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A Arte da Conversação no Jogo da Capoeira 1


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A Arte da Conversação no Jogo da Capoeira
Um estudo sobre o caráter multforme da conversação do jogo da capoeira.
Mestre Chitãozinho[footnoteRef:1] 2014 [1: Este estudo foi organisado para ser apresentado pela primeira vez em Paris, França, abril de 2014 num Encontro Internacional de Capoeira Passo a Frente, promovido anualmente pelo Mestre Chicote, o qual é membro do Grupo Cordão de Ouro que tem como líder e fundador, Mestre Suassuna.
] 
Sobre o autor
Graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, Fortaleza Ceará. Especialização em Ciência e Religião na Inglaterra, oferecido pelo Instituto Faraday de Ciência e Religião, o qual está ligado à Universidade de Cambridge através do Sant Edmund College. Um ano de mestrado em Filosofia pela Open Universidade da Inglaterra, com estudos na area de Filosofia da Mente e Filosofia Moral. Cursando especialização em Filosofia da Religião pela Universidade de Oxford Inglaterra. 
Publicações: 
● A Capoeira Sob Uma Nova Visão, Ética, Disciplina (2000). 
● ABC da Capoeira (2004). 
● Consciência Capoeiristica (2008). 
● A Morte de Besouro Mangangá (Romance 2011). 
● Filosofia da Mandinga Capoeiristica (2012), dois volumes. 
● Por Uma Ética na Capoeira (2013), dois volumes.
● Mecanismos da Comunicação Mental e Corporal na Capoeira (2014).
● A Arte da Conversação no Jogo da Capoeira (2014).
● Imail: mestrechitãozinho@googlemail.com
Fundador e coordenador do Grupo Negaça Capoeira com núcleos em atividades no Brasil e Inglaterra. Fundador do Centro Cultural Brincar de Capoeirar, projeto que visa promover crianças e adolecentes através da capoeira, em parceria com um projeto de evangelização infant-juvenil oferecido pela Sociedade Espírita Cristianismo Redivivo. 
Introdução
1 Considerações iniciais sobre o desenrolar da conversação do jogo da capoeira.
1.1 Conveniência intencional para algo: um caminho a ser meditado e valorizado.
1.2 Ambivalência e consciência do meu e do valor do outro.
1.3 Ambivalência, cumplicidade e o dualismo de indentidade nas arte-mannhas da conversação do jogo da capoeira.
2 Coesão idealística e sua função na conversação do jogo da capoeira. 
2.1 Dinamismo coerênte e a lógica entre o que penso e faço.
2.2 Percepção lógica dos movimentos 
3 Fundamentação e estrutura dos princípios da interativa conversação do jogo da capoeira, e sua relevância sob a ótica do cooperativismo
4 A arte da adulação como forma de seduzir na conversação do jogo da capoeira.
5 O pensamento inventivo para criar emboscadas, quanto para fugir de situações complexas no jogo da capoeira, pode ser entendido como uma conversação mental e corporal com arte. 
Introdução
 	O jogo da capoeira pode ser comparado em princípio e sobretudo nas observações do aprendizado de sua conversação, ao aprendizado da Matemática.[footnoteRef:2] O campo de apreciação quanto à lógica que se ultiliza na Matemática para desenvolver a habilidade reflexiva diante de problemas variados no que diz respeito ao cálculo, ou em relação ao pensamento lógico que visa encontrar sentido nas conexões entre pontos importantes para se obter um resultado, parecem de sobremodo com as questões que ocorem na roda e no desenvolvimento do jogo da capoeira. [2: Jean Piaget quanto tratou de questões importantes sobre o ensino de ciência nas escolas, reconhecera no seu livro Para onde vai a Educação, que a Matemática “nada mais é do que uma lógica, que prolonga da forma mais natural a lógica habitual e constitui a lógica de todas as formas um pouco evoluídas do pensamento científico” (1977:63). A crítica de Peajet é sobre os métodos antigos do ensino de Matemática, o qual prejudica, segundo ele, o aprendizado reflexívo e e dinâmico dos alunos, pois forçando tão-somente a memorização do que é ensinado na Matemática e noutras áreas científicas, o ensino não se adequa à realidade do aluno, a qual não deve ser tratada como um objeto de memorização, mas tal realidade deveria ser observada e tratada ao mesmo tempo como agente reflexívo e dinamizador do ensino.] 
 	Na conversação do jogo da capoeira o aprendiz em muitos casos apresenta certas disposições mentais importantes, habilidade organizacional quanto a memória sobre situações envolvendo determinados movimentos, sobre algumas sequências, quanto aos modos de atacar, meios de se defender, capacidade de raciocínio conectivo com as ações do outro com quem estabelece ou pretende estabelecer uma conversação mais complexa no jogo da capoeira etc. Em tudo isto nos ultilizamos de reflexões e questões variadas, pois ao realizarmos embora rapidamente questionamentos sobre se uma posição apresentada pelo capoeirista com quem jogamos irá oferecer um tal resultado no campo prático, ou se nos moverá a agir de um certo modo, põe nossa racionalidade, e portanto nosso campo lógico para elaborar e promover ações físicas de conformidade com as situação do momento. Além disso, podemos visualizamos nestas circunstancias as vantagens e as desvantagens que possivelmente alcançariamos no jogo, quais seriam as posições adequadas para determinadas ações, ou onde um erro de cálculo quanto a sermos mais rápidos ou um pouco mais lentos nalguns casos, seja num ataque ou numa defesa poderiam afetar o resultado a que almejamos, ou aquele esperado. De modo que nossas suposições a cerca do aprendizado ou do desenvolvimento da arte da conversação do jogo da capoeira relacionado à Matemática no sentido de nos ultilizarmos de reflexões lógicas, parecem justas, já que praticamente em tudo e para tudo nos ultilizamos de cálculos matemáticos e portanto lógicos. Galileu Galilei acreditava que o universo poderia ser explicado através da Matemática e da Física, e chegou mesmo a demostrar através de observações lógico-matemáticas que Aristóteles, Ptolomeu e outros haviam se enganado quanto as observações deles no campo do movimento, da força e da velocidade dos corpos, assim como nos mostra Stephen Hawking (físico teórico e cosmólogo britânico)no seu livro Uma Breve História do Tempo.[footnoteRef:3] [3: Baseada nalgumas suposições de Aritóteles e Ptoloméu, a cúpula da Igreja Católica travou imensa luta para demostrar que Nicolau Copérnico, e depois Galileu estavam errados quando à doutrina heliocêntrica, segundo a qual a Terra gira à volta do Sol, e não o contrário. Mas, a Igreja Católica através da doutrina geocêntrica, isto é, a terra como o centro de tudo, estava baseada nalgumas partes em Aritóteles e Ptoloméu e noutras na própria bíblia, a qual narra em Josué que Deus fizera o Sol e a Lua parar para que Josué ao lado dos invasores de Canaã, e seus santos planos, podessem derrotar, pelo assassinato ou pela expulsão, os moradores de uma cidade de Canaã. Mas, como as loucuras humanas são passageiras, a Igreja Católica que fez Galileu negar o heliocentrismo sob jura de morte, se desculpou através do Papa João Paulo II em 1979 pelo que fizera à Galileu, tal como fizera quase cinco séculos após ter levado Joãna D’arc para a folgueira, sob acusação de feitiçaria, e depois descupou-se cononizando-a como Santa Joãna D’arc em 1920. ] 
 	
 	Ora, se a Matemática é uma lógica, e se nos ultilizamos de sobremodo na capoeira de nossas funções lógicas para o aprendizado da conversação do seu jogo, tanto quanto aprofundamos mais ainda nossas apreciações lógicas quando alcançamos um nível mais elevado no entendimento da conversação do jogo da capoeira, então, não estamos falando atôa. 	
 	
 	No entanto, se o capoeirista não se exercitar, ou seja, se não exercitar suas disposições e capacidades, seus “dons” ou talentos, quem sabe aprenderá a realizar de um certo modo a conversação do jogo da capoeira, mas não obterá, num grau mais elevado, o entendimento sagaz e com arte sobre a conversação do jogo. Diriamos mesmo que o aprendizado consciênte dos valores da conversação do jogo da capoeira, sendo discutido sob suposições lógicas e morais dentro de suas funções práticas e teóricas, mais cedo e por caminhos construtivos o aprendente alcançariasatisfatórios resultados, conforme suas possibilidades mentais e físicas. Também, acreditamos que por tais caminhos o iniciante poderia construir uma personalidade mais compreensíva quanto aos seus e aos valores dos outros capoeiristas, noção esta que mesmo no contexto da luta no ato da conversação do jogo, ou tão-somente no clima da vadiação deste, isto é, no clima de destração ou brincadeira atenciosa, poderia facilitar um certo equilíbrio de emoções, decisões e ações entre os capoeiristas no campo de ação prático. Assim, supomos como muita convicção que há a possibilidade de o iniciante deduzir com maior clareza se ou não uma atitude é inapropriada para ele como indivíduo, oprtunizando para ele mesmo boas ações quanto à sua conduta pessoal e moral, mas também quanto as seu caráter ético no grupo. 
 	
 	No entanto, há quem possa nos perguntar como fez os mestres João Pequeno, João Grande e tantos outros para aprender a imprimir muitas condições lógicas e morais no jogo da capoeira, ao mesmo tempo que aprenderam a formular tão bém e com arte a sua conversação prática desta, vontando-se, pode-se dizer, não somente, mas praticamente para a observância e meditação do que viam e ouviam das experiências? Ora, se esses grandes mestres da capoeira mostrando uma experiência de sobremodo apreciável, que podemos observar coerência, coesão, percepção lógica no ato da conversação do jogo da capoeira, e muitas outras coisas, quando se sabe que a escola desses capoeiristas, diga-se de passagem, foi a vida popular prática; a mestra de suas experiências como indivíduos e como sujeitos no grupal. Ao nosso turno, podemos dizer: e quem disse que a cultura popular é desprovida de ciência? Não é a capoeira uma coisa de muita ciência tal como afirmou Mestre Caiçara? Não existe a ciência do povo? A sabedoria popular, a qual a História Social, a Sociologia, a Antropologia, os estudos de linguística e de linguagem analisam e extraem um valor tão profundo daí? 
 	
