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ProfessorAutor-fazendohistoriatrocandofigurinhas-Livro1-Ed 2020

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PROJETO PROFESSOR AUTOR
Chapter · October 2020
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5 authors, including:
Arimate Alves Noronha
Universidade Estadual do Ceará
4 PUBLICATIONS   12 CITATIONS   
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PROJETO
PROFESSOR AUTOR
Fazendo História... Trocando Figurinhas
EDIÇÃO 2020
Fortaleza - Ceará
2020
FICHA TÉCNICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
F736p Fortaleza. Secretaria Municipal da Educação.
 Projeto professor autor: fazendo história... trocando figurinhas 
 [recurso eletrônico] / Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza. 
 – Fortaleza: Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2020.
E-book: il.
E-book, no formato ePub, convertido do livro impresso.
ISBN: 978-65-88819-00-5 
 1. Protagonismo docente. 2. Boas práticas. 3. Socialização. Título.
CDD 370 
Prefeito Municipal de Fortaleza
Roberto Claudio Rodrigues Bezerra
Secretária Municipal da Educação de Fortaleza 
Antonia Dalila Saldanha de Freitas
Secretário Adjunto 
Jefferson de Queiroz Maia
Secretário Executivo 
Joaquim Aristides de Oliveira
Coordenação 
Lindalva Pereira Carmo
Marisa Botão de Aquino
Projeto Gráfico
Júlio Pio
Supervisão Editorial e Revisão
Maria Celça Ferreira dos Santos
Diagramação e Capa
Gerson Porto
APRESENTAÇÃO
O “Projeto Professor Autor... Fazendo história, trocando figurinhas” 
é uma das ações inovadoras da Prefeitura Municipal de Fortaleza/
Secretaria Municipal da Educação, integrante da política de valorização 
dos profissionais do Magistério, prioridade na gestão do prefeito Roberto 
Claudio. 
Em sua primeira edição, o Projeto selecionou 30 trabalhos, que 
compuseram um livro, publicado em 2018; na edição seguinte, 2019, foram 
publicados 62 trabalhos, divididos em dois livros (volumes 1 e 2); para esta 
edição foram selecionados 67 trabalhos, que também compõem dois livros 
(volumes 1 e 2). As referidas edições são compostas por uma coletânea de 
relatos de experiências, contemplando diversas áreas, uma vez que reúne 
trabalhos de professores de diferentes disciplinas e etapas da educação 
básica, cada um com propostas inovadoras que podem, certamente, 
inspirar novas práticas. 
Vê-se, na continuidade do Projeto, que o objetivo de dar visibilidade 
ao trabalho realizado em sala de aula pelos profissionais da Rede Municipal 
de Ensino de Fortaleza vem sendo satisfatoriamente alcançado. A cada ano 
constata-se maior adesão dos professores, além da ampliação das temáticas 
nas propostas didático-pedagógicas desenvolvidas. 
O fazer docente evidenciado nos relatos que compõem esta obra 
revelam o compromisso dos nossos profissionais em buscar alternativas 
para melhorar a aprendizagem dos nossos alunos, o que comprova que a 
Rede tem excelentes professores, cuja formação inicial, avaliada com os 
melhores conceitos, consolida-se na prática de sala de aula, fomentada pela 
atual gestão, que tem se empenhado em oferecer formação continuada 
embasada no que se espera pedagogicamente para os tempos atuais.
Inserido nesse contexto de reconhecimento aos profissionais 
docentes, o Projeto Professor Autor fomenta não somente a pesquisa e a 
produção escrita, mas, principalmente, a publicação, vislumbrando na 
socialização de boas práticas maior protagonismo docente, fomentando a 
constituição da identidade do professor como autor de sua própria história.
Antonia Dalila Saldanha de Freitas
Secretária Municipal da Educação
SUMÁRIO
PROJETO FUNDO DO MAR: UM OCEANO DE AVENTURAS ................. 08
“DRUGSTER”: FERRAMENTA LÚDICA PREVENTIVA E EDUCACIONAL 
NO ENSINO DE CIÊNCIAS .................................................................................. 13
AFROZINE: UMA PROPOSTA COM PROJETOS DE LETRAMENTO A 
PARTIR DA PERSPECTIVA AFRODESCENDENTE ...................................... 17
DESCONSTRUINDO O MACHISMO NOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS: 
UMA PRÁTICA DE LETRAMENTO CRÍTICO MULTIMODAL EM 
PRODUÇÕES TEXTUAIS ..................................................................................... 25
LIAN GONG: UMA PRÁTICA POSSÍVEL NA EDUCAÇÃO FÍSICA 
ESCOLAR ................................................................................................................ 30
“MEU PRIMEIRO LIVRO”: DA ESCRITA À ILUSTRAÇÃO - AS PRÁTICAS 
INTERDISCIPLINARES NA PRODUÇÃO DE TEXTOS MULTIMODAIS ... 37
TEM QUE SER DIVERTIDA: O CURIOSO OLHAR PARA AS 
PROFISSÕES ......................................................................................................... 43
GEOMETRIA NA “PRÁXIS”: CONSTRUIR E REFLETIR POR MEIO DE 
MATERIAIS CONCRETOS .................................................................................. 50
LER E TEATRALIZAR EM SALA DE AULA ATRAVÉS DA LEITURA 
PRAZEROSA DE AUTOBIOGRAFIA DA MARIA DA PENHA ................... 54
VERDADE OU MITO? A MITOLOGIA GREGA COMO ELO DE 
IDENTIDADE CULTURAL NA SALA DE AULA: UMA APROXIMAÇÃO 
ENTRE HISTÓRIA E LÍNGUA PORTUGUESA ................................................ 59
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROFLETRAS EM ESCOLA 
MUNICIPAL DE FORTALEZA: O USO DOS PROVÉRBIOS NO 
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA DISCURSIVA .......................... 66
DO LÚDICO AO LÓGICO: A CIÊNCIA ATRAVÉS DO TEATRO ................. 72
ÁGUA, PRA QUE TE QUERO? ........................................................................... 77
ÊBA, VAMOS PINTAR! ........................................................................................ 84
O SOLDADINHO DE CHUMBO – UM PERCURSO DE 
ENCANTAMENTO ................................................................................................ 89
PRÁTICAS DE LETRAMENTO LITERÁRIO POR MEIO DA OBRA “O 
GRALHA, MENINO DE RUA” EM UMA TURMA DE 7º ANO ..................... 95
DESENVOLVIMENTO ESTÉTICO: TRABALHANDO A ARTE ATRAVÉS DE 
DESCARTES GADELHA NUMA TURMA DO INFANTIL V NOCENTRO DE 
EDUCAÇÃO INFANTIL CEI PARQUE SÃO MIGUEL ................................... 104
FUNK ESCOLA: O RITMO DE NOVAS PRÁTICAS DA LEITURA E DA 
ESCRITA .................................................................................................................. 110
“A LAGARTA DORME NO MILHO?” A VALORIZAÇÃO DAS CRIANÇAS
E DE SEUS INTERESSES NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................. 117
DE SOMBRA E LUZ: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS COM TEATRO
DE SOMBRAS NA ESCOLA MUNICIPAL GUSTAVO BARROSO .............. 124
PROJETO VIDA SAUDÁVEL NA ESCOLA TAMBÉM SE APRENDE: 
CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA ALFABETIZADORA ...................................... 129
“VEM VER A LUZ!” DA ESCUTA DOS BEBÊS À ORGANIZAÇÃO DE 
CONTEXTOS EDUCATIVOS DEMOCRÁTICOS PARA A COCONSTRUÇÃO 
DAS APRENDIZAGENS ...................................................................................... 134
AMIGO ARIANO, “SÓ SEI QUE FOI ASSIM!” ................................................ 141
O QUE É MUSEU?: UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA COM E PELAS 
CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA ............................................................................ 146
A INFLUÊNCIA DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO ENSINO
DE FUNÇÕES ......................................................................................................... 153
LER E SONHAR É SÓ COMEÇAR – UM NOVO OLHAR SOBRE A LEITURA 
E A ESCRITA .......................................................................................................... 157
PRODUÇÃO DE BIOFERTILIZANTES COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA NO 
ENSINO DE CIÊNCIAS E GEOGRAFIA ............................................................ 163
A SEQUÊNCIA FEDATHI E AS SESSÕES DIDÁTICAS COMO 
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS NO ENSINO DA MATEMÁTICA NAS 
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ........................................... 169
MEU DIÁRIO: UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA E ESCRITA ................... 176
COMPOSTAGEM DO LIXO ORGÂNICO EM UMA ESCOLA MUNICIPAL
DE FORTALEZA .................................................................................................... 181
PRODUÇÃO DE TEXTO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: 
DESENVOLVENDO A COMPETÊNCIA ESCRITA POR MEIO DE 
SEQUÊNCIA DIDÁTICA ...................................................................................... 189
UMA PALAVRA PUXA OUTRAS: PRODUÇÃO DE ACRÓSTICOS NO 6º 
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................. 196
8
PROJETO FUNDO DO MAR: UM OCEANO DE AVENTURAS
Albaneza Melo e ALMEIDA1
Se a incompreensão do presente nasce fatalmente da 
ignorância do passado, não é menos verdade que é preciso 
compreender o passado através do presente
(Cantiga popular) 
INTRODUÇÃO
Diante da necessidade de responder aos interesses de algumas 
crianças do CEI Madre Teresa de Calcutá (Distrito de Educação IV) sobre 
animais marinhos e suas especificidades, nasceu o Projeto Fundo do mar. 
Desenvolvido entre os meses de agosto a novembro de 2018, nos infantis II 
A e III A, essa experiência contou com a colaboração e o envolvimento da 
professora, assistente educacional, crianças e seus familiares. 
A ideia do Projeto surgiu a partir de roda de conversa realizada 
com as crianças do infantil III quando, ao serem questionadas sobre o 
que fizeram no final de semana, apresentaram interessantes relatos. Um 
desses nos chamou bastante a atenção... “Tia, eu fui pra praia!”; “Foi mesmo, 
Diego? E o que você viu lá?”, “Vi tubarão, peixinho e um jacaré...”. 
