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1 Obstetrícia Maria José Barcelos GT6 – TRABALHO DE PARTO PRÉ-TERMO E ROTURA PREMATURA PRÉ- TERMO DAS MEMBRANAS TRABALHO DE PARTO PRÉ-TERMO Prematuridade: quando RN tem menos de 37 semanas completas. Prematuridade eletiva/induzida: decorrente de intercorrências obstétricas e/ou fetais que justifiquem a interrupção da gestação antes do termo. Prematuridade espontânea: decorrente do trabalho de parto prematuro ou ruptura prematura das membranas. Prematuridade extrema: entre 22 semanas e 27 semanas e 6 dias. Prematuridade precoce: até 33 semanas e 6 dias. Prematuridade tardia: entre 34 e 36 semanas e 6 dias. - Classificação do Mario Dias: Pré-termo moderado: 33-36 semanas Muito Pré-termo: 28-32 semanas incompletas Pré-termo extremo: <28 semanas Trabalho de parto pré-termo: presença de contrações uterinas regulares e modificações do colo uterino (tais como dilatação cervical >2cm e/ou apagamento cervical >80%) em paciente com IG < 37 semanas. - Ele pode ocorrer por múltiplas causas como: sobredistensão uterina, rotura prematura de membranas, alterações endócrinas que causem aumento da contratilidade uterina, placenta prévia, descolamento prematuro de placenta, incompetência cervical e infecções. Epidemiologia: Prematuridade ocorre em 6-10% dos nascimentos; é a principal causa de morbimortalidade perinatal (sendo que a chance de morte é 9x maior do que a de um RN a termo). Fatores de risco: história de prematuridade (principal), fatores anatômicos (uterinos: miomatose e malformações uterinas; cervicais: colo curto <25mm), sobredistensão uterina (gestação múltipla, macrossomia fetal, polidramnia), infecções sistêmicas e ISTs, drogas (tabaco, cocaína, álcool), estresse e ansiedade (podem cursar com alterações hormonais como liberação de ocitocina pela hipósise posterior, estimulando contrações uterinas). Complicações a curto prazo: Síndrome de desconforto respiratório, hemorragia intraventricular, enterocolite necrosante, sepse, retinopatia da prematuridade, hipertensão pulmonar, desequilíbrio hidroeletrolítico, anemia e hipoglicemia. 2 Obstetrícia Maria José Barcelos Complicações a longo prazo: displasia broncopulmonar, paralisia cerebral, cegueira, hipertensão arterial e aumento da resistência à insulina. ETIOPATOGENIA: É multifatorial. Inúmeros processos patológicos podem levar à ativação de uma via comum da parturição: infecção e inflamação, isquemia e hemorragia uterina do 1º ou 2º trimestre, hiperdistensão uterina, estresse materno e fetal, resposta imune a processos alérgicos, insuficiência cervical e doenças endócrinas que provoquem a suspensão da ação da progesterona (estrógeno fica superior a progesterona), alteração fetal (hipóxia liberando cortisol fetal). Levam ao amadurecimento cervical, contrações uterinas e/ou a ruptura de membranas. Infecções do trato genital desempenham papel importante na patogênese, pois ativam a via inflamatória, sendo que a magnitude da resposta inflamatória depende da resposta imune materna e fetal, virulência bacteriana e da quantidade de bactérias invasoras. Obs: outras infecções que causam inflamação sistêmica também podem ativar essa vida, como: pneumonia, pielonefrite, doença periodontal, peritonite. Obs: a integridade das membranas não exclui a possibilidade de invasão bacteriana intra-amniótica. DIAGNÓSTICO: deve-se fazer diferenciação com falso trabalho de parto. - Clínico: Queixas de dor Contrações regulares (4 contrações a cada 20 minutos – trabalho de parto ativo) para saber se é trabalho de parto pré-termo o importante mesmo é se as contrações são capazes de modificar o colo uterino. Dilatação cervical de pelo menos 3cm Apagamento cervical e progressão das mudanças do colo uterino (pelo menos 50% de apagamento) - USG transvaginal: pode auxiliar na medida do comprimento cervical, não faz diagnóstico só auxilia. OBS: também é usado na profilaxia. - Detecção de fibronectina fetal em secreção cervico-vaginal: também pode auxiliar. Feita nos casos de suspeita, o valor negativo significa que paciente não está. Quando está positiva, tem chance aumentada de ter parto nos próximos 7 dias, mas 3 Obstetrícia Maria José Barcelos Obs: presença de teste fibronectina positivo + comprimento do colo com menos de 30mm, com membranas íntegras e ausência de sangramento representa risco de parto em 48h de 26%. Prevenção: alguns fatores de risco permitem a prevenção desta intercorrência - Cessação do álcool, cigarro e drogas. - Repouso: no caso de gestação gemelar. - Progesterona via vaginal: casos de colo curto (<25mm) e/ou história de prematuridade anterior ou ainda nas pacientes submetidas a cerclagem prévia ou de emergência. Dose: 200mg via vaginal ao se deitar. - Tratamento de infecções vaginais, urinárias e bacteriúria assintomática. - Cerclagem uterina: nos casos indicados – incontinência istmo cervical. Conduta: Depende da idade gestacional. 