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Código de Ética pro�ssional e documentações do psicólogo Susy Rocha Descrição Os órgãos, instrumentos técnicos e políticos orientadores e reguladores da atuação do profissional da Psicologia. Propósito A compreensão dos padrões de conduta é essencial para a formação de profissionais da Psicologia que possam, além de ofertar práticas positivas para a sociedade, também fortalecer o reconhecimento social dessa categoria profissional. Objetivos Módulo 1 Conduta ética na prática pro�ssional Reconhecer a importância da conduta ética na prática profissional do psicólogo. Módulo 2 Conselhos de Psicologia nas esferas Regionais e Federal Identificar as interlocuções inerentes aos Conselhos de Psicologia nas esferas Regionais e Federal, bem como suas atribuições e funcionamento. Módulo 3 Dilemas éticos na prática do pro�ssional Analisar os diferentes dilemas éticos inseridos na prática do profissional da Psicologia e suas implicações. Módulo 4 Documentação Identificar os documentos elaborados pelos profissionais da Psicologia. Introdução Como saber se estamos sendo éticos no exercício da nossa profissão? O que irá nortear a nossa prática? Afinal, o que é a ética profissional? Um ponto essencial a ser esclarecido de antemão é que a ética diz respeito aos conhecimentos que chegam até nós por meio da investigação do comportamento humano. Na busca do exercício ético, as profissões contam com códigos que buscam estabelecer padrões de conduta exemplares para determinada classe. No caso da Psicologia, mais que estabelecer um padrão técnico de conduta, o Código de Ética do psicólogo é um importante instrumento político que visa atender às necessidades da sociedade. Vale destacar que tendo em vista que a própria sociedade promove a relevância das práticas psicológicas, ela permite ancorar e demarcar o espaço de atuação da Psicologia como ciência e profissão. Portanto, neste conteúdo discutiremos a forma como se deu a construção do Código de Ética da Psicologia no Brasil, assim como seu funcionamento ao orientar as práticas dessa profissão. Essa base inicial nos permitirá entender os instrumentos que pautam e orientam as práticas e responsabilidades individuais e coletivas acerca das ações e suas consequências no exercício profissional da Psicologia. 1 - Conduta ética na prática pro�ssional Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a importância da conduta ética na prática pro�ssional do psicólogo. Ética ou moral? Neste momento vamos conhecer um pouco sobre a normatização da profissão e as principais regulamentações da atuação do psicólogo. Vamos juntos descobrir o que a categoria profissional e a sociedade esperam como ação e resposta de nós. Com base na concepção de Chauí (1995), temos: Ética Significa a filosofia moral que possibilita a reflexão, a discussão, a problematização e a interpretação do significado dos valores morais. Ela nos permite refletir sobre as normas e valores que orientam as atitudes e comportamentos humanos. Moral Fala sobre a aplicação desses conhecimentos no dia a dia, que podem ser manifestados na profissão, na empresa ou em situações mais abrangentes como os comportamentos que guiam a nossa sociedade. Com isso, você pode estar se perguntando: “Mas como o psicólogo se insere em toda essa dinâmica? Afinal de contas, ele lida com a ética ou com a moral?”. A resposta para essas perguntas é bem complexa, pois, em nossa prática profissional, nos diferentes contextos em que nos encontrarmos, vamos nos deparar com sujeitos e instituições que preservam seus valores, padrões e convicções (a moral), porém, nunca estaremos no papel de julgadores da moral, do que é bem e mal, certo e errado, pois, na nossa prática, esse papel ético deve ser encarado pelo próprio indivíduo, de forma reflexiva. Não cabe ao psicólogo, portanto, determinar o que é certo e errado, ou o que pode e não pode ser feito. A ética, portanto, se constitui na reflexão crítica sobre a moral. Isso pressupõe pensar a respeito do que se faz, bem como repensar os costumes, as normas e as regras vigentes na sociedade, mas sem imposições unilaterais. A Psicologia, então, deve superar essas dicotomias e avançar na investigação do sentido e do significado desses padrões (em outras palavras, a ética), mas não determiná-los, priorizando a integridade e o respeito pelo humano. Com isso, por mais que esteja atravessada pela moral, a Psicologia trará consigo uma atitude ética e respeitosa. E o que é ética na profissão? A ética profissional pode ser entendida como uma codificação, ou seja, é elencado um conjunto de regras e atividades que norteiam as práticas profissionais. Esse instrumento é comumente nomeado de Código de Ética profissional e visa organizar e regulamentar os padrões sociais e técnicos de determinada categoria de especialistas. Dessa forma, o trabalho técnico e social do psicólogo deve estar baseado nas normas e modos de conduta estabelecidas no Código de Ética da profissão. A ética no Código de Ética O Código de Ética do psicólogo está em sua terceira reformulação e foi instituído em 2005 pela Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) nº 010/2005. Ele foi elaborado de forma colaborativa por meio de um amplo processo de construção coletiva e democrática que retratava a época social vivida pelo país, na qual a história da Psicologia se modificava de acordo com as mudanças sociais da nação. Basicamente, esse novo Código de Ética do psicólogo traz como discussão dois pontos fundamentais na atuação profissional: Os limites colocados à ação do profissional em sua relação com o usuário, para que a atividade profissional seja realizada sem causar prejuízos nem ao psicólogo nem ao usuário do serviço psicológico. A representatividade acerca do significado e reconhecimento social da profissão, além da orientação sobre a intervenção da Psicologia na sociedade. Sendo assim, o Código de Ética leva o psicólogo a refletir sobre as suas responsabilidades, não apenas em suas práticas de trabalho individuais, mas também em suas responsabilidades para com o desenvolvimento e o estabelecimento da profissão. Os princípios fundamentais do Código de Ética do psicólogo É necessário que a atuação do psicólogo seja embasada em sete princípios fundamentais descritos no Código de Ética profissional e que são transversais às atividades descritas como de sua responsabilidade (CFP, 2005, p.7): I. “O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II. O i ól t b lh á i d úd lid d d id d d O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. Pautadas nesses princípios são descritas mais de 70 condutas que norteiam o profissional no exercício da profissão. Mas embora o Código de Ética seja bem claro e explicativo em suas orientações, é comum, muitas vezes, os profissionais se depararem com situações que os fazem refletir sobre sua prática em contraposição com o que está normatizado no Código. Saiba mais Vale ressaltarque o Código de Ética tem como princípio geral se instituir como um instrumento de reflexão que visa nortear e não estabelecer condutas entre os psicólogos e suas relações com a ciência, a sociedade e a profissão. O que fazer? Como fazer? Qual o meu papel na sociedade como profissional da Psicologia? Todos esses questionamentos nos permitem construir a Psicologia ciência e profissão, e o Código de Ética deve estar alinhado com as mudanças e necessidades sociais. Portanto, cabe a todo psicólogo conhecer, além do Código de Ética, também as resoluções, leis e decretos, ou seja, toda a legislação da profissão, verificando se essa cumpre seu papel político e social, pois esses documentos devem garantir que as práticas estejam adequadas aos valores da sociedade e pautadas no respeito aos direitos fundamentais do ser humano. Baseadas no Código de Ética da profissão, todas as resoluções, notas técnicas, cartilhas e demais documentos elaborados pelo CFP abordam contextos específicos da atuação do psicólogo. Dica VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.” É importante que os profissionais estejam sempre atualizados em relação à variedade de documentos, pois eles são modificados constantemente, reafirmando o caráter dinâmico, colaborativo e transformador da Psicologia como profissão. A Psicologia visa atender às necessidades sociais e políticas, o que demonstra a sensibilidade dos sistemas de Conselho (Federais e Regionais) às demandas da categoria e da sociedade. Dentre essas documentações podemos exemplificar: Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na atenção básica à saúde. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na rede de proteção às crianças e adolescentes em situação de violência sexual. Nota técnica sobre a Resolução nº 1, de 22 de março de 1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão de orientação sexual. Nota orientativa sobre ensino da avaliação psicológica em modalidade remota no contexto da pandemia da covid-19 17/11/2020. Cartilha de boas práticas para avaliação psicológica em contextos de pandemia. Ao analisarmos os exemplos anteriores, podemos verificar o sistema ético proposto, no qual se preconiza uma atuação profissional engajada social e politicamente no mundo, e não um profissional a serviço exclusivo do indivíduo. Embora o Código seja o pilar que norteia a atuação profissional, muitos psicólogos nem sempre cumprem suas orientações, assim como ocorre em todos os campos de atuação profissional. Comentário Os comportamentos questionáveis desses colegas acabam por fazê-los utilizar os conhecimentos proporcionados pela Psicologia para benefício próprio em detrimento do bem-estar social. São inúmeras as denúncias de situações antiéticas registradas e vivenciadas, tais como atitudes de desrespeito e desconfiança aos pares e à sociedade, o que acaba por desmerecer a atuação profissional de psicólogos e enfraquecer a classe de um modo geral. A responsabilidade social do psicólogo, sua atuação pro�ssional e relação com o Código de Ética A especialista Susy Rocha reflete a seguir sobre o papel do psicólogo em atender às necessidades sociais e políticas no Brasil e no mundo, relacionando documentações do CFP com o Código de Ética do psicólogo. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Aprendemos que ética se constitui na reflexão crítica sobre a moral, o que nos leva a pensar a respeito do que se faz e a repensar os costumes. Ainda refletindo sobre o conceito de ética, marque a alternativa correta: A A ética e a moral orientam os comportamentos humanos tanto a partir da reflexão sobre as normas quanto na aplicação desses conhecimentos no dia a dia da profissão. B Ética é um conjunto de regras imutáveis que devem ser seguidas para se manter um bom relacionamento social. Parabéns! A alternativa A está correta. A ética se constitui na reflexão crítica, o que pressupõe pensar a respeito do que se faz, bem como repensar os costumes, as normas e as regras vigentes na sociedade, porém, sem imposições unilaterais, pensando no benefício individual sem ferir os costumes e as condutas sociais. Questão 2 O Código de Ética é um instrumento no qual é listado um conjunto de regras e atividades que norteiam as práticas profissionais. Sobre a função do Código de Ética do psicólogo podemos afirmar que: C Ao pensarmos em ética, podemos dizer que ela vai de encontro ao benefício próprio, pois é pautada no benefício social. D É o conjunto de princípios de uma sociedade que visa manter os padrões e as tradições. E Trata exclusivamente da reflexão sobre os deveres das pessoas contidos nos códigos específicos dos grupos sociais e profissionais. A O Código de Ética tem como função ditar os comportamentos e atuações dos profissionais de Psicologia de modo que todos possam atuar da mesma forma. B É o único instrumento que regulamenta os padrões a serem seguidos pelos profissionais da categoria. C Se caracteriza como uma orientação que não precisa ser cumprida, pois ele apenas norteia, portanto, o profissional deve usar da sua moral e bom senso para direcionar sua atuação. Parabéns! A alternativa D está correta. O Código de Ética tem como princípio geral se instituir como um instrumento de reflexão que visa nortear, e não estabelecer, condutas entre os psicólogos e suas relações com a ciência, sociedade e profissão. Além do Código, outros documentos como as resoluções, as notas técnicas e as cartilhas são orientativos e regulamentam as ações dos psicólogos. 2 - Conselhos de Psicologia nas esferas Regionais e Federal D É um instrumento de reflexão que visa nortear de forma dialógica as condutas entre os psicólogos e suas relações com a ciência, sociedade e profissão, de modo geral. E O Código de Ética se baseia em orientar a atuação do profissional. É um documento técnico que não deve sofrer influências políticas e sociais para que a categoria não perca seu foco. Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as interlocuções inerentes aos Conselhos de Psicologia nas esferas Regionais e Federal, bem como suas atribuições e funcionamento. Atuações do Conselho Regional e Conselho Federal de Psicologia Você sabe quando foi regulamentada a profissão de psicólogo no Brasil? Falamos sobre os Conselhos de Psicologia. Você sabe qual a função deles? 1962 A profissão de psicólogo foi regulamentada pela Lei nº 4.119, em 27 de agosto de 1962 (BRASIL, 1962), razão pela qual o seu dia é comemorado nessa data anualmente. 1971 No entanto, somente nove anos mais tarde é que foram criados e regulamentados o Conselho Federal Psicologia (CFP) e seus Conselhos Regionais, oficializados pela Lei Federal nº 5.766 (BRASIL, 1971). 1977 Mais tarde, com o Decreto nº 9.822, de 17 de junho de 1977 (BRASIL, 1977) que regulamenta a Lei nº 5.766, ficaram, por fim, determinadas as finalidades do Conselho Federal de Psicologia. Os Conselhos Regionais e o Federal são autarquias, ou seja, realizam funções que lhes são atribuídas pelo Estado brasileiro. Eles se destinam a orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo, e realizam, entre outras atividades, as funções de expedir resoluções necessárias ao cumprimento das leis em vigor, de funcionar como tribunal superior de ética profissional e de zelar pelo exercício da profissão, orientando, disciplinando e fiscalizando. (BRASIL, 1971) Autarquias Entidades que cumprem a função de administrar e fiscalizar as atividades de uma classe profissional que precisa de regulamentação para exercer as atribuições que lhe competem. Dessa forma, os Conselhos funcionam como um tipo de mediação entre a Psicologia e a sociedade. Nesse contexto, mais adiante, discutiremoscada uma de suas atribuições, trazendo para a prática e contextualizando com a atuação profissional do psicólogo. Atenção! Os Conselhos orientam a profissão por meio das resoluções, do Código de Ética profissional e do Código de Processamento Disciplinar, definindo parâmetros para a atuação profissional do psicólogo. Como forma de gerenciar o funcionamento do Sistema Conselhos de Psicologia, foram criadas determinadas instâncias deliberativas em âmbito nacional e regional. Veja: Nessa esfera, podemos citar o Congresso Nacional da Psicologia (CNP), que é realizado a cada três anos e nos períodos de eleições. Em continuidade, semestralmente são realizadas a Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (APAF), com a presença de representantes de todos os Conselhos Regionais e Federal, o Plenário e a Diretoria do CFP. Esfera Nacional Nas esferas regionais, o Congresso Regional de Psicologia (COREP) é realizado a cada três anos, enquanto as Assembleias Gerais são convocadas pelo menos uma vez a cada ano. Vale lembrar que o Plenário é restrito ao âmbito da jurisdição do Regional. O planejamento das atividades do CFP e dos Conselhos Regionais é feito com base nas discussões e decisões do Congresso Nacional de Psicologia, quando são aprovadas diretrizes sobre a estrutura funcional dos Conselhos, bem como os princípios que deverão nortear seus trabalhos. Os Conselhos Regional e Federal de Psicologia são os agentes que regem a orientação, fiscalização e legislação da atuação profissional dos psicólogos. Dessa forma, cabe a eles sancionar, defender e informar as ações práticas da profissão de maneira ética e moral, pautadas na legitimação e nas comprovações científicas. Os Conselhos, juntamente com as instituições acadêmicas, exercem um diálogo contínuo acerca do processo de formação de psicólogos e do exercício profissional. Saiba mais As atividades do CRP são garantidas pelo trabalho de funcionários e conselheiros eleitos, em número proporcional ao de psicólogos inscritos no Conselho, para mandatos de três anos. A chapa eleita é responsável pelas decisões políticas voltadas para a efetivação do Plano de Trabalho da Gestão. Como você pôde observar até aqui, os Conselhos atuam ativamente na orientação, disciplina e fiscalização do profissional da Psicologia. Vale ressaltar que essa relação entre eles e as instituições tem o objetivo de promover enlaces e o máximo alcance no aproveitamento dos espaços para pesquisas, esclarecimentos acerca da inserção do profissional no mercado de trabalho, fomentar a elaboração de estratégias e metas, identificar os meios e os recursos para a inserção do psicólogo na comunidade, bem como esclarecer a população e os profissionais de Psicologia sobre o papel, importância e funcionalidade de se ter psicólogos inseridos nos mais diversos contextos sociais. Atendimento psicológico. Esfera Regional Conselho Federal de Psicologia (CFP) O Conselho Federal de Psicologia (CFP) é uma autarquia de direito público, com autonomia administrativa e financeira, cujos objetivos, além de regulamentar, orientar e fiscalizar o exercício profissional, são pautados em promover espaços de discussão sobre os grandes temas da Psicologia que levem à qualificação dos serviços profissionais prestados por essa categoria à sociedade. Órgão central do Sistema Conselhos, o CFP tem sede e foro no Distrito Federal e jurisdição em todo o território nacional. É importante discutirmos acerca das principais atribuições do Conselho Federal de Psicologia e, para tais fins, o esquema a seguir, baseado na Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971, esquematiza suas atribuições e práticas fundamentais previstas por lei: Elaborar seu regimento e aprovar os regimentos organizados pelos Conselhos Regionais. Orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo. Expedir as resoluções necessárias ao cumprimento das leis em vigor e das que venham a modificar as atribuições e competência dos profissionais de Psicologia. Definir nos termos legais o limite de competência do exercício profissional, conforme os cursos realizados ou provas de especialização prestadas em escolas ou