Em decorrência desse diálogo outras crianças comentaram 
que também tinham ido à praia, ampliando a discussão acerca da vida 
marinha. “O tubarão tem um dente que faz assim... Nhack!”... “Ele morde?” 
“Sim! E tem um rabinho pra nadar!”. Observamos que grande parte das 
crianças manifestou curiosidade e interesse pela vida marinha. Desse 
modo, organizamos o projeto a fim de ampliar os saberes delas sobre o 
assunto, proporcionando condições que favorecessem a elaboração de 
conhecimentos sobre os diferentes animais que vivem no mar: suas 
características, especificidades e importância para o meio ambiente. Além 
da ampliação do conhecimento, as atividades do Projeto possibilitaram às 
crianças que se expressassem através de diferentes linguagens.
O Projeto Fundo do Mar teve como objetivo geral expandir o 
conhecimento das crianças sobre os animais marinhos. Dentre os objetivos 
específicos, destacamos: 1. Promover experiências lúdicas através de 
pinturas, desenhos, brincadeiras e elaborações de painéis que envolvessem 
a temática, facilitando, assim, as percepções das crianças e instigando a sua 
participação; 2. Orientar as crianças sobre a importância da preservação do 
meio ambiente, proporcionando a elas uma visão sustentável; 3. Ampliar a 
coordenação motora das crianças, principalmente a coordenação motora 
1 Pedagoga (UECE), Especialista em Educação Infantil e Alfabetização (FACPED).
9
fina; 4. Favorecer o protagonismo infantil, estimulando as crianças a 
desenvolverem suas habilidades. 
A seguir, relataremos um pouco do que foi vivenciado durante o 
desenvolvimento do Projeto.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Consideramos o projeto desenvolvido como um tipo de pesquisa 
participativa que se preocupou em respeitar e contemplar as especificidades 
relativas aos direitos e objetivos de aprendizagem das crianças dos infantis 
II A e III A, do CEI Madre Teresa de Calcutá. 
Para atingirmos os objetivos, exploramos todos os campos de 
experiências previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os 
incisos constantes no artigo 9° da Resolução 05/2007, dos quais destacamos 
o inciso VIII, que ressalta a importância do incentivo à curiosidade, 
exploração, encantamento, indagação e o conhecimento das crianças em 
relação à natureza.
Zabalza (1998, p. 51) diz que “É sobre a linguagem que vai sendo 
construído o pensamento e a capacidade de decodificar a realidade e a 
própria experiência, ou seja, a capacidade de aprender”. Pensando nisso 
e em estimular a curiosidade e a ampliação do conhecimento através 
das hipóteses das crianças, a primeira experiência proposta foi realizada 
no momento da roda de conversa. Trouxemos um aquário com peixes, 
cobrimo-lo e perguntamos: O que tem aqui? Será uma vaca? Um elefante?
Ao retirarmos o pano, as crianças ficaram encantadas. A partir 
desse momento realizamos diferentes indagações: Que animal é esse? 
Onde é a casa dele? Quem já viu um peixe antes? O que eles comem? Como 
se locomovem? Eles vão para a escola? Como é que o peixinho nasceu? 
Durante todo o desenvolvimento do Projeto, as crianças alimentavam o 
peixe e brincavam com ele. Ao encerrarmos o Projeto, o peixinho foi morar 
na casa de uma das crianças.
Pensando em possibilitar a construção do conhecimento através 
da exploração de material concreto, propusemos a segunda experiência. 
Trouxemos um peixe da espécie tilápia, adquirido em um mercantil. As 
crianças o manipularam à vontade, tocando-lhe no dente, nas escamas, 
nos olhos... Nesse momento destacaram a diferença entre a textura da 
pele humana (lisa) e a do peixe (escamosa). Ao final dessa experiência, as 
manipuladoras fizeram um caldo de peixe, o qual foi saboreado por todos.
A terceira atividade proposta contemplou com maior afinco 
as brincadeiras e interações em espaços externos à sala de referência. 
Decidimos transformar o tanque de areia da instituição em um ambiente 
10
que reportasse à praia. As crianças desfrutaram desse espaço, tomado banho 
com trajes praianos e brincando com objetos que trouxeram de casa. 
Na quarta atividade decidimos conversar com as crianças sobre 
a reprodução dos peixes. Uma professora2, que trabalha com exportação 
de peixes ornamentais, trouxe alevinos (filhotes de peixes) em sacos 
abastecidos com oxigênio para apresentá-los às crianças. A professora 
mostrou os alevinos, pondo-os na mão das crianças, e explicou o processo 
de reprodução dos peixes. Ao revisitarmos a filmagem que registrou esse 
momento, pudemos perceber o encantamento e a alegria das crianças. Foiuma experiência encantadora! 
OUTRAS EXPERIÊNCIAS REALIZADAS
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil 
– DCNEI (BRASIL, 2009) estabelecem que o trabalho com a oralidade, a 
leitura e a escrita devem promover o conhecimento de si e do mundo da 
criança; favorecer sua imersão nas diferentes linguagens, assim como seu 
progressivo domínio de vários gêneros e formas de expressão; possibilitar 
às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a 
linguagem oral e escrita e o convívio com diferentes suportes e gêneros 
textuais; ampliar a confiança e a participação das crianças nas atividades 
individuais e coletivas; incentivar a curiosidade, a exploração, o 
encantamento, o questionamento e a indagação das crianças.
A Proposta Curricular para a Educação Infantil da Rede Municipal 
de Ensino de Fortaleza salienta que na educação infantil a oralidade, a leitura 
e a escrita devem ser exploradas através de experiências significativas que 
envolvem as diferentes linguagens que crianças trazem consigo e que são 
de seu interesse, tais como o gesto, o movimento, a brincadeira, o desenho, 
a pintura, a dramatização, a dança, dentre outras.
Durante esses quatro meses, buscamos realizar com as crianças 
ações que contemplassem, de maneira lúdica, todos os campos de 
experiências. Foram exploradas histórias populares que falam sobre 
animais marinhos: Peixinho dourado vai passear; A escolinha do mar; 
Festa no Céu. Também assistimos aos filmes: O mar não está para peixe; 
A pequena sereia; Bob Esponja e Procurando Nemo, momento em 
que promovemos uma discussão sobre a história, potencializando as 
possibilidades quanto à expressividade oral. 
Nas brincadeiras de roda exploramos as músicas: Peixe vivo; Se 
eu fosse um peixinho; Caranguejo não é peixe. Também desenvolvemos 
pesquisas sobre animais aquáticos, com a participação dos responsáveis 
2 Professora Nicélia, que no período estava lotada na turma do Infantil 1B, do CEI Madre Teresa de Calcutá.
11
pela criança, incentivando a inserção dos familiares no processo de 
aprendizagem e desenvolvimento dos infantes.
Piaget (1975, p. 338) diz que “em todos os níveis a experiência é 
necessária ao desenvolvimento da inteligência e que a atividade lúdica é o 
berço obrigatório das atividades intelectuais da criança”. Acreditando que 
o contato experiencial é extremamente importante para a ampliação da 
percepção da criança sobre determinados saberes, desenvolvemos, durante 
o Projeto, algumas atividades de caráter lúdico e concreto, as quais estão 
citadas a seguir. 
Confecção de tinta caseira, utilizando materiais como anilina, 
farinha de trigo, sal, água, açúcar, gelatina. Pudemos explorar 
conceitos de medidas, texturas, cores...; 
Confecção de animais marítimos com materiais reciclados: 
caranguejo feito com prato de papel; peixe com forminha de 
brigadeiro; baleia com copinho de iogurte; tubarão pintado com 
cola colorida; tartaruga feita de garrafa pet; estrela do mar feita 
com gesso; escultura de peixes com massa de modelar;
Painel feito com TNT decorado com conchinha do mar, areia e 
peixinhos de gesso pintados com tinta caseira fabricada pelas 
crianças; 
Arte com cola colorida inspirada na obra Os peixes, de Romero 
Britto;
Confecção de aquário individual para cada criança levar para casa; 
Peixe feito com CD com o nome da criança digitado e exposto 
sobre a mesa para que cada um identificasse o seu; 
Pescaria com peixe de plástico, trabalhando raciocínio lógico 
matemático;
Listagem e colagem dos animais marinhos mais conhecidos.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais a arte 
possibilita ao aluno conhecer diferentes culturas, desenvolver o seu 
pensamento artístico, sua sensibilidade, percepção estética e imaginação, 
tanto para apreciar como para produzir sua própria arte. Acreditamos 
que as atividades realizadas foram valiosas no sentido de ampliar o senso 
estético das crianças, bem como suas reflexões sobre os objetos elaborados.
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que a execução do Projeto Fundo do Mar proporcionou 
importantes resultados, dentre os quais destacamos o fortalecimento do 
vínculo professora x crianças, a sensibilidade e envolvimento da família 
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e a ampliação do olhar pedagógico sobre a necessidade de respeito aos 
direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança. 
Nesse Projeto as crianças puderam ampliar seus olhares sobre o 
cuidado com o meio ambiente, o respeito ao próximo, a solidariedade, bem 
como desenvolver conceitos mais específicos como o reconhecimento do 
nome próprio. 
Acreditamos que é importante continuarmos ouvindo as 
crianças, no intuito de sempre percebermos quais seus reais interesses de 
aprendizagem. Assim, através da sensibilidade do educador, o processo de 
aprendizagem da criança se tornará bem mais significativo. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares 
Nacionais da Educação Infantil. Parecer 20/09. Brasília: MEC/SEB, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. 
Linguagem oral e linguagem escrita na educação infantil: práticas e 
interações. Brasília: MEC/SEB, 2016.
PIAGET, Jean. O Nascimento da inteligência na criança. 2. ed. Rio de 
Janeiro/RJ: Zahar, 1975.
ZABALZA, Miguel. A qualidade em educação infantil. Porto Alegre: 
Artmed, 1998.
