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Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 2 Entre saberes / Secretaria de Estado de Educação. Cefor. - v. 05 .-- n. 08 .–Belém, PA : SEDUC, CEFOR, Junho 2022. Semestral ISSN: 2596-0431 Revista de relatos de experiência em foco do Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (Cefor). 1. Educação – Ensino e Aprendizagem. 2. Metodologia. I. Secretaria de Estado de Educação do Pará. Cefor. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares - SIEBE / SEDUC – PA CDD - 22. ed Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 3 “Entre Saberes” é uma publicação online de periodicidade semestral, destinada à publicação de experiências educacionais exitosas, concebidas e realizadas por professores das escolas da rede de Educação Básica do estado do Pará, com objetivo de valorização desse docente e de propiciar o efeito multiplicador dessas práticas na rede. Expediente GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ Helder Zahluth Barbalho SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO Elieth de Fátima Silva Braga SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO (SAEN) Regina Lucia de Souza Pantoja SECRETARIA ADJUNTA DE GESTÃO DE PESSOAS (SAGEP) Cleide Maria Amorim de Oliveira Martins SECRETARIA ADJUNTA DE PLANEJA- MENTO E GESTÃO (SAPG) Delciene Loureiro Corrêa SECRETARIA ADJUNTA DE LOGÍSTICA ESCOLAR (SALE) Alexandre Buchacra DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA (DEB) Regina Celli dos Santos Alves (Secretária Adjunta de Ensino, em exercício) CENTRO DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ Francisco Augusto Lima Paes EQUIPE ENTRE SABERES AUTOR CORPORATIVO Centro de Formação dos Profissionais da Educação do Estado do Pará Endereço: Rua Gama Abreu, 256 - Bairro de Nazaré Belém – Pará CEP: 66.015-130 E-mail: ceforrevista@gmail.com EDITORES Nádia Eliane Cortez Brasil Sandra Lúcia Paris CONSELHO EDITORIAL Esther Maria de Souza Braga Francisco Augusto Lima Paes Nádia Eliane Cortez Brasil Sandra Lúcia Paris DIAGRAMAÇÃO Paulo Roberto Sousa David CAPA André Luís Pereira de Freitas PARECERISTAS AD HOC Profª Ma. Ana Lúcia Brito Profª Ma. Daniela de Nazaré Torres de Barros Profª Ma. Esilene dos Santos Reis Arruda Profª Ma. Esther Maria de Souza Braga Profª Ma. Gláucia de Nazaré Baía e Silva Profº Me. Roberto Pinheiro Araújo Profª Ma. Salier Juliane dos Santos Castro REVISÃO GERAL Profº Me. Roberto Pinheiro Araújo Profª Ma. Ana Lúcia da Silva Brito Periodicidade: semestral Endereço eletrônico: https://issuu.com/entresaberes Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 4 Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ CIENTISTAS DA REALIDADE: TRANSVERSALIZANDO A CIÊNCIA NO COTIDIANO INTERDISCIPLINAR ............................................................................................................................. Marcilene do Carmo de Oliveira Miranda ARTE QUE COMUNICA: UMA EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO E INCLUSÃO DO SAEE ..................................................................................................................................................... José Antônio Cardoso de Souza e Thaís Ferreira de Sales A LEITURA NO PERCURSO DA FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR E ESCRITOR: TRILHANDO CAMINHOS PARA AUTORIAS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA ......................................... Leidiane Pereira de Oliveira JORNAL ESCOLAR: DESENVOLVENDO A LEITURA, ESCRITA, ORALIDADE E CIDADANIA ....... Elton Oliveira Morais e Tayson Silva Cirqueira PROJETO ENEM: POR UMA AMPLIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS E UMA FORMAÇÃO HUMANA ............................................................................................................................................... Ana Diane Vinhote de Almeida e João Aluízio Piranha Dias (RE)CONSTRUINDO A IDENTIDADE DO INDÍGENA: “O ÍNDIO QUE MORA NA NOSSA CABEÇA” .............................................................................................................................................. Francinete de Jesus Pantoja Quaresma, Plíncida da Silva Marinho e Tânia Maria Cardoso dos Santos O ENSINO DE LIBRAS COMO L1 PARA SURDOS ............................................................................. Walace de Souza Almeida, Ruth Carliane Brasil Ribeiro Almeida e Walber Gonçalves de Abreu ESCRITORES EM FORMAÇÃO: PRÁTICAS DE CRIAÇÃO LITERÁRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................................... Felipe Hilan Guimarães Santos MEDO E OUSADIA NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19: O USO DAS TDICS NA ALFABETIZAÇÃO DOS ALUNOS DO 3°ANO ..................................................................................... Évila Roseanne Silva da Anunciação e Silva e Danielle Cristina Araújo e Silva Bentes 5 8 17 26 35 46 56 66 75 84 Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 5 Apresentação É com grande alegria que publicamos a 8ª edição da revista eletrônica “Entre Saberes”, trazendo à ribalta os relatos de experiência de professores e demais profissionais da educação que atuam na rede pública de ensino, seja na esfera estadual ou municipal. Nesta edição, contamos com diversas temáticas, as quais merecem publicidade, seja por serem práticas de excelência ou como forma de sugestão para o trabalho docente, o que promove um efeito multiplicador no que diz respeito aos processos de ensino e aprendizagem ou em relação à atuação da gestão escolar e coordenação pedagógica das unidades de ensino. É fundamental primar pela valorização desses profissionais que, com muita dedicação, mudam sua realidade. A seguir, destacamos os relatos de experiência aprovados nesta 8ª edição e os seus respectivos autores, acompanhados de uma síntese-anunciativa de cada temática, a saber: Cientistas da realidade: transversalizando a ciência no cotidiano interdisciplinar - Marcilene do Carmo de Oliveira Miranda – Cametá/PA, relata a participação dos alunos da E. E.E.M. Júlia Passarinho, do município de Cametá/PA, os quais, por três anos consecutivos, representam a escola na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – SNCT. Esses estudantes são convidados a visitar e cartografar diferentes ambientes que caracterizam os cenários do setor econômico da região de Cametá, num processo de pesquisa voltado para a coleta do açaí, a produção de farinha e a captura do pescado. Ao retornarem à sala de aula, têm como propósito aliar a prática vivenciada às reflexões teóricas que corroboram para a compreensão da realidade e ressignificação da experiência, permitindo assim maior diálogo entre os diferentes componentes curriculares. Arte que comunica: uma experiência de transformação e inclusão do SAEE – José Antônio Cardoso de Souza e Thaís Ferreira de Sales – Belém/PA, apresenta os significativos avanços conquistados por um aluno, por intermédio da Arte, durante os atendimentos especializados do Serviço de Atendimento Educacional Especializado (SAEE), tornando-o protagonista de práticas e processos de criação que, ao longo do plano de desenvolvimento individual elaborado para ele, possibilitaram-no socializar suas produções e o auxiliaram a amenizar suas dificuldades escolares, seja de aprendizado, de comunicação ou de socialização. A leitura no percurso da formação do aluno leitor e escritor: trilhando caminhos para autorias nas aulas de Língua Portuguesa – Leidiane Pereira de Oliveira – Belém/Pará, traz a descrição da experiênciavivida com os alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental da E.E. “Ruth Passarinho” – Belém/PA – cuja atividade desenvolvida culmina na Tarde de Autógrafo “Ler é uma Aventura”. Atualmente, o projeto, por sua relevância para a comunidade, está em sua 3ª edição e desde 2019 valoriza o desenvolvimento da compreensão leitora e das habilidades em escrita dos alunos, formando assim novos leitores e escritores. Jornal Escolar: desenvolvendo a leitura, escrita, oralidade e cidadania – Elton Oliveira Morais e Tayson Silva Cirqueira – Altamira/Pará, diz respeito à experiência vivenciada no projeto Jornal Escolar, de criação dos estudantes do Ensino Médio do município de Brasil Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) Novo/Pará, o qual tem por objetivo divulgar saberes, não apenas informação para o público acerca de questões ligadas à escola, mas também refletir aspectos da vida social, econômica, política, cultural da atualidade. Constitui uma ferramenta pedagógica para o trabalho inter e transdisciplinar, por ser um espaço no qual se apresenta o debate de temas relacionados às experiências dos alunos e no qual os conteúdos curriculares podem ser explorados, enriquecendo a participação dos envolvidos. Projeto ENEM: por uma ampliação dos conhecimentos e uma formação humana – Ana Diane Vinhote de Almeida e João Aluízio Piranha Dias – Curuá/PA, descreve a experiência vivenciada pelos próprios autores do texto quando da execução, desde 2019, do Projeto ENEM, desenvolvido na E.E.E.M. Soraya Marques Chayb, município de Curuá/PA. Tem por finalidade ofertar aulas preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio e os resultados das ações desenvolvidas no projeto são visivelmente positivos e animadores, o que estimulou os autores a darem