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O que é ética? Temos, aqui, uma questão muito difícil de responder, pois não há um conceito único de ética. Há quem diga que ética é o estudo do que é bom e do que é mau, chama atenção para o fato de que assuntos dessa natureza sempre fizeram parte da história, desde a Antiguidade até nossos dias. É o caso, por exemplo, dos estudos sobre as possíveis formas de evitar e controlar a violência, a agressividade. Há a ideia que diversas culturas e sociedades definiram conjuntos de valores éticos para funcionarem como reguladores dos padrões de conduta de relações intersubjetivas e interpessoais. Trata-se, portanto, de uma forma de garantir comportamentos sociais capazes de alcançar a segurança física e psíquica dos membros daqueles grupamento Tenha em mente que a ética também pode ser entendida como a reflexão em torno da vida, das ações humanas e dos costumes da sociedade (GOLDIM, 2003). Ela não estabelece regras e é caracterizada pela busca contínua de sentido, de justificativa para o que é bom e mau, ou pela diferenciação entre o bem e o mal. Questões éticas transitam por todas as áreas do conhecimento científico, por todas as fases da vida em sociedade, por todas as classes sociais. Sendo um tema de tamanha complexidade, nosso estudo jamais alcançaria resultados de grandes proporções em termos de conhecimentos sobre a ética. Entretanto, a melhor forma de superar essa dificuldade, e clarear nosso entendimento sobre os conceitos gerais, é descobrindo como alguns dos grandes pensadores da humanidade entenderam a ética. Para Sócrates, pensador grego que viveu entre 470 e 399 a.C., ética era sinônimo de moral e o caminho para entender o que é justiça. Platão foi o mais famoso discípulo de Entenda que a ética não dita leis, normas, regras; ela desenvolve valores, a partir de reflexões que podem ajudar a melhorar o comportamento humano. fique atento! caso Um exemplo bastante atual de reflexão ética é a questão da utilização de células-tronco (CT) embrionárias descartadas no momento do parto. Trata-se de uma questão delicada que gera dúvidas de ordem religiosa, moral e cultural. Como se portar em relação às possíveis razões para ser contra ou a favor do uso das CT para fins científicos ou terapêuticos? Está correto ou não? Não existe um único conceito definido para a ética. A ideia de ética varia com a visão de mundo de cada pensador. Filósofos, psicólogos, sociólogos etc. desenvolvem suas reflexões em torno de alguns aspectos da vida que consideram mais importantes para tornar o homem melhor. Sócrates, e entendia a ética como a reflexão em torno do modo correto de agir e de sua relação com o alcance do bem supremo buscado por todos os homens: a felicidade (SANTOS, 2001). Discípulo de Platão, Aristóteles discordava de seu mestre quanto à ética, pois entendia que o homem não luta para buscar um único bem supremo. Em sua visão, ele necessita de vários bens supremos e, para alcançá-los, busca a virtude, que seria a vontade e o esforço humano para desenvolver bons hábitos (ABIB, 2008). Na Idade Moderna, a ética de Immanuel Kant (1724-1804) buscou a igualdade entre os homens, o conhecimento verdadeiro, a liberdade do agir de forma única, racional, transcendental (HAMEL, 2011). Peter Singer é um filósofo contemporâneo que entende a ética como sinônimo de moral. Ele afirma que para muitos a ética não passa de algo que é bonito na teoria, mas não funciona na prática. Por isso, prefere ver a ética como uma reflexão contínua em torno do que fazemos e do deixamos de fazer (SINGER, 1993). Você acha que temos o direito de saber que tipo de alimento estamos comprando? A corrida pelo lucro dá direito às grandes corporações desenvolverem alimentos transgênicos e colocarem à venda sem informarem sua origem nos rótulos? A identificação dos alimentos transgênicos é uma questão ética muito atual, tratada na Lei da Biossegurança (Lei n. 11.105/2005). Zygmunt Bauman é outro pensador da atualidade que estuda a ética. Suas abordagens envolvem preocupações com a pobreza, o fascismo, a desigualdade humana, as crises ambientais e outras consequências do que chama de capitalismo parasitário (BAUMAN, 1997). O autor afirma que, apesar da queda moral do homem pós-moderno, o estudo dos temas clássicos da ética ainda é muito importante (BAUMAN, 1997). Para Bauman, a ética é exatamente essa necessidade de pensar com profundidade em torno das crises atuais e de suas alternativas (BAUMAN, 1997). O que acabamos de ver foi uma pequena amostra de pensamentos em torno da ética. São opiniões diferentes, mas poderíamos dizer que uma palavra-chave quando se trata de ética é “reflexão”. Assim, será que poderíamos considerar a ética como uma reflexão filosófica ou científica em torno de temas importantes que buscam tornar o homem melhor? O que você pensa a respeito? Reflita um pouco sobre isso. Agora, que possivelmente conseguimos elaborar nossa própria definição de ética, analisaremos, no próximo item, a importância da ética para a sociedade, tendo em vista as variadas abordagens que foram apresentadas até o momento. Importância da ética para a sociedade Observe que os textos iniciais de filosofia que apresentam a noção de ética costumam mostrá-la quase sempre a partir de exemplos. Imagine aquelas situações em que nos Zygmunt Bauman é um dos mais lúcidos pensadores sobre as questões da atualidade. Leia a entrevista publicada pela Revista Época e conheça mais sobre o pensador, sensibilizamos com algum tipo de desastre natural: quantas vezes nos mobilizamos individualmente, ou em sociedade, para buscar ajuda, coordenar atendimentos ou mesmo arrecadar verbas que possam ser revertidas em alguma espécie de socorro? Essas e outras tantas situações similares representam reações emocionais de cunho moral, às vezes com influência religiosa. São momentos em que somos postos à prova e nos quais, segundo Chauí (2010), nossa consciência moral exige que saibamos decidir o que fazer e como justificar nossas ações para nós mesmos e para o mundo. Tais momentos representam a manifestação de sentimentos provocados por valores como justiça, generosidade, honradez, espírito de sacrifício, integridade, amor, vergonha, culpa, admiração etc. Mesmo variando muito e passando por uma lista enorme de sentimentos e emoções, podemos observar que tais valores poderiam ser divididos em dois grupos ou em duas categorias: o bem e o mal (o que nos torna bons ou maus). Esta é, enfim, a importância da ética para a sociedade; que está justamente em contribuir para que os seres humanos busquem sempre seu melhor lado. Introdução Nesta aula, veremos algumas concepções a respeito da ética e da moral, acrescentando sua relação com a ideia de Direito. Os conceitos de ética, moral e direito Ética Como você já deve saber, a noção de ética varia com a forma pela qual o pensador vê o mundo. Entretanto, podemos observar que alguns elementos parecem estar sempre presentes quando se fala em ética. É o caso da palavra reflexão e dos questionamentos quanto às formas e os meios de aproximar o homem do bem e afastá-lo do mal. Por isso, concluímos que reflexão é uma espécie de palavra-chave quando se fala de ética, assim como: justiça; virtude; esforço; e vontade para discernir o que é bom do que é mau. caso Dilemas éticos da atualidade incluem o consumismo exacerbado, a idealização de figuras públicas como modelos e jogadores de futebol, a intolerância com opiniões divergentes, entre outros. Quando afirmamos que reflexão é uma palavra-chave associada à ideia de ética, você deve se lembrar igualmente de alguns sinônimos, como meditar, refletir, estudar, pensar etc. Ao se concentrarem intensivamente no dilema entre o bem e o mal, entre o que é bom e o que mau, os estudos da ética contribuem para a melhoria das sociedades humanas. Fazem isso na medida em que, com base em meditações éticas, o ser humano desenvolve uma série de valores positivos que passa a utilizar para nortear sua vida e seus relacionamentos interpessoais, profissionais e sociais. Nesse sentido, incluem-se entre os interesses de cunhoético a preocupação quanto ao potencial contemporâneo das ações humanas para destruírem tanto a natureza quanto a própria raça humana, a intervenção tecnológica sobre a natureza, muitas vezes com prejuízo à vida, a busca desequilibrada por lucros econômicos. Também podemos citar as formas de evitar e controlar a violência e a agressividade, a corrupção das instituições públicas e privadas etc. Vamos agora conceituar moral! Moral Assim como no caso da ética, existem variações quanto à noção de moral. Podemos dizer que há, também, certa confusão entre os conceitos de ética e de moral, além de autores que os consideram sinônimos, inclusive alguns dicionários (LA TAILE, 2010). Entretanto, a ideia de moral tem sido aceita como uma espécie de código de valores, conjunto de normas, não necessariamente escritas, que regulamentam o comportamento do homem em sociedade. A moral, portanto, está associada ao que é certo ou errado, justo ou não, reprovável ou não, em termos de consciência humana, de costumes, de regras sociais. Passaremos, agora, à noção de Direito. Direito No sentido subjetivo, afirmamos que direito é a faculdade de exigir, realizar, possuir ou fazer algo que esteja de acordo com a lei. Já no sentido objetivo, o Direito é o conjunto de leis que dirige o homem, indicando o que ele pode e deve fazer, ou não (SANTOS, 1959). Em ambas as perspectivas, o aspecto a se destacar é o fato da coerção do Direito decorrer do poder e da força do Estado. Sobre a relação entre ética, moral e Direito podemos elencar semelhanças e diferenças. Moral e Direito se assemelham pois, diferentemente da ética, ambas se baseiam na coerção das normas. Por outro lado, moral e Direito também se Diferentemente das leis morais, as leis e normas jurídicas são, por regra, escritas, registradas por meio dos agentes públicos que detém autoridade para criá-las. diferenciam na medida em que as leis do Direito são limitadas territorialmente