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EMPREENDEDORISMO Prof. Dr. Luiz Arnaldo Biagio AUTO CONHECIMENTO Quer apostar que você é um empreendedor? Diante desta pergunta e antes de aceitar a proposta, você pensa: como alguém pode afirmar isso sem se quer me conhecer? Ou ainda: será que sou empreendedor e não me dei conta disso? Você sempre gostou de desafios, mas este passa da conta. Agora, antes de aceitar, você acha melhor descobrir direitinho o que é ser um empreendedor. Você começou a pensar no Zé da Padaria, seu conhecido. Camarada de sorte o Zé. Começou a padaria do nada e a transformou em um grande negócio, com filiais espalhadas por outros bairros da cidade. Você já ouviu dizer que o Zé comprou um apartamento na praia e passa por lá seus fins de semana, juntamente com a família. Deve ser verdade, afinal, faz tempo que o Zé não aparece nos domingos pela manhã no campinho do bairro, para jogar conversa fora e correr atrás da bola. No início, o Zé comprou um pequeno bar do Mané, e transformou aquele “botequim” em uma padaria. Também pudera, nem bêbado para tomar pinga, entrava no boteco do Mané. O Zé percebeu que não havia nenhuma padaria no bairro e assim optou por fazer as reformas necessárias para transformar o boteco em padaria. E se deu bem, muito bem. Quanto mais você pensa no sucesso do Zé, menos você se acha um empreendedor, afinal para ser empreendedor é preciso ter sorte nos negócios, e decididamente sorte é uma coisa que você não tem. A única coisa que ganhou até hoje, foi uma garrafa de vinho licoroso de São Roque, na quermesse da festa da padroeira. E olha que você não pode provar o vinho, pois como era menor de idade, entregou a bebida para seu pai. Você concluiu que tinha uma boa chance de ganhar se aceitasse a aposta, pois se para ser empreendedor era necessário ter sorte nos negócios, e sorte era algo que você decididamente não tinha, estava aberta a possibilidade de ganhar algo em uma aposta pela primeira vez. As vezes não ter sorte é uma sorte. Você sentiu ainda uma pontinha de dúvida e resolveu pesquisar mais um pouco sobre o que é ser um empreendedor. Sua dúvida aumentou ainda mais quando se deparou com um grupo de perguntas elaboradas pelo seu antigo professor de gestão de negócios: • Você é uma pessoa que identifica novas oportunidades de negócio na maior parte do seu tempo e tem iniciativa para implementá-las? • Você está sempre pensando em como criar valor para seus clientes, ou como aprimorar e transformar a sua organização? • Você está sempre a procura de novas formas de fazer negócio para substituir formas antigas e ultrapassadas? Na sequência, você descobriu que se tivesse respondido sim a pelo menos uma das perguntas, você seria um empreendedor. De repente, parece que ficou claro que você é um empreendedor, mas como isso pode ser possível, já que você sempre acreditou que para empreender é necessário sorte ou ter nascido em berço de ouro, e você, decididamente não tinha nem uma coisa e nem outra. Você resolveu explorar mais o assunto antes de aceitar o desafio. Você encontrou a definição de empreendedor e mais ainda, descobriu que existem vários tipos de empreendedores: • Empreendedor de oportunidade: é aquele que identifica oportunidades de negócio e age para torna-la uma realidade. • Empreendedor de base tecnológica: é aquele que opta por capitalizar somente as oportunidades de negócio nas áreas de alta tecnologia. • Empreendedor de necessidade: é aquele que por uma razão ou outra ficou sem emprego e decide ser o próprio patrão, ou seja, trabalhar por conta própria. • Empreendedor corporativo: é aquele que empreende dentro de uma organização, mesmo que seja trabalhador com carteira assinada. • Ecoempreeendedor: é aquele que empreende somente em oportunidades de negócio que demonstre viabilidade socioeconômica ambiental. Pelas definições de empreendedorismo, você concluiu que todas as pessoas fazem parte desse grupo, inclusive você. Umas com mais intensidade que outras. Mas ficam algumas dúvidas: ➢ O empreendedor nasce feito? ➢ É educado desde pequeno para ser empreendedor? ➢ As oportunidades ou