 	Dizendo isto, podemos supor que se o conhecimento lógico dentro da conversação do jogo da capoeira poderá, ao lado de sua relação com o moral, com as posições sócio-históricas e sobretudo com as ações práticas na roda e no jogo fomentar coesão, coerência e sentido lógico para o desenvolvimento sadio e construtivo na capoeira, isso pode significar não somente que o capoeirista sabe algo de grande ultilidade quanto à arte da conversação do jogo da capoeira, mas pode representar responsabilidade moral no individual e no grupal. Porquanto, quem mais conhece o sentido estratégico da conversacao do jogo da capoeira, e sobretudo de um modo mais refinado, ou pode de um certo modo prever suas consequências físicas e morais, já que a experiência vai a pouco e pouco nos concedendo esta capadidade preventive, mas terá tal capoeirista que proceder com caltela; respeito aos direitos do outro, pois sabendo com claridade sobre a natureza e estrutura dos próprios atos e a relação destes para com os dos outros capoeiristas, não poderá se esquivar da responsabilidade no indivial e no grupal. 
 	
 	Fazemos menção à questões morais no ato da conversação do jogo da capoeira, pois pensamos que o lado moral não deve ser algo a parte, mas intrínsico. Dizemos mesmo que a escolha moral ou imoral do capoeirista, sua atitude correta ou incorreta é ação que requer reação no espaço e no tempo, e por isso mesmo, o valor ou não valor da conduta ou do caráter de um capoeirista nestes casos que citamos acima, se diz respeito não ao seu discurso sobre moral, pois tal conduta diz respeito à escolha intencional e ação deste com fins para alguma coisa. Aristóteles em Ética a Nicômaco nos diz que “é nossa escolha do bem ou do mal que determina nosso caráter e não nossa opinião acerca do bem e do mal” (Aristóteles 2007:93). 
 	
 	Um capoeirista de ierarquia mais elevada que joga com um iniciante, não pode se furtar ao fato de que sua experiência apresenta, ou deve apresentar (pelo menos a nível teórico e prático) mais noções de mundo capoeiristico ou saberes com um nível de experiência diferenciado do capoeirista mais jovem. E, ainda que saibamos que acidentes possam ocorrer nalgumas circunstancias ou que capoeiristas podem se machucar como ocorre em qualquer esporte ou arte marcial, onde parece que nalguns casos certas circunstancias driblam nossa atenção e o sentido das ações, ainda assim, não podemos dentro de uma sistematização obviamente observada na conversação do jogo da capoeira, observarmos que um capoeirista intencionalmente machucou um inciante ou mesmo um capoeirista mais experiente, e depois tão-somente dizer: "foi mau cara.." Ou afirmar: "foi sem querer…" Toda e qualquer ação que seja deliberada (pelo uso da vontade) visando algo, ou que haja ocorrido dentro de uma sistematização em cadeia com outras ações de natureza intencional, e se se pode ainda deterctar o anterior envolvimento de sentimentos ou emoções específicas que se relacionaram com os atos praticados, deve-se assim, ser avaliado com mais firmisa e rigor o móvel das ações dos capoeiristas na roda e no jogo. Observar o nível da experiência de cada um, e as circunstancias entre os dois que teria levado um dos envolvidos no jogo a agir de um modo ou de outro. Dizemos isto, pois em muitos casos os agressivos, os violêntos e ao lado desses os oportunistas num sentido negativo no jogo da capoeira, se aproveitam que não existem “leis” que regulam o sistema ético-moral nas ações práticas do jogo da capoeira, e agem com má intenção. De maneira que, as vezes realizam comportamentos inadequados e mesmo nocívos na roda e no jogo. Porém, como inteligência "d +" nos caminhos da "suja" malícia que visa tão-só a própria vantagem pode culminar em velhacaria do próprio destino, esses espertalhões se esquecem do que os grandes mestres deixaram na “doutrina oral” da capoeira, e que até hoje capoeiristas mais compromissados tentam resgatar para o cotidiano do jogo da capoeira e para a própria conduta de outros capoeiristas.
 	
 	Desse modo, no tabuleiro da nova hera quanto a conversação do jogo da capoeira e seu valor sócio-cultural, diga-se de passagem, não visa tão-somente ensinar a “dar pernardas”, não acolhe apenas a luta pela luta na capoeira. Pois embora a capoeira contenha elementos de luta, e devem ser exercitados com mais regulamentação e função na capoeira, e não assumindo outros carácteres fora dela; a capoeira não caminhará à custa de adorar ídolos extraordinariamente violentos e e estúpidos, os quais não promovem função positiva para a capoeira como uma cultura esportiva e marcializada de caráter mundial. “Lutar e vencer em todas as batalhas”, diria Sun Tzu em a A Arte da Guerra, "não e' a gloria suprema; a gloria suprema consiste em quebrar as resistencias do inimigo sem lutar" (1994:25). Isto se encaixa bem com os propósitos de maior relevância dentro do senário capoeiristico, que tenta “enfiar” na mentalidade de muitos “não me toque” que o jogo da capoeira é a vantagem e a desvantagem, a perda e o ganho, o atacar sem e vencer sem machucar desastrosamente o outro capoeirista. Vede o que dia Mestre João Pequeno com sua belíssima filosofia de que “para bater não precisa enconstar o pé, pois quem está de parte viu, se quisesse bater teria batitido”. Oviamente que não politizamos um jogo de capoeira onde os capoeirista não se toquem, não aja cabeças, rasteiras, vingativas e ataques outros, pois a capoeira, tal como diria Mestre Bimba, “é luta, e luta de queda”. Porém, o que defendemos no jogo da capoeira, é não violência, repudiamos atitudes que visam se aproveitar dos menos experiêntes a fim de perfazerem uma fama mentirosa; não estamos de acordo com a ideia de que, sendo um mestre de capoeira, tenha eu 150 anos e 149 de capoeira como alguns se vangloriam, deva um outro capoeirista me respeitar cegamente no jogo, e ainda assim tolerar que eu o marionete a meu bel prazer… O jogo da capoeira não é um diálogo, o qual supõe o porfiamento conjunto das peças que envolve a minha e a fala do outro? Como poderia o outro então pretender aloucadamentefalar sozinho, e orgulhosamente dizer que jogou capoeira, quando não oportunizou a “fala” para o outro? Quer um diálogo ou prentende de modo egocentric um monólogo?
 	Na condição de uma fusão de cumplicidades ou concordâncias esquemáticas, a arte da conversação do jogo da capoeira, portanto, desenvolve um tipo de ambivalêcia necessária entre os capoeiristas, ou seja, pode ocorrer perdas e ganhos, vantagens e desvantagens, surgir impressões sentimentais (alegria, tristeza e outras), quanto emocionais (raiva, medo, surpresa etc). Eis porque dizemos que o clima da conversação do jogo da capoeira, quando vislumbra o fundamento de sua própria filosofia, que é vadiar oportunizando a chance da vaviação pelo outro também, passamos assim a respeitar os princípios da interação e do relacionamento inteligênte no tabuleiro da roda e no jogo da capoeira. 
 	Foi pensando, portanto, em todo esse contexto envolvendo o jogo da capoeira enquanto a arte da astuta conversação que envolve muito raciocínio e medidas caltelosas, sentimento e emoção, planos intencionais variados que não implicam a necesidade da violência gratuita ou da maldade, que escrevemos este novo estudo. 
 	Nossa suposição de que o estudo e o entendimento da função prática da conveniência mútua entre os capoeiristas no ato da conversação no jogo da capoeira, a consciência da ambivalência de valores nestas circunstancias, a coesão idealística, o dinamismo coerênte, a percepção lógica dos movimentos na conversação do jogo da capoeira, ou a elaboração calculada destes, a arte da adulação, o pensamento criativo tanto para escapar quando para transformar situações, são de profundo valor no individual e no grupal para o capoeirista. Pois oferecem a possibilidade de desenvolver uma consciência de que o jogo da capoeira é um sistema de cooperação mútua entre os capoeiristas. Também, ao dedicarmos mais atenção à estrutura e aos fundamentos da conversação do jogo da capoeira, e ao sistema funcional da roda com seus preceitos e fundamentos, poderemos oferecer mais sentido lógico e moral ao sistema do ensino-aprendizagem da capoeira. Vendo-o assim como um sistema de cooperativismo entre os valores práticos dos capoeiristas no sentido técnico e estético, os quais devem apresentar, indiscultivelmente, consequências intelecto-morais na base da permuta de valores pessoais e coletivos na conversação do jogo da capoeira.
 	Pensando nisto, assumimos a tarefa de apresentar este novo estudo, o qual debruça-se em observações de minha própria experiência de quase 30 anos de jornada na capoeira. Além disso, buscou-se na Filosofia da Linguagem, nalguns apontamentos sobre Linguística, e na Psicologia Cognitiva, o suporte que supomos seja adequado. Também, teve-se o cuidado de narrar experiências de outros capoeiristas. E, embora pensemos que as ideias que ora apresentemos não encerem qualquer verdade absoluta ou pretendam indicar o único caminho, pois reconhecemos vários caminhos excelêntes, visam sugestões que possam facilitar novas ideias e quem sabe impulcionar à outros trabalhos mais aprofundados para o futuro. 
 	
