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Das sociedades empresariais I SST Calatroia, Gerson Das sociedades empresariais I / Gerson Calatroia Ano: 2020 nº de p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 13 3 Das sociedades empresariais I Apresentação Foi no Direito Romano que as legislações sobre sociedade surgiram, buscando regular as relações dos herdeiros e os bens deixados pelo de cujus, além de regularem, especificamente, as sociedades, para, por exemplo, a compra de escravos. Os modelos atuais são baseados em modelos surgidos no período do mercantilismo, tendo o sistema italiano como base. Nesses modelos, surge a ideia de separar o patrimônio das empresas daqueles conseguidos pelos sócios, que tinham a denominação de serem intuitu personae. Isso quer dizer que os interesses e características pessoais pesavam na constituição das empresas, persistindo o modelo até os dias atuais nas sociedades de pessoas. Trata-se de tema importante do Direito Empresarial que você, aluno, deve estudar. Bons estudos! Das sociedades: conceitos e regras gerais Segundo Ricardo Negrão (2017, p. 284), sociedade empresária é: Contrato celebrado entre pessoas físicas ou jurídicas, ou somente entre pessoas físicas por meio do qual estas se obrigam reciprocamente a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. 4 Uma das principais regras para a sociedade é que ela nasce com o registro do contrato social no órgão competente (sociedade empresária na Junta Comercial e a sociedade simples no Registro Civil das Pessoas Jurídicas [arts. 45, 985 e 1.150, CC/02]), pois, como sabemos, caso a sociedade empresária não se registre, será considerada irregular. Atenção O conceito de contrato de sociedade, disciplinado pelo Código Civil em seu art. 981, é base para as sociedades personificadas, não personificadas, assim como serve como base para as sociedades simples e empresárias. Destaque-se que o Código inovou aqui ao entender que nem toda sociedade é pessoa jurídica. Nesse sentido, vejamos o que dispõe o artigo: “ Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica de a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL, 2002). Classificação das sociedades: sociedades de pessoas e de capitais Antes de analisarmos as sociedades de pessoas e de capitais é importante saber que doutrinadores como Fabio Ulhôa (2013), Rubens Requião (2013) e outros classificam as sociedades em relação: à responsabilidade dos sócios (pessoas, capitais ou mista); • à condição de alienação societária; • à personificação (ser personificada ou não personificada); • à forma de capital, • ao regime de constituição e dissolução (ser ou não empresária); eà naciona- lidade. 5 Contudo, o novo Código Civil classifica as sociedades em: 1. Não personificadas: Aquelas que não gozam de personalidade jurídica – as sociedades em comum (arts. 986 a 990) e as sociedades em conta de participação (arts. 991 a 996). 2. Personificadas: Aquelas que gozam de personalidade jurídica – registro no Registro Público das Empresas Mercantis ou no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (sociedades simples e empresárias). Para facilitar a compreensão, observe a imagem a seguir. Sociedades Fonte: Elaborada pela autora (2017). Em relação à responsabilidade dos sócios, a doutrina a classifica como sociedade de pessoas, sociedade de capitais ou sociedade mista. A sociedade de pessoas, como o próprio nome faz refletir, prevalece na relação societária, o affectio societatis, ocorrendo uma aceitação recíproca entre os 6 sócios. Nas sociedades de capitais, a figura do sócio é vista de modo secundário, não sendo relevantes as qualidades pessoais dos sócios, mas sim o capital, que fundamenta e fortalece a sociedade de capital. Já com relação à mista, o objeto social da empresa poderia preponderar a pessoa dos sócios e do capital. Affectio societatis: Interesse comum das partes em se associar. Curiosidade Segundo a doutrina clássica, são sociedades de pessoas as: • sociedades simples; • sociedade em nome coletivo; • sociedades em comandita simples (possuem elementos mistos); • sociedades em conta de participação (possuem elementos mistos); • sociedades limitadas (também poderá ser de capital). Além disso, são classificadas como sociedades de capital as: • sociedades por ações abertas (valores mobiliários e ações da Bolsa de Valo- res);sociedades por ações fechadas; • sociedades em comandita por ações. Sociedades contratuais e institucionais Sociedades contratuais: São assim denominadas por serem constituídas por contrato escrito mediante cláusulas estabelecidas por sócios. Sociedades institucionais: São constituídas via aderência a um estatuto social. Curiosidade Segundo o professor Gladston Mamede (2016, p. 38): 7 As sociedades contratuais (sociedades por quotas) são instituídas por meio do registro de um contrato social que deve atender cláusulas mínimas (artigo 997 do Código Civil), podendo ainda trazer cláusulas facultativas. Seu capital é dividido em quotas e pode apresentar natureza simples ou empresária. Em contraste, há as chamadas sociedades estatutárias ou sociedades institucionais. Seus elementos de identificação e as regras específicas por meio das quais existem e são administradas estão definidos em estatutos e não em contratos. O estatuto, embora reflita o conjunto das normas que orientam a existência e o funcionamento da pessoa jurídica, não se apresenta como um contrato, não contendo direitos e obrigações recíprocos (artigo 53, parágrafo único, do Código Civil), mas deveres para com a sociedade (MAMEDE, 2016, p. 38). Citação O professor Fábio Ulhôa Coelho (2013), por exemplo, classifica a sociedade segundo o regime de constituição e dissolução da sociedade. Ulhôa considera como institucionais as sociedades em comandita por ações, e as demais espécies societárias são por ele consideradas como contratuais. Ao passo que o professor Ricardo Negrão (2017) considera como contratuais as sociedades em comum, em conta de participação, simples, em nome coletivo, em comandita simples e as limitadas, e como sociedades institucionais as sociedades anônimas, comanditas por ações e cooperativas. Sociedades não personificadas e personificadas São consideradas como sociedade não personificada aquelas desprovidas de personalidade jurídica, mas que são sociedades de fato e de direito – e ainda que não estejam registradas, tal situação não desqualifica o contrato social, pois mesmo que não possuam os direitos inerentes das sociedades personificadas, as não personificadas também possuem obrigações. Essas sociedades são classificadas como sociedades em comum e sociedade em conta de participação. Convém destacar que, segundo a doutrina, a sociedade não personificada pode ser subdividida em: sociedade irregular e sociedade de fato. 8 1. Sociedade irregular: É assim considerada a sociedade que não tenha sido registrada, ou seja, que possui o estatuto social, mas este não foi registrado no órgão competente. 2. Sociedade de fato: Quando a sociedade não tem um contrato escrito, mas somente o acordo verbalizado entre os sócios. Assim, antes de passarmos ao estudo detalhado desses tipos societários, vejamos o conceito de sociedades personificadas. A sociedade personificada é aquela cujo contrato social e toda documentação necessária foi submetida ao registro nos órgãos competentes, adquirindo, assim, personalidade jurídica e contraindo direitos e obrigações. São consideradas personificadas as sociedades empresárias e sociedades simples e suas subdivisões. A sociedade simples não é considerada empresária, pois ainda que exerça atividade lucrativa, este não é o seu objetivo principal. São consideradas sociedades simples aqueles casos em que os profissionais exercematividades intelectuais, de natureza científica literária ou artística (parágrafo único, art. 966, CC/02). Destaca-se, ainda, que de acordo com o parágrafo único do art. 982 do Código Civil, a cooperativa também é considerada como sociedade simples. Reflita As sociedades empresárias, por sua vez, são aquelas dotadas de personalidade jurídica que têm como objeto social a exploração de uma atividade econômica organizada (art. 966, CC/02). 9 Tipos societários Passaremos agora, nesta ordem, ao estudo sintetizado dos tipos societários das sociedades personificadas e das não personificadas, a saber: Societários das sociedades personificadas Fonte: Elaborado pela autora (2017). Sociedade em nome coletivo A sociedade em nome coletivo é regulada pelos arts. 1.039 a 1.044 do Código Civil e, subsidiariamente, pela norma da sociedade simples. Os doutrinadores a consideram como um modelo genérico, composta exclusivamente por pessoas físicas (sociedade de pessoas), destacando que se o contrato social de alguma sociedade não mencionar o tipo societário, poderão os sócios optar pelo modelo da sociedade em nome coletivo, visto ter requisitos simplificados quando comparada, por exemplo, com uma sociedade anônima. Nesse tipo societário, todos os sócios respondem pessoalmente às obrigações de forma solidária (passiva entre os sócios, mesmo nos modelos de sociedade ilimitada pelos débitos da sociedade) e ilimitada. Destaca-se que o credor deverá primeiro demandar a sociedade para só então demandar os