necessidades econômicas fazem o empreendedor surgir? ➢ As experiências de vida é que formam o empreendedor? ➢ Afinal, o empreendedor pode ser treinado? Pode ser desenvolvido? Este negócio de empreender, que começou com uma pergunta despretensiosa, está ganhando peso e logo fugirá do controle. Mas, somente para te acalmar, todas as pessoas nascem empreendedoras, porém algumas conseguem, de forma intuitiva, desenvolver um comportamento mais adequado ao empreendedorismo, enquanto que outras pessoas precisam desenvolver este comportamento de forma premeditada. Você deve estar perguntando: como é desenvolver um comportamento de forma premeditada? Para que você entenda melhor este tipo de coisa, vai fazer uma viagem para a década de 40. Você já ouviu falar do Plano Marshall? Pois bem, após a Segunda Grande Guerra, no ano de 1947, era necessária uma ação dos Estados Unidos com vistas à recuperação da economia europeia. A alternativa encontrada e levada a cabo pelo Plano Marshall foi distribuir dinheiro entre as pessoas que possuíam empresas antes da guerra para que elas pusessem seus negócios em marcha novamente e desta forma gerar empregos e movimentar a economia. Somente a Alemanha recebeu aportes financeiros da ordem de 1,448 milhões de dólares. A produção industrial na Europa cresceu em torno de 35% e a produção agrícola atingiu níveis que superaram os níveis dos anos pré-guerra. Porém apesar deste ciclo virtuoso de crescimento, as coisas não estavam tão bem assim. A maior parte das empresas reabertas com os recursos do Plano Marshall estavam endividadas e a maioria não resistiria apenas por alguns meses. A grande pergunta era: por que alguns empresários que fizeram sucesso antes da guerra, agora não conseguiam repetir o mesmo desempenho? A resposta veio tão logo quanto possível: a guerra mudou o mundo e a forma de administrar as empresas também mudou. Numa tentativa de melhorar o desempenho das empresas, além dos recursos financeiros, os Estados Unidos ofereceram aos empresários um forte esquema de treinamento em técnicas modernas de gestão. A ação surtiu apenas um efeito razoável e assim, alguns administradores do Plano Marshall passaram a desconfiar que existiria algo a mais nas pessoas de sucesso no mundo empresarial. Em 1982, a USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional da Organização das Nações Unidas), a MSI (Management Systems International) e a empresa de consultoria McBeer & Company realizaram estudos no sentido de identificar traços de personalidade comuns entre os empresários de sucesso. Deste estudo resultou as dez características do comportamento empreendedor, ou seja, todos os grandes empreendedores do mundo praticam intuitivamente ou premeditadamente dez atitudes comportamentais comuns. Agora, você ainda não encontrou respostas para a sua pergunta: como desenvolver um comportamento de forma premeditada? Você já deve ter ouvido falar sobre os escoteiros, não é mesmo? Pois bem, os escoteiros possuem um conjunto de valores e atitudes consolidados na “Lei Escoteira”. Este conjunto de valores é praticado diariamente e de forma premeditada até que seja incorporado naturalmente ao comportamento do escoteiro. Veja como é fácil fazer isso. Tomando por exemplo a regra 3 do escotismo: “o dever para o Escoteiro é ser útil e ajudar o próximo”. Toda vez que o Escoteiro realiza uma ação de ajuda a alguém, ele repete para si mesmo: “acabo de realizar a regra nº 3”. O Escoteiro também pode definir metas pessoais premeditando a realização de uma regra, ou seja, definindo quantas vezes por dia, ele irá ajudar alguém. O Escoteiro age desta forma, até que ajudar as pessoas passe a fazer parte, naturalmente do seu comportamento. No caso do empreendedor, esta forma de agirtambém é válida. Tomando por exemplo a 9ª Característica do Comportamento Empreendedor “Persuasão e Rede de Contatos”, você poderá estabelecer como meta: “ampliar sua rede de contatos em 10 pessoas por mês”. A cada nova pessoa incorporada à sua rede, você irá pensar: “acabo de praticar a 9ª CCE”. Na verdade, se você estabelecer metas para ampliar sua rede de contatos, você