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TÍTULO 
DO RESUMO
DESORDENS DO 
REPARO E 
REPLICAÇÃO 
DO DNA
CURSO: GENÉTICA CLÍNICA
CONTEÚDO: NATHALIA LESTARD
CURADORIA: FABRÍCIO MONTALVÃO
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4 DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
1 INTRODUÇÃO
A célula mantém processos rigorosos para garantir a alta fidelidade da 
informação genética entre as diferentes gerações da célula. Todavia, ape-
sar de todo esforço, mutações vão acontecer, mas não podem se tornar 
permanentes, uma vez que a sobrevivência em curto prazo da célula e do 
indivíduo depende da estabilidade genética.
As mutações podem ocorrer tanto por estímulos externos quanto por fatores 
internos à própria célula. Os fatores que podem levar a erros na estrutura 
do ácido desoxirribonucleico (DNA) são:
 ■ erros na replicação: por mais que a célula tenha mecanismos de controle, 
erros podem ocorrer;
 ■ agentes físicos: como a radiação ultravioleta do sol, que pode produzir 
uma ligação covalente entre duas pirimidinas adjacentes no DNA, for-
mando, por exemplo, dímeros de timina;
 ■ agentes químicos: podem causar lesões, como os metabólitos reativos 
produzidos na própria célula, incluindo as formas reativas do oxigênio;
 ■ lesões espontâneas: são aquelas que ocorrem mesmo em condições 
fisiológicas.
Esses erros espontâneos (FIGURA 1) podem acontecer em decorrência de 
reações químicas espontâneas, como a chamada depurinação, que ocorre 
devido à hidrólise das ligações N-glicosil da desoxirribose. Como resultado, 
a dupla fita do DNA perde a base nitrogenada, restando apenas o açúcar e o 
fosfato na cadeia principal. Essa reação é responsável pela perda de milhares 
de purinas (adeninas e guaninas) todos os dias nas células.
5DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
FIGURA 1
Figura 1: Lesões espontâneas no DNA. Depurinação e desaminação.
De forma parecida, a molécula de DNA está sujeita à reação de desaminação 
espontânea de quase todas as bases. O resultado depende de cada base da 
sequência do DNA que sofre a reação:
 ■ citosina é convertida em uracila;
 ■ adenina é convertida em hipoxantina;
 ■ guanina é convertida em xantina;
 ■ timina não sofre desaminação.
É importante notar que as bases resultantes da desaminação são bases não 
naturais do DNA, o que facilita o reconhecimento de que há algo errado na 
fita do DNA. Assim, isso facilita a correção.
Por toda essa vulnerabilidade a que o DNA está exposto, o sistema de reparo 
se faz essencial, garantindo que, mesmo que esses erros aconteçam, eles 
possam ser corrigidos e não se tornem permanentes. 
2 REPARO
A manutenção da estabilidade genética de um organismo necessária à so-
brevivência requer não apenas um mecanismo extremamente preciso para 
replicar o DNA, mas também mecanismos para corrigir as diversas lesões 
acidentais que podem acontecer no DNA.
O processo de replicação é semiconservativo do DNA, ou seja, as fitas são 
usadas como moldes para criação de fitas novas e formam pares com elas 
6 DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
ao final. Tal processo envolve diversas proteínas como: helicase, primase, 
polimerase, entre outras.
Apesar dessa complexidade, a replicação do DNA é um processo extrema-
mente preciso. Inclusive, essa precisão é mais alta do que seria esperado 
matematicamente para um processo de replicação baseado em comple-
mentaridade de bases.
A fidelidade da cópia do DNA durante a replicação é tão grande que apenas 
cerca de um erro é cometido para cada 1010 nucleotídeos copiados. 
Para manter essa fidelidade, o processo de replicação dispõe de uma atividade 
de correção, a qual é desempenhada pela DNA polimerase III. Dessa forma, 
quando um nucleotídeo incorreto é covalentemente adicionado à cadeia 
crescente, a DNA polimerase é capaz de removê-lo ao realizar a atividade 
de correção exonucleotídica, que é desempenhada no sentido oposto ao 
da replicação, portanto no sentido 3’-5’.
No entanto, as células não contam somente com essa forma de corrigir os 
erros que ocorrem na sequência do DNA, havendo diversas outras vias de 
reparo como: mau pareamento de bases, excisão de nucleotídeos, excisão 
de bases e correção de quebra da dupla fita.
