplicação dos 
diversos conteúdos presentes na Educação Física, ofertando aos alunos reais 
conhecimentos acerca do seu próprio corpo, seguindo a proposta dos Parâmetros 
Curriculares Nacionais. 
Deste modo, temos como premissa básica compartilhar conhecimentos acerca dos 
Aspectos Fisiológicos do Movimento Humano, provocando o leitor a refletir sobre suas 
práticas pedagógicas, estas que a cada novo dia devem ser repensadas, a fim de 
oportunizar aos educandos a possibilidade de romper com paradigmas estagnados que 
sobrevivem na Educação Física Escolar. 
Desejamos a todos ótima leitura; que possamos rumar a passos largos para uma 
educação plena e consciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sobre os autores 
 
 
CAROLLINY MOURA DA SILVA é licenciada e bacharelada em Educação Física 
pela Universidade de Taubaté (UNITAU), em 2010. Atualmente atua como orientadora 
de exercício físico na Academia Cia Athletica – SP e no laboratório de 
Neurodegeneração e Tráfego Intracelular da Universidade de São Paulo – SP (USP), 
com projeto de mestrado em desenvolvimento. Área de estudos: Neurodegeneração e 
exercício físico. 
e-mail: moura.carolliny@hotmail.com 
 
MICHAEL FERNANDES DE ALMEIDA é licenciado e bacharelado em Educação 
Física pela Escola Superior de Cruzeiro (ESC), em 2009. Atualmente atua como 
orientador de exercício físico na Academia Cia Athletica – SP e Gustavo Borges 
Academia e no laboratório de Neurodegeneração e Tráfego Intracelular da Universidade 
de São Paulo – SP (USP) com projeto de mestrado em desenvolvimento. Área de 
estudos: Neurodegeneração e exercício físico. 
e-mail: michael.falmeid@hotmail.com 
 
RENATO DE SOUSA ALMEIDA é licenciado em Educação Física pela Universidade 
Estadual Paulista (UNESP), em 1995. Especialista em treinamento desportivo pela 
UNESP, em 1997. Mestre em Neurociência e Comportamento pela Universidade de São 
Paulo (USP), em 2000. Doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, em 2005. 
Atualmente atua como Professor Assistente Doutor na Universidade de Taubaté 
(UNITAU) na área de fisiologia e como Professor Efetivo Doutor na Escola Superior de 
Cruzeiro (ESC) na área de fisiologia e disciplinas afins. Coordenador do Programa de 
Atividade Física e Saúde da Pró-reitoria de Extensão e Relações Comunitárias na 
UNITAU. Área de estudos: Mecanismos neurais de controle cardiovascular, 
desempenho e exercício físico. 
e-mail: ralmeida72@hotmail.com 
 
mailto:moura.carolliny@hotmail.com
 
 
TIAGO CESARBALIO é licenciado em Educação Física pela Universidade de 
Taubaté – UNITAU (2007). Atualmente é professor colaborador na Universidade de 
Taubaté, na modalidade de Ensino a Distância; responsável pelo curso de Educação 
Física no campus de Ubatuba. Atua nas áreas de Pedagogia do Esporte, Fundamentos 
de Surf e Aprendizagem Motora. 
e-mail: tiagocbalio@bol.com.br 
 
 
 
Caros(as) alunos(as), 
Caros( as) alunos( as) 
O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se 
como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais 
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta 
com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande 
experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, 
ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. 
Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. 
Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web 
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a 
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais 
preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. 
A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e 
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como 
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e 
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e 
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo 
estudado. 
Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para 
a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de 
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados 
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. 
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua 
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais 
atores desta formação. 
Para todos, os nossos desejos de sucesso! 
Equipe EAD-UNITAU 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Palavra do Reitor .............................................................................................................. v 
Apresentação .................................................................................................................. vii 
Sobre os autores ............................................................................................................... ix 
Ementa .............................................................................................................................. 1 
Objetivos ........................................................................................................................... 2 
Introdução ......................................................................................................................... 3 
Unidade 1. Sistema Neuromuscular ............................................................................. 5 
1.1 Potencial de ação ........................................................................................................ 5 
1.2 Estrutura e o processo de contração muscular ............................................................ 7 
1.3 Tipos de fibras musculares ....................................................................................... 10 
1.4 Tipos de contração muscular .................................................................................... 11 
1.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 12 
1.6 Atividades ................................................................................................................. 13 
Unidade 2. Sistema Cardiovascular e Exercício Físico ............................................ 15 
2.1 Organização e função do sistema cardiovascular ..................................................... 15 
2.2 Coração ..................................................................................................................... 18 
2.3 Débito cardíaco e sua relação com exercício físico .................................................. 23 
2.4 Regulação dos ajustes cardiovasculares ao exercício ............................................... 26 
2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 29 
2.6 Atividades ................................................................................................................. 30 
Unidade 3. Sistema Respiratório e Exercício Físico .................................................. 31 
3.1 Estrutura anatômica do sistema respiratório ............................................................. 32 
3.2 Mecânica respiratória ............................................................................................... 33 
 
 
3.3 Volume e capacidade pulmonares ............................................................................ 36 
3.4 Ventilação pulmonar................................................................................................. 37 
3.4.1 Ventilação minuto ................................................................................................. 37 
3.4.2 Ventilação alveolar ................................................................................................ 37 
3.5 Troca e transporte dos gases ..................................................................................... 38 
3.5.1 Hemoglobina e transporte de O2 ........................................................................... 38 
3.5.2 Hemoglobina e transporte de CO2 ........................................................................ 40 
3.6 Controle Respiratório ............................................................................................... 41 
3.7 Sistema respiratório e exercício físico ...................................................................... 42 
3.8 Síntese da Unidade ................................................................................................... 44 
3.9 Atividades ................................................................................................................. 45 
Unidade 4. Bioenergética ............................................................................................. 47 
4.1 Metabolismo energético ........................................................................................... 47 
4.2 Utilização e restauração dos estoques de ATP ......................................................... 49 
4.2.1 Sistema anaeróbico alático .................................................................................... 49 
4.2.2 Sistema anaeróbico lático ...................................................................................... 50 
4.2.3 Sistema eróbico ..................................................................................................... 51 
4.3 Metabolismo e exercício físico ................................................................................. 53 
4.4 Avaliação do metabolismo energético durante o exercício ...................................... 55 
4.4.1 Resposta cardiorespiratória ................................................................................... 55 
4.4.2 Resposta metabólica .............................................................................................. 56 
4.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 57 
4.6 Para saber mais .........................................................................................................57 
4.7 Atividades ................................................................................................................. 58 
 
 
 
11 
 
 
ORGANIZE-SE!!! 
Você deverá usar de 3 
a 4 horas para realizar 
cada Unidade. 
 
Aspecto Fisiológico do 
Movimento Humano 
 
 
 
 
Ementa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMENTA 
 
 
Sistemas e funcionamento do organismo humano em situações de exercício 
físico. Princípios da fisiologia do exercício aplicados à prática de atividades 
físicas. Temas da fisiologia do exercício e sua aplicação nas aulas de 
Educação Física na escola. 
 
 
 
 
 
 
22 
 
Objetivo Geral 
Capacitar os alunos no conhecimento do funcionamento do organismo humano 
quando submetido ao exercício físico, discutindo e refletindo sua aplicação no 
contexto escolar.. 
 
Obj eti vos 
Objetivos Específicos 
 Conhecer os fundamentos da fisiologia do exercício e do funcionamento 
do organismo na situação de exercício; 
 Analisar situações práticas que envolvam o exercício físico incluindo 
aspectos cinesiológicos; 
 Planejar, avaliar e orientar práticas de exercício físico e programas de 
atividade física a partir dos conhecimentos da fisiologia do exercício. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Introdução 
Neste livro-texto, temos como objetivo a revisão e atualização dos principais conceitos 
e conhecimentos indispensáveis ao estudo da Fisiologia do Exercício. Estudaremos o 
funcionamento de diversos sistemas que compõem o nosso organismo. O corpo humano 
é uma máquina surpreendente; a todo momento estão ocorrendo incontáveis eventos 
coordenados dentro do nosso corpo. A continuidade de tais eventos leva o corpo a sofrer 
adaptações. Por exemplo, se caminharmos até o trabalho todos os dias, o nosso corpo irá 
sofrer adaptações e consequente melhora do condicionamento. Discutiremos alguns dos 
sistemas envolvidos no controle do organismo como, por exemplo: o neuromuscular, o 
cardiovascular, o respiratório e a bioenergética. 
Na primeira Unidade, estudaremos o sistema neuromuscular. Discutiremos a princípio 
alguns conceitos de biofísica para entendermos acerca do potencial de ação. A partir 
daí, falaremos sobre a junção neuromuscular; a contração muscular e os tipos de 
contração; os tipos de fibras e o efeito do treinamento nas características destas. 
Na segunda Unidade, discutiremos sobre o sistema cardiovascular, tratando sobre 
funcionamento do coração e ciclo cardíaco, débito cardíaco e sua relação com o 
exercício físico, hemodinâmica e regulação dos ajustes cardiovasculares ao exercício 
físico. 
Na terceira Unidade, o assunto é o sistema respiratório. Estudaremos mecânica 
respiratória, ventilação pulmonar, volumes e capacidades pulmonares, difusão dos 
gases, transporte de oxigênio e gás carbônico, equilíbrio ácido-base e controle da 
ventilação durante o exercício. 
Na quarta Unidade discutiremos sobre bioenergética e sua relação com o exercício 
físico; e ainda, como geramos energia para ser utilizada durante exercício físico e sua 
relação com a intensidade, duração e tipo de exercício. 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
55 
 
Unidade 1 
Unidade 1 . Sistema Neuromuscular 
 
Nesta Unidade, vamos discutir sobre potencial de ação e o funcionamento do sistema 
neuromuscular – suas peculiaridades e o que ocorre com esse sistema quando submetido 
ao exercício físico. 
 