continuidade no espaço da escola. (Re)construindo a identidade do indígena: o índio que mora na nossa cabeça – Francinete de Jesus Pantoja Quaresma, Plíncida da Silva Marinho e Tânia Maria Cardoso dos Santos – Belém/PA, aborda o desenvolvimento e o resultado do projeto “O índio que mora na nossa cabeça”, aplicado no ano de 2022, na E.E.E.F.M. Professora “Placídia Cardoso”, localizada no bairro do Jurunas, em Belém/PA. O projeto, envolveu os componentes curriculares Língua Portuguesa, História e Estudos Amazônicos, bem como o espaço pedagógico da Biblioteca Escolar e teve como objetivo desconstruir, junto aos alunos, a imagem tradicional do índio em 1500. Como resultado da ação, houve uma visão real dos povos indígenas da região amazônica brasileira, além da construção de uma imagem valorativa do indígena como cidadão participativo nesta sociedade. O ensino de Libras como L1 para surdos – Walace de Souza Almeida, Ruth Carliane Brasil detalha as experiências na condição de professor de Libras como Primeira Língua de Instrução (L1) para surdos matriculados na APAE do município de Tomé-Açu/PA. Conforme os autores, a Lei n° 14.191/2021 – que dispõe acerca do ensino de Língua Brasileira de Sinais (Libras) – compreende que sua prática deve ocorrer por meio de metodologias que a considerem como língua de instrução. Após o estudo, foi observado pelos educadores que ainda são poucos os professores bilíngues presentes nas escolas e essa demanda precisa ser atendida emergencialmente, caso contrário, o aluno terá dificuldade em aprender e divulgar o saber. Os professores autores dizem ainda que a aprendizagem da Libras, quando iniciada o mais breve possível, cria uma consciência linguística nessa língua e que sua aprendizagem é fundamental para pessoas surdas. Escritores em formação: práticas de criação literária no ensino fundamental – Felipe Hilan Guimarães Santos – Ananindeua/PA, apresenta a vivência de um projeto de criação literária construído e aplicado no ano letivo de 2022, em uma turma de 9º ano. A prática acontece a partir da observação dos processos de escrita de textos literários e da composição de um livro de minicontos lançado pelos discentes no ambiente escolar. A metodologia utilizada com os alunos foi a criação dos minicontos durante as aulas de Língua Portuguesa. Os resultados mostraram a necessidade de tomar a escrita como um trabalho constituído por etapas, além de indicar as diversas formas de apropriação da escrita, apontando Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 7 indícios da singularidade dos autores e autoras nos textos. Medo e ousadia no contexto da pandemia de Covid – 19: o uso das TDICs na alfabetização dos alunos do 3º ano – Évila Roseane Silva da Anunciação e Silva e Danielle Cristina Araújo e Silva Bentes – Belém/PA, traz a experiência desenvolvida na E.M. “Alzira Pernambuco” – Belém/PA, a qual teve como objetivo atender aos 51 alunos matriculados no 3°ano do Ensino Fundamental, em 2021, em pleno período pandêmico. Dentre as diversas soluções educacionais, as TDICs geraram 12 aulas on- line, elaboração de diagnósticos com o uso do Google Forms, videoconferências, atividades impressas, aplicativos de mensagens e outras tarefas nas quais as competências, habilidades e atitudes estavam atreladas aos objetos do conhecimento do ciclo de Alfabetização. Esta experiência pedagógica procurou resgatar a dimensão humana no ensino e na aprendizagem durante as atividades remotas. Gostaríamos de aproveitar a oportunidade e agradecer a todos os professores autores pela disponibilidade e generosidade em compartilhar os seus saberes e práticas por meio dos relatos aqui apresentados. Conforme frisamos no início, a revista Entre Saberes tem o objetivo de publicizar as boas práticas, mas também tem como princípio gerar inquietações e reflexões a fim de que os educadores possam, ao analisar as histórias aqui apresentadas, reavaliar o seu percurso e, a partir da análise, remodelar as ideias aqui presentes, adaptá-las à sua realidade, gerando oportunidade de exercício para a criatividade e uma aprendizagem significativa e reflexiva. Fica também nosso agradecimento aos colaboradores, aos pareceristas internos e externos, aos revisores, diagramadores e artistas gráficos. Esperamos, prezados leitores e leitoras, que vocês recebam esta edição como um espaço para pensarmos os saberes e fazeres da Educação no Pará. Desejamos uma excelente leitura para vocês! Comissão Editorial Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 8 CIENTISTAS DA REALIDADE: TRANSVERSALIZANDO A CIÊNCIA NO COTIDIANO INTERDISCIPLINAR Marcilene do Carmo de Oliveira Miranda 1 RESUMO A experiência ora apresentada cumpriu a finalidade de atender às dinâmicas organizadas pela equipe regional do Pará que participa anualmente da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Há três anos a Escola Estadual de Ensino Médio Júlia Passarinho representa o município de Cametá neste evento, com o propósito de desenvolver práticas que visem refletir aspectos relacionados à ciência e à tecnologia na realidade discente. Integrados ao projeto “A ciência no cotidiano: território propício à transversalidade” (SNCT-Pará 2021), os discentes da referida instituição foram convidados a visitar e cartografar diferentes ambientes que caracterizam os cenários que movimentam o setor econômico da região de Cametá, num processo de pesquisa em atividades como: a coleta do açaí, a produção de farinha e a captura do pescado. Ao retornarem à realidade de sala de aula, o propósito de aliar a prática vivenciada às reflexões teóricas que corroboram para a compreensão da realidade foi crucial para ressignificar a experiência proposta na SNCT e o cotidiano educacional em diferentes componentes curriculares. O projeto foi desenvolvido ao longo do ano letivo encerrando na I Mostra Científico-Cultural em dezembro de 2021 exibindo webdoc’s, palestras e apresentações refletindo sobre temáticas relevantes durante o processo. Palavras-chave: SNCT. Ciência. Cotidiano. Transversalidade. 1 INTRODUÇÃO O resultado de um conjunto deestratégias e estudos, análises, pesquisas e ações interventivas no espaço organizado em diferentes realidades geográficas e sociais em ambientes rurais e ribeirinhos no município de Cametá-PA integrou as atividades que compunham a realização da 18ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), com o apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia. Entre as dinâmicas regionais, docentes e discentes da Escola Estadual de Ensino Médio Júlia Passarinho integraram a dinâmica do projeto “A ciência no cotidiano: território propício à transversalidade” na SNCT (Pará-2021). Uma das estratégias monitorou alunos que, distribuídos em equipes, visitaram diferentes ambientes que caracterizavam o setor econômico da região. Neste projeto, foi possível, por meio de imagens e vídeos, visualizar o processo de produção de farinha, de captura do pescado e de coleta do açaí em diversos lugares nos quais habitava boa parte do público discente, que assumiu, de forma responsável e ética, o papel de pesquisador. Ao retornarem à realidade de sala de aula, o propósito de aliar a prática vivenciada às 1 Mestre em Ciências da Comunicação pelo programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (UFPA); e especialista em Língua Portuguesa: Uma Abordagem Textual (UFPA); especialista em Gestão Escolar (UFPA). Integrante do Grupo de Pesquisa em Processos de Comunicação (PESPCOM/UFPA). Docente de Lín- gua Portuguesa na rede estadual e municipal da Educação Básica do Estado do Pará, em Cametá (PA). 2 O projeto alcançou dez municípios paraenses: Abaetetuba, Ananindeua, Belém (capital), Bragança, Santarém, Cametá, Castanhal, Igarapé-Açu, Igarapé-Miri e Irituia. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 9 reflexões teóricas que permitiam compreender a realidade buscou ressignificar a experiência proposta e o dia a dia educacional como um todo nos mais diferentes componentes curriculares (Língua Portuguesa, Biologia, Matemática etc.). Dentre as principais estratégias delineadas na E.E.E.M. Júlia Passarinho, que assumiram o propósito de refletir sobre conceitos como “ciência”, “pesquisa”, “teoria e prática”, “tecnologias digitais de informação e comunicação”, “transversalidade”, “responsabilidade ambiental”, dentre outros, foram organizadas mesas redondas com profissionais de diferentes disciplinas na tentativa de compreender o processo científico existente nas teorias e no cotidiano. Desse modo, pensando que as ações eram não apenas necessárias, mas estratégicas, pois exigiriam pensar nos problemas existentes, no processo de transformação social e no desenvolvimento crítico de nossos educandos – e, de certa forma, no refletir-se ‘ser docente’ -, reunimos alguns propósitos: • Incorporar à SNCT (edição 2021) ações que desenvolvam estratégias com o uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC’s) de forma a compreender o processo de transversalidade existente entre ciência e cotidiano nos ambientes familiares e educacionais dos educandos; • Fomentar reflexões sobre aspectos da ciência, das tecnologias digitais e estratégias de inovação no cotidiano; • Despertar, identificar e incentivar a participação discente no processo da pesquisa científica e investigativa; • Oportunizar o diálogo com diferentes áreas do conhecimento na compreensão sobre conteúdos curriculares e a ciência vivenciada no cotidiano discente; • Produzir webdoc’s 3 durante as etapas de pesquisa, de modo a ratificar as reflexões e discussões suscitadas em sala de aula; • Envolver toda a comunidade escolar para a exibição dos resultados da pesquisa na I Mostra Científico-Cultural. Ao considerar tais objetivos, pontuamos o atravessamento de uma das mais importantes referências teóricas no universo da educação, pesquisador que sempre ponderou a necessidade de tais práticas no processo de ressignificação educativa das dinâmicas pedagógicas e curriculares, nas quais somos sujeitos em constante (re)construção. Segundo ele: “(...) nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos”. (FREIRE, 1996, p.14). 