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ALEITAMENTO MATERNO · Amamentar é muito mais que nutrir a criança · Processo que envolve interação entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, habilidade de se defender de infecções, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe · Apenas 40% das crianças < 6 meses recebem AM exclusivo · SBP, MS e OMS recomendam amamentação até os 2 anos de idade e aleitamento exclusivo até os 6 meses e introdução de alimentos complementares a partir dessa idade Definições OMS: 1. Aleitamento materno (AM): é o leite materno direto da mama ou ordenhado, ou leite materno de outra fonte, independente de receber outros alimentos. 2. Aleitamento materno exclusivo (AME): leite materno direto da mama ou extraído e nenhum outro líquido ou sólido. É permitido o uso de SRO, vitaminas, minerais e medicamentos. 3. Aleitamento materno predominante (AMP): além do leite materno, água ou bebidas à base de água como sucos ou chás. Não é permitido outros leites e/ou alimentos. 4. Aleitamento materno complementado: além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com finalidade de complementá-lo e não o substituir. 5. Aleitamento materno misto ou parcial: a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. · Aleitamento materno no Brasil: é ideal que na primeira hora de vida a criança já tenha contato com o seio materno. Só 41% das crianças seguem com aleitamento materno exclusivo em < 6 meses de vida no Brasil, classificado como “bom”, sendo o Nordeste a região com piores índices e Norte e Centro-Oeste com os melhores Benefícios: Para mãe: · Menor perda de sangue no pós-parto, com redução da anemia materna · Retorno mais fácil ao peso pré-gestacional · Efeito anticoncepcional · Custo zero · Vínculo mãe-filho · Redução do risco para aparecimento de cÂncer mamário e de ovários · Redução do risco para aparecimento de hipercolesterolemia e hipertensão Para criança - em curto prazo: · Fornecimento de componentes imunológicos e enzimáticos · Composição ótima de nutrientes · Promove desenvolvimento facial-muscular · Barato, conveniente, de fácil digestão · Previne a desnutrição e as carências de micronutrientes · Previne a alergia alimentar · Proteção contra doenças agudas (diarreia, pneumonia, otite, meningite por H. influenza, ITU) Para criança - a longo prazo: · Amamentação não envolve apenas aspectos biológicos, mas aspectos psicológicos e comportamentais · Lactantes em AM desenvolvem mecanismos mais eficazes para regular a sua ingestão energética, controlando a saciedade interna, já que a mamadeira encoraja a terminar o conteúdo do recipiente · Dieta da mãe afeta o sabor do leite materno e os diferentes sabores interferem na ingestão e na aceitação de novos alimentos (o que inicia no líquido amniótico) · A cada 3,7 meses de AM, há redução de 6% no risco de desenvolvimento de obesidade Composição do leite humano: · Colostro: produzido até o 7° dia pós nascimento, sendo formado um pequeno volume (40-50 mL), mais viscoso, rico em imunoglobulinas, leucócitos e agentes anti-inflamatórios. Tem fatores tróficos para o TGI, cor mais amarelada · Leite de transição: 7°-14° dia, tem variabilidade na produção láctea dia a dia · Leite maduro: a partir do 15° dia de vida · O mais calórico são o leite de transição e o leite maduro, mas o colostro tem maiores quantidades de vitaminas e carotenóides · A variação da composição do leite materno ocorre em função: · Estágio da lactação (leite anterior e posterior) - leite posterior tem maior teor de gordura e fornece mais energia · Rotina de amamentação · Condição nutricional materna para micronutrientes · Dieta materna · Peso e idade gestacional do bebê · Recomendado iniciar a amamentação em um seio e em seguida passar para o outro Tamanho do estômago do RN: · No início, a produção do leite é pequena, porque o estômago da criança é pequeno também · 1º dia: o estômago do RN tem 5-7 ml, comparando-se ao tamanho de uma cereja. · 3º dia: o estômago do RN tem 22-27 ml, comparando-se ao tamanho de uma noz · 1ª semana: o estômago do RN tem 45-60 ml, comparando-se ao tamanho de uma ameixa · 1º mês: o estômago do RN tem 80-150 ml, comparando-se ao tamanho de um ovo grande Papel protetor do leite materno: · Mecanismos de proteção do LM exclusivo na alergia · Passivos: diminuição da exposição a antígenos exógenos (mamadeiras, água contaminada) · Ativos: componentes do leite materno. Sistema imunológico formado por 3 grupos: agentes