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Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA INQUÉRITO PENAL E AÇÃO PENAL CONTEÚDO Inquérito Policial Da Incomunicabilidade do Preso a Provas Novas Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). A instituição, nem os autores, assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. 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Coliseo - Centro Cascavel - PR, 85801-050 Tel: (45) 3040-1010 www.faculdadefocus.com.br Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. http://www.faculdadefocus.com.br/ mailto:tutoria@faculdadefocus.com.br. http://www.faculdadefocus.com.br/ Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 3 Sumário Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 1 Inquérito Policial ------------------------------------------------------------------------------------------- 5 1.1 Da Incomunicabilidade do Preso ------------------------------------------------------------------------------------ 5 1.2 Indiciamento -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 1.3 Pressupostos -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 1.4 Momento ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 1.5 Espécies --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 1.6 Desindiciamento --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 1.1 Sujeito passivo ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 9 1.6.1 Membros do Ministério Público ----------------------------------------------------------------------------------------------- 10 1.6.2 Magistrados ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10 1.6.3 Autoridades com prerrogativa de foro -------------------------------------------------------------------------------------- 11 1.6.4 Crimes de lavagem de dinheiro e indiciamento do servidor público ------------------------------------------------ 13 1.2 Conclusão do inquérito ----------------------------------------------------------------------------------------------- 13 1.6.5 Prorrogação do prazo ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 15 1.6.6 Natureza do prazo do inquérito policial ------------------------------------------------------------------------------------- 16 1.6.7 Justiça Federal ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17 1.6.8 Justiça Militar ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17 1.6.9 Lei de drogas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 18 1.6.10 Economia popular ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19 1.6.11 Prisão temporária ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19 1.6.12 Quadro sinóptico -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20 1.3 Relatório final ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20 1.4 Destinatário do inquérito policial --------------------------------------------------------------------------------- 21 1.5 Inquérito policial na ação penal privada------------------------------------------------------------------------- 21 1.6 Providências adotadas após a remessa do inquérito policial ---------------------------------------------- 22 1.7 Arquivamento do Inquérito Policial ------------------------------------------------------------------------------ 24 1.7 Atribuição ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 1.8 Fundamentos------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 25 1.9 Procedimento de Arquivamento ---------------------------------------------------------------------------------- 28 1.10 Procedimento Vigente ------------------------------------------------------------------------------------------------ 30 1.7.1 A Nova Sistemática (atualmente suspensa) -------------------------------------------------------------------------------- 33 1.7.2 A Antiga Sistemática -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37 1.7.3 Arquivamento de Inquérito de Atribuição do PGR ou PGJ com a Nova Redação do Art. 28 ------------------ 40 1.7.4 A coisa julgada na nova sistemática do art. 28 ---------------------------------------------------------------------------- 43 1.11 Hipóteses de Desarquivamento do Inquérito Policial-------------------------------------------------------- 43 1.12 Espécies de Provas Novas -------------------------------------------------------------------------------------------- 45 1.7.5 Arquivamento Implícito---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 47 Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 4 1.7.6 Arquivamento Indireto ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 49 1.7.7 Trancamento do Inquérito ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 51 2 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 52 Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 5 1 Inquérito Policial 1.1 Da Incomunicabilidade do Preso Lima (2020) compreende que a incomunicabilidade do indiciado depende do despacho nos autos e será permitida somente quandoocorrer a conveniência da investigação ou interesse da sociedade exigir. Disposto no Código de Processo Penal, o Art. 21. prevê: A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Este art. 21 possuía o objetivo de impedir que o investigado preso obtivesse auxílios de terceiros (os quais dificultassem os trabalhos de investigação). Entretanto, o art. 21 está revogado pelo art. 136, § 3º, IV, da Constituição Federal, pois se está vedada a incomunicabilidade em situação de excepcionalidade, é proibida a incomunicabilidade em situação de normalidade constitucional, compreende Lopes Jr (2020). A Constituição Federal prevê em seu art. 136 (...) que: §3º Na vigência do estado de defesa: (...) IV- é vedada a incomunicabilidade do preso. Portanto o art. 21 não foi recepcionado pela Constituição Federal, mas isto não significa que o art. é inconstitucional, pois a redação do código de processo penal é de 1941 e é anterior a da Carta Magna datada de 1988. Não é inconstitucional, pois o supremo adota a teoria da recepção, onde a inconstitucionalidade poderá ser verificada a luz da constituição vigente a época, isto é, o ano em que o ato foi editado, pois se reconhece a teoria da nulidade (como se o ato não tivesse existido). Segundo Lima (2020) a incomunicabilidade não deve exceder 3 dias e será decretada por despacho fundamentado do juiz, a requerimento do órgão do Ministério Público ou autoridade policial, respeitado, o direito do advogado de se comunicar com o seu cliente de maneira pessoal e reservadamente, mesmo que se encontre detido ou preso em estabelecimento civil ou militar. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 6 1.2 Indiciamento O indiciamento é o ato exclusivo do delegado de polícia que atribui a determinada pessoa (até então suspeita ou investigado) a prática de uma infração penal, direcionando, a partir de então, as investigações. Isto é, atribuir a alguém no bojo de uma investigação do inquérito policial a prática de infração penal, esta é uma atribuição exclusiva do Delegado de Polícia, ocorrendo o indiciamento somente em inquérito policial. ATENÇÃO! NÃO CONFUNDA INDICIADO, SUSPEITO E ACUSADO, o suspeito ou investigado é aquele que possui frágeis indícios, isto é, há mero juízo de possibilidade de autoria. Já o indiciado possui contra si indícios convergentes que apontam como provável autor da infração, quando recebida a peça acusatória pelo magistrado, a figura do acusado surge (LIMA, 2020). A Lei n. 12.830/13 dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia e segundo o art. 2º em seu §6º (...): O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. Uma análise técnica deve ser feita, a qual irá resultar em um ato fundamentado em indícios de materialidade e autoria. Neste ato fundamentado o delegado aponta uma tipificação. Desta forma, a investigação criminal é conduzida pelo Delegado de Polícia, não restando dúvidas da necessidade de fundamentação do indiciamento. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 7 1.3 Pressupostos É indispensável a presença de elementos informativos de autoria e materialidade do delito. Assim, só poderá ocorrer o indiciamento a partir do momento em que é reunido elementos suficientes apontando a autoria da infração penal ao suspeito. Este é um ato fundamentado da autoridade policial e o delegado de polícia deverá cientificar o investigado, o atribuindo (de maneira fundamentada) a condição jurídica de “indiciado”, respeitando as previsões constitucionais e legais. 