estará praticando duas características do comportamento empreendedor simultaneamente: 7ª CCE: estabelecimento de metas; 9ª CCE: persuasão e rede de contatos. Viu como é fácil? Agora é chegada a hora de você conhecer detalhadamente as 10 CCEs. AS CARACTERÍSTICAS DO COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR Em primeiro lugar, é bom que você tenha em mente que o mundo mudou bastante nos últimos 30 anos e a tendência é mudar ainda mais nos próximos anos, mas 10 características do comportamento empreendedor identificadas pelo estudo da USAID em 1982, ainda são atuais e com pequenas adaptações podem ser utilizadas na sua plenitude. A era do conhecimento, a globalização econômica, o uso da tecnologia em larga escala e as mudanças nos valores da sociedade, acabaram por forçar o empreendedor a desenvolver a 11ª CCE: espirito inovador. Você já deve estar curioso, não é mesmo? Então, sem mais delongas, aqui vamos nós: apresentamos as 10 CARACTERÍSTICAS DO COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR MAIS 1. • 1ª CCE: Busca de oportunidades e iniciativa. É a capacidade do empreendedor de fazer as coisas antes de ser forçado pelas circunstâncias, identificando oportunidades e transformando-as em novos negócios, ou ainda propondo soluções inovadoras. Você já vivenciou a seguinte situação? Você está tomando banho e resolve diminuir a temperatura do chuveiro elétrico por conta da água estar muito quente; para tanto precisa fechar a água, mudar a chave seletora entre água fria, morna e quente, e reabrir o registro de água. Diante disso pensou: “quem inventar um chuveiro elétrico que não necessite de tantas manobras para mudar a temperatura da água vai ganhar dinheiro”. Um ano depois, visitando uma loja de materiais de construção, observa que o chuveiro mais vendido era exatamente aquele equipado com um dispositivo eletrônico que trocava a temperatura da água sem que o fluxo tivesse que ser interrompido e, novamente, pensa: “eu sabia que quem inventasse isso iria ganhar muito dinheiro.” Agora, responda a seguinte pergunta: já que você teve a ideia, por que não foi você quem lançou o produto e ganhou dinheiro com a sua produção e comercialização? Saiba que você é como a maioria das pessoas. Você sabe como identificar uma oportunidade, mas por um motivo ou por outro lhe falta a iniciativa para transformar sua ideia em um negócio. O empreendedor identifica as oportunidades de negócio e imediatamente ativa sua capacidade de transformar as oportunidades em realidade, independente dos obstáculos que irá encontrar pela frente. Mas cuidado para não mergulhar fundo nesta CCE, pois capitalizar oportunidades é diferente de ser oportunista. Você já viu pessoas vendendo copos de água nos congestionamentos do trânsito das grandes cidades? O que você acha: estes vendedores são oportunistas ou pessoas que perceberam uma oportunidade de negócio? Se você respondeu que estes vendedores são pessoas que perceberam oportunidades de negócio, você está correto. Neste caso, os “clientes” possuem alternativas. Você poderia parar seu automóvel e se locomover até um bar e comprar um copo de água, caso estivesse com sede. Se preferir comprar do vendedor ambulante, optará pela comodidade e certamente irá pagar pela sua opção. Agora, se você, em pleno deserto, quase morto de sede, encontrasse alguém vendendo água, esse alguém seria um oportunista, pois você não teria alternativa senão adquirir aquela água por qualquer que fosse o preço de venda. Com o tempo você irá entender que existe uma linha muito tênue separando o empreendedor do oportunista que é muito difícil para o próprio empreendedor estabelecer o limite. • 2ª CCE: Correr riscos calculados É a capacidade para avaliar alternativas e calcular os riscos que cada uma delas traz consigo, agindo para minimizar estes riscos ou mantê-los sob controle. Você conhece a história do joalheiro de Campinas? Pois bem, lá pelo ano de 1994, quando o dólar e o real tinham o mesmo valor, uma joalheria de Campinas mantinha exposto em seu mostruário um relógio de R$ 24.000,00. Em um certo sábado à tarde, um cliente entrou na