No entanto, se houver falhas no processo de replicação e/ou no de repa-
ro o cenário torna-se muito perigoso e potencialmente permissivo para o 
surgimento de doenças. Entre as principais estão: xeroderma pigmentoso, 
ataxia-telangectasia, síndrome de Bloom, anemia de Fanconi, síndrome de 
Cockayne e câncer.
3 XERODERMA PIGMENTOSO
O xeroderma pigmentoso (XP) é um distúrbio autossômico recessivo do 
reparo do DNA, geneticamente heterogêneo, pan-étnico e que causa uma 
acentuada sensibilidade à radiação ultravioleta (UV).
O XP é causado por mutações que afetam, principalmente, a via de reparo 
global do genoma por excisão de nucleotídeos. Essa via é a responsável pela 
correção de lesões volumosas na dupla-hélice de DNA, como os dímeros 
de pirimidina.
Nessa via, um enorme complexo multienzimático verifica o DNA à procura 
de distorções na dupla-hélice, em vez de uma alteração específica de bases. 
Uma vez encontrada uma lesão, a cadeia fosfodiéster da fita anormal é clivada 
nos dois lados da distorção, e a DNA-helicase remove o oligonucleotídeo 
de fita simples contendo a lesão. O intervalo produzido na hélice de DNA 
é corrigido pela DNA-polimerase e pela DNA-ligase.
7DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
No caso do xeroderma pigmentoso, é afetada uma endonuclease responsável 
pela primeira etapa desse reparo e, assim, impede o reparo direto causado 
pela formação de dímeros de pirimidina provenientes da exposição à luz 
solar. Com isso, o indivíduo tem aumento do risco do desenvolvimento de 
tumores malignos de pele.
Entretanto, não só os homozigotos, como esperado para uma condição 
recessiva, terão prejuízo. Os heterozigotos para essa condição também 
têm apresentado falhas no processo de reparo e frente a uma exposição 
substancial à luz solar podem sobrecarregar o sistema e predispor ao câncer 
de pele.
Há pelo menos oito tipos de xeroderma pigmentoso, sendo os mais fre-
quentes XPA e XPC. Os de ocorrência intermediária XPD e XPF; os demais 
são mais raros. Os sintomas principais incluem, comumente, facilidade para 
queimaduras de sol, fotossensibilidade aguda, sardas, fotofobia, envelhe-
cimento precoce e neoplasias. Cerca de 90% dos carcinomas ocorrem em 
sítios de maior exposição ao UV – face, pescoço, cabeça e ponta da língua.
As neoplasias cutâneas de pacientes com essa doença possuem um nível 
mais alto de mutações de oncogenes e genes supressores de tumor do que 
os tumores da população normal, e tais mutações parecem ser, altamente, 
específicas do UV.
Aproximadamente 18% dos pacientes sofrem degeneração neuronal pro-
gressiva. As características incluem surdez sensorioneuronal, deficiência 
intelectual, espasticidade, entre outras. A gravidade dos sintomas neu-
rológicos é, normalmente, proporcional à gravidade do déficit no reparo 
por excisão de nucleotídeos. A neurodegeneração pode resultar de uma 
incapacidade de reparar o DNA danificado por radicais livres de oxigênio 
gerados endogenamente. 
A confirmação do diagnóstico do xeroderma pigmentoso baseia-se em aná-
lises funcionais do reparo do DNA e sensibilidade à UV. Essas análises são, 
normalmente, realizadas em culturas de fibroblastos da pele. A confirmação 
do diagnóstico por meio da identificação de mutações em um gene associado 
ao xeroderma pigmentoso está clinicamente disponível para alguns dos genes 
associados com a condição. No entanto, a incapacidade de identificar uma 
mutação causadora em um desses genes não exclui essa condição genética 
como um diagnóstico clínico. 
O tratamento desses pacientes inclui evitar a exposição solar, usar roupas 
protetoras, protetores solares físicos e químicos, e vigilância cuidadosa para 
neoplasias cutâneas malignas e sua excisão. Nenhum tratamento curativo 
está disponível atualmente. 
8 DESORDENSDO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
4 ATAXIA
Ataxia-telangiectasia (AT) é uma doença autossômica recessiva e também 
pode ser chamada de síndrome de Louis-Bar.