1.4 Momento O indiciamento é possível durante toda a fase de investigação, desde o auto de prisão em flagrante, ou portaria de instauração, e o recebimento da denúncia. Assim, Lima (2020) compreende que uma vez recebida a peça acusatória, não será mais possível o indiciamento, pois se trata de ato próprio da fase investigatória. Alguns Tribunais Superiores inclusive consideram que o indiciamento formal após o recebimento da denúncia é um constrangimento a liberdade de locomoção desnecessário e causa ilegal, visto que não se justifica mais tal procedimento, próprio da fase inquisitorial. A respeito do ato indevido de indiciamento, temos o julgado do Supremo Tribunal Feral que compreende que: HABEAS CORPUS. PRECESSUAL PENAL. CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA. REQUISIÇÃO DE INDICIAMENTO PELO MAGISTRADO APÓS O RECEBIMENTO DENÚNCIA. MEDIDA INCOMPATÍVEL COM O SISTEMA ACUSATÓRIO IMPOSTO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. INTELIGÊNCIA DA LEI 12.830/2013. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. SUPERAÇÃO DO ÓBICE CONSTANTE NA SÚMULA 691. ORDEM CONCEDIDA. 1. Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não existe fundamento jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar ao Delegado de Polícia o indiciamento de determinada pessoa. A rigor, requisição dessa natureza é incompatível com o sistema acusatório, que impõe a separação orgânica das funções concernentes à persecução penal, de modo a impedir que o juiz adote qualquer postura inerente à função investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. 2. Ordem concedida. (HC 115015, Relator (a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-179 DIVULG 11-09-2013) Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 8 A decisão monocrática do Supremo Tribunal Federal, também traz a respeito do ato indevido de indiciamento: Decisão monocrática – HC 169.731 Min. Edson Fachin- abril de 2019. O exame de conveniência e oportunidade de que dispõe o Delegado de Polícia, dessarte, ressalvada hipótese de ilegalidade ou abuso de poder patente, não está sujeito à revisão judicial. No caso presente, ao que tudo indica, não houve excepcionalidade que justificasse a extraordinária atuação do Juízo singular, pois em verdade, o Delegado de Polícia, após conduzir investigação complexa, devidamente instruída por interceptações telefônicas e pedidos de quebra de sigilo, decidiu indiciar outros três acusados, mas não indiciou o ora paciente. Tal opção afigura-se legítima, dentro da margem de discricionariedade regrada de que dispõe a autoridade policial. Na fase embrionária em que se encontrava o feito. Nesse contexto, a determinação judicial de requisitar à autoridade policial o indiciamento é indevida, não só por interferir, sem necessidade em atribuição que, a rigor, é competência privativa do Delegado de Polícia, como por ser incompatível com o sistema acusatório. 1.5 Espécies O indiciamento pode ser feito de duas maneiras, sendo: • INDICIAMENTO DIRETO- quando o investigado se faz presente; • INDICIAMENTO INDIRETO- sem a presença do investigado; Lima (2020) traz que em regra o indiciamento deve ser realizado na presença do investigado. Contudo, em hipótese de o investigado não ser localizado ou deixa de comparecer injustificadamente, é possível a realização do indiciamento indireto. 1.6 Desindiciamento Possibilidade, por via de HC, quando verificado o indiciamento sem elementos mínimos de autoria e materialidade, configurando constrangimento ilegal. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 9 O Habeas corpus é um instrumento que pode ser requerido por qualquer pessoa que ache que o seu direito à liberdade está sendo violado. Esta é uma garantia constitucional outorgada e segundo a Constituição, a garantia “beneficia quem sofre ou se acha ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder".Disposto no Art. 5º da Constituição Federal: LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; 1.1 Sujeito passivo Inicialmente, antes de tratarmos propriamente do indiciado, precisamos destacar algumas diferenças entre as figuras mencionadas durante uma investigação policial até o ingresso em juízo: suspeito, indiciado e o acusado. A figura do suspeito surge no início da persecução penal, enquanto a autoridade policial detém poucos elementos sobre a autoria do fato. Nesta fase, os indícios ainda são muito frágeis e, por isso, o indivíduo é chamado de suspeito, pois, recaem sobre ele meras suspeitas. Já o indiciado, objeto da nossa aula de hoje, é aquele indivíduo sobre o qual recai uma probabilidade maior de ser o autor da infração penal, os indícios de autoria são mais fortes, embora sejam comprovados apenas durante a persecução penal, mediante o contraditório e a ampla defesa, momento em que o indivíduo passa de indiciado para acusado. O termo “acusado” surge apenas após o recebimento da peça acusatória pelo juiz, depois de encerrado o inquérito policial. Assim, conforme destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “o indiciado, então, não se confunde com um mero suspeito (ou investigado), nem tampouco com o acusado. Suspeito ou investigado é aquele em relação ao qual há frágeis indícios, ou seja, há mero juízo de possibilidade de autoria; indiciado é aquele que tem contra si indícios convergentes que o apontam como provável autor da infração penal, isto é, há juízo de probabilidade de autoria; recebida a peça acusatória pelo magistrado, surge a figura do acusado”. Em consonância, Aury Lopes Jr. (2021) afirma que “uma vez realizado o indiciamento, o sujeito só deixará o estado de “indiciado” quando da decisão de arquivamento do Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 10 inquérito policial, a pedido do Ministério Público, ou quando do recebimento da denúncia, momento em que passará a ser chamado de “acusado” ou “réu”. Este instituto jurídico pressupõe a existência de indícios de autoria em um grau mais elevado do que na condição de mero suspeito, refletindo uma probabilidade de o indiciado ser o agente do crime”. Portanto, o ato de “indiciar é atribuir a autoria (ou participação) de uma infração penal a uma pessoa. É apontar uma pessoa como provável autora ou partícipe de um delito” (LIMA, 2020). Assim, em regra, qualquer pessoa poderá ocupar a posição de indiciado em uma investigação policial. Contudo, algumas pessoas, por ostentarem algumas condições especiais, demandam um tratamento diferenciado, conforme veremos na sequência. 1.6.1 Membros do Ministério Público O inquérito policial instaurado contra um membro do Ministério Público (Promotor de Justiça), deve se seguir algumas formalidades especiais. Dispõe o parágrafo único do art. 41 da Lei 8.625/93 que, “quando no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração”. Assim, embora se trate de uma medida totalmente corporativista, toda vez que um Delegado de Polícia, no decorrer de uma investigação criminal, tiver como suspeito um Membro do Ministério Público, deverá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, remeter os respectivos autos a procuradoria geral correspondente, a qual será competente para prosseguir com a investigação. 