Prévia do material em texto
PANCREATITE · Processo inflamatório agudo do pâncreas com envolvimento variável de outros tecidos regionais ou sistemas orgânicos · Idade média do primeiro episódio: 6a década · Aumento da incidência de cálculo nesta faixa etária em mulheres · Cálculo biliar em 11-56% dos casos ETIOLOGIA: · Coledocolitíase: 38% → ALT acima de 3x sugere origem biliar, mas 15-20% têm enzimas hepáticas normais · Álcool: 36% → possível fator genético associado do gene SPINK1, que faz inativação da tripsina Obs: álcool também pode fazer crônica, não sabendo se é uma crônica que agudiza ou várias agudas que viram crônica · Pós-CPRE: 5% - manipulação das papilas · Trauma: 5% dos pacientes com trauma abdominal · Drogas: 0,1 a 0,2% · Hipercalcemia · Hipertrigliceridemia em 2%, TG > 1000 · Infecção < 1% (EBV, coxsackie, VZV, sarampo, M. pneumonia, Salmonella, M. tuberculosis, ascaris que obstrui os cálculos) · Pancreatite hereditária: · PRSS1: leva a conversão prematura do tripsinogênio em tripsina · SPINK1: que inativa a tripsina · Mutações leve do gene CFTR, um típico de pacientes com fibrose cística · Anomalias pancreáticas: pâncreas divisum e disfunção do esfíncter de Oddi - controversas · Tumores: em pacientes idosos com pancreatite é importante fazer esse diferencial · Pós-operatório · Microlitíase: provavelmente responsável pela maioria dos casos de pancreatite idiopática · Autoimune: aumento de IgG 4 - mais raro FISIOPATOLOGIA: · Ativação inapropriada do tripsinogênio em tripsina · Esta ativação é responsável pela autodigestão do tecido pancreático e da gordura peripancreática · A liberação de produtos pancreáticos na circulação, estimula a produção de citocinas pós-inflamatórias como IL-1, IL-6, IL-8 pelos neutrófilos, macrófagos e linfócitos · Há liberação de TNF-alfa pelos macrófagos, levando ao desencadeamento da cascata inflamatória levando a SIRS - primeiros 14 dias (primeira fase ou precoce) · Nos próximos 14 dias (segunda fase ou tardia), pode haver infecção pancreática com complicações sistêmicas do quadro séptico - 8-12% dos pacientes com pancreatite e 30-40% dos pacientes com pancreatite necrotizante CLÍNICA · Dor abdominal no andar superior, irradiando para dorso, início súbito com intensidade máxima em 30 minutos e persistindo por horas · Náuseas e vômitos · Distensão abdominal e íleo paralítico · Icterícia · Sinal de Grey-Turner e de Cullen: sinal de sangramento em retroperitônio (não tem em todos os pacientes, mas se aparece é bastante sugestivo) MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS · SNC: alucinação, confusão mental, crises convulsivas · Distúrbios hemodinâmicos, alterações metabólicas e hidroeletrolíticas · ACV: taquicardia e hipotensão até o choque · AR: atelectasias nas bases pulmonares, derrame pleural + à esquerda, SARA · TGI: íleo paralítico, icterícia ¼ das vezes - litíase, colangite aguda, compressão de colédoco, edema de cabeça do pâncreas; hemorragia digestiva · SU e IRA: mecanismo de falência renal é pela hipotensão arterial, levando à isquemia e NTA EXAMES COMPLEMENTARES obs: o grau de elevação NÃO tem relação com a gravidade - NÃO é fator prognóstico · Só faz sentido pedir amilase e lipase com DOR ABDOMINAL e AGUDA · Só serve para DX, não para seguimento ou controle. Se der positiva uma vez, não é para continuar fazendo Ecografia de abdome: avaliar árvore biliar, não fornece boa avaliação do pâncreas · É o PRIMEIRO exame que pede na suspeita de pancreatite aguda · Usado para ver etiologia e diferenciais TC de abdome: método radiológico de escolha para avaliação do pâncreas. A TC com contraste serve para avaliar a GRAVIDADE da doença (Balthazar) Radiografia simples de abdome e tórax: alça sentinela, derrame pleural DIAGNÓSTICO: 2 dos 3 critérios dos seguintes: 1. Dor abdominal