REGISTRO FOTOGRÁFICO
13
“DRUGSTER”: FERRAMENTA LÚDICA PREVENTIVA E 
EDUCACIONAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS
Aldenia Ribeiro dos SANTOS1
Micaelle Ribeiro dos SANTOS2
INTRODUÇÃO
As drogas, lícitas e ilícitas, estão cada vez mais presentes no 
cotidiano dos jovens alunos brasileiros, segundo o Centro Brasileiro de 
Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID3 (2010). Nesse contexto, 
este Projeto teve a finalidade de minimizar tal realidade, trabalhando o 
assunto “Drogas” em sala de aula. A escola é um ambiente privilegiado 
para formação de valores éticos e morais, que pode auxiliar, junto com os 
pais, na prevenção do uso de drogas pelos estudantes.
De acordo com Williams, Meyer e Pechansky (2007) a adolescência 
é uma faixa etária em que se registra grande preocupação em relação ao 
uso de drogas. Por diferentes fatores, os adolescentes se encontram em 
uma fase de maior vulnerabilidade. Segundo os autores, o uso de drogas 
na adolescência é um dos problemas de saúde mental mais prevalente. 
É importante enfatizar que a temática “Droga” deve ser inserida 
em aulas de Ciências, principalmente no conteúdo do 8º ano, quando o 
professor aborda o sistema nervoso, pois, assim, pode-se associar com 
maior facilidade a interferência de substâncias químicas e sua plena 
funcionalidade no cérebro.
Drogas compreendem as classes de substâncias químicas que 
consumidas influenciam o funcionamento dos organismos. Entende-se 
por funcionamento o conjunto de reações bioquímicas e fisiológicas que 
garantem a vida. Assim, as drogas entrariam nessas reações bioquímicas 
e “enganariam” os processos orgânicos que, através de ligações químicas 
com os diversos componentes das células ou tecidos, substituiriam ou 
alterariam as funções das moléculas endógenas. Segundo Silva (2011), o 
cérebro é o principal local de ação para as drogas usadas em excesso.
Os entorpecentes interagem com nossas células nervosas 
através da superfície de um receptor. Enganam o cérebro, imitando os 
neurotransmissores. A interação entre uma droga e um receptor é detectada 
1 Graduação em Química (UFC). Mestrado em Climatologia e aplicações em países da CPLP e África (UECE). 
Especialização em Gestão Ambiental (Universidade Candido Mendes). Especialização em AEE (Prominas).
2 Graduação em Química (UECE). Especialização em docência no ensino superior e Ludopedagogia.
3 Disponível em: <https://www.cebrid.com.br/>. Acesso em: 28 ago. 2019.
14
e transmitida para as estruturas intracelulares e os processadores. As 
reações celulares aos estímulos do receptor variam de acordo com o tipo 
de célula. Algumas células podem reagir aumentando oudiminuindo 
o número de receptores na superfície da célula. Outras modificam a 
produção e/ou liberação de um produto químico (SILVA, 2011).
Os efeitos indesejáveis dos entorpecentes que ocorrem em outros 
lugares além do cérebro são chamados de efeitos colaterais. Esses efeitos são 
mais intensos dependendo da quantidade de droga absorvida pelo organismo, 
quando, em pequena quantidade, serve de estimulantes, em maior quantidade 
como sedativo e quantidades ainda maiores podem ser consideradas como 
veneno. O aumento das quantidades pode vir a ser causado pela tolerância, 
que acontece quando o organismo acaba por se acostumar, ou seja, a droga 
faz, a cada dia, menos efeito. Assim, para obter o efeito que se deseja, é preciso 
aumentar cada vez mais as doses, segundo Silva (2011). 
A dependência se refere às complexas adaptações biológicas ao uso 
prolongado das drogas, que se manifestam como a ansiedade do usuário por 
continuar usando-a. Também descreve a conduta de consumir continuamente 
a droga. Finalmente, a dependência implica a dor da abstinência que o 
usuário experimenta quando tenta deixar de usá-la. Assim sendo, um usuário 
regular que tem dificuldade para deixar o seu uso, é considerado dependente 
da droga. Quando tenta fazê-lo, sente uma necessidade maior de usá-la. Se 
não o faz, sente-se mal, agressivo, com insônia.
O site do IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE, 
traz dados alarmantes sobre o uso de drogas por adolescentes brasileiros, 
segundo as grandes regiões do Brasil. PeNSE investigou, por meio de 
questionários aplicados, escolas públicas e particulares, com uma 
amostragem de 3.195, 3.478, 3.292, 3.219 e 3.424 de alunos nas regiões 
Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, respectivamente, 
como pode ser visto na figura 1, cujos resultados são expressos através de 
porcentagens.
Figura 1: Porcentagem de alunos entre 13 e 17 anos (idade da adolescência)
que usam algum tipo de drogas
Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar/IBGE (2015)
15
Os dados do PeNSE indicaram que na região Nordeste não há 
grande diferença entre os índices do consumo de cigarros, bebidas 
alcoólicas ou drogas ilícitas nas escolas pública e particular. E quanto mais 
cedo o jovem começa a consumir, pior será o dano futuro, com maiores 
riscos de desenvolvimento de doenças hepáticas e alterações psiquiátricas, 
entre outros problemas graves. O PeNSE afirma que com o aumento da 
idade também aumenta a exposição ao risco à saúde por meio do consumo 
de bebida alcoólica pelos escolares brasileiros. 
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
O presente trabalho buscou uma nova forma de abordar os 
perigos do uso de drogas, inserido na dinâmica de ensino-aprendizagem 
dos conteúdos de Ciências no 8º ano do ensino fundamental II, em escola 
pública municipal localizada no município de Fortaleza. 
A realização do projeto foi dividida em quatro etapas: 
Aula teórica sobre os tipos de drogas ilícitas e sua função no 
organismo;
Aplicação de vídeo documentário da Discovery sobre os efeitos 
das drogas, seguido de debate;
Aplicação do jogo lúdico, chamado “DRUGSTER”;
Aplicação de questionário final de cinco questões para avaliar o 
desempenho dos alunos sobre o tema abordado. 
Foram escolhidos 60 alunos das turmas de 8º ano A e B de uma 
escola pública municipal situada em Fortaleza. O procedimento descrito 
nos itens 1, 2, 3 e 4 das etapas foi realizado na turma A. Na turma B foram 
realizados os itens 1, 2 e 4. O jogo Drugster foi aplicado apenas na turma A 
para avaliar o potencial da ferramenta didática.
O jogo DRUGSTER era composto por um tapete feito de lona com 
125 cm de largura e 142,22 cm de altura que é posto no solo. Desenhados 
no tapete círculos de quatro cores diferentes: azul, amarelo, verde e 
vermelho. Em cada círculo, um informativo sobre o malefício de cada 
droga conhecida: Metanfetamina; Cocaína; Cafeína; Nicotina; Ecstasy; 
Morfina; Heroína; Maconha; Bebidas alcoólicas; DMT; Cola de sapateiro; 
Boa-noite-cinderela; Cogumelos mágicos e LSD; e sua classificação em 
estimulantes psicomotores e depressores do sistema nervoso central, 
Analgésicos Opioides, Solventes e Agentes psicomiméticos e Alucinógenos 
de acordo com o efeito causado no indivíduo. Efeitos que devem, pela regra 
do jogo, ser lidos pelos participantes como parte da diversão. Como roleta 
no jogo foi utilizado o tablete, pois continha um aplicativo gratuito de um 
tabuleiro de Twister digital, onde foi feita a combinação, por exemplo: mão 
direita no vermelho ou pé esquerdo no verde, para os jogadores moverem 
a mão ou o pé correspondente ao ponto da cor selecionada pelo aplicativo.
1.
2.
3.
4.
16
Ao mover a mão ou o pé para a cor orientada, o participante 
deveria ler os malefícios presentes no círculo. Além do conhecimento, o 
jogo testou também a resistência dos alunos, pois, para que houvesse um 
vencedor, um dos participantes teria que se render ao cansaço. A dupla 
que permanecesse ganharia um ponto para sua equipe, então outra dupla 
de cada equipe jogaria, até que todos na sala jogassem. Se uma partida 
demorasse mais de dez minutos, as duas equipes ganhavam um ponto para 
dar a vez à próxima dupla. Quem adquirisse mais pontos ganhava. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os alunos do 8º ano participaram ativamente e se divertiram 
durante a aplicação do jogo. O Projeto apresentou bons resultados, 
cumprindo com o objetivo de melhorar o conhecimento dos alunos 
como forma de prevenir o consumo de drogas. Gostaram bastante do 
jogo e demonstraram compreender seu objetivo. As aulas expositivas 
serviram de base para tirar as dúvidas dos alunos no debate que seguiu 
após a aplicação do vídeo documentário da Discovery, a respeito das 
drogas, a partir dos tópicos: explicar a necessidade do Projeto; conceituar 
drogas; definir tolerância; comentar casos verídicos de usuários; explicar 
como surge a síndrome de abstinência; abordar os malefícios das drogas 
Metanfetamina, Cocaína, Cafeína, Nicotina, Ecstasy, Morfina, Heroína, 
Maconha, Bebidas alcoólicas, DMT, Cola de sapateiro, Boa-noite-cinderela, 
Cogumelos mágicos e LSD; mostrar a molécula química responsável por 
cada efeito etc. O jogo abordou os malefícios das drogas de forma divertida. 
Além disso, facilitou o aprendizado do aluno sobre a química das drogas, 
conteúdo inserido na disciplina de Ciências. E o pós-questionário aplicado 
nas duas turmas mostrou onde o projeto surtiu maior efeito, quando 
aliado ao jogo, pois houve aumento de 35% de acertos quando comparado 
aos resultados do questionário aplicado na turma onde não foi aplicado 
o jogo, demonstrando que o “DRUGSTER” é uma boa ferramenta didática 
que, além de melhorar o conhecimento, torna o aprendizado divertido e 
prazeroso, aumentando a interação entre aluno-aluno e aluno-professor.
REFERÊNCIAS
SILVA, F. E. Dependência às drogas de abuso: revisão da literatura, 2011. 
Monografia (Graduação em Enfermagem). Fundação Educacional do 
Município de Assis, São Paulo, 2011. 