Nessa condição genética, as mutações acometem o gene da proteína 
ataxia-telangiectasia mutada (ATM). Estas são proteínas quinases que, em 
condições normais, percebem as lesões no DNA e aumentam a atividade 
das enzimas de reparo adequadas. 
A ATM está envolvida na geração de sinais intracelulares que soam como 
alarme em resposta a diversos tipos de lesões no DNA e promovem a fos-
forilação de uma série de outras proteínas que estão envolvidas tanto com 
reparo quanto com o avanço do ciclo celular. 
A i m p o r t â n c i a d e s s e m e c a n i s m o é reve l a -
da pelo fenótipo de indivíduos que nasceram com 
defeitos nos genes que codificam a proteína ATM, tendo a doença ataxia-telan-
giectasia. Essa doença apresenta como principais manifestações fenotípicas:
 ■ perda precoce e progressiva do equilíbrio, por isso o nome ataxia;
 ■ lesões vasculares causadas pela dilatação capilar, principalmente, na pele 
e conjuntiva ocular, por isso o nome telangiectasia; a telangiectasia pode 
ser mais visível em áreas expostas ao Sol;
 ■ imunodeficiência com infecções respiratórias crônicas;
 ■ envelhecimento prematuro; 
 ■ predisposição a câncer como leucemia e linfoma; 
 ■ radiossensibilidade: as células desses pacientes apresentam acentuada 
sensibilidade à radiação, por isso, inclusive, não se usa radiação para 
tratamento, pois esta pode ser fatal.
Existem casos mais leves da ataxia-telangiectasia e esses casos podem 
ocorrer devido a mutações diferentes nos dois alelos do gene, em que 
uma mutação é mais branda do que a outra, e com isso parece haver uma 
ação residual da ATM nas células. Consequentemente, as pessoas com 
essa condição apresentam menos instabilidade cromossômica e menor 
sensibilidade à radiação. Além do fato de não costumarem apresentar nem 
a telangiectasia nem a imunodeficiência.
Os indivíduos com essa variante mais leve tendem a apresentar maior lon-
gevidade em relação à maioria dos pacientes com ataxia-telangiectasia na 
forma clássica. Ao contrário dos casos clássicos, em que o início é precoce 
e na infância, essa variante mais leve pode ter início na vida adulta.
Na forma clássica os indivíduos, atualmente, apresentam uma expectativa 
de vida um pouco maior do que antes, estando em torno de 25 anos. O 
diagnóstico pode não ser simples principalmente quando se trata da va-
riante mais branda. No entanto, alguns sinais e sintomas aliados a achados 
laboratoriais podem ajudar:
9DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
 ■ aumento de alfafetoproteína, principalmente, depois dos 2 anos de idade;
 ■ redução de imunoglobulinas (IgA, IgG, etc.);
 ■ linfopenia;
 ■ ataxia cerebelar detectada por ressonância magnética;
 ■ quebras espontâneas na fita do DNA.
5 DOENÇAS
A síndrome de Bloom é uma doença autossômica recessiva que apresenta 
como principais manifestações clínicas:
 ■ baixa estatura: decorrente da deficiência de crescimento pré e pós-natal; 
 ■ fotossensibilidade;
 ■ dilatação de capilares em forma de aranha nas bochechas; 
 ■ pigmentação alterada: pele hipopigmentada e hiperpigmentada;
 ■ imunidade comprometida com consequentes infecções;
 ■ resistência à insulina: risco aumentado para diabetes;
 ■ predisposição à malignização. 
A causa da síndrome é a perda de atividade do gene BML, que codifica 
uma DNA helicase, que são as proteínas responsáveis pelo desenrolamento 
da dupla hélice de DNA durante a replicação. A falta do produto do gene 
BML parece desestabilizar outras enzimas que participam da replicação, 
do reparo e da recombinação homóloga.
Não por acaso, a alteração cromossômica mais comum dessa síndrome é o 
pareamento parcial entre cromossomos homólogos na mitose, o que faz com 
que, nessa síndrome, ocorra dez vezes mais permutação entre cromátides 
do que o esperado. Os tratamentos estão focados nas anormalidades da 
pele, problemas de crescimento, nutrição e endocrinológicos. 
