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Questionario_epistemologia

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UNIRIO, Centro de Ciência Humanas e Sociais
Faculdade de Filosofia 
Epistemologia – Dario Teixeira
Francisco Gabriel da Alexandria Pires
(1) A explicação naturalista, seja na psicologia, na lógica ou na ontologia, não pode responder o verdadeiro problema do conhecimento, a saber, como é possível transcender a esfera de imanência da minha própria consciência (representações, percepções, vivências, e etc.) e inferir validade, realidade e efetividade a objetos externos? Como é possível o conhecimento de um objeto que por definição eu não tenho acesso? Ou mais precisamente, como é possível o conhecimento transcendente em geral?
Graças a uma distinção entre meus sentidos, minhas percepções e os objetos aos quais eles se referem a teoria do conhecimento na modernidade, especialmente a partir de Descartes e seguido por todo o empirismo, erige o que chamo de prisão representacional. Esta maçã que vejo, que apanho em minhas mãos, que sinto o cheiro, que mordo, e até o gosto adocicado, não necessariamente são qualidades de um objeto externo a mim que chamo de maçã. A dualidade entre externo e interno é um dos sentidos que a teoria do conhecimento atribuiu para a distinção entre imanência e transcendência, sendo a esfera do interno o cogito o ponto de partida indubitável para o conhecimento do externo.
Portanto, toda experiência humana, seja perceptiva, rememorativa, imaginativa só lida com minhas representações que se referem aos objetos externos que podem existir ou não, ser efetivamente como o representamos ou não. Desde que a relação epistemológica entre sujeito e objeto se configurou na modernidade nunca houve um linha divisória traçada com satisfatória clareza delimitando o que é cada termo dessa correlação.
A teoria naturalista, portanto, nos explica que o conhecimento é um estado metal de um sujeito empírico determinado (psicologia), que o conhecimento é a validade de certos enunciados respeitando as regras de formais do pensamento e o modo correto de concluir validade a partir de premissas (lógica), que o conhecimento é a adequação de processos psíquicos a determinados objetos existentes no mundo (ontologia).
Em Descartes o que garante que o cogito conhece, isto é, os representa clara e distintamente, o objetos que existem numa esfera transcendente é a hipótese de um Deus bom e veraz, que garante, por exemplo, que 3 + 2 sejam sempre 5. Em Hume, o hábito garante que minhas impressões sensíveis sempre singulares, parciais e subjetivas sejam generalizadas em ideias, que apesar de não serem objetivas, são eficientes. Em Kant o próprio factum da ciência que garante o progresso do conhecimento e que, não obstante, funciona, garante a objetividade de minhas representações sempre que elas estiverem submetidas as condições de possibilidade da experiência sensível.
Ou seja, na resposta transcendente, na empírico-naturalista, e na transcendental trata-se de apresentar como argumento para fundamentação do conhecimento justamente aquilo que se quer provar. Deus, o hábito e a ciência, transcendem a esfera de imanência do cogito e suas cogitaciones. Todos eles ultrapassam a questão de como é possível o conhecimento em geral quando introduzem sub-répticamente um fundamento transcendente. Destarte, Husserl é realmente inovador quando pretende demonstrar exclusivamente a partir da esfera da imanência como é possível o conhecimento em geral.
(2) Ser consequente com a crítica husserliana do conhecimento é suspender o juízo sobre as conclusões das ciências positivas do conhecimento. Sem a epoché é impossível uma colocação que do problema real do conhecimento. Como, pois, vivência psíquica e objetalidade cognoscível podem ser correlacionadas por um sentido? A análise detida do sentido das essências do conhecimento e seu posterior esclarecimento nos promete Husserl é capaz de responder ao problema da transcendência e da evidência, isto é, o problema da razão em geral.
Portanto, não se trata de orientar a reflexão para os objetos externos, para a objetalidade e daí adequar nossas vivência psíquicas a eles, mas sobretudo, analise como é possível a própria correlação essencial do conhecimento. Tem-se na esfera de imanência da qual Husserl pretende partir a suspensão de todo conhecimento, isto é, de todo conhecimento transcendente. Não faz sentido a acusação de que não restaria nenhum conhecimento de onde partir a reflexão da análise de essência já que os conhecimentos da esfera da imanência são absolutamente mantidos por Hurssel.
O cogito - embora na modernidade ele possa, talvez, ser identificado a um indivíduo empírico, um ser ego, formando unidade e homogeneidade de um objeto, o que para Hussrel já seria prescindir de um conhecimento transcendente – essa esfera do pensamento puro, depurado de qualquer consideração transcendente já poderia fornecer o conhecimento de caráter inquestionável do fenômeno cognitivo, as cogitaciones como primeiros dados imanentes, evidentes e imediatamente vivenciados.
(3) Há dois sentidos para o par imanência-transcendência. Imanência como ingrediente, como contido no ato cognoscitivo, e imanência do dar-se absoluto, a autoaprensão em sentido absoluto. Em princípio, o único dado absolutamente dado, inquestionável, é o do momento do ingrediente contido no ato cognoscitivo, portanto como se constitui o objeto do conhecimento no fenômeno também é tópico da investigação fenomenológica, já que aí se apresenta uma forma de dar-se de uma objetalidade construída na esfera da imanência. O sentido de imanência do Selbstgegebenheit nos encaminha para a crítica da teoria do conhecimento naturalista que tenta apresentar uma explicação racional para como se constitui essa autodoação, evidente e imediata a partir de nexos causais e deduções lógicas transviando a questão. Ora, ainda que se explique ao cego como se constitui bio-fisologicamente as cores na retina de um ser humano é impossível a partir daí demonstrar a evidência com que isso acontece. Assim como um som para um surdo
O modo de por a questão é parte da compreensão do problema, pois a resposta que Husserl espera dar para o problema do dado absoluto, evidente e imediato é que ele só é possível a partir de uma intuição que aprende numa visada, num ato sem mediações.
(4) A esfera do imanente, em princípio nos apresenta os dados singulares, percepções parciais num fluxo de percepções. É ponto pacífico que tais dados dão-se na esfera da imanência. Ao refletir sobre como esses dados se apresentam notamos que existem diferente modos de dar-se, por exemplo, perceptivamente, imaginativamente ou rememorativamente. A partir de um processo de tornar consciente esses modos de dar-se notamos que tais modos de dar-se são originalmente dados, apesar de não serem vivenciados, são ideados. Ora, o campo que se pode ver a partir daí torna-se cada vez mais vasto. Na esfera da imanência já reside não só dados singulares e privados, mas o modos universais, e portanto, essenciais de dar-se de tais dados, bem como o foco objetal unificador de aparições que unifica percepções singulares entorno de uma unidade objetificadora.