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Literatura Brasileira IV 
Aula 03: Guimarães Rosa 
Tópico 03: Retrato de Cavalo – Chat
Neste terceiro tópico desta aula dedicada a Guimarães Rosa, vamos ler um 
pequeno conto do autor, do último livro dele publicado em vida: Tutameia - 
Terceiras estórias. Este livro, que apareceu em 1968, foi recebido com 
perplexidade – e às vezes hostilidade – pela crítica e pelos leitores.
Fonte [3]
E Tutameia? Como podemos situar a obra nesse contexto? Em afirmação verbal supostamente 
presenciada por um crítico e escrita e reescrita como se a própria pessoa física do autor a tivesse 
feito, supondo que tivesse autoridade para isso, conta-se que Guimarães Rosa teria se esquivado de 
explicar por que ele escreveu as Terceiras estórias após as Primeiras estórias. E as segundas? Depois, 
sobre a ordenação alfabética dos títulos das estórias de Tutameia, observou que dois dos títulos 
estavam fora da ordem. Perguntado sobre o porquê dessa desordem, ele teria afirmado: "— Senão eles 
achavam tudo fácil". Supõe-se que "eles" devem ser os críticos, que esperam em geral que a literatura 
esteja arrumadinha, para que eles a possam classificar, selecionar, hierarquizar, julgar... Ante a 
perplexidade "deles", aparece esse texto que nos assombra, que já foi taxado de involução e regressão, 
que durante décadas afastou os olhares dos que veem na obra literária rosiana um sistema em que 
transitam o poder, a política, as determinações sociais, ao lado do amor e da magia, (o que a crítica vê 
em Guimarães Rosa?), numa linguagem "instrumentalista", "experimentalista", nomes horríveis para 
designar precariamente a magia e o sonho de um código singular, de um sortilégio em forma de 
linguagem, e que não obstante é insistentemente e sistematicamente classificado, desmontado, 
hierarquizado.
Tutameia, entretanto, parece ter-se esquivado da "grande" crítica, quiçá excessivamente grande 
para ocupar-se de coisas tão miúdas.
Percebemos, pelas pesquisas feitas no oráculo do século XXI, a Internet, que na última década 
Tutameia tem sido alvo das reflexões de jovens críticos universitários, muito mais em dissertações de 
mestrado do que em teses de doutorado, segundo o dedo oracular, a apontar para direções incertas. Deve-
se isso ao fato de que esses jovens têm menos medo de errar, por estarem menos contaminados de um 
saber crítico engessador? Ou seria simplesmente o que lhes restou da obra de Rosa, salva 
misteriosamente da sanha explicativa que assolou, por exemplo, Sagarana e Grande Sertão? Essa é a 
punição que sofrem as grandes obras, por serem grandes: montanhas, pilhas de críticas, desmontes, 
explicações, verdades sobre verdades.
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