institutos profissionais reconhecidos. Elaborar e aprovar o Código de Ética profissional do psicólogo. Funcionar como tribunal superior de ética profissional. Servir de órgão consultivo em matéria de Psicologia. Julgar em última instância os recursos das deliberações dos Conselhos Regionais. Publicar, anualmente, o relatório de seus trabalhos e a relação de todos os psicólogos registrados. Expedir resoluções e instruções necessárias ao bom funcionamento do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais, inclusive no que tange ao procedimento eleitoral respectivo. Aprovar as anuidades e demais contribuições a serem pagas pelos psicólogos. Fixar a composição dos Conselhos Regionais, organizando-os à sua semelhança e promovendo a instalação de tantos Conselhos quantos forem julgados necessários, determinando suas sedes e zonas de jurisdição. Propor ao Poder competente alterações da legislação relativa ao exercício da profissão de psicólogo. Promover a intervenção nos Conselhos Regionais, na hipótese de sua insolvência. Dentro dos prazos regimentais, elaborar a proposta orçamentária anual a ser apreciada pela Assembleia dos Delegados Regionais, fixar os critérios para a elaboração das propostas orçamentárias regionais e aprovar os orçamentos dos Conselhos Regionais. Elaborar a prestação de contas e encaminhá-la ao Tribunal de Contas. Dentre as atribuições do CFP encontram-se a elaboração de regimentos voltados aos Conselhos Regionais, supervisionando sua atuação em nível territorial. Outra função importante diz respeito à orientação, disciplina e fiscalização do exercício profissional dos psicólogos quanto ao Código de Ética e prática profissional. Dentro do CFP, temos a Comissão de Orientação e Ética e a Comissão de Orientação e Fiscalização. Vamos ver qual a função de cada uma delas: Comissão de Orientação e Ética (COE) Na fiscalização do exercício profissional, a Comissão de Orientação e Ética (COE) tem como responsabilidade instruir os novos profissionais a como agirem administrativamente em relação à prática profissional e o que se tem previsto pela categoria no Código de Ética. Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) Existe também a Comissão de Orientação e Fiscalização (COF), que recebe denúncias de usuários da Psicologia sobre práticas inapropriadas e afins que podem abrir processos devido a condutas profissionais inadequadas. Os Conselhos fiscalizam conforme o Código de Ética da profissão e de acordo com diversas resoluções que complementam e definem parâmetros para as práticas dos psicólogos. Como já estudamos, tais resoluções são fruto de demandas e debates que ocorrem na sociedade, levados à discussão pela categoria e seu exercício profissional. As diversas demandas e assuntos do momento passam a ser sistematizados e, ao chegarem, por fim, ao CFP, podem se tornar resoluções. Conselho Regional de Psicologia (CRP) O Conselho Regional de Psicologia é uma autarquia de direito público com a finalidade de orientar, disciplinar, fiscalizar e regulamentar o exercício da profissão de psicólogo em âmbito regional. Entre suas atribuições estão o zelo pela fiel observância dos princípios éticos e a contribuição para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão. Saiba mais Os Conselhos devem atuar na complexidade e totalidade da atuação da categoria. Desse modo, é de suma importância que eles, as instituições acadêmicas e, especialmente, os profissionais independentes, possam firmar uma ação conjunta e progressiva para o aperfeiçoamento da profissão, bem como estimular e tornar o profissional de Psicologia um agente propenso à mudança e à inovação, e não apenas um propagador de conhecimentos técnicos e científicos. Portanto, os Conselhos devem participar ativamente nas lutas sociais da categoria, de modo queé de suma importância que se tenha uma inserção ética da profissão e que se comprometa com o aperfeiçoamento desses profissionais, docentes, privados ou liberais, com as instituições que ofertam os cursos de graduação, e com melhores condições de trabalho e remuneração. Os Conselhos devem estar atentos para a integração dialética entre estudante, docente e profissional, bem como para a integração entre ciência, técnica e arte ou conhecimento, pesquisa e aplicação, para que se possa desenvolver a Psicologia em todas as suas vertentes. Vejamos agora o papel dos Conselhos Federal e Regional. Para isso, devemos pautar a atuação dos Conselhos em quatro vertentes: a política, a de regulamentação, a de orientaçãoefiscalização e a de formaçãoe aperfeiçoamento do psicólogo. Ressalta-se também a vertente que trata da relação entre Política e Psicologia, bem como o papel político da Psicologia e como ela se depara com as questões psicossociais, dissociando-se do papel social do psicólogo, cujo objetivo trata da promoção de saúde e bem-estar dos sujeitos e da comunidade. Vamos ver como cada uma das quatro vertentes atua. Acompanhe a seguir: No que que diz respeito à vertente política, os Conselhos devem engajar, articular e promover discussões sobre o desenvolvimento de uma consciência ética da profissão, bem como serem os principais responsáveis por zelar pela ética na atuação do psicólogo. Eles devem também promover o estabelecimento de vínculos e parcerias com os órgãos do Poder Legislativo. Essa aproximação com as jurisdições propiciará algumas conquistas para a categoria profissional, além dos acessos aos âmbitos educacionais, do trabalho e da saúde. Ela também promoverá a implementação de programas e ações sociais apropriadamente embasados, respaldados tanto pela categoria quanto pela ciência psicológica. Por esse motivo, o psicólogo deve assumir o seu papel como um agente Vertente política transformador da realidade. Para isso, é fundamental que o processo de formação desse futuro profissional seja comprometido com o dever ético. Ao entramos na vertente da regulamentação vamos tratar do Conselho como agente legislador sobre o exercício da profissão e como garantidor do cumprimento dessa legislação. Em outras palavras, esse é o órgão responsável pelo processo de se fazer cumprir a lei e o Código de Ética, visto que a principal finalidade dessa vertente é de regulamentar a organização, bem como de estabelecer um quadro profissional acessível e relevante. A vertente de orientação e fiscalização corresponde às principais atribuições dos Conselhos, de modo que as funções de orientação e fiscalização sejam inseparáveis. Recomenda-se a função de orientação por uma questão preventiva e elucidativa, além de conseguir estabelecer um parâmetro sobre o que se trata a Psicologia, promovendo esclarecimentos sobre esse campo. Como já mencionado, grande parte da classe profissional dos psicólogos desconhece e/ou não compreende as prerrogativas necessárias de seus órgãos legisladores. A vertente da formação e aperfeiçoamento do psicólogo deve ser priorizada, pois não se pode separar a formação do exercício profissional. Ambos dependem um do outro e, se os Conselhos não se preocuparem com a orientação e a supervisão da formação do futuro psicólogo, basicamente se esquivarão de seu compromisso ético, reforçando uma ideia dicotomizada, antiquada e contraditória da Psicologia. Diante disso, deve-se acompanhar a formação e a iniciação profissional do psicólogo, bem como a abertura e o fechamento de cursos de graduação nessa área. De acordo com os encaminhamentos do Congresso Nacional Constituinte da Psicologia, as ações do Conselho deveriam se pautar em alguns direcionamentos. São eles: Assim, fica evidente que é da competência dos Conselhos de Psicologia conduzir e averiguar as atividades desenvolvidas e relacionadas à difusão da prática profissional privativa do psicólogo.Compromisso social da Psicologia no âmbito da transformação da realidade nacional; Vertente da regulamentação Vertente de orientação e fiscalização Vertente da formação e aperfeiçoamento do psicólogo Compromisso científico do psicólogo, com vistas à produção e disseminação do conhecimento; Compromisso com a interdisciplinaridade em relação à integração e articulação dos valores e conhecimentos da Psicologia com as demais áreas; Compromisso com a qualificação dos responsáveis pela formação de novos profissionais; O entendimento de que a formação do psicólogo deve ser consistente e abrangente; Compromisso com uma formação que envolva um posicionamento ético e político, inserindo o profissional nas discussões sociais, no âmbito da organização da categoria e de uma postura de cidadania; A ideia de que o processo de formação deve ser o de construção do conhecimento e de atitude científica, aqui entendida a partir de uma ampliação do próprio conceito de ciência; A ênfase numa formação generalista, que contemple a interdisciplinaridade, as demandas e relações sociais e a diversidade da atuação profissional; Assim, fica evidente que é da competência dos Conselhos de Psicologia conduzir e averiguar as atividades desenvolvidas e relacionadas à difusão da prática profissional privativa do psicólogo. Exemplo Esse é o caso dos métodos e técnicas psicológicas, incluindo os cursos de formação, treinamentos ou especialização na área da Psicologia, sejam eles organizados e ministrados por profissionais liberais (pessoas físicas) ou por meio de pessoas jurídicas (instituições, clínicas, institutos, núcleos, centros de estudos ou outros). Também se enquadram nessa lista os cursos que se ocupam de técnicas psicológicas (em especial os que lidam com testes projetivos, de personalidade etc.). O principal contexto do qual os Conselhos devem se encarregar é o de promover a integração entre a práxis, a formação do psicólogo e a pesquisa, seja ela acadêmica ou científica. Os direcionamentos que pautam as ações dos conselhos A especialista Susy Rocha aborda a seguir os diversos direcionamentos que pautam as ações dos conselhos. Vamos lá! Fiscalizações e penalidades Agora que você chegou até aqui, com certeza já conhece um pouco mais sobre a atuação dos Conselhos e sua territorialização, entende seus objetivos, atribuições e como atuam nas localidades em âmbito Federal e Regional. Contudo, é possível que você esteja neste momento se perguntando: “Caso o profissional infrinja alguma conduta ética ou não siga as resoluções estabelecidas pelo CFP, o que pode acontecer com ele?”