antimicrobianos, fatores anti-inflamatórios e agentes imunomoduladores · Todos os fatores somam para atuar na questão imunológica e protetiva Anatomia da mama: · É uma glândula formada por 15-25 lobos e tem 20-40 lóbulos, sendo que em cada lóbulo há 10-100 alvéolos · É no alvéolo que ocorre a produção do leite · Cada célula alveolar é capaz de produzir leite com todos os constituintes: · Por difusão: água e íons monovalentes como NA, K e Cl passam através da membrana celular até o interior do alvéolo · Por exocitose: membrana celular se funde com a da proteína, essa se abre deixando a proteína livre · Por secreção apócrina: secreta a partir de seu protoplasma, é o mecanismo de secreção de lipídios · Por pinocitose: ocorre o transporte de imunoglobulinas · Por via paracelular: as células encontradas no leite são secretadas através de solução de continuidade entre as células alveolares Fisiologia da lactação: Gestação · Lactogênese I: preparação para lactação. A mama é preparada, mas o leite não é liberado. Há formação de lóbulos e aumento da ramificação ductos lactíferos Nascimento · Lactogênese II: apojadura (descida do leite). Após dequitação da placenta. Diminuição da progesterona, estrógeno, lactogênio placentário e aumento da prolactina e ocitocina Amamentação · Lactogênese III: galactopoiese (manutenção da lactação). Depende da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Há aumento da prolactina e ocitocina e diminuição de peptídeos supressores PROLACTINA: · Secretada pela adenohipófise · Durante a gestação, estimula o crescimento e desenvolvimento mamário · Após o nascimento, há produção de leite pelos alvéolos · Mais prolactina é produzida à noite, por isso amamentar durante a noite é importante para manter a produção de leite. · Suprime a ovulação. · Inicialmente 2-10 ml por mamada, aumentando nas duas primeiras semanas em até 10 vezes OCITOCINA: · Produzida na hipófise posterior · Produz contração das células musculares (mioepiteliais) em torno dos alvéolos, fazendo com que o leite flua através dos ductos - REFLEXO DE EJEÇÃO · Provoca a contração do útero no pós-parto, o que ajuda a reduzir as perdas de sangue, além de acelerar a involução uterina, por isso estimulamos que o bebê mame no peito da mãe após nascimento · Começa a atuar antes que o bebê sugue, quando a mãe está preparada para amamentar. · Fator inibidor: substância no leite materno que pode diminuir ou inibir a produção de leite. Se muito leite é deixado na mama, o fator faz com que as células deixem de produzir leite Contraindicações absolutas da amamentação: · Lactentes com galactosemia (deficiência de galactose 1-fosfatase uridiltransferase) · Mãe infectada pelo HIV · Mãe infectada pelo HTLV I e II (human T-cell lymphotropic vírus type I or type II) · Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação: antineoplásicos e radiofármacos Não deve interromper o aleitamento materno: · Tuberculose: utilizar máscara para amamentar (bebê deve receber quimioprofilaxia) · Hanseníase: manter a amamentação · Hepatite B: vacina e administração de imunoglobulina ao bebê · Hepatite C: risco no caso de sangramento na mama · Tabagismo e consumo de álcool: deve ser desestimulado, mas não são contraindicados · Consumo de drogas: interrupção temporária com ordenha do leite que deve ser desprezado após 24h do uso de, por exemplo, maconha, cocaína, crack Condução do leite materno: (Pedir a mãe para mostrar como oferece o leite à criança) · Posicionamento do bebê: mãe e bebê confortáveis, mãe com costas relaxadas, corpo dobebê próximo ao da mãe e apoiado, rosto do bebê de frente para a mama, nariz na altura do mamilo e tronco e cabeças alinhados com pescoço não torcido · Pega: boca bem-posicionada, queixo tocando (ou quase) a mama, aréola mais visível acima do lábio inferior e lábio inferior virado para fora (boquinha de peixinho) · Sucção (sinais de sucção eficiente): sucções lentas e profundas, pode-se ouvir a criança engolindo, movimentos de ordenha suaves e coordenados com o ritmo de deglutição e respiração, as bochechas têm aparências arredondadas durante a amamentação e quando o bebê fica satisfeito, larga a mama espontaneamente *** Se quiser tirar a criança do seio deve-se ter cuidado pois pode machucar o bico do seio, coloca-se o dedo substituindo o seio Formulário de observação da mama: Principais dificuldade: · Ingurgitamento mamário fisiológico e patológico: ocorre entre o 3º e 5º dia após o parto. A mãe sente desconforto, mamas