pelo Estado, a cujo poder estão vinculadas, enquanto que as regras morais são pessoais e sociais, grafadas na consciência, como se costuma dizer popularmente, sem fronteiras geográficas. Os papéis de cada um O papel da moral na sociedade se evidencia na exigência de valores morais para mediar as relações sociais. Honestidade, solidariedade, decência, respeito mútuo, entre outros, são aspirações morais contínuas da coletividades na qual estamos imersos. O Direito fala por si só. Confiamos nos operadores do Direito (juízes, advogados, promotores, delegados), porém a sociedade, não raras vezes, ressente-se com os legisladores pela criação de leis que parecem muito mais defender interesses privados do que públicos. O papel da ética, portanto, está em contribuir com suas reflexões, isoladamente ou em conjunto com a moral e o Direito. Os estudos éticos devem ser aproveitados na elaboração de leis e códigos com maior capacidade de sanear as ações tanto do homem comum, quanto daqueles operadores do Direito e agentes políticos que tomam decisões pela sociedade. Quando nos referimos ao Direito, envolvemos obrigatoriamente estruturas do Poder Legislativo (que cria as leis), do Poder Executivo (que cobra o cumprimento das normas jurídicas) e do Poder Judiciário (que julga as desavenças em torno do cumprimento dessas regras). caso A redução da maioridade penal tem sido discutida intensivamente na sociedade brasileira e a polêmica que o assunto levante envolve questionamentos de ordem ética, pois invariavelmente deixa no ar a dúvida sobre julgar como adulto um adolescente de 16 anos. Por outro lado, questiona-se se estaria certo não fazê-lo, permitindo a possibilidade de alguém ser vítima desse hipotético jovem. Não se pode deixar em branco um outro questionamento quanto ao fato de que aquela mesma pessoa/criança/adolescente/jovem possa ser Em relação às reações emocionais de cunho moral, às vezes com influência religiosa, que costumamos atribuir à nossa consciência moral, apresentamos o entendimento de Chauí (2010), segundo o qual tais momentos nada mais representam do que a manifestação de sentimentos provocados por valores como justiça, generosidade, honradez etc. Nessas situações, fica evidente o papel da ética, pois esses valores que guiam nossas decisões são fortemente influenciadas por ela. Podemos concluir que as reflexões éticas nos permitem desenvolver valores morais positivos, capacitando-nos como indivíduos e como sociedade. CÓDIGO DE ÉTICA - 2 - Introdução Neste tema, você estudará as diferenças entre os diversos códigos de ética existentes e descobrir as vantagens práticas da aplicação dos códigos de ética pelas organizações. Código de Ética: conceito e funções Sabemos que o comportamento guiado pela ética, ou seja, pautado em valores morais, é importante nas sociedades atuais. Apesar disso, a existência de hábitos comportamentais dos indivíduos nas organizações pode representar obstáculos ao alinhamento de interesses necessários às corporações. Uma das formas de obter controle sobre tais desencontros comportamentais é a adoção de códigos de ética. Entenda que um código de ética é um conjunto sistematizado de normas por meio das quais as organizações definem os padrões de postura e de comportamento aceitáveis para seus gestores, associados, colaboradores, sócios, parceiros etc. A função dos códigos é regular as ações desses agentes e alinhar sua conduta à postura dos acionistas. Eles também vêm sendo utilizados como indicadores da preocupação ética, acrescentando valor às organizações Assim, um código de ética pode ser entendido como uma espécie de contrato entre os entes corporativos. Entre seus objetivos, podemos citar o de manter os agentes interessados informados quanto às expectativas dos acionistas ou do núcleo estratégico da organização. Dependendo do perfil corporativo, os agentes podem ser incentivados até mesmo financeiramente para a adequação comportamental e divulgação do código de ética. A importância da adoção do código está no fato de que as questões éticas envolvem todas as áreas do conhecimento científico, todas as fases da vida em sociedade e todas as classes sociais. Estruturas de controle como os códigos de ética são necessárias para direcionar o comportamento dos agentes de forma cooperativa, incentivando-os a seguirem voluntariamente os princípios da organização. Empresas decidem adotar códigos de ética por variados motivos. Tenha em mente que o código pode representar uma perspectiva distante da realidade da organização, tendo sido criado exatamente como uma forma de passar uma imagem institucional positiva ou, eventualmente, para servir como prevenção legal em casos de litígios judiciais. Entenda, portanto, que os códigos podem existir sem serem aplicados. Por outro lado, podem existir verdadeiros programas de estímulo à adequação da postura de clientes, fornecedores e colaboradores às definições do código de ética corporativo, como forma de fortalecimento e ampliação da imagem da organização. Entre as várias justificativas que levam empresas a criarem e adotarem códigos de ética, podemos destacar: incentivos legais oferecidos por alguns países; a globalização que muitas vezes exige a adequação a outras culturas e regiões; prevenção de risco ou impossibilidade de eximir-se perante responsabilidades quanto a ocorrências que possam afetar negativamente a imagem da organização; adequação aos princípios e valores organizacionais. Segundo Lyra, Gomes e Jacovine (2009), stakeholder designa um grupo ou um indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelas ações de uma empresa, incluindo aqueles que detêm o poder ou habilidade para influenciar tais ações, e cuja atuação não deve ser negligenciada. O simples fato de cumprir o código de ética de sua categoria profissional, de sua corporação, não confere a ninguém qualquer dignidade ou direito adicional. Não importa se por medo das consequências ou por convicção moral, o código deve ser cumprido em função do bom trato com o outro (RIBEIRO, 2003). O Código de Ética da Magistratura é uma ferramenta essencial para guiar os juízesem seus julgamentos, atestando perante à sociedade sua autoridade moral. O documento foi editado e aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está disponível no website institucional do CNJ. Códigos de ética: tipos e vantagens práticas Como você já deve saber, moral e ética são termos considerados sinônimos. Os códigos de ética, portanto, são considerados como conjuntos de valores, princípios ou padrões de conduta moral vigentes dentro de uma organização, de um grupo profissional, de uma entidade pública ou privada. Saiba que os códigos de ética podem ser de diversos tipos. Há códigos de categorias profissionais (médicos, advogados, contadores, psicólogos etc.); de associações comerciais (de comerciantes ou de comerciários); públicos (de servidores, juízes, militares); e privados (de clubes recreativos, de grandes corporações, de micro e caso Códigos não-escritos são pouco comuns, por isso valem ser exemplificados. Juttel e Mezzacappa (2008) apresentam um estudo que aponta a existência de um rígido código de ética dentro dos presídios. Segundo os autores, a quebra de suas normas gera violentas sanções que podem ir desde repreensões até espancamentos e outras formas de violência. pequenas empresas). Independente da tipificação, a maioria dos códigos está associada à ideia de maior responsabilidade social por parte dos colaboradores envolvidos. Esses documentos podem, também, serem escritos como um conjunto de normas ou uma declaração de valores. Existem os que são voltados para compliance, ou seja, para auditoria, controle e prestação de contas, bem como os que almejam a assimilação de valores pelos funcionários e parceiros. Códigos de ética variam, ainda, conforme a área gestora, que tanto pode ser o departamento de gestão de pessoas, a auditoria jurídica ou contábil, quanto o mais alto nível estratégico. Os tipos podem até variar conforme sua implementação, posto que eles podem ser alimentados diária e continuamente ou existirem de forma alheia (CHERMAN; TOMEI, 2005). Uma das vantagens de sua utilização está no fato de que os valores organizacionais expressos em códigos de ética acabam orientando a realidade prática das corporações, favorecendo o clima interno, o desenvolvimento de lideranças, assim como a tomada de decisões em maior conformidade com as estratégias das organizações (ALMEIDA, 2007). O alinhamento dos discursos e das posturas dos colaboradores facilita a construção da imagem institucional, sendo, dessa forma, um ganho adicional. Podemos perceber tal fator, por exemplo, em associações de ordens profissionais: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Federal de Medicina (CFM). Como código não-escrito, podemos citar ainda a referência de Burns (1964), que determinou como um rigoroso código de ética a regulamentação das atitudes do servidor público inglês em todas as suas relações de trabalho, seja com colegas, com o público em geral ou com seus superiores. Os códigos de ética podem ser entendidos como aspectos da ética aplicada às organizações, uma vez que estabelecem regras embasadas nos valores morais definidos a partir dos princípios éticos abraçados pelas entidades. CONDUTA ÉTICA E ESTATUTO ÉTICO DOS ATOS: O FAZER E O AGIR Introdução Neste tema, entenderemos a conduta ética e o estatuto ético dos atos. Veremos os aspectos da consciência tanto subjetiva, quanto ética. Conduta ética e estatuto ético dos atos: o fazer e o agir De acordo com Sá (2001), no campo da ética, a consciência possui um aspecto peculiar que vai desde o seu conceito até os ângulos de seus conflitos com as práticas sociais. O mesmo autor define ética como sendo um estado decorrente de mente e espírito, através do qual não só aceitamos modelos para a conduta, como efetivamos julgamentos próprios. A consciência, assim, instala e age na relação entre o espírito e a sensibilidade da mente captadora de condições e ou necessidades. A