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Freud – Voz consoante do século XIX Freud (1865-1939) - médico vienense que ousou colocar ‘os processos misteriosos’ do psiquismo, suas ‘regiões obscuras’, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos, o que leva Freud à criação da Psicanálise. Psicanálise – nasce em 1900 - termo utilizado para se referir a uma teoria, um método de investigação e a análise. Teoria – conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Método de investigação – método de interpretação, que busca o significado oculto daquilo que é manifestado por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias como: os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos, a transferência. Dos métodos utilizados pela psicanálise, a transferência, manifestação do inconsciente que ocorre nas diferentes relações estabelecidas pelas pessoas no decorrer de suas vidas, ocupa papel central. Nesse processo psicológico, o indivíduo atualiza o protótipo da relação original na relação presente, trata-se efetivamente, de transferir para a relação que se estabelece os sentimentos e as expectativas depositadas em uma relação anterior. Para o campo pedagógico, a advertência que fica é que nem sempre os afetos que os educadores e alunos trocam – sejam eles de ódio ou amor – devem-se exclusivamente à relação entre eles, podem ser afetos do campo transferencial. Desta maneira, faz-se necessário que o professor tenha preparo emocional para lidar com os afetos que permeiam sua função de mediador entre o aluno e o conhecimento, para que não sufoque a capacidade crítica daqueles que deveria emancipar-se intelectualmente. Análise – recurso que busca promover o autoconhecimento ou a cura, que ocorre por meio desse autoconhecimento. 2 A Gestação da Psicanálise Em 1881 Freud forma-se em medicina na Universidade de Viana, especializando-se em Psiquiatria. Começa a clinicar pessoas acometidas de ‘problemas nervosos’. Em 1885, em Paris, trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra francês, o qual realizava experiências com doentes mentais utilizando a hipnose. No ano de 1886, em Viena, a partir das descobertas do médico austríaco Josef Breuer, especialista em doenças nervosas, no tratamento da paciente Ana O, Freud deu continuidade às suas investigações. A paciente de Breuer, Bertha Pappenheim (líder do movimento feminista alemão) – na ficha médica "Anna 0." Apresentava uma série de sintomas que a fazia sofrer: paralisia com contratura muscular, inibições e dificuldades de pensamento, os quais tiveram origem na época em que cuidou do pai enfermo. Breuer submeteu-a a hipnose e ela relatou casos de sua infância, e essa recordação fazia que se sentisse bem após o transe hipnótico, devido à liberação das reações emotivas associadas ao evento traumático – a doença do pai, o desejo inconsciente de que este falecesse. Breuer denominou o seu método terapêutico de método catártico – tratamento que possibilita induzir o paciente as recordações, pela hipnose ou conversão, do trauma psicológico sofrido, possibilitando a liberação de afetos e emoções, uma descarga emocional que conduzia à cura. No meio do tratamento, Breuer passa a paciente para Freud, o qual descobre, por meio da hipnose, que a paralisia (sintoma) era uma forma de não cuidar do pai. Ana O. vivia o conflito entre o dever versus a vontade de viver sua vida. Freud constatou que a paciente tinha o desejo inconsciente de que o pai morresse, o que despertou sua curiosidade. Aos poucos, Freud foi modificando os métodos de Breuer. Descartou a catarse e a hipnose deu lugar à concentração (conversa normal procurando relacionar o que o paciente está vivendo com o passado), que deu lugar à fala desordenada do paciente (deixar falar livremente). Em 1904 Freud desvenda a neurose e, separa neuróticos e psicóticos. 