O maior risco de câncer é para o desenvolvimento de câncer gastrintestinal, 
em especial do cólon. Tal fato requer uma atenção especial, pois tratamento 
com radiação e com fármacos alquilantes podem aumentar o risco secun-
dário de malignidades. Por isso, essas abordagens devem ser evitadas ao 
máximo. A anemia de Fanconi também é conhecida como pancitopenia de 
Fanconi e pode ser de herança ligada ao X, mas, na maioria dos casos, é 
autossômica recessiva. 
Muitos genes podem ser afetados e originar a anemia de Fanconi, inclusive 
há genes que estão envolvidos com a predisposição aumentada ao câncer 
de mama breast cancer gene 2 (BRCA2) e com a maquinaria de reparo (ra-
diation sensitive 51 [RAD 51], sialylated lewis X4 [SLX4] e partner and localizer 
of breast cancer 2 [PALB2]).
Essa doença apresenta como principais manifestações fenotípicas:
 ■ deficiência de crescimento resultando em baixa estatura;
10 DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
 ■ microcefalia; 
 ■ anemia; 
 ■ leucopenia;
 ■ trombocitopenia; 
 ■ hiperpigmentação da pele;
 ■ más formações cardíacas e renais; 
 ■ predisposição aumentada para desenvolvimento de câncer, em especial 
leucemia e linfoma.
Atualmente, é considerada a causa hereditária mais comum de falência da 
medula óssea. Os pacientes possuem risco aumentado para tumores tanto 
hematológicos como para sólidos.
6 SÍNDROME E CÂNCER
A síndrome de Cockayne é um distúrbio raro, autossômico recessivo. Nessa 
síndrome, o alvo é a via de reparo acoplada à transcrição e, assim, o próprio 
processo de transcrição também é afetado.
Em células com funcionamento adequado, ocorre o acoplamento do ácido 
ribonucleico (RNA)-polimerase (enzima que transcreve DNA em RNA) à 
via de reparo por excisão de nucleotídeos. Com isso, a RNA-polimerase 
para nas lesões de DNA e, por meio de proteínas acopladoras, direciona a 
maquinaria de reparo a esses sítios, permitindo que a lesão seja corrigida 
antes da transcrição ocorrer.
Os principais sintomas observ ados nessa condição são:
 ■ nanismo;
 ■ surdez;
 ■ fotossensibilidade;
 ■ disfunção neurológica. 
Além disso, a instabilidade genômica é uma das principais características 
das células de câncer. Isso aumenta a incidência de mutações, e o acúmulo 
dessas é que resulta na malignização celular. Por isso, muitas das condições 
genéticas que estão relacionadas com falhas nos sistemas de reparo e replica-
ção do DNA apresentam alta predisposição para desenvolvimento de câncer.
Todavia, há alguns casos diretamente relacionados com a falha desses 
processos, como é o caso do câncer de mama, de ovário e o de colorretal. 
Embora diversos genes em que mutações causam formas mendelianas al-
tamente penetrantes de câncer de mama tenham sido descobertos a partir 
de estudos em famílias, os dois genes responsáveis pela maioria de todos 
os cânceres de mama hereditários são BRCA1 e BRCA2.
Mutações no BRCA1 e BRCA2 também estão associadas a um aumento 
significativo no risco de câncer de ovário e das trompas de falópio em mu-
11DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
lheres heterozigotas. Além disso, mutações em BRCA2 e, em uma extensão 
menor, em BRCA1, também são responsáveis por 10 a 20% de todos os 
cânceres de mama em homens e aumentam o risco de câncer de mama em 
homens em 10 a 60 vezes acima do 0,1% observado entre os homens da 
população geral durante a vida.
Além do risco aumentado de câncer ovariano e câncer de mama, mutações 
no BRCA1 conferem risco aumentado para câncer de próstata e cólon. Já 
mutações no BRCA2 conferem risco para câncer de pâncreas, ducto biliar, 
vesícula biliar e câncer de mama masculino.
Os produtos dos genes BRCA1 e BRCA2 são proteínas nucleares contidas 
dentro do mesmo complexo de multiproteínas. Esse complexo foi implicado 
na resposta celular à quebra de DNA de dupla-fita, como ocorre normal-
mente, por exemplo, durante a recombinação homóloga ou anormalmente 
como um resultado de dano ao DNA. 
A proteína BRCA1regula uma etapa inicial do processamento de extremi-
dades quebradas, mas, caso ela esteja ausente, as extremidades quebradas 
não são processadas corretamente para a recombinação homóloga e serão 
corrigidas com erros pela via de ligação de extremidades não homólogas.