1.1 Potencial de ação 
Para discutirmos sobre potencial de ação, temos que entender a respeito dos aspectos 
elétricos que as cargas iônicas acabam gerando na membrana da celular. Podemos 
entender sobre a existência dessa carga elétrica implantando um eletrodo de registro no 
interior da célula e um de referência do lado de fora. O voltímetro acusará uma 
diferença de potencial elétrico em milivolts (mV). Isso significa que através da 
membrana existe uma distribuição desigual de cargas elétricas, sendo a face interna 
negativa em relação à face externa. Podemos entender que existe essa diferença de 
potencial entre os dois lados da membrana, que é conhecido como potencial de repouso. 
Quer dizer: existe um potencial de cargas, mas ele está inativo. 
A célula é capaz de mudar a sua propriedade elétrica, alterando o seu potencial de 
repouso, causando a excitação da célula. Essa excitação ocorre por causa da 
despolarização da célula. A despolarização se dá quando o estímulo for suficiente para 
atingir o limiar da célula, que é o ponto em que os canais de voltagem dependente se 
abrem quando atingem certo valor de voltagem. Esse ponto é representado na Figura 1.1 
por 50 mV, sendo que esse valor pode variar entre as células dos tecidos. Quando 
atingido o limiar da célula, ocorre abertura de canais de voltagem dependentes de sódio 
(Na
+
); a sua concentração, que é maior do lado de fora da célula, faz com que o Na
+ 
seja 
atraído para o meio interno por diferença de concentração e gradiente elétrico, já que o 
 
 
 
66 
 
 
Figura 1.1 – Gráfico ilustrativo demonstrando as fases do 
potencial de ação. 
Fonte:http://www.ibb.unesp.br/departamentos/Fisiologia/material_didati
co/profa_silvia 
Acesso em: 15 set. 2011 
meio interno é negativo. Essa mudança é transitória e indica a capacidade de gerar 
bioeletricidade. Após essa inversão na polaridade, causada pela entrada de cargas 
positivas na célula, canais de voltagem dependente acabam abrindo para a saída de 
cátions, potássio (K
+
), invertendo a polaridade novamente. Isso se chama repolarização. 
Essa saída de cátions (K
+
) pode ser tanta que a membrana chega a ficar 
momentaneamente mais negativa, hiperpolarizada. Toda essa alteração nas cargas 
elétricas é chamado de potencial de ação (PA). O PA é um evento elétrico transitório no 
qual ocorre a completa inversão da polaridade elétrica da membrana. É dividido em 
despolarização (entrada de Na
+
), inversão da polaridade da membrana, repolarização 
(saída de K
+
). Essa saída de K
+
 acaba sendo tanta que a membrana fica mais negativa do 
que seu estado de repouso, hiperpolarização (Figura 1.1). 
O PA pode ocorrer em qualquer célula; estudos foram realizados para melhor 
entendimento em neurônios e células musculares (músculo esquelético, liso e cardíaco). 
Essa excitabilidade causada na membrana da célula é capaz de propagar o impulso 
elétrico de um ponto a outro da célula, entendemos isso como propagação do impulso 
elétrico. Isso é 
fundamental para 
explicar como um 
neurônio é excitado no 
sistema nervoso central e 
estimula a célula 
muscular. O neurônio 
quando estimulado é 
excitado, quer dizer gera 
PA na região específica 
do corpo celular, 
chamado cone de 
implantação ou zona de 
gatilho. Esse PA só é 
gerado quando o 
estímulo for suficiente 
 
 
 
77 
 
 
Figura 1.2 –Desenho ilustrativo de um neurônio 
demonstrando sua parte estrutural e funcional. 
Fonte:http://www.ibb.unesp.br/departamentos/Fisiologia/material_
didatico/profa_silvia 
Acesso em: 10 set. 2011 
 
para atingir o limiar da célula, que se propaga pelo axônio até atingir a sua extremidade, 
onde irá realizar sinapse 
(comunicação com outra 
célula) com a próxima célula 
(Figura 1.2). Os neurônios 
podem ter bainha de mielina, 
como representado na figura 
1.2, facilitando o tráfego do 
potencial de ação, pois o 
impulso elétrico passa a ser 
saltatório. Quando não há 
presença da bainha de 
mielina, a passagem do 
estímulo é mais lenta. 
Na célula muscular 
esquelética, quando excitada, 
o potencial de ação se 
propaga pelo sarcolema para atingir regiões profundas e assim gerar a contração 
muscular, como será explicado no próximo subítem. 
 
1.2 Estrutura e o processo de contração muscular 
Os músculos esqueléticos são compostos por vários tipos de tecidos. Dentre os tecidos 
estão as células musculares, o tecido nervoso, o sangue e os tecidos conjuntivo, como 
citado por diversos autores (FOSS, KETEYIAN,2000; GUYTON, HALL, 2008; Mc 
ARDLE, KATCH, KATCH, 2008; POWERS, HOWLEY, 2009; WILMORE, 
COSTILL, 2010). 
De acordo com os autores supracitados, podemos mostrar a relação entre o músculo e os 
tecidos conjuntivos. 
 
 
 
88 
 
 
Figura 1.3 –Desenho ilustrativo 
demonstrando o tecido conjuntivo que 
envolve o músculo esquelético e 
microestruturas musculares. 
Fonte: Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2003, p. 
370 
 
Os músculos individuais são separados entre si e mantidos no lugar por um tecido 
conjuntivo denominado fáscia. Existem três camadas separadas de tecido conjuntivo no 
músculo esquelético. A camada mais externa que envolve todo o múculo é denominada 
epimísio. À medida que nos movemos para o interior do epimísio, observamos um 
tecido conjuntivo denominado perimísio envolvendo feixes individuais de fibras 
musculares. Esses feixes individuais de 
fibras musculares são denominados livro-
texto. Cada fibra muscular de um livro-
texto é revestida por um tecido conjuntivo 
denominado endomísio. Podemos observar 
essas estruturas musculares na Figura 1.3 
Ao contrário dos outros tipos de fibras 
musculares, músculo liso e cardíaco, o 
músculo esquelético é uma célula 
multinucleada, ou seja, tem muitos 
núcleos. Isso parece ser uma explicação 
provável para a hipertrofia causada pelo 
exercício. Esse fenômeno parece estar 
envolvido com as células tronco-
miogênicas conhecidas como células 
satélites. 
A célula muscular esquelética é envolvida 
por uma membrana denominada 
sarcolema. Logo abaixo encontramos o sarcoplasma, conhecido como citoplasma em 
outras células. O sarcoplasma contém uma rede extensa de túbulos transversos (Túbulo 
T), os quais são extensões do sarcolema para as partes mais internas da fibra muscular. 
Outra estrutura celular importante no interior da fibra muscular é o retículo 
sarcoplasmático, que tem como função armazenamento de cálcio, que é de extrema 
importância no processo contrátil. 
 
 
 
99 
 
 
Figura 1.4 –Vista esuqmática dos principais eventos 
na contração e relaxamento do músculo esquelético. 
Os números correspondem à sequência esboçada no 
texto. 
Fonte: POWERS, HOWLEY, 2000, p. 133 
 
As fibras musculares contêm as proteínas contráteis, estas, por sua vez, contêm dois 
importantes filamentos protéicos: filamento grosso, formado pela miosina e filamento 
fino, composto pela actina. A actina contém outras duas proteínas, a troponina e a 
tropomiosina. Essas duas proteínas representam uma pequena parte do músculo, mas 
têm importante papel no processo contrátil (Figura 1.4). 
O processo de contração muscular se inicia pela estimulação do neurônio motor. É 
gerado um potencial de ação que se propaga pelo axônio do neurônio até a junção 
neuromuscular, apresentado anteriormente. Na junção neuromuscular, ou placa motora, 
ocorre a liberação das vesículas de acetilcolina na fenda sináptica que por sua vez se 
liga aos seus receptores no sarcolema. O receptor de acetilcolina no sarcolema é uma 
proteína de canal que permite a passagem de sódio e potássio acarretando no PA. O PA 
se propaga pelo sarcolema até atingir o túbulo transverso, que penetra profundamente na 
fibra muscular. Quando o potencial de ação atinge o retículo sarcoplasmático, o cálcio 
(Ca
++
) é liberado no sarcoplasma e se liga à troponina, que provoca a mudança na 
conformação da tropomiosina, liberando o sítio de ligação da actina. Forma-se o 
complexo proteico actomiosina, que 
é a ligação da actina com a miosina. 
A partir daí, o ATP que está ligado 
na cabeça da miosina sofre a quebra 
(hidrólise), pois com o acoplamento 
ativa-se a enzima ATPase, 
ocorrendo o fenômeno da contração. 
Essa movimentação é chamada de 
Teoria do filamento deslizante ou 
efeito de catraca. Leva esse nome 
porque a cada acoplamento 
actomiosina ocorre a movimentação 
da cabeça da miosina, puxando o 
filamento de actina sobre ele. O 
término da contração muscular 
ocorre quando o cálcio é bombeado 
 
 
 
1100 
 
de volta para o retículo sarcoplasmático, isso ocorre quando é cessado o estímulo no 
sarcolema. Esse processo exige gasto energético, ATP, pois o bombeamento de cálcio 
para o retículo é dependente de processo ativo, consequentemente exige energia. 
Quando o cálcio é removido, a troponina e a tropomiosina são desativadas, retornando 
ao seu estado original de relaxamento (Figura 1.4). 
 