pesadas, doloridas e aumento de temperatura, o leite flui facilmente. A recomendação é de que a mãe deverá amamentar com mais frequência, se necessário deve ordenhar a aréola antes da mamada, retirar o excesso do leite por ordenha precedida de massagem ao final da mamada. A mãe pode usar sutiã com alça firme. Lembrar que é um processo fisiológico, com o passar dos dias a produção se ajusta com a necessidade da criança · Bloqueio de ductos lactíferos: é quando o leite produzido em uma determinada área da mama não drena. Normalmente formam-se nódulos mamários palpáveis, sensíveis e dolorosos. O ideal é de que a mãe inicie a mamada pela mama afetada, variar as posições do bebê e massagear a área acometida para ajudar esse leite sair · Mamilos doloridos ou trauma mamilar (fissuras): ocorre no pós-parto imediato. É ocasionado por técnica inadequada, alterações mamilares, interrupção inadequada da mamada, bombas para extração. Ação: a mãe deverá continuar amamentando e ajustar a técnica, iniciar mamada pela mama menos afetada, ordenhar um pouco de leite antes de iniciar a mamada, amamentar em diferentes posições para diminuir a pressão sobre os pontos dolorosos. Evitar protetores ou produtos que retirem a proteção natural do mamilo. Deixar mamilos secos e expostos a luz solar, se necessário analgésicos · Mastite (mais grave): é um processo inflamatório associado ou não a infecção, geralmente unilateral. Mais frequente em quadrante superior esquerdo. Ocorre pela estase de leite com resposta inflamatória, é difícil distinguir a infecciosa da não infecciosa. Ação: a mãe deve amamentar com mais frequência, variar as posições de amamentação, retirar o excesso de leite por ordenha ao final da mamada. A mãe pode usar sutiã com alça firme, repouso, medicamentos como analgésicos e antibióticos. · Abscesso mamário (complicação da mastite): é uma coleção de pus dentro da mama que ocorre de forma secundária à mastite (S. aureus), vai ter dor, toxemia e febre. Pode ter área de flutuação, utilizamos o US para localização exata do local. Deve ser feita a drenagem cirúrgica com coleta de material, a amamentação deve ser mantida. Caso haja necessidade de interromper deve ser feita a ordenha e retornar em 2-3 dias. Mesmas medidas do tratamento de mastite **Nenhum desses é impeditivo para a amamentação Principais dificuldades: Crise transitória da lactação · Produção materna de leite não acompanha o crescimento do bebê, deixando o bebê com fome nos primeiros 3 meses de vida · Acontece em 50% das mães que amamentam · Acontece por um bebê que está crescendo muito rápido e a produção de leite pela mama não acompanha esse crescimento · É transitório e tem, em 98% dos casos, duração menor que 8 dias · Um dos principais responsáveis pelo desmame precoce · Sinais: criança não descansa entre as mamadas, dorme durante a mamada, acorda à noite com frequência e se mostra irritada durante a mamada e após soltar o peito (são sinais de fome) · A mãe tem sensação de mamas vazias, com reflexo de ejeção diminuído ou ausente, com dúvida de sua capacidade de nutrir · Devemos orientar a mãe sobre o fenômeno e acompanhar o crescimento · As recomendações são a livre demanda (pode ser até mais de 15 vezes), conferir posição e pega, não oferecer outros líquidos e alimentos ao bebê e ter maior ingestão de líquidos. Depois do retorno ao trabalho · Amamentar quando estiver em casa, evitar mamadeiras e preferir o copo · Conservar na geladeira após degelado · Leite amornado e não consumido = desprezar · Iniciar estoque de 15 dias antes do retorno ao trabalho, armazenar em recipiente de vidro com tampa plástica (lavados e fervidos por 15 minutos) · Conservação: em ambiente por no máximo 1 hora, na geladeira por até 48 horas · Congelamento: no freezer da geladeira por até 15-21 dias. Congelador de porta única não é recomendado · Descongelamento: retirar do freezer e manter em geladeira por até 12 horas · Aquecimento: em banho maria, nunca com água fervendo ou micro-ondas Medicamentos e amamentação: embora a grande maioria dos medicamentos seja compatível com a amamentação, pode haver necessidade de cuidados especiais CONSIDERAÇÕES FINAIS: o leite humano é o melhor alimento para o lactente, além de benefício para criança, o aleitamento materno tem papel importante na saúde materna. Para o sucesso da amamentação, é fundamental o envolvimento de profissionais de saúde qualificados, apoiando e incentivando o aleitamento materno image2.png image3.png image1.png