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TCE TCE é qualquer evento traumático relacionado ao SN, em especial encéfalo e crânio Paciente que sofre trauma na cabeça, por acidente ou queda e tem sintoma de dor de cabeça, vômito, mesmo com TC normal Epidemiologia: · Grande número de atendimentos em serviços de emergência po violência e acidentes automobilísticos ou até domésticos · Causa mais comum de morte em crianças vítimas de trauma · População jovem do sexo masculino e ocupantes de motocicleta TCE e DANO NEUROLÓGICO: · Trauma de crânio pode ter lesões que levam à HIC: hemorragias intracranianas e inchaço cerebral · Lesões neurológicas secundárias → hidrocefalia, AVC · Lesões sistêmicas associadas. Ex: TCE + lesão pulmonar → leva a pior prognóstico (cérebro precisa de O2 e precisa estar bem nutrido) → hipóxia e hipotensão gera pior prognóstico · Trauma faz uma massa: período de compensação da PIC, mesmo com o hematoma · Aumento da massa = deterioração dos elementos do crânio: líquor, sangue e cérebro → isso causa HIC → hematoma tomando espaço do que não era dele → podendo levar a quadros de herniação FISIOPATOLOGIA: · Lesão neurológica final é resultado da lesão primária (que acontece durante o trauma) e das lesões secundárias que podem vir a acontecer · Levar em consideração a avaliação pelo ABCDE do trauma Lesão primária: · Contusão · Laceração · Lesão axonal difusa · Lesão vascular difusa · Hemorragia intracraniana Lesão secundário: · Tumefação cerebral → elevação da PIC → lesão cerebral isquêmica · Infecção/embolia/hidrocefalia BIOMECÂNICA DO TRAUMA: · Há dois fenômenos diferentes que podem causar a manifestação do trauma: de contato e inerciais · Fenômeno de contato: aqueles que acontecem no momento do trauma; fazem fratura, contusão, laceração; ferimentos causados pelo contato do crânio contra uma superfície/objeto · Fenômenos inerciais: fenômenos de aceleração, desaceleração e rotação do crânio, envolvidos no trauma, o que leva a lesões difusas do encéfalo → cérebro é chacoalhado dentro da caixa craniana, levando a hemorragias e lesão axonal difusa. Importante no resultado final da lesão neurológica da paciente *Pode haver associação de lesões cervicais SHAKING BABY SYNDROME = ABUSO · Lesões por aceleração e desaceleração em crianças, pois são chacoalhadas → essas lesões podem fazer lesão axonal difusa, hematoma subdural, hemorragia retiniana · Taxa de mortalidade é próximo de 38% · Incidência maior em crianças < 1 ano · Sem explicação por quadro neurológico e, com esses sintomas, criança pode ter sido vítima de abuso · Correlacionado com os eventos de translação + rotação e aceleração = deslocamento do cérebro da criança para frente a para trás, gerando um maior ponto de agressão no tronco cerebral · Crianças nascem normais e após esse trauma podem ter um retardo de desenvolvimento AVALIAÇÃO: · Iniciar ABCDE do trauma · Avaliação das condições respiratória e hemodinâmicas ABC · Importante a prevenção de hipóxia e hipotensão arterial → pode gerar confusão mental e piora do quadro neurológico, sem relação com a lesão no crânio propriamente dita · História: como foi o acidente, foi presenciado ou não, quando foi atendido estava inconsciente ou acordado, lembra ou não do que aconteceu, teve quadro de amnésia, há déficit neurológico agudo, sintomatologia de vômito e dor de cabeça, tem outros envolvidos no acidente que ficaram graves · Exame geral para excluir outras lesões: avaliar politrauma → descartar trauma abdominal importante, trauma de tórax, etc · Exame neurológico resumido: · Escala de coma de Glasgow · Alterações visuais / paralisia da mirada ocular (visão e movimentação ocular extrínseca) · Reflexo fotomotor e consensual: anisocoria, relacionada a herniação cerebral · Paralisia facial periférica · Motricidade de membros · Equimoses, hemorragias, drenagem líquor ECG: *Resposta ocular e motora: ajuda a estabelecer os diferentes estados e níveis de consciência