WILLIAMS, A. V.; MEYER, E.; e PECHANSKY, F. Desenvolvimento de um 
Jogo Terapêutico para Prevenção da Recaída e Motivação para Mudança 
em Jovens Usuários de Drogas. Psic. Teor. e Pesq., v. 23, n. 4, p. 407-414, 
2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
37722007000400006&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 28 ago. 2019.
17
AFROZINE: UMA PROPOSTA COM PROJETOS 
DE LETRAMENTO A PARTIR DA PERSPECTIVA 
AFRODESCENDENTE
Amanda Almeida Alencar de SOUZA1
INTRODUÇÃO
É inquestionável a importância da aquisição da Língua Portuguesa 
para o acesso à informação do mundo letrado, em um tempo no qual a 
comunicação, muitas vezes, desvaloriza o contato oral e supervaloriza as 
informações escritas. À escola não compete um estudo limitado e defasado 
que prepare o aluno apenas para decodificar, mas que o coloque em desafio, 
proporcionando um ensino reflexivo para uma leitura crítica do mundo e 
dos textos. Ensino este que requer do educando a formação básica voltada 
para o desenvolvimentoda competência comunicativa dos seus falantes, 
de modo que isso seja perceptível por meio da oralidade e das práticas de 
escrita, que possibilitam ao aluno o domínio pleno da língua materna. 
Quanto à problematização, partimos do pressuposto de que é 
preciso promover na escola um trabalho com práticas sociais e autênticas 
de escrita com alunos da Educação de Jovens e Adultos (doravante EJA), no 
ensino fundamental, de modo a construir uma aprendizagem significativa 
na qual eles possam expressar e compartilhar seus sentimentos e opiniões 
acerca do mundo cultural. Diante disso, este trabalho se justifica pelo fato 
de desenvolver uma proposta de formação crítica a partir da produção 
de textos, de modo que os estudantes, à medida que entrem em contato 
com o letramento através de práticas diárias de leitura, possam adquirir 
habilidades para utilizar a língua materna e, por conseguinte, também 
aprendam a se posicionar acerca de várias temáticas pertinentes à sua 
vida e ao mundo.
Este trabalho foi realizado a partir de pesquisa-ação na qual se 
trabalhou a contribuição que o letramento em vários gêneros textuais 
poderá possibilitar aos alunos, por meio de práticas sociais e autênticas 
de escrita, e o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa, com 
marcas de autoria nos textos dos alunos. Nossa proposta está fundamentada 
na ideia de aproximar a escola e o ensino de Língua Portuguesa da realidade 
do aluno e oferecer-lhe ferramentas para a sua atuação consciente na 
sociedade letrada em que vive, sem esquecer a valorização dos saberes 
adquiridos fora da escola, como afirma Geraldi (2003).
1 Professora de Língua Portuguesa da rede pública municipal de Fortaleza e da rede estadual do Ceará. 
Mestre em Letras (PROFLETRAS) pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), 
amanda_almeida_alencar@hotmail.com.
18
Assim, foi realizado questionário para conhecer as preferências de 
leitura dos alunos de uma turma da EJA III (correspondente ao 6º e 7º anos 
do ensino fundamental) e compreender melhor o perfil dos estudantes 
para adaptar as leituras ao seu universo de conhecimento. Em seguida, 
foram realizadas em sala atividades de leitura e escrita que auxiliam na 
construção do letramento social dos alunos, a partir de uma oficina de 
fanzines. Dessa forma, constatou-se que a compreensão de letramento 
como uma prática comunicativa situada em contextos sociais e os eventos 
de letramento são atividades particulares que exercem um importante 
papel na vida das pessoas, como apontam os estudos de Street (2014). 
Além disso, observou-se que, quanto mais o aluno entra em 
contato com uma diversidade textual, ou seja, com os diferentes tipos 
de letramentos que circulam socialmente, mais ele passa a ampliar, a 
diversificar e a enriquecer sua capacidade de produzir textos orais e 
escritos, além de aprimorar sua capacidade de recepção, isto é, de leitura, 
compreensão e interpretação de textos.
Nesse sentido, este trabalho possibilita desenvolver em sala de aula 
uma intervenção na qual os valores associados à leitura e ao domínio da 
escrita, em uma diversidade de eventos (situações de interação), possam 
garantir a formação de cidadãos críticos, conscientes e atuantes nas 
situações cotidianas de comunicação. 
O uso de Fanzines em sala de aula com alunos da EJA
Falar, hoje, sobre o ensino de Língua Portuguesa e a formação do 
educando, é repensar o uso produtivo da língua materna e como isso pode 
ser inserido na proposta curricular da escola, principalmente quando o 
público é formado por jovens e adultos que interromperam, por vários 
motivos, a vida escolar. Assim, ela precisa estar voltada para a formação de 
cidadãos conscientes, que compreendam que o estudo da língua materna 
vai além das atividades desempenhadas em sala de aula, que podem ser 
utilizadas em várias práticas sociais.
Em outras palavras, é necessário fazer com que os alunos, a partir 
dos seus conhecimentos de origem, percebam que os conhecimentos 
compartilhados e adquiridos na escola são significativos e podem 
contribuir para sua inserção social enquanto cidadãos, pois o ato de ler 
não se restringe à simples leitura de textos escritos, mas à capacidade de 
decodificar e ampliar a compreensão do mundo; e a capacidade de escrever 
não se reduz apenas ao registro escrito de um símbolo ou de um código, 
mas promove no indivíduo a possibilidade de expressar-se e produzir 
novas ideias.
19
Nesse sentido, refletir acerca do processo de ensino-aprendizagem 
de Língua Portuguesa faz com que se perceba a necessidade de pensar nas 
funções sociais da linguagem e que, através do ensino de leitura e escrita de 
diversos gêneros textuais que circulam na sociedade, o aluno não garante 
apenas o desenvolvimento linguístico, mas também passa a diversificar 
sua participação social, ao saber, como cidadão, exercer adequadamente 
o uso da linguagem. 
Mesmo com toda a revolução tecnológica invadindo a maioria 
dos lares brasileiros com tantas informações e o uso excessivo de meios 
digitais e aparatos tecnológicos, ainda percebe-se, nos últimos anos, uma 
produção significativa de fanzines e zines. Estes, muitas vezes, utilizados 
para que os alunos possam expressar sua visão de mundo ou opinar acerca 
de uma temática estabelecida, por isso optamos pela produção coletiva de 
um fanzine, como ressaltam estudos de Guimarães (2005) e Magalhães 
(1993).
Fanzine ou apenas zine é uma publicação artesanal e alternativa 
que se caracteriza por apresentar um caráter libertário e pelas marcas 
expressivas de autoralidade. Por não ser determinado por metodologias 
estruturadas e expor conteúdo “espontâneo”, esse gênero textual possibilita 
aos seus autores publicarem o que querem e/ou pensam. Henrique 
Magalhães faz uma distinção entre fanzine e revista alternativa:
O fanzine apresenta-se como um boletim, veículo 
essencialmente informativo, órgão de fãs-clubes ou de 
aficionados. Ou seja, a matéria-prima do fanzine é a 
informação, como artigo, entrevista, matéria jornalística. 
Na revista alternativa encontra-se a produção artística 
propriamente dita: contos, poesias, ilustrações, quadrinhos, 
etc. (MAGALHÃES, 1993, p. 15).
Tendo em vista que o público-alvo deste trabalho é formado por 
alunos da EJA, houve a necessidade de desenvolver em sala de aula uma 
proposta de atividades com práticas de letramentos a partir de uma 
abordagem colaborativa entre todos (aluno-aluno, aluno-professor). 
A escolha pelo gênero fanzine possibilita ao aluno a ampliação 
do conhecimento sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca, o 
desenvolvimento do senso crítico e a construção das marcas de autoria em 
seus textos. Além de tudo isso, possibilita o exercício da cidadania, como 
aponta Nascimento (2010): 
o fanzine tem margeado a escola e, mesmo sendo de baixo 
custo, não o incluímos na sala de aula como um recurso 
pedagógico que possibilita o exercício da cidadania, da 
criatividade e da criticidade, além de ampliar o olhar ante 
as imagens que nos são postas (NASCIMENTO, 2010, p. 123).
20
Dessa forma, as práticas de letramento contribuem para que 
haja a democratização do ato de escrever, promovendo no estudante 
o desenvolvimento do domínio social de comunicação, quer seja pela 
oralidade, quer seja pela escrita. Além disso, favorece a aprendizagem e 
a melhora da autoestima dos alunos, contribuindo para a aproximação 
do aluno com a produção escrita, de modo a melhorar sua forma de se 
expressar, não só na escola, mas também com os amigos e os parentes.
Como afirma Rojo (2009), as práticas e eventos de letramentos de 
que as pessoas participam cotidianamente, através da leitura e da escrita, 
colaboram para acionar o conhecimento de mundo e para relacioná-lo 
com os temas dos textos encontrados socialmente.
O uso de fanzine pode ser um valioso exercício de leitura e escrita 
por possibilitar ao aluno tornar-se autor de sua obra e de fazer-se ouvir. 
Dessa forma, a atividade de produção escrita passa a ser um importante 
instrumentode fortalecimento da voz dos muitos jovens e adultos que 
estão na escola e precisam romper os silenciamentos impostos pelos 
perversos processos de exclusão. A partir de atividades como o fanzine, 
por exemplo, podem-se produzir respostas aos textos que escutam e leem, 
possibilitando melhor expressividade oralmente ou por escrito. 
De acordo com Andraus (2009), a produção de fanzines colabora 
para o desenvolvimento de um texto autoral, uma vez que o aluno torna-
se autor de sua obra e ainda é capaz de se fazer ouvir. Nascimento (2010, 
p. 215) ainda destaca que “a prática zinesca veicula formas de aprender, 
construindo e reconstruindo saberes que potencializem o poder de intervir 
como sujeitos pensantes no meio sociocultural.” 