razão pela qual a consciência ética é peculiar e determinada pela característica de que conquistar a felicidade de forma egoísta não lhe é considerável. Então, nada é ético se é produzido, se é feito com o prejuízo de alguém. O ético é produzido através de uma ação harmônica entre o ser que o pratica e a sociedade na qual se insere. As determinações do ambiente em que vive podem ser tão fortes que o ser humano passa a ceder, sem prejuízo, sua liberdade espiritual, em favor dos interesses e da pressão dos seus semelhantes. Quando o que está em questão é o problema ético, o espírito molda-se diante das realidades ambientais. Observe que não se trata de renunciar ao espírito nem ao ego, porém, trata-se de uma adaptação natural, tendo como condutor o amor como condição essencial da existência. Aspectos da consciência ética Interferências irão ocorrer no nosso autojulgamento, e nosso condicionamento à prática. No campo ético, a questão se relaciona a uma conduta objetiva de comportamento de grupo que elimina o subjetivismo. Neste caso, nossa conduta, já que é fruto da nossa consciência, passa por nossos próprios julgamentos, por julgamentos de terceiros, e, neste caso, torna-se especificamente ética. Existe, então, uma correlação entre o que cada um de nós absorve como um modelo para a conduta e o que sente como resultado de seus próprios entendimentos. Consciência subjetiva e consciência ética Verifica-se que podem ocorrer diferenças entre o que construímos, o que elaboramos como formação geral de nosso conhecimento e as ações que realizamos em nossa conduta em sociedade. A conduta que deriva da vontade gerada na consciência pode não ser considerada boa segundo terceiros. Isto porque a consciência formada, somada à estrutura mental de cada um de nós, tem um comportamento de universo próprio, individual. Podem surgir aí os conflitos de diferentes naturezas, tanto para o indivíduo como no seu grupo, sua sociedade, seu Estado. Como a consciência forma-se para o exercício de vontades que resultam em condutas que se submetem à análise de terceiros, a consciência ética é específica. Consideremos os seguintes aspectos como exemplo: - para quem não foi educado para falar a verdade, mentir pode ser natural, pois não recebeu em sua consciência o modelo do verdadeiro, porém não será natural perante terceiros. De acordo com Sá (2001, p. 62), neste caso: Desse modo, podemos notar que as organizações sociais estão submetidas ao controle de grupos e que estes podem colocar normas em favor de seus próprios interesses. Como toda consciência, a consciência ética forma também uma opinião, oriunda da reflexão, quer dizer, desse embate entre a realidade percebida e aquela que se insere no íntimo do ser. Para Sá (2001,), essas posições inferiores que atribuímos à nossa mente são transcendentais, provenientes de partes recônditas e desconhecidas do cérebro pela ciência ou dessa energia ainda tão pouco conhecida pelo homem, que denominamos espírito. Uma consciência virtuosa, opostamente, fica isenta de conflitos, em geral, pois, é esse o estado de valor que se tem objetivado conseguir, ao longo dos milênios, na sociedade humana. Isto vale para o geral e também para grupos e classes. Assim, por exemplo, também um código de ética profissional que proíba a propaganda de serviços pode criar uma norma a ser seguida, mas conflitante com o que o Ser entende pela questão. Tal forma de proceder pode beneficiar apenas as grandes organizações profissionais que, já possuindo nome implantado, cerceiam às menores seus propósitos de crescimento por conquista de mercado através da difusão. A norma pode ser aceita por um código, mas, essencialmente, poderá ferir a direitos individuais, contrariando ao que um profissional entende como correto. Observe que existe dentro de cada um de nós, de acordo com nossa capacidade, uma corrente de análises, de críticas e de intuições para o que denominamos como verdade. É nossa capacidade que pode estabelecer conflitos com as normalizações, com as leis sob determinadas condições. Enfim, o aspecto da consciência ética é bem concreto para nós e tem sua forma objetiva de ser aceita.O mundo perante a consciência ética Nos questionamentos sobre consciência ética, é possível se ter uma visão do quanto ela depende do ambiente e das circunstâncias que podem levar o profissional em casos extremos a conflitar-se com o interesse social. Sá (2001, p. 62) chama a atenção para os seguintes aspectos: Como deve agir o profissional da contabilidade? A opção profissional é em favor da empresa, se nosso Código Civil protege o sigilo e se a lei fiscal obriga sua quebra, já que o conflito da própria legislação desmoraliza a posição legal. Agora, a questão da consciência tem como dever o não trair, o não levantar-se contra aquele que tem o dever de proteger. O profissional da contabilidade, na situação, segue os mesmos modelos do advogado que, mesmo tendo conhecimento de que seu cliente é criminoso, o defende. Observe que não se trata de defender o crime, mas a pessoa que se deixou vitimar por tais eventos. Estados especiais de manifestação da consciência ética A razão pode ser superada por sentimentos morais, partidários, religiosos etc., e em qualquer momento modificar modelos conscientes. Por exemplo, o indivíduo envolvido pela crença, pela forte emoção, pelo preconceito, pode enfrentar uma experiência em que o ego tende a deturpar o racional, podendo alterá-lo, superestimá-lo de acordo com as consequências. E mais: a visão do ser pode ser alterada por paixões e Também pode ocorrer que o profissional se volte contra medidas provenientes dos poderes que geram o Estado e que forçam medidas em nome do social, mas, em verdade, com lesões ao interesse individual dos cidadãos que exercem seus trabalhos. Refiro-me ao caso, por exemplo, que tem ocorrido na prática, em que o Poder Público, em lei, estabelece que o profissional deve denunciar o contribuinte que não está em dia com as obrigações fiscais. Entre o interesse do governo, a imposição da lei e a ética profissional que protege o sigilo, tem-se o contabilista firmado na proteção ao cliente, com muita justiça e adequação, entendo. sentimentos mais profundos. A ciência também ainda não conseguiu um instrumento que medisse o valor da paixão e da tristeza. No entanto, Sá (2001, p. 66) aponta: O enfraquecimento das virtudes pode ser facilitado pela ignorância, e o erro pode firmar-se como conduta aceitável até perante o social. Perante a doutrina da moral, as éticas de cada época não podem ser – senão casos especiais de estudos –, não podendo jamais alcançar o caráter de universalidade científica. A razão é um predicado humano importante relacionado à justiça, igualdade, felicidade e tolerância, por exemplo. A virtude e a ética Constantemente, a palavra “virtude” tem o significado de algo bom que faz parte do indivíduo. Sá (2001) assim define: Para muitos, o ser humano nasce com programações genéticas, biológicas, espirituais etc., que a ciência ainda não conseguiu desvendar. Os atributos pelo nascimento evoluem e se adequam com a educação doméstica nas escolas e nos diversos ambientes de convivência. Por exemplo, existem padrões de virtude aceitos como verdadeiros, transmitidos durante vários anos pela via educacional. Para Sá (2001), no campo da ética, a virtude é, sem dúvida, uma qualidade necessária, sem a qual não se consegue exercer a disciplina comportamental nos grupos. A ciência também ainda não conseguiu uma valorimetria da paixão, da dor da tristeza, e da melancolia que fosse confiável e comprovável quanto à fixação quantitativa de sua intensidade e elasticidade. (...) A história do mundo está plena de atos lesivos à Ética praticada pelo fanatismo religioso, pelos preconceitos, em suma por emoções que empanam a razão, mas que dominam o ego e que contaminam sociedade. Não é, pois, exagero afirmarmos que uma consciência ética pode ceder lugar a deturpações motivadas por fanatismos religiosos, preconceitos e paixões de diversas naturezas. A virtude é uma conduta ética básica, quer dizer, não é possível, como princípio, conceber o ético sem o virtuoso. Representando a maneira própria de condutas específicas existe uma virtude ética. Para a área da ética, a virtude está ligada à qualidade do ser, em sua prática de atos morais essenciais, importantes, íntimos da alma. Evolução do conceito de virtude Com o avanço das ciências, das sociedades, das leis, surgiram novos estilos de vida, e estes já não possibilitam mais a adoção de alguns conceitos de virtude que há séculos se utilizavam. Algumas das alterações, hoje aceitas também pela lei, não terão a garantia de estarem presente em tempos futuros; Sá (2001, p. 72) destaca este aspecto da seguinte maneira: Tendo normas e valores sociais alterados, igualmente se alteraram atitudes e comportamentos. Em razão dos progressos do conhecimento, outros aspectos também mudaram, mesmo tendo moralmente semelhanças entre o homem do início deste século e o homem do século XX. Segundo Sá (2001, p. 73), a virtude não se faz dispensável em nenhuma circunstância, e não podemos transgredir diante daquelas pétreas, indeformáveis, ligadas à essência, ao espírito. De acordo com Sá: As alterações sócio-morais, todavia, nem todas, foram maléficas; muitas evoluções foram e ainda são altamente proveitosas, à liberdade do ser humano e a uma aproximação à verdade. Tudo isto é perceptível, mas não altera, segundo entendo, ainda, as bases que devem caracterizar a conduta de um profissional como a já referida do contabilista, por exemplo, em sua responsabilidade de guardião da riqueza das células sociais ou de um médico como guardião do organismo humano. As alterações ampliaram os níveis de liberdade, embora nem sempre com a preservação de um estado de melhor qualidade de vida do ser. Um profissional que vive lidando diretamente com valores materiais, tendo como objeto de sua tarefa o zelo pela riqueza, como o da contabilidade, mais do que ninguém deve resguardar-se contra a sedução da fortuna, à custa