Resposta verbal: ajuda na avaliação do conteúdo de consciência normal ou não NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: · Alerta, sonolento, obnubilado, torporoso, comatoso: utilização de resposta motora e ocular para definir cada um deles: Alerta: acordado - abertura ocular espontânea e obedece a comandos Sonolento: abertura ocular ao chamado e obedece a comandos (ECG 13-14). Dormindo, estimula, acorda, conversa (platô de consciência), cessa o estimula e volta a dormir. Não é aquela paciente que dorme um pouco a mais depois que bate a cabeça, mas sim, aquele que não consegue ficar acordado Obnubilado: interface entre sonolento e torporoso: responde apenas quando muito estimulado, quando acorda fica confuso e volta a dormir Torporoso: só responde ao estímulo dolorosos: resposta motora: localiza a dor (5); retirada ou movimentação inespecífica à dor (4) e resposta ocular à dor (2) Comatoso: sem resposta ocular (1) + resposta motora de decorticação (3) ou descerebração (2) ou sem resposta motora (1) · Conteúdo de consciência: LOTE ou não LOTE. Utilização da resposta verbal CLASSIFICAÇÕES: DO MECANISMO DE TRAUMA: · Fechado: alta velocidade (colisão) e baixa velocidade (queda de nível, agressão, uso de objeto contundente - pode fazer afundamento do crânio · Penetrante/aberto: projétil de arma de fogo, outro DA SEVERIDADE: · Leve GCS 14 ou 15 · Moderado GCS 9 a 13 · Grave GCS 3 a 8 MORFOLÓGICA: · Fratura de crânio · Calota: linear / estrelada; com/sem afundamento; fechada/aberta (=com lesão de couro cabeludo associada) · Base do crânio: com/sem fístulas LCR (ex: fraturas fronto basais - pode fazer lesão da dura → sai liquor do compartimento craniano e pode fazer fístula nasal) e com/sem lesão NC VII (paralisia facial periférica) · Lesão intracraniana · Focal: hematoma epidural, subdural agudo e intraparenquimatosa (contusão cerebral) · Difusa: concussão leve (pode ficar algumas horas com alteração no nível de consciência), concussão clássica e lesão axonal difusa (lesão mais grave do TCE - lesão de alta velocidade e impacto, com aceleração, desaceleração e rotação) LESÕES: Fratura de crânio: · São nítidas, com traço linear, não fica na topografia de suturas Afundamento de crânio: · Associado a hemorragias intraparenquimatosas do tipo sal e pimenta / contusão cerebral · Necessidade de cirurgia → limpar e recolocar fragmento ósseo · Afundamento em bloco, maior mortalidade Fratura de mastóide: 1-normal 2-fratura com sangue nas células etmoidais (pode evoluir com paralisia facial e fístula de LCR) SINAIS QUE SUGEREM FRATURA EM BASE DE CRÂNIO: Ex pode ser causado em lesões da mastóide Olhos de Guaxinim / Racoon eyes Sinal da Battle: equimose retroauricular Enfisema palpebral: Pode ser causado por trauma direto Fratura fronto-basal: · Cursam com hemorragia e com entrada de ar dentro do crânio (pontinhos pretos) · Quando ter ar no crânio, infere-se que paciente tem também fístula de LCR, pois para entrar ar teve de ter ruptura da dura na base do crânio · Comum com o não uso do cinto de segurança, com esmigalhamento · Fístula de LCR · Teste com fita: se for LCR com açúcar → secreção nasal não tem glicose HEMATOMAS: Hematoma extradural: · Com formato biconvexo · Que se localiza entre o osso e a dura-máter (não ultrapassa suturas) · Por rupturas de artéria meníngea média · Hematoma extradural com desvio de linha média e sinais de HIC. Há hérnia subfalcina que empurra todo o ventrículo lateral esquerdo para o lado direito · Pode fazer herniação do uncus e compressão do tronco cerebral → pode levar a quadros de coma agudo e anisocoria HSA traumática: · Sangue no espaço subaracnóide, onde circula liquor · Associado a hematoma extradural temporo parietal do lado esquerdo do cérebro Hematoma subdural agudo: · Agudo - sangue branco · Abaixo da dura e em cima do cérebro · Pode causar hipertensão intracraniana, desvio da linha média, apagamento de sulcos · Se não tratar, pode herniar Hematoma subdural