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Planejamento e Gestão de Espaços Psicopedagógicos Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rutinéia Cristina Martins Revisão Textual: Aline Gonçalves Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil • Compreender as características do trabalho psicopedagógico na Educação Infantil nas eta- pas de creche e pré-escola; • Conhecer aspectos do trabalho do psicopedagogo como gestor pedagógico na instituição de Educação Infantil. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Educação Infantil no Século XXI: Marcos Legais e Pedagógicos; • O Trabalho Psicopedagógico na Creche; • Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Pré-Escola. UNIDADE Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil Contextualização Nesta unidade, estudaremos o planejamento e a gestão do trabalho do psicopedago- go na Educação Infantil. Para começar a pensar sobre o assunto, vamos conhecer uma experiência de sucesso? Reggio Emília: uma escola feita no pós-guerra e sua proposta para a Educação Infantil Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, Reggio Emilia – uma cidade ao norte da Itália – estava destruída. Além do ambiente devastador, havia ali uma população em ruínas, entristecida pelas perdas decorrentes dos conflitos. A fim de recuperar o tecido social, cultural e político daquele lugar, em longo prazo, um grupo de moradores decidiu criar uma escola. Figura 1 – Escola de Reggio Emilia Fonte: novaesola.org.br Reestruturar as bases da sociedade por meio de um trabalho humanitário realizado junto às crianças era assegurar uma nova perspectiva para eles e seus sucessores; rever- tendo o quadro que se apresentava naquele momento. Esse modelo inicial foi ganhando corpo ao longo do tempo e, hoje, está em 40% das escolas da cidade, que compõem 13 creches e 21 pré-escolas. Além disso, já extrapolou os limites da bota1 no mapa e é inspiração para muitas instituições de ensino ao redor do mundo (CONTI, 2018). E o psicopedagogo? Como organiza seu trabalho em uma proposta contemporânea de Educação Infantil? 1 Referência ao formato do mapa da Itália, semelhante a uma bota. 8 9 Educação Infantil no Século XXI: Marcos Legais e Pedagógicos Criança tem pressa de viver e não lhe prometam uma compensação no futuro, a necessidade é URGENTE, o bálsamo que venha já, amanhã será tarde demais. (Carlos Drummond de Andrade) A história da Educação Infantil inicia-se no século XIX. Segundo Silva (2009, p. 39), o primeiro jardim da infância público – instituição destinada à educação de crianças de 3 a 6 anos – data de 1896. Entretanto, a iniciativa privada já o havia instituído no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente, em 1875 e 1877, em movimento paralelo à expansão da pré-escola nos Estados Unidos e em outros países do mundo. Pessoas e lugares Friedrich Wilhelm August Fröbel e a origem do jardim da infância Nascido em 21 de agosto de 1782, no estado da Turíngia, na Alemanha, como filho mais novo de um pastor luterano, Friedrich Wilhelm August Fröbel teve sua infância marcada pela ausência da mãe, que morreu quando ele tinha nove meses. Morreu em 21 de junho de 1852, em Mariental, município alemão. Fröbel era assistente e discípulo de Pestaozzi. Na condição de professor, foi o primeiro edu- cador a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica, a apreender o significado da família nas relações humanas. Para ele, por exemplo, a história contada pela professora deve ser ex- pressa pela criança “não somente na sua própria linguagem, mas por meios de canções, re- presentações, figuras ou construção de objetos simples com papel, barro ou outro material”. (FROEBEL apud DW NOTÍCIAS, 2020, p. 1). Fröbel foi o idealizador e fundador do primeiro “Kindergarten” (jardim de infância) do mundo, na cidade alemã de Bad Blankenburg, em 1873. A instituição feita para a educa- ção de crianças menores de 6 anos recebe esse nome porque se considera que as crianças são o gérmen da humanidade e necessitam, desde pequeninas, da proteção e dos cuida- dos como em um jardim, por isso o nome Kindergarten. A expressão se impôs em todo o mundo, inclusive no inglês, sendo traduzida para o português (D.W. NOTÍCIAS, 2020). Disponível em: https://bit.ly/3mQsDQr Diferentemente do jardim da infância, mais tarde chamado de pré-escola, a creche se caracterizava por uma atuação em horário integral, e a pré-escola, por um funcionamento semelhante ao da escola, em meio período (GONÇALVES, 2020). A creche se subordina- va e era mantida por órgãos de caráter médico/assistencial, e a pré-escola, aos órgãos vin- culados ao sistema educacional, como Kramer (apud FONSECA, 1998, p. 211) explica: Creche e pré-escola são, em geral, distinguidas, ora pela idade das crian- ças incluídas nos programas – a creche se definiria por incluir crianças de 0 a 3 anos e a pré-escola de 4 a 6 – ora pelo seu tipo de funcionamento e pela sua extensão em termos sociais – a creche se caracteriza por uma atuação diária em horário integral, e a pré-escola, por um funcionamento semelhante ao da escola, em meio período. 