 	Pensadores como Paul Grice, Nicky Hayes, George Yule, Michael W. Eysenck, Mark Keane, Sun Tzu, Hammed e La Fontaine serão ultilizados no decorrer deste estudo, pois consideramos as ideias de cada um desses filósofos, psicólogos, general de guerra (no caso de Sun Tzu), de fundamental importancia nesta novo trabalho. Pois, se o mesmo trata não somente dos mecanismos da linguagem, do seu significado, mas de estratégias luta, de conversação, de investigação sobre a lógico dos atos e da conduta da pessoas, óbviamente que o tabuleiro da nova hera sobre a ideia da conversação mental e corporal do jogo da capoeira, exige mais aprofundamento.
1 Considerações iniciais sobre o desenrolar da conversação do jogo da capoeira.
 	Ao falarmos capoeiristicamente sobre conversação no jogo da capoeira, isso nos faz pensar claramente numa atividade intencional-discussiva que, em princípio, desenrola-se por um lado na intimidade dos capoeiristas desejosos pelo jogo, e por outro, diz respeito às questões de natureza prática que principía nas primeiras ações gesticuladas pelos dois capoeiristas no tabuleiro da roda.[footnoteRef:4] E, embora a atividade mental esteja de sobremodo conectada à atividade corporal, tal como vimos em livro de nossa autoria (Mecanismos da Comunicação Metal e Corporal na Capoeira), é necessário realizarmos algumas distinções aqui sobre o que pensamos enquanto um tipo de conversação no jogo da capoeira; assim como se faz necessário supormos de que modo seria mais interessante pensar certas ideias; observarmos em quais circunstancias no campo de ação prática da conversação do jogo da capoeira, iremos aplicar esta ou aquela. E que fique claro aqui que não iremos sujerir que tipo de ideia é melhor para os capoeiristas se ultilizarem nas circunstancias do jogo, pois como uma construção mental e corporal dinâmica, não se pode ter receita pronta e acabada. Pois, as peças que “vestirão” as situações complexas na roda e particularmente no jogo, devem surgir de acordo com o que a linguagem mental e corporal da conversação do jogo está pedindo num exato momento. Pensamos mesmo que seria tolice da parte de um capoeirista criar uma formula para escapar de situações que muitas das vezes requerem mais improviso do que movimentos mecanizados. O jogo da capoeira é uma combinação lógica de ações mentais e corporais desenvolvida pelos dois capoeiristas. Por exemplo: que tipo intenção tenho e até onde posso continuar com a mesma; se meu desejo para “pegar” o outro fugir aos esquemas de certas medidas, será que isto não me deixará cego diante das circunstancias? Quando calculo mentalmente uma ataque, será que calculo com consciência do que é preciso fazer, ou será que no momento desses calculos deixo que a raiva ou o melindre embarace minhas medidas? Além disso, ao pensarmos esses fatores em conexão com as linguagem corporal apresentada numa certa circunstancia no jogo, será que valorizamos o que se passa visualmente nos atos do outro capoeirista, ou ignoramos a lógica que os modos de ser dele apresenta? Se ignoramos, como iremos conectar a lógica que lemos nos atos do outro com a lógica que em si mesmo pretendemos? [4: O jogo de damas ou simplesmente damas, é o nome de um jogo de tabuleiro. Esta referência à tabuleiro que veremos citada aqui e ali no nosso estudo, e mais particularmente a ideia de tabuleiro da roda de capoeira, diz respeito não somente ao espasso pelos dois capoeiristas dentro da roda, mas simboliza um tereno de extratégias, lugar onde os capoeiristas permutam seus macetes, manhas, espertezas e sabedoria de vida quanto a conversação do jogo da capoeira. E como no jogo de damas que ora perdemos, ora ganhamos, ou em certos momentos estamos encurralados ou encurralamos ou outro, esse campo de ação tráz certa similaridade para com o campo de ação na roda e no jogo operado pelos capoeiristas. ] 
 	Iremos, portanto, considerar algumas questões de fundamental importancia sobre o que consideramos como os principais pontos na a arte da conversação do jogo da capoeira, levando em consideração a estrutura e as funções benéficas do coperativismo enquanto atividade de base entre o pensamento e a ação dos capoeiristas no ato da conversação do jogo da capoeira. 
1.1 Conveniência intencional para algo: um caminho a ser meditado e valorizado.
 	Quando dizemos que um capoeirista é conveniênte a outro capoeirista na conversação do jogo da capoeira, pode-se entender em princípio que tal capoeirista facilitou algo para outro; que ele realizou alguma coisa que foi apropriado para uma ou mais situações na roda e no jogo. Quando os dois capoeiristas encontram um caminho apropriado para realizar alguma coisa na roda e no jogo, tal caminho torna-se favorável ou ultil para o propósito escolhido para desenvolver o jogo. 
 	A conveniência inicial entre dois capoeiristas no jogo, é de fundamental importancia para o desenvolviment do mesmo, pois quando um capoeirista agide conformidade às regras da conveniência positive na conversação do jogo, onde pode ser entendida quando um cede algo de cá, e o outro cede outra coisa de lá, gera assim, um tipo de acordo entre os dois. O alge desses modos de ser entre os dois capoeiristas, pode-se dizer, seria um encontro com certa harmonia no jogo. Embora não deixemos de pensar que a harmonia na conversação do jogo da capoeira não ocorre tão-somente em razão de eu estar realizando um acordo com o outro, pois nalguns casos, o acordo ocorre em certos pontos por que quero vantagem sobre o outro. Se alcançaremos harmonia no nosso acordo, isso dependerá de como minha sintonia mental para algo irá quem sabe, convergir para com a do outro capoeirista, e a dele para com a minha, formando assim, uma conveniência confiante. Porém, existe a conveniência como forma de manutenção da continuidade da conversa entre os dois capoeiristas no jogo, o que não implica necessáriamente que estes se encontrem em harmonia.
 	No entanto, quando dizemos que no ato da conversação do jogo da capoeira um capoeirista estava intencionalmente querendo ser conveniênte a outro, é possível dizer que tal capoeirista estava querendo facilitar, por alguma razão, o desenvolvimento do jogo com outro. Caso o capoeirista com quem jogamos não nos conceda nenhuma oportunidade, este tipo de capoeirista não poderia, por boas razões, ser apelidado de mandingueiro ou sabedor da malcía na capoeira, mas um egoista que pensando somente em si, põe ele e o outro praticamente fora da lógica do jogo da capoeira, que é dialogar os próprios valores com os do outro capoeirista. Quem quer somente atacar e travar o jogo do outro, portanto, sem oportunizar um momento para a “fala” dele no jogo, é o que podemos chamar de a pequenés disfarçada de grandesa, o qual vive na ceguiera estúpida do pedestal que ao invés de trazer respeito, desgraça as melhores relações na capoeira.
 	Dessa forma, não basta que somente um capoeirista queira ser conveniênte, facilitar as situações na conversação do jogo da capoeira, pois se trata da vontade e da ação de duas pessoas em sintonia e não apenas uma. É preciso, pois, para que o jogo se desenvolva com qualidade e “magicalidade”, que os dois sejam conveniêntes um para com o outro e nalgumas circunstancias; não significando que um capoeirista deve ir em todas as “propostas” do outro, mas que deve haver um acordo mútuo, caso desejem desenvolver o jogo. 
1.2 Ambivalência e consciência do meu e do valor do outro.
 	Ambivalência é a “qualidade do que tem dois valores” (2006:96), ou “a coexistência de sentimentos antagônicos (diferentes) em face do mesmo objeto”(ibid). Se eu disser, porém, que existe uma ambivalência a se considerar no jogo da capoeira, seria como se dicesse que há perdas e ganhos, vantagens e desvantagens, momentos de seriedade mais complexa e momentos de descontração na vadiação do jogo; podendo ainda existir coisas boas e coisas ruins.
 	A consciência que os dois capoeiristas envolvidos na conversação do jogo devem desenvolver em torno desses opostos, os quais apresentam certos valores tanto para seus sentimentos quanto para as suas emoções, são de fundamental importancia no campo de suas decisões visando o individual e o grupal quanto ao jogo da capoeira.
 	Os caminhos que a ambivalência nos indicam, podem estar cheios de altos e baixos, de coisas desagradáveis ou não, mais numa coisa temos que concordar ao observarmos esse caráter no jogo: reconheceremos que a aceitação, não de modo retraido do caráter ambivalênte do jogo da capoeira nos ensinará que uma rasteira, uma cabeçada, um martelo que nos alcançou; ou mesmo se vacilamos por alguma razão, que todas essas coisas não devem passar de “acidentes de percurso” no campo da conversação do jogo. E que em tais momentos, convidar o outro para “a volta ao mundo”, ou chamá-lo para a boca da roda como se diz na capoeira, não deveria ser motivo de vergonha ou de raiva, mas ai estaria o espírito de vadiador no jogo da capoeira; além disso, poderiamos obter a chance para recomecar uma nova “partida”.
1.3 Ambivalência, cumplicidade e o dualismo de indentidade nas arte-mannhas da conversação do jogo da capoeira.
 	Em intrevista à Revista Capoeira (ANO II, N◦ 6, p.26), a mestranda Edna do Grupo Abadá Capoeira residente em Nova York, diz: “a capoeira não é uma luta onde há um vencedor e um perdedor. A capoeira é um jogo: um jogo de descontração, cujo o objetivo é atingir uma harmonia”. Esse parecer de Edna nos faz pensar o quanto há, na mentalidade de grandes capoeiristas, a suposição firme e positiva de que a capoeira, além de não poder ser percebida tão-somente como uma luta (mesmo que seja um tipo de luta), apresenta um caráter ambivalente na estrutura de sua conversação no ato do jogo. Essa ambivalência que poderia ser entendida como as perdas e o ganhos, como as vantagens e as desvantagens, sendo pensanda ainda que ora o jogo flui ora se fecha por conta de um tipo de falta de harmonia no seu desenvolvimento, poderia ser a ambivalência nesse caso, uma das peças fundamentais para se pensar que: se nalguns casos eu encontro “brechas” ou oportunidades de “pegar” o outro capoeirista numa emboscada que poderia ser perigosa para ele (possivelmente para ambos), mas apenas mostro onde estava a falha, e noutros casos e muitas vezes no mesmo jogo o outro ver e mostra objetivamente os meus vacilos, então a possiblidade de somente um ser “o vencedor” não deve ser descartável.
	A ambivalência na conversação do jogo da capoeira, é ou pode ser percebida não somente na linguagem expressada pelo capoeirista, onde se pode visualizar vantagens e desvantagens mais objetivas, mas também, intuida através de percepções transcendentais, onde a intimidade do próprio capoeirista forneceria o que chamamos em trabalho de nossa autoria (Linguagem Mental e Corporal na Capoeira) de linguagem psíquica, a qual trás no seu campo de representação, sentimentos, pensamentos e forças espirituais que causam impressões no nosso campo mental, o qual capta, interpreta e deduz do que se passa.
 	A ambivalência no jogo da capoeira, apresenta portanto, dois paralelos que ora contêm sentimentos de alegria, ora emoções raivosas. Mestre João Grande nos diz isto quanto afirma: “O angoleiro é malicioso e possui um lado positivo e outro negativo, conforme o adversário” ((ANO II, N◦ 6, p.31). Esses dois pólos do capoeirista, ou seja, o lado positivo e o negativo conforme acentua Mestre João Grande, os quais podemos chamar aqui de dualismo de indentidade nas arte-manhas da conversação do jogo da capoeira, se desenvolve, ao que tudo nos indica, a partir de uma cumplicidade de interesses quanto a valores pessoais e grupais na capoeira. Contudo, não podemos deixar de pensar que em muitos casos, esse caráter ambivalênte da conversação do jogo da capoeira, sua cumplicidade e o que chamamos de dualismo de indentidade, suge mais diante das circunstancias adversas ocorridas entre os dois capoeristas no ato da conversação complexa no jogo, do que nas formas estéticas e preferências estilísticas do mesmo. Estas podem favorecer, mas é o tipo de indentidade pesssoal do capoeirista, seus modos de ser e de se expressar, o que ele quer e como pretende querer ao lado da circunstancias da roda que ditarão não somente a natureza da ambivalência no jogo, mas dirão por quais necessidades o acumpliciamento de certas maneiras são necessárias para o desenvolvimento das ideias dos capoeiristas. Contudo, nenhum capoeirista, indistintamente, deve se esquecer de que o ego e o eu, a violência e a calmaria, o ser humilde e orgulhoso, são polos que se criam ou se desenvolvem por si mesmos. Mas ao contrário, partem do pensamento e da natureza da vontade que os guiam, os quais fundamentam esses opostos. Nesse sentido, Lao-Tse em Tao Te Ching, nos informa que é a pessoa que reaje de uma maneira ou pode reajir de outra. No tema a Serenidade do sábio, diz Lao-Tse: “Suaviza o que é violente, nivela-se com o que é singelo. Assim, conscientiza ele (o sábio) a Realidade […], mantêm-seequidistante de simpatía e antipatía, indiferente a lucro ou a perda” (1970:153). O capoeirista, portanto, que consegue encontrar uma balança entre esses dois polos, entre esse caráter ambivalente em sua vida, encontrará mais cedo o caminho. 