sócios, por isso a 10 noção de responsabilidade é subsidiária, porque primeiro o credor deverá esgotar os esforços na tentativa de receber da sua sociedade em nome coletivo e, caso não receba, poderá então demandar os sócios, que são garantidores do crédito societário nesses modelos em que há responsabilidade ilimitada. Nesse ponto, poderá o credor escolher qual sócio demandar, podendo, inclusive, demandar a todos os sócios da sociedade em nome coletivo. De acordo com o art. 1.040 do Código Civil, somente os sócios podem administrar a sociedade em nome coletivo, não sendo possível em tal sociedade contratar um administrador ou um não sócio administrador profissional, fato comum e que é basicamente uma regra na sociedade de Capital (BRASIL, 2002). Saiba mais Com respeito à sociedade em nome coletivo, temos os sócios. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um (parágrafo único, art. 1.039, CC/02). Com relação ao contrato social, este deve atentar aos requisitos referidas no art. 997 do Código Civil de 2002, devendo constar a firma social (art. 1.041, CC/02). No que diz respeito à firma social, como a responsabilidade dos sócios na sociedade em nome coletivo é ilimitada, o nome civil de todos os sócios, ou de pelo menos um deles, deverá conter a expressão “e companhia” ou sua abreviatura – Cia. –, conforme dispõem os artigos arts. 1.157 e 1.158, § 1º, do Código Civil de 2002. A sociedade em nome coletivo se dissolverá pelas causas previstas no art. 1.033 do Código Civil de 2002, e, se empresária, também pela declaração de falência (art. 1.044, CC/02). Sociedade em comandita simples A sociedade em comandita simples é prevista nos arts. 1.045 ao 1.051 do Código Civil de 2002. Confira o que diz o art. 1.045: Art. 1045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis 11 solidárias e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota. Parágrafo único. O contrato deve descriminar os comanditados e os comanditários. (BRASIL, 2002) Antes de analisar o artigo, saiba que comandita significa administrada – advém da expressão italiana accomandita, que significa depósito-guarda. A sociedade em comandita simples possui duas categorias: 1. Comanditados: Pessoas físicas (sócios) responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais e, por isso, podem administrar a sociedade 2. Comanditários: Aqueles obrigados somente pelo valor de sua quota, sejam pessoas físicas ou jurídicas – a responsabilidade dos comanditários é limitada ao valor de sua quota, dessa forma, não participam da administração da sociedade. Contudo, na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão administrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II e sem assumir a condição de sócio os atos de administração (parágrafo único, art. 1.051, CC/02). Importante destacar que, no que forem compatíveis, aplicam- se as normas da sociedade simples às regras da sociedade em nome coletivo (art. 1.046 e parágrafo único, CC/02). Ressalta-se que, em caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente (art. 1.050, CC/02). Além disso, será dissolvida, por qualquer das causas previstas no art. 1.044 do Código Civil de 2002 ou quando por mais de 180 dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio. Atenção 12 Conclusão O presente conteúdo apresenta lições importantes sobre como se formam as sociedades empresariais e quais os principais tipos existentes, bem como apresenta a forma que se constituem. Verifica-se que o conteúdo apresenta uma série de formas de constituição de empresas que nada mais são do que formas de se juntar um coletivo de pessoas ou de empresas que possuem um objetivo específico. No âmbito do Direito Empresarial, saber distinguir quais as formas de constituição de uma empresa e qual o caminho que deve ser percorrido pelos interessados é de extrema importância, já que o operador jurídico deve orientar as partes interessadas em constituir uma empresa de forma ampla e correta, a fim de evitar que a empresa se constitua com vícios que as vezes podem ser insanáveis. 13 Referências BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, 11 jan. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/l10406.htm#capituloiiextincaocontrato. Acesso em: 22 set. 2020. COELHO, F. U. Curso de direito comercial. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 1 e 2. MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. São Paulo: Atlas, 2016. NEGRÃO, R. Manual de direito comercial e de empresa. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. REQUIÃO, R. Curso de direito comercial. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 1 e 2.