A prática de letramento em EJA, aliada ao desenvolvimento da 
construção de fanzines, associa-se a uma concepção pedagógica que 
permite ao aluno reconhecer-se como sujeito naquilo que produz, pois a 
formação para a cidadania vai além dos muros da escola. Ela está alicerçada 
no cotidiano das relações dos indivíduos e no conjunto das organizações 
da sociedade. Com isso, o espaço escolar passa a ser visto como um local de 
acesso à cultura e ao conhecimento historicamente produzido e também 
de possibilidades para as vivências que constroem o fortalecimento da 
democracia e promoção da cidadania de jovens e adultos das camadas 
populares, que possuem limitações de inúmeras naturezas para alcançar 
a superação da desigualdade social e a quebra do ciclo de pobreza no qual 
estão inseridos.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A escola como espaço de difusão e compartilhamento de vivências 
das pessoas apresenta uma importância fundamental na promoção de 
21
atividades que visem à reflexão e à conscientização acerca da valorização 
e do respeito às diferenças. Dessa forma, nas experiências em sala, 
deve-se promover uma diversidade de atividades que permitam a todos, 
independentemente do gênero, cor, condição social e outros, possibilidade 
de expressar o que sentem ou pensam.
Para despertar a conscientização em relação à cultura 
afrodescendente, realizamos leituras diversas em sala que pudessem 
sensibilizar os estudantes. Os alunos assistiram ao vídeo Vista minha 
pele (2003), dirigido por Joel Zito Araújo, que versa sobre o racismo na 
escola e, após reflexão sobre o exposto no vídeo, realizamos um debate 
acerca das crenças existentes sobre os afrodescendentes. Muitos alunos 
se incomodaram ao ouvir comentários dos colegas sobre as personagens 
do vídeo como por exemplo: “Ela até que é bonita, mas tem o cabelo 
ruim.”, ou ainda, “O preconceito só existe porque a senhora está falando, 
professora!”. Houve uma grande reflexão e a partir dessa conversa alguns 
alunos começaram a realizar monitoramento de certos discursos que 
desrespeitam e machucam. Dessa forma, à medida que íamos realizando as 
leituras e atividades, acontecia a construção de uma cultura de tolerância, 
com respeito e compreensão, frente às relações de poder em sociedade que 
geram tantas situações de violência e de preconceito.
Após o momento de sensibilização inicial, os alunos tiveram 
contato com trechos de documentos, como a Lei 10.639/03, e também 
o conhecimento de fatos e personagens históricos que colaboraram 
para fortalecer a voz de muitos homens e mulheres que sentem na pele 
a indiferença e sofrem com os silenciamentos impostos pelos processos 
de exclusão e que, por isso, muitos são destinados ao esquecimento. Um 
exemplo disso foi a apresentação de personalidades como Zumbi, Nelson 
Mandela e Martin Luther King.
 Dessa forma, iniciamos o resgate de histórias vividas por 
personagens femininas na literatura como as descritas na coletânea de 
contos de Conceição Evaristo (2015), destaque especial para as histórias 
dos contos Maria e Zaíra, que os alunos diziam ser “as personagens 
das histórias que fazem chorar”. Algumas das leituras compartilhadas 
em sala também tiveram momentos pictóricos (os alunos retrataram, 
através de desenhos, o que compreenderam das histórias lidas) e foi 
muito interessante a identificação com essas histórias de mundos não tão 
distantes da realidade de quem vive o drama de morar na periferia e não 
saber quando poderá ser vítima de um ato violento. Em muitos momentos, 
alguns alunos chegavam a chorar em meio à leitura e pediam para outra 
pessoa continuar. Momentos como esses foram essenciais para que se 
22
(re)conhecessem nos perfis dos personagens presentes nessas histórias 
aprendizados para situações e vivências do cotidiano.
O encanto com os contos de Conceição Evaristo e sua significação 
foram motivos suficientes para que os textos fossem vivenciados em sala 
de aula, experiência que proporcionou conhecimentos diversos para a vida, 
não apenas do aluno/leitor, que se encontrava em formação, mas também 
ao professor, que se transformava em agente de leitura e tornava a sala 
de aula um espaço de reflexão para se debater acerca das desigualdades 
sociais e étnico-culturais, que tanto silenciam e massacram nossos 
jovens. Todavia, para que a leitura se tornasse, de fato, uma experiência 
significativa e transformadora, a adoção de metodologias instigantes e 
envolventes, que potencializassem as possibilidades de comunicação entre 
leitores e o texto, tornou-se imprescindível.
Dessa forma, proporcionar no espaço escolar atividades artísticas 
que vislumbrem a compreensão do racismo brasileiro, de acordo com 
Cunha (2001), pode encorajar nossos jovens a aceitar sua africanidade 
e a reconhecer seus traços afros, não apenas na aparência física, mas a 
partir da luta histórica que muitos travaram para não serem esquecidos e 
silenciados.
De acordo com Cunha (2001) o racismo brasileiro advém de uma 
negativa sistemática de inferiorização do negro, que, por sua vez, passa 
a ser visto como incapaz. Ainda nessa perspectiva de alimentar essa 
inferiorização, quer seja pela cor ou pela orientação sexual escolhida, 
percebe-se nos grupos sociais uma forte tendência de perseguição. Muitos 
alunos na escola relatam esses conflitos a partir de atividades escolares 
que podem amenizar e auxiliar a extravasar um pouco de um sofrimento 
escondido todos os dias para evitar agressões, violência física e psicológica.
Por isso a importância de desenvolver em sala atividades com 
projetos que permitiram discussões acerca da necessidade de reconhecer-
se e (re)significar o conceito de africanidade, a fim de permitir a construção 
de um ambiente com mais tolerância e compreensão pelas diferenças e 
singularidades de cada indivíduo e dos grupos dos quais esses indivíduos 
participam e com os quais se identificam.
Para concluir as atividades, os alunos produziram um material que 
recebeu o nome de Afrozine, cujo conteúdo era a expressão, após nossas 
vivências e leituras, do que pensávamos e sentíamos sobre a temática 
estudada. O trabalho resultou em um painel que foi apresentado em 
dois eventos voltados para a Consciência Negra: IX Memórias de Baobá 
e IX Congresso Internacional da Associação de Estudos da Homocultura 
(CINABEH). Além disso, os alunos se organizaram e realizaram, durante 
23
um sábado de novembro de 2018, uma apresentação cultural que envolveu 
a comunidade escolar em atividades voltadas para a valorização da 
africanidade e a construção do sentimento de pertencimento étnico-
cultural. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A produção textual na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma 
atividade complexa, devido às especificidades da alfabetização já tardia e à 
falta de prática em sala de aula com a produção de textos escritos. 
A partir das práticas de letramento com a produção de fanzines, 
os alunos da EJA expressaram sentimentos e opiniões e, além disso, 
ampliaram o repertório sociocultural, uma vez que o gênero fanzine 
promoveu o pertencimento, a troca de ideias e o desenvolvimento da 
reflexão acerca de temáticas tão relevantes como a cultura afro-brasileira. 
Ao observar as produções escritas dos alunos, percebemos que 
as aulas de Língua Portuguesaagregaram os valores que perpassaram os 
conteúdos escolhidos para serem abordados nos textos, debates e produção 
de zines, o que reforça a nossa ideia de que os projetos de letramento 
verdadeiramente colaboram para efetivar práticas letradas na escola e, 
mais ainda, contribuem para a formação crítica e cidadã dos estudantes.
No que diz respeito à oficina de fanzines, os estudantes responderam 
de forma bem positiva, inclusive alguns revelaram que foram as aulas de 
maior aprendizado e produtividade. Segundo os alunos, os fanzines foram 
importantes para a tomada de consciência dos direitos pela luta contra 
as injustiças; o desenvolvimento do respeito às diferenças; a importância 
de saber fazer escolhas; a valorização de estudar para crescer e conseguir 
algo melhor na vida; a melhoria na percepção das imagens e dos textos e a 
importância de valorizar quem somos.
Com isso, confirmamos a ideia defendida por Kleiman (2005) 
acerca da necessidade de se elaborar na escola práticas com projetos 
de letramento (PL) que proporcionem a construção de conhecimento 
voltada para a resolução de uma demanda social/ou pessoal do estudante, 
uma vez que ao buscar solução para algo houve troca de experiências 
em que todos ensinaram, aprenderam e passaram a conciliar seus 
interesses, conhecimento e sentimentos, formando uma comunidade de 
aprendizagem.
24
REFERÊNCIAS
ANDRAUS, Gazy. A independente escrita-imagética caótico-
organizacional dos fanzines: para uma leitura/feitura autoral criativa e 
pluriforme. Trabalho apresentado ao Eixo 14 – Escritas, imagens e criação. 
Diferir no 17º COLE. Campinas, 2009.
EVARISTO, Conceição. Olhos d´água. Editora Pallas, 2015.
GERALDI, J. W. (org.) O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ed. Ática, 
2003.
GUIMARÃES, Edgar. Fanzine. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2005.
KLEIMAN, A. Preciso “ensinar” o letramento? In: Linguagem e letramento 
em foco. CEFIEL/MEC, 2005.
MAGALHÃES, H. O que é fanzine. São Paulo: Brasiliense, 1993.
NASCIMENTO, Ioneide Santos do. Da marginalidade à sala de aula: o 
fanzine como artefato cultural, educativo e pedagógico. In: Muniz, C. (Org). 
Fanzines autoria, subjetividade e invenção de si. Fortaleza: Edições UFC, 
2010.
ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: 
Parábola Editorial, 2009.
STREET, B. V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no 
desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad.: Marcos Bagno. São 
Paulo: Parábola Editorial, 2014.
REGISTRO FOTOGRÁFICO
25
DESCONSTRUINDO O MACHISMO NOS ANÚNCIOS 
PUBLICITÁRIOS: UMA PRÁTICA DE LETRAMENTO 
CRÍTICO MULTIMODAL EM PRODUÇÕES TEXTUAIS
Ana Lorena dos Santos SANTANA1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho se propôs, a partir da análise de anúncios 
publicitários de conteúdo machista, produzir textos multimodais (outros 
anúncios) com o intuito de desconstruir discursos marcados por ideologias 
e hegemonias e reconstruir a identidade da mulher a partir de uma prática 
de letramento que priorizasse o pensamento crítico de alunos(as) do 9º ano 
“B”, no ano de 2018, da Escola Municipal Presidente Kennedy, localizada no 
Distrito 3.