. Ou então: “Caso o cidadão se sinta lesado pela atuação profissional de psicólogos, ele pode encaminhar denúncias? Como se faz isso?”. Resposta Qualquer cidadão pode fazer uma queixa aos Conselhos pelo site e pelos telefones disponíveis, inclusive de forma anônima. Todas as denúncias prestadas são passiveis de punições, sejam elas faltas disciplinares e infrações ao Código de Ética profissional do psicólogo ou a quaisquer resoluções, e podem ser apuradas em todo o âmbito nacional. O CFP se encarrega dos julgamentos de processos éticos e todas as representações devem ser repassadas primeiramente ao CRP. Para a realização de uma denúncia, essa representação segue o art. 59 do Código de Processamento Disciplinar e será processada pelo presidente do respectivo Conselho mediante documento escrito e assinado. Quais são as informações que devem constar nessa representação? Veja: Nome e quali�cação do representante. Agora que você já conhece como ocorre a representação de um processo disciplinar ético, saiba que os procedimentos posteriores tomam como base a Resolução 11/2019 do CFP, por meio da qual, em seguida, ocorrerá a apuração dos fatos pelo Conselho Regional de Psicologia. A partir dos dados obtidos, o processo disciplinar ético poderá ser arquivado ou instaurado. Vale lembrar que todo conteúdo do processo deverá possuir um carácter sigiloso, permitindo o acesso aos autos apenas às partes e respectivosprocuradores. Observação: A Resolução 11/2019 revoga a Resolução CFP nº 006/2007, bem como todas as demais disposições em contrário. São exemplos de processos éticos: Procedimento ético-disciplinar; recurso de processo administrativo; irregularidade em avaliação psicológica, dentre outras posturas inadequadas do profissional da Psicologia; conivência com violação de direitos humanos; divulgação profissional indevida; queixa contra mau atendimento; ofensa do psicólogo ao paciente durante atendimento; maus-tratos a crianças e a adolescentes; facilitação do exercício ilegal da profissão; perturbação da ordem no local de trabalho, causando prejuízo a terceiros; associação da prática psicológica à religiosidade; falsificação de documentos; Nome e quali�cação do representado. Descrição circunstanciada do fato. Indicação dos meios de prova de que pretende o representante se valer para provar o alegado. facilitação de aplicação de testes psicológicos por não psicólogos; clínicas com irregularidades na prestação de serviços de Psicologia. (ZAIA, 2018, p. 14) Agora que já conhece os principais processos éticos, você deve estar se perguntando: “E quanto às penalidades? Quais são elas?”. Conforme o art. 21 do Código de Ética profissional do psicólogo, são passíveis de cinco opções. São elas: advertência, multa, censura pública, suspensão do exercício profissional por até 30 (trinta) dias e até mesmo a cassação do exercício profissional. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os Conselhos Regional e Federal de Psicologia são os agentes que regem a orientação, fiscalização e legislação da atuação profissional dos psicólogos. Com base nessa informação, analise as proposições acerca da atuação dos Conselhos e assinale a alternativa correta. A Cabe somente ao CFP orientar e disciplinar o exercício da profissão, e ao CRP a fiscalização dos princípios éticos. B A função dos CRPs é de orientar, supervisionar e disciplinar o exercício da profissão de psicólogo em todo o território nacional. C Os Conselhos devem auxiliar o Poder Legislativo a sancionar, defender e informar as ações práticas da profissão de forma ética e moral pautadas na legitimação e em comprovações científicas. Parabéns! A alternativa D está correta. Todos os Conselhos, tanto o Federal quanto os Regionais, devem orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão, porém, cabe ao Federal supervisionar e disciplinar o exercício em âmbito nacional. É necessário que os Conselhos criem ligações com as instâncias governamentais com a finalidade de propiciar melhores esclarecimentos acerca da inserção do profissional de Psicologia nas áreas da saúde, educação e trabalho. Sendo assim, o CFP promove encontro e espaços para que sejam discutidos temas ligados à Psicologia em benefício da qualificação, desenvolvimento e atuação das práticas psicológicas. Questão 2 Quanto ao papel dos Conselhos, vimos quatro vertentes que norteiam sua atuação. São elas: a vertente política, a vertente de regulamentação, a vertente de orientação e fiscalização e a vertente de formação e aperfeiçoamento do psicólogo. Sobre elas, assinale a alternativa correta: D O CFP tem o objetivo de regulamentar, orientar e fiscalizar o exercício profissional, além de promover espaços de discussão sobre os grandes temas da Psicologia que levem à qualificação dos serviços profissionais prestados pela categoria à sociedade. E É dever somente dos CRPs promover espaços de discussão sobre os grandes temas da Psicologia que levem à qualificação dos serviços profissionais prestados pela categoria à sociedade. A A vertente de orientação e fiscalização se refere ao regimento das questões psicossociais, dissociando-se do papel social do psicólogo, que se caracteriza pela promoção da saúde e do bem-estar dos sujeitos e da comunidade. B Cabe à vertente da regulamentação, ao se vincular à orientação e à supervisão da formação do psicólogo, apenas realizar o acompanhamento do exercício da profissão. C A vertente da regulamentação refere-se ao agente legislador sobre o exercício da profissão, ou seja, ao processo de se fazer cumprir a lei e o Código de Ética, visto que a Parabéns! A alternativa C está correta. A vertente política se refere à relação entre política e Psicologia, ao papel político da Psicologia e como ela se depara com as questões psicossociais. Essa vertente também diz respeito à aproximação da Psicologia das jurisdições públicas para que ela tenha acesso aos âmbitos educacionais, de trabalho e de saúde para implementar programas e ações sociais. Cabe à vertente de formação e aperfeiçoamento manter a conexão entre a formação e o exercício profissional. Diante disso, deve-se acompanhar a formação e a iniciação profissional, bem como a abertura e o fechamento de cursos de graduação nessa área. A vertente de orientação e fiscalização corresponde às principais atribuições dos Conselhos, de modo que as funções de orientação e fiscalização são inseparáveis. Recomenda-se favorecer o papel de orientação por uma questão preventiva e elucidativa. finalidade dessa vertente é normalizar a organização, bem como estabelecer um quadro profissional acessível e relevante. D A vertente política está, por sua vez, associada às questões políticas envolvidas no acompanhamento da formação e da iniciação profissional, bem como da abertura e do fechamento de cursos de graduação em todo o território brasileiro. E Segundo as vertentes, os Conselhos não devem estabelecer vínculos com os órgãos públicos e nem aproximação com as jurisdições devido aos retrocessos que isso pode trazer para a categoria profissional, além de promover barreiras aos âmbitos educacionais, do trabalho e da saúde. 