joalheira procurando um presente e quando se deparou com o relógio, ficou encantado. Percebendo o entusiasmo do cliente para com o relógio, o joalheiro decidiu atendê-lo pessoalmente e eis que conseguiu efetuar a venda. Negócio fechado, o cliente retirou o talão de cheques do bolso e começou a providenciar o pagamento. Neste momento o Joalheiro perguntou se o cliente não possuía cartão de crédito. O cliente respondeu positivamente, entretanto que o limite do cartão de crédito não era suficiente para uma aquisição daquelas proporções. O joalheiro sentiu-se estarrecido. E se ele estivesse sendo vítima de um golpe? Como ele poderia verificar a validade do cheque? Consultar o cadastro de emitentes de cheques sem fundos era impossível para um sábado à tarde. Por outro lado, não poderia deixar de receber o cheque, afinal este é um documento de pagamento reconhecido como válido em todo o território nacional. Imagine como estava a mente do joalheiro, quando ele teve uma ideia genial. No momento em que o cliente lhe entregou o cheque, ele perguntou: qual o endereço para a entrega? Meio atrapalhado, o cliente retrucou: como? Eu não poderei levar o relógio agora? Prontamente, o joalheiro explicou-lhe que não seria prudente ele levar a mercadoria pelo valor. A joalheria costuma proteger seus clientes com uma apólice de seguros para evitar qualquer tipo de perda ou sinistro. O cliente, um tanto quanto reticente explicou que o relógio seria um presente de aniversário para seu pai, e que deveria ser entregue em um endereço de São Paulo até a próxima quinta-feira, dia em que a família iria comemorar o aniversário do pai. O joalheiro afirmou que faria a entrega pessoalmente. Assim combinados despediram-se. Na segunda-feira o joalheiro confirmou a validade do cheque, fez uma apólice de seguros para o relógio em nome do pai do cliente, adquiriu um champanhe francês e um cartão parabenizando o pai do cliente pelo aniversário e entregou o relógio, apólice de seguros, champanhe e cartão acondicionados em uma linda embalagem no endereço e datas previamente combinados. O joalheiro conseguiu surpreender o cliente com a qualidade de atendimento ao mesmo tempo em que evitou o risco de receber um cheque sem fundos. Mas o empreendedor não precisa ter ideias geniais no dia-a-dia de seu negócio para evitar alguns dissabores. É bom que você sempre tenha em mente que um empreendimento está intimamente ligado aos riscos, porém, como um negócio não é um jogo, você precisará calcular os riscos que estará correndo e considerar planos de contingência para os riscos mais relevantes. Agora, fica um conselho: vá com calma. Empreendedores podem se transformar, facilmente em uma pessoa calculista, o que não é bom para o negócio. Neste caso, o empreendedor acaba procurando o lucro apenas pelo lucro, o que não tem nenhum valor. • 3ª CCE: Exigência de qualidade e eficiência É o compromisso pessoal de fazer as coisas mais baratas, mais rápidas e melhores, procurando satisfazer ou superar os padrões de excelência, seja no preço, no prazo de entrega, ou no desempenho do produto. Você já deve ter ouvido as pessoas dizerem que “zero defeito é impossível”, ou que “a perfeição é divina” ou ainda que “errar é humano”, e assim por diante. Mas uma frase daquelas que os caminhoneiros escrevem nos para-choques que melhor representa a exigência de qualidade e eficiência é: “prefiroperseguir a felicidade sem nunca alcançá-la totalmente, que perseguir a solidão e ir ao encontro dela”. Transportando isso para o problema da qualidade, você irá perceber que a perfeição absoluta jamais será alcançada, porém, você deverá ter como seu rumo uma busca incansável pela perfeição, mesmo sabendo que nunca irá alcançá-la totalmente. Para que você entenda melhor esta questão, preste muita atenção na seguinte história: “Havia um famoso empresário que fabricava máquinas de usinagem de diversos tipos e modelos. Durante muito tempo, ele cuidou pessoalmente dos detalhes da construção e montagem de cada equipamento, porém com a chegada da idade foi se afastando lentamente das linhas de produção – não sem antes transmitir aos seus