34 semanas ou mais: parto conduzido normalmente (sem tocólise ou corticoterapia) com profilaxia para estreptococos do grupo B. Entre 24-34 semanas: o feto já é viável porém ainda não tem maturação pulmonar suficiente. Nesses casos, o parto é retardado por meio da tocólise enquanto são administrados corticoides. - TOCÓLISE Indicações: IG entre 25-34 semanas, em período de latência de trabalho de parto e esvaecimento do colo não pronunciado. Contraindicações da inibição: IG >34 semanas, óbito fetal, corioamnionite, malformações fetais incompatíveis com a vida, CIUR, rotura prematura de membranas ovulares, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia sangrante, doenças hipertensivas gestacionais graves, DM instável, cardiopatias, anemia falciforme e hipertireoidismo descompensado. Tipos de tocolíticos: - Terbutalina: Agonistas β2 agem nos receptores uterinos ativando a adenilciclase, que diminui o cálcio livre e a atividade da miosinocinase, inibindo a contração muscular e o trabalho de parto. Consegue prolongar a gestação por 48h para realização do corticoide. Obs: deve ser evitada por apresentar alto risco de hipotensão, isquemia miocárdica e edema agudo de pulmão e gestação gemelar. - Indometacina: é um anti-inflamatório mas tem efeito tocolítico potente. É contraindicado nos casos de disfunção renal ou hepática materna, úlcera péptica ativa, oligodramnia, 4 Obstetrícia Maria José Barcelos IG >32 semanas por mais de 48h por risco de fechamento do ducto arterioso, hipertensão pulmonar fetal, oligodramnia – diminuição da função renal fetal. - Bloqueador de canal de cálcio: nifedipino – são os mais utilizados. Contraindicado nos casos de hipotensão e ICC. - Bloqueador do receptor de ocitocina - Atozibana: é o mais específico mais inibir contrações uterinas, pode inibir trabalhos de parto que não deveriam ser inibidos (ex: infecção intrauterina), mas são de alto custo. - CORTICOTERAPIA: para gestantes com risco de parto prematuro com idade gestacional entre 24 e 34 semanas. O fármaco de escolha é a betametasona, na dose de 12mg IM a cada 24 horas, no total de duas doses. Contraindicações: infecção materna ou DM descompensado. - Profilaxia para estreptococos do grupo B: indicada em todos os casos de trabalho de parto pré-termo, a menos que tenha ocorrido rastreio negativo há no máximo 5 semanas. Realizado com penicilina cristalina, com dose de ataque de 5 milhões de UI EV e 2 milhões e meio a cada 4 horas até o parto. Pacientes alérgicas a penicilina podem receber cefazolina. Quando não tiver o resultado: recomenda-se antibioticoprofilaxia quando existir algum dos fatores de risco abaixo: • Trabalho de parto ou ruptura de membranas em gestação com menos de 37 semanas. • Ruptura das membranas ovulares há 18 horas ou mais • Temperatura materna intraparto maior ou igual a 38º C. • História de sepse neonatal precoce - NEUROPROTEÇÃO: realizada com sulfato de magnésio para prevenção de paralisia cerebral do prematuro. Está indicada em IG <32 semanas e risco de parto iminente em 24h. Obs: só deve ser iniciado com a interrupção dos tocolíticos, além disso, se o parto não é iminente, seu uso deve ser descontinuado, não devendo ser utilizado por mais de 24 horas. VIA DE PARTO: - Parto vaginal é permitido para prematuro com apresentação cefálica, desde que evolução espontânea e condições maternas sejam boas. - Cesárea: é preferível do que o parto induzido 5 Obstetrícia Maria José Barcelos ROTURA PREMATURA PRÉ-TERMO DAS MEMBRANAS Conceitos: - Rotura prematura das membranas ovulares: ocorrência de rotura espontânea das membranas coriônica e amniótica antes do início do trabalho de parto, independentemente da idade gestacional. - RPMO pré-termo: quando ocorre antes de 37 semanas. - RPMO <20 semanas: abortamento inevitável. - Período de latência: intervalo entre a rotura e o início do trabalho de parto. Considerado prolongado se superior há 24h. - Amniorrexe: ruptura das membranas ovulares e amnióticas durante o trabalho de parto. Fatores de risco: tabagismo, trabalho de parto pré-termo ou RPM prévios, sangramento genital, insuficiência cervical, vaginose bacteriana, útero distendido, procedimentos invasivos (biópsia de vilo corial, amniocentese, cordocentese), deficiências nutricionais, doenças maternas (como deficiência de alfa-1-antitripsina) Etiologia: - Principal causa são infecções