 	Se, pois, eu cedo daqui, e o outro capoeirista cede de lá, eu chamo por um caminho visando desenvolver determinada sequência no jogo, e o outro ao seu turno corresponde pelo menos em pate a esses propósitos, isso se faz necessário na feição de cumplicidade para a conversação do jogo da capoeira. 
 	Isso que dizemos pode encontrar fundamento em psicólogos famosos tal como Carl G. Jung, respeitado psiquiátra e psicólogo suíço, o qual desenvolveu o termo “sombra” para designar os lados rejeitados da realidade humana. Esses lados rejeitados que se encontram em nosso memória profunda, ao se mixarem à consciência ativa nos afazeres ordinários do cotidiano, faz-nos pensar que temos em nossa identidade pessoal, dois lados opostos na feição de egoismo-desinteresse, dominação-submissão, adulação-aversão (Hammed 1997:106) etc., os quais na roda e no jogo da capoeira assumem variadas feições, conforme a personalidade do capoeirista. 
	Esse entendimento é importante para o capoeirista desde que o convida a pensar que nem tudo é só harmonia e paraíso no ato da conversação do jogo da capoeira, pois é da próprio natureza humana ser diferente; agir com calma quando precisa, e proceder de modo mais acelerado quando as circunstancias o exigem. A questão reside em sabermos encontrar uma balança como medida para as conversaçôes complexas ou frenéticas no jogo da capoeira. Pois apesar de a emoção ser um impulso para fora na feição de atitude pré-organizada no comportamento do capoeirista, não deve este se esquecer que o coração, mesmo magoado, e a razão, mesmo um tanto aturdida, podem controlar não os impulsos da emoção em si mesmo para que não apareçam, pois tais impulsos agitam a circulação sanguínea, exigindo secreção da energia energia contundente, seja da fala, nos gestos ou numa discussão. Contudo, a razão e os potenciais dinâmicos do coração podem dozar a ordem do caminho pelo qual determinada emoção poderia ser empregada. Mestre Pastinha colocou nos seus manuscritos que “[o] bom capoeirista nunca se exalta, procura sempre estar calmo para poder refletir com precisão e acerto” (Praticando Capoeira, Ano 1- n◦ 02). A introspeção nesse sentido, “por ser o processo de conduzir a atenção para dentro, para análise das possibilidades intimas, para a reflexão do conteúdo emocional” (Ângeles 1990:54), favorece ao capoeirista ter pensamentos mais equilibrados, a menditar, mesmo rapidamente, no que fazer e como fazer melhor.	 
2 Coesão idealística e sua função na conversação do jogo da capoeira. 
 	Adotamos três pontos para este capítulo que consideramos em concordância com os subcapítulos precendentes, e que também se conectam de sobremodo com as questões fundamentais da conversação do jogo da capoeira. Coesão idealística e sua função na conversação do jogo da capoeira, tal como podemos observar acima; dinamismo coerênte, e percepção lógica dos movimentos na conversação do jogo da capoeira, serão os objetos de discussão aqui. 	
 	O primeiro tema, coesão idealística e sua função na conversação do jogo da capoeira, poderiamos entendê-lo como a capacidade que tem o capoeirista para formular intimamente coerência entre os seus pensamentos, suas ideias e suas intenções. Tentando buscar no seu entendimento de base sobre o jogo da capoeira, noções apropriadas para intercambiar valores de natureza psicológica e corporal com o outro capoeirista no ato da conversação do jogo da capoeira. Isso significa não somente intercambiar os próprios valores internos enquanto experiência de vida, a fim de poder ajuizar inicialmente sobre o que faz sentido ou não para o desenrolar da conversação do jogo, ou ainda qual peça poderia combinar ou fazer sentido com tal outra, mas também intercambiar essa coesão de valores palpitantes dentro de nós em interação como o valores do outro capoeirista também. Nesse sentido, diga-se de passagem, um tipo de atividade lógica e dinâmica que o capoeirista busca entre sua experiência interna e à nova atividade que lhe está sendo proposta na roda, e mais particularmente no jogo da capoeira, vai aos poucos se desenrolando. E graças à organização ítima empregada por um capoeirista em conexão com seus atos corporais, visando ainda interagir para com os valores íntimos e para com as expressões corporais do outro capoeirista com quem joga, a conversa mental e corporalmente no jogo tende a fluir. 
 	Essa coesão idealística que nos referimos, irá facilitar a organização do jogo e criar laços psicologicamente necessários na intimidade dos capoeiristas em diálogo no mesmo, formalizando com isso também, o que será posto no campo de ação corporal no jogo da capoeira. A roda da capoeira nesse sentido, passa a ser vista na feição de um ser coletivo, onde os atributos pessoais de cada capoeirista, suas capacidades de “conversar” no grupo, seu talento para fomentar boas relações na roda e na interação no jogo, e o bom senso para conectar atitudes e situações, tornam-se alternativas fundamentais e a mola mestra da conversação no jogo da capoeira. 
 	Sem essas conexões psicológicas e físicas no tabuleiro da roda entre os capoeiristas no ato da conversação no jogo, dificilmente dois capoeiristas encontram sentido lógico para o mesmo. É uma conversa de entendimentos e de valores, e “se dizemos que pessoas estão em conversação, entendemos que elas estão falando juntas” (2006:307), tal como assegura o Collins Cobuild Advanced Learner’s English Dictionary. Porém, quando dizemos que dois capoeiristas estão conversando juntos no ato do jogo da capoeira, não quer dizer que estes estejam falando sobre qualquer coisa, pois ai reside um tipo de conversação que envolve os sentidos físicos e psíquicos; envolve sentimentos de camaradagens ou emoções raivosas. De maneira que isso significa que uma linguagem muito complexa surje do campo das intenções intimas dos capoeiristas para as emoções, as quais impulcionam a emotividade, a respiração, até chegar no jesto ou atitude de natureza corporal propriamente dita. 
 	Essas suposições acima nos fazem observar a conversação do jogo entre os capoeiristas, por exemplo, quando um capoeirista canta uma música para um situação ou para um determinado capoeirista, e se o outro responder de algum modo, seja simbolicamente com outra música, ou simplismente esboçando um jesto de aprovação ou de desaprovação, pode-se dizer, pois, que ai foi principiado uma conversação através da linguagem expressada na roda e no jogo da capoeira. Linguagem esta que se refere à significados de ordem psicológico ou à sentidos variados quanto ao campo físico, já que desde a troca de olhares, a uma emoção mais acentuada que move o capoeirista a algum gesto ou atitude, poder-si-a ai, se desenvolvido conexões e relações mais estreitas no campo da conversação entre os capoeiristas.
 	Para nós, portanto, a conversação do jogo da capoeira deve apresentar também, logo em princípio, uma coesão idealística bem clara, a qual os dois capoeiristas devem dar início ao jogo com jestos e movimentos amistosos, os quais não podem ser desprovidos da integração e relevância mútua de intenções. 
	Com o auxílio do estudo sobre Linguagem, isto que dissemos acima é perfeitamente intendível, pois de acordo com George Yule no seu livro O Estudo da Linguagem, coesão pode ser descrito como “os laços e as conexões que existem dentro de textos” (2010:143). Ora, observando isto dentro do jogo da capoeira, pode-se dizer que os laços ou conexões existentes entre minhas ideias sobre o jogo da capoeira, sua ligação com o que quero, posso e devo realizar corporalmente, sendo fundidos com os valores do outro capoeirista, suas habilidades e modos de expressar e de entender o jogo, poderá favorecer não somente uma excelênte conversação no jogo da capoeira entre mim e o outro capoeirista, mas esta acontecerá com arte.Portanto, se alguma coisa entre os capoeiristas mostra-se coesa, isso deve significar que as peças que necessariamente precisam unificar-se, devem se encaixar bem, e formar uma unidade como um todo (2006:261).
2.1 Dinamismo coerênte e a lógica das ações do capoeirista. 
 	A coerência entre o discurso e a prática, fundamenta-se no présuposto de que iremos agir conforme haviamos falado. Pasquale Cipro, famoso pelas suas correções quanto ao modo que as pessoas expressam o português, nos informa no 1 de 4 livretos de sua autoria, que coerência é justamente “o nexo entre dois ou mais fatos, duas ou mais atitudes. Se há falta de nexo, há incoerência” (2007:15). No jogo da capoeira, esta questão sobre coerência deve ser, em si mesma, uma questão lógica, pois se se busca um jogo dinâmico e coerênte, onde as ações do capoeirista deva demostrar sentido lógico, deverá assim, uma atitude de um capoeirista fazer nexo com a atitude de outro. Isto é, quando um capoeirista expressa que atacará com um martelo com a perna direita, por exemplo, obviamente que o outro não deverá esquisar para o mesmo lado que o martelo vêm; se estamos num jogo de angola e nos fazem uma chamada, claramente não iremos ficar dando saltos mortais; ou se um mestre está na metade de um ladainha, não vamos sair para o jogo, pois a lógica do regulamento diz que se deve aguardar o canto de entrada e o corridor. Do mesmo modo, se tocar São Bento Grande de Bimba, não devo realizar um jogo acrobático, ou se toca Banguela, não faz sentido jogar o Miudinho etc.
	Para nós, esse dinamismo coerênte está de sobremodo ligado ao campo das ideias principais do capoeirista quanto ao que ele quer, deve e pode realizar na conversação do jogo. Os capoeiristas devem, assim, buscar as conexões psicológicas e o que os sinais das mesmas querem lhes dizer no ambiente prático da roda, pois conectar o que sente às realidades corporais que o momento exige, observando se ou não as peças psicológicas formam sentido e ligação de modo fluido com as peças das ações corporais, pode ocorrer menos erro e mais acerto no ato relacional na roda e no jogo. Essas peças a que nos referimos, podem ser entendidas como um olhar que emito significando algo, ou com um jesto facial sinalizando outro coisa, ou ainda como um movimento que realizo de acordo com um propósito que tenho em vista, o qual calculo que me renderá um certo resultado, embora não posso me esquecer de que a direção dos meus planos podem ser modificadas por mim ou pelo outro capoeirista, caso as ações do outro capoeirista egijam que eu tome tal medida ao invés de tal outra. 
 	No entanto, em concordância com a intenção do outro capoeirista, sendo nalguns pontos conveniênte a ele, mas coerênte para com a natureza da situação que me está sendo imposta, deve ser relevânte e só expressar o necessário. 
 	Aqueles capoeiristas que colocam “peças” psicológicas desconexas em suas ideias e intenções iniciais, tendem a se expressar corporalmente com certa dificuldade, e mesmo sem muito nexo. Estes que não se organizam mentalmente antes de realizar uma ação corporal, dificilmente poderão encontrar dinamismo coerênte no ato da conversação corporal propriamente dita do jogo da capoeira. Por isso, repetimos, todas peças da conversação do jogo da capoeira, sejam de ordem mental ou corporal, devem caminhar bem relacionadas, integradas umas com a outras, e se por acidente de percusso o capoeirista perceber que algo poderia “dar errado” ou mesmo se fizer algo errado, o improviso como capacidade criativa deve encontrar lugar nestas circunstancias. Quanto aos desacertos, devem ser modificados na descontração atenciosa e mesmo buscar não valorizar de mais qualquer erro; pior ainda, comparando-o com algo que fez com o que o outro capoeirista se mostrou bem sucedido, pois a comparação entre o erro e o acerto, poderá levar a certa frustração pelo por parte do capoeirista que se sente rebaixado. E, se o melindre estiver de prontidão nesses momentos, se objetos externos, sejam pessoas ou coisas outros forçar-nos a não aceitar o erro, seja por vegonha ou por conta de nossa condição, dizemos mesmo deve-se convidar o outro capoeirista para “dar volta ao mundo” num clima de vadiação. E ao agachar ao pé do berimbau, o canto sempre axilia viabilizar melhores “ares” para a situação, e quem sabe num dado momento ai buscado, a aceitação do erro como acidente de percurso, será melhor entendida. Já presenciamos que em muitas circunstancias, no mais das vezes a ideia de considerarmos com coerência nos modos de ser com os de se expressar, de tentarmos ser na prática o que falamos ou sugerimos para os outros, sobre põe-nos novamente no caminha do bom senso dentro da conversação do jogo da capoeira.
 	Se os dois capoeiristas, portanto, desenvolvem um dinamismo coerênte na conversação do jogo, tais capoeiristas se esforçam, como seria óbvio pensar, para expressar as ideias deles como se fossem a representação de uma única ideia; além de pretenderem que tais ideias sejam apresentadas de modo claro e por um caminho calmo. Porquanto, os nervosos, os impaciêntes e com estes os agressivos, jeralmente o são porque não conseguem tolerar a si mesmos, e no seu alvoroço, perdem na maioria das vezes o fil da coerência dinâmica no jogo. A calma no momento do jogo da capoeira, sobretudo quando este se mostrar mais difícil de haver uma negociação, demostra não somente que o capoeirista se conhece e está vendo pontos de coerência e com precisão quanto ao sentido do que fazer, ou sobre o que pretende fazer com acerto. A impaciência, a apelação com ataques desconexos e mais agressivos, demostra fraquesa e espírito e desconhecimento do que é necessário e adequado para a conversação do jogo.