3 - Dilemas éticos na prática do pro�ssional Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar os diferentes dilemas éticos inseridos na prática do pro�ssional da Psicologia e suas implicações. Situações éticas críticas na prática do psicólogo Agora que entendemos sobre o Código de Ética do psicólogo e como se dá todo o processo de fiscalização pelos Conselhos, vamos abordar alguns dilemas éticos inerentes à prática do profissional da Psicologia. Discutiremos algumas situações pelas quais nenhum psicólogo está isento de passar. Como saber se estamos sendo éticos dentro da nossa profissão? O que irá nortear nossa prática? Afinal, o que é a ética profissional? O Código de Ética do profissional de Psicologia visa estabelecer padrões esperados em relação às práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procurando fomentar a autorreflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua prática profissional, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas consequências no exercício profissional. No Código, você encontrará os deveres fundamentais do psicólogo; as orientações daquilo que nos cabe no coletivo e no individual; bem como a recomendação de que devemos manter a postura da Psicologia como ciência e profissão. Saiba mais No Código, você encontrará os deveres fundamentais do psicólogo; as orientações daquilo que nos cabe no coletivo e no individual; bem como a recomendação de que devemos manter a postura da Psicologia como ciência e profissão. Você sabia que grande parte das faltas e denúncias éticas que a nossa classe recebe é por simplesmente não seguir o Código de Ética? É curioso notar que a maior frequência de denúncias se refira à inobservância dele pelos próprios psicólogos, o que nos remete a uma pergunta: será que o que falta é o conhecimento do Código de Ética ou o problema é que não existe uma interpretação adequada dele, encarando-o como uma lista normativa obrigatória de conduta e não como um meio reflexivo no cotidiano do exercício da nossa profissão e do cuidado com o outro? Ao fazermos esse questionamento, precisamos entender que o Código não serve somente para nos dar respaldo, mas tambémpara fomentar reflexões sobre uma Psicologia engajada, ética, plural e acolhedora. Assim, juntos podemos contribuir para uma reflexão sobre a qualidade da prática profissional do psicólogo a partir do Código de Ética. Princípios fundamentais e responsabilidades gerais do psicólogo Para uma melhor compreensão, vale destacar alguns pontos que norteiam fortemente o nosso cotidiano profissional dentro do Código de Ética do psicólogo. Veja: Todos esses pontos foram retirados do Código de Ética profissional do psicólogo (2005). Não tem sentido apresentarmos o Código aqui na íntegra, com todos os seus artigos, princípios ou parágrafos. No entanto, achamos pertinente destacar alguns pontos básicos dele que passarão a ser usados como fundamentos na discussão de dilemas éticos que serão apresentados a seguir. Na prática da Psicologia (seja na clínica, nas empresas, na justiça etc.), podemos nos deparar com questões e dilemas éticos relacionados ao sigilo profissional, às técnicas e instrumentos psicológicos, aos documentos psicológicos, à relação profissional e ao vínculo, e às convicções filosóficas e morais. Nesses momentos, é importante termos respaldo de como agir e por que agir, de forma que nossa atuação seja respeitosa, assertiva e íntegra. Todos esses pontos foram retirados do Código de Ética profissional do psicólogo (2005). Não tem sentido apresentarmos o Código aqui na íntegra, com todos os seus artigos, princípios ou parágrafos. No entanto, achamos pertinente destacar alguns pontos básicos dele que passarão a ser usados como fundamentos na discussão de dilemas éticos que serão apresentados a seguir. Destacamos, como um dos princípios fundamentais que aparecem no Código de Ética o de número 1, que ressalta que o psicólogo baseará o seu trabalho no respeito à dignidade e à integridade do ser humano. Nesse princípio, fica claro o compromisso do profissional de Psicologia com os valores relativos aos direitos humanos, que devem permear de forma contínua e consistente a prática profissional. Deveres e interdições O art. 1º do Código destaca os deveres fundamentais dos psicólogos, dos quais podemos ressaltar: Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. (CFP, 2005, p. 8) Nesse ponto fica evidente o compromisso que devemos assumir com a excelência e a qualidade dos serviços ofertados. O psicólogo precisa cuidar tanto da validade técnico-científica do seu trabalho como das condições em que oferece os seus serviços. Nesse mesmo artigo aparecem outros deveres, como o de que devemos também zelar para que o exercício profissional seja efetuado com a máxima dignidade, recusando e denunciando situações em que o indivíduo esteja correndo risco ou que o exercício profissional esteja sendo vilipendiado (CFP, 2005). Já o art. 2º destaca aquilo que é vedado ao psicólogo, do qual ressaltamos os seguintes pontos: Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais. (CFP, 2005, p. 9) Dessa forma, todo psicólogo deve se manter distante de qualquer movimento que procure determinar a ideologia, filosofia ou doutrina que deve ser seguida por um grupo num momento determinado. Não cabe ao profissional de Psicologia esse tipo de determinação e ele sempre deve realizar a sua prática de forma neutra e objetiva no que diz respeito a essas definições. Nesse mesmo artigo encontramos que é vedado interferir na validade e fidedignidade dos resultados de instrumentos e técnicas psicológicas, assim como fazer declarações falsas e dar atestado sem a devida fundamentação técnico-científica (CFP, 2005). O psicólogo deve se ater ao uso de técnicas com comprovação científica e apresentar os resultados de forma objetiva sempre de acordo com o que foi observado empiricamente, seguindo os princípios éticos e científicos no seu trabalho. Também é proibido estabelecer, com a pessoa atendida, relacionamentos pessoais que possam interferir negativamente nos objetivos do atendimento. Sigilo pro�ssional Sobre o sigilo profissional, temos: Art. 6º É expresso que o psicólogo garantirá o caráter confidencial das informações que vier a receber em razão de seu trabalho, bem como do material psicológico produzido. Art. 9º É considerada a importância do sigilo, pois ele protegerá o atendido em tudo aquilo que o psicólogo ouve, vê ou tenha conhecimento como decorrência do exercício da atividade profissional. Já no art. 10 é explicitado, como condição especial em relação à quebra do sigilo profissional: Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo. Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias. (CFP, 2005, p. 13) Vemos, assim, que o sigilo é muito importante na prática profissional do psicólogo, não apenas no setting psicoterápico, mas também em outros contextos, como em empresas, escolas, hospitais e outros. No entanto, o sigilo pode ser quebrado em casos em que fique comprovada que a integridade física dos envolvidos – paciente ou cliente e terceiros – pode correr perigo. No que diz respeito a denúncias em que as relações do psicólogo com instituições é o foco central, observa-se infrações diretamente ligadas aos casos em que o atendimento for realizado por psicólogo vinculado a trabalho multiprofissional numa clínica, empresa ou instituição ou a pedido de outrem, conforme podemos observar no art. 12. Saiba mais Nesses casos, só poderão ser dadas informações a quem as solicitou, a critério do profissional, dentro dos limites do estritamente necessário aos fins a que se destinou o exame. Exemplos de dilemas éticos Agora vamos analisar alguns exemplos cotidianos que podem acontecer nos mais diversos contextos, e que exigem cuidado da nossa parte para que não tomemos nenhuma atitude antiética. Os casos aqui citados são apenas alguns exemplos. Não é possível esgotarmos todas as diversas possibilidades de infrações ou dilemas que podem ser vistos na nossa prática profissional. Exemplo 1: O psicólogo não lhe explica sobre os objetivos e resultados do trabalho Isso pode acontecer quando não informamos ao indivíduo em um processo seletivo o porquê de ele responder determinado teste psicológico ou até mesmo quando aplicamos alguma intervenção em um grupo terapêutico. Curiosidade O psicólogo deve informar ao paciente ou instituição sobre os objetivos que se pretende atingir, o que e quais os pontos que pretende trabalhar. Mesmo que os objetivos mudem ao longo do processo, ou ainda que surjam novos objetivos, isso deve ser comunicado com clareza ao usuário dos nossos serviços. Além de informar a ele a finalidade e os resultados de possíveis testes, técnicas etc. Exemplo 2: O psicólogo está envolvido em situações que promovem discriminação ou preconceito Pode parecer óbvio este item, e você, como profissional em formação, vai pensar: “É claro que um psicólogo sabe que não pode praticar discriminação, desigualdade etc.” Sim, é fácil imaginar que todos os psicólogos estão cientes disso, mas existem muitas situações nas quais o preconceito aparece de forma velada, camuflada e nas quais também poderemos aparecer envolvidos indiretamente, especialmente quando somos coniventes com a situação. Um exemplo muito comum disso é o uso que se faz das redes sociais para expressar a sua “opinião pessoal” sobre os fatos. Saiba mais Mesmo que esteja fora de seu ambiente de trabalho,como já foi dito no início, o psicólogo deve, sim, tomar cuidado com a sua postura, que poderá trabalhar contra ou a favor dele. Como podemos indicar o trabalho de um colega da área se ele expressa opiniões preconceituosas por aí? E neste item cabem todos os tipos possíveis de preconceito: gênero, orientação sexual, idade, classe social, etnia, nível de escolaridade, entre outros. Comentário Precisamos lembrar do compromisso social que temos com o ser humano e a representação social que detemos em nossa sociedade. Isso a todo tempo vem exigindo de nós mesmos o exercício do autoconhecimento (terapia pessoal), estudos e postura reflexiva do impacto das nossas opiniões. Exemplo 3: O psicólogo tenta usar sua pro�ssão para induzir a determinadas convicções Precisamos ter bastante cuidado com esse exemplo, que pode acontecer de forma muito sutil, inclusive na prática clínica. O profissional de Psicologia é proibido, pelo Código de Ética, de usar sua profissão para induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito. Isso não quer dizer que o psicólogo não pode ter suas próprias opiniões, ter uma religião, ser a favor ou contra determinado candidato político, entre outras coisas, mas ele não deve tentar se aproveitar de seus conhecimentos psicológicos ou mesmo do exercício