3 A Descoberta do Inconsciente Freud percebe que os pacientes não se recordavam das passagens desagradáveis ou se recusavam a falar delas; o livre curso das idéias deixava os pacientes embaraçados, envergonhados. A esta força psíquica, que se opunha o tornar consciente, a revelar o pensamento, Freud denominou resistência e, por trás desse processo acontece o que ele chamou de repressão - processo psíquico que faz desaparecer da consciência uma idéia ou representação dolorosa que está na origem do sintoma. Uma pseudo- solução em que o indivíduo reprime um dos sentimentos, ou o amor ou o ódio, por exemplo, e, com isso, aparentemente o conflito está resolvido. Esse mecanismo de repressão gera um ciclo vicioso, assim, o indivíduo vai repetindo sempre o mesmo comportamento e, com isso, a energia psicológica gerada pelas emoções são armazenadas, trazendo sérias conseqüências. Os conflitos mal resolvidos são reprimidos e, cumulativamente, armazenados no inconsciente, diminuindo a produtividade externa tanto no sentido qualitativo quanto no quantitativo. O indivíduo deixa de trocar com o meio, ficando, desta forma, estagnado no tempo. Primeira Teoria – Aparelho Psíquico (1900) Inconsciente – conteúdos reprimidos. Não tem acesso aos sistemas pré- consciente/consciente. É regido por leis próprias, é atemporal, não existem noções de passado e presente. Pré-consciente ou subconsciente – Conteúdos que não estão presentes naquele momento, mas a pessoa pode trazê-los a consciência, portanto, acessíveis à consciência. Consciente – informações do mundo exterior e interior. Percepção do mundo exterior: a atenção, o raciocínio; Mundo interior: sentimentos, pensamentos. É o que o indivíduo tem claro, tem controle. Descoberta da Sexualidade Infantil Ao investigar as causas e o funcionamento das neuroses Freud descobriu que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordem sexual, originados na infância. Freud coloca a sexualidade no centro da vida psíquica, postulando a existência da sexualidade 4 infantil na infância, sendo o sexo tal como se manifesta nos adultos, resultado de um longo processo de evolução que começa desde o nascimento. Estágios de desenvolvimento psicossexual: Fase Oral – 0 a 2 anos - zona de erotização a boca • seio materno – primeiro objeto de prazer; criança leva tudo a boca. Nessa fase o indivíduo funciona muito em função das necessidades orgânicas e somente se regula pelas sensações corporais (fome, sono, frio). A única coisa que sabe é que tem uma coisa que dói, sente angústia. Todos nós, em maior ou menor proporção temos traços orais, eliminamos a angústia pela oralidade: cigarro; roer unhas; anorexia; compulsão por comida; etc. Fase Anal – 3/4 anos – zona de erotização o ânus • prazer tanto pela expulsão como pela retenção das fezes; a criança brinca com as fezes nessa etapa; substitutos (massinha, argila, areia). Nessa fase começa o controle dos esfíncteres e esse controle desenvolve o aparelho neurológico. As fezes são o que o indivíduo tem para controlar o mundo. Assim como controla os esfíncteres controla a mãe. Prazer pelo controle Aqui o sujeito começa a se dar conta de sua extensão no mundo. Começa a se conhecer pelas extremidades: pés e mãos. Começa a perceber também que os vultos são diferentes uns dos outros, começa a engatinhar, a ter sua autonomia. A forma como o indivíduo vai lidar com o dinheiro se dá nessa fase. Por meio do dinheiro é que se realiza desejos, que se controla a vida, os outros, assim como faz com as fezes. O capitalista é um anal típico. Ex: Tio Patinhas, segura o dinheiro assim como os esfíncteres. • Por questão cultural os orais têm tendência a ser mais dependentes e os anais mais controladores. 