sucessores os segredos da fabricação dos equipamentos com esmeradas precisão e qualidade. No entanto, o empresário não conseguiu manter-se longe da empresa e adotou uma rotina de visitas diárias ao setor de expedição. Escolhia um equipamento qualquer que estivesse pronto para o embarque e solicitava que o mesmo fosse ligado. Em seguida, colocava um copo de água sobre o barramento. Se aparecessem pequenas ondulações na água em razão da vibração do equipamento, ele era devolvido à linha de produção para retrabalhos. Com tanto cuidado na fabricação e na inspeção dos equipamentos, era natural que o preço de venda desses produtos fosse maior que o das empresas concorrentes. Contudo, os clientes orgulhavam-se em falar que possuíam tais equipamentos em suas linhas de produção, destacando-os como um diferencial competitivo”. Você entendeu o espirito da coisa? Mas tome cuidado, ser extremamente eficaz nas coisas que você faz, pode ser sinônimo de perfeccionismo e para trabalhar em equipe, ser perfeccionista poderá te trazer algumas complicações, como dificuldades em aceitar o trabalho feito por outras pessoas, por exemplo. • 4ª CCE: Persistência É você viver acreditando sempre em si mesmo de tal forma a pensar sempre ser possível superar um obstáculo significativo, que para muitas pessoas pode parecer intransponível. A fim de superar um desafio, o empreendedor, age repetidamente ou muda as suas estratégias, sem jamais abandonar seu objetivo principal. Você já reparou como algumas pessoas são persistentes? Analise a história de Abraham Lincoln: nascido em uma família humilde, seu pai era sapateiro, perdeu a mãe aos 9 anos, faliu pela primeira vez aos 31 anos e perdeu uma eleição para o legislativo aos 32 anos. Aos 34 anos faliu novamente, perdeu sua noiva aos 35 anos e aos 36 anos teve um colapso nervoso. Concorreu e foi derrotado nas eleições para o Congresso aos 43, 46 e 48 anos, tendo sido novamente derrotado aos 55 anos em uma tentativa para o Senado. Aos 60 anos tornou- se o 16º Presidente dos Estados Unidos, sendo considerado por muitos como o melhor presidente dos Estados Unidos, deixando como legado a libertação dos escravos norte- americanos. A persistência é uma forma de comportamento onde as pessoas acreditam sempre ser possível a superação de um obstáculo significativo, que para as outras pessoas, parece ser intransponível. Aqui cabe um alerta: você precisa tomar cuidado com esse tipo de comportamento, pois facilmente a persistência pode transformar-se em teimosia e, nesse caso, passa a ser nocivo para o empreendimento. Ser persistente não é “dar murros em ponta de faca”, como diz o ditado popular, mas sim, adotar estratégias que permitam remover os obstáculos ou, então, contorná-los. • 5ª CCE: Comprometimento Uma pessoa comprometida se sacrifica pessoalmente ou despende esforços extraordinários para executar uma tarefa, colaborando com outras pessoas e, em certos casos, assumindo o lugar delas para completar uma tarefa. Você já assistiu ao filme “Piratas do Vale do Silício”? Este filme, conta a história da Microsoft e da Apple, contada por Steve Wozniak, sócio de Steve Jobs na fundação da Apple. Se você já assistiu, assista-o novamente e desta feita observe atentamente o comportamento de Bill Gates e Paul Allen, que mesmo provocados intensamente por Steve Ballmer, colega de quarto dos tempos de Harvard, não se deixavam levar e permaneciam focados no desenvolvimento de softwares para os computadores pessoais que então estavam dando seus primeiros passos. Isto se chama comprometimento. Recordando uma velha fábula que você já deve conhecer, mas que ilustra muito bem essa característica do comportamento empreendedor: na elaboração do prato “ovos com bacon”, a galinha está envolvida no processo, pois cedeu o ovo, já o porco está seriamente comprometido, pois cedeu a própria vida entrando com a pele. Para estar comprometido, não basta vestir a camisa da empresa, isso é envolvimento. É necessário ter a marca da empresa tatuada na própria pele. No momento de cumprir um prazo, o empreendedor não dá lugar ao cansaço, ao lazer ou aos amigos, até atingir