da sua profissão para convencer alguém a pensar como ele nesse sentido. Um exemplo disso pode ser verificado quando, em um setting terapêutico, manifestamos expressões faciais/corporais e emoções negativas, bem como proferimos discursos contrários ou que tentam convencer o cliente ou paciente daquilo que acreditamos ser o certo. Vamos ilustrar! Exemplo Um paciente/cliente informa que sua namorada está o traindo, mas que ainda assim a ama. Seria totalmente errado que, automaticamente, o psicólogo emitisse risos e sua expressão facial demonstrasse nojo ou algum tipo de desqualificação. Outra reação inadequada diante dessa situação seria se o psicólogo conduzisse o discurso de modo que seu cliente tomasse a decisão que, segundo o ponto de vista do psicólogo, é a mais adequada, ou seja, o término do relacionamento. Cuidado, nós não decidimos pelos nossos clientes, nem fazemos julgamentos morais. É o cliente o detentor de sua história e autônomo em suas decisões. Para isso, temos que estar em dia com a nossa própria terapia pessoal, com a leitura do Código e fazendo supervisão. Exemplo 4: O psicólogo expõe informações sigilosas ou realiza diagnósticos em meios de comunicação Informações sigilosas são sigilosas (mesmo!) e, portanto, se o psicólogo as divulga publicamente, está cometendo falta grave, e pode, inclusive, perder seu registro profissional. Por isso é importante, em nossa prática, realizarmos a construção de um contrato, seja na clínica ou em outros contextos, no qual fiquem claras as únicas situações especiais em que pode acontecer a quebra de sigilo (rever o art. 10 do Código). Quando isso ocorrer, é necessário fazer referência ao Código de Ética de modo a justificar o motivo dessa quebra de sigilo. As informações sigilosas provenientes de procedimentos utilizados com os pacientes e resultados de serviços psicológicos, quando divulgados em público, podem expor pessoas, grupos, organizações e outros. Essa divulgação é fortemente condenada. Realizar diagnósticos em meios de comunicação também é falta grave, pois isso deve ser feito no sigilo do setting terapêutico e com base em todo um processo de análise. É lógico que o psicólogo pode dar entrevistas e dizer sua opinião sobre determinados assuntos, até mesmo como uma forma de disseminar os conhecimentos sobre a Psicologia como ciência e profissão, mas desconfie quando vir aquele psicólogo na TV fornecendo um diagnóstico ou revelando resultados de testes psicológicos (muitas vezes de alguém que ele nem sequer atendeu ou tem conhecimento suficiente sobre seu histórico). Atenção! Lembre-se de que no atendimento a pessoas menores de 18 anos precisamos alinhar com o paciente e seus responsáveis as condições de quebra de sigilo, bem como a assinatura de um termo de consentimento e um de assentimento. Existem outras situações que poderiam ser citadas aqui, mas a ideia é estimular nos nossos leitores uma postura crítica e reflexiva que permita ler e conhecer o Código de Ética de uma maneira dinâmica. Dessa forma, convidamos você a acessar e imprimir o Código de Ética do psicólogo no site do CFP, mantendo-o em lugar acessível para consulta durante a sua prática, especialmente durante os estágios básicos e específicos da sua formação. Situações éticas críticas na prática do psicológo Está na hora de falarmos sobre o comportamento esperado do psicólogo em situações éticas críticas, na prática. Com a palavra, a especialista Susy Rocha! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Um profissional de Psicologia divulga um curso cujo objetivo é demonstrar as atualizações da Psicologia do Trabalho, bem como novos testes que se baseiam na Astrologia para caracterizar o perfil psicológico, a fim de subsidiar a tomada de decisão do perfil mais adequado para cada cargo. Diante do exposto, questiona-se se essa é uma atitude que está ou não consoante com a postura ética do profissional de Psicologia. Parabéns! A alternativa D está correta. A solução desta questão deve ter por referência os princípios fundamentais estabelecidos no Código de Ética profissional do psicólogo, como, por exemplo: “o psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural” (CFP, 2005, p. 7). A Caracteriza-se como uma postura ética, pois a atitude do profissional é de ampliar o leque de habilidades do psicólogo que atua no contexto organizacional. B A opinião da maioria do grupo, uma vez que o psicólogo deve assumir um posicionamento democrático e conciliatório, zelando pela resolução dos conflitos nos grupos em que trabalha. C Os temas relativos ao campo da Psicologia, como a promoção da dignidade do ser humano, o contexto político e social, a promoção da saúde das coletividades e a eliminação da violência. D A defesa do campo da Psicologia, beneficiando, portanto, o projeto que promova a prática da Psicologia, independentemente de suas outras características ou das características do projeto com o qual concorre. E Os critérios circunscritos pelos saberes produzidos pela Psicologia, pois o art. 6º do Código de Ética do psicólogo recomenda que, ao lidar com profissionais não psicólogos, o psicólogo encaminhe a outros as demandas que extrapolem seu campo de atuação. Questão 2 Um psicólogo está envolvido na seleção de projetos a serem financiados por uma organização. Sua participação se justificou, a princípio, pela presença de projetos na área de atenção à saúde dos hipertensos (grande maioria na organização), tópico sobre o qual ele é recorrentemente consultado pelos outros participantes da seleção. Dentre os dois projetos finalistas, um deles, inclusive, é de autoria de um grupo de psicólogos. Nessa situação, em termos éticos, o que deve orientar a posição do psicólogo diante do grupo que conduz a seleção? Parabéns! A alternativa C está correta. A A avaliação da viabilidade financeira dos projetos concorrentes e a projeção que podem alcançar no entorno social, uma vez que o psicólogo tem, antes de tudo, responsabilidade em relação à organização para a qual trabalha. B A opinião da maioria do grupo, uma vez que o psicólogo deve assumir um posicionamento democrático e conciliatório, zelando pela resolução dos conflitos nos grupos em que trabalha. C Os temas relativos ao campo da Psicologia, como a promoção da dignidade do ser humano, o contexto político e social, a promoção da saúde das coletividades e a eliminação da violência. D A defesa do campo da Psicologia, beneficiando, portanto, o projeto que promovaa prática da Psicologia, independentemente de suas outras características ou das características do projeto com o qual concorre. E Os critérios circunscritos pelos saberes produzidos pela Psicologia, pois o art. 6º do Código de Ética do psicólogo recomenda que, ao lidar com profissionais não psicólogos, o psicólogo encaminhe a outros as demandas que extrapolem seu campo de atuação. Como é um processo de avaliação psicológica, o documento a ser escrito e assinado pelo psicólogo é o laudo psicológico. Ambas as nomenclaturas são correspondentes, segundo a Resolução CFP nº 06/2019, que norteia os documentos escritos pelo psicólogo e instrui cuidados éticos e técnicos em procedimentos como a avaliação psicológica. Vale lembrar que o parecer não decorre de avaliação psicológica. 4 - Documentação Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os documentos elaborados pelos pro�ssionais da Psicologia. Documentos elaborados pelo psicólogo Neste módulo iremos discutir os documentos escritos pelos psicólogos, no que se refere à sua finalidade, princípios básicos e a legislação que rege o padrão da escrita e das informações contidas em cada documento. Inicialmente, neste módulo iremos trabalhar com estas três diretrizes: Precisamos entender que os documentos, em geral, possuem como base as seguintes características: são materiais escritos; são uma forma de comunicação de serviços prestados; possuem valor legal; devem obedecer ao regimento da profissão. A partir dessas características, é importante compreendermos que os documentos escritos pelo psicólogo têm valor legal e ético, e obedecem às regras do Código de Ética do psicólogo (2005) e da Resolução CFP nº 06/2019. Essa resolução tem como objetivos orientar o psicólogo na elaboração de documentos escritos, fornecendo os subsídios éticos e técnicos necessários para a produção qualificada da comunicação escrita. Saiba mais A Resolução CFP nº 06/2019 substituiu a Resolução CFP nº 07/ 2003, que contemplava um Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, com foco na prestação de serviços decorrentes de avaliação psicológica. Discutir o papel dos documentos psicológicos. Apresentar os diferentes tipos de documentos psicológicos e suas utilizações. Desenvolver a capacidade de elaborar um documento psicológico nas mais diversas áreas de atuação. Avaliação psicológica Avaliação psicológica é a coleta e interpretação de dados, obtidos por meio de um conjunto de procedimentos reconhecidos pela ciência psicológica, que podem abarcar o uso de diferentes instrumentos, tais como os testes psicológicos, as entrevistas, as observações e as análises de documentos. Dessa forma, o profissional da Psicologia deve planejar e realizar o processo avaliativo com base em aspectos técnicos e teóricos (CFP, Cartilha de avaliação psicológica, 2013a). Devemos lembrar da complexidade do exercício profissional do psicólogo para compreendermos que essa resolução foi construída de modo a ampliar o leque de documentos psicológicos para aqueles decorrentes do exercício profissional nos mais variados campos de atuação, fornecendo os subsídios éticos e técnicos necessários para a elaboração qualificada da comunicação escrita. Dica Nessa aula sobre os documentos psicológicos, convido você, psicólogo em formação, a ler mais uma vez a Resolução CFP nº 06/2019 para conhecer os detalhes sobre os princípios éticos, técnicos, as disposições e linguagem que irão nortear toda a construção dos documentos. Independentemente do tipo de documento que seja entregue, precisamos ter a consciência de que estamos diante de dois questionamentos: “Por quê?” e “Para quê?”