 	O dinamismo coerênte ao lado da postura de camaradagem para com o outro e confiança em si mesmo, supomos que os capoeiristas assim procedendo, não somente se entenderiam melhor na conversação do jogo, mas sucitariam com um tal dinamismo coerênte, reflexões importantes e construtivas noutros capoeiristas, os quais poderiam passar a compreender, ou pelo menos a refletir nesse modo de entender a conversação do jogo da capoeira. 
 	Entre o que os capoeiristas pensaram ou estão pensando como situações para o jogo e a conexão lógica desse campo psicológico para com ações corporais, podem existir intenções legíveis, quando podemos descrevê-las através das emoções e dos gestos que estas casionam, mas também existem intenções praticamente ilegíveis na conversação do jogo da capoeira. O filósofo Wittgenstein no seu livro Investigações Filosóficas chamaria a isto de linguam privada, onde “[a]s palavras dessa linguagem devem referir-se àquilo que apenas o falante pode saber – ou diz respeito – às suas sensações imediatas, privadas” (1999, item 243). No jogo da capoeira vemos toda esta estrutura se desenrolar, seja dentro de um dinamismo coerênte, ou então de um modo que nem Freud explicaria, pois as vezes um capoeirista quer realizar algo no jogo, mas o outro se encontra com “a cabeça” no mundo da lua, ou não consegue interpretar os sinais enviados pelo outro com quem jogo. 
 	Essa noção psicológico-simbólica entre pensamento e ação nas circunstancias do jogo da capoeira, poderia ser compreendida ainda como a possibilidade que tem o capoeirista de imprimir coerência lógica entre o que pensa e como adotará a sua ação para o corporal. Nesse caso, os movimentos de um capoeirista devem demostrar cooperação para com os movimentos do outro. Se não houver, portanto, nesse campo de ação entre o pensamento e a ação corporal dos capoeiristas um coperativismo lógico que promova e amplie a interação mútua das ideias e das ações corporais dos capoeiristas na roda e no jogo, poderão estes encontrar muitas dificuldades. 
 	O professor e escritor George Yule a quem já citamos no campo da Linguagem, acredita que, “coerência (tudo se encaixando bem) não é algo que existe na estrutura das palavras, mas algo que existe nas pessoas” (2010:144). Yule diz ainda que “[sã]o as pessoas que ‘fazem sentido’ – ou percebem osentido – do que lêem e ouvem” (ibid). De acordo com este pensador, as pessoas tentam chegar a uma interpretação das coisas que alinham com a sua experiência, da maneira como o mundo é. Possibilidades que nos faz pensar que a coerência no jogo da capoeira, deve ser pensada ou interpretada não somente de acordo com o que está sendo posto no jogo em si mesmo, seja quanto a movimentos de ataques ou defesas, ou ainda de sequências de movimentos, mas como entendido como um ou o outro capoeirista gostaria, quer e podem “dar” sentido ao dinamismo coerênte da conversação do jogo da capoeira.
2.2 Percepção lógica dos movimentos na conversação do jogo da capoeira
 	Neste ponto, falaremos sobre as ações e os movimentos dos capoeiristas que se encontram na conversação do jogo. Desse modo, é necessário que entendamos mesmo que ligeiramente, o que vem a ser: percepção no jogo e alguns caminhos de sua lógica, os movimentos corporais e até que ponto estes significam realmente o que visualizamos. Assim, percepção, lógica e movimento devem serão observados aqui, a fim de que possamos formular com mais precisção no jogo da capoeira, o que poderia ser percepção lógica dos movimentos de um capoeirista em relação ao outro no jogo, ou como ocorre mutuamente esse mecanismo na atividade do jogo entre os dois capoeiristas.
 	Vemos, portanto, na Concisa Routledge Encicopedia de Filosofia, que “percepcao é o uso dos nossos sentidos para adquerir informação sobre o mundo à nossa volta, e para se familiarizar com objetos, eventos e as suas caracteristicas” (2000:664-665). Ora, nossas questoes acima foram justamente em torno dos sentidos, tanto os físicos quanto os psíquicos, e se estes em certa combinação ou interação, poderiam nos auxiliar a sentir, perceber e ajuizar do que sentimos e percebemos no ato da conversação do jogo da capoeira. Desse modo, se a percepção pode ser entendido como o uso dos nossos sentidos para adquirirmos conhecimento, resta-nos saber como nos entendermos melhor dentro do jogo, e ao mesmo tempo entender o outro para captar, interpretar e agir corporalmente dentro de sua conversação. 
 	Supomos que é importante o capoeirista saber que tipo de conhecimento lhe é possível ultilizar no momento da vivência do jogo com outro, ou que natureza de saber está lhe sendo proposta; se é um tipo de ação que lhe é desconhecida, ou se se conhece esta por comparação com a experiências já vividas na roda e no jogo da capoeira etc. 
 	Kant denomina em Crítica da Razão Pura de empíricos todos aqueles conhecimentos que provêm da nossa experiência, e chama a priori aqueles que não trazem relação direta com a experiência, e que poderia fazer parte de uma natureza intuitiva ou de uma razão pura como diz Kant. E, de acordo com Hayes, pesquisadora e professora de Psicologia e Psicologia da Educação, “o estudo psicológico de percepção envolve observações de como a mente age sobre a informação que recebe através dos sentidos, para nos dar a nossa experiência perceptiva” (Hayes 2003:112). Hayes nos informa que muitas investigações sobre percepção se concentram na percepção visual, por que a visão é, de acordo com esta pesquisadora, o mais importante sentido para a criatura humana. Hayes sugere ainda outros tipos de percepções, tais como ouvir, tocar, cheirar e saborear. 
	No nosso caso quanto à conversação do jogo da capoeira, supomos que a percepção intuitiva, a qual entendemos como um tipo de lógica captada para auxiliar na clareza do que já conhecemos por experiência, e ao lado dessa a visualização dos movimentos no ato do jogo, podem auxiliar a desenvolver um sentido mais coerênte no jogo da capoeira
 	O capoeirista, portanto, vivencia muito dessas duas naturezas de conhecimento que Kant se refere, mas se ultiliza sistematicamente da interpretação lógico-visual do movimentos ocorridos no ato da conversação, e de sua relação de valor com a própria experiência. 
 	Acreditamos que a descontração atenciosa, e com ela o pensamento inventivo ou criativo, sempre nos possibilitam o diálogo com o sentido lógico que as nossas percepções nos permitem obter das intenções dos outros capoeiristas no ato do jogo. Além disso, permitem-nos ao visualisarmos os movimentos coporais do outro capoeirista, os quais visuamente aguçam em nós mais sentido nas circunstancias, onde vemos que desde a leitura que fazemos num olhar, num frasimento facial ou em gestos corporais mais bruscos, passamos a penetrar, digamos assim, o entendimento dos modos de ser do outro, e como combinar tais modos às nossas experriências e possibilidades dentro da conversação do jogo. 
 	Gostariamos de salientar ainda nesse terreno das percepções lógicas práticas no jogo da capoeira, que podemos enveredar por dois tipos de percepção lógica dos momentos, a saber: A) o primeira captamos um tipo de lógica intencional mais sistematizada, onde uma ideia de realizar determinado comportamento pelo outro capoeirista, não se resume apenas num ataque ou numa defesa ou ainda numa pequena circunstancia, mas pretende-se uma “coisa maior”, seja em relação ao jofo em si mesmo, ou em relação ao outro capoeirista com quem se joga. B) Em segundo caso, temos certas percepções lógicas dos movimentos do outro capoeirista no ato da conversação do jogo, como percepções lógicas que, embora suas peças apresentem uma cadeia de valores entre si, poderá este tipo de lógica mostrar-se como um tipo de lógica circunstancial. Ou seja, por alguma razão o outro capoeirista com quem estamos jogando intenciona algo como ataque ou seja lá o que for, e ao nosso turno, percebemos intuitivamente ou visualmente, ou ainda pela relação existente entre as intuições que captamos sobre certas intenções dos capoeiristas, e sua relação para com as expressões corporais detes, as quais nos põe a raciocinar, a interpretar e interagir, conforme nossa leitura mental e corporal. Tanto no primeiro caso quanto no segundo, nos ultilizamos de nosso conhecimento empírico, isto é, do que provêm de nossa experiência, das visualisações que realizamos e do sentido lógico destas, assim como de conhecimentos a priori, ou seja, daqueles que cumprem praticamente uma ordem intuitiva de valores ou saberes, tal como se fossem uma lógica pura encontrada na Matemática. 
 	As percepções visuais são de fundamental importancia no jogo da capoeira, pois podem nos auxiliar a compreender com mais clareza o que as intuições captadas no ato da conversação do jogo querem nos dizer, já que as percepções visuais, poderiam ser, não somente uma extesão da intuição, como um campo de relação direta para com a nossa experiência pregressa. Além de facilitar a busca de sentido lógico entre o que está sendo posto pelo outro capoeirista e como iremos adaptar isso à nossa experiência capoeiristica. Quando digo adaptar o que percebemos visualmente à nossa experiência, quero dizer como iremos fazer para ligar a lógica da percepção visual que vivenciamos num exato momento, às noções de mundo que estão em nossa memôria profunda ou subconsciência, e buscar ai com o auxílio da consciência ativa e dinâmica, determinadas soluções.
	As ações do capoeirista assim, poderiam passar a ser entendidas como um misto de saberes intuitivos e de sua experiência visual atual, assim como de sua experiência anterior, pois intuição, vivência do que vemos, sentimos e julgamos, ao lado de experiência adquerida, formam uma cadeia poderosa no campo do pensar e do agir dentro das complexidades da conversação do jogo da capoeira. 
 	Percepção lógica dos movimentos na conversação do jogo da capoeira aqui, não deve significar, mesmo com tudo que dissemos, segurança absoluta no sentido de que ao nos ultilizarmos de lógica no jogo, ou termos intuições lógicas relacionada com nossa experiência, ou ainda se somos atenciosos visualmente quanto aos movimentos do outro e os nossos, que nunca iremos errar ou falhar, mas deve ser entendido como a possibilidade de observarmos ou lermos com maior clareza as situações que vivenciamos na roda e no jogo da capoeira. Seria ainda como poderiamos conversar mentale corporalmente em clima de integração total com o nosso ser consciênte, inconsciênte e com as nossas capacidades super-consciêntes, que se assemelham à noções superiores sobre o por-vir. Com isto, não queremos dizer que o capoeirista irá ser um profeta das própias situações no jogo, pois essa penetração super-consciênte nas situções do jogo (ou for a dele) ou nos modos de ser do outro capoeirista que muitos capoeiristas podem realizar na roda e no jogo da capoeira, não é propriedade de qualquer religião, mas capacidade da alma humana. De maneira que falamos mais em como nos adaptar com sentido às situações da roda e do jogo, cmo perceber o que tal jesto simbolisa quando um capoeirista se agita emocionalmente, ou ainda qual atitude coerênte e rápida a ser tomada em determinada circunstancia. 
 	Portanto, se ultilizarmos de nossas percepções intuitivas ou visuais num contexto lógico e adequado à nossa experiência do jogo, poderemos ter menos problemas, mais vantagens e probabilidade de interação e fluidez na conversação do jogo. Restar-nos-á, assim, caminhar atentamente e acreditar nas experiências como mestras do aprendizado, pois, “[e]xperiências repetidas nos fazem sentir, refletir, e questionar. Ninguém neste mundo consegue crescer ou evoluir sem errar; e nossos desacertos acabam nos ensinando a interpretar melhor todas as coisas” (Hammed 2001:174-175), pois serão as várias e diversificadas maneiras que o capoeirista se ultiliza para absorver, interpretar e e experiênciar dentro da roda de capoeira e da vida, assim como dentro do jogo as situações boas ou não, que irão garantir-lhes um dia a sapiência como refinação da experiência. 
3 Fundamentação e estrutura dos princípios da interativa conversação do jogo da capoeira, e sua relevância pelo vies do cooperativimo.
 	Quando falamos sobre conversação no jogo da capoeira, nos parece bem óbvio diante do que já dissemos até aqui, que tratamos sobre o campo de ação prático da mesma no que diz respeito a pensarmos e a agirmos quase que simultaneamente impondo sentido e função na mesma. E, apesar de termos aprendido, cada um com o seu estilo e do seu modo o que vem a ser essa conversação no jogo da capoeira, tanto a nível prático quanto a nível teórico, supomos ser necessário para o que desejamos apresentar neste estudo, que nos expliquemos melhor com algumas falas, as quais serão facilitadas por uma teoria do filósofo britânico Paul Grice, o qual elegemos para nos auxiliar neste mister. Mas, se perceberá também os nossos pontos de vista como base essencial das ideias deste estudo.
 	
