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literatuia brasileira iii-120


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As mesmas ideias anteriores se repetem, com alguma variação, em "Poema-orelha", que serviu de 
orelha para o livro Poemas, de 1959. Orelha "por onde o poeta escuta / se dele falam mal / ou se o amam". 
Uma orelha mais de fala do que de escuta, segundo o poeta, que já havia publicado "oito livros velhos / e 
mais um livro novo / de um poeta inda mais velho / que a vida que viveu". O poeta transforma "notícias 
humanas, / simples estar-no-mundo / e brincos de palavras" em "vítreos alçapões", compartimentos 
cheios de poesia que podem ser vislumbrados pelo leitor atento. Foi tudo vivido? Foi tudo inventado? 
Mentira e verdade se misturam? Nada disso importa; só a verdade da poesia é que conta:
A orelha pouco explica
de cuidados terrenos;
e a poesia mais rica
é um sinal de menos.
"Oficina irritada" (Claro enigma,1951) contém uma proposta destruidora, corrosiva: a poesia vai fugir 
da própria poesia, e o poema que vai veiculá-la é um soneto, forma consagrada por séculos como canto de 
amor. Só que agora o canto é de desprazer, de antipatia, de impureza, diferente de tudo o que a poesia já 
propôs até então.
Essa parte se fecha com "Conclusão", que retoma a discussão sobre a essência da poesia. Ela não é 
amor, não é memória, não é outono. 
Que é poesia, o belo? Não é poesia,
e o que não é poesia não tem fala.
Nem o mistério em si nem velhos nomes
poesia são: coxa, fúria, cabala.
Onde há poesia então? Ela deve ser encontrada em outros mundos, não aqui. De que se formam 
nossos poemas? Onde? Ninguém responde, muito menos o poeta, um ressentido. Ninguém sabe.
8. NA PRAÇA DE CONVITES
Fonte [8]
O poeta incluiu nesta parte o que ele chamou de exercícios lúdicos, ou brincadeiras, jogos com as 
palavras. Há a brincadeira dos apitos, a discussão municipal, estadual e federal entre os poetas, os 
modernismos das palavras do mundo contemporâneo, que imitam nomes de produtos infalíveis para 
casar, separar, amar e copular.
Em "Áporo", um inseto perfura a terra até encontrar resistência do solo de minério enlaçado com 
raiz. O mistério enfim se resolve, e da terra brota uma orquídea sem simetria, sem geometria. A 
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