1.3 Tipos de fibras musculares 
O músculo esquelético não é composto por apenas um tipo de fibra muscular. Apesar 
das discussões acerca da nomenclatura utilizada para a determinação dos tipos de fibra, 
está claro que temos diferentes fibras musculares esqueléticas (FOSS, KETEYIAN, 
2000; Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2008; POWERS, HOWLEY, 2009; WILMORE, 
COSTILL, 2010). Abordaremos esse assunto com a seguinte nomenclatura: fibras de 
contração lenta, oxidativa ou vermelha, fibras de contração rápida. As fibras de 
contração rápida se dividem em tipo IIa e IIb. A fibra do tipo IIa também conhecida 
com fibra intermediária, apesar de ser característica de contração rápida também é 
conhecida com fibra mista, pois tem características dos outros dois tipos de fibras I e 
IIb. Já a fibra IIb é de contração rápida, glicolítica ou branca. A tabela 1.1 apresenta os 
diferentes esquemas de classificações para os tipos de fibras musculares esqueléticas 
com base neural, estrutural, substrato, enzima e funcional. 
TABELA 1.1: Característica dos aspectos neurais, estruturais, substrato, enzimático e 
funcionais das fibras do Tipo I, Tipo IIa e Tipo IIb. 
Aspectos Característica Tipo I Tipo II a Tipo II b 
 
Naural 
* Tamanho do 
Motoneurônio 
* Limiar de Recrutamento 
* Velocidade Condução 
elétrica 
* Pequeno 
*Baixo 
* Lenta 
*Grande 
*Alto 
*Alta 
*Grande 
*Alto 
* Alta 
 
Estrutural 
* Diâmetro da fibra 
*Retículo sarcoplasmático 
*Mitocôndria 
* Capilares 
*Mioglobina 
* Pequeno 
*Menor 
*Alta 
*Alta 
*Alta 
* Grande 
*Maior 
*Alta 
*Média 
*Média 
* Grande 
*Maior 
*Baixa 
*Baixa 
*Baixa 
Substrato * Creatina Fosfato 
*Glicogênio 
*Baixa 
*Baixa 
* Alta 
*Alta 
* Alta 
*Alta 
 
 
 
1111 
 
*Triglicerídeo *Alta *Média *Baixa 
Enzima * ATP-ase 
*Glicolíticas 
* Oxidativas 
*Baixa 
*Baixa 
*Alta 
* Alta 
*Alta 
* Alta 
*Alta 
* Alta 
* Baixa 
Funcional * Tempo de concentração 
* Tempo de relaxamento 
* Força 
* Hipertrofia 
* Resistência a fadiga 
* Elasticidade 
* Bombeamento de cálcio 
* Energia 
* Baixo 
*Baixo 
* Baixa 
*Baixa 
*Alta 
*Baixa 
* Moderado 
*Aeróbia 
* Alto 
*Alto 
*Alto 
*Alta 
*Baixa 
*Alta 
*Alto 
*Aeróbio/anaeróbio 
* Alto 
*alto 
*Alta 
*Alta 
*Baixo 
*Alta 
*Alta 
*Anaeróbio 
 
Fonte: FOX, BOWERS, FOSS, 1989 apud ACSM, 1998 
 
Sabemos que o tipo de treinamento, bem como sua intensidade e duração podem 
interferir nas características das fibras musculares. As fibras intermediárias podem 
adquirir características do tipo de fibra I ou IIb de acordo com o treinamento; isso quer 
dizer: quanto mais o treino tiver predominância de ativação da fibra do tipo I, mais a 
fibra intermediária irá adquirir característica desse tipo de fibra. O contrário também é 
verdadeiro; quanto mais no treinamento predominar característica de ativação da fibra 
do tipo IIb, mais a fibra intermediária vai ter suas características modificadas para esse 
tipo de fibra. 
Quanto ao tipo de contração, abordaremos no subitem a seguir. 
 
1.4 Tipos de contração muscular 
Existem diferentes formas de contrações musculares. São conhecidos 2 tipos de 
contrações musculares: isométrica e isotônica. 
A contração isométrica ou estática descreve a ativação muscular sem qualquer 
modificação do comprimento das fibras musculares. Ocorre um encurtamento dos 
elementos contráteis, enquanto os elementos elásticos são estendidos, como observado 
na Figura 1.5. 
 
 
 
1122 
 
 
Figura 1.5 – Contração do músculoesquelético estriado quando estimulado exercendo 
contração isométrica. (a) músculo relaxado. (b) músculo contraindo Contração isométrica, sem 
alteração do comprimento muscular devido ao componente elástico. 
 
Figura 1.6 – Contração do músculo esquelético estriado quando estimulado exercendo 
contração isotônica. (a) músculo relaxado. (b) músculo contraindo Contração isotônica 
concêntrica, alterando o comprimento do músculo, mas não o componente elástico. 
 
 
Contração isotônica ou dinâmica. Podemos classificar a contração isotônica de duas 
formas: concêntrica e excêntrica. Os elementos contráteis do músculo são contraídos 
enquanto os elementos elásticos não modificam seu comprimento. Na contração 
concêntrica, o músculo é ativado e encurta; enquanto na contração excêntrica, o 
músculo é ativado e alonga à medida que a tensão aumenta (Figura 1.6). 
 
1.5 Síntese da Unidade 
Nesta Unidade, discutimos sobre como a célula pode ser ativada pelo potencial de ação. 
Apresentamos a estrutura muscular juntamente com o seu funcionamento, o processo 
contrátil, e entendemos as características neural, estrutura, substrato, enzimas e 
funcional dos tipos de fibras musculares. Além disso, tratamos sobre tipo de contração 
muscular, contrações isométricas e isotônicas, concêntrica e excêntrica. 
 
 
 
1133 
 
 
 1.6 Atividades 
 
1. Explique sobre as fases do potencial de ação. 
2. Apresente o processo de contração muscular enumerando passo a passo, desde a 
estimulação da célula muscular até o seu relaxamento. 
3. Sobre as fibras musculares, cite os tipos de contração e as diferenças entre elas 
com relação ao aspecto neural, estrutura, substrato, enzimas e funcional. 
 
 
 
 
1144 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1155 
 
Unidade 2 
Unidade 2 . Sistema Cardiovascular e Exercício Físico 
 
Nesta Unidade iremos: apresentar uma visão geral das estruturas e da função do sistema 
cardiovascular, descrever o ciclo cardíaco e atividade elétrica do coração, tratar sobre o 
débito cardíaco e sua importância no exercício físico e também da regulação dos ajustes 
cardiovasculares ao exercício. 
 
2.1 Organização e função do sistema cardiovascular 
O sistema cardiovascular é um circuito fechado que leva o sangue para os tecidos do 
organismo. Não só leva como traz os metabólitos formados para serem eliminados. A 
circulação sanguínea é mantida por uma bomba chamada coração, que mantém uma 
pressão hidrostática suficiente para empurrar o sangue através do sistema circulatório a 
fim de atender às necessidades metabólicas locais. O sistema circulatório é formado por 
vasos que se dividem em artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias (Figura 2.1). 
Cada um desses vasos tem funções específicas para que o sistema cardiovascular exerça 
o seu papel. As artérias – devido às suas características estruturais, por terem 
quantidades de células elásticas na túnica média e musculares na túnica interna capazes 
de distender e contrair mantendo a pressão arterial ao longo das artérias – têm como 
função manter a pressão exercida no sangue pelo coração e manter a pressão arterial 
durante o curso do sangue por esses vasos. As artérias passam a sofrer subdivisões e 
recebem outra denominação, arteríolas. As arteríolas continuam se ramificando e 
formam vasos menores e com menos músculos conhecidos como metarteríolas. A 
metarteríola termina em uma rede de vasos microscópicos que formam os capilares. Os 
capilares têm na sua constituição endotélio na túnica interna permitindo que o sangue 
nos tecidos possa oferecer os nutrientes e da mesma forma realize a retirada de 
 
 
 