seus objetivos. Mas tome cuidado, se você for uma pessoa extremamente comprometida, poderá ultrapassar o limite e tornar-se uma pessoa obsessiva, o que não é saudável para os negócios e tampouco para sua vida pessoal. É preciso saber dosar as coisas. • 6ª CCE: Busca de informações. Você poderia imaginar o que seria possível fazer se recebesse o jornal com as notícias que iriam acontecer na próxima semana? Isso é o valor da informação. No mundo atual e globalizado é impossível alguém fazer sucesso nos negócios se as decisões não forem sustentadas por informações retiradas do mercado. É de importância decisiva que você se empenhe pessoalmente no garimpo de informações sobre o movimento dos clientes, fornecedores e concorrentes. As informações são de importância vital para o sucesso de qualquer tipo de negócio, completado ainda pelas pesquisas sobre a melhor forma de fabricar ou comercializar um produto ou serviço, e pela consulta de especialistas para a obtenção de conhecimentos técnicos ou comerciais. Você acha que o McDonald´s se instalou no Brasil sem ter informações sobre o mercado brasileiro? Pois o McDonald´s foi muito além de colher informações sobre o mercado brasileiro. Eles estabeleceram um plano a partir das informações colhidas que levou o Brasil a ser o país onde a rede de lanchonetes mais cresceu durante 20 anos. Leia a história a seguir. Não é uma história real, não que eu saiba, mas tem tudo para ter sido. Imagine, hipoteticamente é claro, como teria sido uma pesquisa de mercado realizada para avaliar a vinda do McDonald’s para o Brasil em fevereiro de 1979. Mas o que levou o McDonald’s decidir pela instalação no Brasil mesmo contra as adversidades identificadas? O McDonald´s percebeu que apesar do brasileiro adorar um sanduiche, isto não é tido como sua refeição principal e sim como algo para saborear “fora de hora”. Assim, criou ambientes para crianças, onde as mães poderiam levar seus filhos se divertirem e se sentissem seguras com isso. Através da conquista das crianças, a empresa conseguiu formar a “geração McDonald´s”, um grupo enorme de clientes fiéis. Você entendeu a importância da informação? E olha que apenas a informação nua e crua não basta, é importante também que você saiba analisar e entender aquilo que está nas entrelinhas. Você só não pode é ficar colhendo informações o tempo todo e procrastinar as ações com receio de ainda não ter informações suficientes. Você jamais conseguirá reunir todas as informações a respeito de um mercado e isso não deve servir de desculpas para não empreender. • 7ª CCE: Estabelecimento de metas. Você já ouviu a celebre frase atribuída ao filósofo grego Sêneca “para um navio que não sabe a que porto vai, nenhum vento lhe será favorável”? As metas são o rumo do empreendedor. As metas são os motores que movem o empreendedor. Para ter este efeito motivador e norteador, as metas precisam ser SMART (eSpecíficas, Mensuráveis, Atingíveis, Relevantese Temporais). Imagine-se planejando uma viagem para a Itália, onde você pretende gastar US$ 20 mil, o que irá conseguir economizando US$ 500 mensalmente durante os próximos 40 meses. A viagem é importante para você porque a Itália era a terra de seus avós e você sempre sonhou conhecer as maravilhas do local onde seus avós nasceram. Se você ganha US$ 2 mil por mês e consegue economizar os US$ 500, a viagem será perfeitamente possível de ser efetuada. Isto é uma meta, afinal, você não quer viajar para qualquer lugar, mas sim para a Itália, assim é uma viagem específica. Você consegue mensurar a viagem através dos valores que você pretende gastar, afinal uma viagem de US$ 20 mil é diferente de uma viagem de US$ 10 mil. A viagem é atingível por aquilo que você vai se esforçar para economizar durante os 40 meses. A viagem também é relevante para você por causa da sua descendência familiar e finalmente existe um prazo para que você faça a viagem: 40 meses. Mas olha só: apesar das metas serem o motor do empreendedor e isso te motivar a ter muitas metas, adotar esta atitude poderá te fazer perder o foco e você não conseguirá cumprir nenhuma das metas traçadas. • 