1.6.2 Magistrados Outra situação que demanda uma atenção especial, são os inquéritos policiais instaurados contra os juízes/magistrados. De acordo com o parágrafo único do art. 33 da Lei Complementar nº 33/79, “quando, no curso de investigação, houver indício da Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 11 prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação”. Desta forma, assim como ocorre com os membros do Ministério Público, se no curso da investigação criminal surgirem indícios de que o crime tenha sido praticado por um magistrado, a autoridade policial autora da investigação, deverá remeter os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação. Ainda, no caso do magistrado, ele possui, dentre os seus direitos, a prerrogativa de não ser preso em flagrante, exceto em duas situações: quando em flagrante delito por crime inafiançável, devendo, neste caso, imprescindível a comunicação imediata ao respectivo tribunal; ou quando ela for decretada pelo próprio tribunal. Art. 33 - São prerrogativas do magistrado: [...] II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado. 1.6.3 Autoridades com prerrogativa de foro Inicialmente, devido a prerrogativa de função ou, como é vulgar e erroneamente chamada, foro privilegiado, os titulares de determinados cargos que deveriam ser julgados por autoridades superiores, quando tomavam posse de seus cargos, eventuais processos que tramitavam na justiça comum, sobre crimes comuns, eram remetidos ao juízo competente para o devido prosseguimento. No entanto, essa prática foi limitada pelo Supremo Tribunal Federal, o qual determina que, apenas serão remetidos ao tribunal superior competente, aqueles processos cujo Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 12 crime tenha sido praticado no exercício da função ou em razão dela, pois, o foro por prerrogativa de função não é uma garantia pessoa do indivíduo, mas um instituto que visa proteger o exercício adequado da função exercida pelo agente. Além disso, antes dessa mudança de entendimento, no julgamento do Inquérito nº 2411 o Supremo Tribunal Federal, já tinha decidido a respeito do indiciamento das autoridades com prerrogativa de foro, (...)A prerrogativa de foro é uma garantia voltada não exatamente para os interesses do titulares de cargos relevantes, mas, sobretudo, para a própria regularidade das instituições. Se a Constituição estabelece que os agentes políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF, art. 102, I, b), não há razão constitucional plausível para que as atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial (abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF. A iniciativa do procedimento investigatório deve ser confiada ao MPF contando com a supervisão do Ministro-Relator do STF. 5. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito policial para apurar a conduta de parlamentares federais ou do próprio Presidente da República (no caso do STF). No exercício de competência penal originária do STF (CF, art. 102, I, “b” c/c Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação das investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de denúncia pelo dominus litis. 6. Questão de ordem resolvida no sentido de anular o ato formal de indiciamento promovido pela autoridade policial em face do parlamentar investigado. Isto é, com a decisão do Inquérito, o Supremo entendeu que, tanto a abertura do Inquérito Policial, em relação as autoridades com prerrogativade foro, quanto o seu indiciamento, só poderiam ser realizados com autorização do Supremo Tribunal Federal. No entanto, este julgado contraria todas as premissas da mínima intervenção por parte da autoridade julgadora que, somente é instado a funcionar quando se tratar de cláusula de reserva da jurisdição ou quando é provocado pelas partes, defendidas até então. A decisão do Supremo defende a intervenção necessária do poder judiciário, no caso de abertura do inquérito policial e para se realizar o indiciamento daquelas autoridades com prerrogativa de foro. Desta forma, podemos dizer que, todas as autoridades com foro por prerrogativa de função vão ter o seu indiciamento submetido ao crivo do tribunal competente. Isso, contudo, não significa dizer que o respectivo tribunal será o responsável por realizar Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 13 o indiciamento da autoridade, essa função será desempenhada pelo Delegado de Polícia 1.6.4 Crimes de lavagem de dinheiro e indiciamento do servidor público A Lei 9.613/98 que trata sobre os crimes de lavagem de dinheiro passou por uma grande reforma em 2012 com o advento da Lei 12.683. Dentre muitos dispositivos, a nova Lei incluiu o art. 17-D, o qual prevê que “em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno”. Assim, observe que, o funcionário indiciado por crime de lavagem de dinheiro, será, desde logo, afastado de suas funções, permanecendo, nestas condições, até que o juiz competente autorize seu retorno. Obviamente, o servidor não terá nenhum prejuízo com relação a sua remuneração, mas, é inegável que a situação do afastamento, gera um estigma sob o funcionário, pois, ainda que esteja apenas na condição de investigado, aos olhos alheios transmite uma imagem de culpa. Desta forma, o procedimento previsto no art. 17-D, ainda que empregado para facilitar o procedimento investigatório, viola o princípio constitucional da presunção de inocência. Contudo, de acordo com outro princípio, desta vez, o da presunção de constitucionalidade das leis, toda norma será considerada constitucional até que parta do Supremo Tribunal Federal uma declaração contraria, reconhecendo a inconstitucionalidade da referida norma. Portanto, ainda que o magistrado, no julgamento individual de cada caso, possa afastar a aplicação da norma, essa situação não se estende as demais. 1.2 Conclusão do inquérito Conforme mencionamos, o inquérito policial trata-se de um procedimento transitório, ou seja, depois de iniciado deve ser concluído em um prazo específico, não é possível que a autoridade policial mantenha a investigação “ad aeternum”. Assim, de acordo com o disposto no art. 10 do Código de Processo Penal, o inquérito policial, depois Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 14 de iniciado, deverá terminar no prazo de 10 dias se o indiciado estiver preso ou em 30 dias se o indiciado estiver solto. Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. Para que se realize a prisão em flagrante ou preventiva do indivíduo, é necessário que existam alguns pressupostos. Conforme dispõe o art. 302 considera-se em flagrante delito quem: a) está cometendo a infração penal; b) quem acaba de cometê-la; c) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração penal; c) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Assim, só poderá ser preso em flagrante, quem se encontrar sob estas condições, caso contrário a prisão será ilícita. Além disso, no caso da prisão preventiva, determina o art. 312 do Código de Processo Penal que esta, só poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. Portanto, quando o sujeito tem sua liberdade cerceada, através da prisão processual, a restrição da liberdade será mantida com base em dois pressupostos, o fumus comissi delicti e o periculum libertatis, ou seja, de forma sucinta, significa que para manter o indivíduo em cárcere é necessário que exista prova do cometimento do crime e indícios suficientes de autoria. Assim, se, em tese, o indivíduo já está preso mediante essas condições, não há necessidade de prolongar o período de investigação sobre uma pessoa que já carrega sobre si indícios suficientes de autoria sobre a prática de determinado crime. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 15 Contudo, na prática, além desses elementos que ensejam e mantêm a prisão, sabemos que é necessário que, durante o andamento do inquérito, algumas diligências sejam realizadas, como, por exemplo, os laudos periciais, que demandam algum tempo e podem acabar extrapolando o prazo estabelecido para a conclusão do inquérito policial, sendo necessário prorrogá-lo, até porque, quando ultrapassado o período do inquérito, o indivíduo que ainda se encontrar encarcerado, deverá, imediatamente, ter sua prisão relaxada, uma vez que ela se tornou ilícita. 1.6.5 Prorrogação do prazo Em regra, o prazo do inquérito policial é improrrogável. No entanto, diante de algumas situações, a Lei autoriza que ele seja realizado em um período maior do que o contido no art. 10 do CPP – 10 dias para indiciado preso e 30 para indiciado solto. Essa questão é tratada de forma mais enérgica nos processos em que o indiciado está preso, pois, quando estamos diante de um inquérito policial cujo indiciado está solto, a prorrogação se torna, muitas vezes, aceitável e necessária, lembrando, é claro, do princípio da razoável duração do processo. Em se tratando de indiciado solto, na prática, o inquérito policial passa diversas vezes do Delegado de Polícia para o Promotor de Justiça e vice-versa, é uma prática comum da investigação, até que o inquérito esteja totalmente apto para embasar a denúncia. Um exemplo dessa situação, é o disposto no § 3º do já mencionado art. 10 do CPP que, “quando o fato for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz”. Por outro lado, em se tratando de indiciado preso, o Código de Processo Penal, como uma novidade trazida pela Lei 13.964/19, comumente conhecida como Pacote Anticrime, excepciona a regra da não prorrogação do prazo do inquérito policial no caso de indiciado preso e determina no art. 3º-B, § 2º que, “se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada”. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 16 No entanto, é importante destacar que, durante a elaboração desta unidade, o art. 3º- B, § 2º do CPP encontra-se com sua eficácia suspensa devido a liminar concedida na ADI-6305 ajuizada pela Conamp contra alguns dispositivos do Pacote Anticrime, “que alterou o sistema penal brasileiro para introduzir o juiz das garantias. Segundo a entidade, a normainviabiliza a atuação funcional plena e fere a autonomia dos membros do Ministério Público, além de contrariar o sistema acusatório e os princípios da isonomia, da razoabilidade e da proporcionalidade” (STF, 2020). Portanto, de acordo com a atualização proposta pelo Pacote Anticrime, o prazo para conclusão do inquérito policial e a prorrogação ficará da seguinte forma: PRAZO NORMAL PRORROGAÇÃO INDICIADO SOLTO 10 dias + 15 dias (única vez) INDICIADO PRESO 30 dias Prorrogável quantas vezes necessário 1.6.6 Natureza do prazo do inquérito policial Existe uma divergência doutrinária quanto a natureza do prazo para conclusão do inquérito policial do indiciado preso, uma vez que, o prazo do indiciado solto é notoriamente processual, pois, não mantém nenhum reflexo penal sobre o agente investigado. Já, com relação ao indiciado preso, não existe uma posição pacífica ou majoritária na doutrina, uma parcela afirma que se trata de um prazo material, à medida que outros defendem ser um prazo processual. No entanto, a definição do prazo do indiciado preso não se resume a uma simples formalidade, o ato de considerá-lo como material ou processual representa algumas implicações no mundo jurídico, pois, na contagem do prazo processual não se inclui o dia de início e considera-se o último, além disso, neste caso, o prazo não se encerra nem se inicia em finais de semana ou feriados, prorrogando-se, automaticamente, para o próximo dia útil subsequente. Já o prazo material, correrá de acordo com o disposto no art. 10 do Código Penal, incluindo o dia de início e desconsiderando o dia Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 17 do final. Portando, a depender da natureza jurídica considerada, o inquérito policial pode se encerrar em datas diferentes e, caso se mantenha de forma injustificada, poderá gerar a ilegalidade da prisão. 1.6.7 Justiça Federal As regras relativas ao procedimento comum, dispostas no Código de Processo Penal são aplicadas, essencialmente, na Justiça Comum, dado que, a Justiça Federal possui algumas particularidades previstas em lei própria (nº 5.010/66) que, seguindo a premissa do princípio da especialidade, serão aplicadas em detrimento as gerais. No entanto, dispõe o art. 66 da Lei 5.010/66 apenas sobre o prazo do encerramento do inquérito policial do indiciado preso e como se mantem omisso quanto ao indiciado solto, aplica-se, de forma subsidiária, a regra geral disposta no Código de Processo Penal. Assim, em se tratando de indiciado solto, o inquérito policial deverá ser concluído em até 30 dias, podendo ser prorrogado quantas vezes necessário, observando, é claro, o princípio da duração razoável do processo. Já, no caso de o indiciado estar preso, o prazo para conclusão do inquérito policial será de 15 dias, podendo ser prorrogado por igual período. Observe que, no caso da Justiça Federal, a possibilidade de prorrogação do inquérito policial no caso de indiciado preso existe desde 1966. Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado estiver prêso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo. Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o prêso ao Juiz. 1.6.8 Justiça Militar Assim como na Justiça Federal, a Justiça Militar guarda alguns regramentos próprios com relação ao encerramento do inquérito policial. De acordo com o art. 20 do Código de Processo Penal Militar – CPPM, em se tratando de indiciado preso, o inquérito Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 18 deverá se encerrar em até 20 dias, não havendo previsão a respeito de prorrogação. Por outro lado, em se tratando de indiciado solto, o inquérito se encerrará em até 40 dias, podendo ser prorrogado por mais 20. Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver prêso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver sôlto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito. 1.6.9 Lei de drogas A Lei de Drogas (nº 11.343/06) estabelece um procedimento especial para o inquérito policial que se realizar no seu âmbito, dispondo, no seu art. 51, que “o inquérito policial será concluído no prazo de 30 dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 dias, quando solto” e, considerando ainda a necessidade de elaboração de laudos para aferir a natureza da substância ilícita, estabelece, desde logo, um prazo maior para a conclusão do inquérito (prorrogação por igual período), resultando em 90 dias prorrogáveis por mais 90 quando o indiciado estiver solto, e 30 dias prorrogáveis por igual período quando o indiciado estiver preso. Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Ainda, no que diz respeito ao prazo para conclusão do inquérito de crimes de competência da Justiça Federal, como no caso de tráfico internacional de drogas, por exemplo, estamos diante de duas exceções aplicáveis ao prazo do inquérito, mas em virtude do princípio da especialidade permite-se a aplicação do disposto na Lei de Drogas, tendo em vista que seu grau de especialidade é maior com relação a conduta praticada. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 19 1.6.10 Economia popular Diferente das situações tratadas anteriormente, a Lei dos Crimes Praticados Contra a Economia Popular (nº. 1.521/51) trata o prazo para encerramento do inquérito policial de forma singular, unificando o período de 10 dias tanto para indiciado solto, quanto para o indiciado preso. Assim, conforme dispõe o art. 10 da referida Lei, “os atos policiais (inquérito ou processo iniciado por portaria) deverão terminar no prazo de 10 dias”. 1.6.11 Prisão temporária Outra situação que demanda muita atenção é o prazo para conclusão do inquérito policial quando tiver sido decretada a prisão temporária do indiciado. Nas palavras de Eugênio Pacelli (2021) a prisão temporária é aquela que possui a finalidade “de acautelamento das investigações do inquérito policial, consoante se extrai do art. 1º, I, da Lei nº 7.960/89, no que cumpriria a função de instrumentalidade, isso é, de cautela. E será ainda provisória, porque tem a sua duração expressamente fixada em lei, como se observa de seu art. 2º e também do disposto no art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos)”. Assim, de acordo com o art. 2º da Lei 7.960/89 a prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial ou de requerimento do Mistério Público, e terá o prazo de 5 dias, prorrogável por igual período no caso de extrema e comprovada necessidade. Contudo, em se tratando de crime hediondo ou equiparado – Lei n. 8.072/90 – a regra é excepcionada e, o prazo da prisão temporária, de 5 dias prorrogável por mais 5 aumenta para 30 dias, prorrogável por mais 30. Desta forma, por mais que o prazo para a conclusão do inquérito policial de indiciado preso, em regra, seja de 10 dias, no caso de sobrevir prisão temporária, o prazo adotado será aquele atribuído a prisão temporária. No mesmo sentido, Renato Brasileiro de Lima (2020) afirma que, “se a prisão temporária foi decretada para auxiliar nas investigações em relação a crimes hediondos e equiparados, tem-se que o prazo máximo para a conclusão das investigações é de 60(sessenta) dias, sendo inviável que, após esse interstício de 60 (sessenta) dias, a autoridade policial disponha de mais 10 (dez) dias para finalizar o inquérito policial”. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 20 1.6.12 Quadro sinóptico Para facilitar sua compreensão a respeito de todas essas exceções, observe a tabela comparativa com todos os prazos tratados até então. INVESTIGADO PRESO INVESTIGADO SOLTO Regra geral (art. 10 c/c art. 3º-B do CPP) 10 + 15* 30 dias Justiça Federal 15 + 15 30 dias Justiça Militar 20 dias 40 + 20 Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90 Crimes contra a economia popular 10 10 Prisão temporária (crimes hediondos e equiparados) 30 + 30 Ñ se aplica *Lembre-se que, o artigo 3º-B do CPP, incluído pelo Pacote Anticrime, está, atualmente, com a eficácia suspensa devido a decisão do Supremo Tribunal Federal. Tabela 1 – Prazos para conclusão do inquérito policial. Fonte: Adaptado de Lima, 2020. 1.3 Relatório final Após finalizada a fase investigativa, a autoridade policial, através do Delegado de Polícia, deverá reduzir todo o procedimento em um relatório final. De acordo com o art. 10 do Código de Processo Penal, “a autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente”. Conforme destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “cuida-se, o relatório, de peça elaborada pela autoridade policial, de conteúdo eminentemente descritivo, onde deve ser feito um esboço das principais diligências levadas a efeito na fase investigatória, justificando-se até mesmo a razão pela qual algumas não tenham sido realizadas, como, por exemplo, a juntada de um laudo pericial, que ainda não foi concluído pela Polícia Científica”. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 21 1.4 Destinatário do inquérito policial Em consonância com o disposto no já citado art. 10, § 1º, após finalizado o relatório, será encaminhado diretamente ao juiz competente, uma vez que ele será o destinatário. No entanto, como bem destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “a despeito do teor referido dispositivo, por conta da adoção do sistema acusatório pela Constituição Federal, outorgando ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública, não há como se admitir que ainda subsista essa necessidade de remessa inicial dos autos ao Poder Judiciário”. Assim, muitas vezes como acaba ocorrendo na prática, os autos do inquérito juntamente com o relatório final, embora sejam destinados ao Poder Judiciário, são imediatamente remetidos ao Ministério Público para adoção das medidas cabíveis, exceto quando haja formulação de pedidos cautelares. Na realidade, essa remessa é feita pelos próprios servidores públicos que, geralmente, se valem de Portarias existentes no próprio tribunal, que acabam autorizando essa prática. 1.5 Inquérito policial na ação penal privada Em se tratando de ação penal privada, devem os autos aguardar iniciativa do ofendido ou do representante legal, legitimado, para ingressar com a demanda em juízo. A respeito disso, dispõe o art. 19 do Código de Processo Penal que, “nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado”. Lembrando que, as investigações iniciais acerca do inquérito policial, no caso das ações penais privadas e públicas condicionadas a representação, só podem ser instauradas mediante a requisição o ofendido, caso contrário, nem essas poderiam ocorrer. Desta forma, consonante ao disposto no Código de Processo Penal, após o encerramento das investigações, o inquérito policial juntamente com o relatório final, serão remetidos ao juiz, que aguardará iniciativa do ofendido ou do representante legal, legitimado, para ingressar com a demanda em juízo. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 22 1.6 Providências adotadas após a remessa do inquérito policial Nos crimes de ação penal pública incondicionada ou condicionada a representação do ofendido, após a manifestação de interesse do mesmo, os autos do inquérito policial são encaminhados ao Ministério Público, o qual poderá adotar uma das seguintes providências: ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO-PENAL A possibilidade de oferecimento do acordo de não persecução-penal, está previsto no art. 28-A do Código de Processo Penal e, é uma das muitas novidades trazidas pelo Pacote Anticrime, com a Lei n. 13.964/19. Essa medida, nas palavras de Eugênio Pacelli (2021) “se restringe aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça, com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos e confessados pelo agente, e deverá ser proposto caso o Ministério Público entenda ser necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime (art. 28-A)”. Além disso, faz com que o acusado se comprometa a realizar as seguintes condições, que podem ser impostas de forma alternativa ou cumulativamente: → reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê- lo; → renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; → prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Código Penal; → pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; → cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. OFERECIMENTO DA DENÚNCIA Ao receber os autos do inquérito policial, o Ministério Público poderá oferecer a denúncia e acusar o indiciado, seguindo todo o procedimento para a instauração da Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 23 ação penal, assunto que trabalharemos melhor adiante. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO Após verificar os autos do inquérito policial, o Promotor de Justiça responsável, poderá entender que, por faltarem elementos suficientes para o oferecimento da denúncia. A possibilidade de arquivamento do inquérito está disciplinada a partir do art. 17 do Código de Processo Penal, matéria que foi profundamente alterada pelo Pacote Anticrime com a Lei n. 13.964/19, situações que pontuaremos melhor na sequência. REQUISITAR DILIGÊNCIAS Neste caso, ao receber os autos do inquérito policial, entendendo necessário, o Ministério Público poderá requisitar diligências ao delegado de polícia. Essa possibilidade é autorizada pelo artigo 129, VIII da Constituição Federal – são funções institucionais do Ministério Público [...] requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais – e pelo art. 13, II do Código Penal – incumbirá ainda à autoridade policial [...] realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público. Além disso, conforme destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “de acordo com o art. 16 do CPP, o Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Como exposto anteriormente, a legislação processual penal confere ao Delegado de Polícia discricionariedade para conduzir a investigação criminal por meio de inquérito policial, podendo, para tanto, requisitar perícias, informações,documentos e dados que interessem à apuração dos fatos (Lei nº 12.830/13, art. 2º, §§ 2º e 3º)”. REQUERER A DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA Ao receber os autos do inquérito policial, se o Ministério Público verificar que o juízo o qual está vinculado, não é o competente para julgar determinada causa, deverá requerer ao juiz que remeta os autos ao juízo competente. No mesmo sentido, Renato Brasileiro de Lima (2020) afirma que, “caso o Promotor de Justiça entenda que o juízo perante o qual atua não é dotado de competência para o julgamento do feito, deve requerer ao juiz que remeta os autos ao juiz natural”. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 24 SUSCITAR UM CONFLITO DE COMPETÊNCIA Neste caso, diferente do anterior que nenhuma autoridade tinha se manifestado a respeito da competência, há uma manifestação prévia de outro órgão jurisdicional declinando a sua competência para processar e julgar o caso. Conforme destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “quando se fala em conflito de competência, significa dizer que já houve prévia manifestação de outro órgão jurisdicional, daí por que não se pode requerer o retorno dos autos àquele juízo – deve-se, sim, suscitar conflito de competência”. 