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DIREITO COLETIVO DO TRABALHO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer a importância do Direito Coletivo do Trabalho. > Analisar os princípios do Direito Coletivo do Trabalho. > Descrever casos de aplicação do Direito Coletivo do Trabalho. Introdução O Direito do Trabalho surgiu como um conjunto de normas e regras que têm por objetivo regular as relações trabalhistas. Esse ramo do Direito se desenvolveu à medida que a mão de obra e as relações econômicas evoluíam de acordo com cada contexto histórico, desde a escravidão até os dias atuais. Em seu escopo, está o Direito Coletivo do Trabalho, que não é autônomo, embora seja um importante instrumento para a melhoria das condições trabalhistas e disponha de princípios e regramentos próprios. O Direito Coletivo do Trabalho tem como foco a noção de coletividade e suas consequências nas relações trabalhistas. Desempenha funções essenciais, como a pacificação de conflitos e a busca pelo equilíbrio social e econômico das partes envolvidas. Neste capítulo, você vai estudar a evolução histórica e a importância do Direito Coletivo do Trabalho. Também vai ver quais são os seus princípios, além de estudar casos aos quais se aplica. Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli Principais conceitos Historicamente, a noção social de trabalho passou por grandes evoluções até culminar na configuração jurídica atual. A primeira forma de trabalho foi a escravidão; o trabalho era considerado uma atividade secundária, de tal maneira que o escravo não era considerado um sujeito de direitos, mas tão somente um objeto. Em um segundo momento histórico surgiu a servidão, época do feudalismo, na qual os servos tinham de entregar parte da produ- ção rural aos senhores feudais em troca da proteção militar e política que recebiam, além do uso da terra. Do feudalismo, evoluiu-se para as corporações de ofício, suprimidas com a Revolução Francesa em 1789. Já a Revolução Industrial, em meados do século XVIII transformou o trabalho em emprego, quando os trabalhadores passaram a trabalhar em troca de salários. Contudo, constatavam-se condi- ções insalubres e um grande número de acidentes do trabalho, e se passou a perceber a necessidade de intervenção estatal, a fim de garantir melhores condições de trabalho. A Igreja Católica, nesse período, posicionou-se contra a exploração dos trabalhadores, começando pela encíclica Rerum novarum, do Papa Leão XIII, em 1891. Esta foi sucedida por outras encíclicas que também pregavam a intervenção estatal na relação entre empregadores e empregados, bem como a garantia da dignidade. Encíclicas são cartas escritas pelo Papa, a mais alta autoridade da Igreja Católica, direcionadas a toda a comunidade de fé, sobre temas que afetam a população em geral. Elas não obrigam, mas muitas vezes servem de fundamento para a reforma da legislação nos países. No Brasil, a política trabalhista se consolidou com o governo Getúlio Vargas, em 1930, por meio de diversas ações, como a criação do Ministério do Trabalho, da Justiça do Trabalho e de regulamentações específicas so- bre as relações laborais. Em 1943, foi aprovada a Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943) que, com todas as alterações sofridas desde então, ainda vige no ordenamento jurídico brasileiro. Já em 1988, foi promulgada a atual Constituição Federal (CF), que trata de direitos trabalhistas e os inclui no Capítulo II, “Dos Direitos Sociais” (BRASIL, 1988). Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho2 O Direito do Trabalho é um ramo do Direito que institui regras e princípios responsáveis por regular as relações empregatícias. É um ramo que integra a área especial do Direito e que se desprendeu da sua origem civilista em meados do século XIX, com a intenção de estabelecer diretrizes próprias e assegurar sua autonomia, especialmente devido ao seu principal objetivo histórico: aperfeiçoar as condições de pactuação da força de trabalho no sistema socioeconômico. Doutrinariamente, ainda há controvérsias acerca da existência de um Direito Coletivo do Trabalho, bem como quanto a tal denominação, que muitas vezes se confunde com Direito Sindical e Direito Social. Contudo, destaca- -se a importância do estudo dos direitos coletivos trabalhistas, pois, como comenta Delgado (2015, p. 17): O Direito Individual do Trabalho trata da regulação do contrato de emprego, fixando direitos, obrigações e deveres das partes. Trata, também, por exceção, de outras relações laborativas especificamente determinadas em lei. O Direito Coletivo do Trabalho, por sua vez, regula as relações inerentes à chamada autonomia privada coletiva […]. Tal autonomia privada coletiva mencionada pelo autor se refere às relações entre as organizações coletivas de empregados e empregadores, tendo em vista as relações surgidas na dinâmica da representação e atuação coletiva dos trabalhadores. Sendo assim, é importante ressaltar que Direito Sindical refere-se a apenas um dos sujeitos do Direito Coletivo do Trabalho: o sindi- cato. Dessa forma, essa denominação não abrange todos os aspectos das relações coletivas trabalhistas, sugerindo que apenas as entidades sindicais a integram. Por isso, embora ainda seja utilizada no contexto jurídico, é uma expressão inadequada. Nesse sentido, o uso da expressão Direito Social também é marcado por inexatidão no contexto do Direito Coletivo do Trabalho, pois os direitos so- ciais se destinam à redução das desigualdades sociais e contemplam várias garantias ao indivíduo. Os direitos à saúde, à assistência social e à previdência social, que compõem os direitos sociais, formam a Seguridade Social, que é “[...] o conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a esta- belecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingências que os impeçam de prover as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias”. (MARTINS, 2011, p. 20). Dessa forma, não podem ser confundidos com os direitos coletivos trabalhistas. Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho 3 A importância do Direito Coletivo do Trabalho está nas funções por ele desempenhadas, que podem ser divididas em duas: gerais e específicas. As funções gerais se referem ao próprio sentido do regramento do Direito do Trabalho, ou seja, à busca pela melhoria das condições de trabalho diante da ordem socioeconômica. Já as funções específicas dizem respeito às ca- racterísticas próprias dessa ramificação do Direito, quais sejam: geração de normas jurídicas, pacificação de conflitos de natureza coletiva, equilíbrio social e econômico. Visualize essas funções específicas na Figura 1. Figura 1. Funções específicas do Direito Cole- tivo do Trabalho. Fu nç õe s es pe cí fic as d o D ire ito C ol et iv o do T ra ba lh o Geração de normas jurídicas Pacificação de conflitos de natureza coletiva Equilíbrio social e econômico A geração de normas jurídicas é a característica principal do Direito Coletivo do Trabalho. Trata-se de normatizar os contratos de trabalho das respectivas bases, representadas na negociação coletiva pelos sindicatos, conferindo a esse segmento um importante papel econômico, social e político. Ainda, para Delgado (2015, p. 33): “[...] ao lado da criação de normas, também gera o Direito Coletivo, por meio da negociação coletiva, dispositivos obrigacionais, que irão se dirigir essencialmente aos sujeitos da própria negociação efetivada e não ao universo de trabalhadores geridos pelos instrumentos coletivos.” No que se refere à pacificação de conflitos, tem-se o dissídio coletivo como o instrumento mais importante, nos quais o papel dos sindicatos é fundamental, porém, há outros meios, como a arbitragem e a mediação tra- balhista. Por fim, o equilíbrio social e econômico diz respeito à adequação das regras trabalhistas gerais a determinados contextos, como ocorre com a negociação coletiva: há o ajuste de vários aspectos gerais a situaçõeses- pecíficas das categorias. Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho4 Princípios do Direito Coletivo do Trabalho Área especializada do Direito que é, o Direito Coletivo do Trabalho rege-se por princípios específicos, que se desenvolvem em torno do seu núcleo jurídico: a noção de coletividade e suas consequências nas relações trabalhistas. Na doutrina, os princípios do Direito Coletivo do Trabalho são divididos em três grandes grupos, de forma que serão analisados a seguir os mais relevantes princípios de cada grupo, que são os seguintes: � princípios assecuratórios da existência do ser coletivo obreiro; � princípios que tratam das relações entre os seres coletivos obreiros e empresariais, no contexto da