de prejudicar a terceiros, notadamente seu cliente (esse, todavia, um dos aspectos, apenas, das virtudes a serem exercidas).O Código de Ética Profissional do Contabilista, por exemplo, fixa um sem-número de virtudes exigíveis; poderíamos, mesmo, até dizer, que é um complexo de normalizações de virtudes a serem cumpridas. Não basta, entretanto, que sejam normalizadas as condutas; o que importa é que o profissional dessa área e daquelas que cuidam de interesses de terceiros tenha absoluta convicção de que não deve construir seu bem à custa de prejuízo de terceiros, sejam eles quem forem. Por mais rigorosos que sejam os códigos, as classes estarão sempre a transgredi-los se não possuírem educação ética com absoluta convicção sobre os benefícios da prática das virtudes. As áreas ligadas a finanças, principalmente a contabilidade, são constantemente relacionadas à sedução da fortuna. Para os profissionais ligados ao exercício da profissão contábil, o Código de Ética profissional deve ser seguido com rigor. Perfeição, caráter e virtude O fazer e o agir possuem suas relações com a perfeição e o caráter. Fazer as coisas com perfeição, muitas vezes, é a preocupação dos homens. Filósofos e algumas religiões pregam sobre modelos de perfeição. Admitem, por exemplo, que Deus fez o homem a sua imagem e perfeição. Para Sá (2001), a virtude é essencialmente a perfeição inspirada nas propriedades divinas, preexistindo à concepção do homem e existindo por essência, independentemente da vontade humana. Ainda segundo o autor: Verifica-se que o caráter sinaliza o indivíduo, sendo seu símbolo de ação como individualidade que, assim, permite a qualificação. A conduta é como um efeito, um resultado, em que a causa é uma vontade. Já a vontade se inspira em algo que se concretiza oriundo de um estado de consciência, contido no caráter e que, por sua vez, é resultado de energias impressas no ser e que se alteram pela adição de outros elementos. Sá (2001) destaca importantes elementos a serem levados em conta: um bom caráter forma-se na virtude; a virtude está além do caráter; a forma de cada um se conduzir, guiado por seu caráter, é uma questão queainda tem facetas desconhecidas. O caráter, como maneira de individualização, acaba por identificar os indivíduos, e quando se ajusta na virtude, não há dúvida – tenta sempre uma vida adequada para o ser e a sociedade. Passos (2009, p. 50) ainda afirma que: Os homens podem estabelecer paradigmas que consideram virtuosos, mas não é por esta razão que se transformam em virtudes. Não somos autores da verdade; apenas conseguimos encontrá-las e identificá-las com um modelo que tudo faz crer trazemos por origem na alma; por isto é que sentimos acender-se em nós uma energia ou satisfação quando encontramos a essência que por nascimento parecemos trazer. (SÁ, 2001, p. 77). As ideias e os valores que um gestor ou em empresário coloca em prática em sua ação são construtos históricos socais, portanto sínteses da articulação de seu eu, num processo intersubjetivo, onde interagiram pessoas que vão desde aquelas vinculadas com sua trajetória de vida familiar, educacional esportiva, profissional, religiosa, etc. Portanto, o agir está diretamente ligado ao ser, e a trajetória de vida irá, de alguma forma, interferir nos valores que serão formados no indivíduo. As empresas e as organizações são pequenas estruturas sociais participantes da sociedade, que acabam criando valores e definindo caminhos e decidem por uma forma de ser e de agir consciente ou inconscientemente. Conforme visto, o indivíduo pode manter sua integridade, sua identidade pessoal, e, ao mesmo tempo, apropriar-se dos valores da empresa. No entanto, cabe ao indivíduo manter uma harmonia entre seus valores e os valores da empresa. O clima organizacional pode ser estabelecido sem que o indivíduo desrespeite a ética profissional. O fazer e agir devem ser realizados propiciando o bem-estar da instituição. Sá, entre outros autores, destaca que existe uma coerência natural do dever que nos instiga a exercer os modelos mentais e educacionais que recebemos e aqueles que adquirimos pela conveniência. Deste modo, com avanço da ciência, dados especiais nos foram atribuídos, como estados especiais de memórias, provenientes de nossa formação biológica ou genética. Conclusão Virtude e caráter estão para a ética como espinha dorsal, tornando sólidos não somente o pensamento individual, mas as trocas coletivas e a prática profissional. Na vida atribulada que levamos atualmente, não temos o tempo livre dedicado ao pensamento como os filósofos antigos, mas recebemos como herança de Sócrates, Platão e Aristóteles o pensamento ético que passamos de geração para geração. Entende-se que a ética, na prática, está ligada ao exercício do bem, ao cotidiano que visa tão somente a felicidade individual e, consequentemente, a qualidade de vida em coletividade. Um caso prático que ocorre com frequência e serve de exemplo negativo para os profissionais da área é quando o trabalhador passa a participar de situações ilícitas. Um exemplo: o profissional pede para seu cliente ou empregador vantagens financeiras para aplicações ilícitas ou favorecimento pessoal. Isso, além de ser imoral, trata-se de crime. Para tanto, é necessário que o profissional esteja ciente e construa, desde o início, uma carreira com lisura e pautada na ética e credibilidade. ÉTICA EMPRESARIAL Introdução Neste tema você verá que a Ética Empresarial é uma cadeia de valores que muda a cada corporação, porém ela é apenas norteadora e não define a conduta moral dos indivíduos. O que é Ética Empresarial? Uma corporação mira sempre no crescimento, na lucratividade e na produtividade para atender seu quadro societário. O conceito de Ética Empresarial envolve justamente as formas mais corretas de lidar com todos esses participantes, buscando a justiça de valores éticos e morais. Um conjunto de regras de valores éticos e morais definidos pela corporação é uma ferramenta essencial para tomadas de decisões por parte da diretoria. Também é norteador para colaboradores e gerentes, levando-os a buscar atender os objetivos e metas especificadas pela empresa. caso Uma empresa que lida com produtos e alimentos infantis precisa ter certeza de que as matérias-primas, os insumos e equipamentos não vão causar nenhum dano ao produto final, ou à marca e à imagem do produto, pois ele será consumido por seres humanos mais frágeis, que não sabem distinguir se o sabor e a textura são inadequados. A visão, missão e valores das empresas delimita como deve ser a postura ética e conduta moral de seus funcionários. Desta forma, garante que a empresa tenha uma postura ética em relação aos seus pares, como são chamados os stakeholders, como acionistas, funcionários, poder público, clientes e sociedade, gerando códigos de ética para demonstrar que a empresa tenha responsabilidade social e ambiental, respeitando normas e regras vigentes. (HAMEL, 2007). O documento principal que deve ser elaborado pela corporação (e muitas vezes até servir de base para uma capacitação) é o Código de Ética Corporativo, contendo a missão, a visão e valores da corporação (SROUR, 2008). Este documento, entregue normalmente antes do início dos trabalhos de um novo funcionário, deve conter todas as normas e valores que serão essenciais para a boa conduta dos colaboradores em relação às normas da empresa, às boas práticas de trabalho e à relação social e ambiental. • Compromisso ético da empresa perante a comunidade, público interno e público externo (Responsabilidade Social). • Práticas anticorrupção. Deve demonstrar todas as entradas e valores de serviços, bens e mercadorias de forma legal e lícita, com transparência dos registros e balanços perante os órgãos fiscais, para evitar práticas como "caixa dois", sonegação de tributos e corrupção do poder público, propinas e práticas de comissões irregulares e brindes. • Divulgação de balanço social para o público externo, em redes sociais e em jornais de grande circulação. • Governança corporativa. Se existe na alta direção da empresa consciência dos atos referentes às responsabilidades sociais. • Empregados dos fornecedores (se não utilizam mão de obra escrava ou infantil, por exemplo). • Gerenciamento do impacto ao meio ambiente, como solo, ar e água, além do ciclo de vida dos produtos, embalagens e insumos utilizados e pós-venda. • Educação ambiental e desenvolvimento de práticas e ações sustentáveis, entre outros. Entretanto, De Lucca (2009) relembra que não basta somente o Código de Ética como norma de conduta. A empresa deve ter um plano estratégico que garanta que todas as etapas dos processos estejam de acordo com as normas e regras da legislação vigente, comprometendo-se com os valores éticos e morais que está solicitando de seus colaboradores. O que é Responsabilidade Social? Tenha em mente que a ética praticada nas corporações está intimamente ligada à atuação que estas têm perante a sociedade, ou seja, a Ética Empresarial está ligada à Responsabilidade Social. As empresas e instituições públicas, além de terem internamente o Código de Ética e Conduta Moral, têm o dever de praticar atos que estejam de acordo com a conduta moral e ética do público externo (DE LUCCA, 2009). Conforme pontuou De Lucca (2009), a responsabilidade em relação à comunidade se divide em: Responsabilidade Social Corporativa; Responsabilidade Social Empresarial; e Responsabilidade Social Ambiental. A responsabilidade social corporativa diz respeito às preocupações sociais voltadas para o público interno e o ambiente de negócios de uma empresa, ao passo que a responsabilidade social empresarial tem mais beneficiários, como o público externo, fornecedores, clientes, sociedade, governo e envolve questões como a qualidade de vida e bem-estar do público interno. São as ações sociais que envolvem a comunidade. O conceito de Responsabilidade Ambiental é o mais recente. Cada vez mais, fala-se em sustentabilidade ou no chamado desenvolvimento sustentável por meio de