1166 
 
metabólitos formados nos dos tecidos, células. Os capilares são os menores e mais 
numerosos vasos sanguíneos. 
O sangue, então desoxigenado, passa para o leito de vasos venosos denominados 
vênulas. A medida que esses vasos vão em direção ao coração eles aumentam de 
tamanho e então são denominados veias. Esses vasos são diferentes das artérias, pois 
possuem menos células elásticas e musculares. As veias do membro inferior, abdome e 
pelve desaguam em veias maiores até alcançarem a veia cava inferior. Nos membros 
superiores, cabeça, pescoço, ombro, tórax e parte abdominal, as veias menores 
direcionam para a veia cava superior. Ambas as veias cavas, superior e inferior, acabam 
desaguando no coração, mais especificamente no átrio direito. 
As veias ao contrário do que parecem ser, apenas vasos que retornam o sangue para o 
coração, constituem uma rede vascular ativa para mobilização do volume sanguíneo. As 
veias têm a capacidade de armazenamento de sangue, quer dizer, mantém grande parte 
do sangue dentro desses vasos. Por volta de 65% do sangue estão dentro das veias, em 
situação de repouso; isso quer dizer que qualquer alteração desse volume vai interferir 
na circulação sanguínea e consequente funcionamento do coração (Mc ARDLE, 
KATCH, KATCH, 2008). Por conta disso, as veias são chamadas de vasos de 
capacitância que funcionam como um reservatório de sangue; seriam assim como uma 
grande caixa d’água dentro do organismo. Qualquer alteração do calibre desses vasos 
pode retardar ou facilitar o fornecimento de sangue para a circulação sistêmica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1177 
 
 
Figura 2.1 – Desenho ilustrativo das estruturas dos vasos sanguíneos. 
Fonte: FOX, 2007, p. 392 
 
 
 
 
 
1188 
 
 
2.2 Coração 
Iremos apresentar a estrutura do músculo do coração, as vias de condução elétrica e sua 
ação mecânica, a qual irá culminar com o ciclo cardíaco. 
O coração tem como função proporcionar impulso suficiente ao sangue para que ele 
possa ofertar demandas de sangue necessárias para o funcionamento do organismo. Para 
que ele exerça a sua função, suas estruturas necessitam estar em perfeito funcionamento. 
O coração tem músculo estriado semelhante ao músculo esquelético que também é 
chamado de miocárdio. Está localizado na parte centro-medial da cavidade torácica, 1/3 
para o lado direito e 2/3 para o esquerdo. Apesar de ser uma estrutura que não chega a 
pesar 0,5 kg, tem uma função primordial ao funcionamento do organismo; é 
considerado um órgão nobre. 
O miocárdio é composto por 3 camadas: uma camada mais externa denominada 
epicárdio; uma camada média muscular, o miocárdio e uma terceira camada mais 
interna, denominada endocárdio. O miocárdio é abastecido de nutrientes pelos vasos 
que irrigam o coração, artéria coronária direita e esquerda que sofrem ramificações, 
como demonstrado anteriormente, até os capilares. O músculo cardíaco tem sua 
diferenciação do músculo esquelético quanto: (a) à comunicação entre as células 
musculares, (b) ao estímulo e (c) à obtenção de cálcio. 
(a) As células musculares cardíacas, miocárdio, se interligam pelos discos intercalares. 
Esses discos permitem que, quando uma única célula é estimulada, despolarizada, 
propague-se o potencial de ação por todas as outras células do miocárdio, permitindo a 
contração de todo o coração como uma unidade. Essas conexões, discos intercalares, 
permitem a passagem de íons de uma célula para a outra; por isso quando uma célula é 
estimulada passa a contrair todas as outras. Esse fenômeno é chamado de sincício 
funcional. 
(b) Quanto ao estímulo, ao contrário do músculo esquelético que é controlado 
voluntariamente pelo sistema somático – isso quer dizer, quanto estimulado contrai; se 
não estimulado, relaxa – o músculo cardíaco é controlado pelo sistema autônomo, que é 
 
 
 
1199 
 
 
Figura 2.2 – Efeito da ativação do sistema nervoso autônomo sobre 
os potenciais de marca-passo do nodo sinoatrial (AS). 
Fonte: FOX, 2007, p. 410 
 
involuntário. O sistema autônomo é dividido em sistema simpático e parassimpático. O 
simpático estimula o coração, enquanto o parassimpático inibe.Isso ocorre devido aos 
sistemas de neurotransmissão envolvidos em cada um desses sistemas. O simpático 
libera no neurônio pós-ganglionar noradrenalina e o parassimpático acetilcolina e cada 
um desses neurotransmissores de ações específicas em receptores no miocárdio causa 
estimulação ou inibição do ritmo cardíaco (Figura 2.2). 
(c) A obtenção de cálcio no músculo cardíaco se dá tanto do retículo sarcoplasmático, 
quanto do meio extracelular. Isso ocorre devido à característica da membrana do 
músculo cardíaco que 
também tem canais de 
cálcio na membrana 
celular permitindo que 
no momento do 
potencial de ação canais 
de cálcio voltagem 
dependentes se abram e 
o cálcio participe do 
potencial de ação, 
ocasionando um platô, e 
participando do 
processo contrátil, 
ligando-se à troponina. 
Essa difusão lenta de 
cálcio para o interior 
mantém a fase de platô 
do potencial de ação. 
Como consequência, a 
duração do potencial de 
ação cardíaco é 
 
 
 
2200 
 
 
Figura 2.3 – Potencial de ação de uma célula 
miocárdica dos ventrículos. 
Fonte: FOX, 2007, p. 386 
 
 
aproximadamente cem vezes maior do que a do potencial de ação de um neurônio 
(FOX, 2007). Portanto o cálcio no músculo cardíaco participa do potencial de ação 
(Figura 2.3) e do processo de contração muscular. 
 
O coração é provido de um sistema 
especializado para a geração de 
impulsos rítmicos, para causar 
contração rítmica do músculo 
cardíaco e para a produção rápida 
desses impulsos por todo o coração. 
Quando esse sistema funciona 
normalmente, os átrios contraem 
cerca de um sexto de segundo antes 
da contração ventricular, o que 
possibilita maior enchimento dos 
ventrículos antes que eles bombeiem 
o sangue pelos pulmões e pela 
circulação periférica. Outra importância especial do sistema é que ele possibilita que 
todas as partes dos ventrículos se contraiam simultaneamente, o que é essencial para a 
geração efetiva de pressão nas câmaras ventriculares (GUYTON, HALL, 2008). 
A partir dessa breve explicação vamos especificar cada uma das ações para que ocorra o 
ciclo cardíaco. 
A excitação do coração é causada por um sistema especializado de excitação e 
condução que controla o funcionamento do coração. 
A excitação é causada pelo nodo sinusal ou sinoatrial (SA). O nodo SA esta localizado 
na parede superior lateral do átrio direito e está composto por fibras musculares 
especializadas que quase não têm filamentos contráteis; são capazes de gerar potenciais 
de ação espontaneamente, denominado potencial de marca-passo. Por isso, o nodo SA 
também é conhecido como marca-passo do coração. Esses potenciais de ação são 
 
 
 
2211 
 
 
Figura 2.4 – Transmissão do impulso cardíaco pelo coração, 
mostrando o tempo de aparecimento (em frações de 
segundos) do impulso nas câmaras cardíacas. 
Fonte: FOX, 1992, p. 102 
 
 
gerados porque quando a célula do nodo SA está em repouso canais de sódio 
permanecem abertos ocasionando alteração do potencial de repouso e atingindo o limiar 
da célula, deflagrando o potencial de ação, como explicado anteriormente. 
Quando deflagrado, o potencial de ação ocorre então à condução desse potencial tanto 
pelas fibras musculares adjacentes por conta do sincício funcional, já discutido 
anteriormente, quanto pelas vias de condução elétrica. As vias de condução elétrica irão 
enviar o impulso para o átrio esquerdo e para os ventrículos. 
Para o átrio esquerdo, esse potencial de ação se propaga pelo feixe interatrial. Esse 
potencial de ação se propaga a 1m/s, extremamente rápido, demorando de 0,03 a 0,09 
seg. para a chegada até o átrio esquerdo (Figura 2.4), não ocorrendo atraso na ação 
mecânica, pois os átrios contraem simultaneamente (Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 
2008). 
Já para os ventrículos, o potencial de ação se propaga pelas vias internodais. As vias 
internodais se dividem em 3: feixe internodal anterior, médio e posterior (Figura 2.5). 
Essas vias de condução 
elétrica levam o impulso até 
o nodo atrioventricular 
(AV). Esse impulso elétrico 
não passa dos átrios para os 
ventrículos de modo 
demasiadamente rápido, isso 
dá tempo para os átrios 
lançarem seu conteúdo nos 
ventrículos antes que se 
inicie a contração 
ventricular. São 
principalmente o nodo AV e 
suas fibras de condução 
associadas que retardam essa 
 
 
 
2222 
 
 
Figura 2.5 – Desenho ilustrativo demonstrando as vias 
de condução elétrica do coração. 
Fonte: GUYTON, 1992, p. 99 
 
 
transmissão de impulso cardíaco dos átrios para os ventrículos. Essa condução lenta 
através do nodo AV é responsável por metade do retardo entre a excitação dos átrios e 
dos ventrículos (FOX, 2007). 
 