3 MLink de acesso aos vídeos no site da SNCT Pará: https://snctpara.ufpa.br/acervo/. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 10 Ao percebermos a importância do papel do educador e dos educandos e o protagonismo existente num processo recíproco de construção de saberes justificamos a importância de tal projeto, visto que somente importando-se com a realidade do seu mundo será possível ressignificar o cotidiano escolar nos tempos atuais de informação e comunicação líquidas. 2 UM OLHAR NA REALIDADE PARA ENTENDER CIÊNCIA Para desenvolver as dinâmicas e todo o processo de investigação neste projeto, necessitamos, na realidade de sala de aula, refletir sobre algumas conceituações e temáticas de extrema importância para compreender cada passo a ser executado no decorrer do ano letivo. Desse modo, abordamos conceitos como a transversalidade, a partir de Morin (1999) e Barros e Passos (2012), os quais apresentam em suas reflexões a perspectiva complexa existente em todo processo de investigação, levando-nos a compreender que os saberes se conectam a partir do olhar acerca de um todo. De forma bem específica, transversalizar implica integrar conhecimentos teóricos, práticos e empíricos, comuns a todas as áreas de conhecimento, aliados às problematizações da vida cotidiana. Nessa temática, também fomos atravessados por Heller (1992), a pesquisadora da vida cotidiana, que nos orienta a pensar nesses aspectos considerando a vida do homem inteiro, envolvido na sua individualidade, na sua personalidade, em suas capacidades intelectuais, paixões e sentimentos 4 , enfim, critério entendido como um ambiente rico e propício à ressignificação das aprendizagens discentes e docentes. Para ela, o cotidiano é, dialeticamente, o lugar da dominação ou da revolução. Outra temática abordada nessa primeira etapa metodológica conduziu-nos a refletir sobre o uso das ferramentas digitais de comunicação e informação, pois os alunos produziriam materiais multimidiáticos, como: fotografias, vídeos, gravações em áudios etc., em uma realidade, possivelmente, à margem do desenvolvimento científico e tecnológico. Neste propósito, foram cruciais as leituras do pesquisador paulista, José Morán (2014), o qual aborda importantes reflexões sobre os recursos digitais de comunicação e informação, sobre as dinâmicas organizadas em ambientes físicos e virtuais de aprendizagem, além de nos fazer entender a necessidade de apostarmos em projetos de aprendizagem que façam sentido para o aluno, pois de nada compensaria todo o esforço, de nada adiantaria estar munido dos mais poderosos recursos digitais, se as temáticas e as estratégias não fossem interessantes e/ ou ligados às motivações profundas dos alunos. Instituições com menos recursos podem promover projetos significativos, conectados à realidade dos estudantes, usando, por exemplo, uma ferramenta simples, como o smartphone (MORÁN, 2014). Foi então o que nos propusemos a inserir em nosso projeto, passando de uma 4 Interessante reflexão sobre esta temática, do ponto de vista da pesquisa qualitativa, pode ser ratificada em YIN, Robert K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre, Penso, 2006, p. 134. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 11 aprendizagem individualizada a uma aprendizagem colaborativa, visto que nem todos os alunos dispunham de um aparelho celular. Alguns relataram que em suas casas um único aparelho assumia a função de telefone fixo na residência. Combinamos, por isso, desenvolvera investigação em equipes. Diante dessas e outras temáticas que emergiram no decorrer das discussões em sala de aula, trazíamos atravessadas, nessa seara teórica, abordagens sobre a indagação principal desenrolada em todas as etapas do projeto: “Mas, afinal, o que é ciência?” Esta pergunta foi registrada no meio da lousa em cada sala de aula, antes de começarmos a discussão e paulatinamente ouvíamos as respostas, quase imediatas, dos alunos: “é produção de saber”, “é qualquer produção do conhecimento”, “é experimentação”, “é pesquisa”, enfim, foram tantas e múltiplas respostas, todas coerentes ao sentido principal da indagação. Compreendemos, portanto, que ciência é a maneira pela qual o ser humano consegue entender o mundo, a realidade que o cerca. Assim, há ciência em tudo. Gráfico 1 - Dados compilados em conversas informais de sala de aula, durante a orientação para a imersão no campo, em junho de 2021. Fonte: Compilação do autor Nesse processo de reflexão e análise vieram à tona conceitos da física, da química, da biologia, da literatura, da linguagem, do universo de todas as áreas de conhecimento. E além de toda essa dinâmica de percepção projetada acerca do universo das ciências acadêmicas, os estudantes perceberam que também há ciência no “quintal do seu João”, no “roçado do seu Antonio”, “no subir e descer os açaizeiros no terreno do Zezinho”, no “traçar as talas nas mãos de dona Josefa ao tecer o famoso “pairé 5 ””. Quiçá essa seja a magia que tanto Paulo Freire (1996) mencionara existir no ato de ensinar e de aprender. No âmbito dos saberes pedagógicos em crise, ao recolocar questões tão relevantes agora quanto foram na década de 60, Freire, como homem de seu tempo, traduz, de modo lúcido e peculiar, aquilo que os estudos das ciências da educação vêm apontando nos últimos anos: a ampliação e a diversificação das fontes legítimas de saberes e a necessária coerência entre o “saber-fazer é o saber-ser-pedagógicos” (Prefácio de Pedagogia da Autonomia, 1996, p. 7). 5 Paneiro feito de talas extraídas de árvores na zona ribeirinha do município de Cametá. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 12 É por esse e outros atravessamentos que as metodologias a serem desenvolvidas nas salas de aula nos mais diferentes rincões da Amazônia necessitam atender à necessidade múltipla e plural de nossos jovens alunos. 3 CAMINHOS METODOLÓGICOS CURRICULARES E DE PESQUISA Um dos maiores e mais instigantes desafios durante a necessidade de estruturar a realidade educacional de centenas de alunos na E.E.E.M. Júlia Passarinho, em plena época de pandemia, foi ressignificar o ambiente que os cercava, tanto do ponto de vista escolar quanto pessoal. Diante de todos os limites e entraves que se sobrepunham à vontade de reinventar a educação, sentimos a certeza de que não poderíamos ficar estagnados, adotando as mesmas e velhas técnicas tradicionais de ensino e de aprendizagem. Conscientes de que precisávamos movimentar o cenário educacional presencial, retomado após longos meses de ensino remoto, organizamos ações que viabilizaram estratégias de conhecimento que fariam sentido para os alunos e que comungassem com o ambiente extraescolar em que estão inseridos. Desse modo, a primeira etapa do projeto consistiu na adoção das Metodologias Ativas, uma base teórico-metodológica que consiste em assumir a postura de construção do conhecimento por meio de diálogos vinculados à realidade discente na busca da ressignificação do processo de ensino-aprendizagem. Segundo Bacich e Moran (2018), as metodologias ativas articulam diferentes conhecimentos em ambientes formais de aprendizagem e na cultura de forma geral, visando reconfigurar o papel dos protagonistas da educação: o professor e o aluno. Assim, desde agosto de 2021, junto a algumas turmas concluintes do Ensino Médio vimos discutindo e analisando sobre a temática “A ciência no cotidiano: território propício à transversalidade” e, de forma dialógica, optamos pela produção de webdocumentários 7 , os quais revelaram a realidade que movimentava e organizava vários setores sociais e econômicos da região cametaense de modo a buscar o entendimento de que há ciência em todos os cantos e práticas sociais desenvolvidas. Imagem 01 - Apresentação da proposta da SNCT 2021 aos alunos concluintes na EEEM Júlia Passarinho. Fonte: Acervo do projeto. 7 Webdocumentário: produto cultural com linguagem documental, criado para o cinema e para a televisão e, re- centemente, adaptado para a rede da Internet. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 13 Como Barros e Passos (2012, p. 241) argumentam, o verbo transversalizar implica ação e dinamismo na arte de investigar. Após a apresentação do projeto e discussão das etapas a serem desenvolvidas, os alunos assumiram a condição de pesquisadores e investigadores científicos em ambientes “que se comunicam e produzem desarranjos no sistema binário de definição/categorização” de nossos objetos de conhecimento. Esse primeiro movimento metodológico (o das metodologias ativas) desencadeou as demais etapas de leitura da realidade discente, ocasionando o inserir-se, de forma criteriosa e estratégica, na realidade em que os estudantes, em equipes, estavam inseridos nos locais de investigação a que se propunham realizar. A pesquisa em equipe oferece benefícios compensadores, tais como criar a oportunidade de reforçar a validade e confiabilidade de um estudo e dar mais atenção aos objetivos de triangulação (...). Essencialmente, a existência de múltiplos visitantes significa ter a oportunidade de usar múltiplos instrumentos de pesquisa no trabalho de campo, comparado com as limitações de observadores participantes sozinhos (YIN, 2016, p. 114). Nessa proposta metodológica, Yin (2016) nos orienta a compreender a necessidade de estar presente, de forma coletiva, em um campo multifacetado de investigação, em realidades singulares e múltiplas que se mesclam. Nessa fundamentação, cotidianos, ideias, comportamentos, baseados em evidências empíricas, articularam-se às bases teóricas previamente organizadas e discutidas em sala de aula, nos inserindo nas etapas de uma pesquisa qualitativa de investigação. Nesse processo de imersão, foram realizadas intervenções na realidade de produção da farinha, do roçado, da colheita de hortaliças e de açaí, da prática do pescado e da confecção de paneiros e outros materiais, com o objetivo de proporcionar a reflexão de que há ciência em tudo, sobretudo entendendo que todo conhecimento científico se configura no senso comum. Imagem 02 - Etapas de investigação da realidade desenvolvidas em setembro de 2021. Fonte: Acervo do projeto É importante ressaltar que, durante o processo de investigação científica das equipes nas diferentes ambiências visitadas, nem sempre todos tiveram êxito em seus projetos previamente registrados. Muitos foram os entrevistados que se recusaram a gravar as entrevistas ou aparecer nos vídeos; alguns desses registros foram socializados em sala somente de forma oral, o que não inviabilizou a importância desse momento, pois incentivou a equipe a ir em busca de novos sujeitos a serem entrevistados e compreender que nem sempre um projeto que traçamos virá a dar certo da maneira exata como fora pensado. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 14 Mencionamos também o fato de que algumas equipes perderam os prazos de execução das etapas; outras tiveram problemas com os aparatos tecnológicos utilizados no momento da investigação em campo, enfim, situações não desejáveis também fizeram parte nas dinâmicas projetadas e executadas. Diante de todo o exposto, é valioso considerar que, tanto as entrevistas, imagens e vídeos autorizados, ou não, pelos entrevistados (além dos registros coletados e perdidos), foram dados valiosos paraatingir os objetivos pretendidos, pois durante todo o processo uma pesquisa qualitativa pode apresentar eventualidades que fogem do controle do pesquisador. Após essas etapas de investigação e produção de pesquisa, propusemo-nos apresentar o resultado de todo esse trabalho no I Ensaio Científico-Cultural da E.E.E.M. Júlia Passarinho, organizado pelas especialistas em educação da referida instituição no turno da manhã, de modo a socializar a riqueza científica presente nas realidades de nossos alunos. Imagem 03 - Exibição de mesas regionais apresentadas no I Ensaio Científico-Cultural no ginásio poliesportivo da instituição, em dezembro de 2021. Fonte: Acervo do projeto. Desse modo, em dezembro de 2021 várias turmas foram mobilizadas a fazer uma exposição de todo o trabalho desenvolvido na instituição ao longo do ano letivo e muita riqueza e sabor científico estavam presentes no evento 8 . Foram exibidos a todos os alunos e convidados presentes as práticas investigadas e registradas nos webdoc’s 9 produzidos pelos alunos- pesquisadores. Além das palestras dos professores da instituição, com o olhar transversal das várias áreas do conhecimento, ouvimos, a partir da Matemática, Biologia, Filosofia, Química, Língua Portuguesa, Literatura, Arte e outras, como se constrói o universo da ciência sob um prisma que se articula e se cruza com vários componentes curriculares. Buscamos fazer com que os alunos entendessem que não se faz pesquisa somente por fazer e que há a necessidade de compreendermos que os produtores da farinha, os cultivadores de hortaliças e os apanhadores de açaí e do pescado nas realidades investigadas, têm consciência de que produzem e fazem 8 Alguns estandes exibiam trabalhos e pesquisas realizados a partir do componente curricular de Arte. 9 ALinks de acesso nos canais do You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=N4y4clxHBPk; https:// www.youtube.com/watch?v=Xf_driNFSbA; https://www.youtube.com/watch?v=-2zBLRbrB5E; https:// www.youtube.com/watch?v=k5ZhTF9SVho; https://www.youtube.com/watch?v=-aeldENpWCk; https:// www.youtube.com/watch?v=uZHQ1Vj795c. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 15 ciência(s) todos os dias. Desse modo, entendemos que o que fazer freireano nos movimenta a implementar ações articuladas no chão de nossos ambientes escolares entendendo que os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar, configurar e implementar estratégias cada vez mais interessantes no universo de nossas instituições escolares nunca se fez tão necessário como em tempos hodiernos. Diante de tantos recursos tecnológicos e informações disponíveis nas mídias, reside a importância de tornarmos cada etapa vivida pelos nossos alunos em nossa sala de aula, e as práticas educativas que acontecem fora dela, mais atraentes e instigadoras de conhecimento. A Base Nacional Comum Curricular é bastante enfática ao pontuar que devemos ter cautela ao trabalhar com este público, que nem pode ser considerado infanto, tampouco um adulto em formação, pois não são sujeitos em uma “passagem da infância à maturidade”. Entrementes, constituem-se agentes a serem considerados em suas múltiplas dimensões (social, histórica, cultural etc.) e, portanto, devem ser vistos como sujeitos diversos, dinâmicos e participantes (BRASIL, 2018, p.462). Nesse ínterim, ao estilo freireano, buscamos articular as mais diversificadas experiências científicas que acontecem entre os diferentes eixos curriculares para, com os alunos, compreendermos o funcionamento e a dinâmica do processo científico dentro e fora de sala de aula. Registramos ambiências, práticas, saberes, mas, acima de tudo, registramos sentimentos, comportamentos, que ressignificaram as práticas científicas arroladas no senso comum e que atribuem sentido e relevância às práticas científicas nas academias e instituições educativas. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 16 REFERÊNCIAS BACICH, L. MORAN, J. (Orgs.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Penso, 2018. e-PUB. BARROS, R. B; PASSOS, E. Transversalizar. In: FONSECA, Tania Mara Galli; NASCIMENTO, Maria Lívia do; MARASCHIN, Cleci (orgs.). Pesquisar na diferença: um abecedário. Porto Alegre: Sulina, 2012. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a Base. Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HELLER, A. O Cotidiano e a História. São Paulo: Paz e Terra, 1992. MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5. ed. Campinas: Papirus, 2014. MORIN, Edgar. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MARTINS, Francisco Menezes; SILVA, Juremir Machado da (Org.). Para navegar no século XXI: tecnologias do imaginário e cibercultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. p. 1-27. YIN, Robert K. pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 17 ARTE QUE COMUNICA: UMA EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO E INCLUSÃO DO SAEE José Antônio Cardoso de Souza 1 Thaís Ferreira de Sales 2 RESUMO Neste relato de experiência pode-se verificar avanços significativos a partir da arte com um aluno durante os atendimentos especializados do Serviço de Atendimento Educacional Especializado (SAEE) que o tornaram protagonista de práticas e processos de criação que, ao longo do plano de desenvolvimento individual elaborado para ele, possibilitaram-no socializar suas produções e o auxiliaram a amenizar suas dificuldades escolares, de aprendizado, comunicação e socialização. Palavras-chave: SAEE. Artes Visuais. Inclusão. 1 INTRODUÇÃO A escola Vera Simplício fica localizada na Rua do Una no Bairro Telégrafo em Belém/PA. Atualmente, atende a uma clientela estimada em 600 alunos nos turnos da manhã e da tarde; seu principal público são crianças oriundas de bairros periféricos da cidade (Vila da Barca, Barreiro, Acampamento, etc.). Ela possui um corpo técnico completo, assim como a equipe docente, sua gestão é democrática e participativa e, por ser uma escola inclusiva, recebe muitas demandas de alunos com necessidades educacionais especiais, tais como autistas, cegos, crianças com incapacidade motora cerebral, com síndrome de down, com deficiência no processamento auditivo central (DEPAC), com deficiência intelectual e com déficit de aprendizagem. Estes estudantes, além da sala de aula regular, recebem o atendimento especializado. O Serviço de Atendimento Educacional Especializado (SAEE) desenvolve atividades suplementares ou complementares para alunos com necessidades educacionais especiais. Eles têm impedimentos de longo ou curto prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. Neste relato de experiência, iremos tratar de um estudante com déficit de aprendizagem e transtorno de ansiedade, aluno de nossa escola durante os cinco anos iniciais do Ensino Fundamental que apresenta características dessas condições de forma muito intensa; o relato se torna possível pela necessidade de desenvolver um trabalho mais específico com o aluno mencionado. 