atividade inflamatória nas membranas: infecção ascendente da flora vaginal bactérias produzem enzimas (proteases, colagenases e elastases) e aumento de prostaglandinas, que atuam sobre as membranas, provocam alterações cervicais, aumento da contratilidade uterina e levam ao se enfraquecimento e consequente ruptura das membranas. Os principais agentes são: estreptococos do grupo B, Gardnarella vaginalis, Neisseiria gonorrhoeae, Escherichia coli e enterococos. - Iatrogenia: decorrente de procedimento invasivos como amniocentese. - Outros fatores que alteram a estrutura das membranas: diminuição do fosfatidilinosterol, redução da progresterona, sobredistensão uterina, incompetência cervical, etc. Diagnóstico: anamnese e exame físico estabelecem diagnóstico em até 90% dos casos. - Anamnese: paciente relata perda de líquido claro. Caso a causa for infecção, podem estar presente febre, taquicardia e sintomas sistêmicos. - Exame genito-urinário: saída de líquido pelos genitais externos, pelos pubianos umedecidos e presença de verniz. Também pode estar presente redução do volume abdominal. - Exame especular: observação da saída de liquido pelo orifício externo do colo, além de estimar apagamento e dilatação. 6 Obstetrícia Maria José Barcelos - Toque: deve ser realizado minimamente possível devido a risco de infecção. Métodos laboratoriais: nos casos de dúvida diagnóstica. - Cristalização do muco cervical: quando deixado secar sob uma lamina, o LA se cristaliza (chamado de padrão aboriforme), perceptível a microscopia. Sensibilidade de 85-98%. - Determinação pH vaginal: pH vaginal é ácido (5,2-6) enquanto do LA varia de 7-7,7. Achados de pH entre 6-8,1 indicam LA na vagina. - Injeção de corantes na cavidade amniótica por amniocentese: se as membranas estiverem rotas, percebe-se a saída desses corantes pelos genitais. - Detecção da microglobulina placentária do tipo alfa 1 (AMNISURE): é uma proteína expressa por células deciduais que não é normalmente encontrada na secreção vaginal. É um bom teste, porém de alto custo e baixa disponibilidade detecta a alfa-microglobulina-1 de origem placentária (PAMG-1). - Ultrassonografia: deve ser sempre realizada quando não se tem certeza diagnóstica ou quando opta-se por conduta conservadora. Seus principais objetivos são confirmar a idade gestacional e o peso fetal estimado e verificar o volume de LA verificando o Índice de Líquido Amniótico (quem tem uma curva de percentil de normalidade de acordo com a idade gestacional). Obs: LA normal não exclui diagnóstico, assim como oligodramnia não confirma pois pode estar presente em outras situações. Complicações maternas: infecção intrauterina, sepse e morte materna. Complicações fetais: infecção neonatal, sepse, complicações da prematuridade, hipoplasia pulmonar, DPP, doença da membrana hialina, deformações fetais, prolapso de cordão. Conduta: também depende da IG e da presença de complicações. Cuidados gerais: Internação Pesquisa de infecção materna (urina rotina, urocultura, hemograma e proteína C reativa) está recomendada em todos os casos Cálculo preciso da IG e avaliação da vitalidade fetal Avaliar presença de trabalho de parto prematuro Rastreamento da infecção pelo estreptococo do grupo B 7 Obstetrícia Maria José Barcelos • Presença de corioamniotonite: interrupção do parto independentemente da IG. - Diagnóstico é feito na presença de febre e pelo menos dois dos seguintes critérios: taquicardia materna e fetal, útero irritável, saída de secreção purulenta pelo orifício externo do colo do útero, leucocitose >15.0000, diminuição abrupta do LA, diminuição dos movimentos fetais, aumento >20% da PCR. - Parto vaginal por via baixa caso não haja contraindicações. - Antibioticoterapia com ampicilina + gentamicina • Gestações >34 semanas: – Indução do parto. – Profilaxia para SGB. • Gestações entre 24 e 34 semanas: – Antibioticoterapia (incluindo profilaxia para SGB). ajuda a aumentar o período de latência e diminui morbimortalidade materna e fetal ampicilina 2g de 6/6hrs por 48hrs + azitromicina e depois passa para amoxicilina. – Ultrassonografia. – Corticoterapia em caso de não haver sinais de infecção materna e fetal. – Indução do parto após corticoterapia. – Em caso de sinais de infecção, indução imediata do parto. • Gestações <24 semanas: nesse caso o prognóstico perinatal é bastante ruim, além dos riscos maternos associados como corioamnionite, sepse e até óbito. Diante disso, pode-se oferecer a família a opção de interrupção da gestação. Também faz antibioticoterapia profilática. Prevenção em gestações subsequentes: cessação tabagismo, tratamento da vaginose bacteriana.