 	Paul Grice a quem nos sentimos atraidos pelas suas ideias, escreveu em Lógica e Conversação (1975) o que ele chama de Princípio Cooperativo, visando descrever alguns princípios gerais da natureza da conversação. Tais princípios encontram-se na feição de máximas e submáximas, onde vemos que as mesmas se adequam ao Princípio Cooperativo, que é fundamentado em: quantidade, qualidade, relação e maneira. 
	 Na chamada máxima de quantidade, Grice diz: fazer a sua contribuição tão informativa quanto é necessário, mas não mais, ou menos, do que o necessário.
 	Na máxima de qualidade, vemos: Não diga o que você acredita ser falso ou para o qual você não tem provas suficientes.
 	Na máxima de relação: Seja relevante.
 	Na máxima sobre maneira: Ser claro, breve e ordenado.
 	
	Pensamos ser importante indagarmos aqui, qual a relação mais clara e necessária desses princípios que Grice propõe como fundamentos para a conversação, em relação à conversação do jogo da capoeira, ou pelo menos com o que o capoeirista conjectura sobre as ideias de base para o jogo.
 	Ora, se bem nos lembramos o que foi dito nos subtemas no primeiro capítulo, iremos perceber que, se a coerência pode ser entendido como algo que se destina a um tipo de organização das partes de um todo, onde tudo deve se encaixar bem, e que também coerência é algo de pertinência da pessoa e não da estrutura das palavras (2010:144), poderemos tentar conceber isso na conversação do jogo da capoeira, mais ou menos como se seguirá nos intens abaixo. 
 	A) Cada capoeirista deve “fazer a sua contribuição” parecer coerênte para que a conversação do jogo da capoeira aconteça, ou para que flua “tão informativa quanto é necessário”. Pois, se a contribuição de cada capoeirista envolvido no jogo não oferecer um mínimo de sentido lógico nos gestos ou nos movimentos que devem formular e apresentar certa combinação lógica entre sí, poderá surgir assim, uma quantidade inrelevante de ações mentais, primeiramente, e depois físicas para que o jogo. Portanto, cada capoeirista e os dois em sintonia, devem precaver-se para não se excederem na quantidade de elaborações mentais quanto ao campo lógico ou no que diz respeito as de natureza corporal. É oportuno, pois, que encontrem uma medida; “não mais” e nem “menos, do que o necessário” (ibid). Em assim procedendo, sobretudo aqueles que principiam na arte do entendimento sobre como a conversação do jogo da capoeira deve se desenrolar, poderão evitar muitos dessabores, ganhar experiência com mais objetividade, e supor, desde seus primeiros intentos no aprendizado do jogo, que deve haver uma balança quanto ao que queremos, devemos e precisamos realizar na conversação do jogo da capoeira. 
 	B) Nesse ponto, convidamos aos capoeiristas para meditarmos sobre a qualidade do que pretendemos propor como questão importante ou mesmo aquela memos fundamental, de acordo com a nossa pespectiva para a conversação do jogo da capoeira. Supomos mesmo que temos que ser caltelosos quanto ao que desejamos “dizer” na conversação corporal do jogo, a qual como vimos em trabalho anterior (Mecanismos da Comunicação Mental e Corporal na Capoeira), é precedida pela lógica da conversação psicológico-intencional que o capoeirista formula em princípio. Sugerimos, pois, em Grice, que [n]ão diga o que você acredita ser falso”, entendido aqui não como movimentos ou situações falsas em si mesmos, mas como aquele tipo de proposta para a conversação no jogo, na qual não temos confiança de suas realidades práticas. E se não tivermos suficiente experiência factual em relação a qualidade do que desejam ou queremos propor para o campo de ação prática na conversação do jogo, deve o capoeirista ou mesmo os dois serem honestos consigo mesmos. Pois se se pretende afirmar algo “para o qual você não tem provas suficientes”, ou não tem certeza ou mesmo se encontra confuso para responder a altura do que deve afirmar na conversação do jogo, além de poder incorrer em desencontros na ordem da conversação do jogo quanto a ideias e a momentos importantes, poderá levar situações importantes a se dejenerarem.
	C) Seja relevante na recomendação de Grice, observado na máxima atinente á relação, condiz com uma série de cuidados que apontam a chance para mim de ser ultil para o outro tanto quanto eu preciso que a minha ultilidade nele faça efeito a meu favor, e assim, possa retornar para mim na feição de ‘um bom negócio’ na conversação do jogo da capoeira. Pois quando sou relevante no campo de ação mental e corporal no jogo da capoeira, quando percebo que a conversação do jogo está indo para outro caminho ou quando me dou conta que tanto pela lógico intuitiva, quanto pela minha experiência em parceria com o julgamento visual dos movimentos devo proceder diferentemente, passo a ser, pela minha relevante posição e atenção, sentido lógico e ação, uma das peças fundamentais do desenrolar do jogo da capoeira. Isso nos parece, e supomos que muitos capoeiristas possam concordar conosco, que a conversação do jogo da capoeira passa a ser, assim, uma atividade dinâmica onde se porfia não somente um tipo de transação de valores sócio-culturais e esportivos, mas há, se assim podemos dizer, uma permuta dos modos de ser e do carácteres dos capoeiristas no tabuleiro da roda no momento da conversação do jogo. Permuta esta que deve ser baseada em precalções buscadas tanto nas funções intuitivas do capoeirista, quanto na sua vivência visual em combinação com sua experiênciapregressa. 
 	A relevância das ações do capoeirista, pois, no ato da conversação do jogo da capoeira, deveria ser aquela na qual se percebe as necessidades imediatas e as tenta solucionar, ainda que forças outras nos impurem para certos desconcertos na conversação. Não se contrair, não se destrair e não se afligir, buscando a descontração, a atenção perceptiva sobre os sentimentos e emoções do outro, e por fim, levar “na esportiva” mesma as situações que nos queiram incurralar, podem ser caminhos importantes quanto a sermos relevântes conosco mesmo e para com a roda. 
 	D) Quanto à máxima intitulada maneira, Grice nos recomenda sermos “claro, breve e ordenado”. O que devemos informar em princípio neste ponto sobre a conversação no jogo da capoeira, é que a palavra maneira quando ultilizada no contexto de ordem ou diciplina de carater, pode ser entendida também como conduta ou comportamento adequado para algum fim. Nesse caso, em tentando sermos claro, breves e ordenados quanto à conversação do jogo da capoeira, é como se tivéssemos que operar com claresa quando propomos nossa “fala” mental e corporal através de gestos, fintas de ataques ou de contra-ataques, ou ainda para um convite com mais cumplicidade quanto a um determinado entrosamento mais cadenciado. Nesse campo de ação importante, vemos que ser claro, também pode significar, e na maioria das vezes é necessário, que queiramos apresentar movimentos facilitadores do desenrolar do jogo, se deverão ser ou não exatamente o que o capoeirista deve aguarda, isso repousa noutra questão. Ser breve, poderiamos pensar em não somente evitarmos realizar longas sequências combinadas dentro de um jogo onde exige mais lógica e ação circunstancial, do que sequenciamente mecânico de movimentos. Também, o ser breve aqui, entendemos para o ato da conversação do jogo da capoeira, como o ato de evitar realizar movimentos desnecessários, sobretudo se requer mais energia e põe-nos por alguma razão, a posições de desatenção visual sobre o outro capoeirista, que em muitos casos se posta tal como um crocodilo aguardando um momento de desatenção da presa para pegá-la.
 	Ao nos reportarmos a Yule, professor de Linguística citado algumas vezes neste estudo, e nos lembrarmos que ele afirmou que não “[sã]o as pessoas que ‘fazem sentido’ – ou percebem o sentido – do que lêem e ouvem” (2010:144), iremos perceber que a minha clareza, brevidade e ordenação com precisão, deve incluir, necessáriamente, sentido ao que traçamos como conexão para a conversação no jogo da capoeira. Além disso não podemos nos esquecer de perceber com certa atenção e precisão qual a relação existe entre a intenção do outro capoeirista, os sinais que ele emite e o que seria a possibilidade real de sua ação física no jogo. Caso não possamos ser claro com o que pretendemos para a conversação do jogo da capoeira, e o outro seja obscuro, o que nascerá de uma tal conversação?
4 A arte da adulação na conversação do jogo da capoeira e os modos de ser do capoeirista.
 	A conversação do jogo da capoeira e suas maneiras quanto ao cooperativismo, poderia ser comparada incialmente como uma metáfora, onde desta deveria aquele que pretende entender o ato da conversação, extrair as realidades dos símbolos. Dizemos metáfora por que o jogo da capoeira e seu campo de ação lógico-esquemático, compreende um mundo de sinais e símbolos, que ora se completam, ora se bifurcam, confundindo mesmo os mais experientes. E a palavra “vacilo” aqui não tem nenhum sinônimo de grandesa quanto ao capoeirista que ficou, aparentimente com a vantage, assim como não diz resepeito ao que vacilou ser inferior. Porquanto vemos o chamado vacilo no campo de ação prático entre os capoeiristas, como sendo as formas da vivência e ao mesmo tempo como as marcas da experiência, noções que nos encorajam a pensar que um “vacilo” ou ser pego pelo outro, deve presenter mais uma ocasião circunstancial, nascida muitas vezes da oportunidade, do que da grandesa de um, e naturalmente da pequenez do outro. Olhar para um monte nos dar certa noção do alto, olhar para um lugar plano nos oferece outra visão; um buraco quer “dizer” algo, um escorego outra coisa, a treva a ausência da luz e a luz a ausência da treva, e assim por diante. É necessário a experiência do frio e do calor para que se fomente a distinção entre um e outro. 
 	