9 UNIDADE Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil Essa divisão hoje não é mais permitida, deve ser feita apenas pela faixa etária, pois, a partir da Constituição de 1988, a Educação Infantil deixou de ser um atendimento assistencial para ser considerada a primeira etapa da educação básica, como se coloca no artigo 208 (BRASIL, 2020), que prevê que o Estado ofereça educação básica obriga- tória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria e oferta de educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. Para entender como se dá a Educação Infantil no País, é preciso considerar as po- líticas públicas formuladas no século XXI e que resultaram em direcionamentos peda- gógicos: Fundeb, Plano Nacional de Educação, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e Base Nacional Comum Curricular. O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Va- lorização dos Profissionais da Educação), criado pela Emenda Constitucional 53, de 19 de dezembro de 2006, é um fundo especial, de natureza contábil, formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios (FNDE, 2017). Sua importância para a Educação Infantil está no fato de poder financiar toda a educação básica, de modo que foram ampliadas ações, o que possibilitou, dentre outras conquistas, a manutenção de creches e pré-escolas, além da ampliação de suas matrículas. Figura 2 – FUNDEB Fonte: ctb.org.br O Plano Nacional de Educação, Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, coloca metas educacionais para o período 2014-2024. A partir desse plano, os estados e municípios fizeram seus planos estaduais e municipais, com objetivos a alcançar nesse prazo. Sobre a Educação Infantil, colocou-se como meta (MEC, 2018, p.1): Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crian- ças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI/2010), Re- solução n. 5, de 17 de dezembro de 2009, concebem a criança como um sujeito histórico e de direitos. Os eixos para o desenvolvimento do trabalho pedagógico são a interação e 10 11 a brincadeira. Nas interações, a criança se mostra um sujeito que desenvolve relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagi- na, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p. 12). O documento semostra um guia para educadores e gestores, uma vez que trata de questões legais; teóricas, como a concepção e os princípios da Educação Infantil; e ques- tões pedagógicas, como as propostas de práticas pedagógicas gerais e específicas para a diversidade e para crianças indígenas e do campo. Além disso, trata da avaliação e da articulação com o Ensino Fundamental. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento editado em 2017, traz as determinações curriculares para todas as etapas da Educação Básica. Na Educação Infantil, o currículo está de acordo com os eixos estruturantes das práticas pedagógicas propostas pelas DCNEI/2010, interação e brincadeira. Esse trabalho pressupõe direitos de aprendizagem que os educadores devem efetivar por meio do currículo: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Considerando os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem, o planejamento das atividades que envolvem a oralidade, matemática, artes visuais, música, movimento e outras linguagens, a BNCC estrutura as práticas pedagógicas em campos de experiên- cia, que constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências con- cretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural (MEC, 2017, p. 42). A definição e a denomina- ção dos campos de experiências também se baseiam nas proposições das DCNEI em relação aos saberes e conhecimentos fundamentais a ser propiciados às crianças, de acordo com as suas vivências cotidianas familiares, na creche ou pré-escola. Os campos de experiência propostos na BNCC são: • O eu, o outro e o nós; • Corpo, gestos e movimentos; • Escuta, fala, pensamento e