O nodo AV está localizado na 
parede septal posterior do átrio 
direito, imediatamente atrás da 
válvula tricúspide e adjacente à 
abertura do seio coronário, 
como demonstrado na Figura 
2.5. Após o impulso se 
disseminar através do nodo AV, 
ele passa pelo livro-texto 
atrioventricular, também 
conhecido como feixe de His; 
divide-se em ramo direito e 
ramo esquerdo e se comunica 
com as fibras de purkinje que 
irão estimular as fibras musculares do ventrículo. Com relação à velocidade do impulso 
elétrico, após passar pelo nodo AV, a condução aumenta enormemente do livro-texto 
atrioventricular e atinge valores muito altos (5m/s) nas fibras de purkinje. Como 
consequência dessa rápida condução de impulsos, a contração ventricular começa 0,1 a 
0,2 segundos após a contração dos átrios (FOX, 2007. 
Entendendo o que ocorre com a estimulação elétrica, iremos agora descrever o que 
ocorre com a parte mecânica, culminando no ciclo cardíaco. 
O ciclo cardíaco se refere ao padrão repetitivo de contração e relaxamento do coração. 
A fase de contração é conhecida com sístole e o relaxamento como diástole, 
independendo da câmara cardíaca. 
 
 
 
2233 
 
 
Figura 2.6 – Desenho O aumento da frequência cardíaca durante o exercício físico é obtido 
sobretudo por meio de uma diminuição do tempo despendido na diástole. 
Fonte: POWERS, HOWLEY, 2000, p. 155 
 
 
O ciclo cardíaco é dividido em duas etapas: a fase das contrações dos átrios, enquanto 
eles estão em sístole os ventrículos estarão em diástole. Após o enchimento dos 
ventrículos, que culmina com a chegada dos impulsos elétricos pelas vias de condução 
elétrica, ocorre a sístole ventricular. Quando isso está ocorrendo, os átrios estão em 
diástole, favorecendo o enchimento das câmaras cardíacas atriais. Ao final desse 
fenômeno, um novo impulso elétrico é gerado pelo nodo SA e um novo ciclo cardíaco é 
gerado. Isso acaba ocorrendo por volta de 75 vezes por minuto, o que nos leva a 
entender que para cada ciclo cardíaco temos por volta de 0,8 segundo: 0,5 segundo é 
despendido na diástole e 0,3 segundo, na sístole. Durante o exercício físico ocorre 
alteração desse tempo. Se a frequência cardíaca de 75 batimentos por minuto (bpm) 
aumentar para 180 bpm, ocorre uma redução do tempo despendido tanto na sístole 
quanto na diástole. O aumento da frequência cardíaca acarreta maior redução do tempo 
da diástole, enquanto a sístole é menos afetada (Figura 12) (FOX, 2007; GUYTON, 
HALL, 2008). 
 
2.3 Débito cardíaco e sua relação com exercício físico 
Definiremos em primeira estância o que é débito cardíaco (Q): capacidade de 
bombeamento do coração por minuto. A máxima capacidade do débito cardíaco de um 
sujeito irá refletir na demanda de sangue que o sistema cardiovascular pode enviar para 
o sistema; isso reflete na capacidade funcional para atender à intensidade de exercício. 
 
 
 
2244 
 
A capacidade máxima que um sujeito pode alcançar do seu débito cardíaco está 
intimamente ligada ao aumento do funcionamento do coração, frequência cardíaca (FC), 
e sua capacidade de ejetar o sangue, volume sistólico (VS). Portanto o débito cardíaco é 
o produto da FC e do VS, quantidade de sangue bombeado por batimento cardíaco.Q= FC x VS 
Podemos concluir que o débito cardíaco pode ser aumentado em razão de um aumento 
da FC ou do VS, ou das duas variáveis. 
A Tabela 2.1 apresenta os valores típicos em repouso e durante o exercício máximo da 
FC, do VS e do Q nos indivíduos não-treinados e nos atletas de endurance altamente 
treinados. As diferenças em relação aos gêneros masculino e feminino do VS e do Q se 
devem, sobretudo, às diferenças de tamanho corporal entre os homens e as mulheres. 
Alguns mecanismos podem explicar o que está ocorrendo com o comportamento do 
sistema cardiovascular, em particular FC, VS e Q, em indivíduos treinados em 
comparação aos sedentários. O sistema parassimpático, que é responsável por diminuir 
o batimento cardíaco e a força de contração, está aumentado e os impulsos simpáticos 
reduzidos, já que esse é responsável por ação oposta a do parassimpático. Assim 
podemos entender porque o coração fica mais lento, por ação desses dois sistemas. 
Outro fator que provavelmente possa estar influenciando é a maior eficiência da 
contratilidade miocárdica, eficiência na contração (Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 
Individuo FC (batimentos/min) VE (ml/batimento) Q (l/min) 
Repouso 
Homem não 
treinado 
72 X 70 = 5,00 
Mulher não 
Treinada 
75 X 60 = 4,50 
Homem treinado 50 X 100 = 5,00 
Mulher treinada 55 X 80 = 4,50 
Exercicio Máximo 
Homem não 
treinado 
200 X 110 = 22,0 
Mulher não 
treinado 
200 X 90 = 18,0 
Homem treinado 190 X 180 = 34,2 
Mulher treinado 190 X 125 = 23,9 
 
 
 
 
2255 
 
2008). Ainda podemos entender esse fenômeno por conta de um maior volume 
diastólico final em repouso, isto é, maior volume de enchimento ventricular durante a 
diástole, uma vez que o volume sistólico final não se altera com o treinamento físico 
(NEGRÃO, BARRETO, 2005). Alternativamente, alguns autores têm sugerido que o 
maior volume sistólico no indivíduo treinado está relacionado a um aumento na volemia 
do indivíduo (CONVERTINO et al., 1991 apud NEGRÃO e BARRETO, 2005). 
Após um período de treinamento físico aeróbio, o Q em repouso não é 
significativamente modificado, permanecendo em níveis semelhantes aos verificados no 
período pré-treinamento. Esse comportamento ocorre porque, apesar de o indivíduo 
treinado apresentar menor frequência cardíaca em repouso do que o sedentário, ele tem 
maior volume sistólico, o que faz que o Q desses dois indivíduos seja semelhante. 
Durante exercício físico realizado em um mesma potência de trabalho antes e após o 
treinamento, também não se observa diferença expressiva no Q do treinado em relação 
ao sedentário. Isso se dá pelo mesmo mecanismo explicado anteriormente; embora o 
treinado apresente maior VS que o sedentário, sua menor FC acaba aproximando o Q 
desses dois indivíduos. Porém, no exercício máximo observa-se que o Q de atleta pode 
atingir níveis marcadamente maiores que o indivíduo sedentário. Isto é, enquanto o 
atleta atinge Q de 35 a 40 l/min, o sedentário não consegue ir além dos 20 a 25 l/min. 
Esse comportamento diferenciado é atribuído ao maior volume sistólico máximo no 
atleta, já que a FC máxima não é modificada pelo treinamento físico (NEGRÃO, 
BARRETO, 2005). 
Outro fator que leva a demonstrar o aumento do Q está relacionado ao consumo de 
oxigênio. O melhor consumo de oxigênio na célula muscular está relacionado à 
captação do oxigênio no nível tecidual. Na condição de repouso são transportados 20 ml 
de O2 por 100 ml de sangue arterial, sendo que 5 ml desse oxigênio são utilizados pelos 
capilares teciduais. Então, podemos concluir que a diferença do que é ofertado, no 
sangue arterial, 20 ml, e o que retorna no sangue venoso misto, 15 ml, é denominada 
diferença artério-venosa de oxigênio (diferença a-v O2) (Mc ARDLE, KATCH, 
KATCH, 2008). Em exercício progressivo máximo, a diferença a-v O2 aumenta tanto 
em indivíduos sedentários quanto em treinados. Sabe-se que a contribuição da diferença 
 
 
 
2266 
 
a-v O2 para o suprimento de oxigênio para a musculatura é expressivamente menor do 
que a do Q, uma vez que, durante o exercício em que se trabalha próximo ao consumo 
máximo de oxigênio, o Q atinge valores de 5 a 8 vezes o seu nível de repouso, enquanto 
a diferença a-v O2 não ultrapassa em 3 vezes os seu valores de repouso. Apesar de esse 
aumento ocorrer para todos os sujeitos, a diferença a-v O2 é maior em indivíduos 
treinados quando comparados com sedentários (Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2008). 
Esse fator, que parece estar ligado ao aumento da captação de oxigênio no nível celular 
tecidual, deve-se ao aumento da densidade capilar e secundariamente ao aumento da 
quantidade de mitocôndrias (POWERS, HOWLEY, 2009). 
Podemos observar que o Q sofre declínio com a idade. Essa diminuição no Q pode ser 
consequência da redução da FC máxima, observada em idosos, somada ao menor 
volume sistólico máximo. A redução do volume sistólico decorre da menor 
contratilidade do ventrículo esquerdo durante o exercício, ocasionada pela atenuação da 
responsividade adrenérgica nessa população (Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2008). 
 
