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Condutividade Hidráulica - conceituação e aspectos gerais 97 9. CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA - CONCEITUAÇÃO E ASPECTOS GERAIS Condutividade hidráulica é a propriedade de um meio poroso, o solo no caso, de se deixar atravessar pela água. Na drenagem subterrânea é importante o conheci- mento da condutividade hidráulica do solo, quando saturado, por ser um dos valores empregados no cálculo do espaçamento entre drenos. A título de ilustração, apresenta-se na Figura 1, a fórmula de Hooghoudt para cálculo de espaçamento entre drenos, sendo ela, dentre muitas outras, a mais comumente empregada pela praticidade e por fornecer resultado satisfatórios. Fig. 1 - Representação esquemática dos valores utilizados na fórmula de Hooghoudt L2 = 8K2 dh/R + 4K1 h 2 /R L = espaçamento entre drenos (m) K1 = condutividade hidráulica da camada situada acima do dreno (m/dia) K2 = condutividade hidráulica da camada situada abaixo do dreno (m/dia) R = lâmina d’água a drenar ou recarga projetada (m/dia) d = profundidade efetiva da barreira (m) h = altura assumida para lençol freático no ponto médio entre drenos (m) Nota-se que existem na fórmula 3 (três) parâmetros fundamentais para o cálculo do espaçamento entre drenos, que são a condutividade hidráulica, que é uma característica inerente ao solo, a profundidade da barreira e a lâmina de água diária a ser drenada. Quanto ao valor h este é facilmente obtido (estimado) em função do tipo de cultura e da profundidade escolhida para instalar o sistema de drenagem. Do exposto, concluí-se que em todo estudo de drenagem subterrânea é indispensável o conhecimento dos valores da condutividade hidráulica dos solos a serem drenados. São muitos os teste de campo empregados para medir a condutividade hidráulica de um solo ou amostra de solo. Esses testes são às vezes denominados de teste de infiltração, teste de permeabilidade ou teste de condutividade hidráulica. Infiltração, permeabilidade e condutividade hidráulica têm significados idênticos porque refletem a capacidade de um solo se deixar atravessar pela água; cada denominação é geralmente empregada com o fim específico como: Infiltração - movimento vertical descendente de água em um meio poroso. Permeabilidade - característica de um meio de se deixar atravessar pela água Condutividade hidráulica saturada - movimento da água em um solo saturado. Todo teste de condutividade hidráulica é baseado nos princípios da lei de Darcy para o movimento da água em solo. Segundo Lei de Darcy, o fluxo da água através de um solo saturado é diretamente proporcional à carga hidráulica e inversamente proporcional à coluna do solo, onde: Q = K i A Q = descarga em cm3 / h K = condutividade hidráulica em cm / h ou m / dia A = área de fluxo em cm2 i = gradiente hidráulico 98 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos A condutividade hidráulica pode ser obtida em laboratório ou diretamente no campo. A Figura 2 ilustra a forma de determinação da condutividade hidráulica em laboratório. Fig. 2 - Exemplo esquemático de determinação da condutividade hidráulica em laboratório. Empregando-se a fórmula de Darcy, têm-se: Q = K i A ou K = QL / AH L = altura da coluna de solo em cm A = área de fluxo em cm2 H = carga hidráulica em cm. Para a obtenção do valor “ K “, no campo, existem vários tipos de testes, como: • Teste de furo de trado em presença de lençol freático. • Teste de furo de trado em ausência de lençol freático. • Teste de piezômetro. • Teste de anel permeâmetro. Os três primeiros medem a condutividade hidráulica horizontal, enquanto que o teste de anel mede a condutividade hidráulica vertical. Detalhes sobre esses testes de campo serão dados em outro capítulo. Na determinação da condutividade hidráulica de laboratório podem ser utilizados tanto amostras fragmentadas como amostras em estado natural. Amostras em estado natural são coletadas em cilindros sem que seja destruída a sua estrutura. A obtenção da condutividade hidráulica de laboratório com amostras deformadas era prática comumente empregada em estudos de solos e em classificação de terras para irrigação. Na Codevasf este tipo de teste não é mais pedido nem seus resultados utilizados por serem irreais e portanto inúteis. Valores de condutividade hidráulica de laboratório obtidos a partir de amostras fragmentadas não refletem as condições de campo, não devendo sequer servir para dar uma idéia da permeabilidade da camada testada, a não ser em solo de textura arenosa. A seguir, a título de ilustração, são apresentados, na Tabela 1, valores de conduti- vidade hidráulica de campo e laboratório obtidos pela firma PROTECS - Projetos Técnicos Ltda., em estudos de Levantamento e Reconhecimento de Solos e Classes de Terras para Irrigação. Valores médios de condutividade hidráulica obtidos em laboratórios por meio de amostras em estado natural, coletadas em cilindros apropriados, podem ser utilizados no cálculo do espaçamento entre drenos. Os valores obtidos não são, entretanto, de grande confiabilidade, conside- rando-se que as amostras testadas são pequenas em volume e que o teste é grandemente influencia- do pela possível presença de