5 Fase Fálica – 5/6 anos – zona de erotização órgãos sexuais Falus - vem do grego – pênis. Ter falus, em nossa sociedade, é ter poder. É uma questão culturalinerente as sociedades patriarcais e machistas. • a criança descobre os órgãos sexuais; percebe que se manipulando sente prazer; inicia a masturbação; brincadeiras de médico; vive o complexo de Édipo Complexo de Édipo – 3 a 5 anos – fase fálica. Por natureza o indivíduo é bissexual é nessa fase que aprende a ser hetero/homo. É a fase em que a menina tem o pai como objeto de desejo e o menino a mãe. Em torno do Complexo de Édipo ocorre a estruturação da personalidade. A partir da resolução do Complexo de Édipo, a criança está apta a aprendizagem. Pois, canaliza para o desejo de aprender o que reprimiu no Complexo de Édipo, o que acaba sendo sublimado para a aprendizagem. São derivados o prazer de pesquisar, o gosto pela leitura, etc. Crítica – A crítica volta-se para a maneira como Freud enxergava o conflito (voltada apenas para a sexualidade), pois a relação triangular (criança, pai e mãe) é de suma importância no processo de desenvolvimento da identidade, sendo a solução desse triângulo o elemento que insere o indivíduo no mundo do NÓS e isso é fundamental na participação ativa da criança na sociedade. Fase de Latência – 7/11 anos – • diminuição das atividades sexuais; clube do ‘Bolinha’ e da ‘Luluzinha’ Fase Genital – 11/12 anos em diante – • • procura pelo sexo oposto; prazer em si e no outro. Crítica – Freud não trabalhou diretamente com as crianças. A amostra foi composta por adultos e, a partir do que traziam para a terapia Freud construiu a teoria da sexualidade, não reproduzindo, desta forma, o comportamento de uma pessoa saudável. As três fases: oral, anal e fálica, estruturam as três estruturas da mente, id, ego e superego. 6 Segunda Teoria do Aparelho Psíquico (1920-1923) Id – princípio do prazer, estilo de vida. Vinculado ao prazer sexual. Localizam- se as pulsões de vida e de morte; referente ao inconsciente. *pulsão: origina-se no inconsciente, direcionando o organismo em direção a determinado fim, a uma tendência de agir, para resolver dada tensão orgânica, o que orienta o indivíduo para determinados afetos, mentalizações e comportamentos. Ou seja, estado de tensão que busca, por meio de um objeto, a supressão deste estado. *pulsão da vida – Eros – abrange as pulsões sexuais e as de auto-conservação. *pulsão de morte – Tanatos – pode ser auto-destrutiva ou dirigir-se para fora e se manifestar como pulsão agressiva ou destrutiva. Ego – princípio da realidade, resultado de uma batalha travada, a cada minuto, dentro de nós, entre o Id e o Superego. O Ego é o equilibrista entre as exigências do id e as ordens do supergego, procurando criar uma situação que resolva o conflito, tornando- se educado e disciplinado graças à ação do nosso superego. Origina-se na fase anal. Funções básicas: percepção, memória, sentimentos, pensamento. É o Ego, de forma inconsciente, que mobiliza os mecanismos de defesa em busca de excluir os conteúdos indesejáveis, como forma de proteção ao aparelho psíquico. Na perspectiva psicanalítica o indivíduo mais saudável é aquele que tem o Ego mais forte. Superego – princípio do dever. Localizam-se aqui todas as regras e normas sociais, morais, éticas, estéticas e religiosas. Nossa consciência moral, é a sociedade dentro de nós. Origina-se com o Complexo de Édipo, a partir da repressão do desejo pelo pai ou pela mãe. Fonte do sentimento de culpa e medo de punição Segundo Barros (1998, p.136) “a importância atribuída pela psicanálise à infância das pessoas, suas explicações sobre as características emocionais das diferentes fases da vida humana e outras afirmações de Freud tiveram muita influência na educação. Pais, e professores, apoiados na psicanálise, ganharam maior compreensão da infância e, portanto, maior capacidade de previsão e controle do comportamento de seus filhos e alunos”. 