A referida atividade surge da necessidade de desconstruir, entre 
os(as) adolescentes, posturas machistas e reconhecer os avanços das lutas 
feministas por igualdade entre os gêneros sociais no mundo pós-moderno. 
Buscar uma garantia de legitimação de direitos que envolvam grupos 
minoritários é condição premente para fortalecer movimentos em favor 
da conscientização por um mundo mais igualitário, seja no âmbito escolar 
ou no âmbito da sociedade como um todo, redemocratizando o cotidiano. 
De acordo com Berth (2019), visualizar o papel das minorias na 
sociedade leva a uma
condução articulada de indivíduos e grupos por 
diversos estágios de autoafirmação, autovalorização, 
autorreconhecimento e autoconhecimento de si mesmo e de 
suas mais variadas habilidades humanas, de sua história, e 
principalmente de um entendimento quanto a sua posição 
social e política e, por sua vez, um estado psicológico 
perceptivo do que se passa ao seu redor (BERTH, 2019, p. 21).
Dessa forma, buscou-se, com a proposta de letramento, promover 
uma reflexão crítica, entre os discentes, que se expande, segundo Freire 
(1987, p. 7), à medida que a “consciência passa a escutar os apelos que a 
convocam mais além de seus limites”, para que possam desenvolver uma 
capacidade de enfrentamento a práticas conservadoras e a ideias marcadas 
por assujeitamentos do mundo patriarcal.
1 Mestra em Letras-UERN; Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa-UNI7; 
Licenciada em Letras/Espanhol-UFC; Bacharel em Direito-UNIFOR; Professora de Língua Portuguesa do 
Município de Fortaleza/CE.
26
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
O trabalho foi desenvolvido na turma do 9º ano “B”, manhã, na 
Escola Municipal Presidente Kennedy, com o quantitativo de 37 alunos, no 
segundo semestre de 2018, ao longo de quatro horas-aula (4h/a). Procuramos 
desenvolver uma prática de letramento crítico multimodal, com o propósito 
de desconstruir discursos machistas que apareciam em algumas campanhas 
publicitárias. Para isso, foram selecionados alguns anúncios publicitários 
de marcas como “Devassa”; “Minuano”; “Hope”; “Itaipava”, por exemplo, e 
distribuídos entre os(as) alunos(as) para que pudessem analisá-los, durante 
as duas primeiras horas-aulas destinadas à atividade. 
Oportunizamos aos(às) discentes a reavaliação de suas concepções 
acerca dos propósitos dos anúncios analisados, desnaturalizando 
o arbitrário e equivocado papel da mulher nas construções sociais 
promovidas pelos anúncios machistas, muitas vezes de caráter ideológico 
e com a intenção de desconstruir formas de opressão e dominação a partir 
de um estudo crítico, para que novos leitores-produtores de textos possam 
ser formados.
Surpreendentemente, muitas alunas se manifestaram contra o 
feminismo, talvez por não (re)conhecerem as verdadeiras potencialidades, 
autonomia e identidade do movimento. A partir desse dado, foi necessário 
falar sobre a luta por direitos iguais entre os gêneros sociais, contudo, 
constatou-se ainda haver resistências sobre essas questões. Após outra 
explanação, no que diz respeito à luta da mulher por reconhecimento social 
e pessoal, muitos(as) alunos(as) disseram entender o feminismo como 
sendo o contrário do machismo, conceito este rapidamente desconstruído 
pela professora.
Perguntamos a uma das alunas, que se mostrou durante as 
discussões em sala radicalmente contra o feminismo, se ela gostaria 
de receber o mesmo salário que os homens, assim como ser igualmente 
valorizada e poder escolher entre a decisão de trabalhar ou ficar em 
casa para cuidar dos filhos. Salientou-se que, caso suas respostas fossem 
afirmativas, ela seria considerada feminista. 
Na aula que seguiu após os debates, iniciamos os trabalhos pedindo 
aos(às) alunos(as) uma atividade de produção textual, servindo-se do 
corpus de anúncios utilizados ao longo da atividade, para que pudessem 
confeccionar outros textos multimodais, a partir da reconstrução dos 
anúncios machistas analisados. 
Direcionamos a atividade, explicando sua importância social e 
como os anúncios produzidos por eles(elas) deveriam ser reconstruídos, 
empoderando a mulher, ressignificando as identidades apresentadas no 
contexto dos anúncios publicitários vistos em sala.
27
Com a intenção de saber se eles(elas) conseguiriam desenvolver 
seu letramento crítico, através da reconstrução de seus textos, demos 
bastante atenção a esse momento, tendo o cuidado de orientá-los(las) sob a 
ótica de que os discursos presentes nos anúncios poderiam ser desafiados 
e modificados.
Distribuímos o material necessário para que os(as) alunos(as) 
fizessem suas produções textuais, com base nos anúncios publicitários 
vistos ao longo das aulas. Pedimos que alterassem o título e os personagens 
do anúncio original, mas não abandonassem o ideal temático, ou seja, a 
desconstrução do machismo. 
Em equipesde 4 (quatro) e 5 (cinco) componentes, os(as) 
adolescentes receberam papel sulfite 40kg, lápis de cor, réguas, esquadros, 
canetinhas. Todavia, solicitamos que, apesar de estarem agrupados em 
equipes, produzissem seus textos individualmente.
Os(as) alunos(as) se mostraram bastante obstinados em suas 
produções e alertas aos comentários acerca da importância social daquele 
trabalho e de como suas ações poderiam contribuir para conscientizar 
outras pessoas. Muitos pediram ajuda à professora, no que se refere às ideias 
que poderiam usar na produção de seus textos, o que lhes foi atendido, 
em parte. Esclarecemos que seria necessária a criação de um ambiente de 
igualdade entre os gêneros sociais nos anúncios que produziriam, assim 
como a ênfase no empoderamento feminino, a partir da desconstrução dos 
textos analisados anteriormente.
Aos poucos, os(as) estudantes foram finalizando suas produções, 
sempre próximos(as) do olhar atento da professora que passava nas mesas, 
sobretudo para verificar o andamento dos trabalhos. Ao final da aula, 
alguns alunos ainda precisaram de mais alguns minutos para a finalização 
de seus textos, adentrando no tempo destinado ao intervalo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho foi defendida uma prática de letramento 
voltada à criticidade de alunos e de alunas. Proporcionar atividades que nos 
permita refletir sobre a construção de quaisquer discursos que circulam 
na sociedade é condição inicial para formar indivíduos conscientes de seu 
papel social.
Com as atividades promovidas ao longo das aulas, mais 
efetivamente com as produções textuais voltadas a desconstrução de 
discursos machistas, foi possível perceber como os alunos e as alunas 
se interessaram em aprender e em contribuir efetivamente para uma 
mudança de pensamento.
28
Ao desenvolver argumentos sobre a igualdade de gêneros na 
sociedade contemporânea, os(as) alunos(as) desmistificaram o discurso 
produzido pela mídia, à medida que reconheciam nos anúncios 
publicitários representações ideológicas e culturais do feminino obtusas 
e reprodutoras de negligências aceitas socialmente ao longo da história. 
O trabalho implicou no desenvolvimento de estratégias de 
reinterpretação, a partir de produções textuais voltadas para uma proposta 
de desconstrução, mediante análises do gênero social feminino inserido 
no gênero discursivo anúncio publicitário. De certo que a trajetória não foi 
a das mais fáceis, visto que o preconceito contra a mulher também se faz 
presente por meio de vias simbólicas e se institui por intermédio da adesão 
das próprias mulheres, muitas vezes.
Desconstruir essa visão machista, tão arraigada culturalmente, vai 
além de estudos e trabalhos voltados para tal feito, aproximando-se mais 
de uma decisão reflexivo-crítica, engajada em romper com centralidades 
patriarcais e segregações de gênero no âmbito familiar e profissional, por 
exemplo.
Diante de todas as interações entre professora e alunos(as), 
vislumbramos uma mudança no olhar dos(das) discentes e, também, no 
nosso olhar. Foi possível aproximá-los(as) de uma visão mais realista e 
crítica de suas próprias práticas, a partir da necessidade de aliar linguagem 
e sociedade.
O trajeto realizado no trabalho compactuou com o pensamento de 
Freire (1996, p. 38) ao compreender que educar é promover uma intervenção 
no mundo, “intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem 
ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução 
da ideologia dominante quanto seu desmascaramento”. Dessa forma, 
todo o esforço para desenvolver um trabalho pautado em práticas de 
letramento crítico multimodal nas aulas de Língua Portuguesa que 
permita a tomada consciente de decisões, por parte de todos os envolvidos, 
é de grande significância, inclusive para a promoção de novas ações para 
uma sociedade mais igualitária que permita que as pessoas tenham seus 
espaços respeitados pelo fato de serem elas mesmas.
REFERÊNCIAS
BERTH, J. Empoderamento. São Paulo: Pólen, 2019.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 
25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
29
REGISTRO FOTOGRÁFICO
30
LIAN GONG: UMA PRÁTICA POSSÍVEL NA EDUCAÇÃO 
FÍSICA ESCOLAR
Ana Stela Pereira dos SANTOS1
INTRODUÇÃO
As ginásticas fazem parte de uma das seis grandes unidades 
temáticas da Cultura Corporal de Movimento, objeto de estudo da Educação 
Física Escolar. Podemos ainda dividi-las em três grupos: o da ginástica 
geral, o das ginásticas de condicionamento físico e o das ginásticas de 
conscientização corporal, conforme a BNCC (BRASIL, 2017). Neste trabalho, 
voltaremos o nosso olhar junto a uma ginástica desse último grupo, tema 
pouco observado e comentado nas escolas de Fortaleza, uma ginástica 
chinesa chamada Lian Gong (pronuncia-se “liam cum”). 