2.4 Regulação dos ajustes cardiovasculares ao exercício 
Quando iniciamos um exercício físico um dos efeitos que podemos perceber é o 
aumento da FC. Esse aumento é proporcional à intensidade do exercício: quanto maior a 
intensidade maior vai ser o aumento da FC. Em exercício submáximo, a FC aumenta até 
a intensidade alvo e estabiliza durante a realização do exercício. Já em exercício 
máximo, a FC aumenta proporcionalmente à intensidade do exercício até a interrupção 
por exaustão (NEGRÃO, BARRETO, 2005). O que está ocorrendo para que se dê essa 
regulação? A explicação para esse ajuste está no comando central do ajuste 
cardiovascular. 
O sistema nervoso central tem um centro de controle cardiovascular. Esse centro recebe 
as aferências periféricas que discutiremos neste subitem, integra essas informações com 
outros núcleos envolvidos na modulação desse controle e emite uma resposta pelo 
sistema nervoso autônomo de acordo com a necessidade da demanda que está ligada à 
intensidade da potência do exercício. 
 
 
 
2277 
 
O centro de controle recebe informações de diversas regiões para realizar sua função: 
áreas cerebrais superiores, mecanorreceptores e quimiorreceptores arteriais aórticos e 
carotídeos, mecanorreceptores cardiopulmonares e ergorreceptores dos músculos 
esqueléticos e articulação. 
Essa informação neural que chega ao centro de controle coordena as ações imediatas no 
coração e nos vasos sanguíneos. Podemos associar o aumento antecipatório ao exercício 
do sistema cardiovascular. Quanto maior a massa muscular e mais intensa a sua ativação 
pelo centro de controle motor, maior será a alteração no sistema cardiovascular. Essas 
alterações nesse sistema acontecem tanto no momento antecipatório quanto durante o 
exercício. Aliás, tal aumento antecipatório está intimamente ligado à intensidade do 
exercício: quanto mais intenso maior é o aumento da FC. Curiosamente, ocorre também 
o aumento da pressão arterial média antes do exercício; essas alterações parecem ser 
desejáveis, pois preparam as reservas fisiológicas (Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 
2008). 
Com relação ao aumento da FC durante o exercício físico, podemos dividir em dois 
momentos: (a)aumento no início do exercício até 60% do consumo máximo de 
oxigênio; (b) aumento do tempo e intensidades de exercício. 
(a) Podemos entender que no início do exercício o principal mediador do aumento da 
FC até aproximadamente 60% do consumo máximo de oxigênio é a retirada vagal, 
diminuição da atividade parassimpática (CARTER et al., 2003). 
(b) Com o aumento do tempo de exercício e intensidade deste, o aumento da atividade 
simpática passa a ser o principal mecanismo responsável pelo aumento da FC 
(NEGRÃO et al., 1992). 
O influxo periférico proveniente do barorreceptor aórtico e carotídeo acaba ocasionando 
ação reflexa.Essa ação e feita por feedback negativo; quer dizer, se ocorre um aumento 
momentâneo da pressão arterial, reflexamente o centro de controle neural 
cardiovascular imediatamente inibe a ativação simpática, consequentemente causando 
bradicardia, diminuição da FC. O contrário é verdadeiro: quando há hipotensão, 
reflexamente ocorre ativa simpática e taquicardia. Isso porque a FC está intimamente 
 
 
 
2288 
 
ligada ao Q, grandezas diretamente proporcionais à pressão arterial. Para Michelini 
(1994) e Michelini e Morris (1999), durante o exercício a pressão arterial passa as ser 
regulada em níveis mais altos; quer dizer, muda-se o set-point, o que acaba 
neutralizando a ação de feedback negativo, permitindo o aumento da pressão e da 
frequência cardíaca. 
De acordo com os mecanismos descritos por Mc Ardle, Katch e Katch (2008), o centro 
cardiovascular também recebe influxo sensorial dos receptores periféricos químicos, 
musculares e articulares. Os quimiorreceptores percebem alterações químicas na 
corrente sanguínea e sua localização está no arco aórtico e seio carotídeo. 
Desempenham um papel importante na regulação da ativação neural simpática do 
músculo durante exercício físico. As alterações metabólicas são proporcionais à 
intensidade do exercício, ativando os quimiorreceptores, com o consequente aumento da 
ativação simpática no sistema cardiovascular. Com relação aos receptores musculares e 
articulares, quando estimulados pelo exercício físico proporcionam um feedback rápido. 
Esse influxo modifica a ativação do sistema autônomo (simpático e parassimpático) de 
forma a induzir repostas cardiovasculares apropriadas para as várias intensidades da 
atividade física. Não menos importante também ocorre a ativação do sistema nervoso 
autônomo quando estimulados os receptores cardiopulmonares, como podemos observar 
na Figura 2.7. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2299 
 
 
Figura 2.7 - Regulação neural do sistema cardiovascular durante o exercício 
Fonte: Modificada de MITCHELL JH, RAVEN PB, 1994, apud Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 
2003, p. 340. 
 
2.5 Síntese da Unidade 
Nesta Unidade discutimos sobre o funcionamento do coração e ciclo cardíaco, o que é 
de fundamental importância para o entendimento do comportamento do sistema 
cardiovascular. Foi ressaltada a importância do funcionamento cardíaco para entender 
que esse órgão tem papel relevante no débito cardíaco, que é a capacidade de ejetar 
sangue por minuto, e dessa forma suprir as necessidades do organismo. Falo-se também 
acerca da relação do débito cardíaco com o exercício físico – há uma relação direta 
entre intensidade do exercício físico e débito cardíaco dentro de certos limites 
 
 
 
3300 
 
fisiológicos. Para que esse sistema funcione de forma harmoniosa existe mecanismo 
central de controle cardiovascular, o qual é dependente de informações periféricas para 
emitir seu comando. 
 
 
2.6 Atividades 
 
1. Explique o ciclo cardíaco. 
2. Discuta em grupo o que é o débito cardíaco. Existe diferença no débito cardíaco 
em repouso entre indivíduos treinados e sedentários? E em exercício com 
intensidade sub-máxima e máxima? 
3. O nosso sistema faz os ajustes cardiovasculares de acordo com as tarefas que 
realizamos no dia a dia. De acordo com essa frase, explique como é realizado 
esse ajuste. 
4. Em exercício, é sabido que as variáveis relacionadas ao sistema cardiovascular 
sofrem alterações na frequência cardíaca, no débito cardíaco, no volume 
sistólico, na pressão arterial. Quais são os mecanismos responsáveis pelas 
alterações desses sistemas: 
a) no início do exercício e até 60% do VO2 máx; 
b) com intensidade alta de exercício? 
 
 
 
3311 
 
Unidade 3 
Unidade 3 . Sistema Respiratório e Exercício Físico 
 
O sistema respiratório tem como principal função realizar as trocas de gases para suprir 
as necessidades das células e do organismo como um todo. Compõem esse sistema: 
nariz, faringe, traqueia, laringe, pulmões, brônquios e alvéolos. 
Mecanicamente, a ventilação ocorre a partir das diferenças de pressão dos gases, tanto 
do meio externo para o interno, assim como de uma célula para outras, por exemplo, do 
alvéolo para as células sanguíneas. 
O transporte dos gases pode ocorrer pela difusão destes, mas em sua maioria é realizado 
pela hemoglobina, um carregador específico que se acopla tanto ao oxigênio quanto ao 
dióxido de carbono. O dióxido de carbono também é transportado pelo bicarbonato. No 
músculo o carregador específico de oxigênio é denominado mioglobina. 
A interação entre os fatores neurais e químicos é a responsável pelo controle da 
respiração, visto que esta é realizada pelo bulbo, ponte, receptores aferentes e eferentes 
e pressão parcial dos gases (oxigênio e dióxido de carbono). 
Durante o exercício físico, a ventilação é diretamente dependente da intensidade, pois 
em exercícios de baixa intensidade ela parece não se alterar de maneira conflitante com 
o estado de repouso, apesar de apresentar maiores valores. Quando o exercício se torna 
mais intenso, a ventilação sofre um desequilíbrio, ou seja, a dinâmica respiratória não é 
mais eficiente na relação captação de ar e utilização do oxigênio, resultando em 
respostas metabólicas que podem ser limitantes à progressão da atividade, como por 
exemplo, o acúmulo de lactato sanguíneo. 
 
 
 
 
3322 
 
3.1 Estrutura anatômica do sistema respiratório 
O sistema respiratório tem com principal função realizar a troca de gases, suprir com 
oxigênio todos os tecidos e eliminar o gás carbônico. Além disso, o sistema respiratório 
é importante para a regulação do Ph sanguíneo, a produção da voz, o olfato, a proteção 
contra microrganismos causadores de alterações homeostáticas e na termorregulaçao. 
Para realizar tais funções, este dispõe de um amplo aparelho respiratório, que realiza a 
ventilação e a difusão (GUYTON, HALL, 2008; POWERS, HOWLEY, 2009; 
WILMORE, COSTILL, 2001). O sistema respiratório é composto por nariz, faringe, 
traqueia, laringe, pulmões, brônquios e alvéolos. 
O nariz tem como função aquecer, umidificar e filtrar o ar, fato que ocorre a partir da 
penetração do ar nas narinas, quando entra em contato com os cornetos (projeções da 
membrana interna do nariz). A “limpeza” do ar se dá pela movimentação deste no 
interior do nariz, o que possibilita e separação das impurezas, as quais são eliminadas 
através do muco; depois o ar segue para a faringe. 
A faringe e a laringe são canais que possibilitam a passagem do ar na direção dos 
pulmões. A faringe é seguida por duas estruturas: a traqueia e o esôfago. A traqueia é o 
canal por onde o ar deve continuar seu caminho; já o esôfago é o canal por onde os 
alimentos devem prosseguir seu trajeto. Essa separação é regulada por mecanismos 
neurais e pela movimentação das cordas vocais e da epiglote. Assim, o ar passa pela 
laringe e pela traqueia seguindo seu caminho sentido ao pulmão. 
Os pulmões se localizam no interior da caixa torácica, esta delimitada anteriormente 
pelo osso esterno, posteriormente pela coluna vertebral, lateralmente pelas costelas e 
inferiormente pelo diafragma. A cavidade torácica é denominada cavidade pleural; a 
membrana que recobre os pulmões é denominada pleura visceral; já no interior da 
cavidade essa pleura é denominada pleura parietal. A respiração ocorre por meio de 
mudanças no volume da cavidade pleural em consequência da movimentação da caixa 
torácica. Quando a caixa torácica se expande, permite a entrada do ar nos pulmões, 
mecanismo que será descrito posteriormente. 
 