imaginação; • Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações; • Traços, sons, cores e formas. Figura 3 – Pintura Fonte: Getty Images 11 UNIDADE Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil O Trabalho Psicopedagógico na Creche Sem dúvida, o trabalho psicopedagógico na creche é de suma importância. Uma mostra disso é que, ao analisar o currículo de algumas faculdades que oferecem o curso, pode-se verificar, além das disciplinas que explicam como ocorre a aprendizagem, o oferecimento de disciplinas que se relacionam aos aspectos evolutivos e sociais da Psicologia do desenvolvimento, fundamentos biológicos, neurológicos e psicomotores do desenvolvimento infantil e relações entre família e escola como espaços de desenvolvimento humano. Dessa maneira, vê-se um currículo que enfatiza o desenvolvimento infantil em sua totalidade, o psicopedagogo tem condições de orientar a equipe da creche para a pro- moção de atividades que o favoreçam. Cavicchia (1996, p. 210) explica que uma das tarefas mais importantes do psicopedagogo preocupado com o caráter preventivo de sua prática nas instituições é a busca de alternativas para a formação de educadores. Isso ocorreria ao se colocar em prática novas propostas para um processo formativo de educadores que os habilite a estabelecer relações mais maduras e conscientes com as crianças e a equipe escolar. Para conduzir a formação dos profissionais da Educação Infantil, o psicopedagogo deve es- tar ciente da realidade em que esse profissional é inserido. Qual a sua história? O link a seguir mostra um pouco dessa trajetória na reportagem Formação e salário são os piores na Educação Infantil (BIBIANO et al., 2019). Disponível em: https://bit.ly/3wYh7qQ De posse dos conhecimentos sobre desenvolvimento infantil e direcionamentos cur- riculares, o psicopedagogo pode analisar o planejamento do educador, fazer as orien- tações pertinentes. Sobre esse acompanhamento psicopedagógico, pois envolve tanto aspectos do desenvolvimento quanto da construção do conhecimento, Pereira e Santos (2015) afirmam que o objetivo é abordar o processo da aprendizagem, como esse se de- senvolve e de que forma a criança se relaciona com o aprender, nos aspectos cognitivos, emocionais e sociais. Na gestão do trabalho, o acompanhamento psicopedagógico e a formação de educa- dores são ações que se complementam. Após analisar o planejamento dos educadores, o psicopedagogo pode verificar quais têm sido as ações de sucesso para a aprendizagem e quais dificuldades os educadores têm demonstrado. Das constatações que surgem des- sas análises, podem-se extrair pautas para as reuniões de formação continuada, posto que, ao analisar a rotina de trabalho dos educadores, o psicopedagogo verifica a dificul- dade com algum ponto específico, como planejar jogos que desenvolvem noções mate- máticas; deverá pesquisar o assunto e apresentá-lo em uma próxima formação. Devido à faixa etária das crianças, a formação não poderá ser apenas teórica, levando aspectos práticos para que desenvolvam com os grupos. Quando a necessidade é apenas de um educador ou grupo, é feita orientação individual direcionada à situação. 12 13 Figura 4 – Jogos pedagógicos Fonte: Getty Images Outra marca do trabalho do psicopedagogo na creche é a prevenção. Sobre essa ação pedagógica, Serra (2012, p. 7) esclarece que o psicopedagogo pode auxiliar na elaboração de um planejamento voltado às especificidades das crianças, por meio de propostas adequadas para que se desenvolvam em plenitude, prevenindo problemas de aprendizagem. É um trabalho de observação e pesquisa para saber os elementos que facilitam a aprendizagem e a intervenção, que supõe a observação da instituição como um todo e das necessidades de crianças específicas, indicadas por outros educadores por não responder às aprendizagens ou a outra situação. Esse trabalho preventivo consiste em analisar os fatores que seriam possíveis causadores de dificuldades de aprendizagem, como “atrasos” no desenvolvimento, como demora para andar e falar, problemas na fala, dificuldade de adaptação ou socialização. Dependendo da natureza do problema, pode estabelecer contatos e fazer encaminhamentos para setores da saúde ou outros profissionais. Além dos encaminhamentos e das orientações aos educadores, a família é contactada e, mesmo se não houver a necessidade de encaminhamentos externos para serviços de saúde ou outros órgãos, o aluno terá seu desenvolvimento acompanhado de forma mais próxima. Também faz parte desse trabalho a realização de palestras ou