A proteína BRCA2 liga-se à RAD51 evitando sua polimerização no DNA e 
a mantém assim, na forma inativa, até que a RAD51 seja necessária para 
o processo. Com isso, em cenário de normalidade, no caso de uma lesão 
ao DNA, o BRCA2 auxilia no rápido recrutamento da proteína RAD51 aos 
locais das lesões e, uma vez posicionada, auxilia a liberá-la da sua forma 
ativa em DNA de fita simples.
Apesar da expressão ubíqua de BRCA1 e BRCA2, a mutação nesses genes 
predispõe, predominantemente, a neoplasias na mama e no ovário. 
A perda da função de BRCA1 ou de BRCA2, provavelmente, permite o acúmulo 
de outras mutações que são diretamente responsáveis pela neoplasia. De 
modo compatível com essa hipótese, carcinomas de mama e de ovário em 
pacientes com mutações nesses genes possuem instabilidade cromossômica 
e mutações frequentes em outros genes supressores de tumor.
A identificação de uma mutação germinativa em BRCA1 ou BRCA2 em 
uma paciente com câncer de mama é de grande importância para o acon-
selhamento genético e para o manejo do risco de câncer para os filhos da 
paciente, irmãos e outros parentes. Fato esse que pode ser investigado com 
auxílio de um teste mutação-específico no restante da família.
No entanto, o câncer de mama pode ter outras causas que não somente 
a genética, como devido a fatores ambientais e hormonais. Por isso, re-
conhecer características-chaves pode auxiliar na identificação dos casos 
de câncer hereditário. Os fatores de risco para câncer de mama e ovário 
hereditários são:
12 DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
 ■ casos com início precoce incomum;
 ■ casos bilaterais;
 ■ casos com câncer de mama em homem;
 ■ familiares com câncer de mama e ovário; risco ainda maior quando o 
parente é de primeiro grau e histórico de ocorrência até os 40 anos.
As recomendações atuais para mulheres com uma mutação em BRCA1 
ou BRCA2 incluem exames frequentes na mama e no ovário, bem como 
estudos por imagem. A mastectomia bilateral total pode reduzir o risco de 
câncer de mama em mais de 90%, embora o risco não seja abolido, pois 
sempre permanece algum tecido mamário. Do mesmo modo, a salpingo-
-ooforectomia (retirada das trompas e ovário) bilateral pode reduzir o risco 
de câncer ovariano em mais de 90%. 
O tratamento para homens em risco inclui exames de próstata e de mama 
frequentes e exames laboratoriais. Em famílias com mutações conhecidas, 
a análise molecular pode ser empregada na vigilância ou profilaxia nos 
membros com uma mutação. 
O câncer de mama masculino é cem vezes menos comum do que o câncer 
de mama feminino. Porém, quando ocorre, mutações hereditárias nos genes 
de câncer de mama hereditário, particularmente o BRCA2, aumentam as 
chances de ocorrência em 16%.
7 CÂNCER
O câncer colorretal, uma condição maligna das células epiteliais do cólon e 
reto, é uma das formas mais comuns de câncer. É responsável por, aproxi-
madamente, 10 a 15% de todos os tipos câncer.
A maior parte dos casos é esporádica, mas uma pequena proporção de casos 
de câncer de colo é familiar, entre os quais encontram-se duas condições 
autossômicas dominantes: polipose adenomatosa familiar (PAF) e a síndrome 
de Lynch (SL). O foco aqui é a síndrome de Lynch por sua causa molecular. 
Aproximadamente 2 a 4% dos casos de câncer de cólon são atribuíveis a 
essa síndrome.
A síndrome de Lynch resulta de mutações de perda de função de genes 
de reparo do DNA distintos que codificam proteínas do reparo de mau 
pareamento (mismatch repair).
O reparo de pareamento incorreto é realizado, em condições normais, por 
proteínas mostradas que se ligam, especificamente, a mau pareamento e 
verificam o DNA adjacente procurando uma quebra. Uma vez encontrada 
uma quebra, uma das proteínas do complexo multiproteico promove a degra-
dação da fita com a quebra até o pareamento incorreto. Como as falhas são 
quase exclusivamente confinadas às fitas recém-sintetizadas em eucariotos, 
os erros de replicação são removidos seletivamente. 
13DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
Os genes envolvidos no desenvolvimento desse quadro são MLH1, MSH2, 
MSH6 e PMS2, pois esses são os responsáveis por codificarem proteínas do 
reparo de mau pareamento. Embora todos esses quatro genes tenham sido 
implicados na síndrome de Lynch em diferentes famílias, o MLH1 e o MSH2 
juntos são responsáveis pela vasta maioria dos casos, enquanto os outros 
têm sido encontrados somente em alguns pacientes. Frequentemente, são 
associados a um menor grau de deficiência de reparo de mau pareamento 
e com uma penetrância mais baixa. 
 Assim como os genes BRCA1 e BRCA2, os genes de reparo de mau pareamento 
são genes supressores de tumor envolvidos na manutenção da integridade 
do genoma. 
A perda de função dos genes de reparo de mau pareamento levará a mutações 
somáticas em outros genes condutores. O primeiro é o antigen-presenting 
cell (APC), que tem papel crucial na polipose adenomatosa familiar, e o 
segundo é o gene transforming growth factor beta receptor 2 (TGFBR2), no 
qual mutações também causam uma síndrome de câncer de colo hereditário 
autossômica dominante.
Embora os pacientes com síndrome de Lynch desenvolvam pólipos seme-
lhantes em número aos da população em geral, eles os desenvolvem em 
idades mais jovens. A idade média no momento do diagnóstico com um 
adenocarcinoma colorretal é inferior aos 50 anos de idade, ou seja, 10 a 
15 anos mais jovem do que a população em geral. 
Pacientes com a síndrome de Lynch e uma reconhecida mutação em MLH1 
ou MSH2 têm um risco de 80%, durante a vida, de desenvolver o câncer 
colorretal. Pacientes com a síndrome de Lynch não têm características 
físicas distintivas. 
Os critérios mínimos para considerar a síndrome de Lynch são a ocorrência 
de câncer colorretal ou outro tumor associado à síndrome de Lynch em três 
membros de uma família, pelo menos, dois dos quais são parentes de 
primeiro grau, através de duas ou mais gerações, e o desenvolvimento de 
câncer colorretal em pelo menos um indivíduo afetado antes dos 50 anos.
A síndrome de Lynch é fator de risco para síndrome de reparo de mau pareamento 
constitucional e resulta em um risco acentuadamente elevado para muitos cânceres 
durante a infância, incluindo o câncer colorretal e o câncer do intestino 
delgado, bem como para leucemia na infância e vários tipos de tumores 
cerebrais na infância. 
O processo investigativo do diagnóstico tem que vir acompanhado de uma 
boa análise do quadro clínico. Entre os achados clínicos desse contexto, 
pode-se destacar: a presença de múltiplos pólipos, idade de manifestação 
precoce (antes de 50 anos de idade), a localização do tumor em porções 
mais proximais do cólon, a presença de um segundo tumor ou história de 
câncer colorretal, uma história familiar de cânceres colorretais ou outros 
14 DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
cânceres (câncer endometrial, particularmente) e câncer em parentes com 
menos de 50 anos de idade. Todos esses são achados que aumentam a 
probabilidade de um paciente com câncer de colo ter uma mutação em um 
gene de reparo de mau pareamento. 
Para os pacientes sem história familiar, mas com câncer colorretal de 
início precoce, o teste genético para a síndrome de Lynch é, idealmente, 
feito de forma gradual: avaliação do tecido do tumor para instabilidade de 
microssatélites por meio de testes moleculares específicos para tal e/ou 
imuno-histoquímica das quatro proteínas de reparo de mau pareamento. 
O reconhecimento precoce da síndrome de Lynch é necessário para uma 
intervenção eficaz. 
Colonoscopias de seguimento do cólon proximal começando na idade de 25 
anos aumentam a expectativa de vida de 13,5 anos, e a remoção cirúrgica 
profilática do cólon com a idade de 25 anosaumenta a expectativa de vida 
em mais de 15 anos.
A FIGURA 2 e a FIGURA 3 apresentam mapas mentais sobre o assunto 
abordado no resumo.
15DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
FIGURA 2
Figura 2: profilaxia pós-exposição (PEP).
16 DESORDENS DO REPARO E REPLICAÇÃO DO DNA
FIGURA 3
Figura 3: Vigilância.
8 REFERÊNCIAS
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Thompson genética médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Cap 15. 
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