1.7 Arquivamento do Inquérito Policial A Lei n. 13.964 de 2019 (denominada Pacote Anticrime) alterou e inseriu alguns dispositivos em diversos diplomas legais. Na época, vinte e quatro pontos da lei foram vetados pelo Presidente da República, contudo, aproximadamente um ano depois, o Congresso Nacional derrubou alguns dos vetos. Outros pontos, no entanto, tiveram sua eficácia suspensa pela medida liminar concedida pelo Ministro Luiz Fux – ADI 6298 MC/DF – dentre eles, a nova redação do art. 28 do Código de Processo Penal quanto ao arquivamento do inquérito policial. Assim, neste tópico apresentaremos os dois sistemas, o antigo, que está em vigor por enquanto, e o novo, que está suspenso, mas pode vigorar a qualquer momento. Quando o inquérito policial é encaminhado ao Ministério Público, o promotor poderá optar por a) oferecer a denúncia; b) solicitar ou realizar diligências; ou c) determinar o arquivamento. Contudo, na atualidade, o art. 28 do Código de Processo Penal traz a redação dada pela Lei n. 13.964 de 2019 (denominada Pacote Anticrime) quanto ao procedimento do arquivamento policial, que no momento se encontra suspensa, mas pode vigorar a qualquer momento. OBSERVE QUE, na atualidade, se aplica o disposto na sistemática antiga, antes da lei 13964/19, o arquivamento ocorre pelo requerimento do MP (promoção de arquivamento), seguida da concordância do juiz com homologação judicial. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 25 Abaixo há um quadro comparativo com a redação atual e a antiga: Sistemática Atual Sistemática Antiga Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. 1.7 Atribuição ATENÇÃO! O delegado de polícia não poderá realizar o arquivamento do inquérito em nenhuma hipótese. 1.8 Fundamentos O Ministério Público apresenta a denúncia, o juiz analisa (recebe ou rejeita). A denúncia será rejeitada nas hipóteses previstas no art. 395 do Código de Processo Penal, mas se a denúncia é recebida, o art. 396 deverá ser contemplado, o qual determina a resposta a acusação (defesa preliminar), o juiz deverá analisar novamente a denúncia, quando possível a hipótese de absolvição sumaria será aplicada a qual está prevista no art. 397. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 26 Lima (2020) compreende que o Código de Processo Penal silencia a respeito das hipóteses em que autoriza o arquivamento do inquérito policial, em relação às situações em que o Ministério Público deva oferecer denúncia. O autor cita que: Em que pese o silêncio do CPP, é possível a aplicação, por analogia, das hipóteses de rejeição da peça acusatória e de absolvição sumária, previstas nos arts. 395 e 397 do CPP, respectivamente. Em outras palavras, se é caso de rejeição da peça acusatória, ou se está presente uma das hipóteses que autorizam a absolvição sumária, é porque o Promotor de Justiça não deveria ter oferecido a denúncia em tais hipóteses (LIMA, 2020, p.235, grifo nosso). Disposto no art. 395 no Código de Processo Penal, traz as hipóteses de rejeição da denúncia: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. • O inciso I traz o necessário para uma denuncia efetiva, o art 41 do Código de Processo Penal traz sobre a inépcia da denúncia, para uma maior compreensão o leia (são as formalidades necessárias para uma denúncia). Nucci (2020) entende que se configura inépcia da peça acusatória quando não se prestar aos fins aos quais se destina, ou seja, não possuir a aptidão para concentrar o conteúdo da imputação, permitindo ao réu a exata compreensão da amplitude da acusação, isso o garante a possibilidade de exercer o contraditório e a ampla defesa. • Já o inciso II traz o pressuposto processual e a condição da ação, o pressuposto processual é um requisito necessário para a validade e existência da relação processual, para que o processo atinja o seu fim. Já a condição da ação é um requisito exigido pela lei para que o órgão acusatório, ao exercer o direito de ação, consiga do Poder Judiciário a análise quanto à existência da pretensão punitiva do Estado e a possibilidade de sua efetivação (NUCCI, 2020). Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 27 • O inciso III se refere a justa causa, compreenda como o lastro probatório mínimo de materialidade e autoria (mais conhecido como arquivamento por falta de provas). O art. 396 está previsto no Código de Processo Penal disciplina os procedimentos ordinário e sumário: Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). Se o juiz não rejeita liminarmente a peça acusatória, deverá recebê-la. Portanto, ao preencher as condições da ação penal, estando apta a peça acusatória, havendo justa causa, o magistrado deve receber a queixa ou denúncia. O acusado deverá apresentar argumentos para contrariar a acusação. Nucci (2020, p. 1385) compreende que “A vantagem dessa resposta, entretanto, quanto mais minuciosa for, é encaminhar o caso a eventual possibilidade de absolvição sumária (art. 397, CPP). Entretanto,atualmente, a resposta do acusado é obrigatória, diversamente do que ocorria antes da reforma processual penal de 2008”. ATENÇÃO! Ao ser citado por edital, se o réu não se apresentar pessoalmente ou não constituir defensor, o processo será suspenso, até que seja localizado. O art. 397 traz essas hipóteses da absolvição sumaria: Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Incluído pela Lei nº 11.719, Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 28 de 2008). II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). Com a absolvição sumária se estabeleceu no contexto criminal uma espécie de julgamento antecipado do processo. • O inciso I traz a defesa prévia, onde se apresenta uma contra-argumentação e uma contraprova a qual seja tão forte que a torna manifesta a licitude da conduta. • O inciso II traz que logo após o recebimento da queixa ou denúncia, o juiz pode vislumbrar causa manifesta de exclusão da culpabilidade, pois o réu ofereceu defesa prévia. • O inciso III há a hipótese da atipicidade patente, pois se o fato exposto não é crime e a situação é evidente, o juiz deveria rejeitar a queixa ou denúncia. • O inciso IV o indivíduo vem a falecer por exemplo ou a prescrição ocorre. 1.9 Procedimento de Arquivamento Relembre que a Lei n. 13.964 de 2019 (denominada Pacote Anticrime) alterou e inseriu alguns dispositivos em diversos diplomas legais, mas tiveram sua eficácia suspensa pela medida liminar concedida pelo Ministro Luiz Fux – ADI 6298 MC/DF – dentre eles, a nova redação do art. 28 do Código de Processo Penal quanto ao arquivamento do inquérito policial. Isto é, na atualidade, se aplica o disposto na sistemática antiga, antes da lei 13964/19, ou seja, o arquivamento ocorre pelo requerimento do MP (promoção de arquivamento), seguida da concordância do juiz com homologação judicial. Abaixo há um quadro comparativo com a redação atual e a antiga: Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 29 Redação Pacote Anticrime Sistemática Antiga Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Na sistemática antiga, no art. 28 o juiz é fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal, a qual é a atualmente vigente, em virtude da liminar concedida pelo Min. Fux que suspendeu a eficácia da nova redação. Ou seja, o Ministério Público não arquiva, mas sim, solicita o arquivamento para o juiz, que poderá concordar ou divergir do entendimento do Ministério Público. Já na sistemática atual (conhecido como pacote anticrime) não há a participação do juiz fiscal na nova redação do art. 28, inserindo o próprio Ministério Público como fiscalizador. A suspensão da eficácia da nova redação ocorreu, pois estaria a lei de maneira inconstitucional gerando uma ingerência indevida na forma de organização do Ministério Público, pois este não estaria preparado para realizar unitariamente o arquivamento do Inquérito Policial, desta maneira ocorreu a suspensão, permitindo que o Ministério seja reorganizado. REDAÇÃO PACOTE ANTICRIME Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 30 Art. 28 (...) § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) Art. 28 (...) § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) 1.10 Procedimento Vigente O procedimento vigente é o anterior a redação dada pelo pacote anticrime, ou seja, é o procedimento antigo do Código de Processo Penal, mas lembre-se que a redação nova pode viger a qualquer momento. O procedimento depende do requerimento do Ministério Público, o qual não arquiva, mas solicita o arquivamento para o juiz, deve ocorrer uma concordância entre juiz e Ministério Público, pois se há divergência, Lopes Jr cita que o juiz poderá: [...] determinar a remessa para o procurador-geral