orientações coletivas sobre temas do cotidiano e desenvolvimento infantil. O diálogo com os familiares será mantido até que o problema se resolva ou enquanto a criança permanecer na creche. Reggio Emilia Bem diferente dos modelos tradicionais, que privilegiam um método preestabelecido de ensino e nos quais a verticalidade do processo de aprendizado (adulto-criança) é predomi- nante, em Reggio Emilia os educadores têm por premissa a observação e escuta dos alunos. Isso tudo para trabalhar em cima de suas potencialidades individuais e coletivas. Na prática: as escolas criam laboratórios onde os pequenos vão trabalhar diferentes linguagens, como as gráficas e de manipulação (maquetes), as relacionadas ao corpo – ligadas aos movimentos, as da comunicação verbal e da comunicação não verbal, o pensamento lógico, discussões éticas, entre outras. Atua-se considerando, principalmente, as experiências obtidas por meio da pesquisa e das descobertas sensoriais dos estudantes, desenvolvendo neles a autonomia necessária para cresceram com confiança em suas habilidades, como relata Vanessa: “Em Reggio Emilia, quando eles definiram e cocriaram 13 UNIDADE Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil o que é a criança para eles e como poderiam mudar aquela sociedade ao cuidar delas e da infância, eles refletiram sobre quem é essa criança. E para eles a criança é protagonista de si e de sua vida, ela é potente e capaz!” (CONTI, 2018). Mas como planejar e gerir o trabalho com essas frentes e as atribuições que vêm delas? O planejamento deve levar em conta a rotina da creche e de cada grupo, conciliando também a permanência na creche com os horáriosde entrada e saída dos pais, no intui- to de manter o contato sempre ativo, de modo que consiga responder questões rápidas e marque horários para resolver questões mais complexas. Atividades como a análise dos planos de aula das educadoras, reuniões periódicas com outros profissionais e preparação de reuniões de formação continuada precisam ter dias fixos, porque envolvem o planejamento e a gestão do trabalho de outros profis- sionais. As outras demandas, como orientação a educadores, observação de atividades em sala ou de alguma criança individualmente, precisam acontecer com frequência no plano de trabalho do psicopedagogo, mas há a flexibilidade de serem organizadas de acordo com o que está estabelecido em cada dia ou semana. Algumas orientações são feitas espontaneamente: surge a dúvida e o profissional vai até a sala do psicopedagogo perguntar, sem esperar pelo dia em que ocorrem reuniões coletivas. Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Pré-Escola E na pré-escola? Como é o planejamento do psicopedagogo na etapa que atende crianças de 4 e 5 anos? Há diferenças entre o atendimento na creche? Vamos analisar uma proposta de trabalho2 psicopedagógico de uma escola de edu- cação infantil: Atendimento do Serviço Psicopedagógico Creche e Escola Balão Azul [...] O psicopedagogo na Creche e Escola Balão Azul atua de forma dinâmica e preventiva, promovendo condições que favoreçam o desenvolvimento de todos os envolvidos no processo educativo: alunos, professores, familiares, equipe técnico-pedagógica e funcionários, e está integrada em todo o currículo escolar. O psicopedagogo percebe o aluno como um ser global e o ajuda a tomar consciência de seus valores, habilidades e possíveis dificuldades para que possa desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos: intelectual, físico, social, moral, estético, político, educacional e vocacional. Com esse objetivo, o Serviço de Psicopedagogia abre espaços de discus- são sobre temas éticos e morais, a fim de que o aluno reflita e discuta sobre os valores da sociedade para, nas situações de conflito, estar capa- citado a agir com segurança e de forma autônoma. 2 Proposta de trabalho embasada no texto de uma escola real, mas com adaptações no texto visando melhor ade- quação ao propósito do curso. (Nota da autora). 