crônico: · Comum em pacientes idosos · Trauma → sangue → meio hiperosmolar → fica puxando água do meio cerebral paradentro do hematoma → hematoma cresce, podendo causar HIC → necessidade de drenagem Hemorragia intraparenquimatosa - contusão cerebral: · Lesão do tipo sal e pimenta → lesões hiperdensas rodeadas por áreas hipodensas · Lesão temporal: tratamento deve ser rápido, pois é perto do tronco, podendo causar herniação do uncus e compressão do tronco, podendo levar a óbito BRAIN SWELLING - Tumefação cerebral: · TCE: cérebro inchado/edema/hiperemia cerebral · Apagamento difuso dos sulcos corticais associados a apagamento do sistema vestibular · Lesão grave - pode levar a óbito CONDUTA: TCE LEVE (GCS 14-15): História: · Nome, idade, sexo · Mecanismo do trauma · Tempo da lesão · Perda da consciência · Nível subsequente de consciência · Amnésia: anterógrada (perde a capacidade de armazenamento de memória do que acontecer após o trauma), retrógrada (não lembra o que aconteceu antes do trauma – ex: onde estava indo, etc). Pode haver associação das 2 · Cefaléia: leve, moderada ou severa · Convulsões, vômito, tontura muito intensa · Avaliar ABC → excluir outras lesões sistêmicas · Manter em jejum · Avaliação neurológica seriada - deixar paciente em observação · Acesso venoso · Medicação sintomática: analgésicos, evitar sedativos e antieméticos → pois fazem sonolência → dificulta avaliação neurológica · Realizar TAC de crânio → indicação quando há perda de consciência e amnésia pós trauma · Internamento: manter para observação quando: · TC não disponível ou anormal · Caso de lesão penetrante · Perda da consciência prolongada · Deterioração de consciência · Cefaléia leve a moderada · Vômitos: principalmente em crianças! → desidratam muito rapidamente · Intoxicação por álcool ou droga · Fratura de crânio · Fístula e LCR · Lesão grave associada · Alta observação domiciliar se não houver critério de internamento (até 6 horas sem sintomas) → paciente em condição de alta · Retornar para ser avaliado se: · Comportamento fora do comum · Desorientação nome e lugar · Cefaleia progressiva · Convulsões, vômito, tontura Instabilidade marcha · Apatia ou sonolência 2 ou mais episódios de vômitos · Déficit focal TCE MODERADO (GCS 9-13): Manuseio inicial: · Mesma que para TCE leve + exames de sangue · TAC para todos os pacientes · Internamento para observação → fazer exame de sangue Após internamento: · Exame neurológico frequente → TAC de controle se houver necessidade de reavaliação de lesão inicial ou deterioração ou novo evento neurológico (convulsão, paralisia) · Se achar que tem necessidade de cirurgia, pedir exames para já ir adiantando: hemograma, coagulograma, RX tórax, ECG TRAUMA GRAVE (GCS 3-8): · Comprometimento severo da consciência com instabilidade ventilatória → necessidade de intubação (EGC ≤ 8 paciente não tem condição de prevenir broncoaspiração → diminui oxigenação para cérebro) Manuseio inicial: · ABC · Atendimento primário · História Reavaliação neurológica: abertura ocular, resposta motora, resposta verbal, reação pupilar à luz, reflexos função do tronco cerebral (se não tiver resposta do tronco → diagnosticar morte cerebral) Agentes diagnósticos e terapêuticos: · Monitorização da PIC · Manitol = diurético · Anticonvulsivantes · Hiperventilação moderada PaCO2 30-35 mmHg · Sedação: propofol, barbitúricos · Prevenção de hipotensão arterial e hipóxia - · Procedimentos cirúrgicos: craniotomia descompressiva INDICAÇÃO DE CIRURGIA: Hematoma extradural: · Cirúrgico se > 30 cm3, independente do ECG · Se <30 cm3 e espessura < 15mm, pode ser de tratamento conservador com TC seriada, mas com internamento e observação · Se EGC < 9 e anisocoria (indica herniação cerebral), devem ser abordados assim que possível Hematoma subdural: · Cirúrgico imediatamente se espessura > 10mm ou desvio de linha média > 5mm · Paciente com HSD e EGC <9 (coma) deve realizar monitorização da PIC · Pacientes em coma