práticas, políticas e ações que vão além do atendimento ao ambiente interno das corporações, atingindo principalmente as questões do público externo, da comunidade e o meio ambienteem si. Conforme SROUR (2008), Responsabilidade Social acontece quando a empresa, de forma voluntária, assume posturas e atitudes que promovam o bem-estar do público externo e interno (colaboradores e sociedade). Comportamento ético é diferente de Ética Empresarial. O comportamento ético é o que se espera de governos, pessoas, empresas e organizações em todos os sentidos, com bases nos valores como honestidade, equilíbrio e integridade, perante a comunidade e ao meio ambiente. caso As empresas que atuam no segmento papeleiro ou na fabricação de papel, por exemplo, além de atenderem normas rígidas governamentais que determinam o plantio de certas árvores, o reflorestamento e cuidados com a fauna, devem levar em conta conceitos como reciclagem e reutilização de material para fabricação de papéis. Elas também devem possuir obrigatoriamente certificações socioambientais para se manter no mercado, como o certificado ISO14000. As empresas que têm responsabilidade social e cuja prática é baseada na sustentabilidade normalmente produzem ações voltadas à comunidade do entorno, mas também à sociedade em geral. Ao promover uma ação social colaborativa, a empresa muitas vezes fica marcada por esta atividade, e dependendo do setor, outras ações são quase obrigatórias. ISO14000 é um sistema de gestão ambiental (SGA) segundo o qual empresas que demandam ou trabalham com algum tipo de produto que afete o meio ambiente devem obrigatoriamente ter premissas para serem aceitos por organizações e empresas (clientes finais também) em nível nacional e internacional Relação entre Ética Empresarial x Responsabilidade social Há uma falsa impressão de que as empresas são compromissadas socialmente e já cumprem regiamente a lei. Para que uma empresa seja socialmente responsável, existem fatores a serem considerados, como práticas sustentáveis e o balanço social (GOMES e MORETTI, 2007). O principal desejo e meta das corporações é a lucratividade e o interesse financeiro de seus acionistas, entretanto a empresa que deseja ser socialmente responsável deve ouvir o que chamamos de stakeholders, ou seja, colaboradores, fornecedores, clientes, parceiros e poder público e trazê-los para o centro das atividades sociais. Entenda que não existe Responsabilidade Social sem ética nos negócios, por isso a necessidade dos códigos de ética empresariais. Não adianta a empresa ser corrupta, fraudar seus registros e balanços e desenvolver ações sociais, pois quando estes padrões de comportamento virem à tona ela terá que responder por eles. A empresa deve cultivar em sua cultura organizacional a Responsabilidade Social e Ambiental, além da Ética Empresarial, para obter resultados objetivos no âmbito externo. Em outras palavras, ela deve atender inicialmente o público interno, mantendo seus padrões éticos, para posteriormente entrar em uma atividade que envolva a comunidade. Introdução Nesta aula você acompanhará a importância do Marketing Ambiental para o progresso econômico e social de empresas e pessoas, além de entender a importância de projetos de consciência ambiental, a fim de aumentar a credibilidade das empresas e a qualidade de vida de comunidades carentes. Você terá a oportunidade de conhecer e/ou se aprofundar nos assuntos a seguir: • identificar , por meio de cases de sucesso, o impacto de ações socioambientais no desenvolvimento de pessoas e empresas. Estratégias de marketing ambiental e o desenvolvimento socioeconômico de determinada região A crise ambiental, segundo Portilho (2010), exige que diversos setores da sociedade se tornem corresponsáveis pela preservação do planeta. Para a autora, é dever das empresas buscar as certificações ambientais, trabalhando, assim, segundo os padrões ecologicamente corretos; bem como informar aos cidadãos quais são as práticas de consumo que diminuem o impacto no meio ambiente. Diante do desequilíbrio ambiental e a partir da pressão popular, as organizações tiveram que rever seu posicionamento. Atualmente, elas têm que trabalhar com rotinas sustentáveis, ou seja, o processo de fabricação de produtos ou a prestação de serviços deve poupar os recursos naturais e reaproveitar os resíduos das atividades humanas, para que eles não sejam devolvidos ao meio ambiente em forma de poluentes (BARBIERI, 2008). Fazer uso de sacolas ecológicas em vez de sacolas plásticas nas compras e separar o lixo doméstico para reciclagem são alguns hábitos que as empresas podem estimular os cidadãos a adotarem, no sentido de diminuir a degradação ambiental O Marketing Ambiental tem sido uma importante ferramenta para as empresas mudarem sua postura com relação ao ecossistema, estimulando inovações tecnológicas para a produção de mercadorias responsáveis, com base em matériasprimas ecológicas e a redução de resíduos. Ele também pode ser considerado um você sabia? A chef de cozinha Paola Corosella levantou a bandeira contra a degradação ambiental e produz as refeições de seus restaurantes com alimentos sem agrotóxicos, grande parte vinda de seus fornecedores, que são agricultores de São Paulo focados em alimentos orgânicos. instrumento para mobilizar funcionários, fornecedores e a sociedade como um todo quanto a consciência ambiental, seja na rotina de trabalho ou em mudanças de hábitos. Vale ressaltar que somente a mudança na rotina de trabalho com base em ações ecologicamente corretas e campanhas de conscientização não bastam para que o problema se resolva. Além da preocupação com o planeta, o marketing também deve ser aplicado em ações que tragam qualidade de vida e desenvolvimento socioeconômico, assumindo as características do Marketing Socioambiental. Essa intervenção é necessária para que a sustentabilidade promova, também, a igualdade social (NASCIMENTO, 2012). Sendo assim, o Marketing Socioambiental pode contribuir para a melhoria de vida de comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano, financiando projetos ecologicamente corretos que darão a seus participantes melhores condições de vida. Os moradores de uma região podem elevar sua renda e ficarem menos expostos a doenças quando vivem em um ambiente não degradado. Entretanto, segundo Amorim et al (2009, p. 116), o bem-estar diminui quando se vive em uma comunidade poluída pelo “[...] assoreamento de rios, o entupimento de bueiros com consequente aumento de enchentes, além da destruição de áreas verdes, mau cheiro, proliferação de moscas, baratas e ratos”. Um estudo feito por cientistas das universidades da Geórgia, na Califórnia, e da organização oceanográfica Sea Education Association (SEA), revela como a questão dos resíduos ainda é um desafio a ser vencido. A pesquisa mostrou que a humanidade produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico até 2015. Desse total, cerca de 6,3 bilhões já foram descartados, mas apenas 9% foi reciclado, 12% incinerado e 79% ainda permanece acumulado em aterros ou segue poluindo o meio ambiente (CASTRO, 2017). O entupimento de bueiros demonstra uma ação humana que prejudica o meio ambiente, pois vem do lixo que se acumula nas ruas, escoa para as galerias e provoca o problema. Figura 2 - A degradação ambiental gera doenças Fonte: Strahil Dimitrov/Shutterstock.com Conforme assinalam Sá et al (2010), as empresas precisam contribuir para um mundo melhor porque, com o advento da internet, os públicos estão muito mais informados e aptos a monitorar as organizações. Elas podem ser alvos de denúncias quando os públicos se sentem desrespeitados ou percebem que não há engajamento em ações de responsabilidade social, consumo consciente e sustentabilidade. Algumas empresas têm conseguido credibilidade junto a seus públicos, desenvolvendo ações bem-sucedidas de Marketing Socioambiental. Entre essas iniciativas estão projetos que estimulam a consciência ambiental, geram renda e, consequentemente, elevam o nível de vida de algumas comunidades, assim como a reputação da própria organização. As denúncias podem ser feitas em canais oficiais da empresa, como os SACs (Serviço de Atendimento ao Consumidor) e sites, ou em plataformas como o Twitterou o Youtube (SÁ et al., 2010, p. 108-109). Um caso que pode servir como exemplo é o da mineradora Vale que, por meio de sua fundação, realiza projetos de estímulo à geração de renda nas comunidades dos arredores de suas minas. Entre os negócios dos quais a mineradora é apoiadora estão a produção artesanal de alimentos, a confecção de roupas, a economia criativa, os agronegócios de horticultura, a apicultura, a piscicultura, a agricultura familiar, os serviços de coleta seletiva, a limpeza e a conservação do meio ambiente. No sul do Pará, a mineradora apoia agricultores familiares a partir de capacitações, assistência técnica e investimento em equipamentos e insumos A agricultura familiar tem se tornado, a exemplo das ações da Vale, um interessante nicho para o Marketing Ambiental. Ao investir em projetos dessa natureza, as organizações criam fonte de renda para comunidades pobres, colaboram para que os participantes ampliem seus mercados e incentivam o uso de técnicas agrícolas que não agridem o meio ambiente, colhendo e comercializando alimentos mais saudáveis. Case Natura e o Marketing Socioambiental de comunidades da Amazônia A empresa Natura é frequentemente citada em pesquisas acadêmicas como uma organização brasileira modelo em planejamento estratégico, marketing e comunicação, com contribuição para o desenvolvimento social de seus públicos. Fabricante de cosméticos e produtos para saúde e nutrição, a Natura se tornou, segundo Sá et al. (2010, p. 140), “[...] uma das marcas mais valiosas e admiradas do Brasil”. Para os autores, uma estratégia acertada foi trabalhar com o conceito de que seus produtos são um canal para o autoconhecimento e a autoestima de seus consumidores: “O jogo de palavras do slogan ‘Bem-estar bem’ basicamente sintetiza a ideia