 
 
3333 
 
A movimentação da caixa torácica é realizada por músculos denominados inspiratórios 
e expiratórios. Fazem parte dos músculos inspiratórios o diafragma, os intercostais 
externos, o peitoral menor, os escalenos e o esternocleidomastoide; todos esses 
músculos têm a função de aumentar o volume torácico. Dentreos músculos expiratórios 
temos os abdominais e os intercostais internos, ambos com a função de diminuir o 
volume torácico. 
Após a entrada do ar nos pulmões, os canais condutores, chamados brônquios, 
transportam o ar em direção aos alvéolos. Estes, por sua vez, são “sacos” microscópios 
localizados na região terminal dos brônquios e os responsáveis por liberar oxigênio na 
corrente sanguínea e capturar o gás carbônico disponível. Isso se torna possível, devido 
ao fato de os alvéolos possuírem uma vasta área vascularizada. 
O sistema respiratório tem com principal função realizar as trocas gasosas, oferecendo 
oxigênio às células, a partir de órgãos interligados como: nariz, faringe, laringe, 
traqueia, pulmões, brônquios e alvéolos. Para realização das trocas gasosas é necessário 
que o volume da caixa torácica seja alterado a favor da troca. 
 
3.2 Mecânica respiratória 
A mecânica respiratória ou ventilatória consiste na troca de gases entre o ambiente 
externo e interno, possibilitada pela diferença de pressão entre os meios. A difusão dos 
gases ocorre do meio de maior pressão para o de menor pressão (Mc ARDLE, KATCH, 
KATCH, 2008; POWERS, HOWLEY, 2009). 
Durante a inspiração, o aumento da cavidade torácica e consequente aumento do 
volume torácico favorecem difusão dos gases, pois a expansão da cavidade diminui a 
pressão interna, aumentando a diferença entre o meio externo e interno, permitindo a 
entrada do ar. Já na expiração, ocorre o contrário, o retraimento da caixa torácica 
aumenta a pressão interna favorecendo a saída do ar. 
 
 
 
3344 
 
 
Figura 3.1 – Mecânica da respiração demonstrando o processo da inspiração e expiração 
Fonte: Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2003, p. 261 
A pressão atmosférica é de 760mmHg; no interior da caixa torácica, na fase de 
inspiração a pressão 758mmHg; já na fase de expiração a pressão interior corresponde a 
762mmHg (figura 3.1). 
 
O sistema ventilatório pode ser dividido em duas partes: zona condutora e zona 
transicional e respiratória. A zona condutora inclui traqueia e bronquíolos terminais 
(ramificações dos brônquios); a zona transicional e respiratória inclui ductos alveolares 
e alvéolos. Por não existirem alvéolos na zona condutora, esta é conhecida como espaço 
morto anatômico. 
 
 
 
3355 
 
 
Figura 3.2 – Pressões parciais do oxigênio (PO2) e do gás carbônico (CO2; PCO2) no sangue 
como resultado da troca gasosa nos pulmões e entre os capilares e os tecidos. 
Fonte: POWERS, HOWLEY, 2000, p. 186. 
 
Na zona respiratória, as trocas ocorrem entre os alvéolos e capilares sanguíneos. A 
pressão parcial do gás carbônico (PCO2) e a pressão parcial do oxigênio (PO2) nos 
alvéolos são de aproximadamente 40 e 105 mmHg, respectivamente. Na veia pulmonar, 
via de saída das trocas alvéolo-capilar, encontramos PCO2 de 40 mmHg e PO2 de 100 
mmHg. Na via de retorno para o pulmão, através da artéria pulmonar, encontramos 
PCO2 de 46 mmHg e de 40 mmHg para PO2 (POWERS, HOWLEY, 2009). 
No entanto, a troca gasosa normal exige uma coordenação entre a ventilação e o fluxo 
sanguíneo, ou seja, o alvéolo pode estar com boa ventilação, mas se o fluxo sanguíneo 
não for adequado a troca gasosa não ocorrerá. Esse processo é denominado ventilação-
perfusão; a relação ideal da ventilação por perfusão é de 1,0 ou levemente maior. 
A mecânica ventilatória ocorre por meio do favorecimento da difusão dos gases. Sendo 
que, quando a pressão parcial do gás externa for maior em relação à interna, o ar penetra 
no organismo (inspiração); em sentido contrário, o ar deixa o organismo (expiração). As 
trocas realizadas na zona respiratória ocorrem pela diferença de pressão entre os 
alvéolos e capilares. 
 
 
 
3366 
 
 
Figura 3.3 – Figura demonstrando os volumes e capacidades pulmonares. 
Fonte: Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2003, p. 264. 
 
3.3 Volume e capacidade pulmonares 
A identificação dos volumes e capacidades pulmonares possibilita avaliar a integridade 
do sistema respiratório. A mensuração destes pode ser realizada por meio da 
 
 
 
3377 
 
espirometria, pela qual o volume de gás inspirado e expirado é capturado por sistema 
computadorizado. 
Os volumes pulmonares são: volume corrente, volume de reserva inspiratória, volume 
de reserva expiratória e volume residual. As capacidades são: capacidade pulmonar 
total, capacidade vital, capacidade inspiratória e capacidade residual funcional, 
conforme podemos observar na figura 3.4 (POWERS, HOWLEY, 2009; Mc ARDLE, 
KATCH, KATCH, 2008). 
 
3.4 Ventilação pulmonar 
Compreende a ventilação minuto e a ventilação alveolar. 
3.4.1 Ventilação minuto 
Pode ser entendida como ventilação minuto (VE) a frequência respiratória (FR) por 
minuto vezes o volume corrente (VC) médio. Durante a respiração normal em repouso, 
a FR é de aproximadamente 12 incursões respiratórias por minuto e o VC médio é 
aproximadamente 0,5L de ar por incursão. 
VE = VC x FR 
VE = 0,5 x 12 
VE = 6L/min. 
3.4.2 Ventilação alveolar 
Parte do ar inalado em cada incursão respiratória não participa das trocas gasosas, fica 
contido dentro do espaço morto anatômico. Em indivíduos sadios esse volume 
representa aproximadamente 30% do VC em repouso (150mL) e o volume restante é 
que efetivamente penetra nos alvéolos e realiza a troca gasosa. Para calcularmos o 
volume alveolar devemos, portanto, descontar da ventilação minuto aproximadamente 
150mL do volume corrente. 
 
 
 
3388 
 
VA = (VC – VEMA) x FR 
VA = (0,5 – 0,15) x 12 
VA = 4,2 L/min. 
A integridade do sistema respiratório é identificada pela análise do volume e capacidade 
dos gases, espirometria. Ventilação minuto é a frequência respiratória pelo volume 
corrente. Ventilação alveolar é a quantidade disponível de gases para troca nos alvéolos. 
 
3.5 Troca e transporte dos gases 
Embora uma parte do O2 e do CO2 seja transportada como gases dissolvidos, 
carregadores específicos – hemoglobina e mioglobina – são os responsáveis pela maior 
parte dessas trocas. 
3.5.1 Hemoglobina e transporte de O2 
Quase que em sua totalidade, o transporte de O2 no sangue se dá pela ligação química 
de O2 e hemoglobina (Hb), proteínas contida nos eritrócitos. Cada molécula de 
hemoglobina pode transportar quatro moléculas de O2. Esta ligação é denominada 
oxiemoglobina; quando a hemoglobina não está ligada ao O2 ela é denominada 
desoxiemoglobina. 
A quantidade de O2 transportada é diretamente proporcional à quantidade de 
hemoglobina circulante. Essa combinação pode ser chamada de carregamento; a 
liberação do O2 é o descarregamento. 
DESOXIEMOGLOBINA + O2 OXIEMOGLOBINA 
A direção desses fluxos é diretamente proporcional à PO2 do sangue e à afinidade entre 
a hemoglobina e o O2. Powers e Howley (2009) descrevem que elevada PO2 dirige a 
reação para a direita; em contraposição, baixos valores de PO2 e reduzida afinidade 
entre Hb e O2 dirigem a reação para a esquerda. 
 