com HSD < 10mm e desvio da linha média < 5mm devem ser operados se piora do EGC igual ou maior a 2 pontos do momento do trauma até a admissão hospitalar, ou se anisocoria ou pupilas fixas, ou PIC >20 mmHg Contusão cerebral: · Lesão do parênquima cerebral · Pacientes com deterioração neurológica progressiva relacionadas a lesão, efeito massa, ou hipertensão intracraniana refratária → devem ser operados · Contusões cerebrais frontais ou temporais >20 cm3, em pacientes com ECG 6-8, desvio da linha média >5mm ou compressão cisternal → devem ser operados, assim como as lesões >50 cm3 · Pacientes com contusão cerebral, estáveis neurologicamente, sem sinais efeito de massa, com PIC controlada podem ser manejados conservadoramente · Craniotomia descompressiva pode ser realizada em pacientes com HIC refratária Afundamento de crânio: · Feridas abertas com fratura com afundamento >espessura do crânio → devem ser operadas. Fazer uso de atb · Pacientes com feridas abertas podem ser tratados conservadoramente se não houver evidência de penetração na dura máter, se <1cm, sem envolvimento de seios da face, deformidade estética mínima, sem infecção de ferida ou pneumoencéfalo · Fraturas fechadas podem ser de tratamento conservador TRATAMENTO CIRÚRGICO: Craniotomia descompressiva: · Retalho frontotemporoparietal extenso (não menos que 12 x 15 cm ou 15 cm de diâmetro) · Reduz mortalidade e melhora prognóstico neurológico → evita compressão do tronco cerebral Hipotermia precoce → não é recomendada Terapia hiperosmolar: · Manitol dose 0,25-1g, evitando hipotensão (PAS <90 mmHg) · Uso em pacientes antes de monitorizar PIC com sinais de herniação ou deterioração neurológica progressiva, sem causa extracraniana → tratar com manitol até conseguir operar o paciente Drenagem ventricular: · Drenagem contínua de LCR por DVE (derivação ventricular externa) para diminuir PIC · Paciente com GCS < 6, nas 12h iniciais Terapia ventilatória: · Hiperventilação prolongada com PaCO2 < 25mmHg não é recomendada · Deve ser evitada nas primeiras 24h, quando o fluxo sanguíneo cerebral está criticamente diminuído · Pode ser usada como medida transitória para diminuir PIC TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: Anestésicos e sedativos: · Barbitúricos em altas doses podem ser usados quando não há controle da PIC com medicação usual ou tratamento cirúrgico, evitar hipotensão arterial · Paciente estará monitorizado · Propofol (anestésico) pode ser usado para controle da PIC Corticóides: não são indicados no trauma!! → aumenta risco de infecção Nutrição: Alimentação deve ser introduzida até 5-7 dias após o trauma, diminui mortalidade, indicado uso de gastrostomia Profilaxia infecção: · Traqueostomia precoce para diminuir dias de ventilação mecânica (e diminuir risco de pneumonia associado a ventilação mecânica) · Cateter de DVE impregnados com atb Profilaxia TVP (trombose venosa profunda) · Uso de meias de compressão · Mobilização precoce · Medicamentos se o quadro neurológico for estável e se benefício > risco de hemorragia cerebral Anticonvulsivantes · Fenitoína (para pacientes que tiveram convulsões precoces pós trauma) MONITORIZAÇÃO: Monitorização da PIC: · Reduz mortalidade hospitalar e após 2 semanas do trauma · Pacientes com GSC 3-8 ou TC alterada (com sinais de hemorragia ou HIC) · Tratar PIC >22mmHg é recomendado! → valores acima associam-se a maior mortalidade Pressão arterial: · PA sistólica ≥ 100 mmHg em pacientes 50-69 anos · ≥ 110 mmHg acima para pacientes de 15-49 anos ou >70 anos pode ser considerada para diminuir mortalidade e prognóstico Pressão perfusão cerebral: · PPC = PAM – PIC · Manter entre 60-70 mmHg image19.png image5.png image6.png image20.png image18.png image15.png image25.png image11.png image4.png image2.png image8.png image24.png image14.png image22.png image17.png image12.png image23.png image26.png image21.png image10.png image13.png image16.png image1.png image3.png image7.png image9.png