de que quando você se sente bem espalha bem-estar ao seu redor, fazendo um mundo melhor” (SÁ et al., 2010, p. 140). caso Uma demonstração de que a agricultura familiar se tornou uma saída concreta para comunidades de baixa renda é que, segundo o Governo Federal, ela é responsável por 70% dos alimentos consumidos no país (PORTAL BRASIL, 2015). caso Um exemplo de como o conceito da Natura é divulgado pode ser reconhecido em seu quadro de vendedoras, que somavam 7 mil no ano de 2016. Sá et al. (2010, p. 140) menciona que são elas que “[...] agem como ativistas defendendo uma causa apaixonadamente, disseminando as crenças da empresa”. - 9 - Um dos projetos mais repercutidos da Natura, a partir dos fundamentos do Marketing Socioambiental, foi ela ter criado, no ano de 2000, a linha de cosméticos Ekos, produzida com matérias-primas da Amazônia. A empresa fez parceria com agricultores e cooperativas da região, os quais fornecem os produtos que vêm da floresta. Além disso, também há treinamento para as comunidades com relação ao manejo correto na extração de frutas e plantas da região – como castanha, murumuru, buriti, açaí, entre outros –, que são usados como fonte para os produtos dessa linha (TRISTÃO et al., 2012; NATURA, 2017). Figura 4 - Empresas podem apoiar agricultores Fonte: gnomeandi/Shutterstock.com Além de estimular a autoestima de seus consumidores, a empresa fomenta o lado empreendedor das comunidades ribeirinhas do Amazônia ao incentivar o plantio e a extração sustentável das matérias-primas, gerando, assim, renda e bem-estar para a população. RELAÇÃO ENTRE ÉTICA, TECNOCIÊNCIA E BIOÉTICA Introdução Nesta aula, vamos investigar os conceitos de tecnociência e Bioética, bem como sua relação com a ética. Estudaremos os avanços destas atividades no Brasil e no mundo, sua importância, princípios, normas e condutas éticas e morais sobre os avanços tecnológicos e científicos. Como você já deve saber, a ética disseminada pelo mundo é baseada na ética filosófica, conforme aponta Srour (2008), sendo chamada de filosofia da moral. Ela estabelece uma moral universal que é adotada por consenso entre os povos. Já a ética científica, ou ciência da moral, representa o estudo e observação dos fatos e dos fenômenos, não emite juízo de valor, além de provar, criar e demonstrar ações que sejam concretas ao ser humano, seja nos campos biológicos ou naturais (SROUR, 2008). Ao longo das próximas páginas, abordaremos também os limites éticos que são impostos pelos Estados para empresas e sociedade civil a respeito da tecnociência e da Bioética. Conceito de tecnociência Saiba que ciência e tecnologia são temas diferentes, porém estão interligados. A ciência se propõe a pesquisar os fenômenos naturais e sociais, dentro de uma busca por resultados estabelecidos e confirmados, por meio de mecanismos de causa e efeito de forma racional. Já a tecnologia é o processo contínuo de melhoria de processos e produtos por meio de inovações que alteram a realidade do ser humano. O fator tecnológico está intrinsicamente ligado à melhoria de vida do ser humano, criando ferramentas que trazem o bem-estar para o consumidor final e também para a comunidade científica (BOFF, 2012). Entenda por tecnociência o conceito de tecnologia amarrado ao de ciência, ou seja, a tecnologia empregada a serviço da ciência. Devido ao alto desenvolvimento econômico, social e crescimento populacional verificado nos últimos séculos, tecnologia e ciência se fundem em estudos e pesquisas para não só entender fenômenos naturais nas áreas de saúde, educação, meio ambiente e bem-estar social, mas também para buscar novas técnicas e tecnologias e facilitar a vida em sociedade (GOMES; MORETTI, 2007). Muitas vezes nos beneficiamos dos avanços científicos e tecnológicos, mas também sofremos com eles. As empresas buscam regular o ciclo de vida dos produtos e seus descartes para evitar que causem maiores danos ao meio ambiente, reduzindo embalagens e materiais utilizados na fabricação. Saiba mais sobre o assunto em: “Curso de Gestão Ambiental”, de Arlindo Philippi Jr., Marcelo de Andrade Roméro, e Gilda Collet Bruna, 2007. Perceba que existem várias áreas de atuação da tecnociência. Listamos algumas abaixo, confira! • Meio ambiente: por meio de práticas de combate à poluição, redução de dejetos e descartes, formas de buscar a redução do lixo ambiental e utilização consciente dos recursos naturais. • Agricultura, pecuária e culturas: tecnologias de avanço nas genéticas embrionárias de animais, busca de sementes geneticamente modificadas, mas que sejam resistentes à pragas e intempéries, criando maior produtividade etc. • Educação e bem-estar: inovação através de equipamentos eletrônicos para melhorar os processos educacionais e de aprendizado, bem como o bem-estar do ser humano com as facilidades tecnológicas e digitais, como dispositivos móveis e computadores e internet. • Indústrias: criação de novos maquinários e processos produtivos automatizados, bens de consumo com tecnologia avançada como casas e veículos totalmente controlados por computador. • Saúde: talvez seja o aspecto mais complexo, pois lida com relações humanas mais profundas. Conforme SROUR (2008), aqui há interferência direta nos sentimentos e vidas humanas, criando novas possibilidades de curas, remédios, técnicas científicas que muitas vezes trazem fortes discussões éticas. • Química, Biologia e Física: Novos estudos buscando utilizar itens da ciência natural para melhoria de processos em diversos segmentos. • Setor bélico e de pesquisa de armas químicas: desenvolvimento de armamentos menos (ou mais) letais e mais inteligentes para combate ao crime, utilização em guerras e combate ao terrorismo. caso Um exemplo de tecnologia criada a partir de combustíveis fósseis é o petróleo, utilizado na fabricação de plástico, que se tornou um problema sustentável para o mundo todo em relação ao seu descarte na natureza. Muitos avanços tecnológicos trazem problemas indissolúveis ou que precisam ser resolvidos a longo prazo (TACHIZAWA, 2007). - 5 - Relação entre ética e tecnociência Você deve saber que a ética corresponde a valores individuais e subjetivos. Porém é necessário compreender que outros elementos como Estados, governos, empresas e sociedade civiltambém têm suas normas e valores estabelecidos por meio de códigos, normas e leis. Figura 2 - Ética e ciência Fonte: wk1003mike/Shutterstock.com caso Um exemplo de crime ligado à tecnociência no Brasil é a clonagem de seres humanos, conforme Governo Federal (2005), com pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa. Entretanto, em muitos países, a prática é tolerada e existem estudos em diversos estágios neste sentido, os quais criam discussões e dúvidas éticas entre pesquisadores do mundo todo. - 6 - Se ferirem estes códigos e normas e criarem dúvidas ao senso ético comum do cidadão, estes elementos da sociedade organizada são passíveis também de sofrerem sanções e punições (SROUR, 2008). O grande desafio atual é impedir que estes novos avanços tecnológicos, úteis para o desenvolvimento da população do planeta, extrapolem sua verdadeira finalidade e não sejam utilizados para finalidades que afrontam a moral e ética estabelecida (SROUR, 2008). É claro que a ética deve ser praticada pelas empresas, mas deve ser controlada por governos, por meio de órgãos específicos por segmento de atuação, os quais devem punir os excessos de acordo com a lei vigente (DURANT, 2010). Assim, é necessário compreender que os avanços tecnológicos e científicos melhoram o padrão e qualidade de vida dos cidadãos, entretanto, devemos saber que existem limites éticos que devem ser considerados. Existem diversas correntes filosóficas que defendem que a ética de cada localidade ou país deve prevalecer. Há regras, entretanto, que valem para a totalidade dos países, independente de seu grau de utilização dos avanços tecnológicos ou de seus preceitos locais. Muitos países apoiaram o protocolo de Kyoto, manifesto que visava reduzir a emissão de poluentes, entretanto, alguns países signatários da ONU se reservaram o direito de não compactuar com o protocolo. Existe no Brasil, uma lei federal de 24/03/2005 da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, que cria normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados, os chamados OGM e seus derivados. O que é Bioética? Saiba que a Bioética é um ramo da ciência que estuda os riscos apresentados à sociedade e à ética vigente por ações ligadas a pesquisas médicas ou desenvolvidas por biomédicos com a colaboração da tecnologia, ou seja, a tecnociência (SROUR, 2008). Segundo BOFF (2012), a Bioética pode ser relativa a pesquisas genéticas, médicas e animal, mas também pode estar relacionada ao meio ambiental ou a estudos que envolvam as alterações genéticas de embriões ou seres vivos. Estes campos de estudos da Bioética vão de encontro também à própria ética médica, que muitas vezes é responsável pela execução das pesquisas nestas áreas, bem como de atividades que causem desconforto ou dúvidas à sociedade em geral. São exemplos desses desconfortos: aborto; eutanásia; clonagem de células e pessoas A Lei Nacional de Biossegurança (CTNBio, 2005) não permite a clonagem de animais e seres humanos, mas há uma controvérsia de viés acadêmico médico e ético em relação à criação e pesquisa das chamadas células-tronco, na utilização de combate a doenças degenerativas e mesmo como tratamento de câncer. (células-tronco); produtos transgênicos ou geneticamente modificados; além de pesquisas que envolvam a utilização de cobaias humanas ou animais, fertilização in vitro, suicídios ou qualquer outro tipo de pesquisa percebida como ameaça à vida. Como podemos perceber, a tecnociência e a Bioética são vertentes da atuação humana que despertam polêmica na sociedade civil e precisam ainda ser estudadas e debatidas em larga escala antes de se tornarem lugar comum. Você sabia que existem leis e normas que punem empresas e pessoas que utilizam a Bioética de forma abusiva ou que ultrapassem