negociação coletiva; � princípios que tratam das relações e efeitos perante o universo e comu- nidade jurídicos das normas produzidas pelos contratantes coletivos. No primeiro grupo — princípios assecuratórios da existência do ser co- letivo — destacam-se os princípios da liberdade associativa e sindical e da autonomia sindical. Para Delgado (2015, p. 51): O enfoque aqui centra-se no ser coletivo obreiro, isto é, na criação e fortalecimento de organizações de trabalhadores que possam exprimir uma real vontade coletiva desse segmento social. Trata-se, pois, do surgimento e afirmação de entidades associativas obreiras que se demarquem por efetivo potencial de atuação e re- presentação dos trabalhadores, globalmente considerados. Nesse sentido, o princípio da liberdade associativa e sindical envolve dois conceitos jurídicos importantes: associação e reunião. Por associação, entende-se a união permanente de pessoas em prol de um objetivo em comum, enquanto reunião se refere à união esporádica de pessoas também em prol de um objetivo em comum. A CF, em seu art. 5º, inciso XVI, garante a reunião pacífica, sem armas e em locais abertos ao público, independentemente de autorização; da mesma forma, os incisos XVII, XVIII, XIX, XX e XXI do mesmo artigo garantem a liber- dade de associação, desde que para fins lícitos, sem caráter paramilitar. Assim, esse princípio do Direito Coletivo do Trabalho abrange a criação de sindicatos e a livre vinculação a eles, garantindo, minimamente, a atuação dessas instituições, a fim de que possam cumprir sua função de representar a vontade dos respectivos trabalhadores. Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho 5 É nesse propósito que está o princípio da autonomia sindical. Trata-se da garantia de autogestão dos sindicatos, sem interferências estatais ou empresariais: o sindicato é livre para estabelecer sua estruturação interna, atuação externa, bem como formas de sustentação econômico-financeira, conforme os arts. 8º e 9º da CF. Contudo, é importante destacar que, no Brasil, a lei permite apenas um sindicato representativo do mesmo grupo em uma mesma base territorial — trata-se do sistema de unicidade sindical. Como comenta Nascimento (2012, p. 1307), “[...] as objeções que são apontadas quanto ao sistema do sindicato único cingem-se à restrição que se impõe à livre constituição de sindicatos pelos interessados, de modo que aqueles que pertencem ao grupo não têm outras opções, ainda que em desacordo com as diretrizes sindicais.” A repre- sentação dos interesses fica concentrada, portanto, em uma única organização. Já no segundo grupo de princípios — princípios que tratam das relações entre os seres coletivos obreiros e empresariais, no contexto da negociação coletiva — destaca-se o princípio da equivalência dos contratantes coletivos. De acordo com esse princípio, deve existir o reconhecimento de um estatuto sociojurídico equivalente a ambos os contratantes coletivos, ou seja, os ins- trumentos à disposição dos trabalhadores devem reduzir a sua disparidade histórica em relação aos empresários. Entre esses instrumentos, destacam- -se as garantias de emprego e as greves, por exemplo. Delgado (2015, p. 65), no entanto, faz uma ressalva: É bem verdade que, no caso brasileiro, mais de 25 anos após a Constituição de 1988, ainda não se completou a transição para um Direito Coletivo pleno, equâni- me e eficaz — assecuratório da real equivalência entre os contratantes coletivos trabalhistas. É que, embora tenha a Constituição afirmado, pela primeira vez desde a década de 1930, de modo transparente, alguns dos princípios fundamentais do Direito Coletivo no País, não foi seguida, ainda, de uma Carta de Direitos Sindi- cais, que adequasse a anterior legislação heterônoma (ou seja, o Título V da CLT), às necessidades da real democratização do sistema sindical do País. Por fim, o terceiro grupo de princípios — princípios que tratam das relações e efeitos perante o universo e comunidade jurídicos das normas produzidas pelos contratantes coletivos — abrange o princípio da adequação setorial negociada. É o princípio que trata das possibilidades e dos limites jurídicos da negociação coletiva, ou seja, os critérios de harmonização entre as normas jurídicas oriundas da negociação coletiva e as normas jurídicas provenientes da legislação heterônoma estatal. Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho6 De acordo com esse princípio, as normas coletivas podem prevalecer sobre as normas gerais trabalhistas desde que respeitados dois critérios: 1. Quando as normas coletivas implementam um padrão setorial de direitos superior ao padrão geral da legislação. 2. Quando as normas coletivas acordam setorialmente parcelas justra- balhistas de indisponibilidade relativa, e não absoluta. No primeiro caso, as normas coletivas elevam os direitos trabalhistas de determinado setor, em comparação às normas gerais. Já no segundo caso, o princípio da indisponibilidade de direitos é de fato afrontado, mas apenas para atingir parcelas de indisponibilidade relativa, como, por exemplo, o tipo de pagamento de salário e de jornada pactuada. Assim, não prevalece a adequação setorial negociada se referente a direitos revestidos de indisponibilidade absoluta, que não podem ser transacionados nem por negociação sindical coletiva: são aqueles assuntos tutelados por interesse público, que formam um patamar mínimo de proteção ao trabalhador, como o pagamento do salário mínimo e as normas de saúde e segurança no ambiente de trabalho, por exemplo. Na prática A geração de normas jurídicas é, conforme visto, uma das funções do Direito Coletivo do Trabalho. Essa normatividade decorre especialmente das conven- ções e dos acordos coletivos, previstos nos arts. 611 e 611-A da CLT: Art. 611. Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas represen- tações, às relações individuais de trabalho. § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais cele- brar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. § 2º As Federações e, na falta destas, as Confederações representativas de ca- tegorias econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em Sindicatos, no âmbito de suas representações. Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: […] (BRASIL, 1943, documento on-line). Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho 7 A convenção e o acordo coletivo assemelham-se no sentido de que em am- bos são estipuladas condições de trabalho que serão aplicadas aos contratos individuais dos trabalhadores, tendo, portanto, efeito normativo. Por outro lado, a diferença entre esses instrumentos refere-se aos sujeitos envolvidos: o acordo coletivo é firmado entre uma ou mais empresase o sindicato da categoria profissional, enquanto, na convenção coletiva, o pacto é firmado entre o sindicato da categoria profissional e o sindicato da categoria econô- mica. Como comenta Martins (2011, p. 843), “[...] não existe hierarquia entre convenção e acordo coletivo, que estão num mesmo plano. Há campos de atuação distintos.” Esses instrumentos, conforme disposto no art. 611-A, prevalecem sobre a legislação trabalhista quando tratarem de determinados temas, como, por exemplo, plano de cargos, banco de horas, graus de insalubridade e partici- pação nos lucros e resultados da empresa, entre outros. A pacificação de conflitos coletivos também é uma função do Direito Coletivo do Trabalho e, nesse contexto, a arbitragem surge como um im- portante instrumento. Trata-se da solução de conflitos que se dá por meio de um laudo arbitral efetivado por um árbitro, estranho à relação entre os sujeitos em conflito, mas que, em geral, é escolhido por eles. Destaca-se que se trata de mecanismo facultativo, conforme previsto no art. 114, §1º da CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: […] § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.” (BRASIL, 1988, documento on-line). Nesse sentido, o § 2º prevê a possibilidade de dissídio coletivo, que deverá ser julgado pela Justiça do Trabalho: § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as dis- posições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. (BRASIL, 1988, documento on-line). Os princípios do Direito Coletivo do Trabalho também são bastante iden- tificados na prática jurídica. Observe o seguinte julgado do Tribunal Superior do Trabalho (RO 22247-12.2018.5.04.0000; Órgão Judicante: Seção Especiali- zada em Dissídios Coletivos; Relator: Mauricio Godinho Delgado; Julgamento: 19/10/2020; Publicação: 26/10/2020), quanto ao princípio da liberdade sindical: Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho8 Esta SDC/TST firmou o entendimento de que cláusula de