8ª CCE: Planejamento e monitoramento sistemático Aqui você irá imaginar uma situação futura e traçar o caminho para atingí-la. Como todo brasileiro, você deve ser meio avesso ao planejamento, porém ter capacidade de elaborar um plano e colocá-lo em prática é um dos requisitos básicos de um empreendedor de sucesso. Planejar inclui a divisão de tarefas maiores em subtarefas menores, estipulando prazos, a revisão sistemática e constante, levando-se em conta os resultados obtidos. Imagine-se construindo uma casa. Primeiramente, você vislumbra o resultado, ou seja, a situação futura. Assim, quase como se fosse um sonho, você passeia no interior da casa, visita cômodo por cômodo, imagina a mobília e a decoração de cada cômodo, imagina o jardim, a piscina, o seu escritório e assim por diante. Você está imaginando uma situação futura. Agora que você já sonhou com a casa, para vê-la pronta é preciso planejar e se você não souber como fazer isso, deverá contratar um arquiteto para desenvolver este planejamento detalhe por detalhe. Pelo planejamento passa a elaboração do projeto, a aprovação da construção junto aos órgãos públicos, a contratação da mão-de-obra, a execução dos trabalhos de preparação do terreno e fundação, a construção das paredes, construção do telhado, execução do acabamento interno e externo, execução das partes hidráulicas e elétricas, execução dos pisos externos e jardins e ufa... chegou o dia da sua mudança. A elaboração de todas estas partes da construção deve ser integrada e executada dentro de um período de tempo predeterminado e de acordo com valores previamente orçados. Agora, pense um pouco: sem planejamento adequado, você acha que seria possível concluir a construção da sua sonhada residência, dentro do prazo e do orçamento? É obvio que algumas alterações serão necessárias durante a execução daquilo que foi planejado, afinal o mercado é dinâmico, mas isso não deve ser desculpa para não fazer planejamento. É obvio também que durante a execução da obra, surgirão novas e melhores ideias e soluções, porém, isso também não deve ser motivo para abandonar aquilo que foi planejado. Nestas ocasiões, basta replanejar incluindo as modificações autorizadas. O único senão fica por conta do cuidado que você deverá tomar para não ficar excessivamente preso ao planejamento, tornando-se uma pessoa rígida pois isso é ruim para o mundo dos negócios onde espera-se flexibilidade na tomada de decisões. • 9ª CCE: Persuasão e rede de contatos Na ação empreendedora, você precisará construir e manter uma rede de relações comerciais, fazendo das pessoas chave seus agentes para ajudá-lo na consecução de seus objetivos. O empreendedor tem forte necessidade de exercer controle sobre situações, e isto significa exercer influência sobre pessoas. Para realizar os objetivos é necessário negociar, fazer acordos, convencer pessoas, obter colaboração, levar as pessoas a acreditarem em determinada ideia. Voltando ao filme “Piratas do Vale do Silício”, você se recorda como Bill Gates convencia Steve Jobs a passar-lhe informações sobre os softwares de interface gráfica que a Apple estava desenvolvendo? Bill Gates sabia da intolerância de Steve Jobs pela IBM e utilizava-se desta fraqueza para convencer-lhe a entregar os códigos dos programas. Você deve estar pensando que agir desta forma é manipular as pessoas e você está correto. Usar a persuasão ao extremo pode fazer de você um manipulador e as vezes até mesmo mais que isso, você poderá inclusive coagir as pessoas para atingir seus objetivos. Todo cuidado do mundo aqui é pouco. Você conhece a história do MASP – Museu de Arte de São Paulo? A história do MASP confunde-se com a história de Assis Chateubriand. Ele conseguiu reunir um dos maiores acervos culturais do mundo, coagindo os grandes empresários de São Paulo a fazerem substanciais doações financeiras à sua obra. Ele chegou mesmo a chantagear alguns destes empresários. É bom que você vá com calma, pois convencer as pessoas passa longe da coação ou da manipulação. • 10ª CCE: Independência e autoconfiança A Independência e a autoconfiança é o caminho que