1 Professor do SAEE/SEDUC 2 Professora do SAEE/SEDUC Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 18 André 3 tinha 15 anos quando passou por esta experiência; sempre teve grandes dificuldades relacionadas à aprendizagem e socialização e, em seu último ano em nossa escola, essas barreiras ficaram mais presentes, pois o afligia a certeza de que precisaria mudar de escola para avançar ao sexto ano. Seus laços conosco eram muito fortes, uma vez que, por ser uma escola inclusiva, traçamos metas e cuidados muito específicos para tornar o dia a dia de alunoscom deficiência, como ele, mais inclusivos em suas participações. André, embora com muitas dificuldades na escola sempre foi um aluno dedicado, assíduo e participativo e em todo esse processo teve apoio da família que nunca mediu esforços para que sua total integração fosse possível. Notou-se, também, outra característica muito interessante do aluno em questão: a predisposição e interesse pela arte, principalmente a pintura de quadros à mão livre; suas habilidades o destacavam tanto na sala de aula regular, nas aulas de Arte, quanto no SAEE, frequentado no contraturno de sua escolarização. O plano de ação desenvolvido no SAEE foi então voltado para esses momentos de imersão artística e conversas sobre o dia a dia de André e suas dificuldades, uma vez que se comunicava melhor desta forma; ressalta-se também que havia sempre um bom canal de comunicação com a área de saúde, a qual André era assistido e sua família. Portanto, foi possível verificar avanços significativos a partir da arte com o aluno, uma vez que o tornamos protagonista de práticas e de processos de criação que, ao longo desse plano, possibilitaram-no socializar suas produções em sua sala de aula com seus colegas de classe e, posteriormente, com o restante das turmas da escola em sua própria exposição com visitas dirigidas e mediadas por ele. Além do claro desempenho de habilidades artísticas, junto com a ponte escola-família- médico, os avanços percebidos foram significativos em relação às deficiências de André que ao longo do processo foram sendo controladas e contornadas, ficando evidente o sucesso obtido ao final do ano letivo. 2 DISCUSSÃO TEÓRICA Em primeira instância, entendamos o Serviço de Atendimento Educacional Especializado como recurso escolar importante para o desenvolvimento do aluno com deficiência, instituído no DECRETO nº 6.571 de 17 de setembro de 2008 para um sistema educativo mais democrático e efetivo: Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. (BRASIL, 2008, p. 26). 3 Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 19 Assim, André se enquadra no perfil de um aluno público-alvo da Educação Especial, tendo em vista os laudos específicos apresentados de déficit de aprendizagem e transtorno de ansiedade O processo desta experiência pedagógica acontece em dois momentos: inicialmente, registramos a realidade do André na sala de aula regular, quando são identificadas as demandas mais importantes relatadas pelos seus professores, suas necessidades e suas dificuldades no processo escolar como um todo, compreendendo aprendizado de objetos de conhecimentos específicos e de socialização. No segundo momento, o professor do SAEE, juntamente com as orientações da equipe multiprofissional que atende ao aluno em sua área médica, traça um plano de desenvolvimento individual com o objetivo de mediar as dificuldades apresentadas no primeiro momento. Assimilando o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), fundamentado nas seguintes bases legais: CNE/CEB nº 04/2009 (BRASIL, 2009), Decreto nº 7611/2011 (BRASIL, 2011) e a Lei Brasileira de Inclusão n° 13.146/2015 (BRASIL, 2015, n.p.) que objetiva “contribuir na instrumentalização de professores e técnicos da rede estadual de ensino”, entendemos que essa é uma estratégia muito interessante a ser utilizada nestas ocorrências pontuais, pois, não apenas considera as especificidades dos alunos com necessidades especiais, como as utiliza nas estratégias educativas, tornando o processo mais efetivo. Para Moura e Souza (2015), a inclusão escolar envolve não somente princípios e procedimentos para inserção, eliminando barreiras e bloqueios para o acesso, mas, sobretudo, mudanças atitudinais, posturais do educador e dos grupos sociais, garantindo a permanência nas classes regulares, aperfeiçoando e otimizando a educação em benefício dos alunos com e sem necessidades educacionais especiais. A inclusão rompe com paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas e com o perfil de aluno ideal, pois elimina modelos específicos e contesta a seleção de eleitos para frequentar a escola, provoca o professor a novos saberes e os gestores a adequação, pois uma escola inclusiva precisa pretender o aluno PcD e não a chegada do mesmo para adequar-se (MOURA; SOUZA, 2015, p. 5) O SAEE é um serviço oferecido preferencialmente no contraturno do aluno com necessidades educacionais especiais, podendo ser ofertado na própria escola ou em escolas especializadas. As atividades desenvolvidas nesse espaço contribuem no desenvolvimento das principais dificuldades encontradas por esse aluno em sua sala de aula regular, cabe, portanto, ao professor do SAEE, em conjunto com os demais professores elaborar um plano de ação que contemple as principais necessidades dos alunos especiais com a finalidade de tornar o espaço escolar e o processo educativo com equidade para o aluno com deficiência eliminando as barreiras arquitetônicas e atitudinais que o impeçam de desenvolver suas habilidades acadêmicas junto aos seus pares. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 20 Tal serviço é oferecido na escola Vera Simplício em uma sala específica, equipada para trabalhar no contraturno com todas as demandas e o professor responsável, com especialização em Educação Inclusiva com ênfase na Educação Especial e atende, atualmente, a vinte alunos com diferentes deficiências. É nesta sala que André, aluno do 5º ano do turno da manhã, recebia o atendimento especializado duas vezes na semana, variando de 45 a 60 minutos cada 4 . Durante esse processo, foram registrados os avanços e dificuldades a cada encontro com o aluno individualmente e também em sua sala de aula até chegarmos à culminância dessa experiência. André era um aluno agitado, com muitas dificuldades de aprendizagem e mudanças de comportamento abruptas, ora era comunicativo e participativo e em outros momentos introspectivo e sem motivação, tinha muitas dificuldades em se relacionar com outros colegas, não participava de rodas de conversas ou atividades coletivas, procurando sempre se isolar da turma e dos professores. Além disso, embora já alfabetizado, tinha dificuldades de inferir textos um pouco mais elaborados e acumulava incompreensões em matemática. O Conselho Estadual de Educação (CEE/PA) determina que essa avaliação do desempenho escolar do aluno deve constatar os avanços acadêmicos alcançados pelo estudante, prevendo intervenções pedagógicas elaboradas exclusivamente para ele, competências, habilidades, conhecimentos adquiridos no decurso de sua escolarização e frequência mínima de 75% na escola, igualmente aos demais alunos. Em seus atendimentos, além das problemáticas mencionadas, percebemos um bloqueio muito forte em sua socialização na sala de aula, que considerávamos seu maior desafio, uma vez que “situações de exclusão, como a falta de oportunidades e o insucesso escolar, por exemplo, reforçam, quase sempre, a baixa autoestima do aluno, que volta à escola fragilizado, inseguro e sentindo-se incapaz de aprender” (SILVA, 2010, p. 25). A legislação atual considera a socialização parte importante do processo de escolarização, o que faz com que muitos dos documentos elaborados pelo Ministério da Educação, assim como as Secretarias estaduais e municipais de educação, seguirem por este caminho. A educação, por meio da escolarização, consolidou-se nas sociedades modernas como um direito social, ainda que não tenha sido universalizada. Concebida como forma de socializar as pessoas de acordo com valores e padrões culturais e ético-morais da sociedade e como meio de difundir de forma sistemática os conhecimentoscientíficos construídos pela humanidade, a educação escolar reflete um direito e representa componente necessário para o exercício da cidadania e para as práticas sociais (BRASIL, 2013. p 150). Utilizar das Artes nos atendimentos especializados é uma estratégia interessante, pois, por não ter a obrigatoriedade do currículo de Arte a ser cumprido neste horário, são colocadas 3 NEste relato se refere ao período que se inicia no segundo semestre de 2021 e se conclui no primeiro bimestre de 2022 quando a experiência com André aconteceu e quando começaram a ser analisados e avaliados todos os processos. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 21 como método. Neste caso, não apenas educativo, mas comunicativo. A Base Nacional Curricular Comum – BNCC (BRASIL, 2018), importante documento no âmbito educacional, destaca, como uma das competências específicas da área de Linguagens, ao qual o componente Arte está incluído: Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação (BRASIL, 2018, p. 65). Tal proposta documental assinala, em suas entrelinhas, a necessidade de explorar diferentes formas para a construção de diálogos; isso implica dizer o quão ricas podem ser as práticas educacionais na área das Linguagens e, mais especificamente, no que se refere às artes visuais, cujas aproximações foram feitas de forma natural, neste caso, uma vez que André já trazia consigo uma predisposição com este tipo de linguagem. 3 PERCURSO METODOLÓGICO A partir da observação em sala de aula e outros espaços escolares, principalmente nas aulas de Arte, verificamos que o aluno tinha grande interesse pelas Artes Visuais. André trazia de casa informações já previamente pesquisadas, sobre técnicas, História da Arte e produções artísticas; o hobby rapidamente se tornou principal assunto nos atendimentos do SAEE, assim, partindo desse ponto inicial, foi desenvolvido um plano de atendimento. Nesse plano, ora eram apresentados a André textos, imagens, filmes e animações, que exploravam muitos e diferentes recursos visuais, ora eram oferecidos materiais diversos para produção artística; logo verificamos que sua maior afinidade estava na pintura de quadros, usando tinta guache escolar sobre tela, e modelagem com cerâmica fria (biscuit). Desse processo, surgiram revelações de características muito próprias do aluno, principalmente na pintura de quadros. Seguindo os postulados de Santaella e Nöth (1998), que defende a imagem não somente como forma de expressão pura, mas também como linguagem comunicativa e simbólica, observamos uma singularidade nos trabalhos artísticos de André. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenho, pintura, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse domínio. Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso ambiente visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos, ou, em geral, como representações mentais (SANTAELLA; NÖTH, 1998, p.15). Inicialmente, suas pinturas traziam de forma recorrente cores escuras e temáticas sombrias e tristes. Quando questionado sobre suas produções, André afirmava fazerem parte de seu cotidiano, pois se dizia solitário e sem amigos, refletindo sua introspecção. Muito se discute sobre a influência dos sentimentos na elegibilidade de cores em trabalhos visuais; a partir de pensamentos defendidos por Eva Heller (2012), as cores se Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 22 relacionam com as sensações e ações do indivíduo, portanto, seguindo sua análise, tons escuros, que se aproximam do preto, costumam se relacionar com termos como “mistério”, “introversão”, “peso”, “fim”, “luto”, “elegância”, “poder”, “azar”, “brutalidade”, etc. Coincidentemente (ou não), descobrimos, além de seus problemas de solidão na escola, uma recente perda familiar de André (Imagens 1 e 2). Imagens 1 e 2 - Quadros criados por André nos atendimentos do SAEE Fonte: Acervo pessoal. Após essa primeira experiência, sugerimos ao aluno que compartilhasse seus resultados com sua turma e professores, para que expressassem suas opiniões; a partir da socialização dos seus trabalhos, André passou a protagonizar uma experiência de reconhecimento e identificação com o grupo pelas impressões apresentadas a ele, de forma positiva, principalmente pelo fato dos demais alunos passarem a enxergá-lo como artista e até sugerirem outras perspectivas de pintura. A valorização pela qual o aluno passou com sua experiência em compartilhar sua arte o remeteram a uma nova tendência na pintura, cores mais vivas, paisagens mais alegres e principalmente a ânsia de compartilhar sua produção. Em outros momentos, os professores da sala de aula regular começaram a desenvolver atividades contextualizadas com a Arte para toda a turma, tornando esses momentos mais atrativos para os alunos e principalmente para André, que cada vez mais se sentia estimulado em participar ativamente de atividades da sala de aula regular. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS Nesse ponto, o SAEE articulou uma culminância no final do ano letivo, com uma pequena exposição em um painel no pátio de entrada da escola, onde participariam todas as outras turmas da escola, de manhã, desde o 1º ao 4º ano, de visitas dirigidas e mediadas pelo próprio André, para que o aluno pudesse falar sobre suas produções e técnicas usadas para a criação dos trabalhos. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 23 Esse pequeno ato contribuiu, então, para aumentar o seu protagonismo e melhorar sua autoestima em todo o espaço escolar. Em um curto espaço de tempo, pudemos ver a transformação pela qual o aluno passou, uma vez que, já conseguia participar efetivamente de rodas de conversas dentro e fora de sala de aula, obteve entrosamento em conversas coletivas e passou a ter mais visibilidade nos espaços coletivos da escola. Notamos que suas mudanças abruptas de comportamento, relacionadas às suas necessidades, já não eram tão presentes, em contraposição à sua maior participação em sala de aula; ele deu um salto qualitativo, academicamente e isso somente foi possível a partir da estratégia adotada em seu Plano de Desenvolvimento Individual, que era alimentada bimestralmente com a participação de todos os professores e técnicos da escola com os avanços que alcançava, assim como, ajustes necessários para obtenção de maiores êxitos (Imagem 3). Imagem 3 - André em uma de suas mediações da exposição. Fonte: Acervo pessoal. Com a apresentação das produções, na exposição, o aluno apresentava suas obras explicando como se deu o ato criativo, quais influências o motivaram na produção, quais técnicas foram usadas e principalmente estimulando os alunos a praticar a arte; percebemos, nesse ato, atitudes que revelavam a reunião e contextualização de muito do que ele aprendera durante o ano. CONCLUSÃO Ao término de todo processo, ficou evidente a possibilidade de ressignificar a condição do aluno, principalmente pelo fato do trabalho coletivo dos profissionais que o acompanhavam e a sensibilidade em aproveitar seu objeto de interesse para diminuir suas condições de déficit de aprendizagem e ansiedade; além de estimular a autoestima do André, provando que o aspecto socioemocional do aluno influi em seus rendimentos escolares. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 24 Fica evidente, ainda, que a inclusão na escola é algo possível e sua eficácia e êxito se tornamviáveis a partir da seriedade em que foi tratada a problemática e principalmente pelo trabalho desenvolvido no SAEE e seu link com a sala de aula regular do aluno e dos demais profissionais que o acompanhavam. O trabalho mútuo possibilitou ao André se tornar protagonista de uma nova história em sua vida e deixar para trás uma condição que já vinha amargando por anos devido à sua condição de Pessoa com Deficiência. Embora André continue frequentando o SAEE em nossa escola, hoje ele cursa o sexto ano do Ensino Fundamental em outra unidade escolar perto de sua casa; sua transição está sendo tranquila e ele está se adaptado com seus novos amigos e professores, continua praticando a arte como ferramenta de transformação de sua condição e vem tendo avanços significativos nas áreas de conhecimento, dessa forma podemos afirmar que a vinculação da tríade de sala de aula regular, SAEE e Arte fora responsável pela amenização de muitos de seus problemas. André ainda tem um caminho promissor a traçar em toda sua trajetória e ficamos felizes em poder ter feito parte do início dela. REFERÊNCIA BRASIL. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007. Diário Oficial da União - Seção 1, Brasília, DF, 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Diário Oficial da União – Seção 1, Brasília, DF, 2009. BRASIL. Decreto Nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, a. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 18 ago. 2022. 2015. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum. mec.gov.br/abase/ Acesso em: 19 de abril de 2022. MOURA. Simone; SOUZA. José. Auto do Círio, uma experiência de inclusão por meio da arte na escola Vera Simplício. Anais do XXV CONFAEB, III Congresso Internacional da Federação de Arte/educadores. Fortaleza, CE, 2015. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 25 HELLER, Eva. A Psicologia das Cores: Como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Editora Gustavo Gili, 2012. SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried. Imagem, cognição, semiótica, mídia, Iluminuras, São Paulo, 1998. SILVA, Luciane. Autoestima e aprendizagem na educação de jovens e adultos – Contribuições da família e da escola. 2010, 41f. Monografia (Pós-graduação em Psicopedagogia institucional) – Instituto A Vez do Mestre, Universidade Cândido Mendes. Niterói, RJ, 2010. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 26 A LEITURA NO PERCURSO DA FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR E ESCRITOR: TRILHANDO CAMINHOS PARA AUTORIAS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Leidiane Pereira de Oliveira 1 RESUMO Compartilho uma experiência que tem sido referência para o desenvolvimento da competência leitora dos alunos do 6º ao 9º ano dos anos finais do ensino fundamental da Escola Estadual Ruth Passarinho. O Projeto Tarde de Autógrafo “Ler é uma aventura” vem sendo desenvolvido na escola desde o ano de 2019 e tem como objetivo principal despertar o desejo pela leitura. A 1ª versão do projeto, desenvolvida em 2019 e 2020, culminou com a publicação de um livro de autoria dos próprios alunos que reúne as produções textuais realizadas em sala de aula durante as aulas de língua portuguesa. O livro foi publicado em fevereiro de 2020 pela Editora Dalcídio Jurandir do IOEPA. Em 2021, foi desenvolvido uma 2ª versão do projeto que culminou com a confecção de um Portfólio dos textos produzidos em sala de aula, hoje disponível na biblioteca da escola para uso dos estudantes. Hoje já estamos trilhando novos caminhos para a 3ª versão do projeto Ler é uma aventura, uma vez que tem sido de muita relevância para a comunidade escolar e valorização das capacidades de leitura e escrita de nossos alunos e tem contribuído para a formação de alunos leitores e escritores. Palavras-chaves: Leitura. Escrita Literária. Ludicidade. Tecnologia. 1 INTRODUÇÃO Na concepção interacional (dialógica) da língua para Koch; Elias, (2009, p. 10), “os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que dialogicamente se constroem e são construídos no texto, considerando o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores.” Esse texto reflete um pouco das minhas vivências de sala de aula como professora de língua portuguesa no processo de formação de alunos leitores e escritores. Experiências que a cada ano letivo se aperfeiçoam e vão ganhando novos rumos com o intuito de despertar no aluno o prazer pela leitura nas aulas de língua portuguesa. De acordo com a autora, a criança é vista como um sujeito histórico e de direitos, que interage e constrói sua própria identidade. Um ser que brinca, imagina e deseja. Um ser que narra sua história, produz conhecimentos e constrói seu próprio saber. E é nessa perspectiva de ser criança como sujeito ativo e autor da sua própria história, que busco descrever neste relato o processo de formação de alunos leitores e escritores que vem sendo desenvolvido na Escola Estadual Ruth Passarinho da USE 08. A escola está localizada na Passagem Torres, SN, no bairro Curió-Utinga, Belém - Pa, bairro de periferia de Belém que atende estudantes oriundos de comunidades ribeirinhas do rio Guamá, nas proximidades da estrada da Ceasa e das 1 Graduada em Licenciatura Plena em Letras – UFPA. Graduada em Pedagogia – UNAMA. Professora da rede estadual de ensino do Estado do Pará – SEDUC. Técnica em Gestão Pública – SEMAS/PA. Especialista em Psi- copedagogia–Universidade Estadual do Vale do Acaraú. E-mail:oleidiane@yahoo.com.br. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 27 comunidades do entorno do Parque Estadual do Utinga, uma área de preservação ambiental. O percurso que aqui será relatado teve início em 2019 antes do período da pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19), com a implementação do projeto Tarde de autógrafo “Ler é uma aventura: criando e recriando textos na sala de aula”. O projeto tem como objetivo formar alunos leitores e escritores por meio da criação e recriação de textos na sala de aula. A 1ª versão do projeto atendeu aproximadamente 55 estudantes dos anos finais do ensino fundamental e como resultado dessa 1º etapa, foi publicado um livro de autoria dos alunos, em fevereiro de 2020, pela Editora Dalcídio Jurandir em parceria com o IOEPA/PA que resultou na impressão de 200 unidades do livro. O livro somente foi lançado em 2021 na 24ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, devido à pandemia do Novo Coronavírus que impossibilitou a realização do evento em 2020. Momento em que participaram apenas dois alunos representantes da escola para autografarem os livros no stand da SEDUC e dar entrevista no Portal da TV Cultura, ocasião de suma relevância para a valorização de nossos alunos. Vale dizer que a experiência de implementação do Projeto Tarde de Autógrafo me possibilitou, entre outras coisas, produzir um relato de experiência da 1ª versão do projeto, já publicado na revista “Entre Saberes”, Volume III, Nº. 4, em junho de 2020, organizada pelo Centro de Formação de Professores - CEFOR/SEDUC/PA.O projeto Tarde de Autógrafo “Ler é uma aventura” objetiva, a partir do prazer pela leitura, estimular um processo de formação contínua de alunos leitores e escritores, desenvolvendo habilidades expressivas, de modo que sejam capazes de compreender, utilizar e refletir sobre as diferentes linguagens no dia-a-dia; de produzir conhecimentos de forma autônoma; resolver problemas do cotidiano com iniciativa. O projeto surgiu com foco nas leituras de textos literários e atualmente tem também enfoque nas linguagens tecnológicas digitais, na cultura de hipertextos na sala de aula, considerando o novo cenário que vivemos devido à necessidade de ensino remoto por causa da pandemia do Novo Coronavírus. Nesse sentido, o projeto, em 2021, objetivou relacionar os textos literários com os hipertextos na sala de aula. Trabalhamos com a charge digital, memes, blogs, paródias, vídeos-minutos e outros textos digitais que possibilitam os multiletramentos na escola. Com o avanço da sociedade digital, nossos alunos não são mais os mesmos, estão cada vez mais integrados às novas tecnologias digitais, o que exige da escola outros métodos de aprendizagem, para integrar os textos digitais com os textos impressos. Diante desse novo cenário mundial, senti a necessidade de incluir cada vez mais a cultura digital na sala de aula, 4 Lei nº13.415, de 16 de Fevereiro de 2017. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manu- tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/ legin/fed/lei/2017/lei- 13415- 16-fevereiro-2017-784336-publicacaooriginal-152003-pl.html Acesso: 9 de dezembro de 2021. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 28 ainda que com limitações de infraestrutura tecnológica na escola; é preciso introduzir aos poucos os textos digitais nas aulas de Língua Portuguesa. Vale ressaltar que a BNCC define competências gerais para a educação básica que orientam as habilidades, conhecimentos, atitudes e valores que todos os alunos devem desenvolver ao longo da sua formação. Uma das competências gerais da BNCC é compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, o que exige dos estados e municípios investimentos em tecnologia na escola, disponibilização de wi-fi, equipamentos (datashow, tablets, computadores), para o desenvolvimento das atividades de leitura e escrita na escola com maior dinamicidade. O referido relato tem como objetivo contribuir para a atuação do professor de língua na sala de aula, voltado para estudantes do 6º ao 9º anos finais do ensino fundamental, a partir de experiências simples, mas possíveis de serem desenvolvidas e aperfeiçoadas, por meio da criação e recriação de textos na sala de aula, a fim de que [...] a experiência da literatura – e da arte em geral – possa alcançar seu potencial transformador e humanizador, é preciso promover a formação de um leitor que não apenas compreenda os sentidos dos textos, mas também que seja capaz de fruí-los. Um sujeito que desenvolve critérios de escolha e preferências (por autores, estilos, gêneros) e que compartilha impressões e críticas com outros leitores (BRASIL, 2018, p. 156). 2 DISCUSSÃO TEÓRICA Como professora de língua portuguesa, sempre tive uma preocupação muito grande no que ensinar e como ensinar. Nos últimos anos, meu objetivo tem sido cada vez mais contribuir para o desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes, utilizando estratégias com vistas a sanar suas dificuldades de aprendizagem e auxiliá-los no processo de formação de leitores críticos, capazes de exercer sua autonomia no uso da linguagem. Os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) é a etapa que além de buscar o aprofundamento e ampliação do repertório do aluno, tem como foco o desenvolvimento da autonomia. Um dos objetivos de ensino da língua portuguesa é desenvolver a competência leitora dos alunos, de modo que este aluno desenvolva habilidades de expressão oral e escrita, de leitura, de produção textual e aprenda compartilhar suas experiências locais e regionais por meio da linguagem em diferentes situações comunicativas do cotidiano. Este é o desafio não só do professor de língua como dos demais professores de outras áreas de conhecimento que têm também a responsabilidade de ampliar as capacidades expressivas dos alunos. Nesse sentido, chegamos à seguinte problemática: como, então, o professor pode contribuir para a formação do aluno leitor-escritor? Numa perspectiva de interação e integração entre as áreas de conhecimento, o professor de língua portuguesa pode ser tanto o mediador do Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 29 processo, o incentivador das práticas de leitura na escola, aquele que propõe estratégias ao desenvolvimento da competência leitora dos alunos, visando capacitá-los a lerem e compreenderem um texto, em diversas situações comunicativas, bem como pode ser aquele que busca interagir com os demais professores e auxiliá-los no processo de ensino e aprendizagem. A BNCC (BRASIL, 2018) traz a necessidade de se valorizar a ludicidade, a diversidade de saberes, as vivências culturais e a relação do saber com as práticas sociais, e não há como realizar um trabalho multi, sem uma discussão