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Ainda no Brasil, na década de 80, ocorre o boom da literatura infantil. O livro passa a ser considerado elemento imprescindível ao crescimento intelectual e cultural. Começam a surgir programas de promoção da leitura. Estudos, seminários e publicações na área de literatura infantil começam a ser realizados: São tentativas de democratização do livro num país em que as restrições econômicas da população só permitem esse tipo de investimento para uma faixa escassa. Portanto, são iniciativas que só se dimensionam em países não desenvolvidos. (CADEMARTORI, 1995:17)/span> Inúmeros livros destinados a crianças passam a ser publicados; mas, infelizmente, obras de pouca qualidade, o que propicia a seguinte afirmativa de Antonio Candido: “Talvez o mais difícil de todos os gêneros literários seja a história para criança. Gênero ambíguo, em que o escritor é forçado a ter duas idades e pensar em dois planos: que precisa ser bem escrito e simples, mas ao mesmo tempo bastante poético para satisfazer um público mergulhado em visões intuitivas e simplificadoras”. Tal pressuposto reafirma a posição de diversos estudiosos da área: literatura infantil não é literatura menor, ela enfrenta os mesmos problemas de um mau romance, uma má crônica e assim por diante. Horácio, na antiga Roma, propunha que a arte fosse “doce e útil”. Ora, em se tratando de literatura infantil, o texto deve cumprir dupla função: encantamento (correspondente à função estética da literatura) e utilidade pelo atendimento às questões históricas, sociais, etc. Assim, ao texto cumpre divertir – vez que é instrumento de ludicidade - e instruir ao mesmo tempo. Ler... Que magia! Ler é “suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões [...]. É uma possibilidade de descobrir o mundo dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos...” (ABRAMOVICH, 1997:17). É por essas e outras questões que Richard Bamberg, entre outros, salienta a importância do hábito de ler. Afinal, o texto só alcança sua manifestação plena na literatura e só atinge o leitor se esse for capaz de interpretá-lo. Interpretar é o caminho da descoberta e ao já interpretado cabe à reinterpretação; sim, porque a cada releitura o texto revela um poder de imantação antes desapercebido. "Fruir o texto significa descobrir a vida enredada em suas malhas. Significa perceber a realidade de forma mais palpável através da impalpável trama da linguagem" (VARGAS, 2000: 07). É na tessitura do texto que se tece o tecido da imaginação. E, nesse universo ficcional, as crianças se projetam, até a forma inconsciente, tentando sublimar ou mesmo encontrar respostas para seus problemas existenciais. Não é à 4