do MP, que poderá (inclusive através de outro promotor designado) insistir no arquivamento (e então não restará ao juiz outra opção do que arquivar) ou oferecer denúncia (que voltará para aquele mesmo juiz julgar...eis o ranço inquisitório) (LOPES JR, p.306). No Âmbito Da Justiça Estadual o procurador geral de justiça (PGJ) delega aos promotores do 28, o qual realizará a análise dos processos em que há a discordância entre o Ministério e o Juiz. Já no Âmbito Da Justiça Federal, o órgão que possuíra esta competência de analisar será a câmara de coordenação e revisão (CCR). Sobre o procedimento: • Depende de requerimento do MP (promoção de arquivamento); Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 31 • Exige concordância do juiz (decorre do consenso entre MP e juiz); • Em caso de discordância, há submissão ao órgão de revisão do MP (se o juiz discorda do arquivamento, ocorre a submissão a revisão); • Princípio da devolução; Hipóteses de Divergência entre Ministério Público e Juiz O princípio da devolução tem sido aplicado em diversas hipóteses em que há divergência entre a posição do Ministério Público e a do Juiz. Há a remessa para que seja realizada uma nova análise, conhecido como o “MANDAR PELO 28”. Exemplos: 1- Quando o Ministério Público recusa de maneira injustificada em oferecer a suspensão condicional do processo ou a proposta de transação penal: nesse sentido há a súmula nº 696 do Supremo Tribunal Federal, a qual expressa que: Súmula 696, STF. Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal. 2- Art. 384, CPP. Mutatio libelli O mutatio libelli é uma mudança na acusação, a qual decorre de um novo elemento (circunstância) que surge contido na denúncia, por exemplo: Há uma denúncia por furto e no decorrer do processo descobre-se que além de furto houve violência no crime, tornando-se um crime de roubo há uma mudança na acusação, assim, mudando o fato surge circunstância nova. • Se o ministériopúblico não realizar o aditamento da denúncia, o juiz poderá aplicar o art. 28 do CPP ou o famoso “mandar pelo 28”. 3- O acordo de não persecução penal Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 32 O acordo de não persecução penal é basicamente um modelo de justiça consensual negociada, isto é, possui o intuito de evitar encarcerar os indivíduos que cometem infrações de menor expressão, o fazendo admitir o erro, pretendendo não mais delinquir. Este é um ajuste obrigacional, o qual é celebrado entre o Ministério Público e o investigado, sendo assistido por advogado. • Também se aplica o art. 28 do CPP ao acordo de não persecução penal. Art. 28-A, CPP. §14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código. 4- Arquivamento indireto O arquivamento indireto caracteriza um conflito positivo-negativo de atribuição e competência. Renato Brasileiro cita que ocorre quando “ [...] o juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, fundamentado em razões de incompetência da autoridade jurisdicional, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento (LIMA, 2020, p. 255),”. Por exemplo, o Ministério Público não poderá obrigar o Procurador-Geral da República a denunciar os crimes que entender não ser de sua atribuição, sob pena de violação da independência funcional. Assim, aplica-se o art. 28 e esse conflito é encaminhado para a instância revisora do Ministério Público a fim de ser dirimido. • Também será aplicado o art. 28 do CPP ao arquivamento indireto. 5- Perdão judicial ao colaborador Compreenda o perdão judicial, como um poder que é conferido ao magistrado para não aplicar a pena prevista para a infração penal, pois se leva em Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 33 consideração os requisitos da colaboração premiada, sendo este, inclusive, causa de extinção da punibilidade. O art. 4º, § 2º da Lei das Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/13) traz o perdão judicial, assim também há a aplicação do art. 28 do CPP: Art 4º §2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). A remessa pelo 28 subsiste com a nova redação? A doutrina compreende que sim, quando há divergência entre juiz e ministério público se submete a instancia revisora do Ministério Público. 1.7.1 A Nova Sistemática (atualmente suspensa) ART. 28. ORDENADO O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL OU DE QUAISQUER ELEMENTOS INFORMATIVOS DA MESMA NATUREZA, O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO COMUNICARÁ À VÍTIMA, AO INVESTIGADO E À AUTORIDADE POLICIAL E ENCAMINHARÁ OS AUTOS PARA A INSTÂNCIA DE REVISÃO MINISTERIAL PARA FINS DE HOMOLOGAÇÃO, NA FORMA DA LEI. (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 13.964, DE 2019) Na nova sistemática, dada pela Lei n. 13.964 de 2019, não há necessidade da chancela do juiz para a efetivação do arquivamento do inquérito policial, como ocorria no antigo sistema inquisitório, pois entende-se que tanto a análise quanto o arquivamento são de competência do Ministério Público como titular da ação penal pública (ou dominus litis). Expõe, a esse respeito, o renomado jurista Aury Lopes Junior (2021) que esta é uma alteração muito relevante trazida pela Lei n. 13.964/2019 “com Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 34 uma sistemática completamente nova para o arquivamento do inquérito (qualquer investigação preliminar), que agora não mais depende e arquivamento pelo juiz e, portanto, está muito mais acorde com a estrutura acusatória”. No entanto, conforme explica Lopes Jr., em que pese a decisão não mais ser submetida a homologação judicial, não é isenta de fundamentação, até porque, no sistema brasileiro, vigoram (ainda que com alguma mitigação) os princípios da obrigatoriedade e indisponibilidade da ação penal de iniciativa pública, de modo que ele precisará fundamentar os motivos do arquivamento, não sendo uma pura e simples faculdade (LOPES-JUNIOR, 2021). Assim, dentro dessa sistemática, uma vez recebido o inquérito policial, o promotor faz a análise e, não estando convencido da presença de indício suficiente de autoria e materialidade ou estando diante de uma causa de extinção da punibilidade ou de situação de atipicidade da conduta, ele mesmo determinará o arquivamento do inquérito no âmbito do Ministério Público. Essa decisão, contudo, será necessariamente submetida à instância revisora do Ministério Público. Na sequência, o Ministério Público deverá comunicar a autoridade policial, o investigado, a vítima – que terá 30 dias para manifestar sua discordância, submetendo a matéria para revisão por parte do órgão estruturado para esse fim no âmbito do Ministério Público – e o juiz das garantias, conforme prevê o art. 3º-B do Código de Processo Penal. Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo -lhe especialmente: [...] IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). Além disso, se a vítima pode manifestar sua discordância, em nome da ampla defesa, no prazo de 30 dias a contar da ciência, o investigado também tem a possibilidade de Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 35 reforçar os argumentos do Ministério Público para que o procedimento permaneça arquivado, assim, aponta a doutrina o prazo de 30 dias para o investigado arrazoar a manutenção do arquivamento. Ainda que a vítima não manifeste discordância, o procedimento é necessariamente submetido à instância revisora do Ministério Público para ser confirmado ou infirmado. Durante esse prazo a vítima poderá expor suas razões de fato e de direito, que consistirão em um novo arrazoado, um que a instância revisora deverá necessariamente enfrentar para além das razões apresentadas pelo Ministério Público, conjugando os motivos apresentados pelo órgão de primeira instância (o Ministério Público) para o arquivamento do inquérito e os motivos apresentados pela vítima para que o inquérito seja reativado, mantido ou que enseje a propositura de uma ação penal. Somente então decidirá pela homologação do arquivamento. Providências Passíveis de serem tomadas pelo órgão revisor O órgão revisor é constituído, no âmbito da Justiça Estadual, pelo procurador da justiça e, no âmbito federal, pela comissão de coordenação. A instância revisora poderá, se concordar com o procurado da república de primeira instância, o arquivamento será homologado. Por outro lado, caso não concorde com os fundamentos do arquivamento, divergindo total ou parcialmente, “será designado outro membro do MP para oferecer a denúncia (não havendo óbice a que peça diligências complementares se entender necessário para melhor instruir a denúncia)” (LOPES-JUNIOR, 2021). Observe o quadro com o resumo do procedimento. As comunicações têm por objetivo cientificar a polícia, a autoridade policial, o juiz das garantias, e permitir à vítima manifestar a sua discordância. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 36 Fonte: Núcleo EditorialFocus É oportuno frisar que a instância revisora não poderá devolver o inquérito para o membro do Ministério Público que requisitou o arquivamento da investigação, pois isso feriria o princípio da independência funcional. Desta forma, o membro do Ministério Público que entendeu pelo arquivamento não pode ser obrigado a denunciar o crime. O novo membro designado para oferecimento da denúncia será obrigado a denunciar uma vez que não atua em nome próprio, mas sim como longa manus do órgão revisor, isto é, como se fosse a mão do próprio Procurador Geral da Justiça ou da própria CCR. Isso é uma espécie de delegação lançada à conclusão lançada pelo órgão revisor. Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 37 A independência funcional é um dos princípios institucionais do Ministério Público dispostos no § 1º do art. 127 da Constituição Federal. Refere-se à inteira autonomia que o membro do Ministério Público tem no exercício de suas funções, podendo emitir sua convicção pessoal acerca de cada caso, sem a necessidade de se sujeitar nem mesmo ao posicionamento ou a ordens de superiores, e agir de acordo com o próprio convencimento motivado. Conforme aponta Ziesemer (2018), grande parte dos doutrinadores clássicos entende que a independência funcional “diz respeito à atuação fim do Ministério Público, que somente deve obediência à Constituição, à lei e sua própria consciência.” Para o autor, a independência funcional é considerada, mais que uma prerrogativa de atuação, uma “garantia da sociedade, de que há uma instituição séria e imparcial lutando por seus direitos”. 1.7.2 A Antiga Sistemática ART. 28. SE O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, AO INVÉS DE APRESENTAR A DENÚNCIA, REQUERER O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL OU DE QUAISQUER PEÇAS DE INFORMAÇÃO, O JUIZ, NO CASO DE CONSIDERAR IMPROCEDENTES AS RAZÕES INVOCADAS, FARÁ REMESSA DO INQUÉRITO OU PEÇAS DE INFORMAÇÃO AO PROCURADOR-GERAL, E ESTE OFERECERÁ A DENÚNCIA, DESIGNARÁ OUTRO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA OFERECÊ-LA, OU INSISTIRÁ NO PEDIDO DE ARQUIVAMENTO, AO QUAL SÓ ENTÃO ESTARÁ O JUIZ OBRIGADO A ATENDER Na antiga sistemática (atualmente vigente em virtude da liminar concedida pelo Min. Fux que suspendeu a eficácia da nova redação) havia a necessidade da chancela judicial para o arquivamento do inquérito. Ou seja, o Ministério Público não arquiva, mas solicita o arquivamento para o juiz, que poderá concordar ou divergir do entendimento do Ministério Público. Explica Aury Lopes Junior que, nessa sequência, o juiz, [poderá] – de forma inquisitória e incompatível com a matriz acusatória do CPP – determinar a remessa para o procurador-geral do MP, que poderá (inclusive através de outro promotor designado) insistir no arquivamento (e então não restará ao juiz outra opção do que arquivar) ou oferecer denúncia (que voltará para aquele mesmo juiz julgar...eis o ranço inquisitório). [...] Essa é a sistemática do CPP desde 1941, criticada por colocar o juiz em posição incompatível com a matriz acusatória constitucional (LOPES-JUNIOR, 2021). Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 38 O impasse nesta sistemática é que, vindo o juiz a discordar da solicitação de arquivamento de um inquérito no qual atua o Procurador Geral da República ou um Procurador Geral de Justiça, não há uma instância superior que possa revisar a solicitação. Observe um julgamento feito em 2020 sob a égide da sistemática antiga, o qual trata de um procedimento de investigação criminal (PIC), mas que é de todo aplicável ao inquérito policial. A divergência, neste julgamento, era referente ao fato de não haver necessidade da chancela judicial no caso de o procurador optar por arquivar o inquérito, uma vez que não existe uma instância revisora do comportamento do Procurador Geral da República. O julgado condiz justamente com a redação atual dada pelo Pacote Anticrime. ARQUIVAMENTO EM INQUÉRITO DE ATRIBUIÇÃO DO PGR OU PGJ MS 34730 Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 10/12/2019 Publicação: 24/03/2020 Ementa: MINISTÉRIO PÚBLICO – CNMP. ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – PIC. PROCEDIMENTO DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA. ARQUIVAMENTO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. DESNECESSIDADE DE SUBMISSÃO DA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO AO PODER JUDICIÁRIO. INAPLICABILIDADE DO ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. O arquivamento de Procedimento de Investigação Criminal (PIC) determinado por Procurador- Geral de Justiça, em hipóteses de sua atribuição originária, não reclama prévia submissão ao Poder Judiciário, posto o arquivamento não acarretar coisa julgada material. 2. O Procurador-Geral de Justiça é a autoridade própria para aferir a legitimidade do arquivamento de Procedimento de Investigação Criminal (PIC), por isso que descabe a submissão da decisão de arquivamento ao Poder Judiciário nas hipóteses de competência originária do Procurador-Geral da Justiça. 3. O arquivamento de Procedimento de Investigação Criminal pelo Procurador-Geral de Justiça, em casos de sua atribuição originária, não está imune ao controle de outra instância revisora. Isso porque ainda há possibilidade de apreciação de recurso pelo órgão superior, no âmbito do próprio Ministério Público, em caso de requerimento pelos legítimos interessados, conforme dispõe o artigo 12, XI, da Lei 8.625/93, in verbis: “Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: (...) XI – rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua atribuição Inquérito Penal e Ação Penal | Inquérito Policial www.cenes.com.br | 39 originária”. 4. O artigo 28 do Código de Processo Penal é plenamente aplicável ao Procedimento de Investigação Criminal nas hipóteses que não configurem competência originária do Procurador- Geral de Justiça. Diferentemente, quando o chefe do Ministério Público Estadual possui competência originária para determinar o arquivamento de PIC, não acarretando coisa julgada material, não há obrigatoriedade de encaminhamento dos autos ao Poder Judiciário. 5. Ex positis, CONCEDO a segurança pretendida no presente mandamus para anular a determinação, contida em decisão do Conselho Nacional do Ministério Público, de submissão da decisão de arquivamento do Procedimento Investigativo Criminal, de competência originária do Procurador-Geral de Justiça, ao Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. (MS 34730, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 10/12/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-069 DIVULG 23-03-2020 PUBLIC 24-03-2020) Esse julgado trata de uma investigação de competência originária do Ministério da Justiça em uma situação que não enseja coisa julgada material (ausência de provas e justa causa para ação penal). O Ministério da Justiça determinou o arquivamento na vigência da redação anterior do art. 28 sem submetê-la ao poder judiciário, em contrapartida, o Conselho Nacional do Ministério Público determinou que fosse submetido ao poder judiciário, então o Ministério da Justiça entrou com um mandado de segurança, o qual foi provido, tendo em vista que ele só precisaria submeter a sua decisão caso houvesse recurso do legítimo interessado. Ora, esse mesmo raciocínio é aplicado ao Procurador-Geral da República: quando ele entende pelo arquivamento de um processo judicial por justa causa, ele mesmo arquiva o inquérito. Percebemos, no que tange aos processos de competência originária do Procurador- Geral de Justiça e do Procurador-Geral da República, que já existia a possibilidade de o inquérito policial ser arquivado