. Esses questionamentos irão requerer uma atitude ética de avaliar a demanda, a necessidade, a quem vai se destinar o documento, as informações que se comunicam somente com a demanda (devemos informar nos documentos o que fora solicitado e o que é pertinente e ético) e o impacto da nossa escolha sobre qual documento emitir, pois eles vão informar sobre um trabalho que foi ou está sendo desenvolvido, ou seja, vão comunicar a prestação de um serviço. Com isso, nossa escrita terá que ser integradora, avaliativa, não julgadora, ética, responsável e relacionada ao contexto-demanda. Vamos conhecer os tipos de documentos psicológicos? Declaração É o documento mais simples e não está condicionada à avaliação psicológica. Ela tem caráter informativo sobre a rotina de prestação de serviços e visa informar ao cliente a ocorrência de fatos ou situações objetivas relacionados ao serviço psicológico. Atenção! Ao contrário do atestado psicológico, a declaração nunca deve apresentar registro de sintomas, estados psicológicos, ou qualquer outra informação que diga respeito ao funcionamento psicológico da pessoa atendida. Ela deve conter: 1. Título: "Declaração". 2. Nome da pessoa atendida: Identificação do nome completo ou nome social completo. 3. Finalidade: Descrição da razão ou motivo do documento. 4. Informações sobre local, dias, horários e duração do acompanhamento psicológico. 5. O documento deve ser encerrado com indicação do local, data de emissão e carimbo, em que conste nome completo ou nome social completo do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional e assinatura. Atestado psicológico Documento expedido pelo psicólogo, o atestado é oriundo de um processo de avaliação psicológica, realizado para verificar determinada situação ou condição do estado psicológico (diagnóstico psicológico). Curiosidade Vale ressaltar que os registros devem estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados apenas pela pontuação, sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações. No caso em que seja necessária a utilização de parágrafos, o psicólogo deverá preencher esses espaços com traços. O atestado psicológico indica a necessidade de afastamento e/ou dispensa da pessoa baseados na avaliação de aspectos psicológicos. O atestado, bem como o laudo, emitido com a finalidade de justificar estar apto ou não para atividades específicas após realização de um processo de avaliação psicológica, deverá guardar relatório correspondente ao processo de avaliação psicológica realizado nos arquivos profissionais do psicólogo. É muito importante saber que o psicólogo deve manter em seus arquivos uma cópia dos atestados psicológicos emitidos, junto a todo o material resultante do processo avaliativo, protocolado com data, local e assinatura de quem recebeu o documento, para fins de comprovação e fiscalização. O atestado deve conter: 1. Título: "Atestado Psicológico". 2. Nome da pessoa ou instituição atendida: Identificação do nome completo ou nome social completo e, quando necessário, outras informações sociodemográficas. 3. Nome do solicitante: Identificação de quem solicitou o documento, especificando se a solicitação foi realizada por alguma instituição ou pelo próprio usuário. 4. Finalidade: Descrição da razão ou motivo do pedido. 5. Descrição das condições psicológicas do beneficiário do serviço psicológico advindas do raciocínio psicológico ou do processo de avaliação psicológica realizado, respondendo à finalidade deste último. Lembre-se de que quando justificadamente necessário, fica facultado ao psicólogo o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) ou outras Classificações de diagnóstico, científica e socialmente reconhecidas, como fonte para enquadramento de diagnóstico. 6. O documento deve ser encerrado com indicação do local, data de emissão e carimbo, em que conste nome completo ou nome social completo do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional, com todas as laudas numeradas, rubricadas da primeira até a penúltima lauda, e a assinatura do psicólogo na última página. Relatório psicológico O objetivo do relatório psicológico é apresentar os procedimentos e conclusões do processo da avaliação psicológica, relatar encaminhamento (caso necessário), bem como as intervenções, o diagnóstico,o prognóstico e a evolução do caso. Podem ser elaborados relatórios psicológicos decorrentes de visitas domiciliares, como em situações de orientação ou de acolhimento nos serviços psicológicos, para subsidiar atividades de outros profissionais. Constitui-se enquanto instrumento de comunicação escrita resultante da prestação de serviço psicológico à pessoa, grupo ou instituição, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição. O relatório psicológico deve apresentar as informações da estrutura detalhada a seguir, na forma de itens ou em texto corrido: 1. Identificação: Título "Relatório Psicológico"; nome da pessoa ou instituição atendida; nome do solicitante; finalidade; nome do psicólogo e seu número de registro no CRP. 2. Descrição da demanda: Informações sobre o que motivou a busca pelo processo de trabalho prestado, indicando quem forneceu as informações e as demandas que levaram à solicitação do documento. 3. Procedimento: Apresentar o raciocínio técnico-científico que justifica o processo de trabalho utilizado na prestação do serviço psicológico e os recursos técnico-científicos utilizados. 4. Análise: Forma descritiva, narrativa e analítica, as principais características e evolução do trabalho realizado, baseando-se em um pensamento sistêmico sobre os dados colhidos e as situações relacionadas à demanda. 5. Conclusão: Conclusões tiradas, a partir do que foi relatado na análise, considerando a natureza dinâmica e não cristalizada do seu objeto de estudo. Na conclusão pode constar encaminhamento, orientação e sugestão de continuidade do atendimento ou acolhimento. O documento deve ser encerrado com indicação do local, data de emissão, carimbo, em que conste nome completo do psicólogo. Relatório multipro�ssional Esse documento é uma inovação da resolução mais atual. Ele é fruto do acolhimento da diversidade da atuação e dos contextos profissionais do psicólogo. O relatório multiprofissional é resultante da atuação do psicólogo em contexto multiprofissional, podendo ser produzido em conjunto com especialistas de outras áreas, preservando-se a autonomia e a ética profissional dos envolvidos. Exemplo Relatório multiprofissional sobre reabilitação de paciente afásico. O tratamento da afasia é realizado por equipe multiprofissional que pode ser composta por médico, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, enfermeiro e psicólogo, com o objetivo de promover o desenvolvimento da linguagem e da fala por meio de diversas terapias. Segundo a resolução que rege a escrita dos documentos psicológicos, as informações para o cumprimento dos objetivos da atuação multiprofissional devem ser registradas no relatório em conformidade com o que institui o Código de Ética profissional do psicólogo em relação ao sigilo. O psicólogo deve observar as mesmas características do relatório psicológico. O relatório multiprofissional deve apresentar, no que tange à atuação do psicólogo, as informações da estrutura detalhada a seguir, em forma de tópicos ou texto corrido. Sendo assim, ele é composto de cinco itens: 1. Identificação. 2. Descrição da demanda. 3. Procedimento. 4. Análise (neste item orienta-se que cada profissional faça sua análise separadamente, identificando, com subtítulo, o nome e a categoria profissional. Vale lembrar que esse tipo de relatório não isenta o psicólogo de realizar o registro documental, conforme Resolução CFP nº 01/2009 ou outras que venham a alterá-la ou substituí-la). 