O Lian Gong foi desenvolvido pelo médico ortopedista Zhuang 
Yuan Ming durante a década de 1970 em Shangai, na China. Os movimentos 
relativamente simples ativam o Chi (energia vital) favorecendo o bom 
funcionamento global do corpo de seus praticantes. De acordo com os 
estudos do Dr. Zhuanga, a prática regular do Lian Gong serve para tratar 
e prevenir males no corpo relacionados aos ossos, músculos, articulações, 
sistema respiratório e outros órgãos internos. Entretanto, devemos 
contraindicar essa prática corporal para grávidas, pessoas com câncer ou 
com alguma inflamação ou infecção aguda (LEE, 1997).
O Lian Gong é dividido em três grandes blocos, cada um com 
dezoito exercícios, sendo que a realização de cada um desses blocos dura em 
torno de doze minutos. A sua execução ocorre de modo ordenado e lento, 
acompanha uma música instrumental chinesa de tom suave, melodia que 
ajuda a marcar o início e o fim de cada um dos 54 movimentos. Durante 
a prática existe um elo íntimo entre o gesto corporal e a respiração, de 
forma que nas contrações de determinados grupos musculares estimula-
se a expiração, e nos movimentos de relaxamento, inspiração (LEE, 1997). 
 O primeiro bloco (também chamado de Terapia Anterior) é 
subdividido em dezoito exercícios. Ele foca na prevenção e tratamento 
de dores no pescoço, ombros, lombar, glúteos e membros inferiores. No 
segundo bloco (Terapia Posterior) é abordada a prevenção e o tratamento 
de dores articulares, tendões e órgão internos. Já a última parte (YI Qi Gong) 
é voltada para o cuidado de doenças respiratórias crônicas (LEE, 1997).
 No Brasil, os resultados da prática do Lian Gong mostraram-se tão 
satisfatórios para a comunidade acadêmica ao longo dos anos que ele já 
1 Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará (2009). Especialização em 
Educação Física Escolar pela Universidade Federal do Ceará (2012). Professora efetiva da Rede Municipal 
de Educação de Fortaleza (2010).
31
faz parte do hall de Práticas Integrativas e Complementares aplicadas pelo 
SUS – Sistema Único de Saúde (CIPRIANI, 2017). 
 No setor educacional, vimos que o eixo temático das Ginásticas, e 
por conseguinte do Lian Gong, pode enquadrar-se como uma possibilidade 
contida na Nova Base Nacional Curricular Comum, ou seja, pode vir a fazer 
parte dos conteúdos básicos das escolas de todo o país. Além desse motivo, 
outros fatores também justificam o nosso interesse pela prática de ensino: 
a escassez de trabalhos com essa temática em Fortaleza e a desinformação 
por parte da sociedade geral sobre práticas corporais complementares e 
preventivas. Com o compartilhamento das etapas desse projeto pedagógico, 
visamos ser uma espécie de modelo-base de baixo custo para outros 
professores desenvolverem seus próprios projetos de Lian Gong em suas 
instituições de ensino.
 Para a aplicação e desenvolvimento da prática do Lian Gong, 
escolhemos uma turma do 9º ano do ensino fundamental, composta por 
trinta alunos, da Escola Municipal Secretário Paulo Petrola, situada no 
bairro Jacarecanga, em Fortaleza. A dinâmica pedagógicaperdurou 16h/a 
ao longo de oito semanas, durante os meses de outubro e novembro de 
2018. É importante salientar que embora o Lian Gong seja formado por 
54 movimentos divididos em três grandes blocos, aplicamos neste projeto 
apenas o primeiro bloco composto por 18 movimentos (Quadro 1).
A fim de reconhecer o grau de informação ou desinformação dos 
alunos acerca da referida ginástica chinesa, algumas semanas antes dos 
conteúdos serem abordados na turma, foi realizada uma pequena pesquisa 
informal em sala, quando foi questionado quem daqueles alunos já havia 
visto ou vivenciado o Lian Gong. Nenhum deles havia se quer ouvido falar.
Neste projeto pedagógico, tivemos como objetivos principais 
junto aos alunos: vivenciar o primeiro bloco de 18 movimentos do Lian 
Gong (Terapia Anterior) e, por meio dele, conhecer o próprio corpo e dele 
cuidar; valorizar e incitar a prática do Lian Gong como forma de atividade 
física prazerosa e saudável, prevenindo e tratando dores em todo o 
corpo; desenvolver com perseverança o sentimento de confiança em suas 
capacidades físicas e cognitivas para obter sucesso em suas atividades.
Quadro 1 - Os primeiros dezoito movimentos do Lian Gong em ordem (Terapia Anterior)
LIAN GONG (MOVIMENTOS ESPECÍFICOS)
PESCOÇO E OMBRO COSTAS E LOMBAR GLÚTEOS, PERNAS E PÉS
1 Movimento do pescoço 7 Estender as palmas para 
cima.
13 Rodar os joelhos à direita 
e à esquerda.
32
Além dos materiais comuns de sala de aula, como quadro branco, 
pincéis e apagador, usamos uma lousa digital, conexão Wi-fi/3G/4G, 
aparelho de som e um pendrive com a música específica da prática do Lian 
Gong. No lugar do pendrive e do aparelho de som podemos utilizar um 
celular com acesso à internet e um cabo auxiliar de áudio junto a uma 
caixa de som com entradas para tal.
Fizeram parte das estratégias de ensino empregadas: apresentação 
de figuras e vídeos do primeiro bloco de movimentos do Lian Gong na sala; 
produção de desenhos representativos de cada um dos 18 movimentos 
no caderno para posterior revisão em casa; execução do Lian Gong 
em grupos menores e depois com todos da turma; atividade avaliativa 
escrita (avaliação somativa) ao fim do bimestre para avaliar conteúdos 
conceituais; e avaliações procedimentais (avaliação formativa) para 
constatarmos se os alunos haviam aprendido a sequência de movimentos e 
as respirações corretas. Aspectos conceituais, atitudinais e procedimentais 
eram analisados em todos os momentos das aulas - por meio de perguntas, 
observações, diálogos e reflexões - como forma de aferir o quanto já havia 
sido ou precisava ser assimilado pelo grupo estudantil. 
Tínhamos como conteúdos atitudinais: a disposição para aplicar 
na prática os conhecimentos sobre o Lian Gong adquiridos na sala de aula 
e a predisposição a experimentar situações novas que envolvem novas 
aprendizagens. Quanto aos conteúdos conceituais e procedimentais, 
detivemo-nos: à vivência corporal do Lian Gong com o desenvolvimento 
de capacidades físicas e habilidades motoras específicas necessárias para 
a Terapia Anterior; à compreensão da relação entre os movimentos e 
diferentes grupos musculares utilizados; ao desenvolvimento da noção 
espaço-tempo vinculada a um ritmo musical e, inclusive, ao silêncio com 
relação a si mesmo e ao outro; e à ampliação da percepção do corpo no 
ambiente (PCN, 1998).
2 Arquear as mãos 8 Girar a cintura e projetar 
a palma para o lado.
14 Flexionar a perna e girar 
o tronco.
3 Estender as palmas para 
cima
9 Rodar a cintura com as 
mãos nos rins.
15 Flexionar e esticar as 
pernas.
4 Expandir o peito 10 Abrir os braços e 
flexionar o tronco.
16 Tocar o joelho e levantar 
as palmas.
5 Despregar as asas 11 Estender as palmas para 
cima.
17 Abraçar o joelho contra 
o peito.
6 Levantar o braço de ferro 12 Tocar os pés com as 
mãos. 18 Passos marciais
Fonte: Lee (1997)
33
A apresentação inicial do tema à turma ocorreu na sala de aula 
com vídeos do YouTube2, no qual o professor Jaime Kuk, ensinava e 
praticava os 18 primeiros exercícios do Lian Gong. Após a visualização de 
cada movimento, os alunos eram incentivados a representar graficamente 
o movimento em seus cadernos tomando por base, também, os desenhos 
que a professora reproduzia no quadro. Esse material ajudaria na revisão 
do conteúdo em casa e, consequentemente, para as futuras avaliações 
das práticas de ensino. Informações extras sobre grupos musculares 
atuantes também foram dadas. Após a representação dos movimentos no 
caderno, os alunos dirigiram-se ao pátio para a prática coletiva da Terapia 
Anterior (12 primeiros movimentos), tendo, assim, maior percepção sobre 
a execução da ginástica. A apresentação em vídeo e produção dos últimos 
seis movimentos foram deixados para a aula seguinte por requererem um 
pouco mais de atenção e tempo de aprendizagem.
No momento da prática do Lian Gong no pátio da escola, pediu-
se aos alunos que formassem um círculo. Foi explicado novamente o 
que iriam realizar naquele momento e como deveriam tentar realizar 
os movimentos: sem esbarrar um no outro ou com conversas paralelas, 
concentrando-se no seu movimento e não no do colega, e respiração suave, 
de acordo com a concentração ou relaxamento da área alvo do exercício. 
Após perceber a concentração de todos no espaço, a professora dava início 
à música instrumental chinesa específica do Lian Gong e, depois de alguns 
instantes, começava a praticá-lo em ordem com toda a turma. Um pouco 
antes de praticar cada movimento, ela anunciava o nome deste. Atitudes-
chaves também eram comentadas durante a atividade, caso ela percebesse 
que algo estava saindo dos eixos, como, por exemplo, falta de foco por 
conta de conversa paralela ou uma postura errada. Uma caderneta com os 
nomes e desenhos ficava próximo, caso esquecesse algum detalhe prático. 
Ao fim do exercício, os primeiros feedbacks dos alunos surgiam. Diferentes 
sensações, sentimentos e vontades eram apontados. 
 Nas semanas seguintes, após a apresentação em classe dos 
últimos seis movimentos, a turma toda realizava a sequência da Terapia 
Anterior uma vez e depois era dividida em seis grupos menores com cinco 
componentes. Cada um destes subgrupos ficou responsável por apresentar 
(e lembrar ao restante dos colegas) uma sequência específica de seis 
2 Lian Gong em 18 terapias: 1ª Série - 1ª aula: Pescoço e ombros. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=y-PiRseHvVk>. Acesso em: 08 ago. 2019.
Lian Gong em 18 terapias: 1ª Série - 2ª aula: Costas e região lombar. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=r3hfwvuL3XM>. Acesso em: 08 ago. 2019.