interdisciplinar e transversal, preconizando a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida (BRASIL, 2018, p. 15). Além disso, a BNCC (BRASIL, 2018, p. 19) propõe “incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente, de forma transversal e integradora.” Entendo que meu papel como professora sempre foi contribuir para a formação de pessoas críticas e não apenas transmitir conteúdo. Aprendi durante todo o meu processo de atuação docente que o professor de língua portuguesa é aquele que busca possibilitar aos estudantes práticas diversificadas de linguagem, para o desenvolvimento habilidades de oralidade, de leitura, de escrita, de produção textual e de análise linguística e literária. Nessa perspectiva, a prática que venho desenvolvendo na escola estadual Ruth Passarinho tem considerado a interação professor-aluno e aluno-professor como fator determinante no processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa. Vale ressaltar, que a compreensão que o professor tem de sujeito e de língua, influencia no processo de ensino e aprendizagem, logo, se o aluno é visto como sujeito, autor da sua própria história, o ensino da língua portuguesa passa também a ser visto como processo de interação entre os interlocutores. Paulo Freire discorre, que ensinar está intimamente ligado à produção das condições pertinentes de um aprender crítico, envolvendo os sujeitos do processo (FREIRE, 1996). Isto é, ensinar é muito mais que formar o ser humano em sua destreza, mas é estar atento para a formação ética dos alunos, de modo que possam estimulá-los a uma reflexão crítica da realidade em que estão inseridos. Içami Tiba (2011, p.103) em diálogo com a proposta Freireana de que o processo de ensino- aprendizagem é um profundo movimento de mutualidade entre educador/educando, que “Em qualquer ocasião, sempre há alguém ensinandoe outro aprendendo, direta ou indiretamente”, ou seja, o “Educador não é somente aquele que se propõe a ensinar” (TIBA, 2011, p.104). Portanto, ensinar vai além do conteúdo a ser ensinado, pressupõe uma relação dialógica na sala de aula, em que o professor propõe e o aluno produz a partir de suas experiências. Irandé Antunes (2003, p. 37) também explica sobre esse novo perfil de ser um professor, como sendo um “novo perfil do professor que deve ser um ‘pesquisador’, que, com seus alunos Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 30 (e não, “para” eles), produz conhecimento, o descobre e o redescobre”. Mais uma vez, ressalta- se que o professor precisa ultrapassar os limites do conteúdo programático e oportunizar experiências de forma prazerosa e significativa, assumindo o papel de mediador da aprendizagem na prática educativa. A autora também reforça que a questão maior não é ensinar ou deixar de ensinar gramática, é saber discernir o que se pretende ensinar, uma vez que a gramática não existe em função de si mesma, mas se constrói nos processos de interação da língua na prática educativa. E é nessa perspectiva, durante o desenvolvimento do Projeto “Ler é uma aventura”, que compreendi que não bastava só ensinar gramática, era preciso ensinar a língua num processo de interação com ela, mas sem deixar de envolver a gramática no processo, pois entendo, de acordo com Koch (2009), que o texto é construído na interação entre autor-texto-leitor em um determinado contexto social, isto é, corresponde a uma visão de ensino da língua que vai além do ensino de gramática. Nesse sentido, durante toda a execução do projeto “Ler é uma aventura” busquei propor algo a mais para meus alunos, algo que eles pudessem aprender para a vida, de modo que influenciasse também no seu jeito de vestir e de se comportar, de maneira simples, criando e recriando textos. Sobre isso, Xavier e Marcuschi (2010 p. 209) explicam que na esteira da leitura do mundo pela palavra, vemos emergir uma tecnologia de linguagem cujo espaço de apreensão de sentido não é apenas composto de palavras, mas, junto com elas, encontramos sons, gráficos e diagramas, todos lançados sobre uma mesma superfície perceptual, amalgamados uns sobre os outros, formando um todo significativo e de onde sentidos são complexamente disponibilizados aos navegantes do oceano digital. É assim o hipertexto. Os textos são vistos como hiper, ou seja, não têm mais caráter único, eles são múltiplos. São interativos, colaborativos e híbridos, o que faz com que o ensino também mude, uma vez que trabalhar com esses tipos de textos requer estratégias metodológicas inovadoras para desenvolver no aluno mais habilidades de leitura e mais vivências com variedades de textos que circulam no meio social. Autores como Rojo e Moura explicam multiletramentos como textos que possuem um caráter multi “um dos mais destacados funcionamentos desses novos textos que requer novos letramentos é seu caráter multi, mas hiper: hipertextos, hipermídias” (ROJO E MOURA, 2012 p. 21). Nessa perspectiva de multiletramentos, os hipertextos colocam novos desafios aos professores e alunos, pois exigem de ambos, o multiletramento, muito mais que a leitura de textos, e sim a leitura de mundo, o que exige do leitor o esforço para inferir, preencher lacunas e utilizar todo o seu conhecimento enciclopédico. A BNCC (BRASIL, 2018, p, 136, grifo nosso) também propõe multiletramentos na prática educativa: Nos Anos Finais do Ensino Fundamental, o adolescente/jovem participa com maior criticidade de situações comunicativas diversificadas, interagindo com um número de interlocutores cada vez mais amplo, inclusive no contexto escolar, no qual se amplia o Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 31 número de professores responsáveis por cada um dos componentes curriculares. Essa mudança em relação aos anos iniciais favorece não só o aprofundamento de conhecimentos relativos às áreas, como também o surgimento do desafio de aproximar esses múltiplos conhecimentos. A continuidade da formação para a autonomia se fortalece nesta etapa, na qual os jovens assumem maior protagonismo em práticas de linguagem realizadas dentro e fora da escola. Nesse contexto, as práticas de leitura e escrita que vêm sendo desenvolvido nas aulas de língua portuguesa são práticas que exigem um novo olhar para o processo de ensino e aprendizagem. Busca-se desenvolver práticas inovadoras de leitura e de escrita na escola. E é nessa perspectiva que a escola Ruth Passarinho passa a ter novos desafios para que de fato ocorra o desenvolvimento da competência leitora. Com o avanço do acesso às tecnologias digitais, cabe ao professor de língua portuguesa adotar um novo enfoque na sua formação e assim possa reconhecer o potencial dos alunos enquanto protagonistas na construção do conhecimento, de modo que os alunos se tornem agentes culturais ativos para viver numa sociedade pós-contemporânea. 3 PERCURSO METODOLÓGICO No ano de 2021, com o retorno das aulas presenciais nas escolas públicas, deu- se continuidade ao desenvolvimento do projeto Tarde de Autógrafo “Ler é uma aventura” a partir da metodologia de criação e recriação de textos nas aulas de língua portuguesa, por meio da ação escrita-feedback-reescrita de textos produzidos pelos alunos. Busquei desenvolver estratégias metodológicas de leitura e escrita, em que a partir da leitura de textos diversos, o aluno recriava outros textos, dando novo sentido a eles, ou seja, busquei orientá-los para as produções e recriações de suas próprias autorias. Normalmente, os textos eram corrigidos pelos alunos, após as observações feitas pelo professor, e quando estes estavam compreensíveis e organizados, eram selecionados para compor a coletânea de textos ao final do ano letivo. As atividades de leitura e de escrita realizadas durante as aulas de língua portuguesa abordaram diversas temáticas, entre elas, relacionadas à influência do uso da internet e das redes sociais na vida das pessoas, considerando as experiências dos estudantes com as redes sociais, suas implicações à saúde mental e suas vantagens e desvantagens para a sociedade. Os alunos puderam interagir, em rodas de leitura, com crônicas, charges, resenhas, histórias em quadrinhos, poemas, contos e internetês, também com cordéis na sala de aula. Essa prática permitiu oportunizar ao estudante experiências significativas de leitura e de escrita, em que o feedback dos textos enquanto estratégia utilizada, possibilitou ao aluno o aperfeiçoamento de seus textos. Tendo em vista a formação do aluno leitor-escritor-crítico, questionador, ativo e sujeito do processo de aprendizagem, essa prática educativa, baseada na ação-reflexão-ação, buscou superar os entraves encontrados no dia a dia da sala de aula. Revista “Entre Saberes” - Vol. V, Nº 8 (jun.2022) 32 Esse ano, o projeto culminou na confecção de um Portfólio de textos disponível hoje na biblioteca da escola para uso de todos, como forma de divulgar e valorizar os trabalhos dos alunos junto à comunidade escolar, pois dessa vez não foi possível garantir a produção do 2º livro dos alunos. Além do portfólio, os alunos produziram dicionários paraenses, livretos de cordel, charges, tiras de humor, histórias em quadrinhos, dentre outros gêneros textuais. As figuras a seguir descrevem um pouco os processos metodológicos vividos em sala de aula (arquivo pessoal) Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Legenda: (1) Portfólio na biblioteca da escola