14 15 O atendimento aos alunos será feito sistematicamente através de: • observação das turmas ou de um aluno em especial, de acordo com solicitação do professor ou caso seja identificada sua necessidade pelo Serviço de Psicopedagogia; • um trabalho preventivo em relação a situações de dificuldade, promo- vendo condições que favoreçam o desenvolvimento do aluno, da turma e da relação professor/aluno – professor/turma; • encontros individuais ou em grupo, para análise e reflexão sobre pro- blemas encontrados em situações de sala de aula, recreio, relaciona- mento com colegas, com professores e demais funcionários da escola; • acompanhamento e assistência aos alunos que apresentarem dificulda- des socioafetivas ou no percurso da aprendizagem, a partir de observa- ções, relatórios e conversas com os professores. O atendimento às famílias é feito sistematicamente por meio de: • reunião com os pais e com os professores; • encontro com os pais para refletir sobre o desenvolvimento de seus filhos na escola e fornecer observações sobre a aprendizagem e in- tegração social do aluno, averiguando as variáveis que possam estar interferindo no comportamento e/ou no processo de construção do conhecimento, com a finalidade de se estudar e planejar diretrizes co- muns a serem adotadas; • entrevistas individuais solicitadas pela escola ou pela própria família para troca de informações a respeito da vida escolar dos alunos e para encaminhamento1 a especialistas fora da escola, quando se fizer neces- sário (psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos etc.); • palestras com profissionais capacitados para discutir assuntos com o grupo de pais, a fim de contribuir com o desenvolvimento das famílias principal- mente nas questões relacionadas a pais/filhos/escola. (ROCHA, 2020) A proposta se enquadra no que anteriormente foi considerado adequado para o tra- balho psicopedagógico em creche, estendendo-se também para a pré-escola, principal- mente se o trabalho for realizado em uma instituição que abriga as duas etapas – creche e pré-escola – em tempo integral. Isto é, se funcionarem no mesmo prédio e com os mesmos gestores, a dinâmica de atendimento não será interrompida na passagem para a pré-escola, de modo que o trabalho desenvolvido permaneça de maneira semelhante. A criança chega à pré-escola aos 4 anos, com uma bagagem cultural e biológica: já se espera que tenha adquirido algumas habilidades importantes, como andar e falar. Nesse caso, o psicopedagogo não acompanhou o seu desenvolvimento, como acompanharia se estivesse na creche, logo, o trabalho preventivo soma-se também à investigação das causas de problemas de aprendizagem ou desenvolvimento já apresentados, buscando medidas mais rápidas. Junto à equipe pedagógica, também elabora projetos que aten- dam às necessidades gerais e das crianças que possuem dificuldades, deficiências ou outra característica que exija atendimento diferenciado. No que se refere à relação entre escola e comunidade, o contato com todas as famílias e com todas as crianças diminui, mantendo o foco naqueles que têm particularidades no seu desenvolvimento e aprendizagem, inclusive, no encaminhamento para serviços de saúde. 15 UNIDADE Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil Nos casos em que a pré-escola está inserida em escolas que atendem os anos iniciais do Ensino Fundamental, o planejamento e a gestão do trabalho psicopedagógico seguem a mes- ma disciplina dessa etapa de ensino, ainda que haja projetos e formas de acompanhamento específicos para a Educação Infantil. Nessas escolas, com número maior de alunos que as creches, a ação do psicopedagogo se torna ainda mais específica, uma vez que a formação geral dos professores fica sob a responsabilidade do coordenador pedagógico, de modo que se responsabiliza pelo esclarecimento a respeito dos processos de aprendizagem e promoção de boas situações didáticas para crianças com dificuldades para construir conhecimentos. Formação continuada, observação em sala de aula, formação e orientação de profes- sores, reuniões com a equipe gestora, atendimento às famílias, participação em projetos e registros do trabalho realizado são espinha dorsal do plano de trabalho e devem ser organizados no planejamento semanal de acordo com as necessidades da instituição e características da comunidade local. Não se pode deixar de dar atenção ao fato de que algumas ações têm dias fixos na semana ou datas marcadas em determinado período, como as reuniões de pais, de modo que tudo esteja planejado para que nas datas marca- das haja as ações planejadas, devolutivas de ações ou aprendizagens ao longo de certo período e, principalmente, projetos e propostas para continuidade de atendimentos ou resposta a problemas que forem surgindo em relação às aprendizagens. Figura 5 – Pré-escola Fonte: Getty Images Pessoas e lugares Maria Montessori Maria Montessori (1870-1952) foi uma médica e pedagoga italiana que criou método educativo usado em escolas no mundo todo até hoje. A educadora criou um método educativo cujas bases são a