Lian Gong em 18 terapias: 1ª Série - 3ª aula: Pernas e pés. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=S_ED9sQkhTA>. Acesso em: 08 ago. 2019.
34
movimentos do Lian Gong. A divisão foi feita dessa maneira: grupos nº 1 
e nº 2 apresentaram os exercícios para ombros e braços; grupos nº 3 e nº 
4, para costas e lombar; e grupos nº 5 e nº 6, para glúteos, pernas e pés. 
Essa divisão de funções foi feita por acreditar que seria mais fácil assimilar 
conjuntos menores de movimentos ao invés de todos os 18 de uma vez. 
Eram dados quinze minutos para a organização de cada subgrupo 
que, inclusive, poderia utilizar como auxílio os cadernos com os desenhos 
produzidos em sala. É importante salientar que a presença da professora 
durante esses momentos de construção mostrou-se fundamental para 
sanar alguma dúvida residual ou ajudar na própria (des)organização do 
grupo. Após esse tempo, cada dois conjuntos de alunos apresentavam seus 
movimentos para a professora, que ainda poderia intervir lembrando 
os nomes e posturas necessárias. Nas semanas seguintes, os grupos 
realizariam conjuntos de movimentos diferentes do anterior. 
Foi deixado claro para os alunos que no encontro nº 7 cada um 
dos seis grupos deveria apresentar o primeiro bloco completo do Lian 
Gong como forma de obter uma das três notas bimestrais, além da nota do 
caderno e da avaliação final escrita. Um esquemageral de como as aulas 
foram organizadas encontra-se no Quadro 2.
Até uma semana antes da avaliação prática do Lian Gong, a 
professora continuava a lembrar todos os nomes dos movimentos, 
realizando-os com todo o coletivo no início das práticas. 
Sempre que percebida alguma atitude que contrariasse o bom 
andamento da aula, a atividade era momentaneamente cessada, ocorrendo 
diálogo entre os presentes, a fim de entender o motivo pelo qual aquela situação 
ocorreu e o que poderíamos fazer para que aquilo não mais acontecesse.
Portanto, durante os oito encontros sobre Lian Gong era analisada 
a participação qualitativa na sala de aula e no pátio durante os momentos 
das práticas, a compreensão dos conteúdos conceituais via escrita e 
oralmente, e a prática dos conteúdos procedimentais e atitudinais bem 
como a frequência dos alunos nas aulas.
Quadro 2 - Esquema de organização das aulas
10/10
Encontro 1
Acolhida. Agenda. Chamada. Explicação das atividades avaliativas 
da etapa. Apresentação de vídeo com os 12 primeiros movimentos do 
primeiro bloco de exercícios do Lian Gong com elaboração de desenhos. 
Realização, no pátio, dos 18 movimentos do Lian Gong coletivamente. 
Apresentação de seis movimentos por grupos menores. Tarefa para casa: 
revisar o conteúdo do caderno e praticar os 12 primeiros movimentos do 
Lian Gong.
35
Ao longo das aulas, o Lian Gong era bem aceito pelos alunos. Num 
primeiro momento foi pensado na possibilidade de rechaço por eles, por ser 
algo bem distante do seu cotidiano e das suas inquietudes da adolescência. 
Sabemos que com o advento das mídias sociais e o imediatismo, muitas 
pessoas não conseguem parar, acalmar suas mentes e se concentrar em 
uma única ação. 
Um relato de um dos garotos da turma mostra-se digno de atenção. 
Ele nunca gostou de participar de esportes coletivos na escola ou em 
qualquer outro espaço, não sendo, portanto, tão entusiasta da Educação 
Física como os demais, porém comentou que aquele tinha sido o conteúdo 
que mais havia gostado de praticar durante todo o seu ensino fundamental. 
17/10
Encontro 2
Acolhida. Agenda. Chamada. Revisão dos últimos movimentos 
de Lian Gong vistos na aula anterior. Apresentação de vídeos do 
YouTube sobre os últimos seis movimentos do primeiro bloco de 
exercícios do Lian Gong e realização de desenhos representativos no 
caderno. Realização dos 18 movimentos do Lian Gong. Apresentação 
de seis movimentos por grupos menores. Tarefa para casa: revisar o 
conteúdo do caderno e praticar os 18 primeiros movimentos do Lian 
Gong. 
24/10
Encontro 3
Acolhida. Agenda. Chamada. Realização dos 18 movimentos do Lian 
Gong. Apresentação de seis movimentos por grupos menores. Tarefa 
para casa: revisar o conteúdo do caderno e praticar os 18 primeiros 
movimentos do Lian Gong. 
31/10
Encontro 4
Acolhida. Agenda. Chamada. Questionário de revisão para prova final 
escrita da próxima semana. Realização dos 18 movimentos do Lian 
Gong.
Tarefa para casa: revisar o conteúdo do caderno, responder 
questionário de revisão e praticar os 18 primeiros movimentos do 
Lian Gong.
07/11
Encontro 5
Acolhida. Agenda. Chamada. Visto avaliativo final nos cadernos. 
Correção do questionário de revisão. Realização dos 18 movimentos 
do Lian Gong. Tarefa para casa: estudar todo o conteúdo da etapa 
para avaliação bimestral na semana seguinte e praticar o Lian Gong.
14/11
Encontro 6
Acolhida. Agenda. Chamada. Avaliação final escrita.
Tarefa para casa: praticar o Lian Gong para avaliação prática das 
semanas seguintes.
21/11
Encontro 7
Acolhida. Agenda. Chamada. Ensaio geral do Lian Gong com toda a 
turma. Avaliações finais práticas em grupos com 5 alunos. 
Tarefa de casa: para aqueles que não realizaram a prova escrita, 
estudar para a segunda chamada da avaliação bimestral escrita.
28/11
Encontro 8
Acolhida. Agenda. Chamada. Recuperação paralela e segunda 
chamada da avaliação escrita e prática. Visto nos cadernos dos 
alunos que faltaram ao encontro 6. Correção da avaliação bimestral 
escrita em sala com os alunos.
36
Entendemos, assim, que incitamos nele a prática do Lian Gong como forma 
de lazer saudável. 
Como as atividades eram realizadas em grupo e havia 
constante diálogo entre todos, pudemos observar o desenvolvimento 
de cinco dimensões das competências socioemocionais como: a 
autogestão (determinação, organização, atenção seletiva, persistência 
e responsabilidade), o engajamento com os outros (iniciativa social e 
entusiasmo), a amabilidade (empatia, respeito, confiança), a resiliência 
emocional (autoconfiança, tolerância à frustração) e abertura ao novo 
(curiosidade para aprender) (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2019). 
Ao final dos oito encontros, podemos afirmar que os objetivos foram 
alcançados. Os alunos vivenciaram de forma satisfatória o Lian Gong e 
conheceram os seus benefícios bem como as suas próprias possibilidades 
corporais. Para muitos, num primeiro momento, aprender a sequência 
de 18 movimentos era bem difícil, mas, ao passar das práticas semanais 
e do trabalho em grupo, os alunos desenvolveram mais a autoconfiança, 
capacidades físicas e cognitivas, perseverando, assim, na busca de acertar 
o que era almejado. Portanto, temos consciência de que a prática do Lian 
Gong ampliou a percepção do corpo sensível do alunado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a 
Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: <http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf>. Acesso 
em: 08 ago. 2019.
________. Práticas Integrativas e Complementares (PICS): quais são e para 
que servem. Brasília, MS/Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.
saude.gov.br/saude-de-a-z/praticas-integrativas-e-complementares. Acesso 
em: 09 ago. 2019.
CIPRIANI, Juliana. Terapia chinesa oferecida no SUS leva 4 mil pessoas 
ao Independência. Revista eletrônica EM. 2017. 16 set.17. Disponível 
em:<https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/09/16/interna_
gerais,901109/terapia-chinesa-oferecida-no-sus-leva-4-mil-pessoas-ao-
independencia.shtml>. Acesso em: 08 ago. 2019.
INSTITUTO AYRTON SENNA. Competências Socioemocionais – material 
de discussão. Disponível em: <http://educacaosec21.org.br/wp-content/
uploads/2013/07/COMPET%C3%8ANCIAS-SOCIOEMOCIONAIS_
MATERIAL-DE-DISCUSS%C3%83O_IAS_v2.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2019.
LEE, Maria Lucia. Lian Gong em 18 Terapias – Forjando um corpo saudável. 
5 ed. São Paulo: Pensamento, 1997. 128 p.
37
“MEU PRIMEIRO LIVRO”: DA ESCRITA À ILUSTRAÇÃO - 
AS PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES NA PRODUÇÃO DE 
TEXTOS MULTIMODAIS
Andréa de Castro CIDRAK1
INTRODUÇÃO
Todo professor de Língua Portuguesa do fundamental II almeja que 
seus alunos se tornem, ao longo do tempo, leitores atentos e competentes 
produtores de textos. Para isso nos valemos da necessidade de se trabalhar com 
textos de linguagens e suportes variados, dentre eles os textos multimodais, 
isto é, textos que misturam diferentes linguagens, como a linguagem verbal 
e desenhos. O projeto apresentado, cujo objetivo central é ajudar no processo 
de proficiência dos alunos quanto à leitura e, principalmente, quanto à 
escrita, tem foco nesses dois aspectos. O desenvolvimento desse trabalho leva 
o aluno a escrever textos adequados às mais diversas situações, utilizando 
os mais variados gêneros, assim como também atenta para a realidade 
dinâmica da escola ao sugerir a interdisciplinaridade, considerando a teia de 
relações existentes entre os diversos campos do conhecimento, pois propõe 
um intercâmbio entre Língua Portuguesa e Artes, trabalhando, dessa forma, 
a multimodalidade dos textos.
 Para concepção deste trabalho levaram-se em consideração os 
estudos de Bakhtin (1997) sobre a finalidade dos textos e suas situações 
de uso; de Schneuwl e Dolz (2004) pela importância da abordagem e 
diversidade dos gêneros textuais em sala de aula. Barbosa (2012) igualmente 
contribuiu na construção de significados dos textos produzidos. O 
importante dessa prática foi o aluno perceber