proporciona a realização, pois é comum alguém olhar para um grande empreendedor e perceber quase que uma aura em torno do seu corpo, irradiando realização. Você já reparou como os grandes empreendedores possuem uma espécie de aura de sucesso? Isso é causado pela confiança na sua própria capacidade de complementar uma tarefa tida como impossível pelas demais pessoas ou ainda pela capacidade de enfrentar um desafio e obter sucesso. O empreendedor busca autonomia nas suas decisões, não ficando preso as normas e controles de outras pessoas. Você acha ser possível alguém com pouca instrução, iniciar sua vida como camelô e construir uma das maiores redes de televisão do Brasil, além de um grupo empresarial que abrange, desde lojas de varejo até bancos e financeiras? A princípio pode parecer conto de fadas, mas esta é a história do empresário Silvio Santos. O empresário Silvio Santos, deixou de apresentar seu programa dominical na Rede Globo única e exclusivamente porquê uma reformulação na programação da emissora no início dos anos 70 acabou com os programas independentes. A partir de então, Silvio Santos começou a traçar os planos para obter a licença de seu próprio canal de televisão. Mas aqui fica um alerta: o excesso de autoconfiança leva ao egocentrismo e a arrogância. Não caia nessa. • 11ª CCE: Espirito inovador Apesar de alguns estudiosos afirmarem que esta característica do comportamento empreendedor está presente de forma indireta nas outras 10 cces, devido à dinâmica do mercado na era do conhecimento ou era da informação, é importante conferir-lhe um espaço de destaque. Você já leu o livro “Inovação e Espírito Empreendedor” de Peter Drucker? Ainda não? Então este é o momento, leia-o agora mesmo. Neste clássico da literatura sobre empreendedorismo, o pai da administração moderna discorre a questão da conquista de clientes pelo oferecimento de algo inusitado que resolva seus problemas ou que preencha suas necessidades. Agora, observe que inovação é diferente de invenção. Enquanto invenção é resultado de um processo criativo de pesquisa científica ou experimentação, onde o critério de sucesso é a originalidade, inovação é resultado do processo de desenvolvimento que conduz a novos produtos ou processos comercializáveis tendo como critério de sucesso o desempenho no mercado. Entendeu? Observe que uma invenção somente será uma inovação se ela beneficiar a sociedade sob forma de um produto comercializável. Mas, nem todas as invenções são transformadas em inovações, ou seja, chegam ao mercadosob forma de produtos. Nos Estados Unidos, apenas 0,2% das invenções chegam ao mercado. Por outro lado, não são somente as invenções que dão origem às inovações, necessárias para o sucesso do empreendimento. Você poderá inovar, oferecendo novos produtos a partir de invenções ou a partir de produtos existentes melhorados. Você poderá inovar também oferecendo novas possibilidades de fazer produtos já existentes, fazendo-os mais baratos, através de processos mais limpos ou ainda disponibilizando-os mais rapidamente para os consumidores. Finalmente, você poderá inovar também oferecendo novos modelos de negócios ou novos métodos de gestão de tal forma a facilitar a vida dos seus consumidores. O McDonnald´s não inventou o hambúrguer, mas sim uma nova forma de fazer negócios com o hambúrguer. Também transferiu conceitos da linha de montagem utilizada pela indústria automobilística para a produção dos hambúrgueres. A Toyota utilizou os conceitos de gestão de estoques utilizados pelos supermercados e os aplicou nas suas linhas de produção, desenvolvendo o sistema JIT – Just in time, que transformou a empresa na maior montadora de automóveis do mundo. Somente esteja atento à seguinte questão: nem só de inovação vive o homem, mas também de realização. Não seja apenas mais um sonhador. Muito bem, agora que você já sabe e deve estar pensando sobre as características do comportamento empreendedor, que tal fazer um teste para aferir a quantas andam o seu comportamento com referência às 10 CCEs? Mas isso é assunto para um teste especial. Veja em: TESTE SUA CAPACIDADE EMPREENDEDORA.