orifícios provocados por raízes, rachaduras ou pedras. Para o cálculo do espaçamento entre drenos é conveniente que os valores de “ K “ sejam obtidos no campo. Na Figura 3 é mostrado, com fim ilustrativo, um outro exemplo de obtenção do valor K a partir de amostra fragmentada de solo, empregando o método do nível constante, onde: sendo A a área interna do cilindro e L o compri- mento da amostra de solo percorrido pela água. A condutividade hidráulica saturado é uma característica inerente do meio poroso, no caso a amostra de solo fragmentada. Condutividade Hidráulica - conceituação e aspectos gerais 99 Fig. 3 - Esquema de cálculo da condutividade hidráulica Tabela 1 - Relação, para um Mesmo Solo, Entre a Condutividade Hidráulica de Campo e Laboratório C. HIDRÁULICA (m/dia) SOLO PROF. CAMPO LABORAT. RELAÇÃO E ESPESSURA (*) CAMPO/LAB. CAMADA (m) Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico. Textura Argilosa 100 - 180 0,03 5,0 1/167 Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico. Textura Argilosa 80 - 150 0,82 6,0 1/7 Cambissolo Eutrófico. Textura muito Argilosa 90 - 150 0,24 2,1 1/8,5 Cambissolo Eutrófico. Textura Argilosa 20 - 100 1,17 6,8 1/6 Cambissolo Vértico. Textura muito Argilosa 100 180 0,06 1,8 1/30 Cambissolo Vértico Argiloso 70 - 140 0,07 5,0 1/71 Areia Quartzosa 90 - 170 2,34 6,4 1/3 (*) = Amostra fragmentada 100 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos Observa-se que a vazão coletada em função do tempo é diretamente proporcional à condutividade hidráulica do meio poroso, a área de fluxo e a carga hidráulica é inversamente proporcional à distância a ser percorrida pela água. Alterações dos valores de H, L e A (área de fluxo dentro do cilindro, sempre que mantido o mesmo meio poroso, leva a alterações nos valores de descarga, sem alterar o valor de K; por outro lado, sendo mantidos os valores de H, L e A, os valores de “Q” só se alteram se a amostra de solo for substituída por outra de valor “K” diferente da anterior, o que prova que a condutividade hidráulica é uma característica do meio poroso. A condutividade hidráulica de um solo sofre influência de uma série de fatores tais como: • Qualidade da água utilizada - Em solos salinos o teste deve ser conduzido também com água salina. • Viscosidade da água - Deve ser feita correção de viscosidade sempre que a temperatura da água variar em valor igual ou superior a 2º C. • Textura, estrutura e consistência - O parâmetro textura, quando avaliado em separado, pode levar a erros imensos porque solos de mesma textura podem apresentar estrutura e consistência bem diferentes. Um solo de textura argilo arenosa, de estrutura maciça e bastante adensado ou cimentado pode ser praticamenteimpermeável. • Efeito da ação de microorganismos - Muitas vezes um solo apresenta valores de condutividade hidráulica altos no início do teste e após ser atingido o estado de saturação. Com o tempo este valores começam a declinar, o que é atribuído a ação de microorganismos que se desenvolvem e morrem entupindo poros do solo. • Presença de ar nos poros do solo - Sempre que é iniciado um teste, em solo não saturado, este sofre a influência da presença de ar que é confinado nos poros. Com o tempo este ar vai sendo eliminado caso não haja a ação de outros fatores atuando em sentido contrário. Nota: A condutividade hidráulica é igual à velocidade de fluxo no solo quando o gradiente hidráulico é igual a unidade, sendo: Q = K i A Se i = 1, Q = KA Q = VA Estabelecendo a igualdade, tem-se: VA = KA donde: V = K V = K i = Velocidade de avanço de uma lâmina de água no solo. Como se trata de fluxo em um meio poroso, têm- se que a velocidade média de avanço da água nos macro poros do solo, , sendo “P”a po- rosidade drenável. Fórmulas para cálculo da condutividade hidráulica horizontal e vertical em solos estratificados A Figura 4 abaixo mostra esquematicamente o padrão de fluxo horizontal em solo estratificado. Fig. 4 - Fluxo horizontal em solo estratificado Para facilitar a dedução da fórmula toma-se a sessão retangular tendo um lado igual a unidade. Condutividade Hidráulica - conceituação e aspectos gerais 101 Tem-se que: Fazendo-se Q Ka di L= ∅ − ∅∑ ( ) /1 2 onde: Q= soma Q1 + Q2 + Q3 ou vazão total Ka= média ponderada da condutividade hidráulica; Igualando as duas últimas operações resulta: Condutividade hidráulica média vertical em solo estratificado A Figura 5 mostra como se dá o fluxo vertical através de solo formado de várias camadas com diferentes espessuras e diferentes condutividades hidráulicas. Fig. 5 - Fluxo vertical em solo estratificado Assume-se que: 1) A lei de Darcy é aplicada a cada camada. 2) A1 = A2 = A3 = A = 1 3) Q1 = Q2 = Q3 = Q Tem-se que: Q1 = A1V1 = K1. ∆h1 / L1.A1 ∆h1 = Q1 L1 / k1 A1 Q2 = A2V2 = K2.∆h2 / L2.A2 ∆h2 = Q2 L2 / K2 A2 Q3 = A3V3 = K3.∆h3 / L3.A3 ∆h3 = Q3 L3 / k3 A3 Adicionando-se: ∆h1 + ∆h2 + ∆h3 = Q1 L1 / K1 + Q2 L2 / K2 + .... + Qn Ln / Kn ∆hi = Q (L1 / K1 + L2 / K2 + .... + Ln / Kn) Como Q = K / K= média de Ki = Bibliografia 1- CODEVASF. Baixio de Irecê: levantamento de reconhecimento de solos e classes de terras para irrigação; anexo IV: características físi- co-hídricas. Brasília : Protecs, 1980. 1 v. il. 2- Notas de aulas.