 	É justamente o pensar e o realizar de um certo modo o que pensamos no campo de ação prático no jogo da capoeira, considerando a “boa” e a "má" experiência, que nos possibuilitam as grandes lições.
 	
 	A conversação do jogo da capoeira, portanto, como dissemos, necessita de cooperação, e mesmo que seja uma cooperação sutil e muito cuidadosa para o capoeirista não “pisar enfalço”, ela deve existir entre os dois que estão no jogo. Porém, nas arte-manhas do jogo da capoeira, aquele que sente-se grande com pelo ego; que deixa-se ser adulado e exaltado num tipo de grandesa artificial ou ilusória, cai na maioria das vezes nas malhas da sedução, ou encontra-se propenso a ser “pego de emboscada” com mais facilidade. O ego para o capoeirista, neste como em muitos outros pontos, pode ser ao mesmo tempo motivo de exaltação e ao mesmo tempo de queda moral e física propriamente dita.
 	
 	Isto que dissemos acima sobre a exaltação do ego, da adulação ou a sedução, que também pode ser entendido como um modo pelo qual um capoeirista se ultiliza para "agradar" o outro, envolvendo-o num clima de exaltação através de um simples sorriso, ou por um gesto de “subserviência” enganadora no jogo, ou ainda por conta do capoeirista se fazer que não se importa com alguma irritação que o outro pretendeu fazer, ou se demostrar que se preocupou “d+”. Essas artmanhas por parte de um capoeirista sobre outro são sucetíveis de ocorrer, não porque alguns capoeiristas são bruxos, mais acontecem por que as nascentes da exaltação da posição de ego ou do senso de grandesa exitem qual plantas trepadeiras dentro de nós. Ou seja, as raizes daquilo que nos seduz, nos adula, encontram-se dentro de nossa própria intimidade, que se deixa ou aceita ser “agradado” pela adulação. 
	Nessa sentido, vemos muitos capoeiristas se acharem importantes “d+”, esquecendo-se que “[a] vaidde é a ostentação dos que procuram lisonjas, ou a ilusão dos que querem ter êxito diante do mundo, e não dentro se mesmos” (Hammed 2007:33). 	
 	