7 Existem autores que teceram críticas às teorias de Sigmund Freud e à psicanálise em geral. Embora Freud seja amplamente reconhecido como uma figura influente no campo da psicologia e da psicanálise, suas teorias também têm sido objeto de debate e crítica ao longo dos anos. Alguns dos críticos mais proeminentes e suas áreas de crítica incluem: Karl Popper: O filósofo da ciência Karl Popper argumentou que as teorias de Freud não eram científicas, porque não eram falsificáveis. Ele alegou que as teorias psicanalíticas eram vagas demais para serem testadas empiricamente, o que, na visão de Popper, as tornava pseudocientíficas. Jean-Paul Sartre: O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre criticou a psicanálise por considerá-la determinista e por reduzir a liberdade humana. Ele acreditava que a psicanálise desconsiderava a responsabilidade pessoal e a capacidade de escolha. Jacques Lacan: Lacan foi um psicanalista que, apesar de ser profundamente influenciado por Freud, também fez críticas à psicanálise ortodoxa. Ele desenvolveu sua própria versão da psicanálise, conhecida como "psicanálise lacaniana" ou "psicanálise do discurso", que introduziu conceitos e ideias novas, muitas vezes em desacordo com as interpretações tradicionais de Freud. Thomas Szasz: O psiquiatra Thomas Szasz era um crítico ferrenho da psicanálise e da psiquiatria em geral. Ele argumentava que as doenças mentais eram conceitos vagos e que a psicanálise era mais uma forma de controle social do que uma abordagem científica legítima. É importante notar que as críticas à psicanálise não invalidam necessariamente todo o trabalho de Freud. Muitos psicólogos e terapeutas ainda valorizam e aplicam conceitos psicanalíticos em suas práticas clínicas, enquanto outros preferem abordagens mais modernas da psicologia. A crítica e o debate são componentes naturais do desenvolvimento da teoria psicológica, e diferentes perspectivas continuam a contribuir para a compreensão da mente humana. 8 Há uma discussão em curso sobre a necessidade de adaptação das teorias de Sigmund Freud para os tempos atuais. Freud desenvolveu sua teoria psicanalítica no final do século XIX e início do século XX, e suas ideias foram profundamente influenciadas pelo contexto histórico e cultural da época. À medida que a sociedade e a compreensão da psicologia evoluíram, surgiram debates sobre como as teorias freudianas podem ser relevantes ou necessitam de adaptações para refletir as mudanças nas nossas percepções e nas demandas contemporâneas. Abordagem da sexualidade: Freud enfatizou a importância da sexualidade na psicologia humana, mas suas ideias sobre a sexualidade eram fortemente enraizadas na sociedade vitoriana. Hoje em dia, há uma compreensão mais ampla e inclusiva da sexualidade, o que levou muitos a questionar a relevância das teorias freudianas nesse contexto. Diversidade cultural: As teorias de Freud foram desenvolvidas em uma época e lugar específicos, e muitas delas refletem uma perspectiva eurocêntrica. À medida que a psicologia se tornou mais globalizada e inclusiva, surgiu a necessidade de adaptar as teorias para levar em consideração a diversidade cultural e a variabilidade nas experiências humanas. Avanços na neurociência: Os avanços na neurociência e na compreensão do funcionamento do cérebro lançaram novas luzes sobre os processos psicológicos. Isso levanta questões sobre como as teorias psicanalíticas, que não estavam fundamentadas em descobertas neurocientíficas, podem ser integradas com os novos conhecimentos. Terapia e prática clínica: Muitos terapeutas ainda utilizam abordagens baseadas na psicanálise, mas adaptaram essas abordagens para serem mais compatíveis com os tempos modernos e as necessidades dos pacientes. Terapias de orientação psicanalítica foram modificadas e integradas com outras abordagens terapêuticas. A adaptação das teorias de Freud para os tempos atuais é uma área de debate e pesquisa contínua na psicologia. Algumas pessoas acreditamque as ideias de Freud ainda têm valor e podem ser aplicadas de maneira adaptada, enquanto outras preferem abordagens mais contemporâneas. A chave é encontrar um equilíbrio entre o respeito pela história da psicologia e a incorporação de novos conhecimentos e perspectivas.