típica 2. Aumento de amilase ou lipase acima de 3x o LSN 3. Imagem compatível com pancreatite aguda PROGNÓSTICO: (só vai saber 48h depois) **> 3 fatores nos critérios de Ranson: recomenda-se TAC Existem diversos scores para predizer a GRAVIDADE, mas o mais importante é a observação contínua por um clínico experiente: · Idade > 60 anos · Comorbidades: obesidade, consumo de álcool · Presença de SIRS: Temp < 36 ou > 37,8, FC > 90 bpm, FR > 20, Leucócitos < 4.000 ou > 12.000 · Depleção de volume pro 3º espaço: hematócrito > 44%, CR > 1,8 · Marcadores laboratoriais: Proteína C reativa ATENÇÃO: TC nas primeiras 48 horas SUBESTIMA gravidade CLASSIFICAÇÃO DA PANCREATITE AGUDA · Pancreatite aguda leve: · Sem disfunção orgânica · Sem complicações locais ou sistêmicas · Pancreatite aguda moderada/grave: · Disfunção orgânica transitória (< 48hrs) · Complicações sistêmica ou local sem disfunção orgânica persistente · Pancreatite aguda grave: · Disfunção orgânica persistente (>48hrs) Pior cenário: paciente com pancreatite aguda grave com necrose → maior mortalidade TRATAMENTO (base: jejum, hidratação e analgesia) 1. JEJUM · Pancreatite leve → iniciar dieta quando tolerada (dieta com pouca gordura) · Dia 5 sem alimentação: fazer dieta enteral · Sonda nasoenteral X sonda nasogástrica: pode usar qualquer uma das duas · Nutrição parenteral: quando dieta enteral não é suficiente/tolerada · Sequência: boca → tubo (enteral) → parenteral 2. HIDRATAÇÃO · Diminui a morbimortalidade na aguda · Quanto? Controverso. Precisa manter hidratado, mas não precisa ser agressivo 3. ANALGESIA · Meperidina ou morfina EV 4. ANTIBIÓTICO · Questionável quanto ao uso profilático · Quando há infecção comprovada, pensar em BGN, Staphylococcus sp. e Candida sp. 5. Outros: profilaxia de TVP e IBP (controverso) COMPLICAÇÕES **Na leve não tem, é mais para casos moderados e graves Necrose pancreática: · Uma ou mais áreas do parênquima pancreático não-viável · Pode ser estéril ou infectada, por bactéria/fungo · Tto da necrose infectada: necrosectomia Coleção fluída: · Extrapancreática, resulta da exsudação líquida do pâncreas para o espaço pararrenal anterior, em geral na PA sendo totalmente absorvido Pseudocisto pancreático: · Coleção de suco pancreático estéril pode ser por PA, PC ou trauma, se infectar será denominado abscesso · Tto: involução espontânea, drenagem endoscópica ou cirúrgica Abscesso pancreático: · Coleção intra-abdominal bem circunscrita, contendo pus, devido a PA , ou trauma. Em geral ocorre 4-6 semanas após a PA, é uma complicação tardia · Tto: drenagem por punção ou cirurgia PANCREATITE CRÔNICA · Condição inflamatória que resulta em alterações estruturais permanentes no pâncreas, levando à perda de função exócrina e endócrina Principal: alcoólica · 40-75% dos casos, sendo 1-10% dos alcoolistas · Evolui de forma assintomática ou em surtos de PA leve · Causa mais comum de Pancreatite Crônica · Em nosso meio, consumo inicia aos 20 anos, permanecendo assintomático, em média, por 15 anos · Quantia de álcool variável, sem um limite preciso · Presença de lesões hepáticas, mais alta do que se pensava, em 40-50% dos pacientes com alguma forma de hepatopatia alcoólica Segunda principal causa: idiopática 20% Outras · Fibrose cística · Hipertrigliceridemia · Tumor · Ressecção pancreática · Familiar: autossômica dominante com penetrância incompleta · Tropical (Indonésia, Zaire, Nigéria e Sul da Índia, mas não ocorre no Brasil) - carência de micronutrientes associado com a carência protéica · Auto-imune · Alterações genéticas FISIOPATOLOGIA: · Ainda desconhecida · Teoria plugs de proteínas: no ductos pancreáticos secundários → dificuldade de compensação do bicarbonato secretado pelos ductos → secreção viscosa → piora obstrução ductal · Teoria hipertensão ductal: obstrução ductal → hipertensão ductal → hipoperfusão e injúria isquêmica dos ácinos DIAGNÓSTICO: · Pancreatite crônica inicial: sem critérios dx bem definidos (medicina não sabe fazer dx em estágio inicial, só avançado) · Pancreatite crônica avançada: · Apresentação clínica · Exame de imagem condizente com pancreatite crônica · Teste de função pancreática APRESENTAÇÃO CLÍNICA: · Dor abdominal: sintoma cardinal · Dor pós-prandial, epigástrica,com irradiação para as costas, náuseas e vômitos · Presente em 85% dos pacientes · Parece diminuir em estágios mais avançados da doença · Insuficiência exócrina pancreática: · Esteatorreia · Deficiência de vitaminas lipossolúveis e micronutrientes (vit A, D, E, K e magnésio) · Perda de peso · Insuficiência endócrina: doença avançada · Diabetes mellitus tipo 3C · Alguns pacientes se manifestam com pancreatite aguda de repetição EXAME DE IMAGEM: TC e RNM de abdome: · Específico, mas pouco sensível · Se positivo = confirma imagem alterada · Se negativo = não afasta doença RNM com secretina: injeta secretina e vê quanto de fluido enche o duodeno (pouca disponibilidade) EcoEndoscopia: sensibilidade e especificidade de 80% (operador dependente) · Pode ver alterações em paciente sem sintomas CPRE: atualmente não realizada, substituída por ecoendoscopia **NÃO PEDE AMILASE E LIPASE TESTES DE FUNÇÃO PANCREÁTICA: Testes diretos: · Teste função secretina: coleta de fluido pancreático endoscopicamente após injeção de secretina · PADRÃO OURO, mas pouco utilizado na prática Testes indiretos: · Elastase fecal: 6% do suco pancreático constituído de elastase · Não se sabe o papel exato da elastase na fisiologia pancreática · < 200ug/g: marcador de INSUFICIÊNCIA EXÓCRINA PANCREÁTICA · Cuidado: pacientes com DIARREIA (diluir a elastase fecal) · Estimativa de gordura fecal de 72h: dificuldade técnica RESUMO DO DX: imagem alterada e/ou elastase fecal baixa TRATAMENTO: · MEV: precisa parar de beber e fumar → reduz dor e talvez reduza progressão · Medicamentoso: Tratamento da dor abdominal: · Usa a escala de analgesia da OMS · Evitar opióides pelo risco de tolerância e dependência. Se for usar = tramadol · Medicamentos adjuvantes: AD tricíclicos, gabapentina, pregabalina e ISRS Tratamento insuficiência exócrina pancreática: · Terapia de reposição de enzima pancreática (PANCREATINA) · Iniciar com dose de 25.000 a 50.000 em cada refeição e 25.000 nos lanches · Se sem melhora, buscar outras causas de diarreia e acrescentar IBP · Tratamento das deficiências: reposição de vitamina D e E e micronutrientes Tratamento insuficiência endócrina pancreática: · Metformina é uma opção · Maioria dos pacientes necessitam de insulina Tratamento endoscópico e cirúrgico Obs: transplante não entra, pois precisa corrigir o defeito (serve só para DM) COMPLICAÇÕES: Ocorre em 20-30% dos casos · Pancreatite aguda · Icterícia · Cistos e pseudocistos · Abscessos · Fístulas · Derrame cavitário - ascite · Necrose pancreática · Trombose da v. esplênica · Neoplasia: mais temido · Câncer pancreático · Incidência: 4ª causa câncer nos EUA, alta mortalidade, > 50 anos, homens > mulheres, negros > brancos · Fatores de risco: tabagismo, dieta, diabetes, PANCREATITE CRÔNICA, genético · Sintomas: dor, icterícia, perda de peso, obstrução duodenal, náusea, vômitos · Dx diferencial entre pancreatite crônica vs câncer de pâncreas TUTORIAL: · Balthazar: a partir da TC (que só faz em pacientes graves) · TC inicial possui achados leves e pequenos, subestima nas primeiras 48hrs · Melhor exame para px de pancreatite grave: PCR · Análise clínica é mais utilizado · Teste de tripsinogênio-2 urinário com fita reagente: testes a seguir tem uma sensibilidade e especificidade de > 90% para pancreatite aguda image3.png image4.png image2.png image6.png image8.png image5.png image7.png image1.png