 	A compreensão destas ideias podem ser imaginadas com mais vivacidade numa belíssima fábula de La Fontaine, o qual admiramos pelos seus modo de pensar. Nesta criativa fábula (O corvo e a raposa), La Fontaine nos mostra uma “conversação” entre uma rapousa e um corvo, onde a rapousa “acaricía” o "ego" do corvo, adulando-o através de seduções perigosas. De modo que o corvo caiu na "arapuca" ou cilada da raposa, assim como acontece com alguns capoeiristas que se deixam ser seduzidos, ora pelas artmanhas dos outros e pela sua autoconfiaça exagerada.
 	O corvo e a rapousa
 	
 	No alto de uma arvore, um corvo segurava no bico um pedaco de carne.
 	Uma raposa, atraida pelo cheiro, aproxima-se e lhe dirige a palavra:
 	- Ei! Bom dia, senhor corvo! Como o senhor está lindo! Como é bela a sua plumagem! Se o seu canto for tão bonito quanto ela, sinseramente, o senhor é a fênix dos convidados destas florestas.
 	E para mostrar sua "melodiosa" voz, ele abre o grande bico e deixa cair a presa.
 	A raposa se apodera da carne e diz ao corvo:
 	- Meu bom senhor, aprenda que todo adulador vive à custa de quem o escuta.
 	Esta lição vale, sem dúvida, pela carne que agora comerei.
 	O corvo, envergonhado e aborrecido, jurou, embora um pouco tarde, que nunca mais se deixaria levar por elogíos.
 	
 	Quem dentre nós no mundo da capoeira nunca nos sentimos seduzidos ou adulados por outro capoeirista, mesmo que apenas um pouco nalgum sentimento intimo? Se não tivessemos nenhuma tipo de sentimento de orgulho, quem sabe a adulação não penetraria nossa intimidade, arrancando de lá, certas fraquesas. Mas como estamos longe da perfeição absoluta, o outro só nos corompe por que temos as “trilhas”da corrupção dentro de nós mesmos. De modo que muitos capoeiristas na roda e no jogo se sentem, muitas vezes, linsojeados ou exaltados no seu ego.
 	
 	Vemos essas estrategias na arte da conversação do jogo da capoeira acontecerem no cotidiano, e tudo nos indica que no clima da vadiação, dos vais-e-vens do jogo, muitos capoeiristas “perdem” nalguns casos, não o fil do desenvolvimento da conversação no jogo, mas o sentido lógico que nos diz sobre o que está sendo pretendido além daquilo que é posto. Invigilância moral, desatenção lógica da conversação do jogo podem representar muita coisa para o capoeirista no ato da conversação do jogo.
5 O pensamento inventivo para criar emboscadas como para fugir de situações complexas no jogo da capoeira, é conversar mental e corporalmente com arte.
 
 	Muitos capoeiristas se veem encuralados logo às primeiras situações não muito favoráveis para eles; uns desistem do jogo se este se encontra difício, outros perdem o fil da miada da interação, e logo se desanimam. Há mesmo aqueles que ficam chateados com facilidade, e por coisas inrelevântes, como se fossem um porcela rara que não gostasse de ser tocada, isso se a porcelana tivesse sentimento de escolha. Chegamos mesmo a pensar, nalguns casos, que muitos capoeiristas são tão influenciáveis pelas suas próprias impaciências e pelas estrategias de outros capoeiristas que gostam de confundir, que tornam-se sem o perceberem, marionetados pelas vontades e atitudes dos outros capoeiristas que querem nalguns casos não somente tirar a atenção daquele com quem jogo, mas conduzir o outro capoeirista para caminhos que lhe serão favoráveis.
 	
 	No entanto, como a capoeira é invenção, e ao mesmo tempo imaginação interativa no tabuleiro da roda no momento da conversação com o outro capoeirista, se faz necessário que inventemos um caminho, mesmo que tudo pareça complicado e impossível. Isto é, se acreditamos num determinado tipo de jogo, se temos segurança no mesmo e nos seus caminhos, continuemos nesses caminhos, pois quem sabe sair dele não seria em boa medida, buscar adaptar-se com o outro ou ao próprio jogo, mas ir para o caminho que o outro capoeirista justamente deseja, e aí poderia morar o perigo. É certo, porém, que temos que criar situações, imaginar saidas onde as vezes pensa-se não existir escapatória, sobretudo quando o outro capoeirista é muito sagaz e experiênte. Contudo, pode-se dizer: não nos entreguemos ao que o outro capoeirista quer, sobretudo se ele quer uma situação ou caminho que não nos é favorável, e nossos sentidos intimos nos indicam por um tipo de consciência interna que se conecta com a atmosfera que envolve a mim e o outro, que há no querer do outro capoeirista um tipo de estranhesa para mim. Se temos, pois, a impressão intuitiva que as intenções de algum capoeirista nestas circunstancias está errado, mesmo que o sentimento seja muito passageiro, isso já traz uma dúvida em si mesmo quanto ao que o outro capoeirista está querendo como coisa boa para mim e ele ou para o jogo em si mesmo. Respeitar os sentidos intimos nesses momentos complexos, muitas vezes é mais vantajoso do que preocupar-se com as formas corporais que nos auxiliam, obviamente, a ler o comportamento, mas que nem sempre, e na maioria das vezes no jogo da capoeira nos indicam o caminho sobre a real intenção do outro capoeirista. E, ainda que as circunstancias sejam desfavoráveis para nós, voltamos a dizer: não nos entreguemos e nem pensemos esteja tudo perdido; perceber o perigo antes, recuar dele, fugir astutamente, não significa medo ou covardia. Quantos lutadores na China Antiga ou no Japão ou mesmo na Europa Medieval foram desafiados, e mesmo que não quesessem lutar, lutavam por questão de honra ou para não serem apelidados de covardes? Mas qual o trofél ganharam perante a própria consciência moral? Assim, pensamos que covardia não é recuar a uma luta, mas sim, ir lutar por vergonha de dizer para si mesmo e para quem sucita tal luta que não há necessidade de ir para um determinado combate, assim como honra, supomos não dizer respeito agir de acordo com à pressão social que na maioria das vezes nos ensina que ao primeiro golpe verbal à nossa personalidade, temos que fazer juz a um nome de falsa honradez. Há mais honra e mérito em poder vencer-se a si mesmo, ou melhor, driblar corajosamente o próprio ódio ou o oporunismo para fazer o mal, do que enfrentar o outro, que só nos ataca verbalmente e moralmente de verdade, quando desejamos revidar na mesma medida o mal que ele deseja para nós. 
 	
 	Portanto, acreditar que convidar um capoeirista que está com a vantagem sobre nós nalgum ponto da conversação para uma volta ao mundo (convidar o capoeirista para uma pausa no jogo e caminhar circulando dentro da roda, e depois recomeçar o jogo), pode ser um meio pelo qual dessa circunstancia possamos extrair novas ideias e mesmo vantagens. Além de evitarmos gastar energia ou mesmo travar asquerosamente um confront desnecessário no jogo; tudo é válido quando vemos um caminho positive que destrai um mal maior no jogo da vida e da capoeira.
 	
 	Paulo Coelho num livreto intitulado Bosque de Cedro, conta:
 	“Um velho rei da ĺndia condenou um homem à forca. Assim que terminou o julgamento, o condenado pediu:
 	- Vossa Majestade é um homem sábio, e curioso com tudo que os súditos conseguem fazer. Respeita os gurus, os sábios, os encantadores de serpentes, os faquires. Pois bem: quando eu era criança, meu avô me transmitiu a técnica de fazer um cavalo branco voar. Não existe mais ninguém neste reino que saiba isto, de modo que minha vida deve ser poupada. 
 	O rei imediatamente mandou trazer um cavalo branco.
 	- Preciso ficar dois anos com este animal, disse o condenado.
 	- Você terá mais dois anos – respondeu o rei, a essa altura meio desconfiado. Mas, se este cavalo não aprender a voar, você será inforcado.
 	O homem saiu dali com o cavalo, feliz da vida. Ao chegar em casa, encontrou toda a sua família em prantos. 
 	- Você está louco? – gritavam todos. Desde quando alguém desta casa sabe como fazer um cavalo voar?
 	- Não se preocupem, prorque a preocupação nunca ajudou ninguém a resolver seus problemas – respondeu ele. E eu não tenho nada a perder, sera que vocês não entendem? Primeiro, alguém nunca tentou ensinar um cavalo a voar, e pode ser que ele aprenda. Segundo, o rei está muito velho, e pode morrer nestes dois anos. Terceiro, o animal também pode morrer, e eu consiguirei mais dois anos para treinar um novo cavalo. Isso sem contar a possibilidade de revoluções, golpes de estado, anistias gerais.
	- Finalmente, se tudo continuar como está, eu ganhei dois anos de vida, quando poderei fazer tudo que tenho vontade. Vocês acham pouco?” (Coelho 1999:44). 
	
 	No campo de ação do jogo da capoeira, imaginar, supor e mover atenção caltelosa, acreditanto que os ultimos segundos ou minutos devem ser bem aproveitados, pode significar grande coisa, mesmo que esta não esteja evidente. 
Referências
COLLINS, Cobuild Advanced Learnr’s English Dictionary 2006. HarperCollins Publishers, Glasgow, Scotland.
CONCISA Routledge Enciclopedia of Philosophy 2000. Routledge, London UK.
CIPRO Neto, Pasquale 2007. Português Passo a Passo (volume 1). Baruiri, SP: Gold Editora.
GRICE, H.P 1975. Lógic and Conversation. Licenced for University College London in 2004.
DICIONÁRIO da Língua Portuguesa 2006. Porto Editora, Porto-Porgual.
HAMMED, 2001. A Imensidão dos Sentidos. Editora Boa Nova, Cantamduva, SP.
HAMMED, 2007. La Fontaine e o Comportamento Humano. Editora Boa Nova, Cantamduva, SPL.
HAYES, Nickky 2003. Psychology, Teach Yourself, Comtemporary Books, UK.
LAO-TSE, 1981. Tao Te Ching, Martin Claret (19ª edição). Sumaré, SP.
PRATICANDO Capoeira Especial ANO 1, n◦ 02. Pastinha, Uma Vida Pela Capoeira. Editora D+T, Cambuci, SP.
REVISTA Capoeira, ANO II, N◦ 6. Editora Candeia Ltda.
SOUSA, Manoel L de. (M. Chitãozinho) 2014. Mecanismos da Comunicação Mental e Corporal na Capoeira. Cambridge Publish, UK.
SOUSA, Manoel L. de (M. Chitãozinho) 2013. Por Uma

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