 
 
3399 
 
 
Figura 3.4 - Curva de dissociação da hemoglobina e os 
fatores que interferem na porcentagem de saturação desta 
Fonte: http://www.anestesiologia.unifesp.br/fisio_resp.pdf 
Acesso em: set. 2011 
O efeito da relação PO2 e a relação O2-Hb podem ser compreendidas a partir da curva 
de dissociação da oxiemoglobina (figura 3.5), que pode se definida como a 
representação gráfica da pressão parcial de O2 versus o teor de O2 ligado à Hb. A forma 
da curva de dissociação da oxiemoglobina é projetada para suprir as necessidades do 
transporte de O2 do ser humano. A parte mais aguda da curva representa o aumento da 
porcentagem de hemoglobina saturada de O2 (% de HbO2) até a PO2 de 40mmHg. Em 
valores superiores a 40mmHg, esse aumento ocorre de maneira linear até valores 
próximos de 100% (POWERS, HOWLEY, 2009; Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 
2008). 
A curva de dissociação de 
oxiemoglobina sofre 
influências de alguns fatores, 
dentre eles temos: o pH 
sanguíneo,a temperatura, a 
variação da concentração da 
2-3 disfosforoglicerato (2-3 
DPG) e a PCO2 (figura 3.5) 
(GUYTON, HALL, 2008; 
POWERS, HOWLEY, 2009; 
WILMORE, COSTILL, 
2001). Tais fatores 
proporcionam um 
deslocamento da curva de 
dissociação da 
oxiemoglobina tanto para 
direita como para a esquerda. Quando este deslocamento é para a direita, a liberação de 
O2 se torna facilitada, quando deslocada para a esquerda esse descarregamento é 
dificultado. 
 
 
 
4400 
 
Alterações no pH sanguíneo provocam aumento da acidez (diminuição do pH) 
enfraquecem a ligação Hb-O2, acarretando um maior descarregamento de O2 nos 
tecidos, representado por um deslocamento à direita da curva. 
Alterações da temperatura no sangue, em pH constante, alteram a posição da curva, 
sendo que aumentos da temperatura deslocam a curva para a direita, e diminuições da 
temperatura deslocam a curva para a esquerda, fato justificado pela diminuição da 
afinidade entre O2 e Hb com o aumento da temperatura. 
A concentração de 2-3 DPG, um subproduto da glicólise dos glóbulos vermelhos, 
também afeta a afinidade O2 – Hb, sendo diminuída com aumentos da quantidade de 2-
3 DPG. Aumentos de 2-3 DPG parecem acontecer em certos casos de anemia, em 
altitudes elevadas (POWERS, HOWLEY, 2009). 
Além desses, o aumento da PCO2 também altera o posicionamento da curva, fato que 
pode ser explicado pela maior afinidade do CO2 com a Hb em relação ao O2. 
Nos músculos, o transporte de O2 ocorre através de transportadores específicos, 
mioglobinas, que têm muita afinidade com o O2 e estão em grande quantidade nas 
fibras de contração lenta ou fibras vermelhas. Os músculos têm a capacidade de 
armazenar o O2 ligado à Hb; esse estoque ou reserva de O2 é utilizado na transição 
entre o repouso e o exercício causando um deficit de O2, que será discutido à frente 
(POWERS, HOWLEY, 2009; Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2008). 
3.5.2 Hemoglobina e transporte de CO2 
O dióxido de carbono pode ser carregado de três maneiras: (1) uma pequena quantidade 
é carregada em solução física no plasma; (2) utilizando a hemoglobina como 
carregador; (3) em combinação com a água formando o bicarbonato. 
Apenas 5% da quantidade de dióxido de carbono são eliminados através de gases, 
apesar de esse ser o regulador da PCO2. A combinação CO2 e Hb é responsável por 
aproximadamente 20% do carregamento de dióxido de carbono. O restante é 
transportado em combinação com a água; o dióxido de carbono forma o ácido carbônico 
e posteriormente o bicarbonato. Essa reação é catalisada pela enzima anidrase 
 
 
 
4411 
 
carbônica. O íons de H+ derivados do ácido carbônico têm seu efeito tamponado pela 
porção proteica da hemoglobina que mantém o pH dentro de limites relativamente 
estreitos (POWERS, HOWLEY, 2009; Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2008). 
A hemoglobina é a principal responsável por transportar o oxigênio e também tem a 
capacidade de transporte de dióxido de carbono. Nas células musculares esse transporte 
ocorre por meio da mioglobina. A curva de dissociação da oxiemoglobina é importante 
identificador da relação hemoglobina-oxigênio; esta, por sua vez, é dependente do pH 
sanguíneo, da temperatura, dos níveis de 2-3 DPG e PCO2. 
 
3.6 Controle Respiratório 
A dinâmica respiratória ocorre pela interação entre os receptores químicos; os 
receptores mecânicos, musculares e articulares; o controle respiratório central, realizado 
pela ponte e bulbo, e pelos efetores, músculos respiratórios. 
O controle respiratório ocorre a partir de estímulos detectados nos receptores que 
enviam uma informação, pela via aferente, em direção ao bulbo e à ponte. Esses, por 
sua vez, decodificam, processam essas informações e enviam um estímulo resposta aos 
efetores da respiração, via eferente, que ativa a respiração (figura 3.6). No entanto, 
ainda existem mecanismos e receptores que detectam informações que possam alterar a 
dinâmica respiratória sem causar prejuízo ao individuo (GUYTON, HALL, 2008; 
POWERS, HOWLEY, 2009). 
 
 
 
4422 
 
 
Figura 3.5 - Desenho esquemático do controle neural do sistema respiratório. 
Fonte: Elaborado pelos autores 
 
 
Quimicamente, o controle respiratório é feito pelas variações nas PO2, PCO2, acidez 
nas artérias. Outro fator que influencia nesse controle é a temperatura. Tais estímulos 
ativam unidades neurais sensíveis no bulbo e no sistema arterial, ajustando a ventilação 
e mantendo o Ph sanguíneo e a temperatura dentro de limites estreitos. 
O controle da respiração ocorre por meio da interação entre fatores neurais e químicos 
que conectam informações para a realização da respiração. O centro de controle neural, 
via de conexão entre aferência e/ou eferência, é que determina que tipo de mecanismo 
será efetuado. 
 
3.7 Sistema respiratório e exercício físico 
Antes de entendermos o que acontece com a dinâmica respiratória, é necessária a 
compreensão da transição do repouso para o exercício. Este pode ser detalhado em 3 
fases: (1) nos primeiros 20s de exercício, alterações dos estímulos provenientes do 
córtex cerebral e membros ativos estimulam o bulbo, causando alterações bruscas na 
 
 
 
4433 
 
 
Figura 3.6 - Evolução temporal do consumo de oxigênio durante trote contínuo com 
ritmo lento para sujeitos treinados e destreinados. 
Fonte: Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2003, p. 165 
ventilação; (2) até aproximadamente 1,5 minutos, os estímulos anteriores se mantêm e 
alterações intrínsecas nos neurônios do sistema do controle respiratório junto ao influxo 
ao comando central fazem a ventilação aumentar exponencialmente; (3) acima de 2 a 3 
minutos de exercício, a modulação das pressões dos gases alveolares é mantida por 
estímulos químicos centrais e reflexos proporcionados pelo CO2, pela concentração de 
H+ e pela temperatura por meio do efeito sobre os quimiorreceptores e termorreceptores 
(Mc ARDLE, KATCH, KATCH, 2008). 
Na transição entre o repouso e o exercício, a captação de oxigênio aumenta de maneira 
exponencial até atingir valores estáveis, sendo este aumento diretamente proporcional à 
intensidade do exercício e à condição física do sujeito. A diferença entre a captação de 
oxigênio em repouso e até o ponto de estabilização é denominada deficit de oxigênio 
(figura 3.7). Mc Ardle, Katch e Katch (2008) descrevem que quanto mais condicionado 
é o indivíduo, menor é o seu valor de deficit de oxigênio, e que esses valores estão 
diretamente relacionados ao tempo de recuperação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4444 
 
Na recuperação, inicialmente ocorre queda brusca da ventilação por conta da retirada do 
impulso do comando central e influxo proveniente dos músculos previamente ativos; os 
outros fatores vão se restabelecendo gradualmente, o que torna a recuperação mais lenta 
num segundo momento. 
No exercício em ritmo estável, com intensidade de leve à moderada, a ventilação 
aumenta de forma linear se considerarmos a captação de oxigênio e a produção de gás 
carbônico, sendo que os níveis de PO2 e PCO2 permanecem com valores próximos aos 
valores de repouso. Considera-se que o equivalente respiratório, relação da ventilação 
minuto para captação de oxigênio, eficiente neste tipo de exercício, apresenta valores de 
25 litros de ar respirado para 1 litro de oxigênio consumido, sem o acúmulo de lactato 
sanguíneo. Em exercícios com intensidades elevadas, a relação captação de oxigênio e 
produção de gás carbônico é desproporcional, apresentando um equivalente respiratório 
de 32 litros de ar respirado para 1 litro de oxigênio consumido, dá-se o início do 
acúmulo de lactato sanguíneo (McARDLE, KATCH, KATCH, 2008). 
A transição entre o repouso e o exercício altera a ventilação, causando um débito de 
oxigênio, que está diretamente relacionado ao exercício. A intensidade do exercício está 
diretamente relacionada ao controle e à mecânica ventilatória, visto que quanto maior 
for a intensidade, maiores

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