os limites do que é moralmente aceito pela sociedade e normas? Para saber mais, leia Introdução Geral à Bioética - História, conceitos e instrumentos de Guy Durant. PROBLEMAS MORAIS E PROBLEMAS ÉTICOS Introdução Nesta aula, vamos estudar os problemas morais e éticos que ocorrem no dia a dia e que afetam diretamente os membros da sociedade no que diz respeito às escolhas que fazemos, aos deveres que possuímos e às obrigações que temos perante à coletividade. Conceito de ética e moral A palavra ética vem do grego ethos, que significa conduta, agir corretamente e dentro de um padrão correto. Conforme Motta (2015), trata-se de um conjunto de valores que orienta o comportamento do homem em relação a outros membros da sociedade, ou seja, a ética é a forma com que o homem deve se comportar em seu meio social. A ética é construída no decorrer dos anos Quando criança, o homem aprende as normas e padrões vigentes, que o auxiliam no sentido de poder discernir o certo e o errado. Existem, entretanto, os problemas éticos. Saber se furtar uma maçã de uma banca sem que o dono perceba é uma conduta correta ou não, por exemplo, é um dilema ético. Entenda que a ética diz respeito, portanto, à forma de agir dentro da sociedade, de maneira que o cidadão tenha consciência e saiba distinguir o que é certo e do que é errado de maneira cognitiva, ou seja, de acordo com o conhecimento acumulado durante os anos. Entretanto, a ética é essencial para as questões morais, posto que é formadora de opinião particular, como veremos a seguir. O que é moral? Vazquez (2002) define moral como um sistema de normas, princípios e valores históricos que permeia as relações entre os indivíduos e que é aceito e acatado livremente, por convicção própria e consciência do cidadão. Já segundo Chauí (2008), a filosofia moral ou ética nascem quando existem senso e consciência moral individual. Neste caso, busca-se saber, além da correção dos costumes, sobre o caráter de cada pessoa, que fica bem definido através da conduta moral de cada indivíduo. Segundo Vazquez (2002), a ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, engloba uma forma específica de comportamento. Você já pensou na possibilidade de um juiz julgar um caso contra as próprias convicções morais, seguindo as regras e leis vigentes, ainda que elas destoem de suas crenças internas? Quer um exemplo dessa situação? Então confira a seguir! você sabia? Os padrões éticos e morais vão além da vida cotidiana em sociedade. O plano ético passa também pela vida profissional, ou seja, como ter uma conduta célere no ambiente de trabalho. Você pode saber um pouco mais sobre o tema por meio da obra “Ética e vida profissional”, de Nair de Souza Motta. Devemos, portanto, entender que a moral é a área dentro dos valores da sociedade em que o cidadão deve se comportar de acordo com o que é estabelecido por regras e normas, as quais definem o que é moral ou imoral. caso No julgamento de um assaltante que roubou um pacote de bolachas no supermercado, o juiz sabe que ele roubou por uma atitude nobre, para saciar a fome, mas perante à sociedade, à justiça e perante às leis vigentes, ele deve julgar como crime comum de patrimônio, que prejudicou a ação comercial do supermercado e seus sócios. A seguir, veremos as definições e exemplos de problemas morais e éticos. Problemas éticos e morais Saiba que existem diversos tipos de problemas éticos e morais. Problemas éticos geralmente estão atrelados às seguintes perguntas: “O que devo fazer e porquê?”; “Como devo agir?”; “Como agir no lugar dos outros?”; “O que é justiça?”; “O que é bem e mal?”; “O que é certo e errado?”. A sociedade, através dos costumes, cria regras e valores que deverão ser seguidos para evitar o caos nas decisões unilaterais de cada cidadão. Caso isso não aconteça, o cidadão passa a se utilizar somente daquilo que é errado, livremente e sem nenhum tipo de controle. Já como problemas morais, podemos citar: “Roubar ou não?”; “Ter vantagem sobre outra pessoa é imoral?”; “Causar desfalques financeirosem uma empresa é imoral?”; “Matar ou não?”; “Ridicularizar outra pessoa é imoral?”; “Causar transtornos a terceiros trata-se de ato moral ou não?”. No caso dos problemas morais, muitas das dúvidas e dilemas são estabelecidos por lei, ou seja, existe uma regulamentação que vai decidir a moralidade do ato ou não. Nesse caso, mesmo que o indivíduo pense que esteja agindo eticamente pelo seu bem, pode causar mal a outrem, conforme Vazquez (2002). A moral existe principalmente na vida social, ou na sociedade em que o indivíduo se encontra, através de normas, leis, regras préestabelecidas que devem ser obedecidas. Ao transgredir estas normas, o cidadão fica sujeito à sanções e penalidades. caso Um caso comum de dúvida ética é saber diferenciar o que é certo e errado. Com o passar dos anos, o cidadão desenvolve discernimento para julgar uma ação de acordo com os conceitos já absorvidos. Este raciocínio lógico é interno e somente a pessoa pode fazê-lo. É isso que torna os indivíduos livres em seus processos decisórios. Evidentemente que existe um diferencial em cada sociedade, pois elas levam em consideração diferentes formas de punição para crimes iguais no mundo todo. Em alguns estados dos Estados Unidos da América, por exemplo, o crime de homicídio tem como condenação máxima a pena de morte, ao passo que em outras regiões, pune-se o infrator com prisão perpétua. No Brasil, a pena máxima de reclusão para este crime é de 30 anos. Isto ocorre pelo fato consuetudinário, ou seja, de acordo com os costumes que servem de base para as regras morais, as normas e a legislação no decorrer dos anos e que forçam os países a fazer e estabelecer leis para regularizar e regulamentar a questão moral entre os indivíduos. Neste caso, praticar um crime é ilegal e imoral. Como cidadão consciente, você pode ver e crer que existe uma coerência na moralidade, diferente dos preceitos éticos, que são definidos internamente pelo indivíduo. Os problemas éticos são caracterizados pela sua generalidade, ou seja, existem diversas situações de dúvidas éticas no que se refere ao comportamento humano, diferente dos problemas práticos do dia a dia. Entretanto, a ética contribui para justificar a moralidade do que é certo e errado perante a sociedade. Com o passar dos anos e das mudanças da cultura e sociedade, o cidadão passa a adquirir novos conceitos de normas, regulamentos e valores. Esse processo é chamado de consuetudinário, isto significa que nossos valores partem dos costumes. Atualmente, o bem comum é alcançado pela harmonização dos interesses de cada indivíduo em relação aos valores gerais da comunidade. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Introdução Você já ouviu falar em responsabilidade socioambiental? Saiba que esta noção envolve profundas reflexões de ordem ética, sendo um dos temas mais discutidos na atualidade. Responsabilidade socioambiental Como você já deve saber, o comportamento guiado pela ética e pautado em valores morais representa algo importante nas sociedades atuais. É importante compreender as perspectivas relacionadas à postura dos indivíduos e das organizações perante as questões éticas. O conceito de responsabilidade socioambiental é um desses aspectos. Entendê-lo requer o conhecimento prévio de responsabilidade social e responsabilidade ambiental, conceitos estes que estão intimamente ligados à percepção de desenvolvimento sustentável. Segundo Abdalla-Santos (2011), o conceito de desenvolvimento sustentável diz respeito à capacidade de promover o crescimento humano, econômico e social, com respeito ao meio ambiente, de forma a atender às necessidades do presente sem comprometer o direito das futuras gerações em suprir as próprias necessidades. Ao relacionar crescimento econômico e meio ambiente, temas historicamente conflitantes, a expressão engloba certa polêmica e dá margem a questionamentos. O dissenso em torno do conceito, entretanto, não chegou a impedir que a noção de desenvolvimento sustentável se difundisse mundialmente (ABDALLA-SANTOS, 2011). Tal fato foi impulsionado com a divulgação do “Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento”, o Relatório Brundtland, publicado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1987, sob o título de Nosso Futuro Comum (ABDALLASANTOS, 2011). O relatório declara não só a possibilidade, mas também a necessidade de se alcançar maior desenvolvimento sem destruir os recursos naturais, conciliando crescimento econômico e conservação ambiental. Preocupações semelhantes inseriram desenvolvimento sustentável nas ações prioritárias da Agenda 21 brasileira, declaração nascida após a conferência ECO-92, no Rio de Janeiro, e referendada na Conferência de Johanesburgo, em 2002 (AGENDA 21, 2004). A evolução do conceito de sustentabilidade envolve sua utilização em diversas áreas do conhecimento. Hoje existem até mesmo disciplinas acadêmicas, como é o caso da Engenharia da Sustentabilidade, que é parte do curso de Engenharia de Produção. você sabia? A Constituição Federal brasileira de 1988 estende o conceito de meio ambiente ao ambiente de trabalho (art. 200, inciso VIII); à comunicação social (art. 220, parágrafo 3º, inciso II); aos princípios da ordem econômica (art. 170, VI); e à função social da terra (art. 186, II), entre outros aspectos implícitos no texto constitucional. Tais discussões trouxeram para as agendas públicas e privadas dos governos e das organizações novos termos associados à ideia de desenvolvimento sustentável, cuja evolução sofreu a influência da sustentabilidade, palavra muitas vezes utilizada de forma rasa, superficial, apesar de seu potencial. Por outro lado, essa mesma evolução caminhou junto com o entendimento de responsabilidade social, grande passo em relação à responsabilidade ambiental e, posteriormente, socioambiental. Responsabilidade ambiental trata do conjunto de posturas individuais ou organizacionais preocupadas com seu impacto sobre os recursos naturais ou construídos, no intuito de preservá-los. A