instrumento normativo autônomo que cria contribuição assistencial (ou negocial) extensível aos empre- gados não filiados ao sindicato não é válida, ainda que a norma coletiva tenha sido criada sob a égide da Lei 13.467/2017 e confira o direito de oposição individual contra a cobrança. A maioria dos membros desta Seção (vencido, na época, este Relator) manifestou-se no sentido de que cláusula dessa espécie fere o princípio da liberdade sindical, sob a ótica de sua dimensão individual negativa, bem como viola o art. 545 da CLT (com a redação conferida pela Lei 13.467/2017), que exige a autorização prévia e expressa do trabalhador para o desconto. (BRASIL, 2020a, documento on-line). De acordo com tal decisão, a cobrança de contribuição dos emprega- dos que não são filiados ao sindicato fere o princípio da liberdade sindical. A esse entendimento Martins (2011, p. 717) corrobora afirmando que “[...] para que haja autonomia e liberdade sindical, é preciso que exista uma forma de custeio da atividade das entidades sindicais, o que deveria ser feito por intermédio de contribuições espontâneas dos filiados e não por intermédio de contribuições compulsórias.” O princípio da adequação setorial negociada também é valorizado na prática trabalhista, a exemplo da seguinte decisão do Tribunal Superior do Trabalho (ARR 22208-39.2015.5.04.0511; Órgão Judicante: 3ª Turma; Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira; Julgamento: 30/09/2020; Publicação: 02/10/2020): RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. PROCESSO ANTERIOR À LEI 13.467/2017. 1. REGIME DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA EM ATIVIDADE INSALUBRE. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SETORIAL NEGOCIADA. REDUÇÃO DOS RISCOS INERENTES À SEGURAN- ÇA E À SÁUDE DO TRABALHADOR. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ARTS. 1º, III, 7º, VI, XIII, XIV, XXII, 170, "CAPUT" e 225. CONVENÇÃO 155 DA OIT. SÚMULA 85, VI/TST. DIREITO REVESTIDO DE INDISPONIBILIDADE ABSOLUTA. IMPOSSIBILIDADE DE FLEXIBILIZAÇÃO. […] Isso porque a negociação coletiva trabalhista não tem poderes para eliminar ou restringir direito trabalhista imperativo e expressamente fixado por regra legal, salvo havendo específica autorização da ordem jurídica estatal. Em se tratando de regra fixadora de vantagem relacionada à redução dos riscos e malefícios no ambiente do trabalho, de modo direto e indireto, é enfática a proibição da Constituição ao surgimento da regra negociada menos favorável (art. 7º, XXII, CF). (BRASIL, 2020b, documento on-line). Observe que, conforme comentado, as normas coletivas podem prevalecer sobre as normas gerais trabalhistas desde que implementem um padrão setorial de direitos superior ao padrão geral da legislação e acordem setorial- mente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade relativa, e não absoluta. No julgado citado, percebe-se que a fixação de norma que seja menos favorável Evolução histórica do Direito Coletivo do Trabalho 9 ao trabalhador no que tange à saúde e segurança do trabalho não encontra respaldo no ordenamento jurídico. Referências BRASIL. Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Brasília: Presidência da República, 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 11 nov. 2020. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 nov. 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Seção Especializada em Dissídios Coletivos. RO - 22247-12.2018.5.04.0000. Relator: Mauricio Godinho Delgado. Julgamento: 19 out. 2020. Publicação: 26 out. 2020a. Disponível em: https://jurisprudencia-backend.tst.jus. br/rest/documentos/7c3e6d1846728ef281dc548be93e3123. Acesso em: 11 nov. 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. (3ª turma). ARR - 22208-39.2015.5.04.0511. Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Julgamento: 30 set. 2020. Publicação: 02 out. 2020b. Disponível em: https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/ e5887c5b04021e7fe5610d7bbe811d84. Acesso em: 11 nov. 2020. DELGADO, M. G. Direito coletivo do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2015. MARTINS, S. P. Direito do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2011. NASCIMENTO, A. M. Curso de direito do trabalho. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. 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