5. Conclusão. Laudo psicológico Esse é um documento muito importante e o mais requisitado na prática profissional depois do atestado e da declaração. Ele revela a grande responsabilidade que temos como profissionais da Psicologia. O laudo decorre de avaliação psicológica. O laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo. Vale destacar o caráter específico do laudo psicológico, diferenciando-o do relatório. O laudo é fruto de um processo de avaliação psicológica diante de uma demanda específica e deve apresentar os itens descritos, com destaque para o procedimento conduzido, a análise realizada e a conclusão gerada a partir desse processo de avaliação (que envolve entrevistas, testagem psicológica, observação ou outros métodos aprovados pelo CFP). Já o relatório não envolve um processo de avaliação psicológica. Exemplo O laudo psicológico pericial pode ser requerido quando há suspeita de abuso sexual infantil, bem como sentenças judiciais envolvendo a custódia de menores ou para verificar se uma pessoa que é acusada de cometer um crime tem algum transtorno mental. O laudo psicológico pode ser elaborado para processos seletivos de empresas privadas e concursos públicos. Ele deve apresentar as informações da estrutura detalhada a seguir, em forma de itens, cuja descrição do que deve compor cada um deles é a mesma dos relatórios já mencionados: 1. Identificação 2. Descrição da demanda 3. Procedimento 4. Análise 5. Conclusão 6. Referências As referências entram como um novo campo, pois, na elaboração de laudos, é obrigatória a informação das fontes científicas ou referências bibliográficas utilizadas, em nota de rodapé, preferencialmente. A conclusão deve estar em harmonia com os demais itens do laudo psicológico. Ela deve ser gerada a partir dos resultados e análise realizados, além de conter alguma orientação de encaminhamento/intervenções, ou diagnóstico/hipótese diagnóstica, ou orientação/sugestão de projeto terapêutico oferecido. Parecer psicológico Esse documento não é condicionado a uma avaliação psicológica. Ele é um pronunciamento por escrito que tem como finalidade apresentar uma análise técnica que possa responder a uma questão-problema do campo psicológico ou a documentos psicológicos questionados. Entretanto, existe ainda um ponto a ser salientado a você, que é um profissional em formação: o psicólogo deve ter conhecimento específico e competência no assunto demandado. O profissional parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando seus aspectos relevantes, e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamentação em referencial teórico-científico. Havendo quesitos, o profissional deve respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando nenhum deles sem resposta. Sua estrutura é parecida com a do laudo, porém reduzida e mais focada: 1. Identificação. 2. Exposição dos motivos: Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou à apresentação das dúvidas levantadas pelo solicitante. 3. Análise: Constitui-se na análise minuciosa da questão explanada e argumentada, com base nos fundamentos necessários existentes, sejam eles feitos por meio da ética, da técnica ou do corpo conceitual da ciência psicológica. 4. Conclusão: Apresentar seu posicionamento, respondendo à questão levantada. Em seguida, deve-se informar o local e a data em que foi elaborado, seguidos pela assinatura do documento. Documentos elaborados pelos pro�ssionais da psicologia A seguir, a especialista Susy Rocha compara e caracteriza os diversos documentos elaborados pelos profissionais da Psicologia. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 2 João é um psicólogo hospitalar responsável pela ala adulta de um grande hospital. Nos últimos dias, ele foi convocado pelo serviço médico para realizar uma avaliação psicológica e mental de um paciente chamado Ricardo, que já está internado há aproximadamente dois meses ali por causa da apresentação de sintomas de distimia(falta de ânimo, humor deprimido etc.). O médico solicitante vê na avaliação psicológica um modo de discutir o caso de Ricardo e possibilitar sua adaptação e condução. Após a realização do procedimento, nos moldes possíveis do contexto hospitalar, João necessitou encaminhar um documento seguindo as normas do seu conselho profissional para o médico solicitante. Qual dos documentos a seguir e em qual resolução do CFP João deveria basear a escrita de seu documento? A Relatório multiprofissional e Resolução 007/2003. B Relatório psicológico e cartilha de avaliação psicológica (2013). C Laudo psicológico e Resolução CFP n.º 06/2019. D Parecer psicológico e Resolução de documentos escritos do psicólogo (2003). Parabéns! A alternativa C está correta. Como é um processo de avaliação psicológica, o documento a ser escrito e assinado pelo psicólogo é o laudo psicológico. Ambas as nomenclaturas são correspondentes, segundo a Resolução CFP nº 06/2019, que norteia os documentos escritos pelo psicólogo e instrui cuidados éticos e técnicos em procedimentos como a avaliação psicológica. Vale lembrar que o parecer não decorre de avaliação psicológica. Questão 1 Este documento é uma inovação da resolução mais atual. Ele é fruto do acolhimento da diversidade da atuação e dos contextos profissionais de psicólogo. Segundo a Resolução CFP nº 06/2019 o documento descrito é o: Parabéns! A alternativa A está correta. Segundo o CFP, a Resolução citada no enunciado avança ao separar os documentos que são provenientes de avaliação psicológica de outros relativos às diversas formas de atuação do psicólogo, E Atestado psicológico e Código de Ética do psicólogo (2005). A Relatório multiprofissional. B Relatório psicológico. C Laudo psicológico. D Código de Ética. E Atestado psicológico. ao estabelecer o relatório multiprofissional e, também, ao regulamentar aspectos referentes ao destino e envio de documentos e fatores relacionados à entrevista devolutiva. Considerações �nais O Código de Ética do psicólogo é o principal documento norteador não apenas das práticas técnicas, mas também da função social da Psicologia, além de ser uma importante ferramenta de fortalecimento da profissão. Os Conselhos (CFP e CRPs) são órgãos responsáveis por verificar se tanto o Código de Ética como as demais regulamentações da categoria profissional estão sendo cumpridos, atuando também nas esferas de formação dos profissionais. Os Conselhos devem orientar, fiscalizar e disciplinar, garantindo o exercício da profissão de acordo com os princípios e normatização da classe. Obedecendo às regras do Código de Ética e às devidas resoluções elaboradas pelos Conselhos, temos os documentos psicológicos, que visam estabelecer a comunicação escrita das informações que concernem às práticas da profissão. Como vimos, muitos são os dilemas éticos vivenciados pelo profissional da Psicologia, portanto, devemos sempre estar atentos ao Código de Ética e atualizados em relação às notas técnicas e orientações da nossa categoria, que devem sempre estar pautadas nas atuais necessidades políticas, econômicas e sociais de acordo com o momento e a realidade dos territórios. Podcast Para encerrar, a especialista Susy Rocha reflete sobre a importância das documentações produzidas pelo psicólogo. Vamos ouvir! Referências BRASIL.Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Brasília, 1962. BRASIL. Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971. Dispõe da criação do Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia. Brasília, 1971. BRASIL. Decreto nº 79.822, de 17 de junho de 1977. Regulamenta a Lei 5.766, de 20 de Dezembro de 1971, que criou o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia e dá outras providencias. Brasília, 1977. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Resolução CFP nº 10/05. Aprova o Código de Ética profissional dos psicólogos. Brasília, 2005. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Psicologia, ética e direitos humanos. Comissão Nacional de Direitos Humanos. Brasília, 1998. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Resolução CFP nº 06/2019. Institui regras para a elaboração de documentos escritos produzidos pela(o) psicóloga(o) no exercício profissional e revoga a Resolução CFP nº 15/1996, a Resolução CFP nº 07/2003 e a Resolução CFP nº 04/2019. Brasília, 2019. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Cartilha avaliação psicológica. Brasília, 2013a. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Código de Processamento Disciplinar. Brasília, 2019. FRANCISCO, A. L.; BASTOS, A. V. B. Conhecimento, formação e prática: o necessário caminho da integração, In: Conselho Federal de Psicologia, Psicólogo Brasileiro. Construção de novos espaços, Campinas: Editora Átomo, 1992. HOLANDA, A. Os Conselhos de Psicologia, a formação e o exercício profissional. Psicologia: Ciência e Profissão. 1997, v. 17, (1), p. 3-13. Consultado na internet em: 2 ago. 2021. MUNIZ, M. Ética na avaliação psicológica: velhas questões, novas reflexões. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2018, v. 38, n. sp., p. 133-146. Consultado na internet em: 1 ago. 2021. ZAIA, P.; OLIVEIRA, K. S.; NAKANO, T. C. Análise dos processos éticos publicados no jornal do Conselho Federal de Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão Jan./Mar. 2018 v. 38 nº 1, 8-21. Explore + 1. Entenda a relação entre a formação em Psicologia e a construção das demandas nessa área lendo o artigo de Maria Fernanda Amendola intitulado Formação em Psicologia, demandas sociais contemporâneas e ética: uma perspectiva, publicado em 2014 na revista Psicologia: Ciência e Profissão. 2. Veja como o CFP amplia a discussão da ética nos documentos psicológicos e nos processos de avaliação lendo a cartilha de avaliação psicológica, de 2013, bem como a Resolução nº 6/2019. 3. Confira o que Adriano Holanda diz a respeito das funções dos CRPs e do CFP em seu artigo intitulado Os Conselhos de Psicologia, a formação e o exercício profissional, publicado em 1997 na revista Psicologia: Ciência e Profissão. 4. Conheça os motivos de denúncias feitas contra os psicólogos no artigo de Ana Lúcia Francisco intitulado As questões de ética: denúncias encaminhadas aos CRPs e CFP, publicado em 1991 na revista Psicologia: Ciência e Profissão.
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