preocupação com o tema cresceu e instrumentos de regulação (normas legais, acordos, códigos de ética) surgiram, ampliando o alcance das questões ambientais para os espaços de trabalho, o meio urbano, os aspectos de saúde física e psicológica. Ampliado, o conceito praticamente deu lugar à ideia de responsabilidade social, uma espécie de compromisso assumido pela sociedade, de tal forma que nossas ações, esforços e desempenho sejam sempre voltados para a melhoria das condições de vida de todos que fazem parte desse universo. Aqui, você pode perceber a íntima relação entre responsabilidade ambiental e responsabilidade social. Borato (2011) elaborou um estudo no qual a empresa 'O Boticário' foi apresentada como exemplo de organização cujos resultados são buscados em sintonia com a ética social. Trata-se de estratégia de responsabilidade socioambiental, de tal forma que a ética e o respeito norteiam os relacionamentos da organização, como forma de reforçar e tornar as parcerias mais duradouras. Para Edgar Morin (2000), os problemas de ordem moral e de natureza ética envolvem ao mesmo tempo dimensões de nossa participação individual, social e genérica em um mundo no qual os seres humanos compartilham um destino comum. Trata-se de uma visão ecossistêmica de mundo que ele convencionou chamar de antropoética. Surge, assim, a noção de responsabilidade socioambiental, que abraça todos os conceitos anteriormente apresentados, pois engloba a preocupação ambiental, a social, a individual e a organizacional. Todos estes aspectos seriam considerados uma visão ampliada de meio ambiente. Responsabilidade social e visão ecossistêmica da sociedade Os focos internacional e local se voltaram para aspectos da chamada economia sustentável e da responsabilidade social, criando expressões como responsabilidade social corporativa (RSC) e responsabilidade social empresarial (RSE). Noções que, segundo Sólio (2013), são importantes para as organizações que praticam o discurso politicamente correto voltado ao marketing social, sendo, por vezes,utilizadas como sinônimos. O desenvolvimento sustentável passou a ser buscado pela sociedade de forma geral. O interesse capitalista recaiu naturalmente sobre os consumidores que, quando não satisfeitos, impactam negativamente a imagem dos negócios alheios ao meio ambiente. Assim, questões como fuga de capital, desempenho e valorização das ações muitas vezes ativam a preocupação empresarial com o meio ambiente (SÓLIO, 2013). Firmaram-se, assim, os conceitos de responsabilidade social voltados às organizações. Embora haja várias versões de tais conceitos, uma abordagem bastante aceita entende a responsabilidade social empresarial (ou corporativa) como sendo a atitude ética dos cidadãos e das empresas em todas as suas atividades e nas relações com parceiros, clientes, fornecedores, funcionários, meio ambiente, governos, acionistas, concorrentes e comunidade (KARKOTLI, 2007). É o reconhecimento do papel de cidadão consciente a todo indivíduo com o qual a organização se relacione. O que se deu foi uma mudança de paradigma, que ressalta a importância de uma perspectiva ecológica. Boeira, Pereira e Tonon (2013) enfatizam o entendimento moriniano, segundo o qual torna-se fundamental entender o homem e suas relações Na visão moriniana, o ambiente urbano é também considerado um ecossistema sociourbano, pois sobrevive dos alimentos extraídos do ecossistema natural (água, gás, carvão, gasolina), além de possuir elementos e sistemas vivos que constituem o meio natural, como clima, atmosfera, subsolo, microorganismos vegetais e animais (MILIOLI, 2007). como um sistema aberto vivo, auto-organizador. Como tal, o ser humano se constrói multiplicando suas ligações com o ecossistema, de tal forma que, quanto mais evoluído, mais aberto (complexo) ele será. Dentro dessa visão, o homem é o sistema mais aberto (complexo), o que se evidencia na interdependência que ele mantém com a natureza, com o ecossistema técnicosocial, social ou sociourbano. Esse ecossistema sociourbano consiste na sociedade moderna entendida sob o ponto de vista ecológico, ou seja, a partir da visão de indivíduos, grupos, governos e organizações que fazem parte desse sistema aberto. Quanto mais evoluída for a sociedade, maior será a complexidade técnica do ecossistema social (BOEIRA, PEREIRA e TONON, 2013). caso A visão de interdependência ecossistêmica pode ser exemplificada a partir da rotina de vida do ser humano da atualidade. Para construir nossa autonomia, precisamos consumir produtos e energia extraídos do ecossistema (alimentos, vestuário, moradia, aprendizagem familiar, acadêmica, social etc.). Isso significa que quanto mais independentes nos tornamos, mais nos tornamos dependentes do mundo exterior. Em outras palavras, a independência da sociedade moderna é relativa, pois formamos um ecossistema. A noção de ecossistema apoia-se em uma percepção holística da relação entre o ser humano, a sociedade e seus sistemas técnicos que são, no entendimento de Santos (2008), os elementos do espaço geográfico: os homens, as firmas, as instituições, o meio ecológico e as infraestruturas; todos intercambiáveis e redutíveis entre si; elementos (variáveis) dotados de historicidade; e que interagem de forma interdependente. Podemos concluir que, dentro da visão ecossistêmica da sociedade, a noção de responsabilidade social assume proporções que exigem um envolvimento efetivo dos indivíduos e das organizações. Trata-se de uma postura profundamente comprometida com aspectos éticos de proteção à vida planetária. SUSTENTABILIDADE: HISTÓRICO E ANTECEDENTES Introdução Cada vez mais, lemos, ouvimos falar e debatemos o tema da sustentabilidade. Esse interesse não é passageiro nem exagerado. Ao contrário, as questões ligadas à sustentabilidade da vida na Terra vêm sendo objeto de estudos científicos sérios, com resultados preocupantes. Um exemplo disso está nas mudanças climáticas, já percebidas por todos devido aos eventos climáticos extremos. Parte das pesquisas aponta para o homem e nosso modelo de consumo como principais responsáveis pelo aquecimento global. Essas pesquisas afirmam que, se a população mundial adotasse o mesmo nível de consumo dos norte-americanos, hoje precisaríamos de cinco planetas para manter tal estilo de vida. As insustentáveis diferenças entre pobres e ricos também levam a grandes desastres humanos, sociais e ambientais. É importante salientar, no entanto, que as transformações do homem sobre o planeta não são más em si mesmas. Se referindo à capacidade humana de criar sua própria história, Paulo Freire (2005) afirma que os homens recriam e transformam o mundo incessantemente. Essa capacidade é admirável. O que está em questão é o limite dessas transformações, pois nos demos conta de que o equilíbrio do meio ambiente e, por conseguinte, de nossa vida, foi afetado pela falta de limites éticos e humanitários. A seguir, estudaremos o conceito de sustentabilidade, assim como seus antecedentes históricos e a evolução desse conceito. Assim, você compreenderá que, apesar da gravidade do problema, é possível fazer algo positivo e efetivo, desde que se tenha consciência e conhecimento do assunto. Vamos lá? Você terá a oportunidade de conhecer e/ou se aprofundar nos assuntos a seguir: • compreender os antecedentes históricos. • compreender a evolução do conceito de sustentabilidade. • identificar o conceito de sustentabilidade. 1.1 Histórico As transformações no nosso entorno natural têm início com a aventura humana no Planeta. As sociedades humanas evoluíram de forma diferente em diversas partes do Planeta desde os 13.000 anos, quando aconteceu a última era glacial. Algumas sociedades se mantiveram por muito tempo como caçadoras-coletoras de alimentos, fazendo uso de artefatos de pedra, ou seja, tinham na caça e na coleta de alimentos a fonte de sobrevivência, causando pouco impacto no seu entorno natural. Outras sociedades, no entanto, desenvolveram ferramentas de metal e evoluíram consideravelmente até interferir de forma substancial no meio ambiente. O homem, o único animal racional que apareceu na Terra, foi “moldando” o entorno a suas necessidades, em busca da sobrevivência. Mais tarde, grupos humanos buscaram aumentar seu território, conquistando novas regiões. Também surgiu a busca de poder e riqueza, permitindo a troca de bens entre diferentes povos, e, por fim, a acumulação de bens. Por muito tempo acreditou-se que a natureza seria uma fonte inesgotável de recurso. Extraímos do meio ambiente recursos muito frequentemente acima do que a natureza consegue repor, e devolvemos a ela os restos da produção e do consumo. Ressalta-se aqui que, nos países de economias desenvolvidas, o consumo é muito acima da necessidade de subsistência da população. Assim, o consumo serve não só para o conforto humano, mas para manter o sistema econômico em funcionamento. Em resumo, como explica Barbieri (2007), o homem vem usando o meio ambiente como fonte de recursos e, ao mesmo tempo, como recipiente de resíduos. Mas, então, quando foi que o homem civilizado começou tomar consciência da inviabilidade dessa equação a longo prazo? Nos anos 1960, no século XX, surgiu uma preocupação difusa com a ecologia e com a conservação do meio ambiente, em que grupos começaram a questionar as formas de desenvolvimento preconizadas pelas nações no Pós-guerra. Em 1961, foi organizado o primeiro grupo ambientalista, a World Wild Foundation (WWF), que reunia as iniciativas da Union for the Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) e da The Conservation Foundation (Fundação para Conservação). E, apesar da escassez de recursos e da pouca clareza de objetivos, o grupo conseguiu criar o Morges Manifest com a assinatura de 16 dos principais ambientalistas do mundo. Em 1962, o livro “Primavera Silenciosa” (Silent Spring), de Rachel Carson, dou voz e suporte ao movimento ambientalista ao denunciar os danos ao ambiente, causados pelos pesticidas, em especial o cancerígeno DDT, mais tarde proibido em