autonomia, a liberdade com limites e o respeito ao desenvolvimento natural das habilidades das crianças. Em 1901, Montessori começou a se dedicar mais à pesquisa na área de educação. Cinco anos depois, foi chamada para supervisionar um grupo de crianças em uma região de baixa renda em Roma. Chamado Casa dei Bambini, ou Casa das Crianças, o local recebeu cerca de 60 crianças com idades entre 2 e 7 anos, e a médica aplicou as técnicas que havia desen- volvido: as atividades incluíam cuidados pessoais, jardinagem, ginástica, além de uso de materiais didáticos elaborados porela. A experiência foi um sucesso, e no ano seguinte outra casa foi aberta, com mais três em 1908. A partir de 1909, a parte suíça da Itália substituiu os métodos tradicionais de orfanatos e creches pelo criado por Montessori. (SCIULO, 2020) 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Psicopedagogia: a instituição educacional em foco O principal assunto desse livro é a avaliação e a intervenção psicopedagógicas na escola e as contribuições que a psicopedagogia fornece como subsídio para o desenvolvimento do educador. OLIVEIRA, M. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco. Curitiba: IBPEX, 2009. Vídeos Educação Infantil: concepções de criança e creche O vídeo, em que se entrevista a professora Beatriz Ferraz, referência em ensino e pesquisa em Educação Infantil, mostra como foi construído o conceito de infância na sociedade e como a creche e pré-escola foram criadas e evoluíram. https://youtu.be/RKpu_7qcK1s Filmes Um tira no jardim de infância Direção: Ivan Reitman. Estados Unidos, 1991, 1h50, cores. Em Um Tira no Jardim de Infância, após numerosas tentativas, o detetive veterano John Kimble (Arnold Schwarzenegger) tem a última chance de colocar atrás das grades o crimi- noso Cullen Crisp (Richard Tyson). Para realizar a missão, John se infiltra em um jardim da infância como professor substituto para encontrar o filho e a ex-esposa de Crisp Enquanto se disfarça e realiza investigações, Kimble vive situações hilárias na condição de professor de Educação Infantil, mostrando, de forma bem-humorada, elementos do cotidiano de uma turma dessa faixa etária. https://bit.ly/2PvPXGV Leitura Uma proposta de atuação psicopedagógica escolar na Educação Infantil O trabalho apresenta a constituição da proposta de atuação psicopedagógica do segmento da educação infantil de uma escola de rede privada de ensino, que atende da educação infantil ao ensino médio, o Instituto Teresa Valsé, situado na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. A contribuição do estudo desse texto é mostrar um relato de experiência do traba- lho do psicopedagogo nesse espaço educacional. https://bit.ly/3cUhmuZ Gestão pedagógica na Educação Infantil O psicopedagogo não é um profissional de atuação obrigatória em todas as creches, mas, naquelas que contam com o profissional, que é parte do grupo gestor, a análise de como a instituição é gerida se faz uma necessidade. Nesse artigo, Zilma Oliveira (2020), autora de referência em Educação, avalia que uma boa avaliação da gestão de creches e pré-escolas é realizada com o olhar sobre as atividades, os espaços e os tempos dedicados a elas, os materiais, as instruções, as modalidades organizativas e a formação de professores . https://bit.ly/39JtsVG 17 UNIDADE Planejamento e Gestão do Psicopedagogo na Educação Infantil Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, 2020. ________. MEC/SEB (Secretaria de Educação Básica). Diretrizes Curriculares Nacio- nais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. CAVICCHIA, D. C. Psicopedagogia na Instituição educativa: a creche e a pré-escola. In: SISTO (org.). A atuação psicopedagógica escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. FARIA, P. Uma proposta de atuação psicopedagógica escolar na Educação Infantil. Cons- trução Pedagógica, São Paulo, 2011, v. 19, n. 18, p. 73-86. Disponível em: <http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542011000100008>. Acesso em: 08/06/2020. FONSECA, J. P. A educação infantil. In: MENESES, J. G. C. Estrutura e funciona- mento da educação básica. São Paulo: Pioneira, 1998. PEREIRA, S.; SANTOS, R. O psicopedagogo e a Educação Infantil: algumas consi- derações. XII Educere (Congresso Nacional de Educação), 26 a 29/10/2015, Curitiba- -PR. Anais (on-line), Curitiba, 2015. Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arqui- vo/pdf2017/27405_14168.pdf>. Acesso em: 08/06/2020. SERRA, D. 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